RELATÓRIO DE PROJETO DE PESQUISA Nome do Projeto: Hábitos Alimentares dos Estudantes do Curso de Nutrição da Universidade do Sul de Santa Catarina na Região da Grande Florianópolis. Protocolo: 2207 Nome da Orientadora: Adriana Salum Nome das Bolsistas: Bruna Leffa Allebrand e Erika Gimenes Minorello Campus/Unidade: Pedra Branca/Unidade Norte-Grande Florianópolis Data do Relatório: 01/08/2008 Tipo do Projeto: Puic Individual 1 INTRODUÇÃO Nutrição é a ciência que estuda os alimentos, seus nutrientes, bem como sua ação, interação e balanço em relação a saúde e doença, além dos processos pelos quais o organismo ingere, absorve, transporta, utiliza e excreta os nutrientes (CUPPARI, 2005). Do ponto de vista científico, a relação dieta-saúde vem sendo estudada desde a Antiguidade, quando médicos e cientistas observaram que a falta de alimentos decorrente de guerras, viagens longas e não-disponibilidade estava relacionada com doenças (FISBERG, 2005). Ao estudar a Ciência da Nutrição, observou-se que os hábitos alimentares têm a necessidade de serem modificados para beneficiar a saúde. A avaliação do estado nutricional é fundamental para tomada de decisão quanto ao diagnóstico nutricional e à conduta dietética frente a um indivíduo (CUPPARI, 2005). Segundo Webb e Whitney, 2003, questões físicas, psicológicas, culturais, sociais e filosóficas – armam a estrutura dentro da qual as pessoas escolhem os alimentos que geralmente comem. Infelizmente, poucas escolhas dão prioridade à saúde nutricional. Dados recentes de um relatório mostram que, em um dado dia, 48% da população não consomem frutas ou sucos de frutas. Por outro lado, embora as pessoas geralmente consumam algumas porções de vegetais, o vegetal que elas mais freqüentemente consomem são batatas, geralmente preparadas fritas. (WEBB; WHITNEY, 2003). Vivenciamos hoje grandes mudanças: morrem menos pessoas por doenças infecciosas e desnutrição e da mesma forma nascem menos pessoas e vivem mais tempo. De acordo com a literatura científica, isto é atribuído ao processo de modernização experimentado pelas sociedades de países industrializados, resultante das melhorias do saneamento básico, moradia e disponibilidade de alimentos, mas também dos conhecimentos e habilidades da população para enfrentar e compreender a saúde e a nutrição segundo conceitos modernos (CUPPARI, 2005). Desde a década de 1940, o Brasil tem passado por um processo de inversão das curvas de mortalidade. Observa-se um declínio nas taxas de mortalidade por doenças infecciosas e um concomitante aumento nas taxas de mortalidade por doenças crônicas não-transmissíveis (DINIZ et al.,2006). Os povos antigos (primitivos) tinham uma relação natural com o ambiente, com a natureza que os rodeava, com as plantas e com os animais. [...] Nos dois últimos séculos, o homem foi perdendo cada vez mais seu instinto natural, criando-se assim uma insegurança quanto à alimentação e à cura. Para substituir a percepção natural surgiu, então, a pesquisa científica, que, no decorrer do tempo, foi se aprimorando cada vez mais. Graças a esse método, chegamos ao conhecimento de substâncias como: proteínas, gorduras, carboidratos, minerais e vitaminas, inclusive de seus valores nutritivos. (BURKHARD, 2000). Porém, esses hábitos transmitidos culturalmente através de familiares e da comunidade exigem do profissional nutricionista um empenho maior para modificá-los. Conforme Bontempo, 2003, até o século XX existiam, apenas, cerca de oitocentos tipos de alimentos conhecidos, configurando todas as possibilidades de recursos naturais disponíveis no campo da alimentação. Hoje, são quase 40 mil produtos, sendo que 39.200 representam criações sintéticas ou artificiais ou, mais especificamente “comida de laboratório”. Segundo pesquisas mais recentes, cerca de 85% das doenças modernas, como o câncer, a arteriosclerose, o diabetes, o reumatismo, entre outros, são causadas pelos alimentos industrializados sintéticos. Sociedades modernas e industrializadas parecem convergir em um padrão dietético com alto teor de gorduras totais, colesterol, açúcar, carboidratos refinados, baixo teor de ácidos graxos insaturados e de fibras, padrão freqüentemente denominado “dieta ocidental” e ligado ao aumento de vida sedentária (CUPPARI, 2005). Tratandose de alimentação industrializada, convém dar importância para a mídia, meio pelo qual o consumidor conhece os produtos, sentindo-se atraído por eles. É interessante analisar a forma como propagandas de produtos do ramo da alimentação, nos jornais, internet, televisão e outros meios de comunicação, anunciam produtos de baixo valor nutricional e alto aporte energético. Ainda exibem em grande escala, a idéia de um corpo perfeito que, apenas irá obtê-lo com a aquisição de remédios “prometedores” de redução de peso corporal. Apesar da informação sobre a saúde nutricional estar precária na mídia, entretanto disponível em artigos, livros e revistas da área, é preciso mudar a consciência de consumidores de alimentos industrializados e de alimentos do tipo fast-food, para que não façam o consumo habitual desses alimentos prejudiciais. Assim, ainda segundo Bontempo, 2003, nutricionistas estão particularmente envolvidos nessa tarefa, devendo informar seus clientes sobre os riscos que tais produtos oferecem à saúde. Isso começa com o seu próprio exemplo; caso contrário, qualquer orientação sua no sentido de evitar o consumo desses produtos perderá legitimidade. Como seres vivos, os homens só subsistem e propagam sua espécie se mantiverem com o seu meio, de maneira constante, uma alimentação equilibrada que promova benefícios para a manutenção da saúde. Mas para que esse processo aconteça, o homem deve dispor de alimentos específicos e variados, em quantidades suficientes e adequadas. Mediante essa alimentação variada e adequada, pode-se obter uma dieta equilibrada, ou seja, a que proporciona os nutrientes necessários para atender as necessidades do organismo (CUPPARI, 2005). Visando promover a saúde e os hábitos saudáveis, as principais orientações sobre alimentação foram reunidas em um guia alimentar, uma forma gráfica de pirâmide que facilita a visualização dos alimentos, ajudando na escolha das refeições do dia. Os alimentos estão distribuídos em oito níveis. Alimentos no primeiro nível são fontes de carboidratos. Verduras, legumes e frutas podem ser consumidos com maior flexibilidade. Em seguida, vêm as carnes e ovos, leguminosas, leites e seus derivados. Os óleos, as gordura, os açúcares e os doces estão no topo da pirâmide, devem fazer parte nas refeições, em menor quantidade. (DINIZ et al.,2006). Cabe aos profissionais da saúde a veiculação de orientações que permitam à população a seleção adequada de alimentos (qualidade e quantidade) para manter a saúde do organismo. Estima-se que metade das mortes por enfermidade vascular e 1/3 dos cânceres poderia ser prevenida com uma alimentação adequada desde os primeiros anos de vida (CUPPARI, 2005). Para avaliar a ingestão de nutrientes, é necessário inicialmente conhecer a ingestão habitual do individuo e, em seguida, confrontá-la com as necessidades deste mesmo indivíduo. O Questionário de Freqüência Alimentar (QFA) estima a dieta habitual, e é muito utilizado em estudos epidemiológicos para classificar os indivíduos em níveis de ingestão de nutrientes, para posterior análise de tendência de risco segundo o grau de exposição (CUPPARI, 2005). Está amplamente documentado, em inúmeros estudos prospectivos internacionais, que o Questionário de Freqüência Alimentar é considerado o mais prático e informativo método de avaliação da ingestão dietética. Um dos objetivos implícitos do QFA é conhecer o consumo habitual de alimentos em um grupo populacional. (FISBERG, 2005) Pesquisas avaliaram os hábitos alimentares de estudantes universitários, sendo observada, em sua maioria, baixa prevalência de alimentação saudável, com elevada ingestão de alimentos doces e gordurosos e baixa ingestão de frutas e hortaliças. Os maus hábitos alimentares desses universitários poderiam estar sendo influenciados pelos novos comportamentos e relações sociais, sugerindo indícios de compulsão alimentar em alguns alunos que, ansiosos, podem transformar a alimentação em " válvula de escape" para as situações de estresse físico e mental. (VIEIRA et al., 2002 apud MARCONDELLI et al., 2008). Muitos hábitos alimentares adquiridos por estudantes durante os anos cursados nas universidades continuam na idade adulta. Fica clara, portanto, a importância da correta caracterização da dieta de uma população na promoção da saúde da comunidade, na intervenção da educação nutricional e na avaliação da eficácia de tais programas (MARCONDELLI et al., 2008). Para futuros nutricionistas, o aprendizado recebido em sua vida acadêmica os torna mais aptos a realizarem mudanças no comportamento alimentar de grupos populacionais. Desse modo, o trabalho investigou se novos conceitos alimentares saudáveis são praticados na vida dos estudantes do curso de Nutrição da UNISUL, campus Pedra Branca, visando conhecer o efeito dessa ciência na vida desses acadêmicos. 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Verificar os hábitos alimentares dos estudantes do curso de Nutrição da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), campus Pedra Branca. 2.2 Objetivos Específicos - Avaliar o consumo alimentar dos estudantes; - Detectar quais os grupos de alimentos são mais consumidos; - Relacionar a faixa etária dos entrevistados com os alimentos mais consumidos. 3 METODOLOGIA Após levantamento bibliográfico, optou-se pelo Formulário de Controle de Freqüência Alimentar Simples para a análise dos hábitos alimentares. A pesquisa foi realizada com os alunos do Curso de Nutrição da UNISUL, campus Pedra Branca. Do total de aproximadamente 280 alunos, distribuiu-se os questionários para todas as turmas, de 1ª (primeira) a 9ª (nona) fases, obtendo-se uma amostra total de 98 questionários respondidos. Do ponto de vista de seus objetivos, o estudo foi desenvolvido através de pesquisa do tipo exploratória, que conforme explicação de Gil (1991): ... envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso. A pesquisa foi realizada de forma não experimental, baseada essencialmente em levantamentos bibliográficos, questionários e análise de dados. Para a análise dos dados, inicialmente foram separados os materiais recolhidos de acordo com os critérios da pesquisa e posterior elaboração de gráficos, utilizando o programa Microsoft Office Excel 2007. 4 RESULTADOS Para a apresentação dos resultados, escolheu-se juntar as categorias: 1 vez por semana, 2 a 3 vezes por semana e 4 vezes por semana para facilitar a interpretação dos gráficos, e foram denominados “semanalmente”. Observando-se o grupo dos vegetais, as hortaliças folhosas e não-folhosas são consumidas semanalmente, ambas foram referidas por 63,3% dos alunos. No grupo das frutas, como a tabela apresentou esse item como uma questão aberta, houve muitas citações de variadas frutas. Porém a banana e a maçã lideraram como as mais consumidas (48,0% e 32,7%) respectivamente. O consumo diário de feijão, grupo das leguminosas, ficou em 0%, quando o preconizado pela pirâmide alimentar adaptada à população brasileira é de que algum alimento desse grupo (feijão, lentilha, soja, etc.) faça parte da mesa da população todos os dias. Em relação aos carboidratos, o arroz foi o alimento mais freqüentemente citado tendo como consumo diário 75,5%. Entretanto, o macarrão também ficou em destaque, ficando abaixo com uma diferença de apenas 3,9% do arroz. Quanto ao grupo das proteínas, os mais citados para consumo semanal foram: carne de boi (62,2%) e a carne de frango (61,2%). Os ovos também apresentaram um grande consumo semanal. Ao analisar os resultados da freqüência de consumo dos lacticínios, o leite e o iogurte são amplamente consumidos durante a semana. A média de consumo é um copo americano (250 ml) por vez. Dentre as bebidas, o refrigerante e os sucos são muito consumidos semanalmente 67,3% e 64,3% respectivamente. Já as bebidas alcoólicas mais citadas, são a cerveja (34,7%) e o vinho (35,7%). Os chocolates e balas foram citados como mais consumidos semanalmente no grupo dos doces, sendo que 59,2% dos alunos consomem pelo menos uma barra de chocolate de 60 gramas, de duas a três vezes por semana. A respeito do consumo de gorduras, verifica-se que a maionese e a margarina são as mais citadas na tabela, 51% dos estudantes consomem esses produtos semanalmente. Observa-se também que o toucinho, forma de gordura muito utilizada antigamente, não foi um produto citado. Sobre a faixa etária dos participantes da pesquisa, não foi encontrada nenhuma relação da idade com o consumo de algum alimento. 5 CONCLUSÕES Sabendo que o consumo de frutas, verduras e laticínios também não foi satisfatório no item diariamente, conclui-se que falta os estudantes incluírem mais fonte de fibras e cálcio em sua alimentação diária, bem como, vitaminas e minerais que se encontram principalmente nos vegetais. Vale ressaltar que o consumo semanal de verduras ficou em 63,3%, enquanto o consumo de chocolate chegou a quase 60%, uma pouca diferença para alimentos bastante diferentes nutricionalmente, mostrando que os alunos deveriam consumir mais porções de verduras e limitar o consumo de chocolate, de acordo com as propriedades nutricionais que possuem os mesmos. A respeito do consumo de carnes, os estudantes poderiam incluir mais vezes o consumo de peixes, aproveitando a localização geográfica em que se encontram para usufruir desse alimento saudável. Percebe-se o consumo aumentado de refrigerante, praticamente igual ao consumo de sucos, o que deveria ser bem inferior. Assim, nota-se que os alunos do curso de Nutrição deveriam servir de melhor exemplo no que se refere à alimentação, procurando aumentar as ingestões de frutas e verduras, diminuir o consumo de alimentos industrializados, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e sempre optar por sucos (ou água) no lugar do refrigerante. REFERÊNCIAS BONTEMPO, Márcio. Alimentação para um novo mundo: a consciência ao se alimentar como garantia para a saúde e o futuro da vida na terra. Rio de Janeiro: Record, 2003. 318 p. BURKHARD, Gudrun Krökel. Novos caminhos de alimentação. São Paulo: CLR Balieiro, 1998-2000. 4 v. (v.1) CUPPARI, Lilian (Coord.) Guia de nutrição: nutrição clínica no adulto. 2. ed. rev. e ampl. Barueri: Manole, 2005. 474 p. (Guias de medicina ambulatorial e hospitalar) DINIZ, Denise Pará; SCHOR, Nestor (Coord.) Guia de qualidade de vida. Barueri: Manole, 2006. 221 p. (Guias de medicina ambulatorial e hospitalar) FISBERG, Regina Mara. Inquéritos alimentares: métodos e bases científicas. Barueri: Manole, 2005. 334 p. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1999. MARCONDELLI, Priscilla. et al. Nível de atividade física e hábitos alimentares de universitários do 3° ao 5° semestres da área da saúde. Rev.Nutr,Campinas, v.21, n.1, jan./fev. 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br >. Acesso em: 10 jun. 2008 SACHS, Anita. Hábito alimentar e estado nutricional de idosos ambulatoriais, pré e pós-diagnótico de doença pulmonar obstrutiva crônica. São Paulo, 1997. 90p. [Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina] WEBB, Frances Sizer; WHITNEY, Eleanor Noss. Nutrição: conceitos e controvérsias. Barueri: Manole, 2003. 576 p.