Vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura Pecuária e Abastecimento / GDF Boletim da GEDEC - Ano VI nº 02 ESPECIAL 07/02/ 2011 - Fone: 3340 3081 Bons ventos para ovinos e caprinos no BRASIL O chef pernambucano Ronald Menezes prepara um pernil de cordeiro que, dizem, faz jus à rotineira presença de celebridades em seu restaurante, no Recife. Até bem pouco tempo atrás, curiosamente, ele utilizava apenas cordeiro importado do Uruguai em sua famosa receita, apesar de o Nordeste brasileiro concentrar 57% do rebanho nacional de ovinos, hoje com quase 17 milhões de animais, bem maior que o uruguaio. A predominância da carne importada nas prateleiras do Nordeste refletia a falta de organização da cadeia de produção nacional, que ensaia os primeiros passos em direção à profissionalização e à escala industrial. De 2009 para cá, a carne ovina saiu da lista dos principais itens importados do Uruguai, cuja exportação foi deslocada para países árabes, asiáticos e europeus, que estão pagando mais pelo produto. O novo cenário abriu uma oportunidade para que o produto nacional ganhe espaço na mesa dos brasileiros e que, em um futuro não muito distante, possa até concorrer com os antigos fornecedores no mercado internacional. "O maior desafio é estruturar a cadeia produtiva. Não existe boa relação entre produtores, agroindústria, distribuidores e consumidores. Quanto mais articulados eles forem, melhor para todos", avalia o pesquisador Juan Ferelli, da Embrapa. Enquanto a criação dos ovinos visa a produção de carne, a de caprinos é mais voltada para a produção de leite e derivados. No entanto, há também um mercado promissor para a carne, especialmente no Nordeste, onde o bode é bastante apreciado. Um exemplo é a cidade de Petrolina, no sertão de Pernambuco, onde um dos principais atrativos turísticos é o "bodódromo", uma espécie de corredor que concentra vários restaurantes especializados em carne de bode. Segundo Ferelli, entre as principais dificuldades do setor de caprinos e ovinos está o porte reduzido dos rebanhos, quase dez vezes inferiores ao de bovinos. Isso se reflete em uma instabilidade na oferta de animais para abate, o que diminui o interesse dos frigoríficos, que buscam escala. Sem produção em grande volume, os preços sobem e o consumidor foge. Atualmente, a carne de cordeiro pode custar entre 20% e 50% mais do que bovina. Ainda assim, o rebanho ovino vem crescendo nos últimos anos e alguns frigoríficos especializados já vislumbram dias melhores. Entre 2002 e 2009, houve crescimento de 17,5% no número de animais, segundo a Embrapa. A qualidade dos rebanhos também está melhorando, resultado da maior utilização da genética no setor, o que ainda é relativamente novo no Brasil. De qualquer forma, o chef Ronald já encontra nos supermercados do Recife diversos cortes de cordeiro embalados a vácuo por empresas brasileiras. Entre elas está a Baby Bode, que abate em torno de 3,5 mil ovinos e caprinos por mês em Feira de Santana (BA). Seu diretor, João Dantas, diz ver algumas melhorias no setor, porém reivindica políticas de incentivo, como a isenção de PIS e Cofins que é dada para bovinos. A expectativa da Baby Bode é aumentar a produtividade para 5 mil cabeças por mês até 2013, e se tornar autossuficiente em animais. "Estamos com um projeto importante de integração dessa cadeia, até porque há muita instabilidade no fornecimento, o que é desestimulante para um negócio que precisa de escala", afirmou. Segundo ele, há uma espécie de entressafra na oferta nos meses próximos ao fim do ano, justamente quando a demanda cresce. Apesar das dificuldades, tanto o executivo quanto o cozinheiro reconhecem o salto na qualidade do rebanho brasileiro. A introdução de raças estrangeiras, como Doper (ovino) e Boer (caprino), além da melhoria genética da Santa Inês, principal grife brasileira de ovinos, têm trazido resultados positivos, especialmente no que leva à profissionalização da produção. "Quando se pensa em um bode, se pensa sempre em um animal magro, que vive num clima semi-árido tentando sobreviver. Esse animal não pode ser atividade econômica de ninguém. Esse animal precisa ser melhorado, precisa ter uma carcaça com mais peso e ser preparado para ser vendido mais cedo. É aí que entra a genética", explica o empresário Luiz Felipe Brennand, dono do rebanho Caroatá, um dos mais importantes do Brasil em alta genética de caprinos e ovinos. Com fazendas em Gravatá (PE) e Baixa Grande (BA), onde estão cerca de 10 mil animais, a empresa é focada na criação e venda de reprodutores. Essa categoria de animal é utilizada para "melhorar" a qualidade genética de outros rebanhos, maiores, voltados ao mercado da carne. Segundo Brennand, uma ovelha reprodutora de primeira linhagem pode ser vendida por até R$ 72 mil, preço máximo atingido no último leilão realizado pelo Caroatá, em dezembro. Assim como ocorre com os bovinos, há cabras e ovelhas tão valiosas cujo material genético é rateado em esquema de condomínio. No maior negócio de que se tem notícia, conta Brennand, um criador comprou 10% de uma ovelha por R$ 200 mil. Questionado sobre a falta de organização da cadeia produtiva, o empresário lembra que, apesar dos avanços, a criação de caprinos e ovinos ainda é tida como cultura de subsistência no Brasil. "Não entenda subsistência como apenas uma produção para alimentar a família, mas é aquela produção que não vai além da feira da cidade ou do bairro", explicou. "Em muitos lugares do Nordeste, a cabra ainda é animal de estimação, é parte da família". Fonte: Valor Econômico