Biologia Celular e Molecular Técnicas de Análise de Proteínas Trabalho elaborado por: Cátia Monteiro Cláudia Rosado Cristiana Pinho Sara Martins Turma 5 Técnicas de Análise de Proteínas 1 Introdução O nosso trabalho baseia-se nas técnicas de análise de proteínas e, como tal, temos como objectivo principal referenciar algumas delas (nomeadamente a Cromatografia, a Electroforese, o Western Blotting, etc). Contudo, também fizemos uma breve abordagem à estrutura e função das proteínas e ao estudo proteómico. Proteínas As proteínas são biopolímeros compostos por resíduos de aminoácidos ligados entre si por ligações peptídicas. Este tipo de ligação estabelece-se entre os resíduos de aminoácidos com consequente perda de uma molécula de água. Cada alfa-aminoácido é constituído por um grupo amino, um grupo carboxílico, um átomo de hidrogénio e uma cadeia lateral (que difere de aminoácido para aminoácido), ligados a um carbono (carbono alfa). São vinte os aminoácidos que combinados em número e sequência diferentes dão origem a todas as proteínas existentes, conferindo-lhes a estrutura e capacidade funcional. A extremidade amino (grupo -amino) é considerada como sendo o início da cadeia e a extremidade carboxílica (grupo -carboxílico) o fim. Uma cadeia peptídica é constituída por uma parte que se repete regularmente (cadeia principal) e uma parte variável (cadeias laterais), possuindo também polaridade. O corpo humano produz milhares de proteínas diferentes que no organismo possuem funções também diferentes, como por exemplo, estruturais, catalíticas, contrácteis, transportadoras, de defesa imunológica, etc, estando o formato de cada proteína directamente relacionado com a sua função. Existem quatro níveis de organização nas proteínas: estruturas primárias, secundária, terciária e quaternária. A estrutura primária é caracterizada pela sequência de aminoácidos e ligações peptídicas da molécula; é o nível estrutural mais simples e mais importante já que dele deriva todo o arranjo espacial da molécula. Técnicas de Análise de Proteínas 2 A estrutura secundária é caracterizada pelo estabelecimento de ligações de hidrogénio entre aminoácidos de uma cadeia proteica; os elementos deste tipo de estrutura mais comuns em proteínas são a hélice- e a folha- ou pregueada. A estrutura terciária é a organização “global” de uma única cadeia polipeptídica; o principal factor que determina a estrutura terciária numa proteína globular é o efeito hidrofóbico, ou seja, as cadeias laterais dos aminoácidos não polares ficam como que “escondidas” dentro da estrutura e as cadeias laterais dos resíduos polares ficam expostos à superfície. As ligações de hidrogénio são fundamentais na estabilização da estrutura terciária. A estrutura quaternária é caracterizada pela associação de duas ou mais cadeias polipeptídicas numa estrutura com várias subunidades, resultando numa unidade activa. Este tipo de estrutura é estabilizada por ligações de hidrogénio, forças de Van der Walls ou ligações iónicas. Técnicas de análise de proteínas Cromatografia A coluna de Cromatografia é um dos métodos mais comuns de purificação de proteínas. Esta técnica consiste na passagem da proteína através de uma coluna (fase estacionária) que é desenhada para reter ou diminuir a velocidade da passagem da fase móvel onde estão as macromoléculas (proteínas) e a técnica baseia-se numa propriedade particular, como o tamanho, carga ou afinidade química. A solução a analisar deve conter a proteína concentrada e o método deve ser rápido para evitar a degradação da mesma, devendo no entanto, utilizar-se inibidores de proteases. Técnicas de Análise de Proteínas 3 Dependendo da escolha da coluna, as proteínas podem ser separadas de acordo com a sua carga (IEX – cromatografia de troca iónica), sua hidrofobicidade (HIC – cromatografia de interacção hidrofóbica), seu tamanho (GF – filtração em gel) ou pela sua capacidade de se ligar a grupos químicos particulares. IEX – Cromatografia de troca Iónica Baseia-se na carga da proteína que estamos a tentar isolar. Se esta possuir carga positiva, a solução deve passar por uma coluna com carga negativa (impedindo a passagem das proteínas com carga positiva). Depois de fazer passar a solução pela coluna recorre-se ao procedimento “salting out” para separar a proteína, com carga positiva, da coluna com carga negativa (este tipo de coluna é denominado “coluna de troca de catiões” e possui iões de sulfato, imobilizados na fase estacionário). Para impedir a passagem de uma proteína com carga negativa utiliza-se uma coluna de carga positiva designada por “coluna de troca de aniões” que, geralmente, possui iões de amónio. “Salting out” Esta técnica usa uma solução de elevada concentração de sal que compete com a proteína na ligação à coluna. Como esta tem maior afinidade para a carga dos sais do que para a das proteínas, estas acabam por ser libertadas, mantendo-se os sais ligados à coluna. As proteínas com fracas interacções iónicas serão libertadas com uma concentração baixa de sal. A adição de sal deverá ser feita de uma forma gradual e, no final, para ter a certeza que todas as proteínas foram libertadas da coluna, deve ser colocado nesta uma solução de concentração de sal de 2-3mol/L. Para remover os sais da solução de proteínas deve ser feita uma diálise contra tampão. As mudanças no pH alteram a carga das proteínas, por isso é necessário conhecer o seu ponto isoelétrico (pH a que a carga da proteína é 0) e certificar-se de que o pH do sistema está convenientemente ajustado e tamponado. Técnicas de Análise de Proteínas 4 HIC – Cromatografia de Interacção hidrofóbica O HIC baseia-se nas propriedades hidrofóbicas de algumas proteínas. As proteínas devem ser colocadas na presença de elevada concentração de sulfato de amónio, o qual aumenta a entropia da água, aumentando, assim, as interacções hidrofóbicas. Este também estabiliza as proteínas. As porções hidrofóbicas da coluna são colocadas com uma matriz de agarose de fenil. Na presença de elevadas concentrações de sal, os grupos de fenil da matriz impedem a passagem de porções das proteínas hidrofóbicas. Pode-se controlar a separação de diferentes ligações à coluna das proteínas, reduzindo a concentração do sal ou adicionando solventes. GF – Cromatografia de filtração em gel A cromatografia de filtração em gel separa as proteínas com base no seu tamanho. A coluna é constituída por uma matriz de pequenas esferas porosas empacotadas. Ao fazer passar a solução de proteínas pela matriz da coluna, as moléculas pequenas entram nos poros das esferas demorando a atravessá-los, enquanto que as grandes passam entre as esferas sendo separadas primeiro. Outro tipo de coluna é o AC (Cromatografia de Afinidade), que é um procedimento mais eficiente que os outros, acima citados. AC – Cromatografia de Afinidade A cromatografia de afinidade baseia-se nas funções biológicas da proteína que se liga à coluna. O tipo mais comum envolve um ligando (pequena biomolécula específica por exemplo anticorpo), que é imobilizado e ligado a uma matriz da coluna, como a celulose ou poliacrilamida. Técnicas de Análise de Proteínas 5 A proteína a analisar passa depois através da coluna e liga-se a ela pelo seu ligando, enquanto que outras proteínas serão libertadas. A separação da proteína alvo é normalmente feita, passando através da coluna uma solução que contenha uma elevada concentração de ligando livre. Isto é um método muito eficiente de purificação, uma vez que se baseia numa especificidade biológica da proteína que se pretende analisar, tal como a afinidade de uma enzima a um substrato ou a ligação entre antigénio e anticorpo. Contudo, apesar das inúmeras vantagens que a cromatografia convencional oferece, esta está limitada pela não homogeneidade nas matrizes (como celulose), que causa uma desigual fluidez do solvente através da coluna. Com o objectivo de colmatar esta falha foi desenvolvida uma nova cromatografia, o HPLC (High Performance Liquid Cromatography). Para além disso também permite que as proteínas sejam separadas mais rapidamente do que pelos métodos convencionais e separar moléculas com estruturas e tamanhos muito semelhantes. Electroforese A electroforese é uma técnica de separação de moléculas que consiste na migração de moléculas com carga, numa solução, em função da aplicação de um campo eléctrico. A velocidade da migração depende da força do campo aplicado, da carga, do tamanho e da forma das moléculas e também da força iónica, viscosidade e temperatura do meio, onde estas se movem. De um modo geral, no transporte electroforético, à força do campo opõe-se a resistência do meio, produzindo, quando se igualam, uma velocidade constante das partículas. É uma técnica que pode ser usada para análise de proteínas. As proteínas são moléculas anfotéricas, cuja carga é determinada pelo pH do meio onde estão suspensas. Numa solução com pH acima do ponto isoeléctrico, a proteína negativamente carregada migra para o ânodo do campo eléctrico. Abaixo do ponto isoeléctrico, a proteína é Técnicas de Análise de Proteínas 6 positivamente carregada e migra para o cátodo. Há diversos tipos de electroforese como: Electroforese livre (frente móvel) Electroforese de zona Electroforese em papel Electroforese em acetato de celulose Electroforese em gel (SDS-PAGE) Focagem isoeléctrica Electroforese bidimensional Dentro desta variedade centraremos a nossa atenção no SDS-PAGE. SDS-PAGE (Sodium Dodecyl Sulfate Polycrylamide Gel Electrophoresis Laemmli, 1970) O objectivo do SDS é desnaturar a proteína, isto é, converter a proteína numa estrutura linear (a sua forma nativa é, geralmente, globular) e conferir-lhe densidade de carga uniforme, de forma a poderem ser separadas por electroforese, somente, em função do tamanho (massa molecular). O SDS tem uma alta carga negativa e pH 7 e tem uma cauda hidrofóbica que interactua com as cadeias das proteínas (polipeptídeos). O número de moléculas de SDS que se ligam às proteínas é proporcional ao número de aminoácidos que constituem as mesmas, pois liga-se na razão de uma molécula por ligação peptídica. Se as proteínas desnaturadas são postas num campo eléctrico, todas elas se moverão para o pólo positivo, na mesma proporção, sem possibilidade de avaliar a distância migrada. Então, é necessário colocá-las num ambiente que permita que proteínas de variados tamanhos se desloquem a velocidades diferentes, sendo o meio adequado o gel de poliacrilamida (polímero de monómeros de acrilamida). De seguida, aplica-se uma corrente eléctrica e, como tal, as moléculas movem-se ao longo do gel de poliacrilamida (a todo este processo chama-se Electroforese em Gel de Poliacrilamida), migrando mais rapidamente as de menores dimensões. Técnicas de Análise de Proteínas 7 Após as proteínas terem “corrido” o gel, é preciso fixá-las, para evitar que difundam quando se procede à coloração do mesmo. O ácido acético a 25% em H2O é um bom fixador, além de que mantém as proteínas desnaturadas. O gel é, tipicamente, corado com azul de Coomasie (a fixação e coloração podem ser preparadas na mesma solução, usando como solvente o metanol ou sais de prata) e depois descorado. Focagem isoeléctrica Esta técnica baseia-se nas diferenças dos pontos isoeléctricos das proteínas para as separar. As proteínas possuem uma carga nativa que pode ser positiva, negativa ou nula dependendo do pH do meio e para cada proteína existe um valor de pH do meio para o qual a carga da mesma é 0 (pI, ponto isoeléctrico), que geralmente se situa entre 3 – 12. Quando uma proteína é colocada num tubo estreito de gel de poliacrilamida no qual o gradiente de pH é estabelecido pela mistura de soluções tampão especiais e sujeita a um campo eléctrico irá inicialmente mover-se em direcção ao eléctrodo com carga oposta. Durante a migração através do gradiente de pH, a proteína irá captar ou perder protões. Enquanto a proteína migra a sua velocidade vai diminuindo até chegar ao ponto em que o valor de pH será igual ao seu pI. Neste ponto a proteína terá carga total neutra e como consequência deixa de migrar. Se a proteína se difundir para uma região fora do seu pI, irá adquirir carga e consequentemente move-se novamente para a posição onde é globalmente neutra. Pode ter grupos ionizados, mas globalmente é neutra. Electroforese Bidimensional Como as bandas proteicas tendem a sobrepor-se, os métodos unidimensionais de separação, como a electroforese em gel de poliacrilamida (SDS), podem apenas separar um número relativamente pequeno de proteínas (geralmente menos de 50), a electroforese de um gel bidimensional, ao combinar dois processos de separação distintos, pode ser usado para separar mais de 1000 proteínas. Numa primeira etapa as proteínas são separadas em função da sua carga nativa. As cadeias polipeptídicas são, então, separadas por um processo de focagem isoeléctrica. Numa etapa posterior o gel de poliacrilamida com forma de cilindro que contém as proteínas separadas por focagem isoeléctrica é sujeito, novamente, a electroforese mas Técnicas de Análise de Proteínas 8 numa direcção em ângulo recto àquela usada na primeira etapa. O gel original é mergulhado em SDS e depois colocado numa extremidade de um “slab” de gel de poliacrilamida SDS, através do qual cada cadeia polipeptídica migra em função do seu tamanho observando-se no resultado final como um ponto “sptot”. As únicas proteínas que não são separadas serão aquelas que terão idêntico tamanho e ponto isoeléctrico, uma situação relativamente rara. Até quantidades vestigiais de cada cadeia polipeptídica pode ser detectada no gel por vários processos de coloração – ou por autorradiografia se a amostra da proteína tiver sido previamente marcada por um radioisótopo. O poder de separação é tão grande que duas proteínas que diferem em apenas um aminoácido carregado podem ser prontamente distinguidas. Western blotting O western blotting permite detectar uma proteína numa mistura de proteínas dando também informação acerca do seu tamanho. Inicialmente as proteínas são separadas por SDS-PAGE e, posteriormente, são transferidas para uma membrana de nitrocelulose (do mesmo modo que foram separadas no SDS-PAGE). O polo negativo – cátodo, fica do lado do gel e o positivo - ânodo no lado da membrana de nitrocelulose para conduzir as proteínas carregadas negativamente em direcção à membrana (carregada positivamente). A razão para a transferência das bandas de proteínas para uma membrana de nitrocelulose é permitir a chegada dos anticorpos às bandas com maior facilidade e eficácia, já que o gel de poliacrilamida não permite a difusão de grandes moléculas. A membrana de nitrocelulose é incubada com o anticorpo primário que se liga à proteína que se pretende detectar, formando um complexo anticorpo-proteína. Seguidamente é-lhe adicionado o anticorpo secundário conjugado, anticorpo-enzima, que se vai ligar ao anticorpo primário. A enzima (ex. fosfatáse alcalina ou peroxidase) funciona como um sinalizador molecular que permite a visualização do local da proteína detectada. No entanto, para que a enzima seja visualizada é necessário colocá-la na presença de uma mistura reactiva específica. É adicionado um substrato cromogénico, que ao ser degradado pela enzima conjugada com o anticorpo dará origem a um Técnicas de Análise de Proteínas 9 precipitado insolúvel colocalizado com o anticorpo primário que por sua vez se ligou à proteína. Podem também ser utilizados outros tipos de marcadores como os fluorescentes ou os radioisótopos (que podem ser detectados por técnicas de autorradiografia). Apesar do proteoma não ser objectivo directo do trabalho, achamos importante e pertinente falar sobre este assunto que, de certa forma, está directa ou indirectamente relacionado com as técnicas de análise de proteínas1.É integrativo dos estudos de análise de proteínas Proteoma O proteoma reflecte o estado actual de funcionamento do sistema em condições fisiológicas específicas, ou seja, a expressão do genoma funcional. Esta característica faz com que o estudo do proteoma se torne um grande desafio. O proteoma da célula é bastante dinâmico dependendo do seu estado de desenvolvimento, da presença de activadores ou inibidores e também das condições específicas do meio ambiente. Embora a identificação de todas as proteínas codificadas no genoma de um organismo pareça uma tarefa bastante difícil de concretizar, mesmo em organismos muito simples, são cada vez mais as informações completas, através de estudos proteómicos, sobre vias de sinalização celular, conjuntos de proteínas reguladoras, modificações pós-tradução, bem como outras informações cruciais sobre os estados fisiológicos e fisiopatológicos de células e organismos. O estudo em questão pode levar a três vertentes básicas com implicações directas em vários campos da biologia e da biotecnologia. Primeiro, o estudo do proteoma permite a descoberta de vias metabólicas nas diversas etapas celulares, gerando um conhecimento sem precedentes na biologia 1 Os métodos experimentais utilizados no estudo do proteoma dividem-se, fundamentalmente, em duas etapas: isolamento e separação das proteínas a partir do material biológico (fraccionamento cromatográfico - filtração em gel, afinidade, imunoafinidade, etc - métodos electroforéticos - SDSPAGE, focagem isoeléctrica, etc); e sequenciação dos aminoácidos de cada proteína. Técnicas de Análise de Proteínas 10 celular e na bioquímica. Tal conhecimento torna possível a identificação de novos alvos farmacológicos específicos. Segundo, esse mesmo estudo permite viabilizar a identificação de novas moléculas bioactivas em extractos biológicos naturais, levando ao desenvolvimento de novos medicamentos. Terceiro, permite também a identificação e caracterização de marcadores biológicos, ou seja, moléculas endógenas ou exógenas específicas de um determinado estado patológico. A capacidade de identificar essas moléculas é extremamente útil no diagnóstico precoce de doenças e no acompanhamento da evolução do tratamento. O estudo do proteoma também tem largas aplicações na medicina, principalmente na caracterização de cancros e em doenças neurológicas (como a doença de Alzheimer), infecciosas ou cardíacas. Técnicas de Análise de Proteínas 11 Bibliografia ALBERTS, Bruce; JOHNSON, Alexander; LEWIS, Julian; RAFF, Martin; ROBERTS; Keith; WALTER, Peter, Molecular biology of the cell, 4ª edição Garland Science, New York 2002 http://www.mcb.uct.ac.za/western.html http://www.biology.arizona.edu/immunolo/activities/western_blot/west3html http://ntri.tamuk.edu/if/if.html http://.accessexcellence.org/LC/SS/chromatography_background.html http://www.shu.ac.uk/schools/sci/chem/tutorials/chrom/chrom1.htm Técnicas de Análise de Proteínas 12