UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE LATEC – LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE FERNANDO DE NORONHA AUDITORIA ODONTOLOGICA EM PLANOS DE SAÚDE: A INFLUÊNCIA DE UM MÉTODO PADRONIZADO DE AVALIAÇÃO NITERÓI 2003 FERNANDO DE NORONHA AUDITORIA ODONTOLÓGICA EM PLANOS DE SAÚDE: A INFLUÊNCIA DE UM MÉTODO PADRONIZADO DE AVALIAÇÃO Dissertação apresentada à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão Integrada. Orientadora: Mara Telles Salles, D.Sc. NITERÓI 2003 FERNANDO DE NORONHA AUDITORIA ODONTOLÓGICA EM PLANOS DE SAÚDE: A INFLUÊNCIA DE UM MÉTODO PADRONIZADO DE AVALIAÇÃO Dissertação apresentada à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão Integrada. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Profa. Mara Telles Salles, D.Sc. - Orientadora Universidade Federal Fluminense ________________________________________________ Prof. José Rodrigues de Farias Filho, D. Sc. Universidade Federal Fluminense _________________________________________________ Prof. Elson Fontes Cormack, D.Sc. Universidade Federal do Rio de Janeiro NITERÓI 2003 Dedico este trabalho A Deus, por nos ter dado saúde, forças e perseverança para realizarmos este trabalho. À minha esposa Andréa, pela vivência do compromisso solidário e pelo exemplo de amor em todos os momentos e a meus filhos Raffael, André e Fernanda pela paciência, apoio e carinho. Aos meus familiares, em especial aos meus avós Jurema e Francisco e aos amigos, pela compreensão, paciência e dedicação com que sempre acompanharam a realização deste trabalho , estimulando-nos, apesar da privação dos prazerosos momentos de convívio. AGRADECIMENTOS Aos Professores Sérgio Augusto Wanderley Pinto e Marco Antonio Pedroza Machado (in memoriam), pelos exemplos de amor à vida acadêmica e à Odontologia Legal. À Professsora Dra. Mara Telles Salles, por sua valorosa orientação, sugestões e críticas que muito contribuíram para a construção desse trabalho. Ao Professor Osvaldo Luiz G. Quelhas, Coordenador do Mestrado em Sistemas de Gestão e a toda equipe docente e administrativa do LATEC – UFF, pela atenção dispensada em todas as etapas do curso. Ao Professor Jorge Wilson Anchieta de Araújo, professor de Perícias Odontológicas da Universidade Federal Fluminense, pela confiança em mim depositada e incentivo à minha formação no magistério. À Sônia Guyt, e todo o corpo operacional da empresa, por acreditarem na minha capacidade de realização profissional, pela liberdade confiada e pelo apoio incondicional à realização deste projeto. Ao Cirurgião-dentista e amigo Dr. João Roberto Nóbrega, pelas demonstrações de afeto e incentivo incondicional à minha carreira, nestes longos anos de convivência. Aos amigos e Cirurgiões-dentistas, Drª Maria Cristina Rocha Dias Lima e Dr. Rodrigo Machado Valadão, pelo apoio e contribuição pessoal para o desenvolvimento deste trabalho. “Sempre há o que aprender ouvindo, vivendo e, sobretudo, trabalhando. Mas só aprende quem se dispõe a rever suas certezas.” Darcy Ribeiro RESUMO Na atualidade, a palavra de ordem para as operadoras de planos de saúde é a “regulação”. Essa nova ordem surge em função do momento atual, onde situações de toda natureza afloram e dificultam a vida das empresas, usuários e dos profissionais envolvidos na prestação de serviços de saúde. É referida como a gênese desta situação o agravamento da crise na rede pública de saúde a partir da década de 80, abrindo caminho para o desenvolvimento acelerado do mercado de seguros e planos privados de saúde no Brasil. O modelo vigente da assistência odontológica supletiva está apoiado na prestação de serviços aos pacientes, seja em clínica particular ou em consultório do profissional credenciado, intermediada pela operadora de plano de saúde. No Brasil, o auditor odontológico é contratado ou credenciado pelos planos de saúde, principalmente para fiscalizar com o sentido de “policiar”, deixando em segundo plano a avaliação da qualidade dos serviços prestados aos beneficiários por seus dentistas credenciados. Esta nova realidade no contexto da odontologia nacional trouxe alguns problemas, dentre os quais, destacamos: os conflitos entre os auditores dos Planos de Saúde e dentistas operacionais e a elevação do número de reclamações junto aos órgãos competentes. Este trabalho propõe mostrar a conceituação e aplicação da ferramenta auditoria no segmento odontológico do sistema de saúde suplementar, destacando as dificuldades do processo e os atributos necessários do auditor para o bom desempenho da função. Foram selecionados assim, conceitos e ferramentas de gestão da qualidade aplicáveis à área de regulação odontológica, relatando um bem sucedido caso de implantação de um modelo padronizado de avaliação sobre os serviços de uma rede de dentistas credenciados de um plano de saúde de autogestão. Espera-se que o modelo estudado possa servir de referência para trabalhos futuros, na área de odontologia e áreas afins envolvidas. Palavras-chave: Auditoria odontológica, Regulação, Sistema de Saúde Suplementar, Ferramentas da Qualidade. ABSTRACT Nowadays, “regulation” is the rule of health care plan operators. This new rule emerged in terms of the current moment, where all sort of situations occurs and makes difficult not only the company life but users and professionals that are involved at the installment of health care service. Is mentioned as the origin of this situation the aggravation of the crisis at the public health service since the 80’s, expand to the fast development of insurance and private health care plan market in Brazil. The valid model of supplant odontological assistance, is supported in the installment service to patients, whether in private clinic or in credence professional surgery, being intermediate by the health care plan operator. In Brazil, the odontologic auditor is engaged or credence by the health care plans, mostly to supervise meaning as “police” , leaving in second place the quality assessment of the render service to beneficiaries by credence dentists. This new reality at the context of national odontology brought some problems, that, emphasize the conflicts among not only health care plan auditors but dentists and a rise number of complaint to the competent organ. The propose of this work study is to show the odontological segment in front of supplementary health care system, emphasize the difficulties of process and the necessary attribute of the auditor for a good fulfillment at regulation mechanisms. Thus, were selected, quality concepts and tools that are relevant to the odontological auditory area, reporting an implementation case of a standardize model to assess the services of a credence dentists network from a itself conduct health care plan. At least, is expected that the model studied can attend as a reference for future works, at odontology area and related areas that are involved. Key-words: Odontological Auditory, Regulation, Supplementary Health Care System, Quality Tools. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Figura 2 Figura 3 Quadro 1 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Quadro 2 Quadro 3 Quadro 4 Quadro 5 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Quadro 6 Quadro 7 Gráfico 1 Gráfico 2 Quadro 8 Gráfico 3 Gráfico 4 Gráfico 5 Gráfico 6 Gráfico 7 Quadro 9 Gráfico 8 Tabela 1 Gráfico 9 Gráfico 10 Gráfico 11 Tabela 2 Ciclo de Vida do Produto – Modelo Padrão ........................... Universo do Sistema de Saúde Suplementar ........................ Atores envolvidos no Sistema de Saúde Suplementar .......... Problemas comportamentais mais comuns, propostas de solução e meios ..................................................................... Sistema de controle de processo ........................................... Uma visão geral de auditoria .................................................. Ciclo de PDCA ....................................................................... Fluxograma ............................................................................ Análise de Pareto ................................................................... Diagrama de causa e efeito (Ishikawa) .................................. Gráficos .................................................................................. Histograma ............................................................................. Matriz GUT .............................................................................. 5W 1H..................................................................................... Atividade e ações dos atores no processo de auditoria ......... Responsabilidade no ciclo das auditorias odontológicas ....... Etapas do processo de controle e liberação........................... Ciclo PDCA – Ciclo de Vida aplicável em auditores odontológicos de planos de saúde ......................................... Atividade de auditoria ............................................................. Cronologia .............................................................................. 5W 1H .................................................................................... Respostas para a empresa em estudo .................................. Levantamento de renda anual dos credenciados no ano de 1999 ....................................................................................... Satisfação dos credenciados com a empresa ........................ Pesquisa do perfil dos auditores nos Planos de saúde do Estado do Rio de Janeiro ....................................................... Exigência para o cargo de auditor .......................................... Treinamento para os auditores .............................................. Protocolo padrão .................................................................... Manuais operacionais ............................................................ Registro e acompanhamento das não-conformidades ........... Percentuais obtidos no instrumento de pesquisa ................... Amostra global dos resultados obtidos com a aplicação do questionário ............................................................................ Dados obtidos pelos exames realizados nas auditorias da 1ª etapa ...................................................................................... Auditorias realizadas no ano de 2000 .................................... Não-conformidades verificadas na rede credenciada em 2000 ....................................................................................... Não-conformidades verificadas na livre escolha em 2000 ..... Dados obtidos pelos exames realizados nas auditorias da 3ª etapa ...................................................................................... 19 28 38 48 52 53 54 55 56 56 57 58 58 59 62 65 66 76 81 90 95 95 99 100 101 102 103 103 104 104 105 106 109 110 111 111 116 Gráfico 12 Gráfico 13 Gráfico 14 Tabela 3 Gráfico 15 Gráfico 16 Gráfico 17 Gráfico 18 Gráfico 19 Gráfico 20 Gráfico 21 Gráfico 22 Gráfico 23 Gráfico 24 Gráfico 25 Gráfico 26 Gráfico 27 Gráfico 28 Auditorias realizadas no ano de 2001 .................................... Não-conformidades verificadas na rede credenciada em 2001 ...................................................................................... Não-conformidades verificadas na livre escolha em 2001 ..... Dados obtidos pelos exames realizados nas auditorias da 4ª etapa ...................................................................................... Não-conformidades verificadas na rede credenciada em 2002 ....................................................................................... Auditorias realizadas no ano de 2002 ................................... Não-conformidades verificadas na livre escolha em 2002 ..... Satisfação dos credenciados com a empresa ........................ Satisfação dos credenciados com a empresa – Fried e Traitel ................................................................................... Satisfação dos credenciados com a empresa em 2001 ......... Número de reclamações apresentadas pelos beneficiários nos anos de 1999 e 2002 ....................................................... Comparativo das não-conformidades diagnosticadas entre a rede credenciada e a livre escolha em 2000 .......................... Comparativo das não-conformidades diagnosticadas entre a rede credenciada e a livre escolha em 2001 .......................... Comparativo das não-conformidades diagnosticadas entre a rede credenciada e a livre escolha em 2002 .......................... Evolução das não-conformidades diagnosticadas nos anos de 2000, 2001 e 2002 entre ED e LE ..................................... Levantamento de renda anual dos credenciados em 2002 ... Comparativo dos rendimentos obtidos em 1999 e 2002 ........ Evolução custo assistência odontológica livre escolha e rede credenciada – 2000 a 2003 .................................................... 117 117 118 119 120 120 121 122 128 128 129 130 131 132 133 134 135 136 LISTA DE SIGLAS ACA – Auditoria de Colocação da Aparatologia AIT – Auditoria Ortodôntica Intermediária ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar AOF – Auditoria Ortodôntica Final AOI – Auditoria Ortodôntica Inicial AON – Auditoria Odontológica Normalizada CD– Cirurgião-Dentista CEO – Código de Ética Odontológica CFO – Conselho Federal de Odontologia CIEFAS – Comitê de Integração de Entidades Fechadas de Assistência à Saúde CNPCO – Consolidação das Normas de Procedimentos dos Conselhos de Odontologia CONACO – Código de Não-Conformidades Odontológicas CONEO – Conferência Nacional de Ética Odontológica CRO – Conselho Regional de Odontologia ED – Escolha Dirigida GUT – Gravidade, Urgência e Tendência IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ISO – Internacional Organization for Standardization LE – Livre Escolha NBR – Norma Brasileira de Regulamentação NCF– Não- Conformidade Final NCI – Não- Conformidade Inicial PDCA – Plan-Do-Check- Act PTO– Plano de Tratamento Odontológico RDC– Resolução da Diretoria Colegiada RONCO – Registro de Ocorrência de Não Conformidades SCI – Sistema de Controle Interno SIBLO – Sistema de Bloqueio de Reação Cruzada SAOA – Sociedade de Auditores Odontológicos da Argentina SSS – Serviço Suplementar de Saúde SUS – Sistema Único de Saúde SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................13 1.1 ASPECTOS GERAIS ..........................................................................................13 1.2 CONTEXTO DO SEGMENTO ODONTOLÓGICO DENTRO DO SISTEMA DE SAÚDE SUPLEMENTAR..........................................................................................15 1.2.1 Histórico..........................................................................................................15 1.2.2 O Problema .....................................................................................................17 1.2.3 Objeto ..............................................................................................................19 1.2.4 Objetivos .........................................................................................................21 1.2.5 Questões e /ou Hipóteses..............................................................................22 1.2.6 Relevância do Tema .......................................................................................23 1.2.7 Fundamentação Teórica ................................................................................24 1.2.8 Estruturação do Trabalho..............................................................................25 2 O SISTEMA DE SAÚDE SUPLEMENTAR ODONTOLÓGICO ..............................26 2.1 SISTEMA DE SAÚDE NACIONAL .....................................................................27 2.1.1 Segmentos ......................................................................................................29 2.1.2 Agência Nacional de Saúde Suplementar ....................................................30 2.2 A DIFERENÇA ENTRE A TERMINOLOGIA ADEQUADA E A UTILIZADA NA PRÁTICA ..................................................................................................................31 2.2.1 O Que é Perícia?.............................................................................................32 2.2.2 O Que é Auditoria?.........................................................................................33 2.2.3 O Que é Auditoria Odontológica?.................................................................34 2.3 AUDITORIA: UM ELEMENTO ESSENCIAL DO CONTROLE INTERNO ..........36 2.4 PARTICULARIDADES DO SISTEMA DE SAÚDE SUPLEMENTAR.................37 2.5 FACETAS ENVOLVIDAS ...................................................................................38 2.6 COMPLICADORES DO SISTEMA DE SAÚDE SUPLEMENTAR......................39 2.7 REGULADORES DE AÇÃO ...............................................................................41 2.7.1 Regulador Legal .............................................................................................41 2.7.2 Regulador Comportamental ..........................................................................45 3 CONCEITOS DE GESTÃO DA QUALIDADE E FERRAMENTAS APLICÁVEIS À AUDITORIA ODONTOLÓGICA.................................................................................51 3.1 SISTEMAS DE AUDITORIA EM QUALIDADE...................................................51 3.2 FERRAMENTAS APLICÁVEIS AO SISTEMA ...................................................53 3.2.1 Ciclo PDCA .....................................................................................................54 3.2.2 Fluxograma .....................................................................................................55 3.2.3 Análise de Pareto ...........................................................................................55 3.2.4 Diagrama de Causa e Efeito (Ishikawa) ........................................................56 3.2.5 Gráficos...........................................................................................................57 3.2.6 Histograma......................................................................................................57 3.2.7 Matriz GUT ......................................................................................................58 3.2.8 Matriz 5W1H ....................................................................................................59 3.2.9 Benchmarking ................................................................................................60 4 O UNIVERSO DA AUDITORIA: ATORES, CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS.................................................................................................61 4.1 ATORES E SUAS ATRIBUIÇÕES NA AUDITORIA ..........................................61 4.1.1 Responsabilidades do Auditor Odontológico .............................................63 4.1.2 Responsabilidade do Auditor Líder ..............................................................64 4.1.3 Responsabilidade da Gerência e Coordenação da Operadora ..................64 4.1.4 Responsabilidade dos Auditados .................................................................64 4.2 CARACTERÍSTICAS ..........................................................................................67 4.2.1 Aspectos Básicos da Auditoria.....................................................................67 4.2 2 Propósitos da Auditoria.................................................................................67 4.3 CLASSIFICAÇÃO DAS AUDITORIAS ...............................................................67 4.3.1 Quanto à Natureza..........................................................................................68 4.3.2 Quanto à Abrangência ...................................................................................68 4.3.3 Quanto à Análise Técnico Operacional ........................................................69 4.3.4 Quanto à Determinação .................................................................................70 4.3.5 Quanto à Abordagem .....................................................................................70 4.3.6 Quanto à Verificação Temporal.....................................................................71 4.3.7 Quanto à Escolha dos Auditores ..................................................................71 4.3.8 Quanto ao Resultado do Parecer ..................................................................71 5 PLANEJAMENTO DA AUDITORIA ........................................................................73 5.1 PLANOS ESTRATÉGICOS ................................................................................73 5.2 PLANO OPERACIONAL ....................................................................................73 5.3 A AUDITORIA E SUAS ETAPAS .......................................................................75 5.3.1 Fases de uma Auditoria .................................................................................76 6 ESTUDO DE CASO ...............................................................................................88 6.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................88 6.1.1 O Perfil da Empresa .......................................................................................88 6.1.2 Mecanismo e Objetivo da Pesquisa..............................................................89 6.1.3 Metodologia ....................................................................................................89 6.1.4 Diretrizes Gerais Aplicadas durante as Auditagens....................................91 6.1.5 Protocolo Adotado pela Empresa nos Tratamentos Selecionados para Auditoria...................................................................................................................94 6.1.6 As Ferramentas de Qualidade Utilizadas na Empresa em Estudo.............94 6.1.6 Qualificação exigida dos Auditores durante o Estudo de Caso ................96 6.2 O DESENVOVIMENTO DO ESTUDO DE CASO ...............................................97 6.2.1 Etapas..............................................................................................................97 7 ANÁLISE E RESULTADOS OBTIDOS ................................................................123 7.1 ASPECTOS INICIAIS........................................................................................123 7.2 ANÁLISE...........................................................................................................124 8 CONCLUSÃO.......................................................................................................138 REFERÊNCIAS.......................................................................................................146 APÊNDICES............................................................................................................150 ANEXO....................................................................................................................157 1 INTRODUÇÃO 1.1 ASPECTOS GERAIS O assunto “Auditoria odontológica em planos de Saúde”, será abordado com o foco em qualidade, apresentando conceitos gerais e terminologias aplicáveis à sua execução. Será exposto um breve panorama do sistema de saúde suplementar nacional, destacando peculiaridades referentes às facetas operacionais da auditoria dentro do controle interno do processo da empresa, bem como as legislações específicas envolvidas no mister da auditagem. Uma das ferramentas de qualidade mais eficientes para aprimorar um sistema de gestão é a Auditoria. Esta, quando bem aplicada, diagnostica não-conformidades no sistema avaliado. É importante destacar que estas avaliações devem ser executadas por profissionais capacitados, que apresentem além do conhecimento técnico-científico, atributos pessoais como imparcialidade, prudência e diplomacia, entre outros. As colocações e ações por parte destes profissionais devem ser embasadas por princípios científicos da especialidade a ser avaliada. O parecer emitido deve ser construtivo, no sentido de auxiliar a melhoria contínua do sistema de qualidade sobre os serviços da empresa. Para o desenvolvimento do trabalho, adaptou-se conceitos de gestão da qualidade e suas ferramentas aplicáveis ao campo de serviços em odontologia. 14 Destaca-se a eficiência do modelo proposto, nos seguintes aspectos: uso de uma lista de checagem pré-definida entre as partes, bem como a postura a ser desempenhada pelo auditor e sua habilidade frente ao auditado, já que muitas ocorrências de conflitos se iniciam na falta de uma estrutura comportamental e teórica por parte do profissional avaliador. As auditorias operacionais, quando bem conduzidas, podem proporcionar importantes informações à coordenação. Elas irão verificar se o que deve ser feito está realmente sendo feito (OLIVEIRA, 2002), tendo como objetivo principal fornecer dados para que a coordenação analise criticamente o seu sistema de qualidade e tome as decisões, determinando ações ou disposições sobre os resultados nãoconformes, diminuindo ou eliminando-os. Conseqüentemente, garante-se a continuidade operacional (sobrevivência) na área de negócios, frente às empresas concorrentes. Em relação à auditoria odontológica, é fundamental ter conhecimento do contexto atual do sistema de auditoria envolvido e seus possíveis conflitos, destacando-se o uso de um modelo padrão de avaliação e os atributos necessários do auditor para o seu bom desempenho. Este trabalho propõe: 9 Criar uma imagem positiva da empresa frente ao consumidor e a categoria profissional. 9 Abrir novos canais de comunicação e conhecimento, para reduzir os conflitos do segmento. 9 Melhorar o nível de serviço proporcionado pela empresa através de maior conhecimento das necessidades e satisfação dos clientes. 15 1.2 CONTEXTO DO SEGMENTO ODONTOLÓGICO DENTRO DO SISTEMA DE SAÚDE SUPLEMENTAR Com a finalidade de situar o segmento odontológico dentro do Sistema de Saúde Suplementar será abordado o seu contexto histórico, objetivando a maior compreensão do porquê da escolha do tema, trazendo à tela os problemas inerentes ao assunto, definindo o objeto de estudo, seus objetivos; hipóteses e a fundamentação teórica. 1.2.1 Histórico O agravamento da crise na rede pública de saúde, a partir da década de 80, abriu caminho para o desenvolvimento acelerado do mercado de seguros e planos privados de saúde no Brasil. A partir deste fato, ocorreu a adesão da população a chamada rede complementar, fazendo crescer a demanda por estes serviços, estimulando a proliferação destes planos (PERIN, 2001). Fatores como a estabilização da moeda (IBGE, 2002), crescimento da população de cirurgiões-dentistas (CFO, 2002), e diminuição da clientela particular, foram determinantes na última década, para que o segmento odontológico sofresse a sua maior transformação, na relação da prestação de serviços entre cirurgiões– dentistas e seus clientes. Este novo paradigma de relações fez surgir novas dificuldades dentro do segmento odontológico. Fruto da rápida transformação do sistema de saúde nacional, esta nova realidade de mercado, não permitiu, em tempo hábil, a formação de gestores, 16 responsáveis técnicos e auditores odontológicos capacitados em número suficiente para o mercado crescente, propiciando assim um contexto de muitos conflitos entre os dentistas operacionais e seus avaliadores “auditores”. Parafraseando Mário Chaves (1986), “na verdade a grande maioria dos profissionais do sistema odontológico não está qualificada para dirigir, coordenar ou organizar qualquer atividade cuja complexidade exija, além do bom senso, certo grau de tecnologia gerencial.” A partir do código de ética odontológica, aprovado em 1991, através da resolução CFO-179 (CFO, 2002), verifica-se a preocupação da classe em relação ao crescimento deste modelo de assistência no mercado de saúde, sendo evidenciados alguns artigos que focalizam as entidades prestadoras de serviços, bem como a rotina e o comportamento destes auditores frente à realização das avaliações de outros colegas. Até meados de 90, não havia regulação neste setor por parte do governo. A regulamentação deste setor ocorreu com a publicação da Lei federal nº 9.656 de 03 de junho de 1998, dispondo sobre os planos e seguros privados de assistências à saúde.(CIEFAS, 2000) Em 16 de agosto de 2001 é publicada a resolução 20/2001 do Conselho Federal de Odontologia, sendo esta a primeira normativa nacional em relação às auditorias e perícias em sede administrativas.(CFO, 2001) No dia 20 de maio de 2003 através da resolução CFO-42, é aprovado o novo Código de Ética Odontológico, fruto este originado do texto do relatório final da III Conferência Nacional de Ética Odontológica- III CONEO, realizada em dezembro de 2002. Nesta ocasião foram aprovadas mudanças no estatuto anterior, entre as quais, a inclusão dos incisos III e IV no capítulo IV, inciso I no Artigo 23º, e incisos 17 VII,VIII,IX e X no Artigo 24º do capítulo X, alterações estas em relação às auditorias e planos de saúde. 1.2.2 O Problema Nesse novo paradigma de mercado, no qual os elementos envolvidos são duplicados, pela interferência da operadora do plano de saúde e do seu auditor contratado, criam-se novos problemas no segmento odontológico, entre os quais, citamos as reclamações de dentistas operacionais surpreendidos pela falta de autorização prévia para a execução dos procedimentos que prescreveram, as alterações determinadas pelo auditor sobre a terapêutica proposta, os pagamentos de procedimentos realizados glosados ou suspensos a partir dos pareceres dos seus auditores, bem como a postura não ética destes auditores frente aos pacientes avaliados. Estas ocorrências são comuns nesta nova realidade, sendo preocupação constante dos profissionais operacionais conveniados ou referenciados, bem como dos dirigentes e representantes das autarquias de classe. Alguns autores se posicionam diante desta questão, tais como Peres (1997), ao relatar que várias empresas de convênio se acham no direito de elaborar regras, nem sempre éticas e dentro de preceitos legais. O cirurgião-dentista, convidado a participar como credenciado ou como perito ”auditor” entra no esquema sem saber seus direitos e deveres. O perito se coloca na posição de “dono da verdade” e o credenciado como um ”réu indefeso”. Angeletti (1999), relatou “o predomínio da não padronização das avaliações dos procedimentos odontológicos”. 18 Silva (1997), expôs o problema na tramitação de pareceres, conforme as regras legais e éticas vigentes, como também expressou entre as causas do mau relacionamento entre o auditor e o dentista operacional, o desconhecimento da legislação e dos preceitos éticos, a diversidade de códigos e nomenclatura, bem como modificações constantes de normas relativas aos convênios e a normalização inadequada de procedimentos técnicos por parte da entidade conveniadora. Para a classe odontológica, os auditores são os principais causadores dos conflitos, dadas às condições e às qualidades desse auditor. Deve-se levar em conta que, na maioria dos serviços de saúde, esta função é exercida por um profissional sem formação especializada. Silva afirma que “as ditas ‘perícias de convênios’ deveriam ser realizadas por dentista habilitado e conhecedor da matéria, haja vista que nem sempre o melhor especialista é o melhor perito” (SILVA, 1997). Outra área crítica dentro do processo de auditagem é a normativa ética para tramitação de documentos ”enviar relatório sigiloso e lacrado”. Na maioria das vezes, não se respeita esta diretriz, e quando feita, o lacre na maioria das vezes é rompido pelo paciente segundo Silva (1997). No entanto, ao documento ser lacrado, poderá ser interpretado como desconfiança em relação ao conteúdo do relatório. Com base nestes comentários, deve-se refletir sobre a origem dessas dificuldades, bem como a importância do uso normalizado de conceitos ético-legais em consonância com a utilização de ferramentas do sistema de garantia da qualidade, no controle interno de processo das empresas operadoras de saúde. Portanto, formatando um sistema normalizado único de ação e verificação sobre os serviços prestados por seus profissionais credenciados. A interação entre os 19 conceitos de qualidade e as normas legais aplicáveis ao campo da auditoria técnica odontológica forma um “modus operandi”, ou seja, um modelo de auditagem. 1.2.3 Objeto A matéria objeto do presente trabalho insere-se, exclusivamente, no contexto dos planos de saúde, dentro dos chamados mecanismos de regulação. Estes são definidos como “recursos adotados pelas operadoras de planos e seguros de saúde para controlar a demanda ou a utilização dos serviços assistenciais prestados aos consumidores” (RIZARDO, 1999). As operadoras de planos de saúde atualmente se encontram em fase de adaptação do seu produto frente ao mercado nacional, que as obriga a estabelecer serviços com alta competitividade, esquemas de verificação e controle de cada um dos seus processos inerentes a sua funcionalidade. Figura 1 - Ciclo de Vida do Produto - Modelo Padrão Fonte: Philip Kotler. Administração de Marketing. Prentice Hall, São Paulo, p. 327. 20 Dentro do sistema operacional integrado, o custo-efetividade é que proporciona a competitividade no mercado. Entre seus processos, o de auditoria é um ícone ainda mal trabalhado sendo comum à ausência de um protocolo uniforme quanto ao modo de auditar. Este ponto permite, que diversos critérios individuais, determinem o que é ou não aceitável no processo, sobrepondo a legislação legal em vigor. Além de que, ao auditarem os trabalhos dos colegas, muitas vezes, emitem pareceres de forma não ética, quando da verificação de uma não conformidade técnica. Por outro lado, verifica-se que a ausência de um protocolo técnico préacordado com a empresa do que é aceitável ou não, pode determinar que alguns cirurgiões dentistas operacionais executem procedimentos com baixa qualidade, ferindo assim os preceitos éticos, conceitos técnicos vigentes e o código de defesa do consumidor. Sabe-se que os procedimentos de má qualidade, intitulados “não-conformes”, apresentam uma vida útil menor, o que conseqüentemente, leva à repetição do trabalho, determinando assim o aumento do custo no beneficio oferecido pela empresa. Este fator é um complicador para a melhoria dos honorários dos profissionais da rede. Segundo Kaoru Ishikawa “pensando na qualidade em todas etapas, o resultado final é melhor e pode ser mais barato, uma vez que elimina todo o tipo de desperdícios, inclusive os de retrabalho” (apud MIDÃO, 1991). Por esses motivos, o objeto em estudo será o profissional auditor, quanto ao perfil desejável e sua postura frente às avaliações, e o uso de ferramentas da qualidade no método de avaliação padronizada. 21 1.2.4 Objetivos 1.2.4.1 Objetivo Geral O Objetivo geral deste trabalho é atualizar o profissional cirurgião-dentista com o perfil de auditor, dando os atributos inerentes ao seu papel e sistematizando uma prática de avaliação normalizada por parte desses auditores frente aos seus auditados. Este trabalho se desenvolve partindo da seleção das normas ética-legais e sua associação com conceitos de qualidade, aplicáveis ao campo da auditoria odontológica. Esta associação resulta na elaboração de um modelo padronizado de auditagem, onde além dos atributos e conhecimentos necessários para a função de auditor, é utilizada uma lista de verificação pré-acordada, a serem aplicadas como guia nas avaliações de serviços prestados. Será relatado um “estudo de caso” realizado na rede credenciada odontológica de uma grande empresa de telecomunicações, administrada por uma operadora do segmento de autogestão, cuja característica principal é a preocupação constante com os indicadores não financeiros. 1.2.4.2 Objetivos Específicos Fortalecer os conhecimentos sobre legislação e gestão da qualidade, aplicáveis ao mister da auditoria técnica odontológica, correlacionando-os aos esquemas contratuais vigentes aplicáveis no Sistema de Saúde Suplementar. Conhecer a ferramenta auditoria dentro da atividade da empresa e as técnicas auxiliares empenhadas em sua execução. 22 Analisar a utilização das técnicas e ferramentas da gestão empresarial, orientando assim o controle permanente e oportuno das atividades desenvolvidas pela organização em estudo e com fim a determinar o uso de seus recursos. Elaborar um método de Auditoria Odontológica Normalizada, o qual denominaremos de “AON”, embasado por conceitos de qualidade, preceitos éticos de classe, conceitos jurídicos e regras técnicas vigentes, formando uma diretriz no modo de auditar. Verificar a influência desta “AON” sobre os planos de tratamento solicitados e realizados nos beneficiários da empresa em estudo. Implementar o sistema de comunicação via Registro de Ocorrência de NãoConformidades - “RONCO”, com tramitação independente do paciente. Sugerir a eficácia dos procedimentos que abrangem o sistema de auditoria normalizada através dos registros de informações (sumário de evidência) em relação à lista de checagem pré-acordado entre os envolvidos no processo. 1.2.5 Questões e /ou Hipóteses Hipótese I - A auditoria odontológica fundamentada em gestão da qualidade, normas e conceitos ético-jurídicos, tornam o processo calibrado, diminuindo assim as possibilidades de conflitos entre as partes envolvidas, melhorando os indicadores não-financeiros? Hipótese II - A auditoria odontológica pode melhorar os indicadores financeiros, tais como redução dos custos da empresa e melhoria dos honorários dos profissionais credenciados? 23 Hipótese III - A utilização da metodologia proposta pode contribuir para o desenvolvimento da auditoria odontológica, principalmente ao demonstrar a aplicação prática dos conhecimentos teóricos afins relacionados? 1.2.6 Relevância do Tema Verifica-se que, com o aumento da demanda de serviços odontológicos no sistema de saúde suplementar, surgiu a necessidade de melhorar os processos de análise e de registro dos serviços prestados pela rede credenciada, no que concerne a emissão dos pareceres e postura dos auditores técnicos frente aos auditados. A justificativa para tais assertivas encontra-se apoiada nas seguintes situações: o aumento do número de reclamações nos órgãos competentes (CFO, 2001): sustentação da operadora dentro do mercado; crescente custo dessa assistência; a finitude dos recursos financeiros e a necessidade de melhoria contínua do processo. O aumento do número de reclamações nos órgãos competentes é expresso no texto da Resolução 20/2001, como uma das considerações motivadoras para a regulamentação das auditorias odontológicas em planos de saúde. Considerando que o crescimento do mercado de operadoras de planos de saúde, intermediadoras e congêneres e a mudança da relação profissional/paciente vêm aumentando o número de demandas éticas nos Conselhos Regionais envolvendo a atividade dos auditores” (CFO, Resolução 20/2001) 24 1.2.7 Fundamentação Teórica Como premissa ou pressupostos teóricos que embasam e fundamentam o tema, descreveremos os conceitos aplicáveis à auditoria odontológica. Foram selecionados alguns conceitos e ferramentas de gestão da qualidade, a Resolução 20 de 2001 do Conselho Federal de Odontologia/CFO e normas previstas nos Códigos de Ética Odontológica, formando assim as diretrizes teóricas para a obtenção de um modelo de auditoria normalizada. Considerando que a literatura no estágio atual, em áreas afins, apresenta conceitos de suma importância para as relações de conduta profissional neste universo em estudo, este trabalho se propõe a demonstrar e confirmar que estes conceitos, quando bem associados de maneira estruturada e aplicados de forma estratégica nas avaliações de procedimentos técnicos, determinam a melhoria do processo como um todo, viabilizando a continuidade do beneficio oferecido pela empresa nos aspectos operacionais e financeiros, podendo tornar-se um modelo referencial no processo de auditoria. Vale destacar que em relação à literatura referente a esta área específica não foi possível encontrar publicação significante nos diversos países referente a estudo de caso sobre o controle interno de processo e auditoria odontológica, exceção feita à Argentina e Colômbia, que através de suas Sociedades Nacionais de Auditores Odontológicos, publicaram alguns trabalhos técnicos, porém, não apresentando referências práticas (A .C.A. D. A .O, 2000). 25 1.2.8 Estruturação do Trabalho Este estudo abordará no capítulo 1 o contexto do segmento odontológico dentro do sistema de saúde suplementar onde serão apresentados: um histórico, a relevância, os principais problemas, o objeto de estudo, questões e hipóteses, os objetivos e a fundamentação teórica deste trabalho. No segundo capítulo apresentará a revisão da literatura enfocando os conceitos, as facetas, os reguladores de ação e as terminologias aplicadas no segmento de saúde suplementar sobre as avaliações de serviços odontológicos. O terceiro capítulo tratará dos conceitos de gestão da qualidade e ferramentas aplicáveis à auditoria odontológica. O universo da auditoria, seus atores e as principais funções envolvidas farão parte do quarto capítulo. O quinto capítulo abordará o planejamento estratégico e as etapas operacionais da auditoria. O sexto capítulo conterá o estudo de caso que serviu de base para a realização deste trabalho, bem como a exposição dos resultados obtidos. Finalmente, serão apresentadas a análise e a conclusão do trabalho, bem como suas possíveis utilizações, nos sétimo e oitavo capítulos, respectivamente. 2 O SISTEMA DE SAÚDE SUPLEMENTAR ODONTOLÓGICO A terminologia mais utilizada no Brasil, para referenciar as avaliações feitas sobre os trabalhos odontológicos, com vista à regulação da qualidade dos serviços executados pelos profissionais credenciados das empresas operadoras de saúde, é “Perícia”. Porém, vamos referenciá-las como ”Auditoria”. Pois, o conceito teórico de Perícia, diverge da realidade e da aplicação nos players de mercado em relação ao exame realizado para o controle de processo interno das operadoras de saúde. Fundamentação esta, reforçada pela definição terminológica conceitual adotada para o sistema de regulação e análise de serviços e produtos. Silva (1997), destaca que embora a legislação tenha estabelecido a chamada perícia administrativa, que se refere a exames realizados nessa esfera, na prática diária, tratando-se de exames ligados às relações decorrentes dos convênios, seria melhor e mais prudente a utilização dos termos “avaliação” ou “auditoria”, para não serem confundidos com a perícia em âmbito jurídico. O autor ainda faz referência ao aspecto de que esse tipo de trabalho deverá ser realizado por um cirurgião-dentista afeito às atividades de auditoria, haja vista que nem sempre o melhor especialista é o melhor auditor. 27 O Código de Ética Odontológico (Resolução/CFO 179/1991), inclui no seu Capitulo IV, os termos auditoria e perícia, visando abranger os dois tipos de servidão no processo de análise. Esta diferenciação é confirmada no capítulo X do mesmo estatuto, onde o Art. 21 inciso III expressa “manter auditorias”, estas vinculadas às entidades prestadoras de atenção à saúde bucal (Clínicas, cooperativas, empresas e demais entidades prestadoras e/ou contratantes de serviços odontológicos). Estas colocações feitas no estatuto ético da classe odontológica confirmam que as análises em âmbito de planos de saúde têm por finalidade principal manter a qualidade “técnico-científica” dos trabalhos realizados. (Art. 21, Inciso I). A Resolução 20/2001 do Conselho Federal de Odontologia expressa claramente na maioria dos seus artigos uma divisão, tendo o predomínio de normas éticas específicas aplicáveis aos auditores em relação aos peritos. De acordo com o exposto, se estabelece a diferença básica entre as terminologias objetos da análise. Ainda será abordado um breve panorama do quadro atual do Sistema de Saúde Suplementar Odontológica no Brasil com suas segmentações e principais características, referenciando a legislação e ética aplicável, expondo conceitos de perícia, auditoria de qualidade, auditoria odontológica, controle interno e as principais ferramentas de gestão, aplicáveis ao mecanismo de regulação dos programas de gestão total da qualidade em planos de saúde no Brasil. 2.1 SISTEMA DE SAÚDE NACIONAL O sistema de saúde no Brasil adota um modelo composto por dois tipos de serviços, o serviço Público e o serviço Privado. O primeiro é responsável por 74% de 28 todo sistema nacional, através do SUS - Sistema Único de Saúde e, o segundo é coberto pelo serviço privado, denominado Serviço Suplementar de Saúde–SSS. (TOMAZ, 2001) O Sistema Suplementar é formado por empresas, denominadas Convênios, que são custeados diretamente pelo indivíduo ou pela empresa empregadora ou ambos na forma participativa, sendo seu universo apresentado na Figura 2. Seguradora Autogestão Odontologia de Grupo Cooperativa OPERADORA DE PLANO DE SAÚDE AUDITORES CLIENTES >Internos >Externos DENTISTAS OPERACIONAIS REDE DIRIGIDA FUNCIONÁRIOS/ DEPENDENTES ASSOCIADOS SEGURADOS >Credenciados > Referenciados > Cooperados LIVRE ESCOLHA > Particular (reembolso) Figura 2 - Universo do Sistema de Saúde Suplementar Fonte: Elaborado pelo autor 29 2.1.1 Segmentos Conforme definição expressa na Lei 9656/98 (ANS,2002) estes planos são segmentados dentro do sistema de saúde suplementar em cooperativas, seguradoras, odontologia de grupo e autogestões. As empresas incluídas no segmento de autogestão têm um caráter diferenciado das demais, já que não têm finalidade lucrativa. Assim, cabe apresentar breve descrição do que seria cada um destes segmentos. Cooperativas Odontológicas: Na concepção desse segmento, os Dentistas são ao mesmo tempo sócios e prestadores de serviços, recebendo proporcionalmente à sua produção, por tipo e qualidade de atendimento. Também participam do rateio de resultado positivo final, obtidos pelas unidades (CIEFAS, 2000). Conforme a Lei, são sociedades de pessoas sem fins lucrativos constituídas conforme o disposto na Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que operam exclusivamente planos odontológicos (ANS-RDC 39/2000). Seguradoras: O seguro saúde é concebido com as mesmas conceituações dos demais seguros, tem como objetivo o pagamento de despesas medicas ou odontológicas realizadas pelo segurado, seja via reembolso ou diretamente aos profissionais referenciados. Pode ser contratado por pessoas físicas ou por pessoas jurídicas, não se confunde com planos de saúde oferecidos por empresas de prestação de serviços ou cooperativas de profissionais da área de saúde, é regido atualmente por um conjunto de normas especiais, mais claramente definidas que as genéricas no âmbito dos seguros. Odontologias de Grupo: Conforme definição estabelecida na RDC nº 39, Odontologia de Grupo é toda e qualquer empresa ou entidade que opere exclusivamente planos odontológicos, desde que não sejam cooperativas 30 odontológicas. Ou seja, são pessoas jurídicas de direito privado, com ou sem fins lucrativos (ANS/2002). Autogestão: Classificam-se na modalidade de autogestão as entidades que operam serviços de assistência à saúde ou empresas que, por intermédio de seu departamento de recursos humanos ou órgão assemelhado, responsabilizam-se pelo Plano Privado de Assistência à Saúde destinado, exclusivamente, a oferecer cobertura aos empregados ativos, aposentados, pensionistas ou ex-empregados, bem como a seus respectivos grupos familiares definidos, limitado ao terceiro grau de parentesco consangüíneo ou afim, de uma ou mais empresas, ou ainda a participantes e dependentes de associações de pessoas físicas ou jurídicas, fundações, sindicatos, entidades de classes profissionais ou assemelhados. (ANSRDC 39/2000) 2.1.2 Agência Nacional de Saúde Suplementar Outro marco importante foi à criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS, através da Lei 9.961 de 28 de janeiro de 2000, alterada pela medida provisória nº 2.177-44 de 24 de agosto de 2001. Esta Agência é uma autarquia sob o regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde, tendo atuação em todo território nacional, como órgão de regulação, normatização, controle e fiscalização das atividades que garantam a assistência suplementar no Brasil. Este órgão regulador age principalmente através de resoluções expressas, impondo às operadoras de planos e seguros, a atuarem de forma calibrada, visando principalmente resguardar os direitos dos seus associados, em relação ao tipo de cobertura contratada. 31 Porém, a Agência Nacional de Saúde - ANS tem sua ação limitada no que concerne à fiscalização sobre a qualidade final de serviços prestados pelos profissionais vinculados às operadoras de saúde. Esta responsabilidade é dos Conselhos de Classe. No entanto, algumas ações já foram determinadas pela ANS, entre as quais, a obrigatoriedade do registro do responsável técnico do plano de saúde junto ao Conselho Regional de Odontologia - CRO. A médio prazo, este registro certamente afetará o sistema de forma positiva, no que concerne à regulação sobre a qualidade de serviços prestados pelas operadoras, pois quando um plano de saúde não é inscrito no Conselho Regional de Odontologia-CRO, este fica impossibilitado de agir sobre ações não éticas praticadas, não podendo orientar, fiscalizar e punir, quando necessário, o cirurgiãodentista contratado para o mister de auditar (CFO, 2002). Na América latina, existem diversas Sociedades, como a Colombiana de Auditores Odontológicos - S.C.A.O., e a Sociedade de Auditores Odontológicos da Argentina - S.A.O.A., que fazem um Trabalho especial nas diferentes entidades prestadoras de Serviços de Saúde dos seus Países, diferentemente do que ocorre no Brasil, onde ainda não existe uma instituição que desenvolva trabalhos de educação contínua e publicações de trabalhos específicos na área de auditoria odontológica. 2.2 A DIFERENÇA ENTRE A TERMINOLOGIA ADEQUADA E A UTILIZADA NA PRÁTICA Muitos autores brasileiros e empresas do segmento de saúde suplementar nacional usam o termo ”Perícia” para referenciar o ato de avaliação sobre serviços odontológicos de uma rede credenciada ou conveniada. Mas em termo, a palavra 32 diverge da finalidade de sua aplicação prática. A perícia em termo é o exame realizado com o objetivo de esclarecer fatos a autoridades judiciais “Juiz ou delegado”, para que essas informações auxiliem na tomada de uma decisão jurídica. Em contrapartida, a auditoria é um fator de regulação, focando somente tomadas de decisão para melhoria e controle de qualidade dos serviços e produtos prestados, diferenciando assim, da conotação jurídica do ato pericial. Estes conceitos serão especificados de maneira mais detalhada no item 2.2.1. Conforme relato de Rojas (2002), a “Auditoria Odontológica é uma função organizacional com caráter de assessoria, não decidindo, só recomendando”, e é encarregada de avaliar, “verificar e diagnosticar” o funcionamento do sistema do controle interno de toda organização, proporcionando assim informações para retroalimentação do processo. Estes dados orientam a gerência a tomar decisões, que permitam melhorar a posição da organização, fundamentando seus processos de sustentação. Como podemos concluir, a auditoria é uma função de serviço, pois deve estimular boas relações com todos envolvidos, tendo como base, o exercício real de assessoria, ao contrário da sua tradição policial, denominada ”Perícia”. Neste momento, torna-se importante apresentar algumas definições de Perícia e Auditoria, com intuito de demonstrar os diferentes enfoques. 2.2.1 O Que é Perícia? Conforme definição de Leite (1962), a ”Perícia odontolegal é toda a sindicância promovida por autoridade policial ou judiciária, acompanhada de exame em que, pela natureza do mesmo, os peritos são ou devem ser cirurgiões-dentistas”. 33 Flamínio Fávero, estabelece que “os peritos são pessoas entendidas e experimentadas em determinados assuntos e que, designados pela justiça, recebem a incumbência de ver e referir fatos de natureza permanente cujo esclarecimento é de interesse num processo” (FLAMÍNIO FÁVERO apud ARBENZ, 1959) Conforme estas duas citações do conceito “perícia”, verifica-se desde 1933 Lima (1933 apud PERES, 1997), Alcântara (1982), Silva (1997), que esta terminologia é mais utilizada e indicada para avaliações de interesses policiais e judiciais. Samico admite que as chamadas ”auditorias” se tipificam por exames que têm caráter pericial (SAMICO, 1993 apud PERES, 1997). 2.2.2 O Que é Auditoria? Existe uma grande variedade de definições para a terminologia “auditoria”, sendo muito comum na língua inglesa, havendo muitos significados, conforme sua aplicação (MILLS, 1994) O dicionário Oxford define o termo ”auditoria” como sendo um substantivo aplicável ao campo da qualidade. Relatamos aqui o conceito da norma internacional estabelecida pela Internacional Organization for Standardization (organização internacional para normalização): ISO 8402-1986 intitulada quality vocabulary, define como auditoria da qualidade “Um exame sistemático e independente para determinar se as atividades da qualidade e respectivos resultados estão de acordo com as providências planejadas e se estas providências são implementadas de maneira eficaz, e se são adequadas para atingir os objetivos”. (MILLS, 1994) 34 Conforme a definição retirada da norma nacional canadense (CAN-CSAQ395-1981, Quality Audits): “Auditoria é um processo de avaliação humano para determinar o grau de observância e cumprimento de padrões estabelecidos (critérios, normas) que resultam num parecer”. (MILLS, 1994) Segundo Mills (1994), a auditoria avalia a documentação e as operações resultantes em relação a alguma norma ou especificação predefinida. Seu resultado é o relatório de suas observações, seguido em alguns casos de solicitações de algumas ações corretivas. Pode-se definir auditoria como um exame e/ou avaliação independente, relacionada a determinado assunto, realizada por especialista no objeto do exame, que faça uso de julgamento profissional e comunique o resultado aos interessados “clientes” (D’AVIGNON, 2001). Não se deve confundir auditoria com fiscalização. É importante observar que auditoria é um exame ou avaliação sistemática e independente que identificará as conformidades e as não-conformidades do auditado (D’AVIGNON, 2001). A auditoria, em termos gerais, é uma atividade que engloba o exame das operações, processos, sistemas e responsabilidades gerenciais de uma determinada entidade, com intuito de verificar sua conformidade com certos objetivos, orçamentos, regras, normas e padrões. 2.2.3 O Que é Auditoria Odontológica? A Auditoria Odontológica é uma disciplina científica que se desenvolve de maneira considerável dentro do mercado de planos de saúde, principalmente na última década. 35 Como produto das mudanças estruturais que tem ocorrido no setor de saúde, a raiz da incorporação dos conceitos básicos do processo administrativo ao exercício profissional do odontólogo, começa-se a falar com mais freqüência sobre os temas relacionados ao controle interno do processo. Entendendo que praticamente todo ato humano leva implícito em certa medida, controle e autocrítica, é importante diferenciar qualquer intento empírico do método científico. A auditoria é aplicada para avaliar e analisar de maneira pro ativa os distintos momentos do serviço odontológico. Segundo Rubio (1995), auditoria médica é a análise retrospectiva dos resultados da atividade dos profissionais médicos, realizadas por pessoal de similar qualificação ou com maior experiência, tendo como objetivo principal avaliar a qualidade e quantidade de atenções prestadas por aqueles, em relação a bases deontológicas1 e profissionais aceitáveis. Por outro lado, Mata, Martos y Anzaldi (1996), definem auditoria odontológica como "a confrontação dos serviços prestados com a norma estabelecida para chegar a um relatório de auditoria". Assim, o auditor odontológico se desenvolve em um campo de ação amplo e que compete distintas funções, entre as quais podemos identificar: análise da situação de saúde bucal da população coberta, identificação das necessidades e expectativas do usuário frente ao serviço odontológico, análises da oferta odontológica, evolução dos serviços de saúde, levantamento da qualidade dos serviços, etc. 1 Deontológia- Termo utilizado para designar o conjunto de deveres que se impões “em uma situação social determinada”. Atualmente esta palavra é mais empregada para designar os deveres de uma atividade profissional. Mota, S.N. Ética e via profissional. Editora Âmbito, p. 68, 1984. 36 2.3 AUDITORIA: UM ELEMENTO ESSENCIAL DO CONTROLE INTERNO A prática da auditoria em serviços de saúde está sendo implementada pouco a pouco dentro do funcionamento dos sistemas de controle interno-SCI, de nossas entidades, especialmente nos planos de saúde, evidenciando as verdadeiras funções do auditor e sua importância na engrenagem do sistema de garantia de qualidade em saúde. As terminologias “Auditoria e Controle Interno” freqüentemente têm sido utilizadas como sinônimos. Representam na realidade operacional, situações diferentes, porém complementares, sendo a auditoria um elemento essencial do controle interno. Segundo Rojas (2002), o controle interno corresponde ao sistema integrado da organização, de acordo com a concepção tradicional, focando e permitindo a organização a funcionar e exercer adequadamente o processo de gestão. A responsabilidade por sua difusão, implantação e manutenção é do gerente, diretor ou representante legal da organização de saúde. 2.3.1 Avaliação e Controle na Auditoria - “Princípios de Rojas” É necessário avaliar permanentemente o desenrolar das ações dos auditores envolvidos no processo, com o propósito de melhorar seu desempenho. A operadora deve assegurar que os profissionais “auditores e dentistas operacionais” que integram o sistema, não sejam tratados como simples recursos. 37 O desconhecimento dos aspectos humanos e culturais, implica em desorientação no exercício da função da auditoria, determinando assim o maltrato, sobre o auditado. Cada pessoa é um ser único que pode ser moldada, para que possa adaptarse às condições organizacionais a que pertençam, cumprindo dessa maneira com os objetivos e diretrizes estabelecidas pela organização. Os objetivos são a satisfação do cliente e o fornecimento de produtos e serviços que atendam aos requisitos regulamentares e dos clientes ao menor custo possível. 2.4 PARTICULARIDADES DO SISTEMA DE SAÚDE SUPLEMENTAR A complexidade que envolve o sistema de saúde suplementar odontológico está longe de ser resolvida, pois de forma bem resumida, podemos dizer que os atores envolvidos são o beneficiário do ato odontológico (paciente); aquele que dá as ordens e presta o serviço dentro do consultório particular, clínica ou hospital (dentista); aquele que paga os dentistas pelos serviços prestados (operadora do plano de saúde) e aquele que contrata o plano de saúde (empresa ou indivíduo), como pode ser visto a seguir na Figura 3. Estamos, portanto, falando de um mercado peculiar e imperfeito, com forças específicas, no qual qualquer ação fundamentada em uma visão sistêmica. isolada deve obrigatoriamente estar 38 Empresa Dentista Operacional Auditor Beneficiário Figura 3 – Atores envolvidos no Sistema de Saúde Suplementar Fonte: Elaborado pelo autor 2.5 FACETAS ENVOLVIDAS O empirismo o “achismo” são facetas constantes na ação de alguns agentes do universo em estudo. O dito ”poder de decisão”, muitas vezes é exercido de forma impositiva, coercitiva e sem transparência, não permitindo à outra parte o direito de defesa. A faceta da parcialidade é alimentada pelo desconhecimento da legislação e preceitos éticos, comprometendo assim, as inter-relações entre os atores envolvidos no sistema. A falta de um protocolo pré-acordado entre as partes, do que é aceitável ou não sobre procedimentos técnicos, não cria limítrofes de ação, permitindo que seus auditores utilizem parâmetros individuais e dedutivos durante a análise e declaração das avaliações técnicas. Esta faceta facilita muito à ocorrência de conflitos entre os cirurgiões-dentistas ativos no processo. 39 Todas as facetas citadas são fatores que prejudicam a imagem da profissão frente à sociedade, além disso, muitas vezes o paciente fica com receio do trabalho recebido, duvidando quanto à sua qualidade, quando o auditor faz criticas ou altera seu semblante facial durante a execução da auditoria clínica. É importante frisar que a baixa qualidade dos trabalhos odontológicos determina a redução da vida útil destes, causando alta incidência de retratamento e conseqüentemente determinando desperdício de recursos financeiros da empresa, que poderiam ser revertidos para melhoria dos honorários dos próprios profissionais conveniados e para o aumento de cobertura no rol de procedimentos para os usuários do plano. Após traçar o campo conceitual do trabalho, será demonstrado, através de um estudo de caso, um modelo de auditoria odontológica normalizada, aplicada em uma rede operacional de autogestão. Modelo este, que determinou a melhoria significativa dos indicadores não financeiros e financeiros da empresa em estudo. 2.6 COMPLICADORES DO SISTEMA DE SAÚDE SUPLEMENTAR Silva (1997) diz em seu texto que ”o consultório não é um tribunal onde se deve julgar o trabalho de um colega”. Cabe verificar, em um exame inicial, se o plano de tratamento está adequado aos padrões do convênio e, em um exame final, se o plano de tratamento foi cumprido. Caso haja um problema técnico, este deverá ser resolvido entre os profissionais, e nunca na presença do paciente ou de terceiros. Angelleti (1999), declara que cada empresa desenvolve seus próprios métodos de avaliação, e não há padronização e nem sempre prevalece o bom senso. As perícias devem ser encaradas como um apoio ao profissional e nunca 40 como um ato intimidatório. Cita que as infra-estruturas de perícias de algumas empresas são invejáveis, porém a calibração dos peritos é fundamental, para o bom desempenho de suas funções. Deve-se observar o direito de defesa do cirurgiãodentista, antes da glosa ser efetuada, pois os procedimentos odontológicos são passíveis de análises detalhadas, pois não envolvem situações de vida e morte comuns na parte médica. Sabendo-se que as auditorias são ferramentas de controle, implantadas pela administração de forma voluntária ou imposta por norma de qualidade. Esta quando devidamente conduzida, constitui um processo positivo e construtivo, não é só a decisão de aceitar ou rejeitar tratamentos, mas sim de orientar, quando da verificação de uma não-conformidade, implementando e acompanhando as ações corretivas no processo. Há uma conotação negativa, e sentimentos existem em decorrência do abuso do processo de auditoria, quando é usada para estabelecer culpa ou determinar ações punitivas (MILLS, 1994). Devido à conotação negativa tradicional do controle e particularmente da auditoria, há um desconhecimento do papel de assessor, no controle e particularmente na auditoria. Conseqüentemente, esta conotação permite que se perca o valioso canal de informação que poderia ser oferecido às partes envolvidas. Esta concepção permite a organização reconhecer a importância das pessoas que a formam, orientando definitivamente a rota dos processos de qualidade e melhoramento contínuo, eliminado assim, o controle externo de cada pessoa. Com essa prática, que é eminentemente gerencial, poderá ajustar a suas condições e necessidades, adequando retroalimentam efetivamente. os processos assessores da auditoria que a 41 2.7 REGULADORES DE AÇÃO Reguladores de ação para estas ocorrências existem, porém são de pouca observância por parte das operadoras de planos de saúde e principalmente dos seus auditores contratados. Entre os reguladores de ação, citaremos o legal e o comportamental. O legal de classe é expresso na Lei 5.081/66, no Código de Ética Odontológica, na Consolidação das Normas para Procedimentos dos Conselhos de Odontologia e na resolução 20/2001 emitida pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO, 2002). O comportamental é vinculado diretamente aos atributos pessoais necessários para a função, sendo a atitude uma condição interna própria de cada pessoa, que tem sua origem desde o nascimento e vai se modificando à medida que cada qual vivencia as diversas fases de sua vida. Portanto, a atitude pode ser regulada à vontade, para manter relações estáveis e positivas com as pessoas envolvidas no processo. O êxito do desempenho pessoal se fundamenta no eixo de poder controlar a sua atitude, apesar das variações ocasionadas em seu torno, sendo esta a base do autocontrole. (ROJAS, 2002) 2.7.1 Regulador Legal A legislação específica envolvida na auditoria está inclusa na Lei Federal 5.081/66, Resolução 20/2001 do Conselho Federal de Odontologia, Consolidação das Normas para Procedimentos nos Conselhos de Odontologia - CNPCO e Código de Ética e, que devido à sua importância, serão apresentadas a seguir. 42 2.7.1.1 Lei Federal A Legislação Federal, através da Lei 5.081, regula o exercício profissional da odontologia em todo território nacional, estabelecendo no seu art.6o, inciso IV, o campo de atuação: “proceder à perícia odontolegal em foro cível, criminal, trabalhista e em sede administrativa”.(CFO, 2002) 2.7.1.2 Resolução do Conselho Federal de Odontologia Através da Resolução CFO 20/2001, o Conselho Federal de Odontologia normatizou as Perícias e Auditorias em sedes administrativas e devido à sua importância constará do Anexo A. 2.7.1.3 Código de Ética Odontológica São transcritas as normas contidas no Código de Ética Odontológica (CFO, 1991) referentes às auditorias e perícias odontológicas: Constitui infração ética (capítulo IV, Diz no artigo 5O) I- deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para servir como perito ou auditor, assim como ultrapassar os limites de suas atribuições e de sua competência; II- intervir, quando na qualidade de auditor ou perito nos atos de outro profissional, ou fazer qualquer apreciação na presença do examinado, reservando suas observações, sempre fundamentadas, para relatório sigiloso e lacrado. 43 No artigo 19, diz que as clínicas, cooperativas, empresas e demais entidades prestadoras e/ou contratantes de serviços odontológicos aplicam-se ás disposições deste capitulo e as normas do Conselho Federal de Odontologia. No Artigo 21, diz que as entidades mencionadas no artigo 19 ficam obrigadas a: “I- Manter a qualidade técnico-científica dos trabalhos realizados; III- Manter auditorias odontológicas constantes, através de profissionais capacitados.” O Artigo 22 diz que, Constitui infração ética: “II-Oferecer tratamento abaixo dos padrões de qualidade recomendáveis.” Pelo conteúdo expresso no texto ético do Código de Ética Odontológica-CEO, aprovado pela Resolução CFO-179, de 19 de Dezembro de 1991, e alterado pelo regulamento Nº 01 de 05-06-98, verifica-se a preocupação da categoria profissional frente às empresas operadoras de plano de saúde em relação à manutenção da qualidade dos serviços oferecidos. A qualidade dos serviços prestados pelos profissionais é o principal objetivo da auditoria odontológica expressa no texto ético do estatuto de classe. Ela visa principalmente, monitorar e supervisionar os trabalhos realizados por seus dentistas vinculados, com o objetivo de manter a qualidade técnico-científica dos trabalhos realizados. 2.7.1.4 Consolidação das Normas para Procedimentos nos Conselhos de Odontologia - CNPCO A consolidação das normas para Procedimentos nos Conselhos de Odontologia - CNPCO, expressa a competência dos especialistas nas diversas áreas, entre as quais se destaca para o mister da auditagem: a Odontologia Legal, a 44 Odontologia Coletiva e a Odontologia do Trabalho, especialidades estas, que apresentam no seu conteúdo programático, assuntos que embasam a auditoria. Destacam-se os seguintes artigos e alíneas, referente às duas primeiras especialidades (CNPCO, 1997, pág 29 e 30): Art. 54. parágrafo único. A atuação da Odontologia Legal restringe-se a análise, perícia de eventos relacionados com a área de competência do cirurgião-dentista; Art.55. Das áreas de competência para atuação do especialista em Odontologia Legal destacam-se as seguintes alíneas: c) Perícias em áreas administrativas; f) elaboração de pareceres e relatórios. Art. 45. Saúde coletiva é a especialidade que tem como objetivo o estudo dos fenômenos que interferem na saúde coletiva, por meio de análise, organização, planejamento, execução e avaliação de sistemas de saúde, dirigidos a grupos populacionais, com ênfase na promoção de saúde. Art. 46. Das áreas de competência para atuação do especialista em Saúde Coletiva destacam-se as seguintes alíneas: b) elaboração e execução de projetos, programas e/ou sistemas de ação coletiva ou de saúde pública visando à promoção, ao restabelecimento e ao controle da saúde bucal; c) participação, em nível administrativo e operacional de equipe multiprofissional. Art. 30. Odontologia do Trabalho é a especialidade que tem como objetivo a busca permanente da compatibilidade entre a atividade laboral e a preservação da saúde bucal do trabalhador.(CFO/CNPCO, 1993) 45 Com aprovação da Odontologia do Trabalho em 2002 foi criada a disciplina específica ”Auditoria”, passando assim a fazer parte do conteúdo programático de um curso em nível de especialização. 2.7.2 Regulador Comportamental 2.7.2.1 Definição do Perfil do Auditor O perfil profissional é definido segundo as características de naturezas técnica e comportamental. Sendo assim, chega-se ao perfil desejado, cuja às exigências recairão sobre a pessoa que pretende ocupar uma determinada profissão. Para a realização de uma boa auditoria, a atuação, a experiência, o comportamento e a postura do auditor são tão importantes quanto os conhecimentos técnicos. Os auditores devem ter um perfil adequado para exercer sua função, por apurarem os fatos, administrarem o tempo e as pessoas, que têm sentimentos e necessidades de vida como todo ser humano. Durante o processo de auditoria, a comunicação verbal e a percepção dos auditores são muito importantes. 2.7.2.2 Principais Características de um Auditor Apresentam como as principais características de um auditor ter conhecimento técnico, ético, cultural, integridade moral e honestidade de propósitos; sólida constituição emocional para suportar as vicissitudes inerentes à própria função; ser notoriamente reconhecido e respeitado pela sua experiência e conhecimento; ser hábil no relacionamento humano, na comunicação oral, escrita e 46 bom ouvinte; ser observador, organizado, discreto, educado, persistente, objetivo, prudente, cuidadoso, com personalidade; ter capacidade de análise e de trabalhar em grupo. O êxito de uma auditoria muitas vezes está ligado à atitude do auditor. Portanto, vale destacar algumas considerações básicas importantes a serem seguidas durante o processo de auditoria: • Evite surpresa, analise de imediato com o dentista operacional, as nãoconformidades encontradas no tratamento avaliado, com o intuito de esclarecer as discordâncias; • Seja discreto, tolerante, polido, educado, persistente, objetivo, prudente, cuidadoso e com personalidade; • Seja flexível e capaz de conduzir uma ampla variedade de relações pessoais (habilidade no relacionamento humano); • Busque evidências objetivas. Evite opiniões pessoais e, sobretudo, baseie-se em fatos concretos que possam ser demonstrados através dos requisitos da norma aplicável ou procedimentos documentados; • Privilegie o sentido ético e a confiança. Seja objetivo em suas análises e suas explicações. Não tenha receio de defender o que para você é verdade, e está consubstanciada através de evidências objetivas; • Seja hábil na comunicação oral e escrita, organizado e pontual; • Motive os profissionais auditados a melhorar a qualidade. Não perca a oportunidade de mostrar aos auditados que as não-conformidades identificadas tem como objetivo propiciar a melhoria e efetividade dos serviços oferecidos , e não buscar penalizar os profissionais por falhas; 47 • Seja persuasivo. Convença, porém, evite impor sua opinião. Mostre aos dentistas operacionais os riscos das não-conformidades relativas à qualidade, e convença-os a adotar ações que previnam a ocorrência de nãoconformidades potenciais. 2.7.2.3 Qualidades Profissionais que Requer todo Auditor Odontológico Para um bom desempenho da função de auditor, este deve contar com um amplo nível de experiência em assuntos de auditoria, com formação técnica em auditoria, visão técnica nas diversas especialidades, em sistemas de informações; conhecimento dos aspectos legais; ter critério e juízo profissional para determinar que procedimentos são necessários de acordo com as circunstâncias; ter lealdade para com a instituição que trabalhe; demonstrar licitude e honradez a toda prova e em todos seus atos; ser construtivo e positivo em suas apreciações, ter equilíbrio e facilidade nos relacionamentos interpessoais. Fazer sugestões e assessorar para melhorar dos níveis de eficiência em sua organização. 2.7.2.4 Auditores e Auditados: Relacionamento Interpessoal e Conflitos O equilíbrio é fundamental para o relacionamento no universo em estudo, pois a cada análise do auditor é uma situação diferente a ser vivenciada. A empatia está vinculada diretamente ao modo pelo qual o auditor expressa sua posição de análise. Portanto, a comunicação deve ser prudente e bem clara, para não deixar dúvidas ao profissional auditado. A princípio, as pessoas são contrárias e avessas a qualquer tipo de avaliação, pois têm o receio que seja só para identificar suas falhas. Muitas vezes o auditor é 48 visto como alguém que está ali só para criticar o esquema de trabalho prestado ao paciente, e para punir o profissional pelos seus erros. Ao lado de histórias de sucesso existem muitos fracassos. Os diagnósticos variam de acordo com o comportamento tanto dos auditores quanto dos auditados. Sentimentos de medo e estresse são fatores que podem atrapalhar o desempenho de uma auditoria, podendo gerar resultados negativos. No quadro 1 se relacionam os principais problemas, as soluções propostas e os meios para chegar aos resultados. PROBLEMA SOLUÇÕES PROPOSTAS MEIOS Auditoria vista Esclarecer o sentido real da Através de reuniões e negativamente como auditoria:a qualidade informativos com os dentistas atividade de busca de erros, credenciados e auditores. para determinar punições aos dentistas operacionais. via e-mail, telefone e cartas. Lembrar a estes, que uma Dentistas operacionais, boa documentação, pode dificultam ou não enviam os facilitar a análise e documentos e informações complementares solicitados, aprovação de atos por parte do auditor. para o auditor (Ex: RX, laudo ou outros). Através de reuniões e Explicar os objetivos da Descontrole emocional do informativos via e-mail, auditoria, informando que dentista operacional, temendo ser punido por não- qualquer dúvida poderá ser telefone, cartas ou diretamente com o auditor. analisada e esclarecida.. conformidades diagnosticadas ou questionamento quanto aos pareceres emitidos pelo auditor Treinamentos e reuniões Comunicação das nãoO não sigilo do auditor conformidades,através do quando da redação do uso de códigos de nãoparecer de nãoconformidades préconformidades estabelecidos entre as partes, contidos em um manual. Reuniões, treinamentos e Implementação de um Os auditores se acham avaliações periódicas. manual de postura e donos da verdade, avaliando legislação, bem como de com base no seu senso clínico e/ou criticando frente uma lista de checagem a ser utilizado durante as ao paciente avaliado avaliações. Quadro 1 - Problemas comportamentais mais comuns, propostas de solução e meios Fonte: Elaborado pelo autor 49 2.7.2.5 A Atuação dos Auditores e a Ética Profissional A atuação dos auditores está regida por princípios éticos profissionais onde se deve levar em conta, além da sua responsabilidade, um compromisso incondicional de comportamento honrado. É responsabilidade dos auditores cumprir com os seguintes princípios éticos, no exercício de sua função: independência, integridade e objetividade. O auditor deve ter independência de critérios, ser integral, ter competência. Deverá observar e cumprir as normas técnicas da Odontologia e melhorar a qualidade e competitividade de seus serviços. Deverá ter responsabilidade para com seus colegas, atuar de forma que fomente a união, a cooperação e as boas relações entre companheiros de trabalho e colegas; abster-se de formular sem justa causa, conceitos e opiniões que tendam a prejudicar ao colega. Não deverá, em nenhuma circunstância, aceitar obséquios por assuntos relacionados com seu trabalho; O auditor será prudente no uso da informação que obtenha no desenvolvimento de seus deveres. Não usará a informação para benefício pessoal, nem informar a quem possa prejudicar a organização ou o auditado. Todo auditor deverá cumprir com as funções que lhe são designadas e outras responsabilidades e práticas. Deverá atuar de maneira que realce o prestígio de sua empresa e de sua respectiva dependência. Não havendo caso omisso, este raciocínio acima, assegurará que o dia-a-dia da auditoria transcorra e seja um mecanismo de controle justo. 50 Deve respeitar os preceitos éticos contidos no Código de Ética Odontológica, as normas legais vigentes do Código Civil, do Código Penal, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, das resoluções do Conselho Federal de Odontologia e as normas administrativas do setor de benefícios da empresa, embasando estas aos conceitos técnicos e científicos e de qualidade de maior relevância. Estes fundamentos deverão ser os princípios de conduta a serem seguidos quando da realização de um exame. 3 CONCEITOS DE GESTÃO DA QUALIDADE E FERRAMENTAS APLICÁVEIS À AUDITORIA ODONTOLÓGICA 3.1 SISTEMAS DE AUDITORIA EM QUALIDADE Dentre os princípios básicos do sistema de auditoria em qualidade de produtos ou serviços, observa-se que estes são plenamente aplicáveis à auditoria odontológica dentro das operadoras de planos de saúde, conforme descrito na Figura 4. O SISTEMA DE CONTROLE DE PROCESSO como demonstrado na Figura 4, consiste de atividades técnicas operacionais usadas para atender aos requisitos da qualidade. Como tal, o sistema é orientado para a proteção do cliente e não para o custo mínimo. Um sistema eficaz detecta e identifica produtos não-conformes ao mesmo tempo em que fornece um aviso pós-fato ao qual as pessoas reagem. É fundamentalmente propriamente dita. um modelo de inspeção, Exemplo: Auditoria Técnica 52 Parte de Adequação NORMA Regulados: ¾Contratos de credenciamento (acordo) ¾Regulamentos internos da operadora (manuais, notas específicas e rol de cobertura) ¾Normas legais (ANS, CFO, CDPC , C.C e CEO) Parte de Conformidade PROCEDIMENTOS ¾Procedimentos operatórios executados ou solicitados pelos profissionais operacionais ¾Procedimentos operacionais da operadora ¾Instruções de trabalho (rotina dos analistas, auditores ou credenciados) PRÁTICAS ¾Registro feito pelo auditor no formulário padrão, sobre o comportamento / postura do dentista operacional; ¾Registro feito no formulário padrão em relação ao aspecto objetivo verificado sobre os trabalhos odontológicos solicitados ou executados (via análise clínica ou radiográfica). Figura 4 – Sistema de controle de processo Fonte: Stat-A-Matrix, Lead Assessor, 2001 Training Curse O SISTEMA DE GARANTIA DA QUALIDADE emprega planejamento e controle de processo para assegurar que o produto final atenderá totalmente aos requisitos. Este é um sistema proativo que utiliza a informação do processo para prevenir a ocorrência de não-conformidades, possibilitando a melhor qualidade com o menor custo, uma vez que haverá menos não-conformidades e, com isso, menos retrabalho. Exemplo: Sistema informatizado de bloqueio, manuais e treinamentos de rede. 53 Planejamento Processo Produto 2 (Causa) 2 (Efeito) 2 Auditor: 1 Replanejar 2 Monitorar / Ajustar / Inspecionar 1 C.D operacional: Aceitar/Rejeitar -1 Coordenação: Planejamento Controle do Controle de de Qualidade 3 Processo 3 Qualidade 3 Figura 5 - Uma visão geral de auditoria Fonte: Adaptado do Stat-A-Matrix, Lead Assessor, 2001 Training Curse 3.2 FERRAMENTAS APLICÁVEIS AO SISTEMA Com o objetivo de demonstrar o que vem a ser qualidade, dentro de um contexto atual e moderno, serão apresentados alguns conceitos e ferramentas empregadas nos dias atuais. O termo “qualidade” pode ser definido como um conjunto de atributos necessários para alcançar e garantir que um produto ou serviço esteja em condições ideais de consumo, utilização e /ou execução. Para auxílio e garantia de que um sistema de gestão da qualidade irá funcionar, existem várias ferramentas que podem ser utilizadas dentro do processo 3 2 54 de acordo com as necessidades do mesmo. Como exemplos pode-se citar o ciclo PDCA (planejar, executar, verificar, agir corretivamente); o Fluxograma; o Diagrama de Pareto; o Gráfico de Ishikawa; Gráficos; Histogramas; 5w1H (When, Who, Where, Why, What, How); a Matriz GUT (Gravidade, Urgência, Tendência) e outros com importância variada. A seguir, serão apresentadas rápidas definições das ferramentas: 3.2.1 Ciclo PDCA É de grande importância, pois possibilita uma revisão de ações, reprogramando objetivos. Surge daí a noção de ciclo de melhoria. É composto de 04 (quatro) partes (plan, do, check, act,). Ele serve para desenvolver e controlar um processo. A P C D Figura 6 - Ciclo PDCA Fonte: Elaborado pelo autor Plan Planejar Do Executar Check Verificar/Controlar Act Agir/Aprimorar 55 3.2.2 Fluxograma Representação gráfica destinada ao registro das diversas etapas que constituem um determinado processo, facilitando sua visualização e análise. Figura 7 – Fluxograma Fonte: Sidney Teylor, 1995 3.2.3 Análise de Pareto Permite a visualização dos diversos elementos de um problema e o estabelecimento de prioridades, por exemplo, quanto à escolha daquele que deverá ser, primeiramente solucionado. 56 Figura 8 – Análise de Pareto Fonte: Sidney Teylor, 1995 3.2.4 Diagrama de Causa e Efeito (Ishikawa) É uma ferramenta gráfica que ajuda a identificar, classificar e mostrar possíveis causas de um problema ou efeito. Ajuda a determinar as causas primárias, aumenta o conhecimento acerca do processo; identifica áreas; estimula a participação da equipe e identifica possíveis causas de variação do processo. Figura 9 – Diagrama de causa e efeito (Ishikawa) Fonte: Sidney Teylor, 1995 57 3.2.5 Gráficos São destinados à síntese e apresentação dos dados, permitindo que sejam mais facilmente interpretados. Figura 10 – Gráficos Fonte: Sidney Teylor, 1995 3.2.6 Histograma Gráfico de barra que mostra a distribuição de dados reflete um determinado momento de dados coletados do processo. Serve para comunicar informações à equipe, comparar medidas e especificações; resume grandes conjuntos de dados e apóia nas tomadas de decisões. 58 Figura 11 – Histograma Fonte: Sidney Teylor, 1995 3.2.7 Matriz GUT Neste tipo de matriz, pode-se classificar, de acordo com uma escala, as medidas que devem ser tomadas dentro do processo, de acordo com a sua gravidade, urgência e tendência. Serve para orientar e ajudar a organizar/priorizar quais as medidas podem ser proteladas e quais podem ser executadas com máxima rapidez. O quadro a seguir resume o exposto acima: PONTOS GRAVIDADE (conseqüência se nada for feito) Extremamente grave URGÊNCIA (prazo para uma tomada de ação) Ação imediata 4 Muito grave Alguma urgência 3 Grave 2 Pouco grave O mais cedo possível Pode esperar um pouco Sem pressa 5 1 Nenhuma Quadro 2 - Matriz GUT Fonte: Sidney Teylor, 1995 TENDÊNCIA (proporção do problema no futuro) Agravamento imediato da situação Vai piorar, a curto prazo Vai piorar a médio prazo Piora a longo prazo Não vai piorar 59 3.2.8 Matriz 5W1H É explicitado em forma de tabela, não sendo obrigatório o preenchimento de todos os quesitos. Ajuda a identificar quem participa do processo, como o faz, em que momento, o porque disto e o custo. Esta matriz fala por si própria. Já existem algumas variações desta ferramenta que não serão abordadas neste trabalho. O QUÊ ? WHAT? Que requisitos ela envolve e o que o cliente que saber? O que deve ser procurado? O que pode ser informado ao auditado? Quem ? Who ? Quem deve prover os recursos de suporte para a equipe auditora? Quem deve ser auditado? Quem é o líder da auditoria? Quem deve ver os resultados? Quando? When? Quando deverá ser realizada? Quando iniciar, interromper, encerrar? Quando apresentar o relatório? Onde? Where? Onde será realizada? Em que áreas deve ser desdobrada? Por quê ? Why? Por que será realizada e qual o seu propósito? Como? How? Como será realizada? Como preparar o relatório? Quadro 3 – 5W 1 H Fonte: Adaptado de Sidney Teylor, 1995 60 3.2.9 Benchmarking Significa “tomar como referência”, se basear em idéias, atitudes, atos ou simplesmente tomar algo como um ponto de referência para que se possa usar esta técnica referenciada no nosso processo. Estes são apenas alguns exemplos de ferramentas e técnicas de gestão da qualidade total. Vale abordar neste capítulo, que o conceito gestão da qualidade total não seria o mais adequado e sim gestão total da qualidade, pois a qualidade total não existe, é algo que obstinadamente procuramos e tentamos atingir, mas como o ciclo sempre muda e as necessidades se renovam, não existe a qualidade total, 100% completa e perfeita. Já o termo gestão total da qualidade, subentende-se que estamos gerenciando totalmente um sistema da qualidade, de maneira a fazer uso de todas as técnicas, ferramentas, tecnologias e possibilidades que dispomos e estão ao nosso alcance naquele momento. 4 O UNIVERSO DA AUDITORIA: ATORES, CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS 4.1 ATORES E SUAS ATRIBUIÇÕES NA AUDITORIA Os principais atores envolvidos na auditoria odontológica das operadoras de planos de saúde, são: o gerente, o coordenador técnico, o auditor líder, o auditor, o auditado indireto e o auditado direto, caracterizados a seguir. A gerência e a coordenação técnica da operadora do plano de saúde requisita a auditoria, por motivos estratégicos e são responsáveis pela análise crítica final dos fatos expostos pela auditoria . O auditor líder é a pessoa designada pela empresa para conduzir e coordenar a equipe de auditores no processo de auditoria dentro da operadora de saúde. O auditor é o profissional qualificado para efetuar a auditoria, isto é, aquele que avalia. As auditorias podem ser executadas por um ou mais auditores, internamente ou externamente à operadora. O auditado indireto é o cirurgião-dentista credenciado, isto é, aquele que é avaliado indiretamente na auditoria por suas ações de postura frente ao paciente e ou através dos seus planejamentos e tratamentos realizados. 62 O auditado direto é o paciente, isto é, o beneficiário que recebeu os serviços realizados pelos dentistas operacionais. Nele é avaliado o grau de qualidade dos planejamentos e tratamentos recebidos. Fases Empresa I Cadastro de credenciados- via Catálogo / Intranet ou Internet II III Cliente Dentista IV Recebimento da PTO preenchida pelo Setor de Atendimento V Comunicação ao usuário da exigência ou não de auditoria, feita pela equipe de atendimento V! Recebimento da PTO auditada para digitação no sistema. Feita pelos analistas de sistemas Recebimento do protocolo de entrega Com auditoria:recebimento da PTO não digitada, devendo agendar a auditoria Sem necessidade de auditoria: PTO digitada pelos analistas de sistemas Idas ao consultório para tratamento e auditorias programadas Recebimento das PTOs, concluídas, pelo setor de faturamento e processamento de contas e depósito dos honorários profissionais Recebimento da PTO digitada e inicio do tratamento Recebimento da PTO digitada com o parecer codificado VII VII Recebimento do extrato de procedimentos e pagamentos feitos aos profissionais utilizados Execução do tratamento. Após conclusão do tratamento, envio para análise final Recebimento dos honorários, via crédito da empresa Quadro 4 – Atividades e ações dos atores no processo de auditoria Fonte: Elaborado pelo autor Auditor Escolha Agendamento de horário da do Profissional e marcação consulta. da consulta - via telefone ou pessoalmente Atendimento Inicial: Exame + Diagnóstico+ Planejamento da Ida ao consultório no dia Terapêutica+ agendado preenchimento da guia PTO da Empresa Recebimento da PTO Entrega ao Paciente ou preenchida pelo envio direto à Empresa –via profissional, e envio da Fax PTO a empresa - via Pessoal ou Fax Análise Prévia da PTO, e definição do Tipo de Auditoria Execução da auditoria clínica e ou documental, via análise da PTO. Emissão do parecer codificado Acompanhamento dos tratamentos liberados e selecionados: Intermediários, finais ou de Reavaliação- via emissão de parecer codificado 63 4.1.1 Responsabilidades do Auditor Odontológico As responsabilidades do auditor odontológico abrangem prioritariamente os seguintes aspectos: • Cumprir os requisitos aplicáveis na auditoria (técnicos, éticos e legais); • Comunicar e esclarecer os requisitos da auditoria, quando solicitados pelos pacientes e/ou seus dentistas credenciados; • Realizar suas atribuições de forma competente e eficaz; • Documentar por escrito suas observações durante ou imediatamente após as análises dos planejamentos (nas guia de auditoria e sumário de evidências); • Relatar os resultados das auditorias realizadas (via código na guia de auditoria para o profissional executor; e via sumário de evidências para a operadora); • Verificar a tomada das ações corretivas e disposições por parte do profissional notificado em auditoria anterior; • Reter e salvaguardar as cópias dos documentos pertinentes à auditoria (por um período de 05 anos); • Submeter tais documentos à apreciação, quando requerido pelas partes diretamente envolvidas; • Assegurar que as informações contidas nos documentos permaneçam confidenciais, devido ao sigilo profissional, salvo motivo justificável previsto em lei; • Cooperar com o auditor líder. 64 4.1.2 Responsabilidade do Auditor Líder O Auditor Líder deverá ter como funções: a responsabilidade em todas as fases da auditoria; participação no processo seletivo dos demais membros da equipe auditora; capacidade gerencial e experiência; preparar o plano de auditoria; representar a equipe auditora nas discussões com a administração da clínica auditada (pessoa jurídica), profissional específico (pessoa física) ou com a gerência e coordenação técnica da operadora; entregar o relatório geral de auditoria a gerência da operadora de saúde. 4.1.3 Responsabilidade da Gerência e Coordenação da Operadora A gerência e a coordenação técnica da Operadora são responsáveis pela determinação da necessidade e propósito da auditoria, iniciando o processo; definem a organização da equipe auditora e autorizam-na a conduzir o processo; definem o escopo da auditoria, bem como, a norma do sistema da qualidade e quais os documentos a serem seguidos; recebem o relatório de auditoria e realizam a análise crítica; determinam as ações de acompanhamento, informando ao paciente a necessidade e a realização dessa ação. 4.1.4 Responsabilidade dos Auditados Cabe aos Auditados diretos e indiretos proverem todos os documentos e informações necessárias à equipe auditora; proverem acesso aos meios e ao material comprobatório requerido pelos auditores; colaborarem para que o auditor possa cumprir com sua tarefa; entenderem que o auditor necessita verificar, avaliar e 65 analisar a terapêutica proposta, e, portanto, não devem se preocupar com receios indevidos, e prestar as informações que lhe forem solicitadas; responderem apenas às questões que lhe forem propostas; evitarem conflito com o auditor. Cabe, ainda, ao auditado indireto, definir e iniciar as disposições e ações corretivas, baseadas em não-conformidades especificadas em relatório da auditoria; no caso de dúvidas sobre os pareceres emitidos, solicitar novas explicações; registrar as nãoconformidades em arquivo próprio, quando tiverem certeza da sua existência. A norma aplicável deve ser consultada quando houver dúvida. As auditorias da qualidade baseiam–se no consenso. Etapas Programação da auditoria Responsabilidade Gerência e coordenação técnica da operadora de saúde. Preparação da auditoria Coordenador técnico e auditor líder Planejamento da auditoria Coordenador técnico e equipe auditora interna Condução e avaliação da Equipe auditora interna e auditoria externa Onde é executado Dentro da operadora Dentro da operadora Dentro da operadora Externa-no consultório do auditor ou da empresa terceirizada; Interna- dentro das instalações da operadora Preparação do relatório Equipe auditora interna e Externa-no consultório do externa auditor ou da empresa terceirizada; Interna- dentro das instalações da operadora Análise crítica do Gerência e coordenação Dentro da operadora resultado (interna) técnica da operadora de saúde Implantação das Dentista operacional No consultório ou clínica disposições e ações notificado do dentista operacional corretivas Acompanhamento das coordenação Técnica e Dentro da operadora e no ações corretivas e Equipe Auditora consultório do auditor disposições designado Quadro 5 – Responsabilidades no ciclo da auditoria odontológica Fonte: Elaborado pelo autor 66 EmpresaSetor Atendimento/ Análise A requisição feita na PTO está correta? Correção pelo CD NÃO Solicita a correção ao CD credenciado Nãoconformidade SIM Auditor Realiza o exame Inicial/Intermediária: Liberação para continuidade do tratamento Concluído o Tratamento Tratamento: Conforme ou não- Conforme ? Emiti o Laudo do exame Empresa “Setor de Processamento” Final: Pagamento de honorários do CD Figura 12 - Etapas do processo de controle e liberação Fonte: Elaborado pelo autor Conformidade no tratamento 67 4.2 CARACTERÍSTICAS 4.2.1 Aspectos Básicos da Auditoria A auditoria deve ser um processo planejado e sistemático, executado de acordo com listas de verificação pré-estabelecidas, indicando itens específicos a serem examinados e o método de investigação a ser adotado. Os resultados da auditoria deverão ser sempre documentados e registrados, em formulários padronizados com o intuito de facilitar o armazenamento e análise crítica das informações. Uma auditoria dá ênfase a evidências objetivas e nunca a boatos, não aceitando respostas simples como: sim ou não; reprovado ou aprovado; bem feito ou mal feito, entre outras respostas limitadas. 4.2 2 Propósitos da Auditoria Uma auditoria eficaz deve produzir informações de como o atual sistema de qualidade atende aos requisitos especificados, sendo estas, base e incentivo para a ação corretiva de quaisquer não-conformidades diagnosticadas. A auditoria também promove o acompanhamento das medidas adotadas pelos profissionais notificados. 4.3 CLASSIFICAÇÃO DAS AUDITORIAS A classificação das auditorias pode se dar quanto à sua natureza, abrangência, operacionalização, determinação, abordagem, verificação temporal, escolha do auditor e resultado do parecer. 68 4.3.1 Quanto à Natureza A AUDITORIA INTERNA é realizada por profissionais internos contratados ou terceirizados, responsáveis pela verificação e avaliação dos planejamentos odontológicos elaborados pela rede credenciada ou de livre escolha. Um dos seus objetivos é reduzir as probabilidades de fraudes, erros, práticas ineficientes ou ineficazes. Este serviço deve ser independente, tendo somente a obrigação de prestar contas diretamente à coordenação e gerência da empresa. A AUDITORIA EXTERNA é realizada por um auditor odontológico autônomo (pessoa física), ou vinculado a uma empresa externa (pessoa jurídica), com objetivo de emitir um parecer sobre os fatos observados nos pacientes selecionados em relação aos seus planejamentos odontológicos. A AUDITORIA ARTICULADA é o trabalho em conjunto dos auditores internos e externos, devido à superposição de responsabilidades, caracterizada pelo uso comum de recursos e comunicação recíproca dos resultados. 4.3.2 Quanto à Abrangência A AUDITORIA HORIZONTAL é a auditoria específica, realizada em várias especialidades paralelamente (toda rede credenciada e ou de livre escolha). A AUDITORIA ORIENTADA é a auditoria focada em um profissional, clínica, região, segmento de rede credenciada ou de livre escolha que tenham fortes indícios de erros ou fraudes. 69 4.3.3 Quanto à Análise Técnico Operacional As AUDITORIAS INDIRETAS são as análises sem a presença física do paciente. Podem se dividir em Documental, Informatizada ou de Pesquisa, abaixo detalhadas. A Documental é a análise de documentos relacionados ao paciente “plano de tratamento, relatórios, declarações e exames complementares” feitos por analistas odontológicos. A informatizada é a que utiliza softwares com banco de dados pré-definido em sistema integrado de informações, cruzando as informações contidas no planejamento do profissional com o programa de bloqueio contra fraudes instalado. A Pesquisa pode ser provocada ou espontânea, sendo a primeira feita por intermédio de contato realizado por analistas da empresa, via telefone, carta ou email com o beneficiário (paciente), e a espontânea que é o retorno dado pelo próprio paciente, após o recebimento do extrato ou demonstrativo de despesas dos procedimentos realizados e pagos ao seu profissional executor (auto-auditoria). As AUDITORIAS DIRETAS são as análises feitas com a presença física do paciente, se dividem em: Inicial, Final, Intermediária, Instalação e Reavaliadora/Verificação. A Inicial é o exame com vista a confrontar os dados expressos em documento redigido pelo profissional operacional com a realidade observável na cavidade oral do paciente e as normas contratuais de cobertura acordadas cm a empresa. A Final é a que possibilita verificar se os procedimentos foram executados dentro de padrão de qualidade técnico-científico aceitável e se as normas acordadas com a operadora foram cumpridas em relação aos atos liberados. 70 A Intermediária é o acompanhamento técnico do auditor durante a execução do tratamento. A Instalação visa verificar se as fases intermediárias obrigatórias foram realizadas. São freqüentes nas auditorias das especialidades de Implantodontia e Ortodontia. A Reavaliadora/Verificação é o reexame, com intuito de verificar as ações e disposições aplicadas sobre as não-conformidades levantadas e registradas em auditoria anterior,‘”follow-up”. 4.3.4 Quanto à Determinação Representa a seleção das amostras dos tratamentos a serem auditados, podendo ser dos tipos: PROVOCADA, quando determinada pelos analistas internos; ESPONTÂNEA, quando solicitada pelo próprio paciente ou pelos dentistas operacionais e PROGRAMADA quando à amostragem é pré-definida pelo sistema informatizado. 4.3.5 Quanto à Abordagem Pode ser considerada SUBJETIVA, quando baseada nos relatos dos pacientes em relação a perguntas programadas sobre os tratamentos realizados, que não podem ser avaliados objetivamente, ou seja, procedimentos intangíveis. Exemplo: orientação de técnica de higiene, profilaxia, aplicação de flúor, entre outros. 71 OBJETIVA, quando o exame é realizado diretamente em documentos e/ou em pacientes, sob fatos observáveis e visíveis aos olhos do auditor ou analista. Exemplos: trabalhos protéticos, implantes, cirurgias, entre outros. MISTA, quando o exame está baseado em análises objetiva e subjetiva. Exemplo: raspagem supragengival e controle de placa. 4.3.6 Quanto à Verificação Temporal As auditorias podem analisar fatos passados, recentes e futuros. Desta forma, são classificadas quanto ao tipo de análise temporal, em Retrospectiva (tratamentos passados), Atual (tratamentos recentes) e Prospectiva (fatos futuros que possam ocorrer em conseqüência aos atos executados pelo profissional). 4.3.7 Quanto à Escolha dos Auditores Em relação à escolha dos auditores, podem ser: LIVRE, quando o paciente tem livre arbítrio para escolher o profissional auditor da relação da empresa; DIRIGIDA quando a empresa determina o profissional conforme o perfil do tratamento solicitado ou realizado ou situação exposta; PROGRAMADA se os auditores são indicados por rodízio determinado pelo sistema informatizado. 4.3.8 Quanto ao Resultado do Parecer Poderá ser expresso através das palavras conforme ou não-conforme, definindo como CONFORMIDADE, o resultado positivo da análise sobre o objeto auditado, verificando que os itens solicitados ou realizados pelo dentista operacional 72 correspondem aos conceitos técnicos- científicos preconizados, normas ético-legais da classe e normas contratuais e operacionais do plano de saúde. A NÃO-CONFORMIDADE é o resultado negativo ou a reprovação sobre o objeto da análise, verificando que os padrões técnicos ou contratuais não foram cumpridos. 5 PLANEJAMENTO DA AUDITORIA Ao definir o campo de auditoria, seu âmbito e as sub áreas a serem auditadas, deve-se avaliar se as equipes interna e externa estão bem preparadas, levando em conta a possibilidade de treinamento especifico. 5.1 PLANOS ESTRATÉGICOS De médio prazo, em geral procuram atender a demanda das equipes de auditoria genérica por especialistas nas diversas áreas de cobertura. Definem os objetivos macros das principais auditorias do próximo ano e são suficientemente flexíveis para aceitar as alterações que se façam necessárias. Geralmente esses planos são aprovados pela gerência intermediária. 5.2 PLANO OPERACIONAL Baseia-se em auditorias individualizadas e contém detalhes exatos dos objetivos a serem atingidos, as áreas a serem auditadas, os recursos necessários e em que prazo, os objetivos de controle e os procedimentos de auditoria a serem seguidos. O plano operacional nada mais é do que o plano específico de uma determinada auditoria. É o planejamento e a execução (PDCA), conforme Figura 9. 74 Em relação às atividades de execução da auditoria, estas serão realizadas depois de acordado com os profissionais operacionais o programa de auditoria. Já a reunião de abertura é a primeira ação a ser tomada pela equipe auditora junto a os credenciados devendo ter como objetivos a apresentação da equipe, assegurar que os auditados indiretos conheçam bem os objetivos da auditoria, o que irá ocorrer e por que irá ocorrer, verificar se o programa proposto e aprovado poderá ser desenvolvido ou ainda necessitar de ajustes, confirmar que os recursos e meios solicitados pela equipe de auditoria estejam disponíveis. Exemplo: local para reuniões da equipe auditora, pessoas envolvidas. A reunião de abertura deve ser bastante objetiva. O pessoal envolvido deve ser convidado a formular perguntas, para que sejam assegurados o total entendimento e comprometimento que irá ocorrer. Nos demais encontros anuais deverão ser apresentados e discutidos as nãoconformidades que habitualmente foram encontradas durante as avaliações. Não deve ser esquecido que a reunião deverá ser coordenada pelo auditor líder, registrado os nomes dos presentes e todas as dúvidas devem ser explicadas. Para que as decisões possam ser tomadas, há necessidade de se trabalhar com base de evidências objetivas e informações adequadas sobre o escopo da auditoria, tais como: • Quais os critérios exigidos; • Que profissionais, pacientes ou procedimentos devem ser auditados; • A existência de situação contratual; • O cumprimento de programas de auditoria; • O nível de sigilo dos resultados. 75 O auditor tem que ter conhecimento dos critérios aplicáveis à auditoria para isto deve estudar e conhecer bem a documentação, as normas da empresa, a legislação, e os requisitos de garantia da qualidade exigidos e as áreas da empresa; estar habilitado a emitir pareceres sobre a aplicação dos critérios aplicáveis. Em relação ao escopo da auditoria, o auditor deve estar bem preparado e conhecer muito bem qual seu conteúdo; quais os aspectos críticos; quais as funções principais a serem examinadas. 5.3 A AUDITORIA E SUAS ETAPAS Nas auditorias odontológicas, são consideradas como básicas as seguintes fases, que devem ser acompanhadas de forma direta ou indireta pelo coordenador técnico da operadora: 1- programação da auditoria (a gerência com o coordenador técnico da empresa de saúde); 2-preparação para a auditoria (coordenador técnico e equipe auditora); 3-planejamento detalhado da auditoria (coordenador técnico e equipe auditora); 4-a condução e os fatos levantados pela auditoria (coordenador técnico e equipe auditora); 5- apresentação dos resultados da auditoria “análise crítica dos resultados” (coordenador técnico, gerência da operadora e dentistas operacionais); 6- a implementações das disposições e ações corretivas (dentistas operacionais) o acompanhamento das disposições e ações corretivas (coordenador técnico, auditor executor e equipe auditora). A auditoria é um importante elemento do ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act), no qual se baseia a norma para sistemas de gestão, como a ISO 9001. As auditorias 76 constituem a base para a auto-avaliação da capacidade da organização em atender continuamente aos requisitos das partes interessadas relacionados, por exemplo, com a qualidade. Os sistemas de gestão proporcionam os meios para garantir essa capacidade, e as auditorias são necessárias para avaliar a devida implementação e eficácia desses sistemas. Esse fato demonstra a importância das auditorias e é o motivo pelo qual a ISO já desenvolve normas sobre auditoria há mais de 15 anos. Este processo é semelhante ao ciclo PDCA. A C Agir corretivamente e preventivamente no sistema (Dentistas Operacionais e Auditores) Programar, preparar e planejar a auditoria (Gerente , Coordenador e Auditor Líder) Fazer análise crítica dos resultados da auditoria (Gerente, Coordenador e Auditor Líder) Conduzir a auditoria e relatar os fatos levantados (Auditor líder e ou Auditores Internos e Externos) P D Figura 13 - CICLO PDCA- CICLO DE VIDA aplicável em auditorias odontológicas de planos de saúde Fonte: Adaptado do curso de auditores internos Firjan. s.d 5.3.1 Fases de uma Auditoria As fases básicas para a realização de uma auditoria odontológica são: • Seleção da equipe de auditores • Planejamento da auditoria 77 • Seleção de amostragem para auditoria • Preparação da lista de verificação “lista de checagem” • Alteração no programa de auditoria • Desenvolvimento de uma auditoria • Duração da auditoria • Relatórios de auditoria Fase 1: SELEÇÃO DA EQUIPE DE AUDITORES O profissional “auditor líder” selecionado para coordenar e selecionar a equipe de auditores deve considerar a independência dos auditores selecionados com respeito aos profissionais que serão auditados, e o número ideal de integrantes da equipe para o plano de saúde especifico. Para definir a quantidade de auditores em uma equipe, devem ser considerados alguns fatores como: Número de vidas cobertas pelo plano, distribuição geográfica desses beneficiários, características em relação ao perfil dos profissionais operacionais credenciados e outros fatores que possam impactar a auditoria. Fase 2: PLANEJAMENTO DA AUDITORIA Antes de iniciar o processo de auditoria, o auditor líder e sua equipe devem realizar reuniões, para determinar o escopo de análise, que lhe permitam preparar uma programação considerando toda documentação envolvida (lista de verificação, procedimentos, registros e outros documentos necessários) Este processo requer que sejam obtidas informações dos próprios registros da operadora, tais como: • Requisitos específicos da qualidade estabelecidos em contrato; • Informe sobre a efetividade do sistema de qualidade: Dados retrospectivos de problemas ocorridos (análise crítica inicial); 78 • Resultados de auditorias internas anteriores desenvolvidas nas mesmas áreas e a s disposições e ações propostas mais relevantes. Fase 3: SELEÇÃO DE AMOSTRAGEM PARA AUDITORIA Vários planejamentos podem ser avaliados pelos auditores dentro do prazo programado. O tamanho da amostra deve levar em consideração alguns fatores determinantes como: • Relevância- Com relação aos objetivos da auditoria e do alcance, o auditor deve centrar a sua atenção nos planejamentos das áreas que sejam críticas ou nas especialidades relevantes em custo final; • Representatividade- Deve escolher uma amostra representativa dos elementos de controle, ou uma amostra dos contratos que estão se processando para ter uma visão mais exata possível da efetividade do sistema da qualidade na área selecionada; • Aumento da amostragem- No caso de detecção de um número significativo de não-conformidades nos serviços, é desejável que o auditor aumente o nível de amostragem, considerando a probabilidade de um incremento no número de não-conformidades. Fase 4: PREPARAÇÃO DA LISTA DE VERIFICAÇÃO OU LISTA DE CHECAGEM As listas de verificação são guias para os auditores, aos quais deve conter questões objetivas sobre os propósitos que se queira alcançar em uma auditoria da qualidade. As listas de verificação devem: • Assegurar que os requisitos das normas técnicas aplicáveis estejam contemplados em seu conteúdo; • Ser fácil de entendimento por todas as pessoas que irão ter contato com o documento, com finalidade de obter a maior colaboração; 79 • Ser utilizadas pelo auditor como um registro das evidências objetivas observadas na auditoria; • Ajudar o auditor a graduar a velocidade da auditoria, de modo que o tempo previsto em cada exame não seja prolongado desnecessariamente; • Ser preparadas de maneira a não a restringir atividades e avaliações adicionais da auditoria, que irão se tornar necessárias como resultado de informações reunidas durante as atividades. Fase 5: ALTERAÇÃO NO PROGRAMA DE AUDITORIA • Mudanças significativas da rede credenciada (número de cirurgiões-dentistas operacionais, auditores) ou número de vidas cobertas. • Verificar se as disposições ou ações corretivas estão sendo adotadas e se são conseqüentemente eficazes; • Quando as não-conformidades indicam que existe um erro habitual significativo por parte do profissional operacional; • Torna-se necessário verificar se os profissionais credenciados vêm cumprindo com os requisitos especificados, evidenciados numa relação contratual. Fase 6: DESENVOLVIMENTO DE UMA AUDITORIA • Deve ser utilizada a norma pré-estabelecida entre as partes, como referência para o desenvolvimento de uma auditoria. Fase 7: DURAÇÃO DE AUDITORIA • O tempo determinado será de acordo com o tratamento a ser analisado e seu grau de complexidade. É recomendável que o número de procedimentos a serem analisados não ultrapasse a 15 itens em auditorias diretas, baseandose em um tempo médio de análise de 01 procedimento analisado por/ min. 80 É importante que a lista de verificação contenha os pontos que se permita verificar os elementos de controle. Fase 8: RELATÓRIOS DE AUDITORIA Os resultados das auditorias devem ser documentados em registros apropriados de acordo com os procedimentos da empresa. Devem ser exatos e completos, com vocabulário simples e objetivo. Os relatórios de auditoria devem conter basicamente os seguintes aspectos: • Nome do Auditor • Nome do Profissional Operacional • Data da Auditoria • Resumo da Auditoria • O corpo do Relatório (no corpo do relatório deve ter: procedimento por procedimento auditado; citação dos documentos complementares analisados; codificação da não-conformidade presente) • Conclusão/recomendações (As disposições e ou ações corretivas requeridas e os prazos definidos para o dentista credenciado cumprir com ações corretivas). • Documentos anexados. 5.3.1.1 Pré-Auditoria Como se pode observar na Figura 14, as atividades da pré-auditoria que são consideradas, ao iniciar o processo de Auditoria são a programação da auditoria pela gerência da empresa; a definição da equipe auditora (número e perfil); o treinamento quanto às diretrizes internas e escopo da função frente ao perfil dos 81 auditados; a preparação e plano de auditoria; a análise preliminar interna dos planejamentos pelos analistas; a notificação da auditoria. Fluxograma com a seqüência básica de atividades no processo de auditoria odontológica da empresa em estudo. ATIVIDADES EXECUÇÃO DA AUDITORIA PRÉAUDITORIA Recebimento do planejamento pelo auditor “plano de tratamento” e anexos Programação da auditoria pela gerência da empresa Definição da equipe auditora (número e perfil) análise do planejamento e documentos anexos com ou sem paciente Elaborar o relatório Envio do relatório a empresa Acompanhamento das disposições e ações corretivas “ follow-up” Treinamento quanto às diretrizes internas e escopo da função frente ao perfil dos auditados Preparação e plano de auditoria PÓSAUDITORIA Confrontar o tratamento proposto ou realizado com as regras vigentes e lista de checagem Análise preliminar interna dos planejamentos pelos analistas Notificação da auditoria Figura 14 - Atividades na auditoria Fonte: Adaptado de Rebelo, 1999. Emitir o parecer em documento padronizado 82 Devido à sua importância no processo torna-se necessário descrever algumas dessas etapas de maneira mais detalhada. A programação da auditoria pela gerência da empresa: nesta etapa o objetivo da auditoria é verificar a conformidade e a eficácia de um sistema da qualidade implementado. A programação da auditoria deve estar veiculada a importância da atividade desenvolvida. Cabe a administração, através de seu representante, planejar a execução de um programa de auditoria interna e externa, em função das contingências do sistema a ser implantado, garantindo a manutenção do mesmo. A elaboração do programa deve contemplar os seguintes aspectos: • Auditar por função ou procedimento; • A criticidade da atividade; • A freqüência para realização das auditorias; • Quem são os auditores • Como processar as solicitações de ação corretiva; • Se há necessidade de auditorias de acompanhamento. Na fase do plano de auditoria devem ser estabelecidos todos os critérios a toda programação da atividade a ser conduzida. Para sua elaboração, devem ser levantadas com clareza junto à operadora e ao profissional operacional todas as dúvidas e circunstâncias de forma a estabelecer as expectativas da empresa, os critérios da auditoria, as necessidades e interesses dos profissionais auditados, meios colocados à disposição da equipe auditora, conhecimento dos profissionais (quem é quem?), a documentação do sistema disponível para auditoria. Na reunião preliminar: a coordenação técnica se reúne com a equipe para realizar uma pré-auditoria. É uma reunião de análise de documentação a ser 83 auditada quanto à consistência com os requisitos aplicáveis do sistema da qualidade. Ela é executada internamente na organização do auditor. Na notificação da auditoria: o profissional auditado deve ser informado através dos canais pré-estabelecidos sobre os casos não-conformes diagnosticados durante a análise prévia de mesa ou informatizada. A operadora deve convocar o paciente, para que esse agende uma auditoria técnica, levando ao auditor o planejamento terapêutico proposto ou realizado. Nesta guia de encaminhamento é importante, que conste as seguintes informações: • Data da solicitação • Nome do auditor • Procedimentos a serem auditados • Relação dos documentos complementares a serem apresentados A lista de verificação: deverá ser enviada tanto para os auditores como para os dentistas operacionais. A lista de verificação é a mais poderosa ferramenta que deve ser aplicada pelo auditor, pois ela é necessária, para auditar todos os elementos que influenciam o processo sem que se precise ficar puxando pela memória. O uso destas listas é de extrema importância e elemento facilitador do processo tanto para o auditor como para o auditado indireto. Para o auditor, ela atua como uma diretriz, um gerador de evidências objetivas; um auxiliar de memória; um facilitador de continuidade; um meio poderoso de coleta e agrupamento de informações; um auxiliar para elaboração do relatório final. 84 Por outro lado, para o dentista credenciado, ela atua como um indicador de preparação; uma diretriz de treinamento ou evidência do que foi examinado. 5.3.1.1.1 Controle na Pré-Auditoria O controle é a fiscalização exercida sobre atividades de pessoas ou produtos, para que tais atividades não se desviem das normas preestabelecidas. São classificados como: PREVENTIVO - usados para prevenir erros, omissões ou atos fraudulentos como senha de acesso a um determinado sistema. DETECTIVOS - usados para detectar erros, omissões ou atos fraudulentos e ainda relatar sua ocorrência (exemplo: softwares de controle de acesso e relatórios de tentativas de acesso não autorizado a um determinado sistema). CORRETIVOS – usados para reduzir ou corrigir erros uma vez detectados nas análises. O estabelecimento desses procedimentos, antes de iniciar a execução propriamente dita da auditoria, é uma prática altamente recomendável, pois proporciona um aumento de produtividade e de qualidade do trabalho do auditor. 5.3.1.2 Desenvolvimento da Auditoria A lista de verificação deve ser utilizada no desenvolvimento da auditoria, por proporcionar e assegurar aos auditores uma metodologia sistemática de avaliação porém, os auditores não devem se ater somente à lista. Outro item importante a ser definido em uma auditoria é a amostragem. A experiência tem mostrado que a melhor técnica é selecionar pequenas amostras ao 85 acaso, e uma vez evidenciada uma não-conformidade, deve-se aumentar o tamanho da amostra, a fim de se caracterizar o erro como isolado ou sistemático. A técnica e a metodologia de investigação mais difundida numa auditoria é a rastreabilidade, que consiste em selecionar um material (documento, procedimentos, ou outro) que se deseje fazer e seguir o seu trajeto. Durante a auditoria, se estará coletando evidências de conformidade do planejamento e tratamento. Nesta busca, poderão ser encontradas evidências de falha no cumprimento das mesmas. Uma vez verificada a não-conformidade, deverá ser informada ao profissional auditado, através de uma codificação pré-estabelecida, sendo este registro também documentado no sumário de evidência do auditor. Escrever no relatório é a mais difícil e importante parte da auditoria. Partindo do princípio que o registro de não conformidade é baseada em fatos, é importante assegurar que as informações sejam corretas. O registro da codificação deverá ser acompanhado do número do item analisado. Cuidado ao colocar o registro de não-conformidades, pois este é uma crítica ao sistema do profissional e ninguém gosta de ser criticado. Um erro neste registro fará com que o profissional auditado, registre queixas sobre o auditor, pondo em dúvida o processo e criando um mal estar entre partes. As reuniões para avaliação do processo são realizadas mensalmente entre os auditores internos e a coordenação, para avaliações das não-conformidades levantadas internamente e pelos registros contidos nos sumários de evidências emitidos pelos auditores externos, e resolver qualquer questão pendente e acertar ações preventivas e corretivas. As reuniões para avaliação do processo são realizadas trimestralmente com todos auditores (internos e externos) e coordenação, para troca de informações, 86 opiniões e de idéias, análise e discussão dos dados obtidos e das observações feitas pela equipe. O objetivo desta reunião é uniformizar as informações e condutas dos auditores. Deverão ser realizadas também reuniões entre os dentistas operacionais e coordenação tendo por objetivo apresentar o resumo global das auditorias e o escopo das atividades e apresentar as não-conformidades habituais levantadas no período, especificando as conclusões/recomendações. 5.3.1.3 Atividades Pós–Auditoria A auditoria só estará completa, após a elaboração do relatório de auditoria e do acompanhamento das disposições e ações corretivas - Follow-up e auditorias periódicas. A elaboração do relatório de auditoria deve ser conciso, objetivo e apoiado em evidências objetivas, tendo sua tramitação acordada com a coordenação da empresa. Após a elaboração do relatório e do envio do mesmo à empresa deve ser prevista a fase acompanhamento das disposições e ações corretivas que compõem a auditoria de verificação – follow-up. Quando forem detectadas não-conformidades no processo de auditoria, o profissional operacional responsável pelo serviço, deve assegurar que as disposições e ações sejam tomadas sem demora, após a comunicação por parte da empresa. A ação corretiva é de responsabilidade do profissional auditado e não do auditor. 87 Deve ser estabelecido o prazo de implementação e ações corretivas tomadas devem ser documentadas. A auditoria de verificação (follow-up) é a atividade de acompanhamento exigida pela norma, e deve incluir a verificação das ações corretivas e o resultados das verificações. 6 ESTUDO DE CASO 6.1 INTRODUÇÃO 6.1.1 O Perfil da Empresa O nome da empresa onde foi realizado o estudo de caso não será mencionado, uma vez que para desenvolver este trabalho, tornou-se necessário apresentar alguns indicadores financeiros. A empresa em que se aplicou o modelo proposto é uma operadora de plano de saúde do segmento de autogestão, com 21 filiais em todo território nacional, com aproximadamente 2.000 dentistas credenciados e 50.000 beneficiários, cuja característica principal é ser uma entidade de assistência sem finalidade lucrativa com os cargos de presidência, diretorias e conselhos não-remunerados. O objetivo principal da instituição é a melhoria contÍnua dos seus serviços frente aos seus associados, não só pelo atendimento por parte dos seus funcionários, mas também pelo atendimento externo prestado pelos seus credenciados. A coordenação da empresa em 1999, especificou em seus planejamentos estratégicos de médio e longo prazo, o objetivo de alcançar a excelência no atendimento ao cliente via rede credenciada, diferenciando-a das demais empresas atuantes no mercado. 89 Esta preocupação, levou-a implantar um projeto piloto no Estado do Rio de Janeiro, buscando principalmente a lealdade dos clientes já existentes e o aumento da parceria e satisfação da sua rede credenciada odontológica. 6.1.2 Mecanismo e Objetivo da Pesquisa Utilizando as ferramentas de gestão da qualidade como recurso de preparação e planejamento para a melhoria do sistema, a coordenação técnica desenvolveu serviços uma metodologia padrão a ser aplicada sobre as avaliações de prestados aos seus clientes, denominada Auditoria Odontológica Normalizada “AON”. Formou-se assim, um modelo com critérios pré-estabelecidos de postura e de análise a ser adotado pelos auditores da empresa. Tal objetivo teve como propósito central a diminuição ou eliminação dos conflitos existentes entre auditores e dentistas operacionais, resultando assim, na melhoria das relações entre todos elementos humanos envolvidos no processo e, conseqüentemente, reduzindo o número de retrabalhos odontológicos. 6.1.3 Metodologia 6.1.3.1 População Selecionada As amostras selecionadas para as auditorias na empresa em estudo, foram retiradas do universo da rede nacional. Selecionou-se para a pesquisa a população de funcionários e seus dependentes de ambos os sexos do Estado do Rio de Janeiro, onde o número de beneficiários em 2000 era de 7.158 funcionários e 3.486 dependentes, totalizando 10.644 vidas cobertas, tendo uma rede credenciada de 90 286 dentistas. Sendo esta amostra correspondente a 20 (vinte) % da população nacional. Em relação ao perfil de mercado, foi selecionada uma amostra de 11(onze) operadoras do universo total das grandes empresas de planos de saúde no Estado do Rio de Janeiro. Esta pesquisa teve com intuito, traçar o perfil das auditorias nas empresas concorrentes. O recurso utilizado nesta pesquisa foi a aplicação de um questionário (Apêndice A). 6.1.3.2 Cronologia do Estudo Foi dividido o estudo em 04(quatro) etapas. A primeira realizada no período compreendido de janeiro de 2000 a maio de 2000; a segunda no período de junho de 2000 a dezembro de 2000; a terceira no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2001 e a quarta e última etapa, realizada de janeiro de 2002 a dezembro de 2002, com pode ser observado na Figura abaixo. Figura 15 – Cronologia Fonte: Elaborado pelo autor 91 6.1.3.3 Coleta de Dados A coleta de dados foi realizada durante as 1º, 3º e 4º etapas do estudo de caso, mediante a pesquisa externa e interna e a aplicação da ferramenta auditoria na análise direta individual de cada planejamento selecionado, sendo estes dados registrados em formulários específicos, para depois sofrerem tratamento estatístico. Na 2ª etapa foi realizada a análise crítica dos indicadores levantados na 1ª etapa, bem como o desenvolvimento e especificação da metodologia a ser aplicada nas etapas posteriores. 6.1.3.4 Os Métodos usados para Selecionar as Amostras a serem Auditadas O método utilizado foi a seleção estratificada. A seleção estratificada é a amostra coletada em grupos de características comuns definidas. Os critérios aplicados para a seleção das amostras no estudo, foram a complexidade do tratamento e o custo final. (Ex: Procedimentos de Prótese). A técnica de amostragem usada foi a probabilística, seleção organizada e uso de método estatístico apropriado. 6.1.4 Diretrizes Gerais Aplicadas durante as Auditagens A diretriz a ser seguida pelo auditor durante as análises, no que concerne a emissão do parecer sobre os tratamentos dos pacientes selecionados nas fases (inicial, intermediária, final e reavaliadora), seguem os critérios abaixo discriminados: Na Auditoria Inicial – AI: • Se o planejamento proposto é necessário; 92 • Se a técnica preconizada é atual para o caso; • Se a documentação pertinente ao caso está conforme; • Se os procedimentos têm cobertura no plano; • Observações e sugestões pertinentes; • Relatório fundamentado em caso de discordância. Na Auditoria Intermediária – AIT: • Análise dos procedimentos já realizados e qualificação dos mesmos; • Se os demais serviços são necessários; • Se a documentação pertinente ao caso está conforme; • Observações e sugestões pertinentes; • Relatório fundamentado em caso de discordância. Auditoria Final – AF: • Se os procedimentos executados estão dentro da conformidade; • Se o material previsto foi utilizado; • Se a documentação pertinente ao caso está conforme; • Observações e sugestões pertinentes; • Relatório fundamentado em caso de discordância. Auditoria Reavaliadora – Follow-up: • Se as disposições ou ações corretivas foram efetivas para a resolução da não-conformidade detectada em auditoria anterior; • procedimentos executados estão dentro da conformidade; • Se o material previsto foi utilizado; • Se a documentação pertinente ao caso está conforme; • Observações e sugestões pertinentes; • Relatório fundamentado em caso de nova discordância. 93 Quando ocorrer modificação do planejamento em relação ao tratamento inicial proposto, o auditor deverá relatar e fundamentar esta alteração no seu parecer. 6.1.4.1 Diretrizes adotadas nas Auditorias Específicas para Tratamentos Ortodônticos Para realização da auditoria deverão ser observados os critérios abaixo discriminados de acordo com as fases específicas (Auditoria Ortodôntica Inicial – AOI; Auditoria de Colocação da Aparatologia – ACA; Auditoria Ortodôntica Intermediária – AIT; Auditoria Ortodôntica Final – AOF) em que se encontra a auditoria para tratamentos ortodônticos. Auditoria Ortodôntica Inicial – AOI: • Se o planejamento proposto é necessário; • Se a técnica preconizada é atual para o caso; • Relatório fundamentado com diagnóstico, prognóstico; • Se a documentação pertinente ao caso está conforme; • Se os procedimentos têm cobertura no plano; • Observações e sugestões pertinentes; • Relatório fundamentado em caso de discordância. Auditoria de Colocação da Aparatologia – ACA: • Se a aparatologia proposta foi colocada corretamente; • Verificar se o paciente recebeu as informações necessárias para a manutenção e ativação do aparelho. Auditoria Ortodôntica Intermediária – AIT: • Verificar o desenvolvimento da terapêutica aplicada. Auditoria Ortodôntica Final – AOF: 94 • Se os procedimentos executados estão dentro da conformidade; • Se os objetivos foram alcançados conforme planejamento; • Observações e sugestões pertinentes; • Relatório fundamentado em caso de discordância. 6.1.5 Protocolo Adotado pela Empresa nos Tratamentos Selecionados para Auditoria O paciente, após notificação feita pelo setor de benefícios, deverá agendar com o auditor data e hora para o exame. O paciente na auditagem deverá apresentar o planejamento odontológico e, se for o caso, as radiografias e documentações pertinentes. Os pareceres devem ser emitidos pelo auditor por meio de códigos alfanuméricos pré-estabelecidos. Isto respeita o princípio do sigilo e da tramitação de pareceres, conforme o disposto no código de ética odontológica, resguardando, assim, o paciente, os profissionais envolvidos e a empresa (Art. 5 inciso II do CEO1991). 6.1.6 As Ferramentas de Qualidade Utilizadas na Empresa em Estudo O estudo de caso em questão utilizou várias ferramentas de qualidade, entre as quais o 5W 1H, cujas etapas serão detalhadas a seguir. 1º 5w 1H: O auditor e/ou a equipe de auditores devem obter respostas para as perguntas descritas abaixo, utilizando uma adaptação do 5W 1H, com o objetivo de Identificar e esclarecer o escopo da auditoria. 95 O QUÊ ? WHAT? Que requisitos ela envolve e o que o cliente que saber? O que deve ser procurado? O que pode ser informado ao auditado? Quem deve prover os recursos de suporte para a equipe auditora? Quem deve ser auditado? Quem é o líder da auditoria? Quem deve ver os resultados? Quando deverá ser realizada? Quando iniciar, interromper, encerrar? Quando apresentar o relatório? Onde será realizada? Em que áreas deve ser desdobrada? Por que será realizada e qual o seu propósito? Como será realizada? Como preparar o relatório? Quem ? Who ? Quando? When? Onde? Where? Por quê ? Why? Como? How? Quadro 6 – 5W 1H Fonte: Fonte: Adaptado de Sidney Teylor, 1995 A ferramenta da qualidade 5W1H, descrita acima, foi adaptada e aplicada pelo autor, à realidade da auditoria odontológica, resultando numa ferramenta específica para a área odontológica no campo da auditoria. Sua representação pode ser vista no Quadro 7. O QUÊ? WHAT? Quem? Who? Quando? When? Que requisitos ela envolve e o que o auditor deve saber? >Requisitos legais (CFO, CDPC, CEO), técnicos (especialidade em análise) e de qualidade (conceitos, ferramentas de qualidade). > Grau de eficiência da rede credenciada. O que deve ser procurado? >Desvios de condutas pessoais e as não-conformidades técnicas operatórias. O que pode ser informado ao auditado? > O resultado do exame propriamente-dito. Quem deve prover os recursos de suporte para a equipe auditora? >A empresa operadora através do auditor líder. Quem deve ser auditado? > Todos aqueles incluídos na amostragem . Quem é o líder da auditoria? > O coordenador técnico da operadora, conhecedor das ferramentas de qualidade. Quem deve ver os resultados? > Auditor líder, equipe e a gerência Quando deverá ser realizada? > Quando os requisitos determinarem 96 Onde? Where? Por quê? Why? Como? How? Quando iniciar, interromper, encerrar? > Quando o sistema informatizado ou a coordenação técnica determinar. Quando apresentar o relatório? >Relatório mensal Onde será realizada? > Internamente na operadora ou pela empresa terceirizada; > Externamente nos consultórios dos credenciados para auditoria Em que áreas deve ser desdobrada? > Área de análise de mesa > Área de análise de conformidade > Área de análise informatizada Por que será realizada e qual o seu propósito? > Obrigação legal e manutenção do controle de qualidade > Melhoria contínua do processo Como será realizada? >Exames indiretos e ou diretos Como preparar o relatório? > Dentro dos quesitos protocolares pré-definidos pela empresa. Quadro 7- Respostas para a empresa em estudo Fonte: Elaborado pelo autor Os diagramas esquemáticos também foram utilizados, tendo o objetivo de facilitar a compreensão e elucidar as relações entre o cliente, o auditor e o executor; sistemas de relacionamento; etapas na realização da auditoria, como pode ser visto no Fluxograma 2 (Capítulo 4). As demais ferramentas de controle da qualidade utilizadas foram: o ciclo PDCA (Figura 5) e Diagrama de ISHIKAWA (Figura 7) (Capítulo 3). 6.1.6 Qualificação exigida dos Auditores durante o Estudo de Caso Os auditores selecionados foram encorajados durante o estudo de caso, a obter qualificações profissionais que agregassem conhecimentos para o exercício da função. 97 A manutenção dos auditores no quadro da operadora em estudo exigiu a apresentação de certificados atualizados e determinou que eles apresentassem à coordenação pelo menos um certificado ao ano para continuidade do seu contrato. A educação continuada foi um dos requisitos essenciais para fazer parte da equipe auditora. Coube à coordenação técnica desenvolver os treinamentos que faltavam e administrar o grupo como um time coeso que se completa tecnicamente. Através desse treinamento adequado, a equipe deveria cobrir todas as áreas de auditoria em odontologia que são aplicadas pela empresa. 6.2 O DESENVOVIMENTO DO ESTUDO DE CASO 6.2.1 Etapas 1º ETAPA Inicialmente foi feito pelo setor de auditoria interna, um levantamento de alguns indicadores financeiros e não-financeiros dos anos de 2000, 1999 e 1998, relacionados à rede regional em estudo. O objetivo desse levantamento, foi selecionar dados que pudessem auxiliar no desenvolvimento de uma metodologia específica a ser implantada na rede credenciada. INDICADORES LEVANTADOS EM 2000, NA 1ª ETAPA 1– Número de reclamações registradas no setor de auditoria interna da empresa no ano de 1999. Resultado: total de 13(treze) reclamações durante o ano de 1999. 98 Motivo principal relatado: Insatisfação do usuário em relação ao atendimento clínico e extra-clínico prestado pela rede credenciada. 2--Distribuição de renda da rede credenciada. Com o levantamento feito em 2000, utilizando o controle do movimento do credenciado pelo imposto de renda de 1999 foi possível determinar faixas de ganhos com base no salário mínimo nacional, distribuídas em 06 (seis) níveis, a saber: • 01 (um) profissional com recebimento acima de 192 salários mínimos ao ano; • 20 (vinte) profissionais receberam rendimentos anuais entre 96 e 192 salários mínimos ao ano; • 31 (trinta e um) profissionais receberam entre 48 a 96 salários mínimos ao ano; • 41 (quarenta e um) profissionais receberam entre 24 a 48 salários mínimos ao ano; • 52 (cinqüenta e dois) profissionais receberam ganhos médios 12 a 24 salários mínimos ao ano, e; • 139 (cento e trinta e nove) profissionais não atingiram 12 salários mínimos ao ano. Os resultados coletados demonstraram uma distribuição de renda irregular, com acentuada discrepância entre os valores recebidos pelos diversos profissionais credenciados da rede do Estado do Rio de Janeiro. Este resultado pode ser melhor visualizado no Gráfico 1. 99 60 49% 50 Até 12 S/M* 40 12 a 24 S/M 24 a 48 S/M 30 48 a 96 S/M 18,3% 20 96 a 192 S/M 14,4% 10,9% Acima de 192 S/M 7% 10 0,4% 0 1999 N = 284 dentistas credenciados * S/M = salário mínimo nacional Gráfico 1 – Levantamento de renda anual dos credenciados no ano de 1999 Fonte: Elaborado pelo autor 3- Nível de satisfação da rede credenciada Pesquisa de nível de satisfação dos credenciados com os convênios: (conforme os dados publicados no trabalho feito por Fried e Traitel em 1998, Revista CRO-RJ, edição outubro de 1998, p. 04). Dados expostos para a rede em estudo: Amostra: 37 dentistas da rede do Rio de Janeiro; insatisfação verificada em 70,27% - 26 dentistas responderam que estavam insatisfeitos com a empresa. O nível de satisfação pode ser melhor percebido no Gráfico 2 a seguir: 100 30% INSATISFEITOS SATISFEITOS 70% N = 37 credenciados Gráfico 2 – Satisfação dos credenciados com a empresa Fonte: Fried e Traitel, 1998 4- Perfil das auditorias nas empresas concorrentes Foi feita uma pesquisa externa, através da aplicação de um questionário padrão, contendo 05 (cinco) perguntas relacionadas à auditoria (Apêndice A). O objetivo principal foi traçar o perfil das auditorias aplicadas pelas outras empresas concorrentes no mercado. Os resultados obtidos na pesquisa, foram utilizados como parâmetro de referência no desenvolvimento do estudo. Após aplicação do questionário foi feita a tabulação apresentada a seguir: 101 Empresas A B C D E F G H I J L N N N N N S N N N S N Perguntas Nº 1- A empresa exige títulos e ou experiência para o cargo de auditor ? Nº 2- Há S NI N N N N N N N S N S N S N N NI N S N N N N N N N NI N N N N NI N S S NI N N N N N NI N NI treinamento para os auditores na empresa? Nº 3- Existe um protocolo padrão a ser seguido nas análises dos tratamentos? Nº 4-Existem manuais operacionais de auditoria na empresa? Nº 5-Há registro e acompanhamento das nãoconformidades pelos auditores? S- sim; N-não; NI- não informou Quadro 8 – Pesquisa do perfil dos auditores nos Planos de Saúde do Estado do Rio de Janeiro Fonte: Elaborado pelo autor Foram selecionadas 11 (onze) operadoras de planos de saúde de grande significância no estado do Rio de Janeiro, sendo 06 (seis) Empresas do segmento de autogestão; 02 (duas) Empresas do segmento de Odontologia de Grupo; 01 102 (uma) Empresa do segmento da Cooperativa e 02 (duas) Empresas do segmento de seguros. RESULTADOS DA PESQUISA EM GRÁFICOS Pergunta 1: A empresa exige títulos e/ou experiência para o cargo de auditor? 18% 0% NÃO NÃO INFORMOU SIM 82% Gráfico 3 – Exigência para o cargo de auditor Fonte: Elaborado pelo autor 103 Pergunta 2: Há treinamento para os auditores na empresa? 18% 9% NÃO NÃO INFORMOU SIM 73% Gráfico 4 – Treinamento para os auditores Fonte: Elaborado pelo autor Pergunta 3: Existe um protocolo padrão a ser seguido nas análises dos tratamentos? 27% NÃO NÃO INFORMOU SIM 9% Gráfico 5 – Protocolo padrão Fonte: Elaborado pelo autor 64% 104 Pergunta 4: Existem manuais operacionais de auditoria na empresa? 18% 0% NÃO NÃO INFORMOU SIM 82% Gráfico 6 – Manuais operacionais Fonte: Elaborado pelo autor Pergunta 5: Há registro e acompanhamento das não-conformidades pelos auditores? 18% NÃO NÃO INFORMOU SIM 27% 55% Gráfico 7 – Registro e acompanhamento das não-conformidades Fonte: Elaborado pelo autor 105 O Quadro 9 abaixo refere-se aos percentuais obtidos na aplicação do questionário nas empresas selecionadas. SIM % NÃO % NI % Pergunta 1 18 82 0 Pergunta 2 18 73 9 Pergunta 3 27 64 9 Pergunta 4 0 82 18 Pergunta 5 18 55 27 Quadro 9 – Percentuais obtidos no instrumento de pesquisa Fonte: Elaborado pelo autor ANÁLISE CRÍTICA DO RESULTADO DA PESQUISA Na maioria das empresas, verificou-se a não exigência de uma formação especifica e ou experiência anterior para a função de auditor; observou-se também, a ausência de treinamentos, manuais, protocolos relacionados à análise e postura a ser adotada frente aos usuários e a não responsabilidade por parte do auditor em acompanhar as disposições e ações corretivas sobre as não-conformidades diagnosticadas nas auditorias. 106 90 80 70 60 NÃO NÃO INFORMOU SIM 50 40 30 20 10 0 Pergunta Pergunta Pergunta Pergunta Pegunta 1 2 3 4 5 Gráfico 8 - Amostra global dos resultados obtidos com a aplicação do questionário Fonte: Elaborado pelo autor 5- Levantamento do número total de não-conformidades odontológicas nos tratamentos solicitados à empresa no 1º semestre de 2000. O levantamento foi coordenado pelo setor de auditoria odontológica, no consultório localizado dentro da sede da empresa no município do Rio de Janeiro. Os exames foram realizados por 02 (dois) auditores especializados em Odontologia Legal e Odontologia do Trabalho. A ferramenta utilizada por estes profissionais neste levantamento inicial, foi uma lista de checagem pré-definida pela coordenação técnica, contendo itens gerais e específicos de verificação a serem utilizados durante as auditagens. O objetivo dessa primeira etapa, consistiu em identificar os principais tipos de não-conformidades odontológicas presentes na população selecionada, tendo sempre a preocupação de catalogá-las. 107 A coleta dos dados foi realizada no período de 01/01/2000 a 30/05/2000. A amostra para auditagem, consistiu na seleção de 1.570 tratamentos de um universo de aproximadamente 10.000 tratamentos solicitados e realizados no ano de 2000. TRECHO DA LISTA DE CHECAGEM INICIAL APLICADA DURANTE AS ANÁLISES Pontos Gerais: 1º Há coerência na seqüência de planejamento entre as diversas especialidades? Exemplo: Indicação de periodontia prévia em pacientes com doença periodontal, antes da reabilitação protética? • Há coerência do tratamento com as normas e coberturas da empresa? Exemplos: 1- Todos os atos solicitados foram totalmente realizados? 2- As radiografias estão nítidas, bem processadas e coerentes com o planejamento proposto? 3- Houve orientação do profissional ao paciente em relação aos custos, alternativas e propósitos da terapêutica indicada? Pontos Específicos: • As próteses fixas ou unitárias estão com adaptação e função satisfatória? Exemplos: 1- Próteses fixas e unitárias estão sem sub ou sobre-extensão de término? 108 2- Houve restabelecimento da relação interoclusal e interproximal? 3-Não há travamento nas excursões mandibulares? 4- A Mesa oclusal e as convexidades vestibulares e linguais/palatinas estão dentro da conformidade anatômica dentária? • As próteses removíveis ou totais estão adaptadas e estáveis? Exemplos: 1-Há estabilidade da peça protética? 2-Houve restabelecimento da oclusão? 3-Não há trauma na relação com o rebordo residual / fibromucosa e estruturas adjacentes? • As endodontias realizadas estão com obturação dentro de um padrão de conformidade, em relação à anatomia radicular presente? • As radiografias estão nítidas e compatíveis com o proposto? • A terapia periodontal proposta esta coerente com o quadro clínico apresentado pelo paciente? Inicialmente, foi registrado em formulário padrão os resultados mensais de todas as não-conformidades diagnosticadas durante as auditorias, preocupando-se em registrá-las em campos específicos, em relação ao grupo analisado tipo E.Descolha dirigida e o tipo L.E- livre escolha, bem como enquadrando os resultados em NCI- não-conformidade inicial e NCF- não-conformidade final. 109 Meses Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Total 186 352 315 381 336 1570 E.D 161 331 295 361 323 1471 L.E 25 21 20 20 13 99 E.D 53 91 42 54 38 278 NCI 51 85 36 43 26 241 NCF 2 6 6 11 12 37 L.E 19 17 16 6 10 68 NCI 12 12 10 0 5 39 NCF 7 5 6 6 5 29 Avaliações Número total de tratamentos selecionados Tabela 1 - Dados obtidos pelos exames realizados nas auditorias da 1º fase Fonte: Elaborado pelo autor L.E- Livre escolha ou seja dentista não credenciado E.D- Escolha dirigida ou seja dentista credenciado NCI- Não conformidade inicial NCF- Não- conformidade final ANÁLISE CRÍTICA DESTE LEVANTAMENTO Após a avaliação direta de 1570 tratamentos selecionados, no período compreendido entre 01/2000 a 05/2000, diagnosticou-se entre as situações odontológicas não-conformes, 52 (cinqüenta e dois) procedimentos de maior incidência, e estas foram separadas e catalogadas . Estes dados foram representados graficamente, determinando a tendência do processo e serão apresentados a seguir: 110 Gráfico 9 – Auditorias realizadas no ano de 2000 Fonte: Elaborado pelo autor A diferença quantitativa verificada entre o número final de avaliações realizadas entre a escolha dirigida - ED e livre escolha - LE, é devido a não obrigatoriedade da auditoria para os pacientes que optam em realizar o tratamento pela livre escolha- LE. Conforme norma da empresa, o paciente não é obrigado a fazer a auditoria, pois o dentista não credenciado não tem contrato com a empresa. 111 Gráfico 10 – Não-conformidades iniciais (NCI) e finais (NCF) verificadas na rede credenciada em 2000 Fonte: Elaborado pelo autor Gráfico 11 – Não-conformidades iniciais (NCI) e finais (NCF) verificadas na livre escolha em 2000 Fonte: Elaborado pelo autor 112 Ao final da 1a etapa, baseando-se nas informações colhidas sobre o nível de satisfação dos clientes e da rede credenciada, no perfil das auditorias aplicadas em empresas concorrentes e no tipo e número de não-conformidades odontológicas diagnosticadas durante as auditorias clínicas da 1ºfase, definiu-se uma metodologia de ação a ser aplicada sobre as avaliações de trabalhos odontológicos dos clientes, denominada Auditoria Odontológica Normalizada- AON. 2º ETAPA Foi realizada no período entre 06/2000 a 12/2000, dentro das instalações internas da empresa, tendo a participação do coordenador técnico odontológico e do auditor líder. O objetivo principal desta etapa foi analisar criticamente as informações levantadas na 1a etapa. A partir desta análise critica inicial, foi idealizada uma lista de ações a serem desenvolvidas e praticadas pelo setor de auditoria da empresa no 2º semestre de 2000. AÇÕES 1a - Definição de uma lista de verificação a ser aplicada durante as auditagens pelos auditores. Esta lista deveria relacionar as ocorrências habituais de procedimentos não-conformes. A qual, posteriormente concluída, denominou-se códigos de não-conformidades odontológicas ‘”CONACO FN 21” (Apêndice F). Especificou-se assim, para cada situação não-conforme diagnosticada, códigos alfas numéricos individuais, cada um com 04 (quatro) dígitos, formando assim, uma lista de checagem de comunicação. Esta lista deveria ser utilizada pelos auditores para a 113 comunicação e registro, quando da verificação de uma não-conformidade sobre os trabalhos avaliados. 2ª - Foram idealizados dois manuais operacionais, baseando-se nos conceitos de gestão da qualidade, ética e normas técnicas. Um específico para os auditores, referenciando principalmente os critérios de postura e verificação a ser adotada frente aos auditados, e outro para os dentistas credenciados, relacionando os padrões técnicos e critérios de qualidade a serem seguidos. 3ª - Nesta fase, também foram idealizados documentos operacionais, como o Registro de Ocorrência de Não-conformidade (RONCO – Apêndice D) e o Sistema de Bloqueio de Reação Cruzada contra fraude (SIBLO-21 – Apêndice B). 4ª - Iniciou-se a reavaliação e renovação da rede credenciada do Rio de Janeiro, utilizando para isso, um critério único de avaliação curricular e de perfil técnico e comportamental, a ser aplicada na seleção dos candidatos ao credenciamento. 5ª - Nesta fase, realizou-se treinamentos com grupos focais de profissionais credenciados (auditores e dentistas operacionais do Estado do Rio de Janeiro), apresentando-se através de palestras interativas, os dados coletados, documentos e protocolos elaborados nas fases iniciais do estudo. 6ª - Utilizou-se nesta fase, para o planejamento das auditorias e treinamento dos auditores e dentistas operacionais, as ferramentas de qualidade, como: 5W1H, PDCA, Matriz GUT, Matriz de Problemas, Soluções e Meios e Diagrama de Causa e Efeito, para detalhar os problemas verificados e registrados na primeira etapa. 7ª - O protocolo a ser adotado foi amplamente discutido, determinando assim, o que é aceitável (conforme) e não-aceitável (não-conforme) nos procedimentos odontológicos a serem auditados pelos auditores da empresa. 114 Desse modo, ficou acordado o protocolo técnico e de postura a ser adotado entre as partes envolvidas (Auditores e dentistas operacionais). Pontos Definidos: 1º- Os auditores deveriam registrar as não-conformidades apuradas durante as avaliações em formulário padrão (Sumário de evidências – Apêndice E), e estas deveriam ser acompanhadas até a resolução do problema diagnosticado; 2º- Os pareceres de não-conformidades de tratamento, deveriam ser emitidos em formulário padrão (Apêndice C), utilizando como referência, os códigos préestabelecidos no manual operacional dos auditores e dentistas operacionais, tornando a comunicação única, calibrada e ética; 3º- Os auditores deveriam seguir a postura e a lista de checagem préacordada de avaliação. Em seguida o resumo das ações realizadas no período de 06/2000 a 12/2000: • Foi elaborada uma lista de não-conformidades odontológicas ou ”lista de checagem”, contendo 52 itens especificados (CONACO). • Foram elaborados 02 (dois) manuais operacionais, um específico para a rede de dentistas credenciados e outro para os auditores e analistas internos. • Foram criadas as novas guias de plano de tratamento, guias de solicitações de exames complementares e de auditorias de qualidade. • Foi aprimorado o documento para registro de não-conformidades e acompanhamento das auditorias “sumário de evidências”. • Foi idealizada a guia de notificação de registro de não conformidade ao profissional, denominada “RONCO”. Esta Guia é emitida pela empresa, após a verificação da não-conformidade pelo auditor. Nesta guia de comunicação 115 contém a solicitação de disposição ou ação corretivas sobre os procedimentos odontológicos não conformes diagnosticados. • O Sistema de Bloqueio - SIBLO contra fraudes, foi idealizado a partir do cruzamento de informações técnicas de procedimentos odontológicos nãocompatíveis, com a finalidade de ser implantado dentro do sistema informatizado da empresa e ser adotado como referência no treinamento técnico dos auditores. • Treinamento dos auditores e dentistas operacionais, quanto à postura e critérios de avaliação e sobre a qualidade de serviços. 3º ETAPA Etapa da implantação da Auditoria Normalizada Odontológica- AON. Foi realizada no período de 01/2001 a 12/2001 e contemplou as seguintes fases: • Implantação da lista de checagem de avaliação ; • Aplicação da notificação “RONCO”; • Aplicação dos Manuais e documentos operacionais. Na terceira etapa, parte da metodologia acordada na 2º etapa foi implantada. As análises dos tratamentos passam a ser feitas utilizando como referência critérios pré-estabelecidos entre as partes, sendo as emissões e registros dos pareceres de não-conformidades verificadas inseridos nas guias de auditorias, para posteriormente a empresa notificar o profissional, através do registro de nãoconformidade odontológica (RONCO). 116 A amostra da terceira etapa consistiu na seleção de 1.206 tratamentos de um universo de aproximadamente 11.960 tratamentos solicitados e realizados no ano de 2001, como pode ser visto de maneira geral na Tabela 2 a seguir: Meses 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Total de auditorias Avaliações Número total de 52 55 199 109 146 58 113 117 116 99 116 26 tratamentos selecionados 1.206 E.D 45 50 159 97 131 47 89 101 96 77 83 21 996 L.E 07 05 40 12 15 11 24 16 20 22 33 05 210 NCI 03 05 02 04 06 03 05 04 02 02 01 01 40 NCF 02 07 09 02 04 01 02 02 01 00 01 01 32 NCI 03 01 02 03 03 01 09 02 06 03 02 00 35 NCF 02 01 14 01 05 03 05 03 04 07 09 03 57 E.D L.E L.E- Livre escolha ou seja dentista não credenciado E.D- Escolha dirigida ou seja dentista credenciado NCI- Não-conformidade inicial NCF- Não-conformidade final Tabela 2 - Dados obtidos pelos exames realizados nas auditorias da 3º etapa Fonte: Elaborado pelo autor Os dados levantados nesta terceira etapa podem ser visualizados com maior nível de detalhes através dos gráficos apresentados a seguir: 117 Gráfico 12 – Auditorias realizadas no ano de 2001 Fonte: Elaborado pelo autor Gráfico 13 – Não-conformidades verificadas na rede credenciada em 2001 118 Gráfico 14 – Não-conformidades verificadas na livre escolha em 2001 Fonte: Elaborado pelo autor 4º ETAPA Esta etapa foi realizada no período de 01/2002 a 12/2002 e contemplou as seguintes fases: • Implantação do sistema de comunicação “CONACO 21” ; • Implantação do sistema informatizado “SIBLO”. Na quarta etapa, a parte restante da metodologia acordada na 2º etapa foi implantada. Os resultados das análises dos tratamentos passam a ser comunicados aos credenciados na guia de resultado de auditoria, por meio de uma codificação denominada “CONACO FN 21”. Nesta etapa, foram auditados cerca de 1.794 tratamentos, selecionados de 11.000 solicitações no período de 12 meses e os resultados obtidos no ano de 2002 serão apresentados na Tabela 3 abaixo: 119 Meses 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Total de auditorias Avaliações Número total 72 85 131 101 146 158 213 207 226 130 156 169 de tratamentos selecionados 1.794 E.D 62 78 101 89 121 133 199 187 207 111 134 155 L.E 10 07 30 12 25 25 14 20 19 19 22 14 217 NCI 01 00 02 03 01 02 03 04 02 01 00 01 20 NCF 02 01 00 00 01 01 02 02 01 00 01 01 12 NCI 03 01 02 00 03 01 00 02 01 03 01 00 17 NCF 02 01 04 01 02 03 05 03 04 01 05 03 34 1.575 E.D L.E L.E- Livre escolha ou seja dentista não credenciado E.D- Escolha dirigida ou seja dentista credenciado NCI- Não conformidade inicial NCF- Não- conformidade final Tabela 3 - Dados obtidos pelos exames realizados nas auditorias da 4º etapa Fonte: Elaborado pelo autor Maiores detalhes dos dados obtidos nesta fase podem ser melhor visualizados nos gráficos a seguir: 120 Gráfico 15 – Não-conformidades verificadas na rede credenciada em 2002 Fonte: Elaborado pelo autor Gráfico 16 – Auditorias realizadas no ano de 2002 Fonte: Elaborado pelo autor 121 Gráfico 17 – Não-conformidades verificadas na livre escolha em 2002 Fonte: Elaborado pelo autor Na 4º etapa, também foi realizado um novo treinamento, dando ênfase as normas operacionais clínicas e extra clínicas. Foi aplicado um questionário aberto no final, solicitando sugestões e críticas em relação do processo implantado, bem como o grau de satisfação da rede perante a empresa e os motivos pelos quais levam o profissional a querer continuar como credenciado. Não foi obrigatória a identificação no questionário. Resultados obtidos com a aplicação do questionário acima citado. Satisfeitos: 94% Principais motivos declarados pelos credenciados, em ordem decrescente: • Parceria e transparência praticada pela empresa; • honorários pagos sempre na data estabelecida; • honorários satisfatórios; pacientes de bom nível e necessidade de trabalhar. Insatisfeitos: 2% Principais motivos expostos: • Baixos valores praticados em tabela; 122 • os pagamentos deveriam ser adiantados antes da realização dos tratamentos; • pouca divulgação do seu nome entre os beneficiários, e; • muita burocracia e demora na liberação dos tratamentos solicitados. Abstenção: 4% dos profissionais não responderam o questionário, deixaram em branco. O Gráfico 18 abaixo apresenta o nível de satisfação dos profissionais credenciados, possibilitando melhor visualização dos dados comentados acima. 3% 4% INSATISFEITOS NÃO INFORMOU SATISFEITOS 93% Gráfico 18 – Satisfação dos credenciados com a empresa Fonte: Setor de Auditoria Interna, 2001 A maioria dos credenciados (96%) se identificou, embora não fosse obrigatória a identificação, demonstrando, assim, a confiança na relação destes profissionais com a empresa. 7 ANÁLISE E RESULTADOS OBTIDOS 7.1 ASPECTOS INICIAIS Neste capÍtulo são apresentados os resultados comparativos do desenvolvimento do estudo resultantes da análise realizada no caso projetado. O parâmetro inicial utilizado para o estudo de caso, foi verificar, através da aplicação de um questionário junto a uma amostra de auditores internos de 11 empresas operadoras de planos de saúde odontológico de grande porte do Estado do Rio de Janeiro, se estas estavam mantendo estratégias alinhadas com a legislação vigente e a realidade de mercado, no que se refere à prática de auditorias de qualidade em seus processos, de forma programada e padronizada, traçando assim, o perfil das auditorias praticadas e diagnosticando as possíveis deficiências do mecanismo de regulação. A partir deste resultado, desenvolveu-se em uma das operadoras, um modelo de auditoria odontológica, baseada em conceitos de gestão da qualidade, tendo como objetivos verificar o grau de influência dos níveis de qualidade dos serviços prestados pelos dentistas operacionais e, das relações entre os elementos humanos envolvidos no processo, melhorando, assim os indicadores financeiros e nãofinanceiros da empresa. 124 O referencial teórico aplicado na 2º, 3º e 4ª etapas do estudo, baseou-se na aplicação de conceitos e ferramentas da qualidade aplicáveis à odontologia e ao setor de saúde. Ainda neste capítulo são apresentadas algumas recomendações para as empresas do sistema de saúde suplementar que buscam ganhar vantagem competitiva sustentável, bem como para o aprimoramento de futuras pesquisas dentro do tema deste trabalho. 7.2 ANÁLISE A introdução de um modelo de auditoria normalizada sobre as avaliações de serviços odontológicos, possibilitou a identificação e registro padrão das nãoconformidades praticadas, determinando assim, disposições e ações mais pontuais e rápidas por parte dos agentes profissionais envolvidos. Esta ferramenta normalizada influenciou o processo, diminuindo progressivamente a incidência de serviços odontológicos não-conformes e, com isto, reduziu o custo anual por vida, tanto em serviços prestados pelos profissionais credenciados como os de livre escolha, melhorando assim os níveis de satisfação dos clientes. E, no final da cadeia de valor, beneficiou tanto as vidas cobertas pela operadora como os profissionais da rede, pois altas quantias que eram gastas com os retratamentos foram direcionadas para outros fins, como aumentar o rol de cobertura de procedimentos para os clientes. A significativa redução dos serviços não-conformes, principalmente pelos credenciados da rede, possibilitou a redução dos custos finais dos serviços prestados e, conseqüentemente, permitiu a empresa reajustar os honorários profissionais congelados desde 1996. 125 O aumento da qualidade dos serviços prestados pelos profissionais credenciados influenciou na migração considerável dos beneficiários que utilizavam os serviços de profissionais de livre escolha para a escolha dirigida. Pôde ser observada significativa mudança do nível de satisfação dos dentistas operacionais, motivados pela ética e transparência praticada pelos auditores, uma vez que reclamações via telefone deixaram de existir e, no instrumento de pesquisa aplicado, os profissionais da rede credenciada sinalizaram total satisfação com a nova metodologia aplicada, eliminando assim, os conflitos existentes entre auditores e dentistas operacionais da rede. Verificou-se, uma incidência menor de reclamações dos clientes junto ao setor de auditoria interna, em relação aos serviços prestados pela rede credenciada. Os fatores citados acima foram responsáveis pela mudança de cultura de relações da operadora com seus credenciados e usuários, tornando-a uma referência de mercado para outras empresas do sistema. Esta relação alcançada determinou uma posição confortável no que tange à implantação do modelo em nível nacional, dando assim, continuidade e aprimoramento ao processo. Apesar da existência de conceitos de sistemas de gestão da qualidade, e de uma legislação ética-jurídica clara, não se conseguiu localizar, nas fontes de consulta utilizadas, trabalhos com embasamento científico e aplicação prática no mercado sobre o tema desta pesquisa. Portanto, espera-se que os resultados desta pesquisa possam auxiliar aos gestores, coordenadores e auditores de planos de saúde a terem uma visão mais ampla da aplicação de ferramentas e conceitos da qualidade ao sistema de regulação, e conseqüentemente a aprimorarem as suas estratégias para alcançarem um melhor posicionamento competitivo neste mercado. 126 O referencial teórico utilizado, foi baseado na combinação de conceitos éticos, jurídicos e técnicos da odontologia com os conceitos e ferramentas da qualidade, principalmente no uso normalizado da ferramenta auditoria. Esta Auditoria Normalizada Operacional - AON, mostrou-se eficaz e atual, possibilitando uma abordagem completa de todo o processo. A realidade do mercado e as estratégias que as empresas pesquisadas têm utilizado para aplicar a ferramenta auditoria no seu controle de processo interno, demonstraram quão extensivamente elas estão vulneráveis a perdas. O Capítulo 1, apresentou o contexto do segmento odontológico dentro do sistema de saúde suplementar, expondo um breve histórico e a relevância do tema, destacando alguns problemas relacionados a ele, e a importância do uso da ferramenta auditoria, em relação ao aprimoramento do sistema de gestão das empresas. Comentou ainda que esta ferramenta deve ser executada por profissionais capacitados, que apresentem além do conhecimento técnico-científico, atributos pessoais como imparcialidade, prudência e diplomacia, entre outros atributos exigidos para esse mister. Nos capítulos 2, 3, 4, e 5, procurou-se dar uma contribuição maior para o meio científico-acadêmico do que a de simplesmente elencar alguns trabalhos que apresentam similaridades com o tema da pesquisa. Quanto à metodologia, pôde-se observar que o método de auditoria normalizada- AON baseado no estabelecimento dos resultados apresentados no estudo, mostrou-se extremamente eficaz. Contudo, ele desafia o pesquisador a não se acomodar com os resultados obtidos, pois o mercado é altamente competitivo e deve estar alinhado com a evolução do conhecimento cientifico. 127 O fato desta pesquisa fazer parte de um projeto maior programado pela empresa a nível nacional, e não ter sido precedida por outras pesquisas de mesmo caráter, no que concerne ao mesmo referencial teórico e mesma metodologia, não prejudicou o estudo, pois a utilização inicial de um questionário específico aplicado junto a empresas líderes dos seus segmentos de mercado foi extremamente importante para a sua organização, condução e conclusões do processo. As hipóteses formuladas para responder o problema da pesquisa são as seguintes: HIPÓTESE 1: “A auditoria odontológica fundamentada em gestão da qualidade, normas e conceitos ético-jurídicos, torna o processo calibrado, diminuindo assim as possibilidades de conflitos entre as partes envolvidas, melhorando os indicadores não-financeiros?” Considerou-se confirmada esta hipótese, que é a principal da pesquisa, pois a percepção correta do uso da ferramenta auditoria normalizada foi fundamental para o estabelecimento de estratégias adequadas para se atingir as metas programadas pela empresa no seu planejamento estratégico de 2000, melhorando assim, o nível de satisfação dos profissionais credenciados e de seus clientes. Percebemos isto comparando os dados obtidos e expostos nos gráficos da pesquisa de Fried e Traitel, em 1998 e a pesquisa de satisfação da rede credenciada realizada em 2002 pela empresa, bem como a queda do número de reclamações de clientes, expostas no Gráfico 21. 128 30% INSATISFEITOS SATISFEITOS 70% Gráfico 19 – Satisfação dos credenciados com a empresa – Fried e Traitel Fonte: Fried e Traitel, 1998 3% 4% INSATISFEITOS NÃO INFORMOU SATISFEITOS 93% Gráfico 20 – Satisfação dos credenciados com a empresa em 2001 Fonte: Setor de Auditoria Interna, 2001 Os resultados levantados na pesquisa em 2002, referentes ao nível de satisfação dos profissionais credenciados, demonstraram a inversão do resultado encontrado por Fried e Traitel em 1998 na pesquisa de satisfação de profissionais conveniados com planos de saúde do Estado do Rio de Janeiro, demonstrando a ocorrência de mudança no clima organizacional em relação à parceria, tendo como principal motivo dessa inversão a declaração por parte dos credenciados da rede, sobre a transparência das regras praticadas pela empresa. 129 Tais iniciativas, levaram também, a diminuição em 70% do número de reclamações por parte dos clientes, como é expresso de forma comparativa entre os resultados registrados nos anos de 1999 e 2002 (Capítulo 7). 14 12 10 8 6 4 2 0 1999 2002 Gráfico 21 – Número de reclamações apresentadas pelos beneficiários nos anos de 1999 e 2002 Fonte: Elaborado pelo autor Estes resultados demonstram que os indicadores não-financeiros alcançados, foram significativos após a implantação das auditorias padronizadas, eliminando os conflitos existentes citados no desenvolvimento do trabalho, principalmente entre auditores e dentistas operacionais, tornando assim o processo calibrado. HIPÓTESE 2: “A auditoria odontológica pode melhorar os indicadores financeiros, tais como redução dos custos da empresa e melhoria dos honorários para os profissionais credenciados” Verificou-se que esta hipótese foi comprovada, levando-se em conta que, os gastos por vida para a empresa diminuíram significativamente (Gráfico 28), após a 130 implantação da auditoria normalizada, proporcionando assim, o reajuste dos honorários profissionais da rede e, conseqüentemente, uma maior e melhor distribuição de renda, como pode ser visto através do Gráfico 27. Os resultados anuais obtidos nas análises de 2000, 2001 e 2002, juntamente com uma característica de ação individual implantada no período correspondente, em relação ao desenvolvimento do modelo de auditoria normalizada estão representados nos gráficos 22, 23 e 24. Com esta representação gráfica individual, anual e comparativa tem-se demonstrada a evolução dos resultados durante toda realização do estudo de caso. O Gráfico 25 apresenta os resultados do levantamento inicial das auditorias na 1º etapa, onde os profissionais não tinham ciência da postura e protocolo a ser adotado pelos auditores de empresa durante as avaliações sobre os serviços solicitados e prestados: Gráfico 22 - Comparativo das não-conformidades diagnosticadas entre a rede credenciada e a livre escolha em 2000 Fonte: Elaborado pelo autor 131 Resultados do 2º levantamento das auditorias realizado na 3ºetapa do estudo. Os profissionais credenciados já tinham conhecimento inicial dos parâmetros e regras das auditorias a serem adotadas: Gráfico 23 – Comparativo das não-conformidades diagnosticadas entre a rede credenciada e a livre escolha em 2001 Fonte: Elaborado pelo autor Conforme os dados expostos no Gráfico 25, se verifica a significativa redução das ocorrências de não-conformidades sobre os tratamentos auditados dos profissionais de livre escolha e da rede credenciada durante as avaliações anuais, sendo evidenciada um melhor resultado sobre as avaliações do grupo de profissionais credenciados e isto certamente foi resultante do treinamento específico e do conhecimento dos parâmetros e regras a serem adotadas durante as avaliações pelos auditores. 132 Resultados do 3º levantamento das auditorias realizado na 4ºetapa do estudo, nesta fase os profissionais credenciados já tinham consolidado o conhecimento dos parâmetros e regras adotadas no modelo de auditoria proposta: Gráfico 24 – Comparativo das não-conformidades diagnosticadas entre a rede credenciada e a livre escolha em 2001 Fonte: Elaborado pelo autor 133 80 70 67% 60 50 40 30% 30 20 ED LE 16% 19% 7% 10 2% 0 2001 2002 2003 N = 4.570 tratamentos auditados Gráfico 25 – Evolução das não-conformidades diagnosticadas nos anos de 2000, 2001, 2002 entre ED e LE Fonte: Elaborado pelo autor Conclui-se com a visualização do gráfico acima que as medidas adotadas pelo modelo proposto durante o estudo, influenciaram de forma significativa e positiva a redução de não-conformidades odontológicas por parte dos dois grupos de prestadores analisados, porém o grupo de profissionais da escolha dirigida ou seja a rede credenciada tevê um resultado bem superior aos da livre escolha, isto se justifica pela ciência desse grupo, do protocolo e normas operacionais de avaliação acordadas com a empresa. A queda das ocorrências de não-conformidades sobre os tratamentos solicitados e realizados pela livre escolha, ou seja, sobre o grupo de profissionais que não tiveram ciência direta do protocolo de auditagem a ser adotado nas avaliações, se deve, provavelmente, a informação dada pelos pacientes aos seus dentistas da obrigatoriedade, a partir de janeiro de 2001, da auditoria prévia para certos tratamentos de alto custo, sendo, esta análise inicial, requisito básico para o reembolso das despesas relatadas pelo profissional em orçamento. Anteriormente, 134 até dezembro de 2000, não eram obrigatórias as auditorias nos tratamentos solicitados de livre escolha, salvo em ortodontia. No comparativo dos gráficos anuais apresentados, observamos que a partir de 2001, aumentou a amostra de análises realizadas neste grupo, conseqüência da obrigatoriedade das auditorias prévias, verificando-se assim, uma queda considerável de não-conformidades em nível total de tratamentos solicitados, porém é claro e evidente que este resultado foi devido à diminuição das ocorrências de planejamentos e solicitações indevidas na fase inicial, fato este comprovado pelos resultados de não-conformidades levantados entre as auditorias iniciais e finais do grupo. A partir deste resultado, levando-se em conta que os gastos por vida para a empresa diminuíram significativamente após a implantação da auditoria normalizada, foi permitido um reajuste dos honorários profissionais da rede, e conseqüentemente influenciando numa maior e melhor distribuição de renda, sendo estas afirmações descritas no Gráfico 30. 100 29% 90 80 70 23% Até 12 S/M* 20% 60 12 a 24 S/M 50 24 a 48 S/M 14% 48 a 96 S/M 12% 40 96 a 192 S/M 30 Acima de 192 S/M 20 2% 10 0 2002 N = 284 dentistas credenciados * S/M = Salário Mínimo Nacional Gráfico 26 – Levantamento de renda anual dos credenciados no ano de 2002 Fonte: Elaborado pelo autor 135 Foi feito em Janeiro de 2003, um novo levantamento da renda obtida pelos 284 profissionais credenciados no ano de 2002. Renda anual da rede credenciada do Estado do Rio de Janeiro: demonstrou uma distribuição de renda entre os profissionais credenciados: 06 (seis) profissionais receberam rendimentos superiores a 192 salários mínimos ao ano; 33 (trinta e três) profissionais receberam rendimentos entre 96 a 192 salários mínimos ao ano; 40 (quarenta) profissionais receberam entre 48 a 96 salários mínimos ao ano; 56 (cinqüenta e seis) profissionais receberam entre 24 e 48 salários mínimos ao ano; 84 (oitenta e quatro) profissionais receberam ganhos médios entre 12 e 24 salários mínimos ao ano e 65 (sessenta e cinco) profissionais não atingiram 12 salários mínimos ao ano. 160 140 120 100 1999 2002 29% 80 23% 20% 60 14% 40 12% 20 0 2% 49% 18,3% 14,4% 10,9% 7% 0,4% Gráfico 27 – Comparativo dos rendimentos obtidos em 1999 e 2002 Fonte: Elaborado pelo autor Deve-se lembrar que entre os fatores que influenciaram o aumento de renda e melhor distribuição de honorários entre os credenciados, estão o reajuste aplicado sobre a tabela de honorários no ano de 2002, fato este derivado da redução 136 considerável das não-conformidades durante a aplicação do modelo de auditoria normalizada, e também, a migração de parte dos usuários que utilizavam os serviços de livre escolha para a rede credenciada. Evolução dos gastos por vida, durante a implantação e desenvolvimento do estudo de caso, serão referenciadas e expressas no gráfico por percentual, devido o sigilo desta informação para a empresa, porém é respeitada a relação financeira ocorrida entre os anos do estudo. 120 100% 100 95% 85% 80 78% 60 40 20 0 2000 2001 2002 2003 Gráfico 28 – Evolução custo assistência odontológica livre escolha – rede credenciada – 2000 a 2003 Fonte: Setor Financeiro O pequeno aumento do custo em 2002, foi derivado do reajuste ocorrido na tabela de honorários profissionais da empresa. Os resultados acima obtidos permitem afirmar que o estudo obteve êxito para a empresa. 137 HIPÓTESE 3: “A utilização da metodologia proposta pode contribuir para o desenvolvimento da auditoria odontológica, principalmente ao demonstrar a aplicação prática dos conhecimentos teóricos afins relacionados” Pode-se afirmar que a hipótese 3 também é confirmada, ou seja, a empresa pesquisada, teve seu sistema reformulado por princípios de auditoria da qualidade, alcançando um melhor posicionamento estratégico e vantagem competitiva sustentável 8 CONCLUSÃO Pretende-se com as informações obtidas através da realização deste trabalho criar um referencial de consulta para alunos e pesquisadores do meio científicoacadêmico e para os consultores e profissionais interessados nos assuntos correlatos com o tema desenvolvido. Os capítulos iniciais serviram para contextualizar o presente trabalho, demonstrando a importância da ferramenta auditoria dentro da odontologia, enfatizando o perfil do profissional que irá exercer o mister da auditoria odontológica. Os pontos das obras analisadas que devem ser destacados, tanto pelo alinhamento com as conclusões desta pesquisa quanto como alertas para as empresas que buscam, efetivamente, aplicar um sistema de regulação eficiente, são os seguintes: • É necessário dar foco equilibrado à realidade de mercado em relação às práticas dos concorrentes, prestadores, clientes e serviços; • Os funcionários, auditores e dentistas operacionais devem ser permanentemente treinados e capacitados para lidar com a evolução das tecnologias. Todo o investimento em educação do pessoal terá alto retorno; 139 • Fatores humanos regrados são os elementos mais importantes para o uso de um sistema de regulação eficiente; • As empresas parecem estar despreparadas metodologicamente, quanto ao uso de ferramentas da qualidade sobre os serviços de seus prestadores odontológicos, não enfrentando as forças competitivas do mercado através de recursos e técnicas de gestão; • Uma empresa para manter liderança competitiva não pode acomodar-se com o sucesso atual das suas soluções e dos seus indicadores financeiros, que devem ser contínua e rapidamente atualizados com as necessidades do mercado e contexto profissional dos seus prestadores; • É mandatório haver alinhamento estratégico da ferramenta auditoria com o direcionamento estratégico da empresa em relação ao perfil de seus parceiros; • Deve-se escolher a ferramenta de qualidade mais adequada às necessidades de cada empresa de forma a se tornar competitiva e, não somente, reduzir os seus gastos. Especificamente para as operadoras de saúde, foi possível resgatar os seguintes pontos nas obras analisadas: • Há necessidade de investimentos, principalmente em programas de auditoria; • Existe enorme oportunidade tanto de implementação de novos sistemas quanto de melhoria dos existentes; • A insatisfação dos profissionais com a prática de auditagem adotada, até o momento, pelas operadoras de saúde; 140 • A seleção de ferramentas da qualidade aplicáveis à área odontológica como: PDCA (Plan, Do, Check e Action), Diagrama de Causa e Efeito, Matriz GUT (Gravidade,Urgência e Tendência), 5W1H e Auditoria; • A auditoria no Brasil, apesar da sua eficácia para a cadeia de valor é mais usada pelas operadoras para o policiamento e fiscalização dos seus profissionais, do que para a melhoria do seu sistema de qualidade de serviços, sendo subutilizada para integrar clientes e prestadores; • A partir da década de 90, verifica-se que para manter e conquistar novos clientes é necessário ter maior controle do processo, principalmente reduzindo o índice de não-conformidades e aumentando a vida útil dos serviços prestados; • A manutenção de um processo sustentável está na excelência da estratégia e administração dos canais de controle por parte do setor de auditoria interna da empresa. A hipótese 1 é consistente, conforme os resultados de nível de satisfação dos profissionais da rede credenciada e nível de reclamações dos clientes da empresa, como pôde ser observado na análise dos resultados realizada no capítulo 7, concluindo-se, portanto, que houve significativa melhora dos indicativos finais nãofinanceiros. A hipótese 2 foi comprovada uma vez que os custos das empresas sofreram significativa redução como pôde ser confirmada na análise dos dados (Capítulo 7). Pelos resultados encontrados, a hipótese 3 é confirmada, ou seja, a empresa pesquisada teve seu sistema reformulado por princípios de auditoria, alcançando um melhor posicionamento estratégico e vantagem competitiva sustentável. 141 Durante a análise dos dados obtidos pelo questionário aplicado no mercado, observou-se a fragilidade do sistema de auditoria utilizado até aquele momento. As auditorias normalizadas, servirão para determinar se os serviços oferecidos pela rede credenciada alcançaram os objetivos de qualidade traçados pela direção da operadora de saúde. As avaliações padronizadas sobre os planejamentos odontológicos e o uso de uma linguagem codificada para a comunicação, foram fatores que influenciaram na melhoria das relações entre as partes envolvidas, facilitando a tramitação de informações e registros, e resultando assim, em disposições e ações corretivas mais rápidas e eficientes. A partir daí, formou-se uma nova cultura de parceria, onde valores como respeito, ética, humildade e transparência, tornaram-se os pilares de sustentação desse novo sistema proposto. Tendo como produto evidente destas ações, a melhoria das relações interpessoais dos elementos humanos envolvidos no processo. Esta padronização teve como conseqüência a diminuição dos conflitos entre os elementos humanos envolvidos no processo, determinando a melhoria dos trabalhos, das ações corretivas e do relacionamento entre empresa, credenciado e auditor, aumentando a parceria e reforçando o sistema. O resultado provocado pelo modelo proposto, foi fruto da associação de conceitos de gestão da qualidade com os conhecimentos éticos e técnicos da área odontológica vigente, formando assim , uma nova maneira de auditar. Com isso, não houve a continuidade do ciclo fechado vicioso, onde as repetições de trabalhos geram mais despesas, e essas despesas não permitem reajustes periódicos para os profissionais, e conseqüentemente estes ficam 142 desmotivados, podendo assim aumentar a probabilidade de um atendimento deficiente, resultando em um número maior de trabalhos não-conformes prestados, gerando assim, as repetições. Conclui-se que o cargo de auditor “avaliador” odontológico requer além da competência técnico-científica-legal, atributos pessoais específicos, qualidades estas que devem estar presentes neste mister. A literatura em áreas afins, com especificidade em qualidade, mostrou o caminho e os atributos necessários para o profissional que quer se aprofundar no assunto de auditoria. A gerência da empresa em estudo, concluiu que a forma de alavancar novos clientes e continuar sendo competitiva neste segmento, que está constantemente em mudanças, é continuar o projeto de melhoria sobre seus prestadores e seus clientes Esta conclusão está alinhada com a aplicação do modelo do estudo em nível nacional, ou seja em toda rede Brasil. Também, este modelo de auditoria começou a ser implantado a partir de 2002 em outra grande empresa nacional, adotando este trabalho como referencial no desenvolvimento do seu sistema de regulação e controle sobre os benefícios odontológicos prestados aos seus beneficiários. Contudo, uma conclusão é comum a todas as empresas brasileiras cobertas pelas pesquisas referenciadas: a Auditoria é intensamente utilizada nos seus processos operacionais internos, porém sem planejamento estratégico operacional. Esta posição está confirmada pelos resultados do questionário aplicado na 1º etapa do estudo, bem como pelas citações encontradas em literatura pesquisada. Deve-se também, considerar que a terminologia “Perícia”, adotada pela maioria das empresas no Brasil para avaliações dos seus serviços odontológicos, é totalmente 143 inadequada frente aos fundamentos, conceitos e objetivos de gestão da qualidade aplicados ao sistema de regulação de serviços. Pela primeira vez mostrou-se os resultados da aplicação prática de um sistema de regulação sobre a rede operacional de dentistas, dentro de uma operadora de saúde suplementar nacional (vide capítulo 6 – Estudo de Caso). A obtenção de vantagem competitiva sustentável num mercado turbulento como o do sistema de saúde suplementar depende fortemente da implementação de estratégias que abordem de forma balanceada a aplicação de conceitos de gestão da qualidade sobre os seus clientes e prestadores. Como os serviços aos clientes finais são conduzidos maciçamente por diferentes profissionais vinculados ou não a empresa, é mandatório que estes dentistas estejam cientes e plenamente alinhados com as normas de qualidade adotadas no sistema de regulação da empresa e a realidade de mercado. Da mesma forma que os dentistas operacionais credenciados, os auditores das empresas devem ser permanentemente treinados, para que implementem processos eficazes de comunicação e avaliação, evitando assim conflitos, promovendo uma perfeita sintonia de atuação com as estratégias competitivas das empresas. Sabe-se que é preciso haver um esforço geral e abrangente de conscientização coletiva do serviço, das necessidades dos clientes e da cooperação e do trabalho de equipe em nome da qualidade, e é necessário que os gerentes, administradores, auditores, coordenadores e dentistas operacionais estejam sincronizados e envolvidos neste processo. 144 As empresas devem escolher as tecnologias mais adequadas às suas estratégias competitivas e não as mais caras ou que estão em evidência no mercado. Um foco maior deve ser dado aos processos e sistemas correlatos que contribuam para a eficácia dos resultados da cadeia de valor, criando com isto fidelidade dos seus elementos humanos, principalmente dos seus auditores e dentistas operacionais. A auditoria normalizada, também deve ser utilizada para avaliar como as expectativas e as necessidades dos clientes estão sendo atendidas, com intuito de neutralizar as insatisfações que possam surgir nas relações do sistema. A despeito do sucesso comprovado da metodologia neste estudo de caso, recomenda-se que os questionários e auditorias normalizadas sejam aprimorados e ajustadas para adequar as peculiaridades do segmento que está sendo pesquisado. Esta iniciativa pode contribuir para um maior número de adesões às futuras pesquisas e reduzir o tempo dos levantamentos de campo. Na pesquisa para traçar o perfil da auditoria no Estado do Rio de Janeiro, ficou confirmada a alta receptividade dos profissionais operacionais envolvidos a este tipo segmento. Definitivamente, o pesquisador desta dissertação aceita o argumento, após ter vivenciado uma década de trabalho como auditor dentro de grandes empresas operadoras do sistema de saúde suplementar, e pode comprovar que na prática, que trinta a quarenta minutos que um gerente, coordenador ou auditor líder dedique a responder um questionário não causa impacto adicional ao seu já turbulento dia-a-dia de trabalho. O pesquisador entende que uma maior aproximação da universidade com as empresas pode contribuir para aumentar a visibilidade da importância deste tipo de 145 pesquisa tanto para o progresso da ciência quanto para os resultados das empresas participantes das pesquisas e do segmento de saúde do qual ela faz parte. O universo e a amostra selecionada para a pesquisa, devem ser escolhidos de tal forma que possibilite ao pesquisador conduzir pessoalmente a maior parte das entrevistas, minimizando a quantidade de questionários enviados e recebidos pelo Correio e pela Internet. A interação pessoal possibilita a obtenção de maior número de informações e o conhecimento de detalhes impossíveis de serem obtidos por outros canais de comunicação do pesquisador com as empresas pesquisadas. Considerando que as respostas aos questionários são baseadas nas percepções das pessoas que os respondem, recomenda-se que os respondentes tenham larga vivência no segmento do sistema de regulação da empresa pesquisada e que estejam perfeitamente informados e alinhados com as estratégias competitivas. É importante citar que algumas das respostas dadas pelos profissionais em relação ao questionário, como Não-Informado (NI) tipificam na realidade, a partir da experiência do pesquisador, a não existência do procedimento no sistema da empresa pesquisada. Espera-se que futuros pesquisadores empenhem-se pela continuidade e atualização deste trabalho, contribuindo para o progresso do conhecimento científico e para o desenvolvimento da ferramenta auditoria, aplicável em odontologia nas empresas do sistema de saúde suplementar nacional. REFERÊNCIAS A.C.A.D.A.O. Revista de la Asociación Odontológica.2000, Números 1, 2, y 4. Civil Argentina de Auditoría AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE. RDC 39/2000 e Lei 9.656/98, Disponível em www.ans.gov.br. Acesso em maio de 2002. ALBRECHT, K. Revolução nos serviços: como as empresas podem revolucionar a maneira de tratar os seus clientes. São Paulo: Pioneira, 1992. ALCÂNTARA, H. R. Perícia Médica Judicial. Rio de Janeiro, Guanabara Dois, 1982, 367 p. 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SOUZA LIMA, A. J. de Tratado de Medicina Legal. 5o. ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1933. STAT-A-MATRIX. ISO 9001:2000/Lead Assessor. Rio de Janeiro, HGB, 2001, p. 10, 13. YAMAMOTO, T. Relatório de auditoria. Rio de Janeiro: Litteris, 1988. TEYLOR, Sidney. Ferramentas para aprimoramento da qualidade. São Paulo, s/ editora, 1995. TOMAZ, P. Jornal APCD, Ed.Fevereiro de 2001, p.41 150 APÊNDICES 151 APÊNDICE A - Questionário Questionário- Perfil da Auditoria nos Planos de Saúde do Estado do Rio de Janeiro Data das informações: Segmento da Empresa : Autogestão Odontologia de Grupo Cooperativa Seguradora A empresa exige títulos e experiência para o cargo de auditor ? Sim Não Há treinamento para os auditores na empresa ? Sim Não Existe um protocolo padrão a ser seguido nas análises? Sim Não Existem manuais operacionais de auditoria na empresa? Sim Não Há registro e acompanhamento das não-conformidades pelos auditores? Sim Não Responsável pelas informações: Questionário aplicado nas empresas referenciais de mercado no Estado do Rio de Janeiro: Período de apuração - 1º semestre de 2000. 152 APÊNDICE B - Sistema de Bloqueio de Reação Cruzada-SIBLO POR PROCEDIMENTO ODONTOLÓGICO CÓDIGOS DIVERSOS Critério I Critério II Somente 01(um) código apto Bloqueio: por 90(noventa) dias,para o segundo código Amálgama classe I ou V ---- 08-47-49-51-56-57-58-66-71-72-7388 10- Bloqueia: 10 11- idem a regra acima especificada Amálgama classe II (2 ou mais faces) 11 Quando solicitado bloqueia definitivamente o 101 08-47-49-51-56-57-58-66-71-72-73-88 12- idem a regra acima especificada Resina composta quimioativada classe III / V --- deverá ser obrigatória o quesito XzA-009 13 14 Mais de 07(sete) Restaurações por orçamento ou semestre, Fotopolimerizável classe I, V ou VI (posterior) Fotopolimerizável classe-II (posterior) 48-51-53-54-56-57-66-67-68-71-72-73-88-89 Quando solicitada 12 Quando solicitado bloqueia definitivamente o 203 13- idem a regra acima especificada 08 47 49 51 56 57 58 66 71 72 73 88 89 73 88 89 14- idem a regra acima especificada 08 47 49 Fotopolimerizável classe-V (anterior) 51 56 57 58 66 71 72 15- idem a regra acima especificada 48 15 51 53 54 56 57 66 67 68 71 72 73 --Fotopolimerizável classe-III (anterior) 16 16- idem a regra acima especificada 48 51 53 54 56 57 66 67 68 71 72 Quadro –Trecho da matriz utilizada no Sistema de Bloqueio de Reação Cruzada SIBLO 21 73 89 153 APÊNDICE C – Formulário 1 154 APÊNDICE D – Formulário 2 – RONCO 155 APÊNDICE E – Formulário 3 – Auditoria Odontológica de Qualidade 156 APÊNDICE F – CONACO FN 21 157 ANEXO 158 ANEXO A – Resolução 20.2001 do Conselho Federal de Odontologia RESOLUÇÃO- CFO 20/2001 O Conselho Federal de Odontologia, no uso de suas atribuições que lhe confere a Lei nº 4.324, de 14 de abril de 1964, regulamentada pelo Decreto nº 68.704, de 3 de junho de 1971, e: Considerando que os Conselhos Federal e Regionais de Odontologia têm por finalidade a supervisão da ética profissional em todo território nacional, cabendo-lhes zelar e trabalhar pelo bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente; Considerando que cabem ao Conselho Federal de Odontologia e aos Conselhos Regionais de Odontologia, ainda, como órgãos de seleção, a disciplina e a fiscalização da Odontologia em todo País, a defesa do livre exercício da profissão, bem como o julgamento das infrações à lei e à ética; Considerando que o crescimento do mercado de operadoras de planos de saúde, intermediadoras e congêneres e a mudança da relação profissional/paciente vêm aumentando o número de demandas éticas nos Conselhos Regionais envolvendo a atividade dos auditores; Considerando a necessidade de disciplinar a fiscalização praticada nos atos odontológicos pelos serviços contratantes de saúde; Considerando que a auditoria do ato odontológico constitui-se em importante mecanismo de controle e avaliação dos recursos e procedimentos adotados, visando sua resolução e melhoria na qualidade da prestação dos serviços; 159 Considerando que a auditoria e/ou perícia odontológica caracteriza(m)-se como ato(s) odontológico(s), por exigir(em) conhecimento técnico, pleno e integrado da profissão; Considerando que um dos deveres fundamentais dos cirurgiões-dentistas é zelar pela saúde e pela dignidade do paciente; Considerando que o cirurgião-dentista investido da função de auditor e/ou perito encontra-se sob a égide do preceituado no Código de Ética Odontológica, em especial o constante nos artigos 5º, 6º, 8º, 9º, 10º e 11º; Considerando que muitas demandas cíveis são originadas por inobservâncias às normas éticas, que norteiam a profissão do cirurgião-dentista, visto que já foi consolidado junto ao Superior Tribunal de Justiça decisão responsabilizando solidariamente o cirurgião-dentista, a empresa prestadora de serviço e, conseqüentemente, o auditor que presta serviço para empresa responsável; Considerando que perícia é um termo jurídico que se refere à área cível, criminal, e trabalhista; Considerando que para resolução de alguns problemas éticos odontológicos é necessária a realização de perícia administrativa; RESOLVE: Art. 1º. Esta Resolução institui as normas que definem a função e regulamentam as atividades dos peritos/auditores, concernentes à ética profissional odontológica. Art. 4º. Considera-se auditor o profissional concursado ou contratado por empresa pública ou privada, que presta serviços odontológicos e necessite de auditoria odontológica permanente para verificação da execução e da qualidade técnicacientífica dos trabalhos realizados por seus credenciados. 160 Art. 5º. São atribuições específicas do auditor: seguir as normas técnicas administrativas da empresa em que presta serviço, observar se tais normas estão de acordo com os preceitos éticos e legais que norteiam a profissão do cirurgiãodentista, recusando-se a cumpri-las caso estejam em desacordo com o Código de Ética Odontológica. § 1º. Aplicar medidas técnicas e administrativas que visem corrigir a cobrança de procedimentos odontológicos indevidos ou equivocados com avaliação da exatidão e procedência dos valores e serviços apresentados para o pagamento (auditoria corretiva). § 2º. Efetuar auditoria prévia, quando a empresa assim o determinar e analisar o plano de tratamento proposto inicialmente, guardando cópia em arquivo próprio. § 3º. Efetuar auditoria final, verificando se o resultado, proposto inicialmente no plano de tratamento, foi alcançado. § 4º. Assessorar a operadora em todas as questões legais e administrativas, que se relacionam com o programa de assistência odontológica, e analisar críticas, reclamações, sugestões, reivindicações dos usuários, das operadoras e da rede prestadora (elo técnico administrativo). Art. 6º. O cirurgião-dentista, na função de auditor e/ou perito, se obriga a manter o sigilo profissional, devendo, sempre que necessário, comunicar, através de relatório, a quem de direito e por escrito suas observações, conclusões e recomendações, sendo-lhe vedado realizar anotações no prontuário do paciente. § 1º. É vedado ao cirurgião-dentista, na função de auditor e/ou perito, divulgar suas observações, conclusões ou recomendações, exceto por justa causa, conforme previsto no Código de Ética Odontológica, ou dever legal. 161 § 2º. O cirurgião-dentista, na função de auditor e/ou perito, não pode, em seu relatório, exagerar ou omitir fatos decorrentes do exercício de suas funções. § 3º. Poderá o cirurgião-dentista na função de auditor solicitar por escrito, ao cirurgião-dentista assistente, os esclarecimentos necessários ao exercício de suas atividades. Art. 7º. O cirurgião-dentista, na função de auditor e/ou perito, tem o direito de acessar, in loco, toda a documentação necessária, sendo-lhe vedada a retirada dos prontuários ou cópias da instituição, podendo, se necessário, examinar o paciente, devidamente autorizado pelo mesmo, quando possível, ou por seu representante legal. § 1º. Havendo identificação de indícios de irregularidades no atendimento do paciente, cuja comprovação necessite de análise do prontuário odontológico, é permitida a retirada de cópias exclusivamente para fins de instrução da perícia ou auditoria. § 2º. O cirurgião-dentista, na função de auditor ou perito, só poderá acompanhar procedimentos no paciente com autorização do mesmo, ou do seu representante legal e/ou do seu cirurgião-dentista assistente. Art. 8º. O cirurgião-dentista, no exercício de auditoria ou perícia, deverá estar regularmente inscrito no Conselho Regional de Odontologia, comunicando ao CRO, da jurisdição onde ocorrer a prestação do serviço, seu exercício quando eventual. Art. 9º. As empresas que prestam serviços de auditoria e/ou perícia e seus responsáveis técnicos deverão estar devidamente registrados nos Conselhos Regionais de Odontologia das jurisdições onde seus contratantes estiverem atuando. 162 Art. 10. Na função de auditor ou perito, o cirurgião-dentista deverá identificar-se, de forma clara, em todos os seus atos, fazendo constar, sempre, o número de seu registro no Conselho Regional de Odontologia. Art. 11. O cirurgião-dentista, na função de auditor ou perito, deverá apresentar-se ao diretor técnico ou substituto da unidade, antes de iniciar suas atividades. Art. 12. O diretor técnico ou diretor clínico deve garantir ao cirurgião-dentista/equipe auditora todas as condições para o bom desempenho de suas atividades, bem como o acesso aos documentos que se fizerem necessários, sob pena de responder ética ou administrativamente pela omissão. Art. 13. O cirurgião-dentista, na função de auditor, encontrando impropriedade ou irregularidade na execução do serviço no paciente deve comunicar o fato por escrito ao cirurgião-dentista assistente, solicitando os esclarecimentos necessários para fundamentar suas recomendações. Parágrafo único. É vedado ao cirurgião-dentista, na função de auditor e/ou perito, transferir sua responsabilidade a outros profissionais, mesmo quando integrantes de sua equipe. Art. 14. Não compete ao cirurgião-dentista, na função de auditor, a aplicação de quaisquer medidas punitivas ao cirurgião-dentista assistente ou instituição de saúde, cabendo-lhe somente recomendar as medidas corretivas em seu relatório, para o fiel cumprimento da prestação da assistência odontológica. Art. 15. Fica estabelecido que é primordial à função de perito/auditor conhecimento técnico e humanístico, formação moral, discrição, idoneidade, imparcialidade, moderação e dignidade profissional em todas as circunstâncias, evitando fazer qualquer comentário perante colegas e terceiros a respeito do trabalho 163 auditado/periciado, ficando sujeito o infrator às penas do Código de Ética Odontológica. Art. 16. É vedado ao perito/auditor fazer, perante o usuário, comentários ou observações sobre os serviços executados, ou indicar a este, outro profissional para realizar o tratamento. Art. 17. As observações em casos de restrições a determinados procedimentos serão feitas através do contato do perito/auditor com o cirurgião-dentista assistente, pessoalmente ou por correspondência assinada e em envelope lacrado, de forma codificada, para que seja preservado o sigilo. Art. 18. Cabe ao perito/auditor glosar serviços propostos ou executados, quando não atenderem às restrições observadas ou estabelecidas como norma pela empresa, devidamente justificados. Art. 19. Não é compatível o exercício da função de perito/auditor quando o cirurgiãodentista for, por si ou através de empresa prestadora de atenção odontológica da qual faça parte, conveniado ou credenciado da empresa contratante. Art. 20. Fica vedado ao cirurgião-dentista prestar serviços de auditoria à empresa não inscrita no CRO da jurisdição em que estiver exercendo suas atividades. Parágrafo Único. Deve o profissional informar ao CRO da jurisdição a existência de empresa prestadora de serviços odontológicos sem inscrição no Conselho. Art. 22. O cirurgião-dentista, na função de auditor, não pode ser remunerado ou gratificado por valores vinculados à glosa. Art. 23. A critério do CRO, por ato de seu presidente, poderá ser constituída comissão especial para analisar e dirimir, se possível, as dúvidas éticas suscitadas entre o perito/auditor e o cirurgião-dentista assistente. 164 Art. 24. A codificação a ser usada pelo perito/auditor em sua comunicação com o cirurgião-dentista assistente utilizará o código de procedimentos da CNCC, o sistema de dois dígitos de identificação dentária, a especificação da face do elemento dentário pelas letras que as designam e pelas três primeiras letras do verbo que determinar a intervenção.