A LUTA PELA TERRA NO SUL DE MINAS: CONFLITOS AGRÁRIOS NO MUNICÍPIO DE CAMPO DO MEIO (MG) Arthur Rodrigues Lourenço¹ e Ana Rute do Vale² [email protected], [email protected] ¹ discente do curso de geografia – Unifal-MG ² docente do curso de geografia – Unifal-MG Palavras-chave: latifúndio; resistência; reforma agrária; luta pela terra Introdução O campo brasileiro comporta em seu seio contradições e desigualdades que tem raízes históricas, o monopólio da terra e os conflitos agrários são os principais problemas da questão agrária brasileira. Como muito bem assinala Andrade (1980) o monopólio da terra sempre foi um fator que engendra a desigualdade e conflitos. Nesse sentido, é de grande relevância apontar fatos históricos que levam a luta pela terra e impedem a realização de uma reforma agrária. A Geografia, como toda ciência social, tem um importante papel a desempenhar na construção de uma sociedade mais igualitária, deve analisar os motivos que levam as contradições existentes no campo brasileiro e, através da teoria e prática, apresentar à sociedade o porquê e como resolver o histórico problema da questão agrária brasileira. Este trabalho pretende fazer uma abordagem analítica dos conflitos agrários que ocorrem no município de Campo do Meio (MG), nas áreas em litígio da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (CAPIA) e ex-usina Ariadnopólis, que envolvem os trabalhadores sem-terra, representantes da usina falida e o Estado. São sete acampamentos compostos por mais de 200 famílias encampando a luta pela conquista da terra. Objetivos 1 Este trabalho tem como objetivo analisar e relatar os elementos que constituem o fenômeno social da luta pela terra no sul de Minas Gerais e os fatores que impedem a realização da reforma agrária nas áreas em conflito. Mais especificamente, nosso trabalho pretende: a) analisar os fatores que compõem a questão agrária do sul de Minas Gerais dentro do contexto brasileiro; b) caracterizar os acampamentos existentes, com relação às atividades agropecuárias desenvolvidas; c) analisar e relatar a organização política dos acampamentos; d) descrever a trajetória de luta dos acampamentos; e) relatar as ações políticas promovidas pelos sem-terra e as questões jurídicas; f) analisar o papel desempenhado pelo poder público na resolução dos conflitos. Fundamentação teórica Iniciada com a invasão portuguesa sobre nosso território no século XVI, a luta pela terra é um fenômeno histórico do campo brasileiro. O monopólio da terra protagonizou desigualdades sociais no campo e na cidade, formatou espaços e territórios definidos pela lógica do capital. Como não houve um processo de reforma agrária, os conflitos no campo são desdobramentos da concentração fundiária. Por essa razão, esse fenômeno social se manifesta no espaço e no tempo com características próprias de cada região, resultado das diferentes formas de ocupação do território e organização espacial, dos fatores econômicos e sociais definidos pelo desenvolvimento do capital. Para Fernandes (2001, p. 10) a luta pela terra é “um elemento estrutural do capitalismo”. A luta pela terra não é um elemento novo na questão agrária brasileira, para Oliveira (1989, p. 15), “os conflitos sociais no campo, no Brasil, não são exclusividade de nossos tempos”. A luta pela terra não é um elemento novo de nossa história porque a propriedade fundiária, a posse da terra, vem sendo monopolizada historicamente, os índios tiveram suas terras açambarcadas pelos portugueses que, a partir desse momento, iniciaram a formação do monopólio da terra. A Lei das Sesmarias que regia juridicamente a concessão da propriedade fundiária estabelecia que o acesso a terra devesse ser proporcional ao número de escravos de 2 propriedade que tinha cada senhor. Posteriormente, veio a Lei de Terras, em 1850, que estabelecia o mercado como regra, só sendo possível a aquisição da terra mediante compra (Moreira, 1980). Dessa forma, a maioria da população brasileira ficou fora da partilha da terra. Grande parcela da população rural brasileira não dispõe de terras suficientes para sua manutenção e possuem poucos recursos financeiros para viverem de forma digna. Há ainda, outra parcela de trabalhadores rurais sem terra que na falta de recursos que possibilitem ocupar e explorar terras alheias vendem sua força de trabalho e se tornam assalariados, mal remunerados (PRADO JÚNIOR, 2000). Os grandes proprietários e os sem-terra estão envolvidos numa relação de poder que tem o Estado como principal mantenedor da hegemonia política e econômica dos primeiros sobre os segundos. Prado Júnior (2000) aponta os diferentes interesses na utilização da terra por esses atores, para os grandes proprietários a terra é apenas um negócio, para os semterra, trabalhadores rurais ou não, a terra é uma fonte de subsistência. Os aspectos importantes que engendram da luta pela terra são resultados dos avanços das relações capitalistas de produção sobre o campo de forma desigual e contraditória. O desenvolvimento da produção agropecuária e as formas de resistência dos trabalhadores são os elementos centrais da luta pela terra (Fernandes, 2001). A reforma agrária é um grande anseio popular que não foi realizada por motivos políticos, no Brasil ter terra é ter poder, os sucessivos governos sempre foram compostos em boa parte pela elite agrária brasileira. A reforma agrária definida por Veiga (1990, p. 7) como “a modificação da estrutura agrária de um país, ou região, com vista a uma distribuição mais eqüitativa da terra e da renda agrícola”, é a solução para o fim dos conflitos no campo brasileiro. Metodologia Para o desenvolvimento do trabalho iremos adotar como procedimentos metodológicos: a) levantamento e revisão bibliográfica de obras que tratem da questão agrária brasileira; b) coleta de dados primários, que pretendemos obter através de 3 informações fornecidas pelos acampados e demais envolvidos no conflito; c) coleta de dados secundários através da aplicação de questionários semi-estruturados junto às famílias acampadas, liderança local dos sem terra e relatos históricos, buscando caracterizá-los em seus aspectos políticos e sociais. Resultados parciais Consideramos resultados parciais alguns fatos que tangem a atividades desenvolvidas pelos acampamentos, a ações políticas promovidas pelos sem-terra e a questões judiciais, constatados nessa pesquisa que está em andamento. O acampamento Nova Conquista, o mais recente da região, vem fazendo um importante trabalho de reflorestamento em uma encosta que foi incendiada de forma criminosa, acampados nos relataram que o incêndio foi provocado com a intenção de incriminar os sem-terra e desmoralizar a luta pela terra perante a população de Campo do Meio, prática comum, segundo relato de acampados. Os acampamentos não têm uma produção diversificada, todos produzem o milho, feijão, abóbora e mandioca, criam porcos e galinhas. Vários acampados trabalham em propriedades vizinhas ou fazem algum tipo de serviço na cidade, como forma de obter fonte de renda, grande parte das famílias acampadas são oriundas da região de Campinas-SP, segundo relatos da direção local dos sem-terra, isso se deve pelo fato da Frente de Massa do MST local ser composta por militantes dessa região. Sobre as ações políticas, um importante passo foi dado pelos sem-terra na construção de força política, foi criado o Sindicato dos Agricultores Familiares de Campo do Meio (MG), com a criação desse sindicato, composto por agricultores camponeses da região, uma relação profícua entre acampados e pequenos proprietários vem surgindo, estes últimos estão cultivando nas áreas ocupadas e comparecendo nas reuniões dos acampamentos. Quanto às questões judiciais, no dia 14 de junho de 2010, ocorreu na Câmara Municipal de Campo do Meio (MG) uma audiência pública realizada pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Na 4 audiência foi firmado um acordo por parte do síndico da CAPIA, que se comprometeu a não solicitar nenhuma reintegração de posse para as áreas ocupadas. Bibliografia ANDRADE. M.C. Latifúndio e Reforma Agrária no Brasil. São Paulo: Duas Cidades, 1980. FERNANDES, B. M. A questão agrária no limiar do século XXI. Espaço e Geografia. Brasília: Instituto de Ciências Humanas/UnB, n.1, Jan.-Jun./2001, p. 7-24. MOREIRA. R. Formação do espaço agrário brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990. OLIVEIRA, A. U. Geografia das lutas no campo. São Paulo: Contexto, 1989 (Col. Repensando a Geografia). PRADO JÚNIOR. C. A Questão Agrária no Brasil. 5º ed. São Paulo: brasiliense, 2007. VEIGA. J. E. O Que é Reforma Agrária. Primeiros Passos). 5 São Paulo: brasiliense, 1990 (Coleção