Gestão de Resíduos: realizações e desafios no setor sucroalcooleiro Claudio Aparecido Spadotto* Foto: Portal Única. Hoje, os setores de produção primária de alimentos, fibras e fontes de energia, juntamente com a indústria de insumos e a agroindústria de processamento, constituem um dos principais segmentos da economia brasileira, com importância tanto no abastecimento interno como no desempenho exportador do país. Isso posto, sabe-se também que essas atividades, assim como outras, geram resíduos que, se não forem aproveitados, representam desperdícios para o setor produtivo e oferecem riscos para o meio ambiente e a sociedade. Para termos uma idéia, no processamento de cana nas usinas e destilarias para a produção de açúcar e álcool, são gerados anualmente no Brasil cerca de 320 bilhões de litros de vinhaça, 88 milhões de toneladas de torta de filtro e 92 milhões de toneladas de bagaço. Esses números, que já são altos, devem aumentar consideravelmente nos próximos anos com o incremento no mercado consumidor de álcool, a expansão das lavouras de cana-de-açúcar e o funcionamento de novas unidades agroindustriais, visto que para produzir um litro de álcool em uma destilaria são necessários em torno de 12 kg de cana. O setor sucroalcooleiro tem mostrado experiências bem sucedidas na gestão de resíduos das usinas e destilarias. A torta de filtro, material orgânico sólido obtido da produção de açúcar, tem sido usada na adubação dos canaviais; e o bagaço da cana, que já vinha sendo utilizado na geração de energia nas unidades industriais, passou a ser também usado nos últimos anos na co-geração de energia, permitindo que usinas e destilarias não consumam energia elétrica das redes de distribuição. A vinhaça, efluente da fabricação de álcool por via fermentativa, que antes era lançada diretamente nos rios, causando grandes problemas ambientais, hoje é em grande parte aproveitada para irrigar e fertilizar lavouras de cana-de-açúcar. O que era problema ambiental passou a ser componente fundamental do sistema de custos de produção das empresas. Porém, vale notar que essa utilização também merece atenção quanto a possíveis problemas de degradação e contaminação do solo e da água. Por meio desses exemplos podemos ver que a gestão de resíduos pode ser complexa e ao mesmo tempo desafiadora. O resíduo industrial, por exemplo, se não for bem gerenciado, pode ser um problema para o meio ambiente ou se bem utilizado pode ser uma oportunidade pela diminuição dos custos de produção e dos riscos ambientais. A adequada gestão dos resíduos pode representar melhoria da imagem da empresa e oportunidades de negócio. Dentre os setores do agronegócio brasileiro estão envolvidas a produção agrícola e a industrial e, no setor sucroalcooleiro, tem sido considerada a integração das atividades para a correta gestão de resíduos. Assim, o que é resíduo de uma atividade passa a ser insumo de outra. É claro que a gestão de resíduos vai muito além da reutilização destes insumos. Uma modificação no sistema de produção pode representar uma grande redução na produção de resíduos. Ao mesmo tempo é necessária a visão geral que identifique as possibilidades de integração e, de forma complementar, a visão especialista que permita o entendimento e a modificação dos sistemas de produção. Fica evidente a necessidade de formação e treinamento de recursos humanos para o país enfrentar os desafios da gestão de resíduos como parte do negócio, considerando os aspectos econômicos, ecológicos e sociais. *Engenheiro agrônomo, pesquisador e chefe geral da Embrapa Meio Ambiente. Doutor em Ciência do Solo e Água.