Troponina c na detecção de alterações regressivas precoces no miocárdio de ovinos intoxicados naturalmente por Amaranthus spinosus (AMARANTHACEAE) Costa, S.Z.R., Peixoto P.V., d’Avila, M.S., Santos, A.M., Nogueira, V.A., Driemeier, D., Brust, L.A.C. França, T.N. Autor correspondente: [email protected] (França, T.N.). Depto. de Epidemiologia e Saúde pública, Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro(UFRRJ). PALAVRAS CHAVES: imunohistoquímica, insuficiência renal, plantas tóxicas. INTRODUÇÃO: Hipercalemia pode ser uma complicação séria na insuficiência renal em humanos e constitui uma das principais causas de astenia miocárdica e insuficiência cardíaca fatal, decorrentes da uremia [7]. Tem se levantado a hipótese de que parte das lesões degenerativas/necróticas em miócitos cardíacos possa estar associada a níveis elevados de potássio decorrentes da insuficiência renal em ovinos intoxicados por Amaranthus spinosus [6], a partir das indicações observadas em estudos anteriores realizados em suínos com A. retroflexus e A. caudatus [5, 8]. Por outro lado, há dúvidas com relação às alterações cardíacas, que, na maioria dos casos, ainda são incipientes ou não apresentam reação inflamatória, o que pode levar a erros de interpretação. Há algum tempo já se utiliza a dosagem sérica de componentes celulares, para tentar diagnosticar lesão miocárdica incipiente [2], porém quando estes pacientes morrem precocemente, muitas vezes apenas a coloração rotineira com hematoxilina e eosina (H&E), de fragmentos cardíacos, não é suficiente para evidenciar a necrose das células cardíacas e estabelecer o diagnóstico [4]. Diversas técnicas imuno-histoquímicas com alta especificidade e sensibilidade têm sido empregadas no intuito de se detectar dano precoce ao miocárdio. A troponina cardíaca tem sido utilizada por ser um componente estrutural da célula cardíaca que após agressão ao miocárdio, é liberado na circulação por volta de 3 a 4 horas [1, 3]; os miócitos afetados apresentam uma marcação negativa, enquanto os miócitos intactos são positivos para a troponina [3]. Dessa forma, esse estudo tem como intuito detectar tanto a presença de alterações regressivas incipientes, como de alterações já bem evidentes/instaladas, no miocárdio de ovinos intoxicados por A. spinosus, através da utilização imuno-histoquímica da troponina C e, adicionalmente, chamar atenção para a eventual participação da hipercalemia na gênese de lesões degenerativas/necróticas observadas no miocárdio de animais que morrem rapidamente por insuficiência renal, sem tempo para que ocorram lesões vasculares. MATERIAL E MÉTODOS: Fragmentos de coração de 10 ovinos, de ambos os sexos, sendo 8 animais adultos e 2 fetos, intoxicados naturalmente por Amaranthus spinosus no ano de 1997 no município de Paraíba do Sul, no Estado do Rio de Janeiro, fixados em formalina a 10% e emblocados em parafina, foram submetidos à tecnica de imuno-histoquímica com a utilização do anticorpo monoclonal anti-troponina C cardíaca humano (Novo Castra). Seções histológicas do coração foram desparafinadas, hidratadas, e incubadas por 30 minutos em peróxido de hidrogênio a 3% para bloqueio de peroxidases endógenas. Após a lavagem das lâminas por dois minutos com tampão fosfato (PBS), estas ficaram submersas em tampão citrato por 15 minutos no banho-maria a 960C para recuperação antigênica. O bloqueio de reações inespecíficas foi realizado com leite desnatado a 5 % (Molico® Indústria Brasileira) por 30 minutos. Os cortes foram incubados “overnight” com o anticorpo. Foi utilizado um sistema de detecção REVEAL polímero-HRP, livre de biotina (Spring) e como cromógeno a Diaminobenzidina (DAB). Todas as seções foram contra-coradas com hematoxilina de Harris e avaliadas em microscópio óptico. RESULTADOS: Na avaliação imuno-histoquímica do coração dos oito ovinos adultos observaram-se diversos grupos de miócitos com diminuição significativa ou ausência de imunorreatividade para o anticorpo antitroponina C, essas áreas, via de regra, correspondiam aos mesmos grupos de miócitos no H&E que apresentavam alterações que variavam de leve tumefação celular a aumento da eosinofilia, perda de estriação, lise celular e cariólise acompanhadas de moderado infiltrado inflamatório misto. Em dois casos foi possível notar que diversos pequenos grupos de miócitos que apresentavam marcada diminuição de imunorreatividade, correspondiam a células com alterações muito discretas no H&E. Além disso, percebeu-se que as áreas que apresentavam perda de tropononina C eram maiores do que pôde ser notado ao exame histológico de rotina (H&E). Nos corações dos fetos não houve áreas com perda ou diminuição de imunorreatividade para o anticorpo anti-troponina C. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO: Os resultados da avaliação imuno-histoquímica confirmaram a presença tanto de alterações regressivas incipientes, quanto ratificaram a ocorrência de lesões necróticas já bem instaladas no miocárdio de ovinos intoxicados por Amaranthus spinosus. Verificou-se correspondência entre as áreas com ausência de imunorreatividade à troponina com as áreas de lesões mais marcadas no H&E. Adicionalmente, a técnica foi capaz de detectar tanto lesões muito precoces (locais do miocárdio sem sinais morfológicos de agressão), como demonstrou que as áreas agredidas/lesadas eram maiores que o evidenciado no H&E. Esse estudo demonstra necessidade de melhor investigar a possível participação da hipercalemia na gênese das lesões cardíacas de rápida instalação, ou seja, aquelas não correlacionadas às lesões vasculares determinadas pela uremia de longa duração. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Aires, M. M. Regulação da excreção renal de eletrólitos e do volume do fluido extracelular. Fisiologia. Rio de janeiro: editora guanabara koogan, 1999. 934p. 2. Godoy, M. F. et al. A troponina como marcador de injúria celular miocárdica. Arq. Bras. Card. 71(4):629-633, 1998. 3. Jenkins, C. P. et al. The utility of c4d, c9, and troponin t immunohistochemistry in acute myocardial infarction. Arch. Pathol. Med. 134:256-263, 2010. 4. Offerman, S. R. R. et al. Evaluation of the membrane attack complex of complement for the detection of a recent myocardial infarction in man. J pathol. 191:48-53, 2000. 5. Osweiler, G. D. et al. Production of perirenal edema in swine with amaranthus retroflexus. Am. J. Vet. Res. 30(4):557-566, 1969. 6. Peixoto, P. V. et al. Intoxicação natural por amaranthus spinosus (amaranthaceae) em ovinos no sudeste do brasil. Pesq. Vet. Bras. 23(4):179-184, 2003. 7. Radostits, O. M. et al. Doenças do sistema urinário. Clínica veterinária. Um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e equinos. 9. Ed. Rio de janeiro: Guanabara koogan, 2002. p.428447. 8. Taken, A., Connor, J.K. Some toxicological aspects of grain Amaranth for pigs, 1985. P.170-177. In: Seawright, A. A. et al. Plant Toxicology Proc. Australia-USA Poisonous Plants Symposium, Queensland Poisonous Plant Committe, Brisbane, Australia. 1984.