Marketing de Varejo e Negociação Professora conteudista: Cláudia Ferretto Palladino Sumário Marketing de Varejo e Negociação Unidade I 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................1 2 O QUE É VAREJO .................................................................................................................................................1 2.1 Tipos de varejistas ...................................................................................................................................8 2.2 Estrutura e níveis do canal ...............................................................................................................11 2.3 Sistemas de marketing e fluxos de varejo ................................................................................ 14 2.4 Classificação e formatos varejistas ............................................................................................... 16 2.5 Teorias de evolução no varejo ......................................................................................................... 49 2.6 Estratégias em varejo ........................................................................................................................ 53 Unidade II 3 PREÇO EM VAREJO ......................................................................................................................................... 77 3.1 Objetivos de preço ............................................................................................................................... 78 3.2 Política de preços ................................................................................................................................. 80 3.3 Táticas de preços no varejo .............................................................................................................. 87 3.4 Métodos de precificação e margens ........................................................................................... 89 3.5 Composição do mix de produtos .................................................................................................. 97 3.6 Decisões estratégicas ......................................................................................................................... 99 3.7 Fatores de influência no mix de produto .................................................................................108 3.8 Decisões táticas em varejo ............................................................................................................. 112 Unidade III 4 COMPRAS, ABASTECIMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE MERCADORIAS........................................... 115 4.1 Previsão de vendas ............................................................................................................................ 115 4.2 Métodos de definição de estoque .............................................................................................. 118 4.3 Fatores de influência do nível adequado dos estoques ......................................................122 4.4 Planejamento de compras ..............................................................................................................123 4.5 Distribuição e reposição rápida de mercadorias....................................................................132 5 COMUNICAÇÃO DE MARKETING NO VAREJO....................................................................................144 5.1 Objetivos dos esforços promocionais .........................................................................................146 5.2 As ferramentas de comunicação de marketing .....................................................................149 5.2.1 Propaganda ............................................................................................................................................ 149 5.2.2 Promoção de vendas e merchandising ....................................................................................... 155 5.2.3 Vendas pessoais .................................................................................................................................... 167 5.2.4 Marketing direto ................................................................................................................................. 174 5.2.5 Relações públicas ............................................................................................................................... 177 6 APRESENTAÇÃO E EXPOSIÇÃO DE PRODUTOS E LAYOUT DE LOJA .........................................180 6.1 Atmosfera ..............................................................................................................................................180 6.2 Apresentação externa e interna da loja ...................................................................................188 6.3 Layout de loja ......................................................................................................................................196 7 VAREJO ELETRÔNICO ...................................................................................................................................199 7.1 Atratividade e retenção de clientes em lojas virtuais .........................................................205 7.2 Riscos percebidos em compras virtuais.....................................................................................207 Unidade IV 8 TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO ....................................................................................................................212 8.1 Definição e conceituação................................................................................................................212 8.2 Habilidades para a negociação ....................................................................................................214 8.3 Planejamento da negociação ........................................................................................................217 8.4 Estratégias de negociação .............................................................................................................220 8.5 Negociação e ética.............................................................................................................................223 8.6 Conflito ...................................................................................................................................................224 8.7 Estilos de negociação .......................................................................................................................227 8.8 Negociação internacional ...............................................................................................................236 8.9 Casos práticos de negociação e solução de conflitos ........................................................249 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO 5 Unidade I 10 15 1 INTRODUÇÃO 20 A atividade de varejo vem assumindo, de forma contínua 25 e crescente, um papel de relevante importância no cenário empresarial brasileiro e mundial. Esse crescimento é validado 30 não só pelos números referentes a volumes de vendas (superior a R$ 100 bilhões que representam mais de 10% do PIB), como 35 também pela adoção de avançadas técnicas de gestão somadas ao que há de mais moderno em soluções e ferramentas de tecnologia da informação. Na década de 90 o setor varejista construiu um intenso processo de transformação que atingiu seu ápice nos anos 2000 e fez com que diversas empresas varejistas passassem a fazer parte do grupo das maiores empresas do Brasil. Nesta apostila vamos estudar a atividade varejista e as técnicas de marketing voltadas para esse segmento, discorrendo sobre as suas características e estratégias com o intuito de entender a dinâmica deste setor da economia. Para complementar o seu estudo, a quarta unidade trará a você a possibilidade de desenvolver técnicas e habilidades de negociação, uma importante e necessária ferramenta, inerente às atividades comerciais. 2 O QUE É VAREJO Diversos autores desenvolveram definições para o termo varejo. Las Casas (2006) explica, por exemplo, que o termo “varejo” é utilizado para identificar os setores do comércio que vendem diretamente para os consumidores finais. 1 Unidade I Quando uma organização, seja ela fabricante, atacadista ou varejista faz uma venda diretamente para o consumidor final, está exercendo uma atividade varejista. A atividade de varejo pode ser realizada por diversos meios (pessoalmente, por telefone, pela internet, por máquinas de vendas) e em diferentes lugares (lojas, ruas, em domicílio). Os varejistas, então, são organizações que fazem a intermediação da venda de bens entre a indústria e os consumidores ou entre atacadistas e consumidores. O varejista é um prestador de serviços que, além de vender, tem a função de selecionar mercadorias que sejam de interesse dos seus consumidores, providenciar meios de pagamento, embalagem, serviços de entrega entre outros. Seguindo esse raciocínio, vamos analisar a proposição de varejo feita por Kotler (2000): O varejo inclui todas as atividades relativas à venda de produtos ou serviços diretamente aos consumidores finais, para uso pessoal e não comercial. Um varejista ou uma loja de varejo é qualquer empreendimento comercial cujo faturamento provenha principalmente da venda de pequenos lotes no varejo. O gerenciamento do varejo é, portanto, uma ação que leva o varejista a determinar as necessidades de seus mercados-alvo, bem como a satisfação de suas necessidades de forma mais eficaz e eficiente que seus concorrentes. Parente (2000) explica que o varejo “consiste em todas as atividades que englobam o processo de venda de produtos e serviços para atender a uma necessidade do consumidor final”; e ainda que “o varejista é qualquer instituição cuja atividade principal consiste no varejo, isto é, na venda de produtos e serviços para o consumidor final”. Veja que a definição de varejo, muitas vezes, inclui a atividade de serviços, conforme Daud e Rabello (2007): “A atividade de 2 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO varejo consiste em vender produtos e serviços diretamente aos consumidores finais. Trata-se de uma atividade híbrida, pois são raros os que vendem apenas produtos, assim como aqueles que comercializam apenas serviços”. Mesmo quando um atacadista ou o próprio fabricante vende diretamente para o consumidor final, trata-se de uma atividade de varejo, embora essas organizações não sejam consideradas varejistas, por não ser o varejo a sua atividade principal. A diferença entre o varejista e o atacadista se estabelece no processo de venda. O atacadista faz vendas institucionais, ou seja, vende para outras organizações que compram os produtos para serem revendidos. O varejista então é um intermediário, que faz parte de todo o processo de distribuição de um produto. Os varejistas podem comprar dos fabricantes ou dos atacadistas. O varejista compra, estoca e entrega produtos para os consumidores finais, agindo como um facilitador na distribuição dos produtos para os consumidores finais. As atividades do comércio varejista têm especial importância ao lado de outros segmentos da economia pela sua significativa parcela de responsabilidade na geração de empregos e movimentação da economia no país. O termo consumidor é utilizado genericamente para referir-se às pessoas físicas ou jurídicas que compram produtos e serviços das organizações. Já o termo consumidor final é uma referencia às pessoas físicas que adquirem pequenas quantidades para o uso e consumo próprios. (DAUD e RABELLO, 2007) Varejo no Brasil se torna foco do mercado mundial Pesquisa da Ipsos mostra mudanças nos hábitos da indústria e dos consumidores As mudanças climáticas e comportamentais estão refletindo em ações de marketing no varejo. Desde os anos 1950, a variação de foco da indústria varejista mirou nas vendas, no produto, na propaganda, no marketing promocional junto ao ponto de venda até que, no ano 2000, o varejo resolveu, enfim, apostar 3 Unidade I no consumidor e, mais recentemente, no shopper, ou comprador. Isto é o que mostra uma pesquisa da Ipsos sobre a realidade do consumo varejista no Brasil. Estas mudanças são provenientes das transformações ocorridas no mercado ao longo de 60 anos. Se antes havia uma baixa oferta de produtos e um pequeno número de empresas no setor, a industrialização do varejo e o amadurecimento do consumidor trouxeram a concorrência. Em seguida, já nos anos 1990, a internet apresenta lojas virtuais e o consumidor passa a ser o objeto de desejo das empresas, que, por sua vez, investem em programas de fidelidade por necessidade. No mercado atual, o poder está totalmente concentrado em quem compra e não mais em quem vende. As empresas já começaram um processo de produção para consumo rápido, saturação de mensagens e o controle para que elas não se tornem evasivas. São muitas mudanças, de fato. A bola da vez é a aplicação e não mais o discurso apenas, sobre os efeitos do consumo no meio ambiente. Brasil no centro do varejo mundial A segmentação está em voga. Se antes a indústria varejista baseava-se em seu conhecimento de mercado, hoje não há espaço para uma empresa que não analisa e nem valoriza o comportamento, os hábitos e as preferências de seus consumidores. “A realidade hoje é outra. Antes a marca criava o produto e o vendia. Agora o varejista analisa o comportamento do consumidor para elaborar um produto”, diz Valéria Rodrigues, diretora de varejo da Ipsos. 4 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO Durante a reunião do Comitê de Promoção, Trade e Varejo da ABA Rio, realizada na ESPM-RJ, Valéria apresentou as tendências discutidas durante a NRF 2010, evento mundial sobre as novidades e expectativas do varejo. Os planos para os próximos anos animam até o mais pessimista empresário brasileiro. A expectativa é de que o país cresça 5,5% no PIB, que o investimento estrangeiro aumente 46% e que a produção industrial cresça 8,41% em 2010 em relação a 2009. Em outras palavras, o Brasil é a bola da vez no varejo mundial. Com cerca de 66 milhões de internautas (dados da Ipsos em 2008), 61% deles estão enxergando o e-commerce como comodidade para não ter que sair de casa para efetuar uma compra. De acordo com a pesquisa feita há dois anos, o preço (51%), a facilidade (44%), a rapidez (34%) e a segurança (28%) são os principais diferenciais das lojas virtuais. Internet X sustentabilidade O e-commerce apresenta grande aceitação no Brasil, indiferente da classe social do internauta. Basta ver os dados de outra pesquisa da Ipsos no ano passado, que mostram uma pequena variação entre a intenção de compra de e-consumidores das classes A, B, C e D. Falar de internet e consumidor hoje é sinônimo de redes sociais. “Nelas, 34% dos internautas brasileiros já postaram algum texto sobre marcas e empresas”, aponta Valéria. A afirmativa é baseada em uma pesquisa da McCann em 2008. No Brasil, essa atividade é mais comum que no resto do mundo. O mesmo estudo constatou que o português é o 5 Unidade I terceiro idioma mais popular do Twitter, ou seja, 9% dos posts em todo o planeta são feitos na nossa língua. A outra tendência do varejo é a sustentabilidade. Se já não bastasse salientar a importância disso diariamente e tornar, às vezes, este assunto em algo repetitivo, a verdade é que o tema deixa de ser discurso para ser estratégia. Veja o Walmart Brasil, entre suas metas para os próximos anos, há um planejamento sustentável para produtos, clima e energia, e resíduos dos pontos de venda. Indústria e consumidor engajados “A empresa já fala em sustentabilidade há três ou quatro anos, com metas agressivas que englobam a companhia de ponta a ponta. Sem falar que uma em cada três pessoas busca informações sobre sustentabilidade nas empresas”, afirma a diretora de varejo da Ipsos com base em um estudo feito pelos institutos Akatu e Ethos entre 2006 e 2007. A tendência da sustentabilidade no varejo brasileiro não é só por parte da indústria. O consumidor também está engajado na causa. Prova disso é que o Brasil tem o mesmo índice de consumidores que mudaram seus hábitos de compra para ajudar o meio ambiente do que média da América Latina. Em compensação, na Europa este índice é de meros 8%, seguido de 11% dos americanos. Porém, os números apresentados pelos consumidores do velho continente e os da terra do Tio Sam não significam despreocupação com a causa verde. “Na Europa, por exemplo, fala-se menos em mudança 6 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO de hábitos em prol do meio ambiente porque lá os consumidores mudaram seu comportamento de compra há muito tempo”, conta Simone Terra, diretora da Simone Terra Soluções de Mercado e Conselheira do Comitê de Promoção, Trade e Varejo da ABA. Marcas próprias ganham mercado Outra tendência do varejo são as marcas próprias. Hoje, esses produtos já fazem parte da lista de compras de muitos brasileiros e mais ainda dos consumidores europeus e americanos. A Ipsos constatou que sete entre cada 10 shoppers avaliam as marcas próprias como produtos de qualidade tanto quanto os itens mais caros das gôndolas. Dentre os fatores que contribuíram para o crescimento e a aceitação desses produtos na indústria e nos lares esta a confiança na rede varejista em primeiro lugar. Além de serem vistos com qualidade igual a dos produtos líderes de mercado, o menor preço destes utensílios de marca própria é visto como resultado de um esforço comercial para atender as necessidades dos consumidores. A pesquisa apontou para 43% de americanos e 41% de europeus que compram estes produtos com frequência. No Brasil e na América Latina, são 32% e 37% respectivamente. Segundo dados da Nielsen, no ano passado os itens de marca própria aumentaram 23% em relação a 2008. “Em breve, as marcas próprias se equipararão às líderes de mercado”, prevê Valéria. Fonte: Portal Administradores.com.br, de 15 de março de 2010 - (Terra, 2010) 7 Unidade I 2.1 Tipos de varejistas Quando você precisa comprar alguma coisa, geralmente você tem várias opções de estabelecimentos comerciais para escolher. Para comprar uma blusa, por exemplo, você pode optar por uma loja especializada, que pode pertencer a uma rede como a C&A, ou preferir uma loja menor independente. Você pode até encontrar opções em hipermercados ou comprar pela internet ou por catálogo. Existem no mercado diversas modalidades de varejo – variações no tamanho da loja, no mix de produtos, no tipo de atendimento – que podem ser negócios com e sem estabelecimentos físicos (lojas) e organizações de varejo. Veja a seguir, modalidades existentes de varejo, tanto no Brasil, como em outros países: Lojas de especialidade: Oferecem uma linha restrita de produtos com uma grande variedade. Podem ser lojas de vestuário, artigos esportivos, móveis, entre outras. Alguns exemplos são O Boticário e a World Tennis. Lojas de departamentos: Apresentam várias linhas de produtos, como roupas, eletrodomésticos, utensílios domésticos, perfumaria etc. As Lojas Americanas e as Pernambucanas são exemplos de loja de departamentos. Supermercados: São estabelecimentos de operação de autosserviço, com baixo custo, margens baixas e alto volume. Pão de Açúcar, Zona Sul, Bom Preço e Imperatriz são estabelecimentos tradicionais nesta operação. 8 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO Loja de conveniências: São lojas pequenas, localizadas próximas de áreas residenciais, que funcionam em horário prolongado, oferecendo linha limitada de produtos, itens de alta rotatividade e preços ligeiramente mais altos, como a Seven-Eleven e a AmPm. Lojas de descontos: Estas lojas vedem mercadorias-padrão a preços mais baixos, com margens menores. As lojas de descontos migraram para o modelo de especialidade, oferecendo artigos esportivos, calçados, roupas de cama, mesa e banho etc. Este modelo é bastante comum nos Estados Unidos; no Brasil estes empreendimentos normalmente pertencem a fabricantes ou lojistas que escoam seus excessos de produção e estoque por meio desta modalidade de negócio. Varejistas off-prices (de liquidação): Vendem normalmente as sobras de mercadorias que são adquiridas pelo varejista a preços inferiores aos praticados regularmente pelo atacado e vendidas a preços também menores que os praticados no varejo. A rede Galinha Morta, de São Paulo, começou como um modelo de varejista offprice. Normalmente as grandes cidades apresentam algum tipo de varejista off-price, principalmente nos ramos de roupas e calçados. Os varejistas off-price ainda podem ser divididos em: • lojas de fábrica: estas lojas pertencem ao fabricante, que também operam o negócio. Vendem a preços baixos sobras de estoque, itens com pequenos defeitos ou que saíram de linha; • lojas independentes de descontos: podem pertencer a grandes empreendedores ou a grandes organizações de varejo. 9 Unidade I Clube de atacadistas: Apresentam uma seleção limitada e específica de produtos que são vendidos com descontos especiais para seus sócios (para participar da compra, o cliente, normalmente se associa ao clube, pagando uma taxa que pode ser única ou anual). São exemplos: Makro, Sam’s Club. Superloja: São lojas que ocupam grandes espaços (3.500 m² em média) e vendem muitas e diferentes linhas de produtos, que podem ser alimentícios ou não, e também agregam diversos serviços como lavanderia, conserto de roupas etc. Showroom de vendas por catálogos: Apresentam ampla variedade de produtos de alto preço alto e rotatividade que são vendidos com descontos. O cliente procura e seleciona a mercadoria em catálogos e retira o produto na própria loja, em área específica. Novos modelos de varejo são criados continuamente para atender as variações ambientais, como as necessidades dos consumidores e os avanços da tecnologia. Na esteira das mudanças ambientais surgiu na virada do milênio o varejo eletrônico. As variações ambientais também influenciam ainda os ciclos de vida do varejo. Os diversos tipos de varejo também apresentam um ciclo formado pelos estágios de introdução, crescimento e declínio, assim como os produtos e serviços. O ciclo de vida do varejo será abordado por esta disciplina pouco mais adiante. Atualmente esse ciclo tem sido mais rápido, já os formatos mais antigos, como as lojas de departamentos, levavam muito 10 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO mais tempo para crescer e amadurecer. Novos modelos de varejo surgem, entre outras razões, para elevar suas receitas e diminuir seus custos operacionais, o que desencadeia o surgimento de outros modelos que oferecem preços mais baixos, porém sem o oferecimento de serviços. Novos modelos são criados, surgem também para atender necessidades dos consumidores, fazendo com que os varejistas se posicionem para oferecer níveis diferentes de serviços, tais como: • autosserviço: este modelo é a base para as operações de desconto. O cliente, neste caso, no intuito de gastar menos, precisa estar disposto a procurar, comparar e selecionar os produtos; • seleção: neste caso, os clientes também procuram, comparam e selecionam os produtos, mas podem contar com a ajuda de um vendedor a quem pagam pelo item adquirido; • serviço limitado: normalmente muitos itens estão expostos, mas os compradores precisam de mais ajuda dos vendedores para encontrar e selecionar os produtos. Nestes casos, os clientes contam também com mais serviços como crédito e processos mais simples de devolução; • serviço completo: neste modelo os vendedores estão preparados para atender o cliente em todas as fases do processo de compra (procurar, comparar e selecionar os produtos). Este modelo perfaz um varejo de alto custo devido ao alto custo de pessoal, maior quantidade de produtos especializados e de mercadorias com baixa movimentação. 2.2 Estrutura e níveis do canal Para que o produto chegue até o consumidor, vários canais de marketing podem ser utilizados, assim como o varejista, 11 Unidade I que também é um intermediário e, portanto, participa de todo o processo de distribuição de um produto, comprando de fabricantes ou atacadistas e estocando e entregando os produtos para os consumidores finais. O papel do varejista é facilitar o acesso dos consumidores aos produtos, bem como viabilizar a distribuição dos produtos fabricados pelas indústrias. A proximidade do varejista com os consumidores finais estabelece para o varejo um papel importante de identificador das necessidades dos consumidores finais e na definição do que deverá ser produzido. Veja na figura 1 os diferentes níveis de canais de marketing para a distribuição de bens de consumo, que podem ser utilizados para que o produto chegue até o consumidor final. Note que por estarmos estudando a distribuição no varejo - que é o atendimento do consumidor final - a figura 1 refere-se exclusamente ao fluxo de entre indústria e pessoas físicas. Nível 0 Nível 1 Nível 2 Nível 3 Fabricante Fabricante Fabricante Fabricante Atacadista Agente Atacadista Consumidor Varejista Varejista Varejista Consumidor Consumidor Consumidor Figura 1: Canais de marketing de bens de consumo Fonte: DAUD, M.; RABELLO, W. Marketing de varejo: como incrementar resultados com a prestação de serviço. São Paulo: Bookman, 2007. 12 Canais de marketing também podem ser chamados de canais de distribuição, cadeia de fornecimento, cadeia de suprimento, supply chain, cadeia de abastecimento ou canal de comercial. MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO A figura mostra o fluxo dos produtos entre o fabricante e consumidor final. A estrutura de nível 0 não apresenta intermediários. É o caso do fluxo de produtos de empresas como a Avon e a Natura, que vendem diretamente aos consumidores finais por meio de uma força de vendas. Um único tipo de intermediário é ilustrado pela estrutura de nível 1, cujo exemplo é dado quando a Nestlé vende seus produtos para os supermercados (que são varejistas) e estes os vendem para o consumidor final. A estrutura de nível 2 contempla a participação de dois intermediários, o atacadista e o varejista; nesse caso, o fabricante vende seus produtos para os atacadista (para o Makro, por exemplo), que revende para os varejistas (os supermercados), que por sua vez revendem aos consumidores finais. Se entre o fabricante e o atacadista tiver mais um intermediário, que pode ser um importador, ou uma organização especializada no atacado de alimentos, a estrutura será de nível 3. Os intermediários não só têm o papel de distribuir os produtos, mas também assumem funções que colaboram com a gestão da cadeia, ora viabilizando os próprios negócios dos fabricantes, ora assumindo funções-chave. Com a utilização de intermediários, os fabricantes podem repassar aos distribuidores os investimentos na infraestrutura necessária para o atendimento do consumidor, como é o caso da venda de carros. Neste caso, as montadoras repassam para as revendas as atividades de atendimento, promoção, assistência técnica e outros serviços. Além disso, podem ainda viabilizar a distribuição de produtos de baixo valor em áreas distantes do ponto de fabricação, como é o caso da distribuição de guloseimas. E ainda imprimir mais foco no negócio de fabricação, o que pode ter um retorno mais significativo que investir em distribuição. Com relação às funções assumidas pelos intermediários na distribuição dos produtos, podemos destacar: 13 Unidade I • reunir informações sobre os clientes regulares e potenciais, bem como sobre os concorrentes e demais participantes do ambiente. A proximidade entre o intermediário e esses membros facilita a obtenção dessas informações, que podem ser sobre preferências dos consumidores, preços praticados no mercado, mudanças no ambiente etc.; • desenvolver programa de comunicação para a disseminação de mensagens mais apropriadas ao mercado de atuação; • estabelecer acordos de preço e de formas de pagamento mais condizentes com o fluxo de mercadorias em determinado mercado; • obtenção de recursos para o financiamento de estoques em diferentes níveis do canal de marketing; • investir e gerenciar estruturas de abastecimento e estoques; • assumir os riscos inerentes à operação. 2.3 Sistemas de marketing e fluxos de varejo Segundo Parente (2000), “sistemas de marketing são conjuntos integrados de instituição com o objetivo de satisfazer eficaz e eficientemente às necessidades dos consumidores”. Essas instituições de marketing podem ser classificadas em: • Instituições de marketing primárias: são as organizações que compram e vendem os produtos, desempenhando a distribuição dos mesmos entre o fabricante e o consumidor. Estão incluídos os fabricantes, atacadistas, varejistas e consumidores. 14 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO • Instituições de marketing secundárias: são as organizações que facilitam o processo de distribuição, operando em atividades paralelas necessárias ao processo, como transporte, armazenagem, seguros, financiamento, promoção, pesquisa de marketing etc. Parente (2000) afirma que “os varejistas são parte de um sistema de marketing complexo – são componentes importantes, mas não são únicos, portanto, dependem da participação e da integração dos outros participantes do canal”. Portanto, o comportamento de cada um dos membros que participa do canal terá reflexo nos demais e por isso a necessidade do estabelecimento de uma parceria e da realização de um trabalho em equipe. O surgimento de técnicas, como a aplicação de EDI, da Reposição Contínua e do Gerenciamento de Categorias traz a exigência da interação dos membros do canal, para que se alcance o desenvolvimento das funções relacionadas à transação e distribuição, de forma cada vez mais efetiva e eficiente. Os varejistas, que são membros dos sistemas de distribuição, devem manter essa interligação diretamente com seus consumidores e seus fornecedores em face dos cinco seguintes fluxos: • Fluxo de produtos e serviços: refere-se ao movimento físico do produto, desde o momento da saída do fabricante até a chegada no consumidor final, passando pelos atacadistas e, conforme for o caso, pelo varejista. Este fluxo pode incluir as empresas transportadoras. • Fluxo de propriedade: refere-se à direção do fluxo do produto no que diz respeito à sua posse. A propriedade do produto passa do fabricante para o varejista e depois para o consumidor final. 15 Unidade I • Fluxo de informação: todos os participantes do processo de distribuição trocam informações importantes. Este fluxo pode ser tanto no sentido em direção ao consumidor, como no sentido do fabricante. Este fluxo pode ultrapassar o varejista e chegar diretamente ao fabricante, graças a possibilidade da integração eletrônica dos participantes da cadeia de distribuição. • Fluxo de pagamento: este fluxo acontece do consumidor em direção ao fabricante, ou seja, o consumidor paga o varejista que, por sua vez paga o seu fornecedor. • Fluxo de promoção: este fluxo se refere aos esforços de comunicação para divulgação do produto (propaganda, venda pessoal, promoção de vendas e Publicidade/RP). O sentido deste fluxo é de cima para baixo, ou seja, do fornecedor para o varejista e deste para o consumidor. 2.4 Classificação e formatos varejistas O varejo pode ser classificado por tipo de organização, mix de produtos oferecidos, abrangência física e por vários outros aspectos. Las Casas (2000) agrupa os varejistas em quatro grandes grupos, levando em consideração: • o esforço de escolha por parte do consumidor: lojas de conveniência, lojas de compras por escolha e lojas especializadas; • a situação de propriedade, por parte do varejista: lojas independentes, lojas em cadeia (rede) e associação de independentes (cadeias cooperativas, cadeias voluntárias e licenças); • a linha de produto, que são as mercadorias em geral, linhas limitadas e lojas especializadas; 16 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO • classificação segundo as funções exercidas, que são os lojistas (lojas de departamento, lojas de descontos, supermercados e superlojas) e não lojistas (reembolso postal, porta em porta, venda por telefone e máquinas de vender). Portanto, diferentes critérios podem ser usados para classificar as organizações varejistas. A figura 2 abaixo apresenta o critério de classificação por propriedade e por sistema de varejo, conforme: Instituições varejistas Classificação de acordo com a propriedade Independentes Redes Franquias Departamentos alugados Sistemas verticais de marketing Instituições com lojas Alimentícias Não alimentícias Serviços Instituições sem lojas Marketing direto Vendas diretas Máquinas de vndas Varejo virtual Figura 2: Classificação das organizações varejistas Fonte: adaptado de BERMAN, EVANS, 1998 (apud PARENTE, Juracy. Varejo no Brasil: Gestão e Estratégia. São Paulo: Atlas, 2000) Organizações de varejo por tipo de propriedade De acordo com tipo de propriedade, as organizações de varejo podem ser classificadas como organizações independentes, cadeias, franquias, alugadas ou de propriedade de um fabricante ou atacadista. Organizações independentes: O varejista independente possui normalmente um negócio pequeno, que possui apenas uma loja, que fica sob administração 17 Unidade I familiar e apresenta baixo uso de recursos tecnológicos. O foco em uma única unidade faz com que a gestão do negócio seja mais concentrada, com maior controle e maior integração entre as atividades de compra e venda, que é ajustada de acordo com as necessidades do consumidor e com as oscilações do mercado. Constituem a maioria dos negócios de venda a varejo. Redes: As organizações varejistas podem possuir mais de uma loja, administradas sob uma mesma direção. É o caso de empresas como Carrefour e C&A. O número de unidades favorece o poder de barganha junto aos fornecedores que resulta em melhores condições de compra, bem como a administração de todas as outras atividades inerentes ao negócio, como investimentos em tecnologia, esforços de comunicação de marketing, logística, entre outras. Entretanto, apesar da economia em escala, as redes enfrentam desafios no controle das operações e pouca flexibilidade na adequação dos negócios a dinâmica do mercado. Franquias: Parente 2000: “consiste em um sistema contínuo e de integração de relacionamento entre franqueador e franqueado, que permite ao franqueado conduzir certo negócio de acordo com um padrão de procedimentos e marca definida pelo franqueador”. O varejo tem no sistema de franquia uma opção de expansão com a possibilidade de se fazer parte de uma grande cadeia. As principais características do sistema de franquia são: • pagamento de royalties pelo franqueado ao franqueador pelo licenciamento de uma marca registrada; • para fazer parte do sistema, o franqueado arca com os custos de montagem da unidade e uma taxa mensal sobre as vendas; 18 As franquias ganharam força no Brasil na década 80, como as redes O Boticário, Água de Cheiro e com a rede de lanchonetes McDonald´s. Parente 2000 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO • o franqueador proporciona ao franqueado o sistema operacional e de marketing para desempenhar as atividades e uma exclusividade para operar em certa região. Existem ainda dois tipos de acordos de franquia que se referem aos produtos ou serviços prestados e ao formato do negócio: • Franquia de produto ou serviços: neste modelo de negócios, o franqueado passa a usar a identidade de seus fornecedores (franqueadores) e comercializa os produtos e serviços em nome desse fornecedor. Existe certa dose de autonomia na gestão do negócio, porém o franqueado precisa seguir regras operacionais, como a política de recursos humanos e modelo de infraestrutura estabelecidos pelo franqueador. • Formato de negócios: o franqueador investe em lojas modelo, padroniza as linhas de produtos e serviços e desenvolve uma comunicação cooperativa. O franqueado, além de obter o direto de comercializar os produtos e serviços, é orientado pelo fornecedor (franqueador) na seleção do local para instalação do negócio, nos processos de controle de qualidade, na gestão do sistema contábil, na gestão de recursos humanos e em todos os procedimentos operacionais. Sistema de franquias invade supermercados Atentos à demanda, os supermercados abrem portas para os sistemas de franquia Os espaços disponíveis para locação nos supermercados se consolidam a cada dia como excelentes oportunidades de negócio, tanto para os 19 Unidade I empresários do ramo de franquias, quanto para as grandes redes do varejo. Não é de hoje que as grandes redes do varejo resolveram investir em parcerias com franquias em diferentes ramos. Valorizando a praticidade, o consumidor procura sempre oportunidades para resolver o máximo de questões em um lugar só. Se é assim, porque não aproveitar a hora das compras para revelar fotos, deixar a roupa na lavanderia ou até fazer um lanche com a família? Atentos a essa demanda é que os supermercados abrem portas para os sistemas de franquia. Nessa linha, os quiosques de alimentação tornam-se um dos modelos mais viáveis, por ocuparem pouco espaço, oferecendo, no entanto, produtos de grandes marcas. Também atenta a essa tendência, a Empada Brasil oferece um modelo de quiosque (a partir de R$ 45 mil) ideal para instalação em supermercados, shoppings, aeroportos ou centros comerciais. Quem aderiu ao negócio não se arrepende. A secretária Thaís Negrão Vieira, 32 anos, por exemplo, investiu na instalação de um quiosque da Empada Brasil no supermercado Walmart, em Tamboré, e está comemorando o sucesso do negócio. “A maioria das pessoas que vem ao supermercado acaba passando pela loja e consumindo, no mínimo, uma empada.” conta. “Há muitos casos também em que os consumidores já vêm ao supermercado com a finalidade de almoçar em nosso estabelecimento e aproveitam para comprar algo que precisam para a casa. O giro de produtos acaba sendo muito rápido. Assim, meu objetivo é abrir novos pontos nos próximos meses.” 20 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO Todo mundo sai ganhando! Na visão dos franqueados, o modelo de negócio é vantajoso porque o lojista pode aproveitar o movimento natural do supermercado, tendo maior facilidade de venda. A estrutura do local também conta a favor, pois o negócio estará em uma área que conta com estacionamento, segurança, banheiros etc. Outro fator é que os aluguéis cobrados são mais baixos e valor do investimento no quiosque é mais acessível. Quanto ao público, o perfil é bastante variado, o que contribui para o franqueado ampliar sua clientela. Por outro lado, para o supermercado, ofertar outros tipos de serviços, principalmente no setor de alimentação, agrega valor ao estabelecimento, atrai novos clientes e aumenta o tempo de permanência dos consumidores no local. Além disso, o supermercado ainda pode contar com uma alternativa extra de rendimento com o aluguel de espaços. Fonte: Revista INCorporativa, 24/09/2010 – Disponível em: <http://www. incorporativa.com.br/mostranews.php?id=4751>, visto em 09/10/2010 Departamentos alugados: São espaços alugados dentro de uma loja de varejo; esta modalidade é indicada quando o a venda de determinado produto exige alto grau de especialização, como peixaria, padaria, floricultura, por exemplo. Dessa forma, a loja oferece a variedade de produtos esperada pelo consumidor, sem arriscar gerir um negócio em que não tem experiência ou conhecimento suficiente. O varejista que aluga o espaço paga um aluguel calculado com base na receita esperada e fica responsável por toda a operação (estoque, administração, recursos humanos etc.). 21 Unidade I Sistema de marketing vertical (SMV): Modalidade recente que reúne todos os membros do canal em um sistema integrado com o objetivo de eliminar desperdícios e retrabalho e otimizar os resultados. Neste sistema é necessário ter a figura de um líder que alinha as atividades e estimula a cooperação entre os membros. O sistema de marketing vertical caracteriza-se por três tipos de formação: • SMV Corporativo: uma organização passa a ser proprietária de outras empresas do canal e dessa forma, passa atuar diretamente tanto na produção como na distribuição. • SMV Administrado: Um determinado membro do canal, em função de seu tamanho competência, lidera e coordena as etapas de produção e distribuição. Para isso, utiliza metodologias de gerenciamento interorganizacional e ferramentas, como do Efficcient Customer Response (ECR), EDI, Reposição contínua e Gerenciamento de categorias. • SMV Contratual: integração de atividades de empresas independentes por meio de contratos. A estruturação pode ser feita pode meio de: — Cadeias voluntárias patrocinadas por atacadistas: organização de uma cadeia de varejistas independentes por um atacadista que oferece melhores condições de abastecimento e apoio tecnológico. — Cooperativas patrocinadas por varejistas: organizações voltadas para o atacado, formadas e pertencentes a grupos varejistas, que têm o objetivo de obter melhores condições de abastecimento por meio do aumento do poder de barganha, conseguido com o aumento do volume de compra conjunta. 22 Resposta Eficiente aos Consumidores (ECR ou Efficient Consumer Response): iniciativas de integração de fabricantes e consumidores finais, que melhoram o fluxo de informações, processos e eficiência de toda a cadeia. EDI: sigla para Electronic Data Interchange, ferramenta para ordenar e armazenar informações eletronicamente e que permite a troca de documentos entre parceiros de negócios, como emissão e recebimento de pedidos, através de redes públicas ou privadas. MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO — Franquia: conforme explicado anteriormente, trata-se da concessão de licença de comercialização de produtos ou serviços. Varejo Alimentício com Lojas A tendência mundial é que o varejo ofereça uma grande variedade de modelos e formatos de lojas. O varejo alimentar no Brasil se apresenta em diversos modelos, como você pode ver a seguir: Bares: Grande importância na distribuição de bebidas alcoólicas e não alcoólicas. Mercearias São lojas pequenas (20 a 50 m2 de área de venda). Oferecem produtos da Linha básica, como frios, laticínios e bazar. Localizam-se principalmente em locais de baixo potencial de mercado, onde não e justifica a instalação de supermercados compactos. Padarias Apesar de boa parte de sua receita vir da fabricação de pães, estes estabelecimentos vêm passando por modernizações e oferecendo maior linha de produtos e lanches, autosserviços e eliminação de consumo de bebidas alcoólicas. As padarias atendem as necessidades de conveniência dos consumidores. Minimercados Tipo de varejo com forte expressão em áreas de classes mais baixas, normalmente localizados nas periferias das cidades. Oferecem produtos alimentícios, de limpeza e higiene pessoal e operam no modelo de autosserviço, com apenas um check-out. 23 Unidade I Lojas de conveniência Normalmente localizadas em postos de gasolina, oferecem limitada variedade de produtos e sofrem forte concorrência dos supermercados que funcionam 24 horas e das padarias que oferecem um serviço de atendimento mais personalizado. O modelo foi trazido dos Estados Unidos nos anos 80 e vem crescendo no Brasil pouco a pouco, porém com funções e características diferentes. As lojas de conveniência aqui, devido à conformação urbana, estão próximas a supermercados convencionais e acabam tendo uma utilidade diferente, como a abertura 24 horas, e estão se transformando em ponto de encontro de jovens, além de suprirem os consumidores em suas emergências de consumo. Supermercados convencionais Nestes estabelecimentos são encontradas uma ampla variedade de produtos, na sua grande parte de alimentícios. Operam com sistema de autosserviço e muitos check-outs. Boa parte das redes de supermercados opera com um grande número de lojas, como por exemplo o Pão de Açúcar (São Paulo), o G.Brabosa (Aracaju) e Zona Sul (Rio de Janeiro). Supermercados compactos Oferecem uma linha completa, porém compacta, de produtos. Operam com serviço de autoatendimento, assim como os supermercados, porém com número menor de check-outs (de 2 a 6). Hipermercados Localizados em cidades grandes, oferecem enorme variedade de itens (por volta de 50 mil), a preços competitivos, dispostos em lojas de aproximadamente 10.000m². Difere das superlojas 24 Check-out é como é chamado o caixa disposto em um balcão, localizado na entrada da loja, para conferência e pagamento das mercadorias compradas. MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO na diversidade da oferta de produtos não alimentícios. São exemplos o Carrefour e o Walmart. Superlojas São modelos de supermercados como as lojas de aproximadamente 4.000 m² e 30 check-outs. Oferecem linhas completas de produtos, abrangendo alimentícios, não alimentícios, bazar, eletroeletrônicos e têxteis. Alguns exemplos são o Sendas, do Rio de Janeiro, Angeloni, de Santa Catarina e Zaffari, de Porto Alegre. Clubes atacadistas São varejistas de grande porte que vendem, tanto no varejo, atendendo o consumidor final na venda, principalmente, de produtos não alimentícios, como no atacado, realizando vendas institucionais, focadas em produtos alimentícios para varejistas, restaurantes, lanchonetes etc. São exemplos o Sam´s Club e o Makro. Como nasceram os supermercados Os estabelecimentos comerciais com autosserviço surgiram nos Estados Unidos na década de 30. O modelo foi impulsionado pelo desenvolvimento e uso do automóvel, que facilitava o transporte de compras em maior volume, e pela crise econômica que arrochou os salários e forçou os consumidores a procurarem por preços melhores. No Brasil, o autosserviço tem início com a abertura, na década de 50 no Rio de Janeiro das lojas Americanas, porém sem a característica original dos supermercados que era a venda de produtos alimentícios. A venda self-service de produtos alimentícios se deu logo em seguida, ainda nos anos 50 com a abertura do 25 Unidade I Supermercado Disco, também no Rio de Janeiro. De lá para cá, os supermercados sofreram grandes transformações, incorporando em seu mix de produtos os eletrodomésticos, artigos esportivos, utensílios domésticos, entre outros. Esse portfólio variado de produtos trouxe mais facilidade aos consumidores que já não precisavam se dirigir a estabelecimentos diferentes para comprar produtos específicos (Araújo, 2010). Varejo não alimentício com lojas No Brasil são encontrados dois modelos principais de varejo não alimentício: as lojas especializadas e a lojas de departamento. Parente (2000) explica que: “O varejo não alimentar no Brasil não apresenta o grau de desenvolvimento ou maturidade que se observa no varejo alimentar. Muitos modelos de lojas que atingem grande sucesso em outros países ainda não são encontrados no Brasil.” Lojas especializadas: Este modelo de varejo tem concentração em uma linha de produtos, como confecções, livros, brinquedos, entre outros. Tem direcionamento para determinado segmento e oferece grande sortimento em algumas linhas de produtos. O posicionamento de mercado é bem variado, sendo encontradas desde lojas sofisticadas direcionadas à classe A a lojas de roupas femininas focadas na classe D. Assim como o tipo de especialidade, varia também o tamanho das lojas. Estabelecimentos especializados em material de construção como a Telha Norte e a Leroy Merlin podem ter áreas de vendas de 5.000m² e contam com cerca de 100 empregados. Por outro lado, lojas especializadas em roupas ou perfumes podem operar em espaços de 20m² e dispor de 3 a 5 funcionários. As lojas especializadas podem ser 26 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO independentes ou pertencer a grandes rede varejistas como Zara e Fotóptica. Lojas de departamentos: Possuem uma estrutura departamental – caracterizamse pela divisão de operações varejistas em departamentos separados por categoria de produtos – oferecem, além de grande variedade de produtos, uma extensa gama de serviços e ocupam grandes espaços (normalmente superiores a 4.000m²). Cada departamento é uma unidade de negócios, com metas e objetivos específicos. Seus gestores devem decidir pelas atividades de compras, promoções e vendas e, portanto, os resultados também são avaliados em nível de cada departamento. No passado esses modelos de varejo trabalhavam com as linhas chamadas hard (dura) que englobavam brinquedos, eletrodomésticos, móveis etc. e com as linhas chamadas soft (mole), que contemplavam calçados, confecções, cama, mesa e banho. No Brasil, exemplos deste modelo foram as lojas Mappin, Mesbla e Sears. Hoje, operam neste sistema no Brasil as lojas Riachuelo e Pernambucanas. Parente (2000): “Atualmente, existe uma tendência para o desenvolvimento de ‘lojas de departamento de linha limitada’, que concentram um número menor de departamentos, com predominância das linhas soft (principalmente confecções), como é o caso das lojas C&A e Riachuelo.” Como nasceram as lojas de departamentos Não se sabe ao certo como surgiram as lojas de departamento, mas o fato é que antigamente estabelecimentos que vendiam roupas para mulheres foram agregando outros produtos, como acessórios também femininos, além de artigos para homens e crianças. Alguns exemplos desses tipos de loja, que parecem reunir várias pequenas lojas em um único 27 Unidade I lugar e sob uma mesma administração, são Casas Bahia, Lojas Renner, C&A etc., que ainda costumam ter diversas filiais (Araújo, 2010). Existem ainda no Brasil outros modelos e de lojas de varejo não alimentício que são as minilojas de departamentos, mais conhecidas, como magazines, as lojas de descontos e as lojas de fábricas. As minilojas de departamentos ou magazines são lojas de departamentos menores com forte atuação na linha hard, apresentam uma área de vendas pequena, não departamentalizada e com gestão única. A diferença entre a loja de departamento e o magazine é sutil e está basicamente na concentração da linha. Exemplos desse tipo de varejo são a Fast Shop, Ponto Frio e Casas Bahia. Outro modelo importado dos Estados Unidos, mas ainda com pouca atuação no Brasil, são as lojas de desconto, como a Rede Galinha Morta. Esse modelo apresenta uma estrutura mais simples de loja, dispondo os produtos com preços reduzidos em grandes espaços, sem muita preocupação com a sua apresentação. De propriedade dos fabricantes, as lojas de fábrica vendem exclusivamente produtos próprios, que podem ser itens descontinuados, lotes de pedidos cancelados pelo comprador institucional ou grandes sobras de produção. Walmart e as inovações no varejo norteamericano Antes de construir a Walmart, Sam Walton promoveu uma verdadeira revolução no varejo e exerceu um longo aprendizado de comerciante. Sam nasceu em Kingfischer, Oklahoma, em 1918, filho de Thomas 28 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO Gibson Walton e descreve assim o pai em sua autobiografia: “um personagem que gostava de fazer trocas, de negociar com qualquer coisa: cavalos, mulas, gado, casas, fazendas, carros. Foi o melhor negociador que conheci. Exerceu todos os tipos de atividades: banqueiro, fazendeiro, avaliador de fazendas, corretor de seguros e de imóveis” (Walton, 1993, p. 3). Formou-se em Comércio, na Universidade de Missouri, em 1940 e, logo em seguida, aceitou emprego na J.C.Penney, cadeia de lojas de miudezas, em Iowa, onde começou sua carreira de comerciante, trabalhando durante 18 meses, até os EUA entrarem na guerra. Ao ingressar para o exército, Sam tinha certeza de duas coisas: sabia que se casaria com Helen e que trabalharia no varejo para ganhar a vida. Em 1945, após a guerra, decidiu ter seu próprio negócio. Helen concordou, mas impôs duas condições. Uma era a de que ele não deveria ter sócios e a segunda, que iria acompanhá-lo em qualquer lugar, desde que a cidade não tivesse mais que dez mil habitantes. Em 1º de setembro de 1945 inaugurou sua loja de franquia da cadeia Bem Franklin, especializada em miudezas, em Arkansas. Foi ali, conhecendo seus concorrentes e colocando em prática as compras diretas dos produtores e vendas por preços baixos que Sam exerceu seu aprendizado de comerciante. Após cinco anos, com o vencimento do aluguel, foi obrigado a vender o estabelecimento, mudando-se para Fayetteville, em 1952, onde comprou a Walton’s Five & Dime. Em seguida, associando-se com o pai e o irmão Bud, seus dois cunhados (Nick e Frank), abriu lojas em Little Rock, Springdale e Siloam Springs, no Arkansas, além de outras em Neodesha e Coffeyville. 29 Unidade I “Num prazo de 15 anos passamos a ser a maior empresa independente de lojas de miudezas nos Estados Unidos. Em 1960 estávamos fazendo US$ 1,4 milhão em 15 lojas” (Walton, 1993, p. 38). O grupo crescia, mas o resultado líquido não era satisfatório. Por isso, Sam e seus executivos, buscando uma alternativa mais rentável e lucrativa, interessaram-se pelos supermercados. Na época, o autosserviço expandiase nos EUA, o que levou os novos empreendedores a experimentarem esta forma de varejo. Em 2 de julho de 1962 inaugurou-se a primeira loja Walmart, em Rogers. Passados dois anos, foram abertas outras duas, em Springdale e em Harrison. “Em princípios da década de 1960 tínhamos 18 lojas de miudezas, sob os nomes de Bem Franklin e Walton e um punhado de Walmarts. As lojas de miudezas, aos poucos, foram substituídas por Walmarts” (Walton, 1993, p. 48). Em 1970 a empresa tinha 78 sócios, um total de 32 lojas, cada uma representando uma combinação diferente de capital entre diversos investidores. A família Walton era a maior acionista, mas Sam e Helen estavam muito endividados e por isso decidiram transformar a Walmart em sociedade anônima. O primeiro lote de 300.000 ações foi vendido em 1º de outubro de 1970, a US$ 16,50 cada, para cerca de 800 acionistas, arrecadando US$ 4,95 milhões. “A família Walton ficou com 61% da Walmart, mas pudemos pagar a todos os banqueiros e, a partir de então não tomamos um tostão emprestado, pessoalmente, para manter a empresa. A abertura do capital realmente liberou a empresa para crescer e tirou dos meus ombros um grande peso” (Walton, 1993, p. 89). 30 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO A estratégia para o crescimento acelerado, adotada daquele momento em diante, continuou seguindo a prática anterior. O foco de crescimento se manteve a partir das pequenas cidades. O centro administrativo ficava em Fayetteville, no Arkansas, de onde partiam para ocupar os espaços vizinhos. Cada loja devia ficar, no máximo, a um dia de um centro de distribuição. “Íamos o mais longe possível de um armazém e abríamos uma loja. A partir daí enchíamos o mapa daquele território, estado a estado, condado a condado, até que tivéssemos saturado aquela área de mercado” (Walton, 1993). Essa estratégia serviu para expandir a empresa para outros estados, mantendo Fayetteville como sede, até que, logo após a morte do fundador, a Walmart atingiu os 50 estados norte-americanos. Estando o foco de atuação voltado para as pequenas cidades, buscou-se adaptar o tamanho das lojas aos potenciais consumidores de cada local. Adotavam-se cinco tamanhos diferentes, variando entre 2.700 e 3.500 m2 e dificilmente deixavam de lado um mercado por ser pequeno demais. Como acontece frequentemente nas empresas familiares, de início Sam acompanhava pessoalmente todos os contratos para aquisição de terrenos e abertura de novas lojas, assim como as tarefas administrativas internas, desde a comercialização, passando pelas operações imobiliárias, estudo da concorrência, financiamentos, contabilidade. Uma das atividades que dava prazer a Sam era visitar as lojas e conversar com clientes, funcionários e gerentes. Quando a empresa cresceu, manteve este hábito, comprando aviões para facilitar seu deslocamento, 31 Unidade I mas introduziu a prática de reunir todos os gerentes de lojas e os gerentes regionais nas manhãs de sábado. “É nas reuniões das manhãs de sábado que discutimos grande parte de nossa filosofia e de nossa estratégia administrativa: é o ponto focal de todos os nossos esforços de comunicação” (Walton, 1993, p. 148). Pelo fato de atuarem em pequenas cidades, longe dos grandes centros urbanos e serem uma pequena cadeia de lojas, eram ignorados pelos distribuidores e atacadistas. Para contornar este fato, tiveram que organizar seu próprio sistema de distribuição. Além disso, precisavam de produtos de grandes companhias, como a Procter & Gamble, sendo que estas podiam muito bem vender as próprias mercadorias sem contar com a Walmart. Buscando resolver seus problemas de fornecimento e a um custo cada vez mais baixo, a partir de 1987, começou uma mudança no relacionamento entre as empresas produtoras e os varejistas. A Walmart propôs uma reunião entre os dez principais dirigentes de sua empresa com os da Procter & Gamble em Bentonville para dois dias de reflexões. Dentro de três meses tinham criado uma equipe P&G-Walmart para estabelecer um novo relacionamento entre fabricante e varejista. Com a partilha de informações, a P&G podia monitorar os dados de vendas e estoques da Walmart e usar essas informações para preparar seus planos de produção e embarque de maneira muito mais eficiente. Se no início os fornecedores não tinham interesse em vender seus produtos à Walmart, quando a empresa cresceu esta realidade inverteu-se. Ao se tornar a maior distribuidora dos EUA, passou a pressionar os fornecedores para diminuírem constantemente seus 32 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO preços. Hoje diz-se que “nos EUA o poder de barganha da Walmart é temido por todos os fornecedores” (Diniz, 2004, p. 51). Talvez a característica mais marcante em Sam Walton tenha sido sua curiosidade e capacidade de analisar e conhecer as melhores práticas dos concorrentes e adaptá-las para seu negócio. “A Kmart sempre me interessou, desde a primeira loja em 1962. Eu ia constantemente às suas lojas porque eram um laboratório e eles eram melhores do que nós. Passei grande parte do meu tempo andando pelas suas lojas, conversando com seu pessoal e tentando descobrir como faziam as coisas” (Walton, 1993, p. 172). Esta atitude Sam manteve até o final da vida. No início da década de 1980, percorreu a Alemanha, França, Itália, África do Sul, Grã Bretanha, Austrália e América do Sul. Voltou impressionado “com as gigantescas lojas Carrefour no Brasil” (Walton, 1993, p. 180). A partir desta observação, decidiu lançar nos EUA os Hypermart, grandes lojas com mercearia e mercadorias em geral sob o mesmo teto. Entretanto, nos EUA os Hypermarts não se mostraram lucrativos o suficiente para se manterem funcionando. A partir desta experiência, a Walmart desenvolveu o conceito dos Supercenters, combinação de mercearia e comercialização em geral, com tamanhos menores que os Hypermart. Este novo modelo de loja foi a base da forte expansão da empresa a partir do início da década de 1990. No seu processo de crescimento, a Walmart sofria pressões para envolver-se em negócios que não tinham nada a ver com o comércio, como as atividades industriais e serviços financeiros. David Glass, um de 33 Unidade I seus principais dirigentes, afirma que Walton e sua equipe estabeleceram a estratégia de investir apenas no comércio. “Desde cedo assumimos o compromisso de que nunca entraríamos em qualquer área que não fosse a de nosso negócio específico. Sabíamos fazer o que estávamos fazendo e juramos que continuaríamos a fazer a mesma coisa. Tudo estaria bem enquanto a Walmart se mantivesse focada em sua única capacidade essencial, lançando boas lojas uma após a outra” (Slater, 2003, p. 70). Sem abrir mão desta estratégia, a Walmart manteve-se aberta às novidades e necessidades no comércio. Atualmente trabalha com diversos formatos de lojas, desde os Sam’s Clubs, passando pelas lojas de desconto, supercenters e mercados de vizinhança. Se os Hypermarts foram abandonados, o mesmo não se pode dizer dos Sam’s Clubs. Trata-se de um conceito de loja do tipo armazém, destinado a proprietários de pequenos negócios e outros clientes que compram mercadorias por atacado. A primeira foi inaugurada em 1983 e, nove anos depois, já havia 217, com um faturamento de 10 bilhões de dólares. Apesar do grande território norte-americano e de disputar o maior mercado do mundo, a Walmart, em tempos de globalização, pensou em ser muito mais que uma empresa local. Sua internacionalização se impôs, na medida em que estava pronta para disputar o mercado mundial. Este foi o desafio que se apresentou na passagem da década de 1980 para a de 1990. O próprio fundador iniciou este processo, apesar de ter centrado suas atenções no mercado americano. No final de sua vida, afirmou “não sei se a Walmart pode manter realmente a nossa posição de liderança 34 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO ficando apenas nos EUA. Acho que teremos de nos transformar numa companhia mais internacional num futuro não muito distante” (Walton, 1993, p. 184). Em abril de 1992, mês da morte de Sam Walton, a Walmart, contava com 371.000 empregados, operava 1.714 lojas e 208 Sam’s Clubs, nos Estados Unidos, mas tinha apenas seis supercenters e suas unidades no exterior limitavam-se ao México (Dalla Costa, 2005). Varejo de serviços O mais comum, quando se pensa em varejo, é relacionar a atividade à venda de produtos tangíveis, como alimentos, livros ou perfumes. Porém, uma boa parte das atividades do setor se relaciona à prestação de serviços, como academias de ginástica, mecânica de automóveis, salões de beleza, lan houses, aluguel de carros etc. O mercado das atividades varejistas referente à prestação de serviços perfaz uma parcela importante da economia e por isso tem sido cada vez mais objeto de estudo dos especialistas em varejo. Vários são os tipos de varejos de serviços, que podem ser totalmente puros, como é o caso das clínicas de estéticas e podem ainda mesclar a venda de produtos com a prestação de serviços, como é o caso dos restaurantes. Produtos e serviços diferem bastante em suas características. A questão da posse é uma das características dos serviços que os difere radicalmente da venda produtos. Quando você vai à academia de ginástica, você paga pela utilização dos equipamentos e pela assessoria dos professores, já se você for a uma loja de equipamentos de ginástica, poderá comprar uma esteira para praticar o exercício em casa. No primeiro caso você paga para usufruir 35 Unidade I de um benefício, já no segundo caso, você paga pela posse de um bem. Existem, então cinco diferenças básicas entre serviços e produtos: • Simultaneidade ou Inseparabilidade: A prestação do serviço e o seu consumo acontecem ao mesmo tempo. Além disso, os serviços não podem ser estocados, como acontece com os bens físicos. Você só percebe realmente como é a comida e o atendimento de um restaurante no momento em que pede a comida e a consome. • Intangibilidade: os serviços não podem ser vistos, cheirados, tocados antes de seu consumo. Podem ser experimentados antes, como uma pequena amostra. As academias de ginástica, por exemplo, convidam clientes potenciais para frequentarem o estabelecimento por curto período de tempo para conhecerem as instalações e os treinadores para demonstrar a qualidade do serviço e do atendimento oferecidos. O grau de intangibilidade depende: — Da forma da prestação do serviço: - Continuidade: alguns serviços precisam ser contínuos como é o caso da venda de seguros de automóveis que tem uma vigência por um determinado período de tempo, normalmente de um ano. O prestador do serviço precisa garantir a existência dos serviços e o atendimento durante o período de tempo contratado pelo cliente. - Necessidade de uma posse anterior: os serviços de entrega de encomendas requerem a existência e posse por parte do cliente de uma mercadoria. O site Submarino precisa de serviços de entrega de suas mercadorias a partir do momento em que o cliente faz uma compra. 36 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO - Componente simbólico: as passagens áreas (bilhetes) são os componentes simbólicos da viagem. A tangibilidade da compra pelo direito de viajar se estabelece com a emissão do bilhete ou de algum outro documento que oficialize a compra. — Da existência de um instrumento de entrega: quando você aluga um filme para assistir, você recebe um DVD ou faz um download em seu microcomputador para poder receber o material; A intangibilidade em serviços requer o gerenciamento de tarefas que agreguem evidências concretas aos serviços para tangibilizá-los e facilitar o entendimento por parte do cliente dos serviços, suas características, padrão de qualidade etc. A tangibilidade pode ser conseguida por meio da aparência das instalações, do treinamento dos funcionários, da qualidade dos equipamentos e do material de comunicação, das características da logomarca, da faixa de preço entre outros. • Perecibilidade: como já foi dito, não é possível estocar os serviços. A infraestrutura e a quantidade de pessoal deve ser planejada para atender a demanda. Porém, em caso de serviços de demanda instável, esse planejamento pode ser crítico, portanto, a instabilidade da demanda deve ser administrada. A administração de demanda instável pode ser feita por meio de precificação diferenciada para diferentes horários. É o que as companhias aéreas fazem com os horários de voos menos procurados. Normalmente, as companhias oferecem passagens a preços mais baixos nesses casos. Outra forma de administrar a demanda instável é verificar como otimizar períodos ociosos. Os hotéis voltados para executivos em negócios costumam oferecer serviços diferenciados combinados 37 Unidade I a tarifas especiais para as diárias de finais de semana, na tentativa de alavancar consumo nesse período. Os arquivos digitais on-line possibilitam o uso repetido dos serviços. Ao contrário dos produtos e serviços off-line, podem ser consumidos repetidamente, sem se esgotarem, e ainda, podem ser repassados (através de cópias) e retidos simultaneamente. Exemplo desses serviços são os downloads de músicas, filmes e softwares. • Não propriedade: em serviços não há transferência de propriedade. Este conceito vale tanto para serviços on-line, como para serviços off-line. O cliente, ao contratar um serviço, recebe o direito de usufruir do mesmo. Quando você vai a uma clínica de estética, você paga pelo serviço e não pela posse do material ou das instalações. Significa ainda que mais de um consumidor pode acessar ou receber o mesmo serviço simultaneamente, sem que haja prejuízo ou interferência para ambos. • Variabilidade ou heterogeneidade: este talvez seja um dos fatores mais críticos ao se administrar a prestação de serviços de qualquer natureza. Os serviços são prestados por pessoas, que por sua vez têm características diferentes. Assim, manter a uniformidade na entrega dos serviços deve ser uma preocupação constante que deve ser gerenciada por meio do investimento em treinamento da equipe, padronização dos processos e acompanhamento da satisfação do cliente. É bastante comum o cliente dar preferência pelo atendimento de determinado funcionário. Isto é bastante comum em restaurantes, salões de beleza, mecânica de automóveis. Os serviços são ainda classificados pela sua categoria. Veja o quadro 1 a seguir. 38 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO Quadro 1: Categorias dos mix de serviços e tipos de serviços oferecidos Categoria dos mix de serviços Tipos de serviços Bem tangível associado a serviços Computadores + montagem + assistência técnica + SAC Oferta híbrida Produto + serviços. Ex. restaurante Serviço principal associado a bens e serviços secundários Transporte aéreo = transporte + alimentos e bebidas + jornais e revistas Serviço puro A oferta é só de serviços. Ex. psicoterapia, baby sitter etc. Quadro criado pela autora Varejo sem loja Apesar da clara tendência percebida no crescimento do varejo sem loja, a maior parte dos bens comercializados ainda é feita em estabelecimentos físicos. Porém, o conselho de diversos analistas de varejo é que os varejistas tradicionais monitorem fortemente o crescimento desta modalidade. Tradicionais varejistas, controladores de grandes redes, já deram início, por exemplo, à operação virtual (como é o caso das Casas Bahia), que é um dos modelos de venda não baseada em loja física. O varejo sem loja aplica estratégias de marketing diferentes das utilizadas no varejo com loja. Apesar da maior parte do varejo ser praticado por meio de estabelecimentos, existem quatro modelos de varejo sem loja que são o marketing direto, as vendas diretas, as máquinas de venda (venda automática) e o varejo virtual. Vamos entender como é cada um destes modelos. Marketing direto O marketing direto é uma forma de relacionamento interativo entre vendedor e cliente. No marketing direto, a organização utiliza um ou mais meios de comunicação para entrar em contato com o 39 Unidade I cliente e efetivar o pedido de compra. O varejista se comunica com o cliente por meio de catálogos enviados por mala direta, ou comunica suas ofertas por meio da mídia impressa (jornais, revistas) e mídia eletrônica (TV, rádio, Internet). Os clientes entram em contato com o varejista por meio de telefone, correio, e-mail, site. Esta modalidade é interessante para atender clientes que tenham dificuldade de encontrar o que desejam nas suas regiões, e ainda atendem aqueles que procuram conveniência, economia de tempo ou ainda que não desejam se locomover para realizar compras. O marketing direto demorou a se consolidar no Brasil por causa do longo período inflacionário que dificultava a produção de uma tabela de preços coerente com a realidade econômica do momento da compra. Além da estabilidade econômica, os avanços tecnológicos contribuíram fortemente para o crescimento desta modalidade, como o advento da World Wide Web – a rede mundial de computadores. Vendas diretas A modalidade de varejo chamada venda direta tem como características principais o contato pessoal entre vendedor e cliente e a realização deste contato, geralmente, na casa do cliente. Algumas organizações são muito conhecidas por este tipo de operação, como a Avon e Amway. Se por um lado a conveniência do não deslocamento por parte do cliente é um forte atributo para este modelo, por outro lado, as mulheres, as maiores clientes deste segmento estão a cada dia mais se dedicando ao trabalho fora de casa, impossibilitando o crescimento deste tipo de operação. Porém, a venda direta é bastante vantajosa uma vez que o processo de decisão pela compra é facilitado pela interação pessoal e pela menor oferta de marcas se comparado com as vendas em lojas. Máquinas automáticas de vendas Com essas máquinas, também chamadas de vending machines, a venda acontece sem interação nenhuma entre vendedor e cliente 40 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO e diversos tipos de produtos podem ser comercializados. Os produtos mais comuns neste tipo de venda são bebidas, como refrigerantes, sucos e cafés, além de salgadinhos. O pagamento é feito em dinheiro, cartão de débito e crédito ou com fichas compradas antecipadamente. O setor de serviços e, em especial, os estacionamentos, já estão se utilizando deste tipo operação. A maior vantagem desta operação é a oferta 24 horas do produto ou serviço. Mas o gerenciamento de reposição de produtos, manutenção das máquinas e coleta de valores (dinheiro ou fichas) deve ser cuidadosamente planejado e executado. Varejo virtual O varejo virtual é a modalidade de venda de produtos e serviços por meio da World Wide Web e é também conhecido como comércio eletrônico. O termo comércio eletrônico (também chamado de e-commerce) é, segundo Seybold (2000), usado amplamente e designa qualquer tipo de aplicação de negócios com o uso da tecnologia da internet. Assim como no mundo físico, o comércio é apenas um das modalidades dos os aspectos dos negócios eletrônicos. A utilização da internet para aplicações empresariais deu início às operações de vendas. Para Porto (2000), “A comercialização de produtos e serviços via internet faz parte da evolução tecnológica do marketing direto, que, por sua vez, é uma das modalidades do varejo sem loja”, conforme figura 3. Fabricante Canal de Marketing Catálogo, revista, jornal,mala direta Marketing Direto Atacadista TV e rádio Telefone Varejo eletrônico (internet/computador) Sem loja Varejista Vending Machines Com loja Consumidor final Vendas diretas Figura 3 – Canais de Marketing Fonte: Porto, Roseli Morena, Internet e Varejo Virtual. In: Varejo no Brasil: Gestão Estratégica. Atlas, São Paulo, 2000. 41 Unidade I É importante lembrar que comércio eletrônico não é a mesma coisa que E-business ou negócio eletrônico. Breternitz (2005) explica essa diferença da seguinte forma: A expressão comércio eletrônico é muitas vezes usada como sinônimo de e-business, porém, na realidade, é apenas a compra e venda de produtos e serviços pela internet, podendo ser classificado como do tipo business to business (B2B, negócios entre empresas), Business to Consumer (B2C, compra pelo consumidor final) e outros. Sob esse título pode ser enquadrado também o e-procurement, que trata dos processos completos de aquisição de bens e serviços por meios eletrônicos. Existem diferentes modelos de comércio eletrônico. O mais comum é o Storefront Model, o modelo das lojas eletrônicas como o da Livraria Cultura e das Lojas Americanas. Este modelo é o de formatação mais básica para a interação entre varejista e consumidor. A operação consiste em combinar processamento de transação, segurança, pagamento on-line e informação. O gerenciamento deste modelo abrange a organização de um catálogo on-line, o recebimento do pedido por meio do próprio web site, formas seguras de pagamento, processo de envio de comunicação para o consumidor e gerenciamento das informações sobre os consumidores. Para suportar essas operações, o web site precisa ter sistemas que permitam ao consumidor efetuar o pedido de um produto e voltar ao catálogo para que o consumidor possa efetuar novos pedidos, acumulando os itens selecionados em uma única conta ou cesta. Para esse processo utiliza-se o shopping-cart technology ou “carrinho de compras virtual” em que o consumidor vai depositando os produtos escolhidos e simultaneamente sua conta vai sendo calculada, incluindo o cálculo do frete, descontos e outros benefícios, como se ele já estivesse passando pelo caixa, ou se estivesse sendo acompanhado por um vendedor que vai relacionando os itens selecionados. 42 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO Vamos ver a seguir outros modelos de lojas virtuais: On-line Shopping Malls Centros de compras que reúnem várias lojas independentes que dividem o um mesmo shopping-cart e resultam em uma única conta final para o consumidor. A diferença é que o consumidor encontra em um mesmo lugar diferentes categorias de produtos e serviços sem ter que visitar diferentes web sites. Auction Model ou e-Auction É a exposição de um produto por um determinado período de tempo que recebe lances dos consumidores interessados, conforme regras predefinidas para a participação. Ao final, o produto é vendido pelo maior lance oferecido. O Mercado Livre e os sites de leiloeiros oficiais são alguns exemplos. Nesse caso, surge um segundo modelo de negócio – o peer-to-peer – que pode ser realizado entre empresas e consumidores ou entre consumidores. O vendedor assume todo o processo de comercialização, da exposição do produto, do recebimento do pagamento e da entrega. Dynamic-Pricing Models Também chamado de Modelo de Precificação Dinâmica. Nesses sites o preço dos produtos expostos é ajustado de acordo com valor percebido pelo consumidor ou pelo volume da demanda. Quando o preço é ajustado pelo valor percebido, situação em que o consumidor sugere o preço a ser pago, este modelo recebe o nome de Name-Your-Price Model Para este caso é necessária a formação de alianças com diversos fornecedores e o website atua como um intermediário entre o consumidor e o fornecedor. Caso o fornecedor não 43 Unidade I aceite o preço sugerido, o consumidor poderá fazer uma nova proposta. Ao ser aceita, o consumidor é obrigado a realizar a compra. O preço é ajustado pelo volume da demanda à medida que mais compradores adquirem um determinado produto e, assim, maior é o desconto praticado. Esse modelo é interessante para compras em conjunto, quando um grupo de compradores se une para adquirir um determinado lote de produto. O grande volume de venda de um produto em uma única operação gera economia de custos por transação e por isso é possível praticar um preço menor por unidade vendida dentro do lote. Rebates É a loja de descontos no mundo virtual. Assim como no mundo físico existem varejistas que trabalham apenas com produtos com descontos (lojas de desconto ou outlets). Este modelo pode ainda estar inserido como prática regular em alguns websites que utilizam a oferta de descontos em alguns produtos como chamariz para tráfego na loja e fidelização. O objetivo é fazer o consumidor entrar na loja e adquirir também outros produtos que estão sendo vendidos a preços regulares. Quando o web site é uma loja de descontos de terceiros, sua remuneração vem de parte dos descontos oferecidos. Clube de descontos Uma das modalidades de varejo que mais cresceram nos EUA em 2009 e que teve início no Brasil em 2010. Clubes de compra são lojas eletrônicas ou físicas que oferecem produtos a preços muito mais baixos do que os praticados regularmente no mercado. Os preços dos produtos vendidos são oferecidos com descontos que podem chegar 90% e as ofertas ficam disponíveis por tempo limitado. Uma das estratégias deste modelo de negócios é criar novidades com frequência, semanalmente por exemplo. Os clientes precisam ser cadastrados e muitas vezes indicados por outros. Clientes. No Brasil, o Brands Club, 44 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO direcionado para a venda de roupas, foi um dos pioneiros. Outros exemplos de clubes de compras são o Privalia, o Coquelux e o Superexclusivo. Clubes de compra descobrem a web Outlets virtuais de marcas de luxo atendem apenas associados e dão descontos para coleções que saem das lojas Renato Cruz - O Estado de S.Paulo Os clubes de compras, que vendem marcas de luxo com desconto somente para associados, crescem na internet brasileira. Sites como Superexclusivo, Coquelux, Privalia e Brands Club chegam a oferecer produtos com até 70% de desconto, por alguns dias, de roupas de grife e outros produtos. “Começamos no fim de 2007 com 300 nomes”, disse Antonio Pulchinelli, sócio-diretor do Superexclusivo. “Hoje temos 70 mil nomes e esperamos dobrar até o fim do ano.” Cada associado pode convidar mais cinco pessoas. No ano passado, o varejo virtual brasileiro movimentou R$ 8,2 bilhões, segundo a consultoria E-bit. O número não inclui passagens aéreas, leilões virtuais e automóveis. Para este ano, a expectativa é que o faturamento ultrapasse R$ 10 bilhões. No entanto, o segmento de vestuário, o forte dos clubes de compras, nem aparece entre os cinco principais da internet brasileira. Segundo Pulchinelli, um público importante são consumidores que vivem fora dos grandes centros. “Quem não está em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro muitas vezes não tem opção de lojas físicas”, 45 Unidade I disse o executivo, acrescentando que, para o lojista, é interessante colocar à venda as peças da coleção anterior sem custo. As lojas, de marcas como Cris Barros, Adriana Degreas e Ralph Lauren, costumam ficar disponíveis durante quatro dias no site. O investimento inicial no Superexclusivo foi próximo de R$ 500 mil, segundo a empresa. Em junho, o Superexclusivo lançou o E-showroom, um serviço com conceito parecido com o do clube de compras que, no lugar de atender o consumidor final, serve para as grifes apresentarem as novas coleções para os lojistas. A Coquelux foi lançada há um ano. Antes de criar o site, o francês Pierre-Emmanuel Joffre, presidente da Coquelux, trabalhou dez anos no grupo LVMH, dono de marcas como Louis Vuitton. “Não nos posicionamos como um outlet virtual, mas como um clube de oportunidades”, disse o executivo, explicando que, além dos itens com desconto, o site também oferece produtos exclusivos de estilistas como Isabela Capeto, Alexandre Herchcovitch e Gloria Coelho. “Quando eu trabalhava na LVMH, eles tiveram a ideia genial de colocar os produtos da coleção anterior para vender na internet”, disse Joffre. Vender a sobra de estoque costumava ser um problema para as marcas de luxo. “Normalmente, eles criavam uma loja física fechada, somente para convidados, para evitar queimar a imagem da marca.” Compra impulsiva Geralmente, as lojas das marcas ficam três dias à disposição na Coquelux. “Mas pode variar”, afirmou o presidente da Coquelux. 46 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO “Ficamos uma semana com Salvatore Ferragamo. O grande lance é recriar a compra impulsiva na internet.” Os associados, que precisam ser convidados, não pagam nada para participar do clube. A Coquelux, que não revela o número de associados, trabalha com marcas como Dior, Yves Saint Laurent, Marc Jacobs, Jimmy Choo, Lacoste, Lancôme, Trussardi e Starck & Mikli. O principal público são mulheres executivas, com idade de 28 a 38 anos, de acordo com Joffre. “São consumidoras muito antenadas, que normalmente não têm tempo de fazer o shopping que querem”, disse o executivo. Depois, vêm mulheres com um pouco mais de idade, e que moram fora dos grandes centros. O terceiro grupo são mulheres jovens, a partir de 18 anos. Depois, homens de 30 a 40 anos. “Eles procuram mais a praticidade da compra on-line, para eles ou para as namoradas”, disse Joffre. “Esse público confia nas marcas que nós escolhemos, na hora de dar um presente.” (Cruz, 2009). A prestação de serviços em varejo também encontra espaço na internet. Empresas como o Google e o Yahoo são modelos de sites comerciais que oferecem serviços gratuitos ao internauta, como conteúdo e downloads. A receita deste tipo de negócio vem das empresas que pagam para estar em posição de destaque nos resultados de busca, que muitas vezes também pagam pelas visitas recebidas (clicks de internautas). Outra fonte de receita é a venda de informações sobre segmentação de clientes (por perfil, hábitos de compra etc.). O comportamento dos clientes é registrado por meio de cookies que são identificadores disponibilizados pelos servidores onde estão hospedados os conteúdos web. 47 Unidade I Você sabe os que são cookies? Cookies são pequenos textos, geralmente de 1kb, colocados no disco rígido do computador do internauta pelos sites visitados e contêm informações que o próprio internauta forneceu, como nome, e-mail, preferência, o que comprou, entre outros dados, e permitem o rastreamento do comportamento do internauta, possibilitando à empresa ajustar a sua oferta às preferências dos internautas e personalizar seu atendimento. O cookie armazenado pelo browser é ativado toda vez que a página que o gerou é acessada e serve para informar aos servidores web quantas vezes uma mesma página é acessada pelo mesmo browser e ainda ativam páginas customizadas para um determinado usuário. Por exemplo, um usuário ao comprar um livro em uma livraria virtual, fornece seu nome, endereço e mais alguns dados pessoais para que a transação possa ser efetuada e pode usar um cartão de crédito para pagar pela compra. Na sua próxima visita a esta mesma livraria virtual, o site vai reconhecê-lo, por meio de cookies e uma mensagem personalizada, com o seu o nome vai aparecer na tela. Neste momento é possível oferecer algum título relacionado à última compra. Porém, existe uma enorme polêmica sobre a utilização de cookies, considerada por alguns como invasão de privacidade. Observe que todo o mix de marketing proposto por McCarthy – a inter-relação entre as quatro variáveis controláveis (produto, preço, praça e promoção) é aplicada no desenvolvimento da comercialização de bens nas lojas virtuais. Esse modelo de varejo também se baseia no composto de marketing, uma vez que apresenta uma oferta (produto ou serviço), em um determinado market place (praça), é precificada de acordo com o valor percebido pelo mercado e divulgada (promoção) pelo próprio meio ou pelo ambiente físico. 48 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO 2.5 Teorias de evolução no varejo Você deve estar percebendo que o varejo apresenta uma enorme diversidade de modelos de negócios e deve estar se perguntando como ocorre a criação de novos formatos. O que ocorre é que são várias influências que determinam o surgimento, o crescimento e a própria evolução dos diferentes tipos de varejo. A seguir vamos estudar cinco teorias que abrangem essas transformações: o ciclo de vida do varejo, o círculo do varejo, o acordeom do varejo, o processo dialético e o comportamento adaptativo e a seleção natural. Ciclo de vida do varejo O conceito de ciclo de vida aplicado a produtos e serviços também é usado para a análise do desenvolvimento de negócios no setor de varejo. Assim como o ciclo de vida de produto, o ciclo de vida do varejo também apresenta os estágios de introdução, crescimento, maturidade e declínio. Observe a figura 4: Introdução Crescimento Maturidade Declínio Vendas Tempo Figura 4: Representação dos estágios do ciclo de vida do varejo 49 Unidade I Estágio de introdução O estágio de introdução apresenta um lento crescimento de vendas e ausência de lucros. É quando o novo modelo é introduzido no mercado. Pode haver poucos ou nenhum concorrente direto. Os lucros são baixos ou até inexistentes em função dos investimentos e custos decorrentes do desenvolvimento do negócio e da execução de ajustes que se mostram necessários. Nesse período os gestores devem se dedicar a verificar e ajustar questões técnicas, o mix de produtos, a comunicação e ainda a quebra de paradigmas que possam existir com relação ao novo negócio. O mercado de produtos orgânicos mostra bem essa necessidade. As pessoas de forma geral ainda conhecem pouco os benefícios dos produtos cultivados sem agroquímicos e muitas vezes são sensíveis aos seus preços ainda um pouco mais altos que os produtos oriundos da agricultura convencional. Esse estágio ainda requer orçamento alto, programas de marketing e cuidadosa administração de custos. Estágio de crescimento É neste estágio que as vendas devem começar a crescer, significando que o mercado está aceitando o novo formato proposto de varejo. Os lucros começam a aparecer e a crescer, uma vez que o volume de vendas cresceu, mas o mercado ainda não está saturado. O foco do gestor, nesse caso, está na melhoria da qualidade oferecida do produto, podendo acrescentar mais itens ao mix de produtos e novos serviços. Estágio de maturidade Neste período as vendas estão estabilizadas, o que significa que o mercado aceitou o novo modelo. Caracterizam ainda este estágio a forte concorrência e a diminuição progressiva dos lucros que devem encontrar um ponto de estabilidade. 50 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO Estágio de declínio É neste momento que as vendas e os lucros começam a sofrer e novos modelos de negócio passam a ocupar o espaço até então ocupado. O gestor deve observar as razões para o declínio para orientar as suas decisões que poderão ser, entre várias opções, remodelar o negócio ou até mesmo abandonar o modelo. Círculo do varejo A teoria do círculo do varejo nos ajuda a entender as razões de cada estágio do ciclo de vida do varejo. Essa teoria foi desenvolvida por Malcom Mcnnair e afirma que o sucesso obtido por uma organização varejista com um novo formato de varejo é o que leva a abertura de novos concorrentes, que gradualmente vão implementando inovações ao modelo até que o conceito original se perca. E dessa forma, abre-se a oportunidade para um novo modelo. Esse novo modelo, por sua vez, enfrentará o mesmo processo, sofrendo cópias que serão então reformuladas, perpetuando-se então um ciclo. Essa teoria é importante para explicar o surgimento e declínio de muitas organizações varejistas de sucesso. Acordeom do varejo Assim como o instrumento “acordeom” que emite som pelo movimento contínuo de expansão do ar e posterior retração de suas palhetas, essa teoria explica que as mudanças nos modelos dos negócios ocorrem pelos movimentos cíclicos de expansão e contração do formato das lojas. O modelo de loja de departamentos de linha completa foi substituído pelas lojas especializadas que pareciam estar mais de acordo com as preferências dos consumidores. Assim, muitas organizações passaram a se dedicar ao oferecimento de grandes lojas focadas em especialidades, como roupas femininas, ou 51 Unidade I artigos de cama, mesa e banho, duas categorias largamente encontradas nas lojas de departamento. Processo dialético Essa teoria aborda a questão do surgimento de novos formatos de varejo em decorrência da confrontação de uma determinada organização com um modelo oposto. A ideia implícita nesta teoria é que a organização, ao se deparar com vantagens competitivas do concorrente em modelo oposto, vai desenvolver competências que neutralizem o seu opositor. O resultado é o surgimento de um modelo híbrido que contempla algumas características da loja original, com os atributos do concorrente que são valorizados pelos consumidores. Analise a proposição desenvolvida por Parente (2000) a seguir, apresentada na figura 5: TESE: SUPERMERCADO CONVENCIONAL Área de vendas: média Variedade grande: alimentos Variedade pequena: não alimentos Preços: médios Serviços: muitos ANTÍTESE: HIPERMERCADO Área de vendas: muito grande Variedade grande: alimentos Variedade grande: não alimentos Preços: baixos Serviços: poucos Localização: vias expressas SÍNTESE: SUPERLOJA DE ALIMENTOS Área de vendas: muito grande Variedade grande: alimentos Variedade grande: não alimentos Preços: baixos Serviços: médios Localização: vias principais Figura 5: O processo dialético no varejo Fonte: PARENTE, Juracy. Varejo no Brasil: Gestão e Estratégia. São Paulo: Atlas, 2000. Comportamento adaptativo e a seleção natural. Em um mercado comprador e com a presença de organizações voltadas para marketing é natural que a 52 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO formatação do varejo, tanto na sua criação, como nos seus processos de ajustes e remodelagem, aconteça em decorrência da observação das preferências dos consumidores. A criação e crescimento das lojas de alimentos dietéticos vêm na esteira do aumento da consciência das pessoas acometidas pelo diabetes e outras doenças dos malefícios de uma alimentação inadequada. Assim, a teoria do comportamento adaptativo e a seleção natural defendem que o surgimento e declínio dos formatos do varejo estão diretamente relacionados às necessidades e preferências das pessoas no que diz respeito à realização de compras. Com base nessas teorias, os gestores devem, então, estar atentos às inovações tecnológicas, bem como ao composto mercadológico de forma a atender plenamente os seus consumidores. Como exemplo, podemos lembrar do grande número de pet shops encontrados em diversos bairros da grandes cidades, bem como da sua presença em hipermercados. Um fenômeno que pode ser explicado pela grande população de animais domésticos encontrados em determinados bairros e a praticidade de se encontrar um estabelecimento deste tipo no mesmo lugar em que as comprar normalmente são mais demoradas (hipermercados), fazendo com que o consumidor acabe optando pelo estabelecimento localizado no lugar em que for mais adequado a sua disponibilidade de tempo. 2.6 Estratégias em varejo Segmentação do mercado, diferenciação posicionamento e alternativas estratégicas são os elementos-chave para a elaboração do planejamento estratégico no segmento de varejo para o ganho de vantagem competitiva. O objetivo é ganhar a preferência do consumidor e fidelizá-lo, e para isso os varejistas não podem perder de foco a configuração da loja e do mix de produtos oferecido. Vamos então analisar cada um destes elementos-chave. 53 Unidade I Segmentação do mercado de varejo As oportunidades de vendas, de crescimento e a obtenção de lucratividade podem ser identificadas por meio da avaliação dos segmentos do mercado e da aplicação da análise SWOT. Parente (2000) explica que para selecionar os mercados-alvo, as organizações varejistas se utilizam de cinco alternativas, que levam em conta os segmentos de consumidores e as linhas de produto oferecidas simultaneamente. Essas alternativas são: • Concentração em segmento único: trata-se da escolha de uma linha de produtos para determinado segmento de consumidores, como exemplo, utensílios domésticos para a classe média. Se por um lado essa escolha favorece o alto conhecimento das necessidades e preferências dos consumidores, por outro faz a empresa correr um risco maior no caso da entrada de mais competidores ou da ocorrência de variações ambientais, como uma crise econômica que atinja o segmento de consumidores escolhido. • Especialização seletiva: trata-se da escolha de algumas linhas de produto, com foco em alguns segmentos de consumidores, sem que haja necessariamente alguma sinergia. O que se espera, neste caso, é que cada segmento traga resultados significativos. • Especialização de linha de produto: é a concentração em uma linha de produto para o atendimento das necessidades de muitos segmentos. É o caso, por exemplo, das óticas que oferecem armações e lentes, tanto para óculos de grau, como para óculos de sol de diversos modelos e marcas. • Especialização de mercado: neste caso o varejista atende um determinado segmento com várias opções de produtos de uma mesma linha. Uma loja de roupas infantis é um 54 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO exemplo de especialização de mercado, pois pode oferecer roupas infantis para o dia a dia e para festas, além de pijamas, agasalhos de inverno e vestuário de praia e piscina. • Cobertura total de mercado: aqui a organização varejista atende diversos segmentos, oferecendo várias linhas de produtos. A cobertura total de mercado pode se estabelecer de duas formas: - Marketing não diferenciado: é quando a organização não reconhece a existência de diferentes segmentos e os atende com um único modelo de loja. O marketing não diferenciado é praticado pelos hipermercados que oferecem uma extensa gama de produtos. Ajustes de preços na linha, em promoção e até mesmo nas lojas são necessários para melhor adaptação da unidade de venda à região de influencia. - Diferenciação e posicionamento: diferenciação é desenvolver características distintas e relevantes para uma ou mais variáveis controláveis do composto de marketing que tragam destaque para a organização entre os seus concorrentes. É uma estratégia de bons resultados, pois estabelece melhores condições para concorrer no mercado. A diferenciação poderá estar nos serviços oferecidos, no patamar de preços, na localização, no mix de produtos. O importante é buscar atributos valorizados pelos clientes para que a loja seja vista como única. Por isso, é importante que a administração esteja sempre atenta às modificações dos interesses do consumidor, bem como das ações e desempenho de seus concorrentes, assumindo uma postura ativa e antecipada. Já o posicionamento requer a identificação de uma “posição” disponível no mercado. Para tanto, é necessário avaliar a competitividade do segmento e procurar entre as 55 Unidade I competências da empresa como atender lacunas existentes ou enfrentar esta competição. Veja como Parente (2000) explica posicionamento no varejo: O posicionamento é resultante dos esforços de diferenciação e consiste em desenvolver características distintas em uma empresa varejista, para que ela possa ser percebida e ocupar uma posição marcante na mente do consumidor. Leia a matéria sobre as lojas Kopenhagen, Brasil Cacau e Cacau Show e observe que o posicionamento inicial da Cacau Show era de concorrer com a Kopenhagen em produtos semelhantes (como a Língua de Gato) mas com preço mais acessível, e selecionando locais próximos à concorrente. O movimento estratégico da Kopenhagen foi de criar sua própria marca de produtos com preços acessíveis, a Brasil Cacau. Todos os esforços de marketing das três lojas foram feitos para posicionar as marcas na mente do consumidor. Kopenhagen, Brasil Cacau e Cacau Show: a guerra dos chocolates Jovens, bem-sucedidos e bastante competitivos. Os empresários das três maiores redes de chocolaterias do país disputam o gosto e o bolso do consumidor Por Giuliana Bergamo Eles começaram no ramo de chocolates ainda adolescentes e hoje protagonizam uma disputa acirrada pelo mercado. Atual vice-presidente do grupo CRM, Renata Vichi, 28 anos, tinha apenas 16 em 1997, quando entrou para a equipe do departamento de marketing da Kopenhagen, na época recém-comprada 56 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO por seu pai. Sua missão era ajudar a alavancar a marca, que, embora já fosse a mais tradicional do país, havia padecido nas mãos de uma administração familiar sem fôlego para fazê-la crescer. Quase uma década antes, Alexandre Costa, 39, dera os primeiros passos para criar a sua Cacau Show. Aos 17, o rapaz resolveu seguir os passos da mãe, que comercializava de bijuterias a artesanato pela vizinhança do bairro onde moravam, a Casa Verde. Batendo de porta em porta, ele vendeu 2000 ovos de chocolate de 50 gramas nas vésperas da Páscoa de 1988. O negócio continuou dando certo mesmo depois do feriado. Costa passou a fornecer doces para varejistas e, há nove anos, inaugurou a primeira daquela que se tornaria a maior cadeia de lojas do ramo, atualmente com 807 unidades espalhadas pelo país — pretende chegar a 1000 ainda neste ano — e faturamento anual de 275 milhões de reais. Costa (...) afirmou que pretende transformar- se na Zara (ou na AmBev) dos chocolates. Formada em publicidade e propaganda, Renata passou por todos os departamentos da empresa do pai, Celso Moraes, antes de assumir a vice-presidência, em 2006. Desde então, é ela quem está à frente dos negócios. Como presidente e membro do conselho consultivo do CRM, Moraes acompanha os passos da filha semanalmente, em uma reunião realizada às quartas-feiras. Em treze anos, ela elevou o faturamento da chocolateria de 40 milhões para 160 milhões de reais. Nesta Páscoa, a empresária tem uma arma a mais na briga pelos bolsos e paladares paulistanos. Trata-se da Brasil Cacau, sua nova marca, que vende chocolates por até um quinto do preço da Kopenhagen e nasceu justamente para competir com a Cacau Show. 57 Unidade I A disputa em números Criada há pouco mais de um ano, a segunda rede do grupo CRM veio para atender um público com poder aquisitivo inferior ao de quem consome os chocolates da pioneira, cujo quilo custa cerca de 150 reais. “É uma estratégia para continuar ganhando o mercado sem comprometer a minha marca principal, que é um produto de luxo”, diz Renata (...). “Passei quase três anos avaliando qual a melhor maneira de pôr esse plano em prática.” Antes disso, em 2007, o grupo havia comprado a Dan Top. Para dar conta da produção dos novos itens, o CRM construiu uma fábrica, inaugurada em outubro passado, em Extrema (MG). Nos 33.000 metros quadrados de planta, são confeccionados produtos das três marcas da holding. As grandes diferenças estão no ritmo de produção e nas receitas. Para se ter uma ideia, enquanto as Nhá Bentas são ajustadas uma a uma manualmente depois que o marshmallow é coberto pelo chocolate ainda quente, a Dinda, versão barata do produto vendida pela Brasil Cacau, é feita exclusivamente por máquinas. Até o fim do ano, com a instalação de um equipamento alemão, o CRM pretende automatizar ainda mais sua linha de produção. Assim, um só funcionário poderá fazer 150 quilos de bombom cereja por hora, mais que o dobro do saldo atual. “Ao aumentarmos nossa produção, poderemos elevar também nosso faturamento”, acredita Renata. Nesta Páscoa, os dois pretendem vender juntos quase 10 milhões de ovos. É um número expressivo, mas pequeno se comparado ao dos gigantes do mercado. Só a fabricante Lacta, líder do setor de chocolates, produziu 23 milhões de unidades para colocar nas gôndolas de supermercados, padarias e magazines. A disputa travada entre Costa e Renata fica evidente nas 58 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO ruas da capital. Até pouco tempo, era possível notar que a Cacau Show procurava pontos próximos a locais onde já estava a Kopenhagen, principalmente em áreas de classe média e alta, como o Shopping Ibirapuera ou o bairro de Higienópolis. Agora, é a Brasil Cacau que surge em regiões onde a concorrência se fixou, em bairros menos valorizados, como a Vila Prudente e a Vila Carrão. Há ainda um terceiro cenário, em que lojas das três redes compartilham território, como os arredores da Avenida Paulista ou a Rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, por onde circulam pessoas de poder aquisitivo variado. A briga é clara também nas prateleiras. A Cacau Show tem, por exemplo, suas próprias versões das tradicionais Língua de Gato e Nhá Benta, campeãs de vendas da Kopenhagen. Já a Brasil Cacau fez das trufas, um dos principais produtos da concorrência, o seu carro-chefe. Além disso, ambas têm a caixinha de bombons em forma de motivos marinhos. O grupo CRM nunca reclamou formalmente das semelhanças entre sua principal marca e os produtos da rede nascida na Casa Verde. “Eles são nossos seguidores e isso é até um elogio”, declara Renata, de seu escritório sediado no antigo endereço da Daslu, na Vila Nova Conceição. A chegada de um novo concorrente, porém, incomodou Alexandre Costa. No ano passado, ele levou seu desconforto à Justiça e abriu uma ação contra o CRM. “Eles copiaram demais a gente”, diz. “É marketing de guerrilha.” Depois de uma reunião informal, ficou decidido que a Brasil Cacau não cederia a todas as reivindicações da Cacau Show, mas acataria algumas delas, tais como a extinção dos confeitos drageados e de um kit de bombons. Embora o processo tenha sido encerrado em setembro passado, os chocolateiros continuam se alfinetando, 59 Unidade I cada um à sua maneira. Em um vídeo veiculado durante a campanha de Natal do ano passado, o Papai Noel deixa um bombom a uma vendedora da Cacau Show, com um bilhete. No papel, lê-se “para Renata”. Trata-se de uma coincidência, segundo Costa. “Não faço ideia de por que a produtora escolheu esse nome. Sou muito detalhista, mas só percebi isso depois.” O empresário tem investido bastante em campanhas publicitárias. Em 2009, foram mais de 13 milhões de reais. Para o Carnaval, colocou 50.000 reais no desfile da escola de samba paulistana Rosas de Ouro, que escolheu o cacau como tema do enredo e se sagrou campeã. Ele, inclusive, figurou em um dos carros alegóricos. Antes do desfile, os carnavalescos foram surpreendidos por uma exigência da Rede Globo, que transmitiu o evento: teriam de tirar do refrão o trecho que dizia “o cacau é show”, numa referência evidente à chocolateria. “No fim das contas, demos sorte porque o episódio chamou mais atenção ainda”, comemora Costa. Vestido com uma doma, uniforme utilizado por gourmets, o empresário recebeu a reportagem de Veja São Paulo em uma das salas da maior de suas quatro fábricas, localizada em Itapevi, no interior paulista. Lá, havia uma mesa repleta de chocolates Cacau Show. No meio da conversa, Costa disse que tinha guardado com ele chocolates da Kopenhagen. Em seguida, pediu à repórter que os provasse e comparasse com seu produto. Conhecido por sua autoconfiança, é daqueles que não têm dúvida de que seu negócio é o melhor do mundo. “Você nota alguma diferença gigante? Acha que o da Kopenhagen vale cinco vezes o da Cacau Show?”, disse. “Estamos falando de gestão de marca, não de sabor.” Renata discorda veementemente: “Ao degustar produtos Kopenhagen e Cacau Show, é notório que existe uma diferença crucial de sabor”. E, 60 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO em questão de gestão de marca, ela acha que Costa está errado ao vender, sob um só rótulo, produtos para públicos de diferente poder aquisitivo. “A marca dele é elástica demais, e isso é perigoso, porque não consegue atender consumidores de luxo”, afirma ela, que se negou a posar para a imagem de capa desta edição ao lado de Costa — as fotos dos dois foram feitas em momentos diferentes e depois unidas em computador. “Agora, com dois rótulos e produtos diferentes, eu não preciso de 1.000 lojas. Posso ter 200 Kopenhagen, 500 Brasil Cacau e garantir um bom faturamento.” Atualmente, a Kopenhagen tem 265 lojas e a Brasil Cacau, setenta espalhadas pelo país. Teste do chocolate Em janeiro, Veja São Paulo convidou três especialistas para provar, sem saber a procedência, a Nhá Benta e outros oito produtos com características semelhantes (marshmallow coberto por chocolate) disponíveis no mercado. Depois de degustar, eles teriam de atribuir notas de 1 a 5 a cada um deles. O ranking foi liderado pelos produtos da Kopenhagen, Cacau Show e Brasil Cacau, nessa ordem, e a diferença entre o primeiro e o terceiro colocado foi de apenas 0,33 ponto. “É significativa a evolução da qualidade do chocolate da Cacau Show, que é uma empresa muito jovem”, diz Arnaldo Lorençato, editor de gastronomia de Veja São Paulo, que participou do teste. “Ainda assim, fica difícil competir com um produto cujo fabricante tem tradição de mais de oito décadas em selecionar bons ingredientes.” (...) A disputa entre as chocolaterias é evidente também nas prateleiras das lojas, onde figuram produtos muito semelhantes. 61 Unidade I Embora sejam produzidos na mesma fábrica e administrados por uma só empresa, os chocolates Kopenhagen e Brasil Cacau têm uma diferença crucial: o preço. Os produtos da marca mais barata chegam a custar menos de um quinto dos da pioneira (Bergamo, 2010). Classificação estratégica em quadrantes É importante para o varejista pensar em estratégias de posicionamento que permitam à organização ocupar um espaço identificado como disponível no mercado. A classificação estratégica de quadrantes trabalha com dimensões combinadas que se referem às razões que levam o consumidor a optar por determinada loja. Essa classificação então ajuda o administrador a valorar o estabelecimento. São várias as possibilidades de combinação de dimensões, como variedade e preço de produtos, benefícios e custos, entre outras combinações possíveis. Observe o quadrante (figura 6) abaixo que apresenta o mapeamento estratégico sob o ponto de vista de benefícios e custos. Benefícios Altos 1º quadrante: Estratégia para maximizar valor - vencedora Custos Altos 2º quadrante: Estratégia de serviços – para segmento sensível a serviços 3º quadrante: Estratégia de “economia” - para segmento sensível a preços 4º quadrante: Custos Altos Desastre Benefícios Baixos Figura 6: Posicionamento estratégico ao longo das dimensões e custos. Fonte: PARENTE, Juracy. Varejo no Brasil: Gestão e Estratégia. São Paulo: Atlas, 2000. 62 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO Os quadrantes 2 e 3 se referem às estratégias mais praticadas. O quadrante 3 engloba os hipermercados e os clubes de compra que possuem preços competitivos e poucos serviços. Já no quadrante 2 estão os estabelecimentos que oferecem boas opções de serviços, porém com preços mais altos, como supermercados especiais e padarias, atendendo o consumidor que deseja um pouco mais de conforto. O quadrante 1 representa o modelo que tem sido perseguido por muitas organizações. A estratégia, nesse caso, é mesclar grande variedade de serviços e preços baixos. As chances de sucesso crescem à medida que as organizações de varejo se aproximam do quadrante 1. Estratégias de Porter aplicadas ao varejo Assim que as oportunidades e ameaças do mercado forem identificadas, analisando-se os pontos fortes e fracos da concorrência, os varejistas podem então avaliar as três abordagens genéricas propostas por Porter: liderança em custo, foco e diferenciação (figura 7). Três estratégias genéricas No âmbito de toda a indústria Apenas um segmento Alvo estratégico Vantagem estratégica Unicidade observada pelo cliente Posição do baixo custo Diferenciação Liderança em custo Foco Figura 7: Estratégias genéricas de Porter Fonte: Apostila Administração Estratégica - professores conteudistas: Rosely Maria Gaeta Goeckler e Alexandre Gaeta Marinho Sathler - UNIP 63 Unidade I Porter desenvolveu uma estrutura de estratégias chamadas genéricas, tendo como base as forças competitivas de baixo custo e diferenciação. A combinação dessas duas forças com o escopo do mercado-alvo pretendido ou com a amplitude do mix de produtos resulta nas estratégias genéricas propostas por Porter: 1. Liderança em custo: A organização se posiciona como provedora de mais baixo custo em mercados amplamente definidos ou com ampla variedade de produtos. Para tanto é necessário que a organização tenha instalações mais eficientes, investindo em tecnologia para economias em escala, além de conseguir maior participação de mercado e assim obter um custo unitário baixo em função do alto volume de vendas. Nesse caso a organização precisa estabelecer barreiras que impeçam os concorrentes de terem preços mais baixos, por meio de um forte poder de barganha junto aos fornecedores. O resultado desta estratégia é obter a dianteira, tanto em experiência na comercialização dos produtos, como na mínima prestação de serviços. Esta estratégia é adequada quando a organização se posiciona em um mercado em que os consumidores são sensíveis a custos, a concorrência trabalha fortemente com preços baixos e existem poucas possibilidades de diferenciação. Porém, especialistas alertam que muitas organizações falham ao se concentrarem demasiadamente na variável preço. A justificativa para esse alerta é que preços baixos podem atrair os consumidores, mas não são garantias de fidelização, pois eles têm como base de escolha a melhor oferta. Por isso sugere que as organizações busquem alternativas para diferenciação, como a melhoria continua do mix de produtos e do processo de vendas. 2. Diferenciação: As organizações praticam diferenciação quando conseguem oferecer aos seus consumidores algo único quando comparadas 64 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO aos seus concorrentes. O atendimento a uma necessidade específica destaca a organização. Porém, nesse caso o foco no preço é menor, pois são valorizados aspectos reconhecidos como únicos pelos clientes, como localização, exclusividade, qualidade etc. O benefício desta abordagem estratégica é a eficácia na defesa da posição de mercado e na obtenção de retornos financeiros acima da média. Porém, são requisitos preços normalmente mais altos que banquem a operação e que também valorizem a diferenciação. 3. Especialização ou foco: Esta abordagem direciona atenção especial a grupos específicos de consumidores ao oferecer linhas específicas de produtos. Esse é o caso de restaurantes para vegetarianos, loja de brinquedos educativos ou até mesmo a concentração geográfica que é a instalação de várias lojas de uma mesma rede e uma cidade. O benefício desta estratégia é o alto conhecimento sobre as necessidades do mercado e consequentemente a prática de um ótimo atendimento. Para ler e refletir O Poder do marketing no Varejo Quase todas as vezes que se ouve falar em varejo, a primeira imagem que vem na cabeça é o ‘buteco da esquina’ ou a padaria do ‘Seu Zé’. Quase sempre se faz uma associação do varejo a pequenos negócios. É um fato que o varejo é composto de um contingente elevado de micro e pequenos negócios, incluindo os negócios informais que sustentam muitas famílias em todo o mundo. Todavia os números do varejo não permitem que se pense somente pequeno, é preciso começar a entender a importância desse setor na economia e principalmente as tendências que estão atreladas a esse ramo. 65 Unidade I No Brasil o número de lojas registradas chega a um milhão, essas lojas totalizam vendas superiores a R$100 bilhões. Entre as 100 maiores empresas no Brasil, 12 pertencem ao ramo varejista (1). Segundo dados da Revista Exame a Walmart, a maior rede varejista do planeta, símbolo do capitalismo americano, ameaça roubar a posição de liderança da GM em faturamento no próximo ano e que em 2010 o varejo deve faturar cinco vezes mais do que fatura hoje (3). Com certeza nomes como Boticário, McDonald’s, Bom Preço, Walmart, Carrefour, Pão de Açúcar, C&A e outros importantes negócios pertencentes ao varejo, servem para aguçar a percepção dos que ainda não pararam para pensar no setor. A análise do varejo deve ser feita desde o ‘buteco da esquina’, a padaria do ‘Seu Zé’, as lojas independentes, até as redes de lojas, as franquias, os supermercados, os shopping centers... tudo faz parte do segmento varejista. É sempre bom lembrar que além das lojas convencionais existe o varejo não lojista que faz vendas de porta em porta. Esse tipo de negócio se constitui em verdadeiro sucesso de vendas a exemplo da Avon que é mundialmente conhecida. A internet se torna uma aliada para esse nicho de atendimento fora das lojas fortalecendo ainda mais o setor. O varejo é o mais dinâmico setor da economia e por isso requer um cuidado especial e se faz necessário uma adequação de cada ponto de venda com o público onde o negócio estiver atendendo. Em 95, a loja Walmart de Osasco - SP atingiu um recorde de vendas quase chegando a U$ 1 milhão, todavia, nesse mesmo ano, a empresa teve um prejuízo de mais de R$ 16 milhões no Brasil, causado pelas possíveis 66 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO dificuldades de adequação de uma loja que tem como objetivo ter os menores preços do mercado (2). Segundo Kotler ter baixos preços não é suficiente para se construir um empreendimento viável, é preciso agregar qualidade e atendimento para que o cliente sinta que está comprando com base no valor (4). O dinamismo do varejo permite que pequenos e grandes estejam competindo num mesmo mercado. Sem dúvida não será o grande que vencerá o pequeno, mas o lento que perderá do rápido. A empresa que tiver velocidade para acompanhar o que o mercado quer terá espaço no varejo. Não é difícil se perceber as ações de marketing dos grandes grupos que anunciam nas mídias convencionais e fazem promoções em suas lojas. Mas existem ações de marketing que se tornam verdadeiras armas para os pequenos e que normalmente os grandes têm que investir fábulas para conseguir aplicar esses conceitos. As ações de marketing que mais conseguem resultados na verdade não custam nada. Colocar um sorriso no rosto, ter uma postura profissional, cumprimentar o cliente que chega na loja, chamar o cliente pelo nome, conhecer o gosto e a preferência do cliente... atitudes que se fizerem parte do cotidiano do atendente, geram um relacionamento com ambiente favorável à contínua frequência do cliente na loja, ou seja permitem a fidelidade do cliente que é o objetivo maior do marketing em todo tipo de negócio. Segundo Tom Peters, um dos ‘gurus’ da administração moderna, “não existe realidade, existe apenas a realidade que se percebe”. É a percepção do cliente que vale, de nada adianta fazer ações de marketing 67 Unidade I que o cliente não perceba, e se perceber é preciso que ele valorize para que gere algum efeito. O papel do marketing no varejo é proporcionar ‘momentos mágicos’ para que o cliente sempre tenha uma boa imagem de todos os instantes que teve contato com a empresa. Muitas vezes tudo é feito com perfeição, mas a pessoa do caixa simplesmente estava de cara ‘amarrada’ e foi incapaz de dar um sorriso agradecendo ao cliente pela compra. Infelizmente a percepção do cliente é de que na loja as pessoas não se agradaram com a sua presença e pode nunca mais voltar. Para se fazer marketing no varejo é preciso que todas as pessoas da empresa estejam envolvidas no processo e não basta apenas satisfazer ou encantar, é preciso ter compromisso com o sucesso do cliente. Não é à toa que negócios como a Disney prosperam e crescem dia a dia. Todo o trabalho realizado pelo elenco (é assim que os funcionários são tratados, como parte de um elenco para um grande show, são como verdadeiros artistas que estão compromissados) faz com que 64 % dos visitantes da Disney sejam clientes reincidentes (6), ou seja, pessoas que já foram lá uma vez e estão retornando. São diversas as histórias contadas sobre atendimentos excepcionais ocorridos na Disney, dentre eles um é muito marcante: uma garotinha estava chorando na fila quando um dos integrantes do elenco se aproximou para saber o motivo dela estar chorando. A garotinha disse que estava triste, pois estava chegando a hora dela entrar no brinquedo mas o seu sorvete ainda estava na metade, prontamente o integrante do elenco se predispôs a guardar o sorvete para ela e ela ficou feliz. Obviamente que todos sabem que não é possível se guardar um sorvete por 15 minutos, tempo que duraria a diversão, e o funcionário sabia disso. Ele jogou aquele sorvete fora, e como sabia a hora exata 68 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO que o brinquedo iria parar, comprou um novo sorvete e aguardou a garotinha na saída do brinquedo... e ele não pediu autorização a ninguém para fazer aquilo, tirou dinheiro do próprio bolso para obter o sucesso do cliente(6). Alguém tem alguma dúvida de qual será o parque de diversões que aquela garotinha vai ‘chorar’ para querer ir caso a família decida se divertir algum outro dia? Não se tem dúvida de que ela engordará os 64% dos clientes reincidentes e fará a Disney ganhar mais dinheiro. Se os clientes que estão sendo atendidos em uma loja não voltarem para comprar novamente é porque o seu marketing deve está sendo feito de maneira equivocada (Siqueira1). Estratégia para expansão dos negócios O varejista pode optar por diversas maneiras para expandir e otimizar os seus negócios. A figura 8 mostra os diversos caminhos que podem ser trilhados pelos gestores do varejo. Mais adiante vamos estudar algumas destas opções. Estratégias para a expansão e melhoria dos negócios Penetração de mercado - maior número de lojas na região; - maior valor do tíquete médio; - maior número de clientes; - maior frequência de visitas. Desenvolvimento de mercado - novos mercados geográficos; - novas categorias de produtos; - novos segmentos de mercado; - evolução operacional. Melhoria de produtividade e eliminação de desperdícios - redução de custos; - melhoria no mix de produtos; - melhor composição de margens. Integração vertical Integração horizontal Figura 8: Alternativas estratégicas para a expansão dos negócios. Fonte: adaptado de MASON; MAYER; EZELL; 1994 apud PARENTE, Juracy. Varejo no Brasil: Gestão e Estratégia. São Paulo: Atlas, 2000). Disponível em: <http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/BDS.nsf/ 3E5EC484E4BD740703257027006407E6/$File/NT000A9206.pdf>, visto em 10/10/2010 1 69 Unidade I Penetração de mercado O objetivo da estratégia de penetração é o alcance de competitividade através do domínio do mercado em uma ou mais regiões. Esse objetivo pode ser alcançado por meio do crescimento das vendas em lojas que já existem ou do aumento do número de lojas da rede em determinada região. A aplicação desta estratégia pode gerar a saturação do mercado criando assim uma barreira de entrada de novos concorrentes. Se o caso for de lojas com desempenho de vendas abaixo que a média do mercado, as tarefas deverão estar voltadas para o aumento do número de consumidores na loja, bem como o aumento da frequência de visitas, além dos esforços para elevação do tíquete médio por cliente. Já no caso de lojas com bom desempenho de vendas, a alternativa é ampliar a presença da empresa com a abertura de novas unidades. Esses objetivos podem então ser alcançados com ações de marketing como incremento dos esforços de comunicação (propaganda e promoções de vendas, por exemplo), desenvolvimento de estratégias de preços que tragam maior competitividade, desenvolvimento de programas de fidelização e ampliação do mix de produtos e dos serviços. Desenvolvimento de mercado Esta estratégia está fincada no reposicionamento da empresa com vistas a atrair novos segmentos de mercado. O reposicionamento pode significar uma mudança no posicionamento ou na atração de mais segmentos. A implementação desta estratégia abrange quatro possibilidades: • Desenvolvimento de novos mercados geográficos: identificação de novas praças em áreas geográficas não atendidas pela empresa. 70 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO • Introdução de novas categorias de produtos: o aumento de vendas pode ser conseguido com a ampliação do mix de produtos, por meio da introdução de novas categorias. A ideia é gerar aumento do tíquete médio por consumidor por meio da oferta de produtos e serviços desejados, mas não disponíveis no estabelecimento. Uma papelaria, por exemplo, poderá incluir utilidades domésticas e brinquedos, por exemplo. • Atendimento de novos segmentos de mercado: o objetivo aqui atrair novos públicos para o negócio, como por exemplo, uma loja de eletrodomésticos voltada para a classe C que passa a oferecer também uma linha mais sofisticada que atenda as classes A e B. • Reposicionamento: neste caso a empresa sofrerá uma mudança no conceito e na estratégia com o objetivo de atrair novos segmentos de mercado. Melhoria de produtividade O aperfeiçoamento da gestão é o ponto central da estratégia de melhoria de produtividade. Portanto, o foco está no aumento dos lucros por meio de ações voltadas para a eliminação dos desperdícios, aumento das vendas e do giro dos estoques, melhoria do mix de produtos e das margens. Integração vertical A integração vertical é a introdução de um ou mais níveis de canais de marketing na operação. A integração vertical pode se dar para trás – quando o objetivo é controlar ou até mesmo possuir sistema de fornecimento, como a aquisição por parte do varejista de um atacadista ou fabricante. Há também a opção de integração para frente em que o varejista cria ou adquire novos canais de distribuição. Um exemplo de integração vertical para frente é o caso da gravadora Som Livre que passou a vender CDs 71 Unidade I e DVDs de sua produção diretamente consumidores finais pela internet. A integração vertical se dá pela extensão de propriedade de uma organização em sua rede de abastecimento e ou distribuição. Essa integração pode ser total ou parcial, isto é, a organização pode controlar totalmente ou parcialmente as operações. A opção por este tipo de integração se dá pelo objetivo de garantir abastecimento e reduzir custos, e ainda trazer mais qualidade e conhecimento em outros segmentos de consumidores. A decisão pela integração vertical deve estar embasada na análise da conveniência de aquisição ou associação a outras organizações, levando-se em conta competências, ganhos e perdas. Integração horizontal Associação, compra, troca de ações entre empresas de um mesmo nível para atendimento de diversos segmentos. É o caso, por exemplo, da fusão das operações entre a Americanas.com e o Submarino. PERNAMBUCANAS, A ARROJADA EXPANSÃO Rede de varejo encerra brigas internas, abre sete lojas e parte para disputa com multinacionais Por László Varga Na manhã do dia 4 de maio, na avenida Anhanguera, a mais movimentada de Goiânia, um público de algumas centenas de pessoas presenciou um acontecimento marcante para o varejo no Brasil: a diretoria das Casas Pernambucanas, com sede em São Paulo, inaugurava sua primeira loja em território 72 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO inimigo. Os adversários em questão eram membros da própria família de Herman Lundgren, fundador da companhia. Durante mais de cinco décadas, os descendentes do empresário se digladiaram para ter o direito de explorar a marca – uma das mais antigas do Brasil. A disputa chegou até a resultar na divisão de territórios exclusivos para cada um dos clãs: basicamente São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza. E cada parte da família estava terminantemente proibida de invadir o terreno alheio com suas lojas. O esquema foi um desastre. Tirou energia do conglomerado, destruiu os negócios das matrizes fluminense e cearense, que pediram falência em 1997, e limitou em muito a expansão do braço paulista, o único sadio. “Agora tudo isso é passado”, declara Carlos Chiaverini, diretor comercial das Casas Pernambucanas, que está entrando em Goiânia. A cidade é o marco do plano de expansão nacional que a empresa deflagrou. Mas a estratégia pode ser dificultada com a competição cada vez mais acirrada no setor. Outros grandes grupos varejistas, como as Lojas Renner e a C&A, aproveitaram os desentendimentos dos Lundgren, embarcaram nas vantagens da estabilidade econômica do Real e avançaram firmes pelo Brasil. Os planos das Pernambucanas para recuperar o tempo perdido são bastante ambiciosos. Somente neste ano, a companhia pretende investir cerca de R$ 30 milhões na inauguração de seis lojas e modernização de outras seis. O programa da diretoria prevê afinal que a cada ano cerca de 13 estabelecimentos serão abertos ou ampliados para garantir uma boa expansão dos negócios. “Ainda em 2001 chegaremos ao Distrito Federal. Em quatro anos, estaremos em Estados importantes 73 Unidade I como o Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro”, garante Chiaverini. Os dois casos são alguns dos calcanhares de aquiles das Pernambucanas. No vácuo das brigas entre os Lundgren, as Lojas Renner, hoje do grupo norte-americano J.C. Penney, dominou o mercado gaúcho e inaugurou seis lojas cariocas. Para o consultor Claudio de Angelo, a estratégia das Pernambucanas de voltar aos bons tempos pode ser prejudicada pelo desconhecimento da marca pelas novas gerações de consumidores, causada por baixos investimentos. “A briga entre a família ofuscou a fama que a companhia teve em meados do século 20, quando havia um ditado que dizia que em cada cidade brasileira havia uma agência do Banco do Brasil e uma loja Pernambucanas”, diz Angelo. Não é à toa que a diretoria do grupo tem se dedicado justamente a reverter a situação. Contratou a dupla de cantores Sandy & Júnior para uma campanha publicitária de R$ 6 milhões, a fim de reconquistar o público jovem. O consumidor que comprar pelo menos R$ 80 nas 237 lojas têm direito a levar um CD dos artistas e concorrer à participação de shows. “Devemos atingir a marca de 500 mil discos vendidos até o final de maio, sendo que cerca de 75% das pessoas que trocam os tíquetes têm até 15 anos”. Para reconquistar a glória do passado, as Pernambucanas apostam também em uma drástica mudança no seu desempenho financeiro. Em 2000, o faturamento avançou apenas 1,8% sobre o ano anterior, somando R$ 1,1 bilhão. O lucro despencou de R$ 30,5 milhões para R$ 6,7 milhões, devido à quitação de uma dívida de R$ 27,6 milhões com o governo de São Paulo, referente a ICMS atrasado. A meta é mudar drasticamente o desempenho, graças à abertura de novas lojas. “Resolvemos as disputas 74 MARKETING DE VAREJO E NEGOCIAÇÃO judiciais com o fisco e nossa receita deverá crescer 15% neste ano”, declara Chiaverini. Isso se a concorrência deixar. Em menos de três anos, a Renner, por exemplo, empreendeu um forte programa de expansão, bancado pelo capital barato da matriz dos Estados Unidos, e hoje, com 52 estabelecimentos, quase um quarto do tamanho da rede das Pernambucanas, já fatura R$ 667,4 milhões anuais. A Riachuelo e a C&A também estão no caminho dos planos dos Lundgren. Chiaverini sabe ainda que tem de agir para não sucumbir à ambição excessiva que atingiu os grupos Mappin e Mesbla, e suas medidas de crescimento são adotadas paulatinamente. As novas operações do grupo estão concentradas em Minas Gerais, que virou uma espécie de quartel general avançado porque seu mercado ainda é pouco explorado. “De lá iremos avançar para o resto do País”, garante. O clima é de trincheira, mas ao menos agora as Pernambucanas têm os inimigos certos para combater (Vargas, 2001). Táticas em varejo A partir da definição da estratégia, a organização deverá tomar decisões relacionadas às variáveis do composto mercadológico varejista. Essas decisões abrangem outras tantas definições, como a política de preços a ser praticada, a determinação das linhas de produtos que serão oferecidas, a forma de abastecimento, o desenvolvimento de promoções e outros esforços de comunicação, a configuração da loja, a forma de apresentação dos produtos, o estilo de atendimento dispensado aos clientes, a prestação de serviços, além da decisão sobre a localização e possibilidades de expansão. O quadro 2 mostra exemplos de táticas relacionadas a alternativas estratégicas. Observe que para cada variável existem opções de estratégia que implicam táticas relacionadas para a sua implementação. 75 Unidade I Quadro 2: Relação entre estratégias e táticas de varejo para cada variável do composto de varejo Variáveis Preços Estratégias Estratégia preços Meios de pagamento oferecidos Táticas Definição de preço de produto novo Preços psicológicos Alinhamento de preços Linha de produtos Amplitude e profundidade da variedade Marcas próprias Nível de qualidade Propaganda e promoção Definição de verba de propaganda e promoção de vendas Concentração em determinado tipo de mídia Loja e apresentação Atendimento e serviços Redução de linhas ou produtos Aumento ou redução de variedade Concentração em determinados veículos Frequência e periodicidade da propaganda Calendário de promoções Definição da área de loja Arrumação de vitrines Divisão dos espaços para departamentos Apresentação dos funcionários (vestimenta) Definição das categorias com mais destaque Sinalização Tipo de atendimento Sistema de entrega de mercadorias Gama de serviços Forma de remuneração de vendedores Localização e expansão Introdução de novos produtos Empacotamento Política de devoluções Definição da área de expansão Métodos de pesquisa de localização Definição do nível de concentração em determinada área Previsão de vendas por área selecionada Definição da região por classe econômica Seleção de pontos específicos Adaptado de PARENTE, Juracy. Varejo no Brasil: Gestão e Estratégia. São Paulo: Atlas, 2000. 76