Opióides em Bloqueios acoplados à proteína G.(1-3) Dra. Thaís Cristina Tebaldi1 - Dra. Mariana Junqueira Suyama1 - Dr. Adilson Hamaji2 1Residente em Anestesiologia do 2º ano do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. 2Médico Supervisor do Serviço de Anestesiologia do IOT do HC/FMUSP TSA - SBA. Coordenador do Núcleo de Bloqueios da Sociedade de Anestesiologia do Estado deSão Paulo - SAESP. Membro do Comitê de Subespecialidade de Bloqueio Regional da SBA. INTRODUÇÃO Opióides são substâncias provenientes do exsudato da semente da papoula (Papaver somniferum). O termo opium é derivado de opos (“suco”, em grego). Todas as drogas (naturais/sintéticas) com propriedades “morfina-like”, incluindo os endógenos, expandindo para os antagonistas e receptores, recebem a designação de opióides.(1,2) Nos bloqueios, os opióides utilizados possuem núcleo fenantreno. (1) MECANISMO DE AÇÃO Opióides são agonistas em receptor estereoespecífico em locais pré e póssinápticos no SNC (substância cinzenta periaquedutal do tronco cerebral, amígdala, corpo estriato, hipotálamo e substância gelatinosa da medula espinhal) e fora do SNC (em tecidos periféricos: ativação dos receptores opióides nos neurônios aferentes 1ários).(1,2) Somente a forma levógira possui atividade agonista, com afinidade ao receptor proporcional à sua potência analgésica. Deve o opióide estar na forma ionizada para ligação no receptor aniônico.(1,2) A inibição pré-sináptica da liberação de neurotransmissores (como acetilcolina, dopamina, noradrenalina, substância P) e a ação inibitória póssináptica dos opióides se deve à ligação opióide-receptor, através do acoplamento à proteína G, que promove um aumento da condutância de potássio através dos canais iônicos e inativação dos canais de cálcio com hiperpolarização e diminuição da neurotransmissão.(1,2) Os opióides não apresentam efeito-teto da analgesia, ou seja, a analgesia se intensifica progressivamente com o escalonamento das doses.(2) RECEPTORES OPIÓIDES Os receptores opióides (u1, u2, k, d) pertencem à superfamília dos receptores A localização destes receptores, a afinidade por seus agonistas e seus possíveis efeitos adversos determinam a escolha pelo opióide mais adequado para a técnica anestésica.(3) FARMACOCINÉTICA A habilidade de atravessar a barreira hematoencefálica (BHE) dos opióides depende do tamanho molecular, do grau de ionização (drogas não ionizadas são de 1.000 a 10.000 vezes mais solúveis em lipídios), lipossolubilidade e do grau de ligação protéica. Ligam-se à albumina e a1 glicoproteína (AAG) séricas.(1,3) Sua eliminação se dá por biotransformação no fígado através de dois processos: fase 1 (reação oxidativa/redutora) pelo sistema P450/hidrólise e fase 2 (conjugação). A principal via de excreção é renal, sendo possível também biliar e gastrointestinal. (1-3) ligação aos receptores da substância gelatinosa da medula espinhal (via passagem pelo LCR). A analgesia é dose-dependente, sendo epidural 5-10 vezes maior que a dose subaracnóidea. Não estando associada à denervação do SNS (sistema nervoso simpático), fraqueza musculoesquelética e perda da propriocepção, como ocorre em uso endovenoso ou regional.(1,3) Anestesia epidural O mecanismo de ação neste espaço é por difusão via dura-máter para receptores em medula (via passagem para espaço subaracnóideo/LCR), por absorção sistêmica e também absorção pela gordura espinhal. Por sua alta lipossolubilidade, fentanil e sufentanil apresentam grande absorção vascular no espaço epidural através do rico plexo venoso (fentanil chega ao sangue em 5-10 min, sufentanil em menos de 5 min). A morfina, menos lipossolúvel, alcança nível sérico em 10-15 min. O uso de adrenalina diminui a absorção sistêmica sem alterar a passagem para LCR destes opióides. Lembrar que para todos os opióides deve-se reduzir as doses nos seguintes casos: idosos (>65 anos), insuficientes renais e hepáticos. (3) Doses eqüipotentes dos opióides Sufentanil 0,001-0,02 mg Alfentanil 0,30 mg Fentanil 0,10 mg Buprenorfina Morfina Nalbufina Meperidina 0,30-0,04 mg A concentração da droga no LCR depende da lipossolubilidade e do peso molecular: fentanil 800x e sufentanil 1600x maiores que a morfina. O pico de concentração de fentanil ocorre após-20 min, sufentanil 6 min e morfina 1-4 h (somente 3% da morfina atravessa dura para LCR). Em comparação com a via endovenosa, a eficácia é confirmada pelas menores doses requeridas e pela baixa freqüência de administração. Estas conclusões resultam muito evidentes em estudos com fentanil e morfina, em doses eqüipotentes, em regimes de PCA endovenosa e PCA epidural, tanto para analgesia como para o pós-operatório . Anestesia raquidiana Nesta técnica há absorção sistêmica insignificante. A migração cefálica da droga depende da lipossolubilidade; quanto mais lipossolúvel o opióide, menor a migração.(2,4) 10 mg 10-20 mg 80-100 mg OPIÓIDES NEUROAXIAIS No espaço peridural e subaracnóideo, a ação dos opióides é dependente da A aplicação por via intratecal caracteriza-se por: facilidade de identificação do espaço subaracnóideo, o uso de menores doses, o que significa uma considerável diminuição de toxicidade sistêmica, a rápida instalação de uma analgesia bilateral e ação sinérgica com os anestésicos locais, minimizando o bloqueio motor. Após administração subaracnóidea, os opióides sofrem difusão para a medula espinhal, raízes nervosas e gordura perineural, passando a dura-máter para o espaço epidural. Destas áreas são absorvidos para o sistema vascular, igualmente movimentando-se no líquido cefalorraquidiano. A sua atuação resulta por provável interação com os receptores espinhais, produzindo uma analgesia segmentar, e com os supraespinhais. A alta lipossolubilidade de alguns opióides, sobretudo o fentanil e o sufentanil, em relação a outros, como a morfina, promove a precocidade dos seus efeitos, como se verifica, aliás, de igual modo na via epidural. No entanto, esta propriedade determina uma menor potência analgésica no primeiro, por possível ligação a locais não específicos em detrimento da sua fixação a receptores específicos. Comparativamente com a administração epidural, a via subaracnóidea acompanha-se de uma maior incidência de efeitos secundários, particularmente o prurido, de forma dose-dependente, por migração no LCR.(1,2,4) ANESTESIA EM OBSTETRÍCIA OPIÓIDES EM ANESTESIA REGIONAL Analgesia peridural contínua por infusão Injeção peridural de bolus de 10 ml de bupivacaína a 0,125% com epinefrina 1:800.000 associada a sufentanil 10 mcg. Infusão contínua de solução de bupivacaína a 0,0625% com epinefrina e sufentanil 0,2 mcg/ml na velocidade de 10 ml/h. Caso seja necessário ajustar analgesia, bolus de 3-5 ml de bupi a concentrações crescentes, reavaliando a cada 15 minutos.(5,6) As diversas técnicas regionais podem ser empregadas isoladamente ou associadas a analgesia por via endovenosa, melhorando a qualidade da analgesia. Membro superior - plexo braquial (bloqueio interescalênico, axilar) O bloqueio axilar após o traumatismo da extremidade superior proporciona alívio da dor e preservação da função motora. Um cateter para administração contínua ou intermitente de anestésicos locais pode ser posicionado por punção percutânea dentro da bainha do plexo braquial, prolongando o período de analgesia. Evidências a respeito dos efeitos benéficos da analgesia proporcionada com a adição de opióides permanecem equivocadas e mais evidências são necessárias antes de ser recomendado o seu uso de maneira rotineira. Bloqueio intercostal Os bloqueios intercostais com anestésicos locais de longa duração (bupivacaína) produzem analgesia eficaz após fraturas de costela, toracotomias ou incisões no flanco ou andar superior do abdome. O principal inconveniente desta técnica está associado à necessidade de realização de bloqueios a curtos intervalos de tempo (6 a 12 horas) e ao risco aumentado de intoxicação por anestésicos locais. O uso de opióides não melhora a analgesia, seu mecanismo de ação deve ser por absorção sistêmica. Membro inferior - Plexo lombar - 3 em 1 - Nervo ciático Os opióides não têm efeito por não apresentar receptores opióides. Analgesia para parto vaginal Analgesia combinada raqui e peri Injeção no espaço subaracnóideo de sufentanil 2,5 mcg e 40 mcg de morfina, associados a 2,5 mg de bupivacaína hiperbárica a 0,5%. Após-30 minutos, iniciar infusão contínua de solução de bupivacaína 0,0625% e sufentanil 0,2 mcg/ml na velocidade de 10 ml/h. Caso seja necessário ajustar a analgesia, realizar bolus de 3-5 ml de bupivacaína a concentrações crescentes, reavaliando a cada 15 minutos.(5,6) Anestesia para cesariana A despeito do nível sensitivo adequado do bloqueio, algumas pacientes podem apresentar algum grau de desconforto visceral. A adição de pequenas doses de opióides lipossolúveis melhora a qualidade do bloqueio.(5,6) mobilização precoce do paciente. Habitualmente empregam-se soluções com opióides lipofílicos e anestésicos locais em baixas concentrações.(7-9) O uso de anestésicos locais associados aos opióides pode ter vantagens sobre a infusão única de anestésicos locais ou opióides. Esta combinação resulta numa analgesia pós-operatória de melhor qualidade (incluindo melhora do alívio dinâmico da dor), limites da regressão do bloqueio sensitivo e possibilidade da queda de dose do anestésico local administrado, apesar da incidência de efeitos colaterais poder ou não estar diminuída.(7-10) Raquianestesia Doses de 40 mcg de morfina, sufentanil 5 mcg ou 15 a 20 mcg de fentanil, associadas a doses de 12,5 a 15 mg de bupivacaína hiperbárica a 0,5%.(4-6) Anestesia peridural A adição dos opióides melhora a qualidade do bloqueio, reduzindo a necessidade de medicação analgésica e/ou sedativa suplementar por diminuir o desconforto intra-operatório.(1) Fentanil 50 a 100 mcg ou sufentanil 20 a 30 mcg associados a bupivacaína 0,5% com adrenalina 1:200.000 (20 a 25 ml). O uso de ropivacaína a 0,75% (20-24 ml) associada às mesmas doses de opióides tem sido uma opção cada vez mais adotada, devido ao menor risco de toxicidade.(1) Anestesia combinada – raqui e peridural No espaço subaracnóideo, injetar fentanil 20 mcg e morfina 40 mcg, associado ao anestésico local (5-7,5 mg de bupivacaína hiperbárica a 0,5%). Após 20 minutos, se não houver nível anestésico suficiente para a realização da cesárea, iniciar a complementação da anestesia utilizando o cateter peridural com bolus de 3 ml de lidocaína a 2% com epinefrina 1:200.000 ou com 3 ml de bupivacaína a 0,5% com adrenalina, a cada 5 min, até obter a extensão da anestesia adequada.(5,6) ANESTESIA EM CIRURGIA ORTOPÉDICA, CIRURGIA ABDOMINAL E CIRURGIA TORÁCICA A analgesia epidural torácica é uma boa alternativa para o controle da dor intra e pós-operatório. Reduz a resposta ao estresse cirúrgico e a incidência de isquemia miocárdica e trombose venosa profunda, por permitir Esta associação também se mostra superior quando comparada ao uso de PCA endovenoso com opióides. Não está claro se o efeito analgésico é somatório ou sinérgico. Estudos experimentais demonstram um efeito sinérgico; contudo, ensaios clínicos sugerem um efeito somatório. (7-9) A escolha do anestésico local varia desde bupivacaína, ropivacaína, levobupivacaína devido ao bloqueio sensitivo e mínimos efeitos na função motora. As concentrações usadas de bupivacaína, levobupivacaína menor ou igual a 0,125%, ropivacaína menor ou igual a 0,2% são baixas.(8,11,12) A preferência do opióide recai sobre os opióides lipofílicos (fentanil ou sufentanil) por permitir rápida titulação da analgesia, salientando que o uso de opióides hidrofílicos também promove efetiva analgesia pós-operatória.(1012) ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA A analgesia pós-operatória permite adequado controle da dor, com maior conforto ao paciente, reduzindo complicações pós-operatórias, com mínimos efeitos colaterais. Reduzem-se as complicações pulmonares (atelectasias, pneumonias), as respostas endógenas ao estresse, a incidência de isquemia miocárdica, de trombose venosa profunda e embolia pulmonar. Durante a reabilitação, a analgesia adequada permite otimizar os cuidados fisioterápicos e o tratamento médico de complicações ou seqüelas com motivação do próprio indivíduo. Recentemente, observou-se que o controle adequado da dor permite também a redução dos custos hospitalares relacionados ao menor período de permanência hospitalar e em unidades de tratamento intensivo. A via de administração de analgésicos depende do tipo e do local da lesão, bem como do nível de consciência do paciente. As principais vias de administração de analgésicos no pós-operatório são: oral, intramuscular, intravenosa (contínua, intermitente, controlada pelo paciente), epidural (contínua, intermitente, controlada pelo paciente), interpleural, intercostal e axilar (bloqueio do plexo do membro superior). Os opióides podem ser empregados por todas as vias referidas anteriormente, porém são mais comumente administrados por via intravenosa ou epidural. Sabe-se que a administração de opióides fora do ambiente da UTI ou da recuperação anestésica é muito segura e eficaz. A analgesia pós-operatória deve ser realizada utilizando se necessário a associação de fármacos (analgesia balanceada). A associação de medicamentos variados: opióides + antiinflamatórios não-esteroidais (AINES) permite realizar uma analgesia balanceada. A fim de limitar o volume de anestésicos locais administrados, a injeção deve ser feita o mais próxima possível dos metâmeros implicados na dor pósoperatória. Se a analgesia for insuficiente com o débito proposto, não se deve repetir doses em bolus, mas sim aumentar de maneira progressiva. Dados sugerem que na correta colocação do cateter em seu respectivo dermátomo, quando comparada a seu uso incorreto ou locação do cateter (p. ex.: cateter epidural lombar para procedimentos abdominais e torácicos resulta em aumento da dor e remoção precoce do cateter devido sua ineficiência), o uso correto leva ao uso de menores doses, com conseqüente queda dos efeitos colaterais. A analgesia peridural pós-operatória está indicada essencialmente nas dores pós-operatórias mais intensas ou previstas como tais, e particularmente se a dor interfere com as possibilidades de ventilação ou tosse eficaz. Permite um controle da dor especialmente após ferimentos fechados do tórax ou após cirurgias torácicas ou abdominais altas que limitam a função pulmonar e diafragmática. Estudos mostram redução da morbimortalidade em pacientes de risco com trauma torácico após utilização desta técnica. Assim, quanto maior o risco cirúrgico do paciente, maiores os benefícios da utilização da analgesia pós-operatória. Há uma alta incidência de bloqueio motor dos membros inferiores com o uso de cateteres lombares que podem resultar num término precoce e antecipado da analgesia. A associação de opióide peridural é útil em diminuir a concentração de anestésicos locais e melhorar a qualidade da analgesia, minimizando os efeitos colaterais (p. ex.: bloqueio motor das extremidades e retenção urinária com queda da morbidade. A infusão contínua é preferível à injeção intermitente devido ao menor risco de toxicidade plasmática por anestésicos locais. Os benefícios da analgesia peridural efetuada com precisão levam a uma queda da morbidade em pacientes submetidos a cirurgias abdominais e torácicas. O nível de punção e de colocação do cateter deve se basear não somente na metamerização cutânea e muscular (analgesia parietal), mas igualmente na inervação segmentar nociceptiva dos órgãos implicados durante a cirurgia. Aconselha-se não introduzir o cateter epidural além de 15 cm pelo risco de migração ou enovelamento do cateter. Uso de cateter peridural torácico alto não proporciona inibição do sistema nervoso simpático, que é suprido por fibras de T9-L1. Seu uso resulta numa baixa incidência de retenção urinaria, sua colocação parece ser relativamente segura e não há evidencia de complicações neurológicas quando comparado com o lombar. As principais contra-indicações relativas ao uso de analgesia epidural são as mesmas de colocação para cateter epidural, e incluem hipotensão, sepse, infecção no local de punção e coagulopatia. Nas lesões vasculares ou dos membros inferiores, é conveniente discutir com a equipe cirúrgica a necessidade de monitorizar a função nervosa; neste caso, evitam-se os anestésicos locais por via epidural. Analgesia Controlada Pelo Paciente (PCA) (13) A analgesia controlada pelo paciente (PCA) é uma forma de administração de analgésicos através de bombas de infusão específicas, que permitem ao paciente a auto-administração de doses de fármacos. Para a utilização deste recurso em demanda, o paciente deve ser colaborativo, consciente e orientado. A bomba de infusão eletrônica infunde uma quantidade predeterminada de analgésico, acionada pelo paciente quando este sentir dor. Um dispositivo interno da bomba impede a administração de doses consecutivas de analgésico em intervalo preestabelecido de 5 a 20 minutos, até que a primeira tenha exercido seu efeito. Esta auto-administração é segura, uma vez que as necessidades analgésicas são atendidas dentro da programação preestabelecida. O principal fator limitante ao seu uso talvez seja o custo das bombas ou dos equipos especiais empregados nestes sistemas. As principais vantagens, no entanto, são melhor controle da dor, menor sedação, melhor resultado dos testes de função pulmonar e melhor adesão do paciente ao tratamento. Os principais opióides empregados são a morfina, a meperidina, o fentanil e o sufentanil. A associação de AINES aos opióides na PCA pode reduzir de 20 a 50% o consumo de morfina, reduzindo a incidência de náuseas e vômitos. Com a bomba de PCA pode-se programar: - Tipo de analgesia: Peridural ou venosa - Modo: Contínua, contínua + bolus, somente bolus - Bloqueio de tempo: Estabelece o intervalo de tempo entre as doses efetivas - Limite de 4 horas: Limita dosagem máxima - Para evitar complicações é necessária uma seleção dos pacientes, visitas regulares e freqüentes, supervisão médica especializada, prescrição correta - A interrupção da PCA deve ser criteriosa e não deve ser retirada abruptamente - Não deverá ser prescrito outro opióide em conjunto com a PCA. Por exemplo: tramadol, dolantina, etc. Observação: O volume máximo de infusão é de 10 ml/h devido à complacência do espaço epidural. Utilizar unidade em ml, na programação da PCA peridural. Desmame Bomba PCA(13) - Programação contínua + bolus: Conforme avaliação do paciente passar para programação apenas bolus, reavaliar no dia seguinte a queixa dolorosa e consumo da solução, até que seja possível a alta da bomba de PCA conforme referência de dor do paciente. Após-alta da PCA iniciar a transição para terapia analgésica intermitente via oral ou endovenosa. Exemplo: tramadol 50 mg ou 100 mg, 6/6 h + dipirona 6/6 h +/-AINES. - Programação bolus: Avaliar as necessidades do paciente até a possibilidade de realizar a alta da bomba de PCA. Após alta iniciar a transição para terapia analgésica intermitente via oral ou endovenosa. Exemplo: tramadol 50 mg ou 100 mg, 6/6 h + dipirona 6/6 h +/-AINES. Na analgesia peridural controlada pelo paciente, a infusão contínua expõe o paciente a menos risco de complicações do que a administração intermitente (descontínua). A associação de anestésicos locais e opióides é mais eficaz que cada agente isoladamente. Cuidados com cateter epidural É importante anotar na própria folha de anestesia o número ao nível da pele em que foi fixado o cateter de epidural. Dessa forma, será possível acompanhar a migração do mesmo. O tempo de permanência do cateter epidural não se encontra bem estabelecido, mas em situações especiais estende-se por até 7 a 14 dias, caso não ocorram sinais de infecção. Invariavelmente, o cateter se desloca do espaço epidural com a própria movimentação do paciente muito antes desse intervalo. A tunelização subcutânea do cateter epidural dificulta sua movimentação e protege contra infecções. O espaço epidural, de forma diferente do espaço intravascular, possui uma alta concentração de macrófagos que auxiliam no controle de infecções.(13) Curativo: Colocar a gaze apenas sobre o local da inserção do cateter e fixar com micropore e não envolvê-lo com a gaze, para evitar a migração do cateter, ou até saída acidental na troca do curativo. Utilizar apenas “micropore” no momento da fixação do cateter, outros adesivos podem aderir formando uma “cola”. Troca do curativo deve ser feita a cada 24 horas (gaze e micropore) e 1 semana (filme transparente).(13) Recomenda-se a utilização do filtro antibacteriano incluído no kit peridural, quando a escolha é a permanência do cateter de epidural; há pacientes que permanecem até 10 dias ou mais com o cateter. Troca do filtro antibacteriano a cada 96 horas ou retirada do mesmo após este período. Não é necessário o envio da ponta do cateter para cultura e troca do cateter peridural, rotineiramente. Deverá ser analisado caso a caso e se houver suspeita de infecção pelo cateter peridural.(13) Troca da solução a cada 48 horas, e troca do equipo a cada 72 horas. Previamente à manipulação do cateter, realizar anti-sepsia com clorexedina alcoólica 0,5%, friccionando com gaze estéril na área da conexão do equipo.(13) Teste do cateter epidural Suspeitar do adequado posicionamento do cateter epidural em situações nas quais o paciente apresenta analgesia inadequada utilizando PCA epidural. Sugere-se aspirar o cateter e se confirmar que o mesmo apresenta-se no espaço peridural, realizar lidocaína 1% (3 – 5 ml) s/vc; obtendo alívio da dor confirma-se o posicionamento adequado do cateter.(13) Desconexão acidental ou fratura do cateter Na ocorrência de desconexão acidental ou fratura do cateter epidural na proximidade do filtro bactericida e a mesma foi assistida, o fabricante orienta de acordo com o CCIH realizar anti-sepsia do cateter com clorexedina alcoólica 0,5%, friccionando 10 cm da área atingida, cortá-lo com bisturi estéril, o procedimento deve ser sistematicamente estéril (utilizar luvas, campo, bisturi estéreis). Depois de cercar-se de todos os cuidados, reconectar o filtro bactericida.(13) Na impossibilidade da adoção desta conduta: Avaliar possibilidade de nova instalação de cateter epidural ou PCA sistêmica.(13) EFEITOS COLATERAIS DOS OPIÓIDES NO NEUROEIXO Os principais efeitos são: Prurido, náusea e vômito, retenção urinária e depressão ventilatória. Prurido É o efeito colateral mais comum, ocorre em aproximadamente 60% quando da administração peridural ou intratecal por migração cefálica no LCR e interação nos receptores opióides do núcleo trigeminal, podendo ou não ser dose-dependente. Embora de causa incerta, parece não estar relacionado com a liberação periférica de histamina, mas com a ativação central de um itch center (centro do prurido) na medula ou de receptores no núcleo trigeminal ou raízes nervosas devido à migração cefálica do opióide. O uso de fentanil associado ou não a um anestésico local parece estar associado a uma menor incidência de prurido quando comparado a morfina. Em obstetrícia, há maior incidência por interação com estrógeno. Principalmente em face, pescoço e tórax superior, com início em algumas horas pós-injeção. Uma variedade de agentes tem sido utilizados para prevenir e tratar o prurido. O tratamento pode ser feito com naloxona, um antagonista efetivo, nalbufina, droperidol. O uso de anti-histamínico pode ser efetivo por efeito sedativo. Relativamente fácil de ser tratado, não é considerado importante em relação ao benefício alcançado com o uso do opióide. Retenção urinária De incidência muito variável, pode estar por volta de 70 a 80%, exata incidência do ponto de vista clínico pode ser dificultada devido aos pacientes submetidos a grandes procedimentos serem sondados de rotina, é mais observada em homens jovens, sendo mais comum em neuraxial que a administração endovenosa ou intramuscular. Sua ocorrência não é dosedependente ou relacionada à absorção sistêmica. O mecanismo envolve receptores opióides na medula espinhal sacral, com inibição do SNP (parassimpático) e relaxamento do músculo detrusor, conseqüentemente aumentando a capacidade da bexiga. A retenção urinária associada à morfina tem início em 15 min e pode durar até 16 h, sendo reversível com naloxona; deve-se ressaltar o risco de reversão do efeito analgésico do opióide. Depressão ventilatória O uso de doses apropriadas de opióides no neuroeixo não está relacionado com altas incidências de depressão respiratória quando comparado ao uso de opióides sistêmicos, dose-dependente e gira em torno de 0,1-0,9%, a incidência de infusão peridural contínua parece não ser maior que o seu uso sistêmico. Sobre uso contínuo peridural de opióide hidrofílico, principalmente em UTI em pacientes monitorizados, largos estudos têm demonstrado relativa segurança (< 0,9%). O mais temido dos efeitos colaterais pode ocorrer em minutos ou horas. É classificado em depressão precoce, que ocorre até 2 h pós-injeção, geralmente por fentanil/sufentanil, devido à absorção sistêmica; e em depressão tardia, observada depois de 2 h pós-injeção, por migração cefálica no LCR e interação nos receptores opióides da medula ventral. Classicamente, com morfina ocorre depressão em 6-12 h pós-injeção, até 24 h pós. O uso concomitante de sedação com opióide EV e tosse durante a injeção aumentam o risco. Já em obstetrícia, o risco é menor graças ao aumento da ventilação por ação da progesterona. O risco é maior nas disfunções respiratórias, na insuficiência renal, se forem associados aos benzodiazepínicos, aumento da dose, idade avançada, uso concomitante de opióides sistêmicos, cirurgias prolongadas, presença de comorbidades e cirurgia torácica. A clínica mais confiável desta complicação é a diminuição do nível de consciência, pois o paciente pode manter freqüência respiratória normal com diminuição de PO2 e aumento de PCO2. Tratamento indicado consiste em oferta de oxigênio. O uso de naloxona profilática é controverso, uma vez que ainda não há subsídios que provem sua ação protetora. O tratamento é efetivo com dose de 0,1-0,4 mg endovenoso; contudo, a duração clínica de ação é relativamente pequena quando comparada com a duração do efeito na depressão respiratória e a necessidade de uma infusão contínua de 0,5-5 ugkg-h pode ser necessária. Náuseas e vômitos Ocorre em aproximadamente 20-50% dos pacientes com administração de dose única de opióide e pode chegar a 45-80% em pacientes recebendo infusão contínua de opióide. Dados clínicos e experimentais sugerem que a incidência de náuseas e vômitos é dose-dependente. Devido à migração cefálica do opióide do liquor para área específica da medula. Uso de fentanil associado a anestésicos locais em infusão peridural contínua está relacionado com menor incidência de náuseas e vômitos quando comparado ao uso da morfina. Uma série de agentes tem sido utilizados com sucesso para tratar as náuseas e vômitos induzidos pelo uso de opióides no neuroeixo e incluem naloxona, droperidol, metoclopramida, dexametasona, escopolamina e ondansetrona. Sedação É dose-dependente, ocorre mais comumente com sufentanil. Associados a sedação descrevem-se ainda casos de psicose paranóide, catatonia, alucinações; reversíveis com naloxona. Ações no SNC É raro observarmos rigidez muscular por opióide neuraxial, porém podem ser vistas mioclonias mais freqüentemente. Doses clínicas, mesmo que altas, não levam à convulsão. A excitação do SNC ocorre pela migração do opióide via LCR para receptores não-opióides em tronco cerebral/gânglio da base, com inibição da glicina ou GABA Reatividade viral Há ligação entre pacientes obstétricos com uso de morfina peridural e herpes simples labial com reativação 2-5d após a anestesia peridural. A manifestação ocorre em mesmo local da infecção 1ária, principalmente em áreas da face inervadas pelo n. trigêmeo. O mecanismo envolve a migração cefálica do opióide em LCR com interação com n. trigêmeo. Outros efeitos colaterais A absorção sistêmica dos opióides administrados no neuroeixo pode estar associada à diminuição do esvaziamento gástrico e da temperatura (por inibir tremor), miose, nistagmo e vertigem, efeitos estes reversíveis com uso de naloxona. Em parturientes, a absorção sistêmica e conseqüente passagem placentária pode levar a depressão respiratória do neonato. Foi associada também oligúria/retenção de líquidos, levando a edema periférico, devido à liberação ADH por migração cefálica dos opióides no LCR. Morfina no espaço peridural foi associada a ocorrência de ereção sustentada e dificuldade ejaculatória. A lesão da medula espinhal é possível devido à ação deletéria de preservativos tóxicos com disfunção sensorial, motora, espasmo, mioclonia, paresia e paralisia. TRATAMENTO - Náuseas e vômitos: Ondasentrona4 mg, 8/8 h - Retenção urinária: Sondagem vesical de alívio, naloxona - Sedação ou euforia, constipação: Naloxona.