Textos extraídos e adaptados do livro de Marketing desenvolvido para a Universidade Federal do Pará. Autoria: André Carlos Martins Menck e Stella Naomi Moriguchi, André Carlos Martins Menck Professor de Marketing da FAGEN — Faculdade de Gestão e Negócios da UFU — Universidade Federal de Uberlândia, onde coordena o MBA em Marketing Estratégico. Leciona marketing desde 1982. Obteve o título de Ph.D. em Marketing pela University of Florida e realizou o Pós-doutorado na University of Alberta, onde atuou como professor visitante. Mestre em Administração pela EAESP-FGV. Bacharelou-se em Administração pela EAESP-FGV e em Física pela USP. Possui experiência profissional na indústria (Frigorífico Wilson — Beatrice Companies), atacado (Martins) e varejo (Grupo Pão de Açúcar). Tem atuação como consultor em estratégia para um grande número de entidades e empresas, especialmente nos setores do varejo e tecnologia da informação. Realizou pesquisas e apresentou dezenas de artigos científicos da América Latina, América do Norte e Europa. Dentre suas áreas de interesse em pesquisa destacam-se modelos de escolha, responsabilidade social corporativa, varejo e empreendedorismo. Stella Naomi Moriguchi É doutora em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo — FEA/USP (2000), mestre em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas - EAESP/FGV (1993), bacharel em Administração pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas — EAESP/FGV (1990), bacharel em Música pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo — ECA/USP (1985) e licenciada em Educação Artística com habilitação em Música pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo — ECA/USP (1983). Atualmente, é professora associada da Universidade Federal de Uberlândia. Na área de Administração, com ênfase em Marketing, vem atuando principalmente com pesquisa de marketing, comportamento do consumidor, tecnologia aplicada e educação em administração. 1 UNIDADE I - Marketing como filosofia - de negócios Para entender marketing temos que pensar que marketing é, antes de mais nada, uma maneira de ver o mundo dos mercados e dos negócios. Como você verá, marketing é uma filosofia, um modo de encarar as trocas. Pense um pouco e tente responder à seguinte questão: quando alguém inicia um negócio ou uma organização qualquer, qual é o ponto de partida? Como se inicia um empreendimento? Provavelmente, você deve estar pensando que tudo começa quando alguém tem uma ideia. Essa ideia gera um produto - pode ser um bem físico ou um serviço. Essa pessoa monta uma fábrica ou uma organização capaz de oferecer esse bem ou serviço. E passa a vendê-lo nos mercados. Essa é a noção mais comum de como se inicia um negócio: tenho um produto e vou tentar vendê-lo. Pensamos sempre que as empresas e demais organizações começaram com um bem ou serviço, passam a oferecê-lo ao mercado e esperam, com isto, extrair algum ganho, que normalmente chamamos de lucro. Geralmente, quanto mais eu conseguir vender daquele meu bem ou serviço, mais lucro terei. Isto pode funcionar - e algumas vezes funciona! Outras vezes não é assim tão fácil! Suponha, por exemplo, que ninguém queira comprar. Pois bem, o marketing inverte essa lógica! E o faz para tornar a vida das empresas menos arriscada. Para fazer isto, marketing muda radicalmente essa maneira de enxergar os negócios e os mercados. A sua abordagem percorre exatamente o caminho inverso. Ao invés de partir de um produto e levá-lo ao mercado, o marketing advoga que devo olhar primeiro para o mercado. Mais precisamente, o centro da atenção e início de todo o processo de marketing principia na figura do consumidor. Você somente será um bom praticante do marketing no momento em que conseguir se inserir na pele do consumidor e olhar para a empresa com os olhos deste. Isto é fundamental. Antes de qualquer coisa, coloque-se no papel do consumidor. E o que tem o consumidor? O consumidor tem problemas para resolver, tem vontades! Todos nós temos, enquanto consumidores, não é verdade? É por isto que consumimos - para resolver nossos problemas e aplacar nossas vontades! 2 Pois bem, o marketing parte do consumidor e percebe que ele tem necessidades e desejos. Apenas após reconhecermos que essa figura - o consumidor - existe e tem necessidades e desejos é que o marketing parte para o passo seguinte, que é buscar satisfazer, atender essas necessidades e desejos! E como isto é feito? É feito com a utilização de um processo ou série de atividades, as ferramentas do marketing. Esse processo pode ser organizado em quatro grandes etapas ou categorias: Criar algo de valor para o consumidor, isto é, algo em que o consumidor perceba valor para ajudá-lo a resolver seu problema ou aliviar sua vontade; Definir o quanto cobrar por essa fonte de valor para o consumidor; Mostrar ao consumidor que a empresa tem algo que pode lhe servir; Disponibilizar esse valor que você deseja oferecer quando, onde e na quantidade que o consumidor precisa. A essas quatro grandes categorias, podemos acrescentar mais uma, que envolve estudar o consumidor, para saber, em um primeiro momento, do que ele necessita e, em um segundo momento, o quão bem você conseguiu atendê-lo com a sua oferta. Resumindo, marketing inverte a maneira usual de pensarmos os negócios e organizações em geral. Ao invés de partir da criação do produto para só então levá-lo ao mercado, passamos a percorrer o seguinte caminho: Consumidor necessidades e desejos marketing satisfação do consumidor atividades de Ao propor essa inversão, o marketing deixa de iniciar o processo com um bem ou serviço. Só chega a esse bem ou serviço apenas em numa fase posterior do processo, na forma de uma oferta. Essa abordagem significa uma verdadeira filosofia de negócios cujo coração é a satisfação de necessidades e desejos. O produto, que na visão anterior representava o início do processo, passa a ser uma consequência! Que tal lhe parece? Pensando nessa forma “invertida”, não fica mais fácil fazer fluir o mercado? A probabilidade de “fazer acontecer” o mercado não lhe parece maior? 3 Uma coisa que o marketing não muda é o objetivo final do processo. Grande parte das organizações se estabelece com o objetivo de gerar lucros (claro que em algumas delas o lucro desejado não é financeiro, mas assume outras formas). Assim, é recomendável que uma definição de marketing deixe explícito esse objetivo de lucro (aqui, usamos a palavra lucro, lembrando que ela contempla também outras formas de lucro, que não o financeiro). Além disso, um aspecto que deve estar claro em uma definição do marketing é que ele sempre pressupõe que alguma coisa esteja sendo trocada. Geralmente, o que se troca é um bem ou serviço por dinheiro. Entretanto, a noção de marketing não requer necessariamente que a troca envolva a presença de dinheiro. O importante, sim, é que o marketing apenas ocorre quando há uma troca entre as partes, e que aquilo que se esteja trocando tenha valor para cada uma delas, seja um bem físico ou um serviço. Ou seja, normalmente, tudo começa com um consumidor que busca algo que tenha valor para ele (para resolver seu problema, ou atender sua necessidade!). E há uma empresa que possui ou cria esse algo pelo qual o consumidor está disposto a dar algo seu em troca. Geralmente, esse “algo” é dinheiro, que vai ajudar a cobrir os custos e contribuir para o lucro, motivando a empresa a colocar sua oferta no mercado! Certamente, a empresa não atua em um vácuo e seus resultados são em grande parte afetados pelas decisões dos concorrentes e por outras forças ambientais, entretanto, a essência da filosofia de marketing é que o lucro tem origem na satisfação das necessidades do consumidor. Isso tudo considerado nos leva a propor a seguinte definição para Marketing: Marketing é um conjunto de atividades que visa satisfazer as necessidades e desejos do consumidor; através de processos de troca, com a finalidade de lucro. O conceito de marketing não é antigo. Ele tornou-se prática relativamente comum na década de 1960. Foi quando muitas empresas, sobretudo nos EUA, passaram a adotar a política de “estar no negócio de satisfazer desejos e necessidades dos consumidores”. Embora o conceito de marketing tenha surgido como uma postura que aos poucos foi sendo adotada em muitas empresas, muitos autores assumem que o conceito foi lançado pela General Electric em 1952, quando colocou explicitamente em seu relatório aos acionistas que “O conceito introduz... marketing... no início ao invés do final do ciclo de produção e integra marketing dentro de cada fase do negócio” (BERKOWITZ et al., 2003). 4 A seguir, veremos outras abordagens ou conceitos. De certa forma, esses outros conceitos concorrem com o conceito de marketing (ao qual nos referiremos, algumas vezes, como o conceito “tradicional” de marketing). Vamos primeiramente olhar para conceitos que precederam o conceito de marketing acima apresentados e, em seguida, discutiremos outros surgidos após esse conceito tradicional de marketing. Será que as empresas sempre seguiram o conceito de marketing? Mais importante ainda, será que em nossos dias todas as empresas seguem a filosofia empresarial preconizada pelo conceito de marketing? Há três orientações ou posturas que concorrem com o conceito de marketing, às quais podemos atribuir uma visão histórica. É bom darmos uma olhada nelas, pois assim entenderemos melhor o que diferencia o conceito de marketing. Embora essas outras orientações possam ser ligadas a um período histórico, você poderá pensar em casos concretos de empresas que as empregam em nossa economia atual. Vejamos essas orientações. Conceito de Produção Imagine-se em uma economia onde os bens são escassos. Talvez você esteja na Idade Média e queira obter uma roupa para se vestir. A produção de tecidos é feita em teares manuais e demora muito tempo para alguém produzir uma roupa. Ou então pense que há uma guerra ou situação econômica e faltem produtos, como no Brasil na Segunda Guerra Mundial ou em Cuba após o declínio soviético. Ou imagine que haja uma lei que proíba a importação, como na década de 1980, quando a SEI (Secretaria Especial da Informática) praticamente proibia o acesso a equipamentos de informática importados, pretensamente visando proteger os interesses nacionais. Nessas situações, se houver disponibilidade do produto, através de um tipo de produção - se possível eficiente para permitir um preço que se possa pagar -, os compradores irão adquirir os produtos tão logo estiverem disponíveis. Assim, basta conseguir produzir com eficiência que se obterá lucro ao disponibilizar o produto ao preço adequado à capacidade do mercado. O foco na produção foi importante no tempo em que se desenvolveram métodos e técnicas industriais que viabilizaram a oferta de bens em larga escala, a preços acessíveis, para consumidores que antes não podiam consumi-los. 5 Conceito de Produto A medida que o ser humano aprendeu a produzir com certa eficiência, a disponibilidade deixou de ser o maior problema. Isto ocorreu intensamente na Revolução Industrial, com o uso da energia do carvão. Com mais produtos disponíveis, pessoas passaram a escolher aqueles que oferecessem melhor qualidade, mais desempenho ou características inovadoras. Aqui se dará melhor na obtenção de lucros quem conseguir diferenciar mais seu produto, agregando a ele mais e melhores características e focando suas energias na oferta de um produto melhor. Os Conceitos de Produção e de Produto, apesar de terem tido seus dias e de até se justificarem em algumas situações, carregam em si um grave perigo. Trata-se da possibilidade de miopia em marketing, descrita por Theodore Levitt em seu clássico artigo: Miopia em Marketing, um dos mais reproduzidos e bem sucedidos artigos já publicados pela Harvard Business Review e por toda a literatura de marketing. Apesar do tempo, a maioria dos leitores atentos vai achar sua leitura atual e interessante. Em particular, ler esse artigo em todas suas entrelinhas nos ajuda a compreender a força do conceito de marketing. Conceito de Vendas Com o tempo, mais empresas passaram a produzir com eficiência bons produtos. Isto levou a uma situação de produzir mais do que os consumidores podiam comprar, aumentando a concorrência. Nesta situação, com o produto na mão, o meio que as empresas passaram a empregar foi aumentar o esforço de vendas e o esforço promocional. A comunicação de massa surgiu daí. Passou a lucrar mais quem conseguisse obter o maior volume de vendas. O importante passou a ser “empurrar” o produto para as mãos do comprador. É interessante que essa é a ideia que muitas empresas fazem da área comercial, ainda em nossos dias. Veja o caso do tradicional vendedor de livros e coleções, aquele que bate à sua porta. Ele tira uma porção de coleções das caixas ou mostra prospectos lindíssimos. Fala que está vendendo por um preço promocional que só ele tem. Insiste muito e não descansa enquanto você não comprar, “nem que seja para me ajudar”! Pois bem, aí está um caso típico de uso do conceito de vendas. Agora, pense um pouco: será que essa mesma postura não prevalece em muitos negócios vistos como mais modernos? É muito diferente do que faz um funcionário de um banco quando oferece a você um título de capitalização, com a 6 ajuda de um prospecto promocional enfatizando que você pode “ganhar” tantos prêmios por mês? Ou quando o vendedor pelo telefone insiste para falar com você? Conceito de Marketing e Marketing Integrado O conceito de marketing utiliza o marketing integrado, que nada mais é do que ter toda a empresa, todas suas áreas funcionais, atuando com o objetivo de satisfazer as necessidades do consumidor. Uma organização que adota o marketing integrado deixa de ver o departamento de marketing como o único responsável por esta atividade. Com o marketing integrado, todos na empresa entendem que exercem funções que visam satisfazer às necessidades e desejos do consumidor. Ao fazer isso bem feito, a compra do produto pelo consumidor se torna uma coisa natural (ele vai comprar porque o produto vai ser bom para ele, vai ajudá-lo a resolver um problema, uma necessidade). Da mesma forma, ao se sentir satisfeito, aumenta também a probabilidade do consumidor voltar a comprar o produto da empresa. Com isto, a empresa vende algo de valor para o consumidor e realiza lucro ao entregar esse valor. O consumidor se transforma no verdadeiro "patrão" de todos os membros de uma organização. Você deve estar se perguntando, até um pouco desconfiado: Se essa ideia de marketing é tão forte e interessante, então por que a área de vendas é tão necessária no mundo dos negócios? Afinal, o marketing não faz com que os negócios fluam mais naturalmente quando atende a uma necessidade? Por que as empresas não prescindem de suas forças de vendas? Será que o Conceito de Vendas não teria uma razão para se sobrepor ao Conceito de Marketing? Para responder a essas questões, convidamos você a avaliar a seguinte frase, muito provocativa quando se comparam os conceitos de marketing e de vendas: “O objetivo do marketing é tornar a venda supérflua.” Parece muita pretensão do marketing apresentar-se como uma filosofia de negócios que chega ao ponto de dizer que a venda é desnecessária quando se pratica o marketing! O aparente exagero fica ainda mais evidente quando se constata que a quase totalidade das empresas utiliza e qualifica como fundamental a atividade de vendas. E aí estão incluídas mesmo as empresas que se dizem orientadas para o marketing! A frase-acima cresce em importância quando lembramos que ela se deve a Peter Drucker, um dos mais respeitados mestres da Administração. Ele ainda a complementou, afirmando que “o objetivo do marketing é conhecer e entender o consumidor tão bem que o bem ou serviço se adequará a ele e venderá por si só” (DRUCKER, 1973). 7 Por que tal autoridade em Administração teria escrito essa frase? Não soa paradoxal que a venda seja uma atividade tão prevalente e importante nos negócios de hoje? Para resolvermos esse aparente paradoxo - a que chamaremos de Paradoxo de Drucker - vejamos primeiramente se ele faz sentido e por quê. Ora, se o marketing identifica as necessidades dos consumidores e desenvolve produtos com o objetivo de atendê-las, então é natural que os consumidores sejam compelidos a comprar o produto. Afinal, eles são os maiores interessados em resolver seus problemas, buscando ter suas necessidades atendidas. Ou seja, se o trabalho de marketing é bem feito, é o consumidor que compra, não o vendedor que vende! Se isto lhe parece ter uma lógica, então Drucker parece ter razão, não é mesmo? Se o cliente compra, então a venda é supérflua! Como é que fica, então, a paradoxal existência e importância da atividade de vendas? A resposta está no papel, na função do vendedor. O bom vendedor não é aquele que simplesmente chega e apresenta o produto e começa a falar sem descanso enquanto não fechar a venda. O bom vendedor — aquele que tem mais chance de sucesso — é aquele que se porta como um instrumento do marketing! O bom vendedor principia por conhecer e identificar as necessidades de seu cliente em potencial. Essa primeira atividade é uma atividade de pesquisa, de prospecção. Exige, mais do que falar, que se ouça bastante. Conhecendo a necessidade do cliente, o bom vendedor irá avaliar em que instância seu produto (ou seus produtos) serve para atender às necessidades identificadas na primeira fase de seu trabalho. A partir daí, basta mostrar ao consumidor que seu produto é capaz de atender às necessidades desse consumidor. Ou seja, o bom vendedor é um agente de marketing, que mostra ao consumidor as razões pelas quais o produto tem valor para ele. Essa é a atividade de marketing da promoção, uma das ferramentas do marketing, que visa mostrar ao consumidor que a empresa tem algo que pode lhe servir. Ficou claro? O Paradoxo de Drucker se resolve facilmente quando entendemos a atividade de vendas como o exercício do marketing, como a prática do marketing — identificando necessidades e comunicando que os produtos são capazes de satisfazer essas necessidades. Ou seja, o vendedor nada vende, apenas mostra o valor do produto para o cliente em potencial, que então o compra para satisfazer sua necessidade! Novos Conceitos superam os conceitos de Marketing? Agora você já conhece as orientações de negócios ou conceitos que precederam o conceito de marketing. Também já deve estar avaliando que o conceito de marketing se 8 constitui em uma filosofia de negócios que chega a resultados de forma mais natural do que a abordagem de vendas. Também deve estar vendo a orientação para marketing como mais segura do que as abordagens de produção e de produto, dada a vulnerabilidade destas ao advento de novas tecnologias capazes de atender melhor as necessidades (miopia em marketing). Em um mundo dinâmico como o nosso, cabe perguntar se não há algum conceito mais recente, capaz de superar o conceito de marketing. A seguir são introduzidas duas abordagens mais recentes, que são apresentadas algumas vezes como candidatas capazes de “substituir” o conceito de marketing. Trata-se do Marketing Societal e do Marketing de Guerra. A apreciação dessas duas abordagens e a avaliação de seu potencial em substituir o conceito de marketing permitirão a você compreender melhor e solidificar o conceito de marketing tradicional. Marketing Societal Philip Kotler (2000), um dos mais aclamados acadêmicos em marketing, advoga que há um conceito mais novo e mais aprimorado que o conceito tradicional de marketing, o Marketing Societal. Kotler (2000) alega que o conceito de marketing tradicional, ao simplesmente atender às necessidades que detecta nos consumidores, não necessariamente estará fazendo o que é melhor para os consumidores e para a sociedade, no longo prazo. Preconiza, assim, um marketing com postura mais ativa. A nova postura deve identificar as necessidades, desejos e interesses dos mercados-alvo, para oferecer aos clientes algo que os satisfaça, mas deve fazer isto apenas na medida em que mantenha ou melhore o bem-estar do consumidor e da sociedade. O Marketing Societal possui um apelo intrínseco bastante forte, particularmente em uma era, segundo Kotler, de “problemas ambientais, insuficiência de recursos, crescimento populacional rápido, problemas econômicos mundiais e serviços sociais negligenciados” (p. 23). Adicionem-se a essa lista os problemas da saúde pública e os de qualidade da alimentação. Cuidado, porém, para não confundir marketing societal com marketing social, tão em voga em nossos dias. No âmbito do chamado marketing social estão as campanhas de patrocínio de causas sociais, enquanto o marketing societal trata de incorporar aos negócios correntes da empresa a preocupação com o bem-estar do consumidor e da sociedade, incluindo aí meio ambiente, qualidade de vida, longevidade, etc. A pergunta que se impõe é: Será que o Marketing Societal substitui o tradicional Conceito de Marketing? Considere alguns dilemas a seguir. 9 Uma empresa de restaurantes deve oferecer um prato apetitoso, de dar água na boca, desejado por seus clientes, mas que tem um elevado teor de gordura e que pode, no longo prazo, comprometer a saúde do consumidor? Ou deve oferecer um alimento mais saudável, mas que seria preterido pelo consumidor se este pudesse escolher? Um fabricante de automóveis deveria oferecer apenas um veículo mais seguro, com múltiplos airbags, mas a um preço superior? Ou um veículo com limitador de velocidade máxima, reduzindo o perigo de morte em uma colisão? E um supermercado, deveria ter apenas frutas e verduras orgânicas, mais saudáveis embora mais caras? Para responder a essas perguntas, uma simples verificação daquilo que ocorre no mundo dos negócios indica que uma visão de marketing societal não é prevalente, usual. Apesar disso, observamos claramente “que há um número crescente de empresas comunicando ativamente que procuram gerir “seus negócios preservando o meio ambiente, oferecendo alternativas mais saudáveis e atendendo questões socialmente relevantes. Como podemos classificar essas iniciativas? Será o surgimento do marketing societal? Considere a questão ambiental. Há menos de 50 anos, a preocupação ambiental era praticamente nula. Hoje, com as evidências do aquecimento global, a preocupação está exacerbada. Certos consumidores estarão dispostos a pagar 20 a 30% mais por um veículo híbrido que reduz um pouco a emissão de gases do efeito-estufa. Outros escolherão um cartão de crédito que promete compensar as emissões de carbono, em detrimento de outro que ofereça benefícios adicionais em programas de milhagem. Pense um pouco: O que está conduzindo esses comportamentos e a determinação das empresas em promover o bem-estar da sociedade ou a necessidade do consumidor em preservar o meio ambiente? Embora as opiniões possam divergir, não há como negar que o fator determinante é de demanda, ao menos em certa extensão. Hoje, os consumidores demandam produtos que ofendam menos o meio ambiente, ajudem as pessoas a ter uma vida longa e saudável, ou contribuam com algum aspecto valioso para a sociedade. O que está por trás disto? Pode-se usar um argumento forte de que as pessoas (ou parte delas) passaram a dar importância a essas questões. Elas passaram ater essas necessidades que preocupam a sociedade. Esse argumento indica que houve o florescimento de necessidades que antes não estavam latentes nos consumidores. Podemos chamar essas necessidades de necessidades societais, uma vez que elas são relacionadas com 10 questões que dizem respeito à sociedade como um todo. Seguindo esta linha, podemos argumentar que o que se observa é muito menos um marketing societal, e mais uma resposta das em presas ao aparecimento dessas necessidades societais. Ou seja, prevalece o tradicional conceito de marketing, de resposta a necessidades. Marketing de Guerra Uma orientação que se propôs a superar o conceito tradicional de marketing é o Marketing de Guerra. Foi proposta nos anos 80 por Al Ries e Jack Trout (2007), dois autores de origem profissional, não acadêmica, que haviam feito fama com a ideia de posicionamento. O Marketing de Guerra baseia-se em uma abordagem militar do mercado. Ao invés de focar no atendimento das necessidades do consumidor, diz que a empresa deve preocupar-se com os concorrentes, na batalha pelo mercado. Propõe que a empresa deva se concentrar em aspectos como ataque, defesa, pontos fortes e fracos, conflito, competição pelo cliente, etc...Concentração de forças, marketing de guerrilha, dominação de mercados, guerra de preços e propaganda comparativa são exemplos de ações que permeiam a proposta do marketing de guerra. Embora o marketing de guerra tenha sido um “modismo” surgido na década de 80, a reboque do livro homônimo de Ries e Trout (2007), ainda hoje tem adeptos no mercado. Constantemente surgem versões “qualificadas” do marketing. Você deve olhar para elas com uma postura crítica. Neste caso, pergunte-se até que ponto a orientação para o concorrente é importante? Ela deve existir? Ela deve superar a orientação para a satisfação das necessidades do consumidor? Empresas orientadas para o consumidor praticam o conceito de marketing. Empresas focadas no concorrente são as que exercem o marketing de guerra. Já empresas que focam tanto no consumidor como no concorrente têm a chamada orientação para o mercado. Essa orientação para o mercado tem um forte apelo e se constitui na postura assumida por grandes organizações mundiais, como Toyota, Marriot e General Electric (BERKOWITZ et al., 2003). A orientação para o mercado enfatiza a coleta contínua de informação tanto sobre as necessidades do consumidor como sobre as capacidades dos concorrentes, compartilhando essa informação em toda a empresa e utilizando-a para criar valor para o consumidor. 11 Será que Marketing é bonzinho? A maior parcela das pessoas atribui grandes poderes ao marketing. De fato, muitos atribuem ao marketing a responsabilidade por aquele que seria um dos grandes males das sociedades modernas, o consumismo. Está fora do propósito deste texto discutir se o consumismo é de todo um mal (ele está na base de coisas que todos prezamos, como um nível de conforto sem precedentes na história das sociedades humanas, da desejada criação de empregos e de muito do que qualificamos de progresso, embora também tenha contribuído para problemas sérios, como a poluição ambiental). A questão que colocamos aqui é se o marketing é capaz de impor ao consumidor o consumo de algum produto, sem que esse consumidor o deseje. Pense nas coisas que você possui. Será que ao menos algumas delas você não adquiriu sem necessitar? Será que seu guarda roupas não tem algumas peças que você nunca usou? E outras que talvez tenha comprado apenas “para aproveitar a oferta”? Quantos produtos não classificamos como “supérfluos”? A questão é entendermos se o marketing tem a capacidade de nos forçar a consumir algo que não necessitamos. A atividade seguinte ajudará você a formar sua opinião. Mais uma vez, a questão que se impõe é: A abordagem do Marketing de Guerra, e mesmo a Orientação para o Mercado, se sobrepõe e torna ultrapassado o conceito tradicional de marketing? Para resolver essa questão, tente responder à seguinte pergunta: Por que uma empresa deve preocupar-se com o concorrente? O que ela deve atentar no concorrente que pode ser uma ameaça real ao seu negócio? As respostas podem tomar diversas formas. No entanto, qualquer que tenha sido sua resposta (o concorrente tem melhor tecnologia, menor custo, mais qualidade, etc.), essa resposta tem importância por um motivo; esse concorrente pode ser capaz de atender à necessidade do consumidor melhor que minha empresa. Assim, ao centrar sua atenção no concorrente, você terá uma resposta mais útil se responder diretamente a esta questão: “O que o concorrente faz ou pode fazer para atender melhor a necessidade do que eu?” Se essa visão parece correta para você, então há de concordar que o conceito tradicional de marketing vem antes e fundamenta uma eventual preocupação com o concorrente. Isto porque o que justifica a preocupação com o concorrente é o atendimento da necessidade do consumidor. Ou seja, mesmo uma orientação para o mercado, que parece fazer muito sentido, só se justifica com base no conceito tradicional de marketing! 12 Neste momento, você deve estar pensando que a força do conceito de marketing enquanto filosofia de negócios é bem grande. Necessidades e desejos Você já deve estar pensando em quão importante é identificar a necessidade do consumidor. De fato, identificar a necessidade que se pretende atender é essencial em marketing. Para tanto, precisamos definir o que é necessidade. Necessidade é um estado de privação É importante observar que as necessidades são inerentes ao ser humano, elas são exigências básicas. Para garantir sua sobrevivência e integridade, o homem tem necessidades básicas físicas, incluindo as necessidades por alimento, água, abrigo, proteção contra o meio ambiente e segurança. Além disso, o ser humano se desenvolveu como um animal social, desde os bandos de humanóides que se juntavam para procriar e cuidar de suas crias até as complexas estruturas sociais de eras mais recentes. Daí, o homem apresentar necessidades sociais, de pertencimento e afeição. Da mesma forma, a própria composição humana inclui necessidades individuais, como necessidades de conhecimento e de auto-expressão. As necessidades sociais e individuais são geralmente de ordem psicológica, em oposição às necessidades físicas. Assim, os seres humanos se sentem na obrigação de parecer bem, tanto frente aos demais como consigo mesmo. Tome o exemplo de nossas roupas. Em princípio, elas devem atender à nossa necessidade física de proteção contra os rigores do meio ambiente (frio, vento, insolação). No entanto, as roupas que usamos geralmente são mais importantes por dizer algo sobre nós aos que nos cercam (família, amigos, colegas, vizinhos). Elas carregam a imagem que desejamos transmitir de nós mesmos. Ao fazê-lo, elas satisfazem nossa necessidade de auto-expressão – uma necessidade psicológica. Eventualmente, para satisfazer uma necessidade, desejamos algo que vai além da satisfação da necessidade em si. É o que ocorre, por exemplo, quando queremos comprar uma “roupa de marca”. Nestes “casos, sentimos o que se chama de desejo. Embora haja considerável controvérsia sobre a definição de desejo particularmente quanto ao momento em que se passa de uma necessidade para um desejo, geralmente se adota a definição de que: Desejo é uma necessidade influenciada externamente. Assim, enquanto a necessidade é inerente ao ser humano, a forma pela qual o consumidor gostaria de ver essa necessidade satisfeita é influenciável pela cultura, pela 13 sociedade, pelo conhecimento de uma pessoa e também pelo marketing. Como consequência, embora marketing não crie necessidades, pode gerar desejos, moldando uma necessidade. Um consumidor pode ter a vontade de satisfazer dada necessidade de uma maneira específica que foi sugerida pelo marketing. Por exemplo, o marketing pode promover a ideia de que uma roupa com a marca Hugo Boss satisfaz a necessidade social de status de certa pessoa. É por este motivo que muitas marcas de roupas destacam etiquetas com sua logomarca visível nas peças que comercializam. A Hierarquia das Necessidades de Maslow Como identificar a necessidade que leva uma pessoa a buscar um produto para atendê-la? Evidentemente, conforme pode se depreender do exemplo do cigarro, essa não é uma tarefa trivial. Entretanto, podemos lançar mão de um referencial conceitual proposto pelo psicólogo Abraham Maslow, muito utilizado para classificar as necessidades. Maslow propôs que os seres humanos têm necessidades que podem ser classificadas em cinco categorias distintas. Mais ainda, ele propôs que a energia e a importância que dedicamos à satisfação dessas necessidades variam. Desta forma, nos concentraremos em atender primeiro às necessidades da categoria mais básica para só então buscar atender às necessidades de categorias de ordem mais elevada. Uma categoria de ordem mais elevada apenas se toma relevante para o consumidor quando a pessoa satisfaz suas necessidades de ordem mais básica. Portanto, as necessidades se ordenam segundo uma hierarquia, a Hierarquia de Necessidades de Maslow. Ela é representada geralmente por uma pirâmide. As cinco categorias de necessidades são as seguintes: Fisiológicas. As necessidades mais básicas são aquelas essenciais à sobrevivência, como alimento, água, sono e abrigo. O rótulo de um produto alimentício no supermercado, que mostra o alimento preparado e fumegante, chegando a fazer os consumidores salivarem, está despertando uma necessidade fisiológica. Outro exemplo seria uma famosa campanha publicitária nos anos 60. Sempre veiculada às 21h, anunciava os Cobertores Parahyba com um desenho animado e o jingle “Já é hora de dormir. Não espere mamãe mandar. Um bom sono pra você e um alegre despertar!” Segurança. As necessidades de segurança incluem proteção, auto-preservação e ausência de dor e desconforto. De modo mais ou menos explícito, o marketing utiliza os medos e ansiedades dos consumidores para despertar necessidades de segurança. Por exemplo, os dentifrícios que prometem proteger contra as cáries ou a sensibilidade dental 14 estão apelando para as necessidades de segurança. Da mesma forma, um sistema de alarme residencial promete segurança. A segurança, entretanto, pode alcançar ordens mais elevadas do que a segurança física pessoal. Um desodorante pode ser vendido prometendo uma proteção psicológica contra situações desagradáveis. Seguradoras e serviços bancários também procuram oferecer segurança. Sociais. A natureza social do ser humano leva às necessidades sociais. Aparecem aqui necessidades de afeto, sensação de pertencimento, amizade e amor (tanto amor fraternal como sexual e romântico). Dada sua importância para o ser humano, o marketing muitas vezes desperta necessidades sociais como forma de criar desejos por roupas, cosméticos, viagens e um sem-número de produtos, sugerindo que possam trazer o amor. Da mesma forma, a necessidade que temos de sermos aceitos e nos sentirmos pertencentes a um grupo é despertada na promoção de produtos e marcas para adolescentes. Um fenômeno mundial nessa linha são os jeans. Da mesma maneira, uma marca como a Nike conseguiu transformar-se no objeto do desejo de milhões de jovens como uma marca “legal”, abrindo as portas para que pertençam aos seus grupos de amigos e colegas. A própria Coca-Cola enfatiza as necessidades sociais ao colocar seu refrigerante em campanhas natalinas anuais. Estima. Também descritas como necessidades pessoais ou do ego, dizem respeito a nossas necessidades de autoestima, reconhecimento, prestígio ou status, conquista. As necessidades sociais estão ligadas a uma simples aceitação social. Já as necessidades de estima a aceitação são baseadas na contribuição ao grupo. Os sabonetes Dove perceberam que muitas mulheres estavam mais preocupadas com a autoestima do que com a beleza socialmente aceita. Assim, lançaram uma campanha enfatizando mulheres comuns ao invés de modelos maravilhosas. Outro exemplo de despertar uma necessidade de estima, prestígio ou status, ocorre quando uma marca de automóveis de luxo afirma que “Quem dirige um, fez por merecer”, como faz o Ford Fusion. Auto Realização. Nesta categoria estão as mais elevadas necessidades humanas, envolvendo experiências enriquecedoras, desenvolvimento e realização pessoal. Segundo Maslow, apenas poucas pessoas alcançariam tal nível, embora muita propaganda foque esse tipo de necessidade. O prazer estético prometido pelas artes plásticas, ou mesmo pela arquitetura, pode ser classificado como a proposição do atendimento desse tipo de necessidade. Da mesma forma, muitos loteamentos de chácaras suburbanas tentam despertar esse tipo de necessidade. 15 MERCADO A definição para mercado é baseada em necessidades. Podemos dizer que um mercado existe até mesmo sem que as necessidades estejam satisfeitas - basta haver as necessidades. Dessa forma, em marketing costumamos definir um mercado como um conjunto de consumidores, não como uma quantidade de produtos. Esses consumidores formam um mercado na medida em que preencham dois requisitos: Tenham uma determinada necessidade específica, e possuam a capacidade de satisfazê-la. Assim: Mercado é o conjunto de todos os consumidores potenciais que compartilham uma necessidade ou desejo especifico dispostos e habilitados a fazer uma troca para satisfazê-lo. Note que, embora não a invalide, há uma dificuldade prática nessa definição. Trata-se de o quão específica deve ser a necessidade. Com isto, podemos pensar em um mercado de entretenimento, que pode ser atendido por cinemas, parques de diversão, botecos, restaurantes, televisão em casa, etc. Podemos também pensar em um mercado de entretenimento no lar, que pode ser satisfeito por televisão, internet, locação de vídeo, etc. Certamente, os dois exemplos formam mercados legítimos, embora definidos com amplitudes diferentes. Observe ainda que essa definição implica que os mercados existem independentemente da satisfação da necessidade. Por isto, os mercados são potenciais. Faz parte do trabalho do marketing ativar esses mercados potenciais. Ao fazê-lo, o marketing cria uma demanda. DEMANDA O trabalho de marketing objetiva: a) oferecer algo capaz de satisfazer à necessidade existente; b) por um preço que “caiba” no valor que o consumidor atribui à resolução de seu problema ou necessidade e pelo qual possa pagar; c) disponível onde, quando e na quantidade que o consumidor necessita; d) fazendo com que o consumidor fique devidamente informado da capacidade do produto em satisfazer essa necessidade. Quando o marketing faz isso bem feito, o consumidor compra o produto (bem ou serviço), transformando o mercado potencial em demanda de mercado. A demanda de mercado por um produto pode ser definida como o volume total que seria comprado por um grupo definido de consumidores em determinado período, em uma área geográfica definida, em dado ambiente econômico, sob um programa de marketing específico (KOTLER; CUNNINGHAM, 2004). Portanto, a demanda pode ser medida em diferentes 16 níveis. Assim, na dimensão temporal, pode-se falar de demanda de curto, médio e longo prazo. Na dimensão espacial ou geográfica, é possível ter a demanda de um cliente, de um território, de uma região, de um país e global. Por fim, a demanda pode ser definida segundo o nível de produto, podendo ser para um dado item de produto (por exemplo, demanda por cerveja Bohemia em lata), para uma forma de produto (por cerveja premium em lata), para uma linha de produtos (por cerveja premium), para uma empresa (por cervejas da AMBEV), para um setor (demanda por cerveja) e para uma classe de produtos (demanda por bebidas alcoólicas). Observe que o grupo de consumidores em uma área geográfica é definido pela existência da necessidade. O ambiente econômico de termina a capacidade aquisitiva. Conjuntamente, ambos determinam o mercado potencial. Quando esse mercado potencial é ativado por um programa de marketing, uma parcela dele transforma-se em demanda. Daí resulta a função demanda de mercado, também conhecida como: Curva “S” do Marketing, em que a demanda de mercado varia de acordo com os níveis de esforço de marketing do setor. RESUMO Você tomou contato com o conceito de marketing e passou a entender o marketing como uma filosofia de negócios. Ela é baseada na visão do consumidor, em lugar da ideia usual de marketing como propaganda. Sua visão de marketing sedimentou-se ao aprender a evolução das diversas orientações até chegar ao conceito de marketing. Em particular, você agora sabe exatamente qual é o papel da venda, como ferramenta de marketing. Você também adquiriu uma visão crítica sobre a abordagem do marketing societal e do marketing de guerra. Agora, certamente está habilitado a avaliar novas propostas que pretendam o mesmo. Você também distingue uma necessidade de um desejo. Do mesmo modo, sabe identificar qual necessidade que o consumidor quer satisfazer, dentro da Hierarquia de Necessidades de Maslow. Com isto, você já não se confunde em casos nos quais possa parecer que o marketing criou uma necessidade ou um consumo aparentemente “desnecessário”. Você também já entende o que é um mercado potencial e a demanda de mercado, bem como o papel dos esforços de marketing para transformar potencial em demanda. 17 O que vem a seguir... Agora que você já compreendeu o conceito de satisfação das necessidades do consumidor, veremos agora essa noção externa para dentro do contexto da empresa. Você aprenderá a ideia do marketing de relacionamento e conhecerá o significado exato de uma sigla muito em voga no mundo dos negócios, o CRM. Verá como se obtém a satisfação do consumidor e compreenderá o que o consumidor entende por ”valor" e como o marketing utiliza seus famosos 4 P´s para gerar valor para ele. Ao final, verá como a empresa deve se organizar para desempenhar o marketing. UNIDADE II - Fazendo Marketing Como você deve ter percebido, enfatizamos o consumidor e suas necessidades. Finalizamos apresentando uma visão em um nível mais agregado, envolvendo o mercado. Faremos agora uma ponte entre esse mundo externo, e a empresa. Afinal de contas, é na empresa que você põe o marketing em ação. Como verá, fazemos isto sem deixar a perspectiva do consumidor, visto que ela está na essência do marketing. Trataremos brevemente de um tópico bastante amplo, mas fundamental em nossa área, o marketing de relacionamento. Procuraremos mostrar que a abordagem do marketing de relacionamento tem sua importância tanto para o consumidor como para a empresa que o pratica. A seguir, detalharemos a noção de satisfação, essencial para marketing de relacionamento. O entendimento da satisfação do consumidor nos habilita a trabalhar a noção central do valor que uma empresa pode entregar ao consumidor. A questão do valor para o consumidor é central, por isto, seguimos detalhando tanto as fontes de valor como os custos para o consumidor. Introduzimos, então, as ferramentas que o marketing utiliza para gerar valor para o consumidor, o composto mercadológico. A abordagem de um tópico muito falado em marketing - o encantamento do cliente - antecede nossa apresentação da organização de marketing necessária para oferecer valor para o consumidor. Marketing de Relacionamento Suponha que você está fazendo uma Viagem de carro para visitar um amigo e passa pela região de Monte Alegre, Minas Gerais. A região é tradicional produtora de abacaxi e logo você vê centenas de barracas de venda da fruta ao longo da estrada. Você se lembra de seu amigo e decide comprar algumas frutas para levar como lembrança. 18 Resolve parar em uma barraca. O vendedor, sorridente, aproxima-se e corta um pedaço de abacaxi para você provar. Está delicioso! Você aproveita, negocia o preço brevemente (abacaxi assim doce tem seu valor, e você provavelmente nem pechincha muito) e compra logo meia dúzia de abacaxis. Ele escolhe da pilha, entrega a você e recebe o dinheiro combinado. Você segue viagem, chega ao destino, oferece com alegria o abacaxi ao amigo. Ao consumi-lo, descobrem que está “azedinho”. O que ocorreu foi o resultado de uma transação. Nela, dois lados trocam algo de valor, em condições acordadas, em dado momento e local. A transação termina aí. A ideia de Marketing de Relacionamento veio a substituir a noção de transação, acrescentando-lhe uma dimensão temporal. Ao invés de focar a atração de novos clientes e realizar trocas e os lucros que elas podem proporcionar, o marketing de relacionamento advoga que as empresas devem buscar a construção de relacionamentos de longo prazo com seus clientes, para benefício mútuo. Do lado da empresa, o benefício do relacionamento está na economia encontrada em não ter que atrair e convencer clientes para novas transações. Do lado do cliente, o benefício do relacionamento está em não ter que pesquisar, conhecer, avaliar e incorrer em riscos a cada transação com um produto novo para ele. Portanto, faz sentido para a empresa estabelecer uma ligação econômica e social com seus clientes, retendo-os através da oferta consistente de um Valor adequado aos clientes, superior ao encontrado no mercado. Para tanto, o marketing de relacionamento deve procurar entender claramente quem são os clientes, o que eles valorizam, o que desejam adquirir e como desejam ser atendidos. A retribuição do cliente vem em termos de compras repetidas e da indicação do produto a novos clientes. Isto resulta em mais lucros na medida em que atender aos clientes existentes custa menos do que atrair novos clientes. Assim, o marketing de relacionamento gera um jogo ganha-ganha. A importância de se manter clientes atuais ao invés de conquistar novos clientes tem crescido com o aumento da competição no mercado. Hoje, calcula-se que custe de cinco a dez vezes mais atrair um cliente novo do que manter um cliente existente. 19 Cabe aqui fazer a mesma pergunta feita na Unidade Um. Será que o marketing de relacionamento não é um conceito superior ao nosso tradicional conceito de satisfazer as necessidades do consumidor? Não parece haver nada de errado com a ideia de marketing de relacionamento. Na realidade, se atentarmos bem para o significado dessa abordagem, notaremos que o marketing de relacionamento deriva diretamente do conceito de marketing. De fato, praticar o marketing de relacionamento nada mais é do que fazer bem feito o que prescreve o conceito de marketing. O conceito de marketing prescreve que o objetivo deve ser satisfazer às necessidades e desejos do consumidor. Ocorre que geralmente o consumidor não tem suas necessidades satisfeitas no momento da troca ou da transação, mas sim no momento do consumo. É ao consumir um bem ou serviço que o consumidor resolve seu problema, ate de sua necessidade. Normalmente, é nesse instante que o consumidor extrai o benefício que o levou a adquirir o produto! Se o marketing advoga que devemos satisfazer as necessidades e desejos do consumidor, o marketing naturalmente deve estender-se até o momento do consumo. Assim, preocupar-se em satisfazer o consumidor é fundamental tanto para o conceito tradicional de marketing como para a prática do marketing de relacionamento. Cabe aqui uma advertência: as colocações acima não devem gerar a falsa impressão de que a experiência da compra não é importante. Há algumas situações em que a própria compra satisfaz necessidades do consumidor. Isto ocorre quando ele valoriza a experiência da compra. Esta é uma área ligada ao marketing experiencial (SCHMITT, 2000). Mais adiante, voltaremos brevemente a esse assunto, ao discutir os benefícios do varejo moderno. Além disso, pode: ser que uma série de necessidades do consumidor (sociais ou de status, por exemplo) seja satisfeita pelo próprio ato da compra, no qual o consumidor sente prazer hedônico (ao barganhar preços, por exemplo). Essas; situações podem surgir desde a fase da pré-compra, que inclui a pesquisa pelo produto até a ida à loja, a experiência da transação em si e, por fim, o consumo do produto. Observe que, mesmo quando a própria compra possui valor para o consumidor, o marketing de relacionamento se faz necessário, pois nele o que importa é a preocupação com o atendimento da necessidade, mesmo que isto ocorra no momento da compra. 20 Customer Relationship Management – CRM O marketing de relacionamento tornou-se bastante difundido no mundo atual. Uma razão para isto foi o advento do Customer Relationship Management (CRM, ou Gestão do Relacionamento com o Cliente). Esta sigla tornou-se incorporada ao jargão empresarial, tanto positiva como negativamente. O CRM tornou-se possível com o desenvolvimento da tecnologia da informação, que possibilitou a criação, o armazenamento e a utilização de grandes quantidades de informações a baixo custo. Com isto, todos os contatos e transações de uma empresa com um cliente podem ser armazenadas, organizadas, estudadas e disponibilizadas a todos os membros da organização que podem impactar o relacionamento com o cliente. O apelo de maiores lucros intrínseco ao marketing de relacionamento levou muitas empresas a adotar o CRM visando obter a lealdade dos clientes, seguiu-se uma profusão de programas de fidelização, geralmente formatados com a premiação de compras repetitivas. O resultado foi uma enorme quantidade de fracassos na implantação do CRM, chegando a 75 % dos casos segundo certas fontes (GREENBERG, 2003). É provável que a razão desse elevado número de fracassos tenha sido a visão do CRM como uma ferramenta de informática que representaria uma panacéia nos negócios. Uma visão mais abrangente do CRM envolve o processo geral de construir e manter relacionamentos lucrativos com clientes. Isto se consegue com entrega de valor ao consumidor e de sua satisfação. Ou seja, adotar uma ferramenta de CRM não me será muito útil se eu não me dispuser a seguir a filosofia de marketing e praticar o marketing de relacionamento. Satisfação do Consumidor Central para o conceito de marketing e, em particular, para o marketing de relacionamento é a noção de satisfação do consumidor. Valor para o consumidor Uma necessidade não satisfeita representa um problema para o consumidor. Ela gera um estado de tensão. O consumidor se sente assim motivado a agir, visando reduzir esse estado de tensão. Necessidade problema estado de tensão motivação ação redução da tensão 21 Aliviar essa tensão representa algo positivo para o consumidor. No entanto, agir para aliviar essa tensão tem custos associados para o consumidor. Valor para o consumidor pode ser definido como a diferença (ou como a razão) entre os benefícios que o consumidor obtém com o produto e os custos de obtê-lo. De forma genérica, chamamos de valor a relação benefício/custo de um produto. Exemplificando, suponha que você consiga um novo emprego, mais distante do seu local de moradia. Você tem a necessidade de ir diariamente ao novo local de trabalho, com pontualidade. Isto é um problema para você, na medida em que não quer perder o emprego. Enquanto não encontrar uma solução, você estará em um estado de tensão. Isto o motiva a procurar alternativas. Eventualmente, isto libera energia para a aquisição de um automóvel próprio. Ao adquirir o veículo, você reduz sua tensão porque obteve o benefício de ter um tipo de transporte. Entretanto, o carro vai custar para você uma parte do seu salário, ou das suas economias. Simplificadamente, o valor para o consumidor é a relação entre o que você obtém (transporte para o emprego) e o que isto custou para você (as mensalidades do preço do carro). Na prática, porém, o cálculo do valor é um pouco mais complexo que a simples relação entre o benefício funcional (transporte) e o custo monetário (prestações). Existe todo um conjunto de benefícios e um com junto de custos a serem levados em conta. Vejamos em detalhe, primeiramente os benefícios, Ou fontes de Valor, e, a seguir, os custos que o consumidor incorre na aquisição de um produto. Fontes de valor O conhecido estudioso do comportamento do consumidor, Jagdish Sheth, com um grupo de colegas (1991), identificou cinco tipos de benefícios como fontes de valor para o consumidor em marketing: funcionais, sociais, emocionais, cognitivos e conjunturais. Assim, no exemplo da compra de um automóvel, além de transportar você ao seu novo emprego (benefício funcional), o carro talvez o ajude a impressionar um grupo de amigos (benefício social). Ele também pode levá-lo a desenvolver certa estima por ser seu primeiro carro (emocional). Pode atender ainda a sua curiosidade em aprender a operar o computador de bordo (cognitivo). Por fim, em um dia de chuva talvez você conclua que o valor é ainda maior do que pensava (conjuntural). 22 Custos para o consumidor Responda: Quanto custa um determinado produto para um consumidor? Por exemplo, quanto custa um par de sapatos? Provavelmente, você responderá com uma determinada cifra monetária (por exemplo, R$ 120), ou com uma faixa de cifras (digamos, de R$ 70 a R$ 250). O preço de um produto representa o quanto de dinheiro o consumidor terá que desembolsar pelo produto se desejar adquiri-lo. Esse custo monetário é o custo mais evidente, mas não o único custo de um produto para quem o compra. Do lado dos custos, além do custo monetário, devem ser considerados os custos do tempo e os custos psicológicos despendidos na aquisição do produto. O custo do tempo tem sua particularidade e importância no fato de que o tempo é insubstituível, ao contrário do que ocorre com o custo monetário. O tempo que você utilizou para procurar e comprar o carro, no exemplo acima, poderia ser aproveitado para o lazer, ou para qualquer outra coisa, mas isso não se recupera mais. O custo do tempo fica ainda mais evidente quando avaliamos a aquisição de produtos que competem pelo limitado tempo do consumidor. Considere, por exemplo, a intensa concorrência que fazem a televisão, a internet, o Cinema e os restaurantes pelo tempo de folga do consumidor. Ao avaliar o valor de cada um deles, o consumidor também leva em consideração o custo que representa não usar esse tempo para entreter-se com as alternativas que deixou de consumir! E os custos psicológicos têm componentes tanto de ordem racional como emocional. Ao escolher um determinado produto, um primeiro custo psicológico advém da necessidade de ter que aprender muitas coisas sobre o produto. O esforço psicológico requer recursos mentais, incluindo espaço na memória e raciocínio. Esses recursos são necessários já no período de busca ou procura, que antecede a escolha. Entretanto, eles continuam a ser necessários até o momento do consumo. Pense, por exemplo, na energia mental que você precisa para aprender a usar um produto, como um novo software. Outro tipo de custo psicológico advém do desconforto gerado pelo fato de o consumidor ter que tomar uma decisão de escolha de um produto. Ao escolher uma alternativa, deixamos de adquirir as demais alternativas disponíveis. Daí vem aquele "friozinho na barriga" que acompanha a tomada de decisão, pois sempre há a possibilidade de não ter feito a melhor escolha. A esse tipo de ansiedade dá-se o nome de dissonância cognitiva. Por exemplo, uma pessoa que compra um determinado carro pode sentir a dissonância cognitiva porque, digamos, uma marca preterida tem airbags laterais 23 enquanto o carro comprado tem apenas airbags frontais. Esse consumidor pode ficar pensando na eventualidade de vir a necessitar dos airbags laterais no caso de uma colisão lateral. Ou então, pode sentir-se psicologicamente desconfortável porque escolheu seu carro por ser um modelo econômico, mas com um interior em cor fácil de sujar. Tudo isso gera custo psicológico. E você, já sentiu o "peso" psicológico da dissonância cognitiva em algo que comprou? Outra fonte de desconforto psicológico é a avaliação social do consumidor. Todos nós tememos tomar decisões erradas não apenas pelo custo do engano em si, mas também por causa das avaliações negativas que esse engano pode gerar acerca de nossa pessoa. Esse custo psicológico tem grande importância na aquisição de um novo produto. Para o marketing, é importante por se constituir em forte motivo para a lealdade à marca. Um bom exemplo disso pode ser a dificuldade encontrada pela gigante norteamericana Procter & Gamble no lançamento da marca Ariel no mercado brasileiro de detergente em pó. Não podemos desprezar a importância da reação empreendida pela não menos poderosa Unilever na defesa de suas marcas, incluindo a marca Omo, líder de mercado. Entretanto, o investimento da P&G no lançamento foi significativo e havia a expectativa de que levasse a uma participação de mercado maior que a obtida pelo Ariel. Uma das principais ações empreendidas pela P&G foi a distribuição em massa de amostras-grátis do lançamento, visando impulsionar a experimentação do novo detergente. O Ariel, enquanto produto, tem desempenho similar ao Omo. A P&G certamente possui tecnologia para produzir detergente em pó de qualidade e custo similar ao do OMO, como demonstra a liderança que sua marca tem no exigente e competitivo mercado dos EUA. Constatou-se, no entanto, que muitas donas-de-casa utilizaram o Ariel, recebido como brinde, para lavar chão e roupas velhas. Elas provavelmente já tinham o Omo como a marca que "não as deixava na mão" e não quiseram incorrer na possibilidade de cometer o erro de danificar a roupa da família com o novo produto. O receio de serem avaliadas negativamente (pelos familiares ou pelos grupos sociais de que fazem parte) pode ter levado as donas-de-casa a evitarem a nova marca. Ela poderia causar dano à roupa, ou mesmo falhar em cumprir a promessa que as donas-de-casa conhecem há décadas: "Omo lava mais branco". Portanto, o custo psicológico da possibilidade de amargar uma crítica social ao trabalho de lavar roupas pode ter levado muitas donas-de-casa a se manterem fiéis ao Omo. Como resultado, as vendas do Ariel, que em pouco tempo após o lançamento chegou a conquistar cerca de 15% do mercado, retraíram-se para apenas cerca de 5% de 24 participação. Isto foi muito aquém do que seria de supor com os grandes investimentos realizados. E o Omo continuou a reinar no mercado. Valor para o consumidor e a oferta mercadológica Conforme vimos, o consumidor busca em um produto (bem ou serviço) os benefícios da satisfação de sua necessidade ou desejo. Ao mesmo tempo, assume certos custos para obtê-lo. Portanto, o valor para o consumidor pode ser definido como: Valor = Benefícios = benefícios funcionais+sociais+ emocionais+ cognitivos+ conjunturais Custos custos monetários + custos de tempo + custos psicológicos Observe que a definição de valor adota o ponto de vista estritamente do consumidor. Esta é a postura correta em marketing. Você deve ir se acostumando a adotar sempre a perspectiva do consumidor, caso deseje praticar marketing. A empresa voltada para o marketing deve sempre olhar a questão sob a ótica do consumidor, para só então responder a ela! A empresa orientada para o marketing deve aumentar o valor para o consumidor, para que seu produto seja o escolhido em um mercado competitivo. Para tanto, a resposta mais trivial é simples: aumentar os benefícios oferecidos e reduzir os custos. A forma mais direta de aumentar o valor seria fazer crescer os benefícios funcionais (por exemplo, adicionando mais componentes a um bem, como adicionando ar condicionado ou câmbio automático em um automóvel) ou reduzindo o custo monetário. Em uma perspectiva mais geral, o marketing tem ferramentas que lhe permitem trabalhar todas as fontes de valor e, até mesmo, os diversos custos do consumidor. Você provavelmente já ouviu falar dos quatro Ps do marketing: produto, preço, promoção e praça. Pois bem, eles compõem o composto mercadológico ou marketing mix. Vejamos um breve conceito do que são esses quatro Ps, apenas para compreender como eles podem gerar valor de diferentes maneiras para o consumidor. Produto* O produto é a oferta capaz de satisfazer às necessidades e desejos do consumidor. Pode ser um bem ou um serviço, ou até mesmo uma ideia. Todo produto pode ser considerado um conjunto de atributos. O produto possui características que usualmente visam gerar valor funcional para o consumidor (outros benefícios, além dos funcionais foram discutidos acima, ao tratarmos das fontes de valor). 25 Por exemplo, o produto automóvel pode ser visto como tendo espaço, economia, potência, etc., que geram benefícios funcionais. Entretanto, o P de produto pode oferecer qualquer um dos demais tipos de benefícios. Assim, ao produzir um manual do produto de leitura agradável, uma empresa pode estar aumentando o prazer do consumidor ao descobrir todas as potencialidades do produto e, com isto, o benefício cognitivo. Da mesma forma que acrescenta valor aumentando benefícios, o P de produto engloba elementos que podem reduzir custos do consumidor. Uma visão de marketing verdadeira entenderá que, para se atender adequadamente à necessidade do consumidor, é preciso assegurar que este possa extrair os benefícios procurados no produto. Para poder fazê-lo, a empresa pode oferecer uma garantia plena do produto. Ao fazê-lo, ela estará automaticamente reduzindo os custos psicológicos do consumidor e, com isto, aumentando o valor do produto para ele. Por exemplo, uma montadora de automóveis pode oferecer uma garantia com a oferta de um veículo substituto no caso de necessidade de reparos no carro adquirido. A General Motors, para citar um caso, oferece uma garantia com tais características, chamada de Road Service. Outro exemplo de valor advindo do P de produto é a oferta de assistência técnica, que permite ao consumidor a continuidade na extração dos benefícios. Por exemplo, a Brastemp montou uma ampla rede de assistência técnica distribuída pelo país, o SAB — Serviço Autorizado Brastemp. Com isto, também está reduzindo o custo psicológico de uma eventual quebra dos produtos de sua marca! Preço* O preço é a avaliação do valor de um produto por parte da empresa que o está oferecendo. O preço de um produto representa para o consumidor o custo mais aparente de um produto e, geralmente, também o custo mais relevante. Portanto, sua influência na avaliação do valor de um produto pelo consumidor é direta. Entretanto, o preço tem outras influências indiretas na formação do valor. Por exemplo, um preço elevado pode gerar benefícios sociais importantes (por qual outra razão alguém pagaria milhares de reais por uma bolsa feminina?). Igualmente, o preço de um produto em oferta pode gerar benefícios emocionais (quem não valoriza um "bom negócio", mesmo ao comprar algo para o qual não tenha "utilidade"?). Por outro lado, custos não monetários podem estar associados ao preço. Por exemplo, preços altos podem aumentar a dissonância cognitiva. 26 Observe duas coisas fundamentais no preço. Primeiro, a avaliação de valor feita pela empresa é uma estimativa. Ela, em princípio, independe de quanto custa o produto para a empresa. Embora seja uma prática corriqueira estabelecer o preço com base nos custos mais o lucro desejado, o consumidor simplesmente não comprará o produto se o preço resultante for superior ao valor dos benefícios esperados por ele com a compra do produto. Segundo, uma vez que um mesmo produto pode ter valor diferente para consumidores diferentes, alguns consumidores comprarão o produto por um determinado preço, enquanto outros não o comprarão. Por representar para o consumidor o custo monetário de um produto, o preço afeta diretamente o valor deste produto para o consumidor. Praça* Praça reflete a distribuição de um produto, agregando a ele o valor de estar disponível no momento e no lugar que o consumidor deseja. As decisões da empresa sobre o P de praça também afetam diretamente o valor para o consumidor. A palavra-chave do P de praça é a conveniência do consumidor. Maior conveniência significa menores custos incorridos para a obtenção do produto, em especial custos de tempo. Por outro lado, o P de praça pode também acrescentar benefícios ao consumidor, especialmente cognitivos e conjunturais, quando não sociais e até emocionais. Um significativo desenvolvimento do varejo moderno é a ênfase da experiência do consumidor, citada anteriormente. Diversos autores têm proposto o marketing experiencial, cujo maior exemplo no Brasil são os shopping centers e suas extensas areas de alimentação e de diversão. Nelas, não apenas o consumidor encontra valor conjuntural (ao fazer sua refeição no mesmo local onde compra produtos), como valor social (é um lugar para ser visto e para ver os outros) e até valor emocional (ao desenvolver sentimentos por estar em um point onde encontra os amigos, ou incrementar laços familiares). Além disso, os shopping centers acrescentam valor cognitivo às compras, pois é lá que os consumidores podem aprender sobre novos produtos e moda. 27 Promoção* A promoção objetiva essencialmente comunicar ao consumidor que a empresa está oferecendo a ele um produto capaz de satisfazer suas necessidades e desejos. Embora vise apresentar os benefícios funcionais que o consumidor pode extrair do produto, o P de promoção serve para alertar ao consumidor que o produto pode atender a outras necessidades suas. Por exemplo, muitos comerciais de automóveis mostram aos seus clientes em potencial o valor social de seu produto, do qual não estavam conscientes. Você já deve ter visto comerciais mostrando a inveja dos vizinhos quando você adquire o carro da marca da propaganda! A promoção também contribui na formação do valor para o consumidor também quando reduz custos psicológicos. Assim, suponha que você desenvolva uma dissonância cognitiva ao adquirir um produto de elevado valor para você. Ao ver a propaganda do produto que você adquiriu, poderá notar elementos que o reassegurem de que tomou uma boa decisão, reduzindo o desconforto psicológico. Por fim, quando a promoção se destina a estimular as vendas (promoção de vendas), ela pode fazer mais do que comunicar que o produto oferece benefícios funcionais, ao adicionar mais valor funcional. É o caso, por exemplo, de uma promoção de vendas do tipo "leve 3, pague 2", ou quando ofereço um produto de investimento financeiro com o benefício adicional da chance de ganhar um prêmio. Saiba mais... Não tem preço... Um excelente exemplo do valor criado pelo P de Promoção é a campanha mundial "Não tem preço" da Mastercard. Criada pela agência McCann Erickson há mais de dez anos, com alcance mundial, essa é uma das mais premiadas campanhas publicitárias. E certamente uma das mais lembradas pelo consumidor. Inicia apresentando produtos que podem ser adquiridos com Mastercard. Ao final, chega a algo de imenso valor para o consumidor e que não pode ser comprado. O moto da campanha é "para tudo mais existe Mastercard". Uma das coisas que mais chama a atenção nessa campanha é que ela fala de valor para o consumidor e o faz captando a essência do marketing — criar valor para o consumidor — ao mostrar que ao consumir o produto (utilizar o cartão de crédito Mastercard), o consumidor está na realidade obtendo acesso a coisas que têm valor para ele. Esse é o 28 valor funcional do cartão de crédito. Entretanto, a campanha cria também valor cognitivo, ao comunicar essa mensagem de maneira interessante, em uma sequência de comerciais que levam o consumidor a pensar. Sobretudo, a campanha adiciona valor emocional ao produto, ao fazer uma abordagem da qual as pessoas gostam. Encantar o cliente Com o advento e disseminação do marketing de relacionamento, muito se tem falado em adotar a postura de "encantar o cliente". Muitas pessoas ligadas ao marketing têm advogado que, nos dias de hoje, não é mais suficiente satisfazer o cliente. Seria necessário surpreender o cliente, entregando a ele mais valor do que ele espera. Os advogados do encantamento do consumidor creem nisso. Sua principal alegação é que clientes que se sentem encantados têm maior probabilidade de serem leais à marca que os encantou. Muitas pesquisas em marketing têm atestado repetidamente que é muito mais econômico reter um cliente do que conseguir atrair um cliente novo. Assim, "encantar o cliente" seria o objetivo do marketing. A ideia é que apenas satisfazer um cliente não garante que ele deixará de comprar outra marca quando encontrar algum motivo para tanto. Pode ser um pretexto pequeno, como uma pequena diferença de preço ou uma maior facilidade de encontrar o produto concorrente. A Xerox identificou que consumidores que se declararam "totalmente satisfeitos" tinham uma probabilidade seis vezes maior de recomprar produtos Xerox nos dezoito meses seguintes do que clientes que se declararam "apenas satisfeitos" (JONES; SASSER, 1995, p. 91). Isto sugere que obter a satisfação total — ou o encantamento do cliente — é um caminho seguro para obter a lealdade. Defensores dá necessidade de encantar o cliente argumentam que, ao entregar ao cliente mais do que ele espera, estarão plantando um poderoso elemento na memória do consumidor. Isto facilitará a lembrança da marca na compra seguinte: o produto que encanta o cliente é colocado no topo da mente, levando à lealdade e à recompra. A ideia de encantar o cliente tem, no entanto, uma dificuldade inerente. Entregar ao cliente mais do que ele espera tem um custo para a empresa. Pode-se alegar que, ao encantar o cliente, você cria a possibilidade de que ele conte sua experiência positiva a muitos amigos, colegas e mesmo estranhos. Criaria, portanto, um instrumento de propaganda de grande credibilidade. Isto pode traduzir-se em um retorno positivo sobre o investimento. Entretanto, a dificuldade está em manter o encantamento. Se o objetivo é sempre surpreender o cliente para que continue o encanto, o custo adicional que a 29 empresa incorre será crescente. Necessariamente, chegará o tempo em que isto se tornará impraticável! Pense um pouco sobre isto. Será que, ao levar em conta o custo crescente para entregar ao cliente mais do que ele espera receber, você mudou sua opinião sobre "encantar o cliente"? Um artigo de Schneider e Bowen (1999) apresenta uma interessante e elucidativa solução para o problema que se apresenta. Eles questionam a noção de que para encantar o consumidor é preciso entregar a ele mais do que espera. Ao invés da ideia de encantamento do cliente baseada em exceder as expectativas do consumidor, os autores apresentam um modelo em que o consumidor deseja ser tratado com correção, com honestidade. Eles propõem que o encantamento do consumidor é fruto mais do atendimento de necessidades do que da superação de suas expectativas. Schneider e Bowen (1999) partem do fato de que o consumidor tem, antes de mais nada, diferentes papéis. No papel de pessoas, temos necessidades. No papel de consumidores, criamos expectativas sobre o desempenho de um dado produto (bem ou serviço). Enquanto pessoas, buscamos satisfazer nossas necessidades em um nível mais fundamental e importante do que ver atendidas nossas expectativas de consumidor. Feita esta distinção, os autores apresentam um modelo em que uma resposta emocional do consumidor (encantamento, se positiva, ou indignação e até raiva, se negativa) ocorre quando essas necessidades básicas são gratificadas ou violadas. Eles afirmam que: [...] expectativas podem ser satisfeitas; já necessidades são tais que sua contínua gratificação leva a um estado de melhor bem-estar — prazer ou encantamento. Não atender às expectativas pode levar ao desapontamento, enquanto necessidades são tão centrais para um estado íntimo de bem-estar que a falha no seu atendimento pode levar à indignação (p. 37). O modelo propõe que três tipos de necessidades devam ser considerados: • Segurança: a necessidade de se sentir não ameaçado física e economicamente. • Justiça: a necessidade de ser tratado com honestidade e correção. • Autoestima: a necessidade de manter ou melhorar a autoimagem. A violação das duas primeiras necessidades (segurança e justiça) pode levar à indignação do consumidor; respeitá-las pode até levar à satisfação, mas não ao 30 encantamento. Por seu turno, aumentar a autoestima pode levar ao encantamento do cliente. No caso da segurança, o que está em jogo é a busca de estabilidade e equilíbrio, tanto físico como financeiro. A empresa deve, pois, prover estabilidade. Isto significa manter em todas as ocasiões uma promessa relativa a necessidades de segurança, mesmo que implícita. Por exemplo, oferecer um contrato cheio de cláusulas com letra miúda aumenta a insegurança. No caso de uma regra que não estava clara vir a ser utilizada contra o consumidor, este certamente ficará indignado. Já a gratificação da necessidade de justiça do consumidor é alcançada quando o produto compensa pelos investimentos de tempo, esforço e dinheiro que a pessoa faz para obtê-lo. Para tanto, as empresas devem cumprir o que prometem, ser flexíveis no atendimento de pedidos razoáveis (mesmo que não usuais), ajudar o consumidor sempre que preciso, agir amigavelmente, ser honestas e tratar as pessoas com educação, cortesia e respeito. O encantamento do cliente é alcançado quando não se viola a segurança e a justiça, e se consegue melhorar os sentimentos de autoestima de uma pessoa. Quanto mais competentes os consumidores se sentirem, mais encantados ficarão. Consegue-se isto reconhecendo a) o ponto de vista do consumidor, b) sua importância e c) seus direitos. Primeiro, uma empresa que reconhece a perspectiva do consumidor — muitas vezes apenas solicitando sua opinião — fará com que ele não se sinta ou pareça um idiota. Segundo, uma empresa deve tratar o cliente como um indivíduo importante, não como o membro de uma dada classe de consumidores. Ao serem vistos como pessoas únicas com problemas particulares e histórias pessoais, os clientes ficam encantados. Por fim, o consumidor também quer ter seus direitos reconhecidos. Uma maneira de fazer isto é proporcionando que se sinta no controle da situação. Prover um ambiente em que o cliente saiba "navegar" (por exemplo, com boa sinalização), proporcionar informações e dar a oportunidade para escolhas faz com que o cliente se sinta senhor da situação e não se sinta estúpido. Em suma, clientes trocam seu dinheiro, tempo, esforço e lealdade pela gratificação de necessidades em uma espécie de contrato psicológico, em que ficam encantados se não tiverem sua segurança e justiça violadas e sentirem sua autoestima aumentada. É interessante como, em marketing, se vai e se volta; o que importa sempre é o atendimento das necessidades. 31 A organização de marketing Se o marketing quer oferecer valor satisfazendo às necessidades e desejos do consumidor, como deve se organizar? Existe um mercado de consumidores potenciais com necessidades e desejos a serem satisfeitos. Essas necessidades e desejos se apresentam à organização sob a forma de informações. A função de marketing de uma empresa principia pela tarefa de descobrir as necessidades e desejos, acessando as informações. Uma vez conhecidas essas necessidades, devem ser desenvolvidos conceitos de produtos — sob a forma de bens ou serviços, ou de alguma combinação deles. A função de marketing continua, criando a melhor combinação ao alcance dos quatro Ps, de maneira a satisfazer as necessidades e desejos dos consumidores. Isto se materializa na forma de bens e serviços que são, então, levados ao mercado. À medida que a empresa passa de uma orientação voltada para vendas para uma organização voltada para marketing, a estrutura organizacional tende a evoluir. Observe que à medida que muda a orientação de vendas para marketing, a área de vendas passa a ser vista como uma ferramenta de marketing. No organograma tradicional, mesmo quando se passa a uma orientação para marketing, ainda é possível ver o marketing como uma entre as áreas da empresa. Estas são vistas como áreas isoladas, em que cada área tem tarefas específicas, incluindo marketing. Nessa visão tradicional, o marketing é visto como a área da empresa responsável por todo o trabalho de marketing, desde o reconhecimento das necessidades e desenvolvimento de novos mercados até a conceptualização de novos produtos para atender às necessidades existentes no mercado. Entretanto, conforme vimos, ao discutir a evolução do conceito até chegar ao marketing, o meio utilizado por este para prover a satisfazer a necessidade do consumidor é o marketing integrado. O organograma tradicional não representa o marketing integrado em ação. Uma ilustração interessante foi feita por Max Gehringer (2003). Ele mostra que o jardineiro de uma empresa, ao aparar a grama, está contribuindo com a satisfação do consumidor. Isto acontece porque, ao contribuir para um melhor visual do jardim, ele esteja dando um motivo ao consumidor para aumentar sua confiança na empresa e, assim, atribuir um valor maior a seus produtos. Afinal, o consumidor quer confiar que as promessas embutidas no produto serão cumpridas! 32 Marketing integrado O marketing integrado implica em colocar o consumidor no centro das preocupações de toda a empresa. Muitas vezes funcionários que ficam mais distantes dos consumidores pensam que as pessoas que têm contato com os clientes procuram protegê-los. Ao fazer isto, não estariam resguardando os interesses da empresa. Em outras ocasiões, funcionários estão diligentemente realizando seu trabalho quando aparece um cliente solicitando algo. Eles se veem "forçados a parar" o que estão fazendo. Podem chegar a pensar algo do tipo "maldito cliente, veio atrapalhar o que eu estava fazendo para resolver um problema que é só dele". Imagine o exemplo (hipotético, mas não implausível) de uma empresa bancária. O setor de informática preocupa-se em gerar a máxima segurança nas operações pela internet. Para fazer isto, acaba exigindo que o cliente tenha que decorar um grande número de senhas. As senhas são impostas ao cliente (ele tem que "decorá-las"). Por medida de segurança, uma delas deve ser obtida na agência. A outra vem pelo correio. Uma terceira é uma senha variável. Além disso, o usuário é obrigado a registrar seu computador (há um número máximo permitido de computadores). Para tanto, necessita de uma ligação telefônica para um número de telefone que cobra a ligação. O atendimento demora em média dez minutos e é feito através de uma máquina que exige que se passe por diversos menus, em diversos dos quais as mesmas senhas têm que ser digitadas. Ao final, uma voz gravada informa que a autorização para iniciar a operação demorará 48 horas, "por motivos de segurança". Após esperar esse tempo, o cliente descobre que a operação só poderá ser realizada pela internet após a conta ter sido cadastrada..: na agência física! O sistema talvez receba "medalha de ouro", por ser virtualmente inexpugnável. Mas será que atendeu o cliente? E pensar que tudo foi feito para "proteger e facilitar a vida do cliente"! Em outro exemplo (este real), há alguns anos a área de engenharia de uma empresa de serviços de telefonia apresentou uma proposta interessante. A empresa poderia ser pioneira no mercado nacional, sendo a primeira a utilizar um sofisticado serviço de reconhecimento de fala no atendimento a seus clientes. O projeto demandava milhões de dólares (dezenas de dólares. por terminal por cliente, à época). Para viabilizálo, consideraram-se até mesmo as economias com a contratação de atendentes. O argumento de pioneirismo tecnológico prevaleceu e foi realizado o tremendo esforço, implantando um software que menos de uma década antes era ficção científica. 33 Implantado o sistema, verificou-se que a empresa atingira o ápice em tecnologia e, para aproveitá-la ao máximo, dezenas de funções passaram a ser feitas através do reconhecimento de fala. O que ocorreu? A grande maioria das ligações passava por diversos menus, apenas para requerer, ao fim, o atendimento por uma telefonista! O descontentamento do consumidor ficou evidente, gerando irritação nos clientes, bem como um elevado número de ligações interrompidas. Além disso, muitos clientes passaram a recorrer a expedientes como encontrar "atalhos" no atendimento. Por exemplo, o cliente dizia "informações" e, a seguir, "outras informações" apenas para ser atendido por uma pessoa o mais breve possível! A implantação da fantástica ferramenta de reconhecimento de fala mostrou a elevada estatura tecnológica e o arrojo empreendedor da alta administração da empresa. Entretanto, por não se basear na compreensão do cliente e suas necessidades, resultou em um serviço ruim para este. O que esses dois exemplos — em empresas modernas de grande porte — mostram é que a tarefa de gerar valor para o consumidor depende de um foco no cliente. Kotler (2000) diz que: Alguns departamentos da empresa (freqüentemente produção, finanças e P&D) acreditam que um departamento de marketing fortalecido ameaça seu poder na organização. Inicialmente, o marketing é visto como uma das várias funções igualmente importantes em um relacionamento competitivo. A falta de demanda leva profissionais de marketing a argumentar que sua função é mais importante. Alguns entusiastas vão mais longe e argumentam que sua função é a mais importante da empresa, já que sem, clientes não haveria empresa. Profissionais de marketing esclarecidos resolvem a questão colocando o cliente, e não o marketing, no centro da empresa. Eles argumentam em prol de uma orientação para o cliente na qual todas as funções trabalhem em conjunto para responder, satisfazer e atender ao cliente. Mas alguns profissionais dizem que o marketing ainda precisa ter uma posição central para que as necessidades dos clientes sejam corretamente interpretadas e eficientemente satisfeitas (p.46) Algumas empresas, como a companhia aérea TAM à época em que era dirigida por seu fundador, o lendário Comandante Rolim, estabelecem que sua política é simples, constituída apenas de duas regras: - Primeira Regra: O cliente sempre tem razão. - Segunda Regra: Se o cliente alguma vez estiver errado, releia a primeira regra. No entanto, se desejamos evitar que essas regras se transformem em letra-morta, alguns cuidados especiais devem ser tomados para garantir que todas as pessoas da empresa coloquem o cliente no centro de seu trabalho. A companhia Xerox, por exemplo, 34 chega ao ponto de incluir em cada descrição de cargo uma observação sobre como ele afeta o cliente. Uma postura mais geral inclui ter seu pessoal orientado para o cliente, treinamento efetivo, empregados com autoridade para tomar decisões e resolver problemas e trabalho em equipe: - Pessoal orientado para o cliente. Muitos contatos do cliente com a empresa se dão através de um empregado. Aos olhos do cliente, o empregado é a empresa. Assim, todos os empregados devem ter suas atitudes e ações centradas no cliente. Por exemplo, as Casas Bahia têm uma atenção particular com seus motoristas de entrega, pois eles têm um importante contato com o cliente em sua própria casa. Eles não apenas são treinados para atender às reivindicações do cliente ao entregar os produtos, como têm uma importante função na avaliação da concessão de crédito ao cliente. - Treinamento. Os empregados que tornam felizes seus clientes geram lucros adicionais para sua empresa e tornam-se mais contentes com seu trabalho. O treinamento mostra como atingir esse objetivo. Ao mesmo tempo, evita que funcionários voluntariosos cometam erros no tratamento aos clientes, no afã de serem simpáticos. Por exemplo, um atendente de caixa pode cumprimentar de forma exageradamente calorosa um cliente com quem não tem intimidade. As Drogarias Plus, de Goiânia, chegam ao requinte de estabelecer um rigoroso roteiro de atendimento aos clientes por seus operadores de caixa (aliás, chamados de "atendentes" e não de "operadores de caixa"). Tudo é rigorosamente treinado: os cumprimentos, o modo de registrar os produtos, a maneira de informar ao cliente "o valor de seus produtos" e até a forma de devolver o troco (sempre até os centavos são devolvidos — o cliente tem a opção de depositá-los em um cofrinho para uma instituição de caridade local). - Empowerment. Empresa orientadas para marketing devem dar autoridade para seus funcionários resolverem os problemas do cliente no momento do atendimento. Essa delegação de autoridade chama-se empowerment. Através dele os empregados desenvolvem atitudes de proprietário. Assumem riscos e são responsáveis por seu próprio desempenho com o intuito de ajudar o negócio. A cadeia norte-americana de varejo de confecções Nordstrom dá a cada vendedor uma autonomia de 150 dólares para resolver qualquer demanda do cliente. A empresa divulga com orgulho o caso de um vendedor em uma loja de São Francisco que, ao atender um cliente. que desejava comprar duas camisas sociais, notou que não dispunha do tamanho desejado. Teria 35 então perguntado onde poderia mandar entregar as camisas. O cliente disse que não poderia esperar, pois estava partindo em viagem para Nova Iorque, onde teria um encontro de negócios em determinado hotel. Por obra do vendedor, ao chegar ao seu hotel em Nova Iorque, o cliente recebeu as camisas que desejava, enviadas diretamente por outra loja mais próxima. - Trabalho em equipe. O trabalho em equipe leva a esforços colaborativos para se atingir determinados objetivos. Quando a cooperação substitui a competição, através do trabalho designado para ser feito em equipe, são alcançados melhor desempenho dos empregados, maior valor e mais satisfação ao cliente. Pense, por exemplo, na maior eficácia do serviço de um fabricante quando as áreas de vendas e de produção trabalham em equipe para entregar maior valor e satisfação ao cliente. Quando isto acontece, é maior a probabilidade de que o cliente receba pontualmente seu pedido, não é mesmo? A tarefa-chave da empresa é, portanto, atrair e manter, clientes... e, clientes são atraídos por ofertas competitivamente superiores e retidos pela satisfação. A tarefa do marketing é desenvolver uma oferta superior e fornecer satisfação ao cliente e a satisfação do cliente é afetada pelo desempenho dos demais departamentos. O marketing precisa influenciar os outros departamentos a cooperar no fornecimento de satisfação ao cliente. 36 Textos extraídos e adaptados do Livro: Marketing institucional Autora: Lurdes Marlene Seide Froemming. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2008 UNIDADE III - Marketing Institucional Agora que você já conhece o conceito de Marketing, vamos aprofundar o conhecimento sobre o Marketing Institucional e a importância da missão para reforço da construção da identidade institucional que é o escopo principal do Marketing Institucional. O que é Marketing Institucional? O Marketing Institucional é definido como aquele que não tem como objetivo imediato a venda dos produtos da organização. Seu escopo é reforçar a imagem, auxiliando o posicionamento institucional. Visa a estimular atitudes e comportamentos favoráveis nos diversos segmentos de público, conseguindo seu apoio e parceria. • Imagem e Posicionamento Lembrando seu significado, temos que posicionamento é a imagem que queremos ter na mente de nossos públicos, portanto, adiante veremos como aplicar esses conceitos ao Marketing da Instituição. • Atitudes e Comportamento Favoráveis Se queremos que nossos públicos tenham atitudes e comportamento favoráveis deveremos seduzi-los para tal, mostrando-nos (posicionando-nos), portanto, como organização que merece tal disposição. Aqui cabem as ações de Marketing Social, Societal, em suma, a organização socialmente responsável, inserida em sua comunidade, o que lhe oportunizará uma interação cidadã no seu ambiente. Kotler e Armstrong podem nos auxiliar no entendimento e ampliando a denominação de Marketing Institucional para a de Marketing das Organizações. Deixemos os autores transmitirem sua abordagem: Muitas vezes, as organizações realizam atividades destinadas a “vender” a própria organização. O marketing organizacional também chamado marketing institucional, consiste em atividades empreendidas para criar, manter ou modificar as atitudes e comportamentos do público alvo com relação a uma organização. Tanto as organizações com fins lucrativos quanto as sem fins lucrativos 37 praticam o marketing organizacional. As empresas patrocinam relações públicas ou campanhas de propaganda corporativa para “polir” suas imagens. As organizações sem fins lucrativos, como igrejas, universidades, instituições de caridade, museus e grupos artísticos, fazem o marketing de si mesmas com o objetivo de levantar fundos e atrair membros ou patronos. O marketing organizacional exige o conhecimento da imagem atual da organização e o desenvolvimento de um plano de marketing para aprimorá-la (1999, p. 461). Assim, podemos chegar a uma primeira conclusão de como o Marketing Institucional se vale da utilização de outros conceitos para sua efetivação. Essencialmente vamos lembrar modalidades que auxiliam no processo: imagem, marca, comunicação integrada de marketing, relações públicas, gerenciamento de crises, que comporão nossas próximas Unidades. Desta forma, podemos agregar a ideia de Vaz (1995, p. 59), que destaca como função dos profissionais de Marketing Institucional o monitoramento contínuo da adequação das ações da organização ao seu apelo ideológico, para evitar problemas de imagem que se reflitam nos resultados operacionais e financeiros. Toda organização tem um apelo ideológico básico que é a razão de ser da instituição. Funciona como um guia de empreendimentos e decisões. Por exemplo, a ONG Greenpeace tem como propósito “salvar o planeta”, a Coca-Cola se propõe a estar presente onde alguém “tiver sede”. Pensem na abrangência dessas definições e as estratégias que daí advêm! O aporte de Vaz (1995) nos remete a outro conceito da gestão estratégica das organizações, que é a formulação de sua missão que deveria contemplar essa “razão de ser”. Missão Qualquer planejamento estratégico organizacional inicia com reflexões acerca do que é a missão corporativa. Vamos nos subsidiar em Cobra (1989, p. 16) para revisar o significado de missão: “função ou poder que se confere a alguém para fazer algo, encargo, incumbência, obrigação, compromisso, dever”. Ao transportar o conceito para a organização, Cobra (p. 17) identifica “A missão da corporação, ou missão corporativa, entendida como da incumbência ou compromisso das pessoas dentro da organização na busca da sobrevivência e perpetuação através do desenvolvimento a longo prazo”. A missão deve fornecer aos diversos públicos com os quais a organização se relaciona “uma identidade e um claro direcionamento do crescimento a longo prazo, dentro de certos princípios e calcado em uma filosofia” (Cobra, 1989, p. 17). Essa filosofia se 38 configura em ideias nas quais se depositam fé e convicção, implicando a formulação de crenças norteadoras da definição da missão. Kotler e Armstrong (2000, p. 21) acrescentam que “uma declaração de missão é uma declaração do propósito da organização – o que ela deseja atingir em um ambiente maior. A definição clara da missão age como uma “mão invisível” guiando as pessoas dentro da organização”. Para pensarmos um pouco mais criticamente sobre missão corporativa, acompanhemos Pringle e Thompson (2000, p. 88): Nos últimos dez anos, aproximadamente, a declaração de missão de uma empresa passou a ser moda. Várias empresas de consultoria de todos os tipos e tamanhos ganharam muito dinheiro transformando as mesmas listas de palavras em declarações comuns, padronizadas, pelas quais os executivos de muitas empresas importantes pagaram grandes somas de dinheiro. Bastava tirar o cabeçalho ou o nome no final da página e essas declarações de missão eram praticamente as mesmas, não distinguindo uma empresa de outra. Elas podem parecer importantes ao serem lidas e, de fato, podem deixar os funcionários entusiasmados ao serem divulgadas numa reunião anual, mas no dia-a-dia das operações da maioria das empresas são simplesmente irrelevantes. Pior ainda, por não saírem das mãos dos dirigentes da empresa, essas declarações de missão gravadas em placas de pedra tornam-se um obstáculo ao desenvolvimento real e ao sistema de crença que motiva a empresa. Um dos problemas fundamentais com a maioria das declarações de missão é que elas são gerais, e não específicas. Buscam a segurança, e não assumem riscos. Usam o jargão do Marketing corporativo, e não uma linguagem humana. São abrangentes e impessoais demais, e não exclusivas e motivadoras. Um exemplo usual e que não identifica ninguém: “Soluções para problemas de informática” Não preciso me aprofundar em exemplos, pois vocês trabalham com conceitos em Marketing Estratégico. Hoje atingimos o estágio na evolução do Marketing de marcas em que as empresas precisam de mais do que isso para ir adiante. Funcionários, clientes e todos aqueles que têm interesse na empresa precisam de algo mais profundo e significativo para motivá-los. A missão corporativa deve ser reduzida a um compromisso único, contundente. O problema é que a maioria das empresas simplesmente tem muita coisa a dizer para elas mesmas, para seus funcionários e clientes, além da sua tentação para elaborar grandes textos de missão. (Pringle; Thompson, 2000, p. 88). Os produtos da organização podem ser tangíveis ou se apoiarem em tangíveis, se seu produto for classificado como serviços, porém imagem, posicionamento, crenças, atitudes – conceitos até aqui relacionados a Marketing Institucional – se movem na dimensão intangível. Então, prossigamos. O que mais as organizações agregam a sua missão? Usualmente logo após definirem a missão, as organizações desenvolvem a visão corporativa, que no entendimento de Berkowitz et al (2003, p. 32), constitui-se em: Uma visão clara do futuro da organização, frequentemente com um tema de inspiração. Ao 39 estabelecer a direção geral para a organização, a visão corporativa descreve no que esta se empenha em se transformar – ampliando a organização, mas não além da imaginação. Mesmo que os termos sejam em geral usados de forma alternada, uma visão é algo a ser buscado, enquanto uma missão é algo a ser realizado. Em princípio, essa visão é uma frase curta que possa inspirar funcionários, investidores e clientes. Para sustentar a missão e a visão corporativa é necessário estruturar–se em uma cultura propícia a seu entendimento, adesão e promulgação efetiva. Valemo-nos ainda de Berkowitz et al (2003, p. 35) para esclarecer o que são filosofia e cultura corporativa: Uma organização pode também ter uma filosofia corporativa que estabelece os valores e as “regras de conduta” da administração. Afirmações como “respeito à dignidade de todos os funcionários” ou “ser um bom cidadão na comunidade local” são exemplos de filosofias corporativas. A cultura corporativa refere-se a um sistema de atitudes e comportamentos compartilhados por funcionários de uma organização que a diferencia de outras organizações. Empresas em todo o mundo estão tentando freneticamente mudar suas culturas corporativas em resposta à crescente concorrência global. Um exemplo comumente citado de empresa com visão de longo prazo é a Natura. Silva Neto (2006) nos apresenta o caso Natura: Em nossa opinião, a empresa brasileira Natura é um bom exemplo de visão de longo prazo. A mensagem de natureza que emana de seu nome engloba de forma criativa o forte apelo que esse tema goza junto ao público. Desde seu nome, sua marca, seus produtos e sua postura pública, a empresa consegue transmitir a ideia de que atua com paixão, qualidade e credibilidade. Estes, certamente, são valores que os públicos admiram e os influenciam a enxergar positivamente a empresa e seus produtos. A seguir reproduzimos a mensagem que a empresa disponibiliza na Internet sobre sua visão. A Natura Visão e Razão de Ser: Nossa Razão de Ser e Nossa Visão são os elementos fundamentais que nós acreditamos e que permitiram o contínuo desenvolvimento desta Companhia e de sua reputação em 35 anos no mercado brasileiro. Acreditamos que nossa Razão de Ser e Nossa Visão nos auxiliam a atrair e manter nossa numerosa rede de Consultoras Natura e que são os fundamentos de uma cultura empresarial que produz conceitos mercadológicos e produtos inovadores. Adicionalmente, acreditamos que Nossa Razão de Ser e Nossa Visão aumentam a atratividade de nossos consumidores e será um elemento importante na expansão de nossos negócios em outros mercados. Nossa Razão de Ser: Criar 40 e comercializar produtos e serviços que promovam o BemEstar/Estar Bem. Bem-Estar é a relação harmoniosa, agradável, do indivíduo consigo mesmo, com seu corpo. Estar Bem é a relação empática, bem sucedida, prazerosa, do indivíduo com o outro, com a natureza da qual faz parte, com o todo. Nossa Visão: A Natura, por seu comportamento empresarial, pela qualidade das relações que estabelece e por seus produtos e serviços, será uma marca de expressão mundial, identificada com a comunidade das pessoas que se comprometem com a construção de um mundo melhor por meio da melhor relação consigo mesmas, com o outro, com a natureza da qual faz parte, com o todo. Fonte: NATURA. Bem, finalizando esta Unidade podemos depreender que uma vez conhecendo o significado de Marketing Institucional, relacionando-o ao conceito geral de Marketing, dimensionando a amplitude dos públicos com quem a organização se relaciona, nosso problema seguinte é saber como desenvolver estratégias e ações de Marketing Institucional. Na abordagem estratégica já identificamos que sua definição se dá pela Missão e Visão Corporativas e que se propagam internamente pela cultura corporativa, esta extremamente vinculada ao Endomarketing ou Marketing Interno. A nossa direção agora se encaminha para os fatores integrantes da difusão do Marketing Institucional. 41 UNIDADE IV - Fatores Integrantes da Difusão do Marketing Institucional Nesse campo faremos um percurso nas abordagens de imagem, marca e posicionamento no âmbito do Marketing Institucional. Como todas elas se consubstanciam pela comunicação, dedicaremos esta Unidade, a este tema específico. Imagem Comecemos com um conceito de imagem. Shimp (2002, p. 135) considera que “as imagens, por definição, são a representação de experiências sensoriais na memória de curto prazo ou de trabalho-indivíduo, experiências visuais, auditivas e outras experiências sensoriais”. A memória de curto prazo ou de trabalho é a parte da memória que é ativada no uso do momento. Por exemplo, memorizamos um número de telefone enquanto estamos usando, depois, ou o descartamos – isto é, esquecemos – ou o memorizamos para uso posterior. Então será registrado na memória de longo prazo, que é a parte da memória dedicada ao armazenamento permanente de informações. As imagens mentais desempenham um papel importante em vários aspectos de informações ao público-alvo: compreensão, recordação, recuperação, formação de atitude e escolha (Shimp, 2002, p. 135). Estes conceitos são fundamentais para o Marketing Institucional, pois seu propósito inclui: – a organização ser compreendida em seus propósitos (missão e visão); – que a empresa assuma um espaço na memória do público – ser recordada; – que em momentos de decisão (escolha) a imagem da organização seja recuperada, aflore rapidamente à mente do decisor. Estas etapas colaboram para a formação de uma atitude favorável à organização. Esta atitude deve ser desenvolvida pelo posicionamento que se referendará na marca. Kotler e Armstrong (2000) lembram que o conjunto de crenças que existem acerca de uma determinada marca é o que se chama de imagem de marca. Os autores (1993) apontam ainda para o fato de que o Marketing Institucional exige o conhecimento da imagem atual da organização e o desafio de desenvolvimento de um plano de Marketing para melhorá-lo. Se a organização deseja reforçar, ou mesmo mudar a sua imagem, Kotler e Armstrong (1993, p. 418) recomendam que se comece com uma pesquisa de imagem. Nas palavras dos autores: O primeiro passo para a avaliação da imagem é realizar uma pesquisa sobre a imagem atual da empresa. A maneira como o indivíduo ou grupo vê uma organização é chamada imagem institucional. Diferentes pessoas podem ter diferentes imagens de uma mesma organização. A organização pode ficar satisfeita com sua imagem pública, ou descobrir que tem sérios problemas com esta imagem. 42 A Figura a seguir apresenta um modelo criado para checar a imagem desejada ante a imagem real identificada a partir da visão dos consumidores. O modelo apresenta a simulação do caso de um banco que investiga sua imagem a partir de um conjunto de atributos que julga importantes no seu posicionamento. Notamos que a imagem real está aquém da desejada pelo banco, que deverá montar estratégias e ações para melhoria. PLANEJAMENTO E CONTROLE DA IMAGEM Continuemos utilizando o exemplo de Kotler e Armstrong (1993, p. 418 – 419) que nos ajudará a entender como utilizar as ferramentas do composto da comunicação para que alcance a imagem desejada (pontilhado contínuo na Figura ). Percebemos que o banco gostaria de ser visto como um prestador de serviços mais amigável e pessoal. A empresa agora deve desenvolver um plano de Marketing para alterar sua imagem atual no sentido da imagem desejada. Suponha que o banco deseje primeiro melhorar sua imagem em termos de sua capacidade para proporcionar serviços amigáveis e pessoais. A medida-chave, é claro, é realmente proporcionar serviços mais amigáveis e pessoais. 43 O banco pode empregar e treinar os melhores caixas e outros funcionários que lidam com os clientes. Pode mudar sua decoração para fazer com que suas instalações pareçam mais aconchegantes. Uma vez que tenha certeza de ter melhorado seu desempenho em importantes pontos de medidas de imagem, o banco pode projetar um programa de Marketing para comunicar a nova imagem aos clientes (vejam, não adianta investir na melhoria e correr o risco de que não seja percebida, precisamos anunciar!). Usando relações públicas, o banco pode patrocinar atividades comunitárias, enviar seus executivos para entrevistas com negociantes locais e grupos cívicos, oferecer seminários públicos sobre economia doméstica ou lançar folhetos para a imprensa sobre importantes atividades bancárias. Em sua propaganda, o banco pode se posicionar como “o banco amigável e pessoal de sua vizinhança”. Percebem? Todas essas ações são constituídas por meios que permitem comunicar o reposicionamento. A propaganda de imagem corporativa é uma das principais ferramentas à disposição das empresas para fazerem seu Marketing para os vários públicos. Elas podem adotar a propaganda de imagem corporativa para construir ou manter uma imagem favorável durante muitos anos. Ou podem utilizá-la para combater efeitos que poderiam prejudicar sua imagem. Tais esforços de Marketing Institucional somente podem funcionar se a organização realmente se adequar à imagem projetada. Nenhum volume de propaganda e de relações públicas pode enganar o público por muito tempo se a realidade não se igualar à imagem. Além disso, uma organização deve pesquisar seu público de tempos em tempos para descobrir se suas atividades estão melhorando sua imagem. As imagens não podem ser mudadas da noite para o dia: os fundos para campanhas são geralmente limitados e as imagens públicas tendem a resistir a mudanças. Se a empresa não está fazendo progressos, ou sua oferta de Marketing ou seu programa de Marketing Institucional terão de ser mudados (Kotler; Armstrong, 1993, p. 418-419). Perceba que cada vez mais necessitamos de informações sobre as diversas ferramentas mercadológicas disponíveis para a formação da imagem corporativa. Atualmente, nenhuma empresa direciona seus esforços de Marketing exclusivamente para fins comerciais, porém o Marketing Institucional não está restrito à imagem nem à empresa. Ele envolve também o desenvolvimento de um produto especial, a idéia – da qual resulta a imagem –, e todo o universo variado das organizações, que atendem e 44 influenciam públicos de interesse comum para elas mesmas e para as empresas (Vaz, 1995). Quando a organização tem como seu produto um serviço, que por sua natureza é intangível, a imagem institucional é fator crítico de sucesso. Em serviços, muitas vezes, é a única parte “tangível” para percepção do cliente. A Figura abaixo apresenta os tipos de Marketing a se utilizar para trabalhar com a imagem desejada e a percebida. Podemos notar que o exemplo é ligado à prestação de serviço público e que para cada um dos três públicos apresentados, utilizará uma abordagem específica de Marketing. Com seu público interno fará uso do Endomarketing, que é suporte para o Marketing Interativo que se dará com os usuários dos serviços, na figura denominados cidadãos. Por sua vez, toda a gama de interações com a comunidade está representada pela denominação de Marketing Externo. Finalizando, para reforçar o que vimos até agora, o quadro traz os principais pressupostos da boa gestão de Imagem. 45 As assertivas do quadro nos encaminham para a próxima seção, em que entenderemos que a imagem é aquilo que se posicionará na mente dos públicos e consequentemente fará uma marca – a MARCA (desculpem o trocadilho, mas é isso mesmo!) Posicionamento e Estratégia de Marcas O conceito de posicionamento ganha força no âmbito do Marketing a partir do livro clássico de Al Ries e Jack Trout Posicionamento – como a mídia faz sua cabeça. Estes autores afirmam que “o posicionamento começa com o produto; uma peça de merchandising, um serviço, uma empresa, uma instituição, ou mesmo uma pessoa. Talvez você mesmo” (1989, p. 2). Os autores, então, nos permitem ampliar a abrangência do termo. Podemos nos posicionar no mercado (Marketing Pessoal) como fazem os artistas e políticos, na dimensão do Marketing de Celebridades, a área do Marketing. Imagem é um filtro que influencia a percepção das operações da empresa Imagem é uma função das expectativas dos vários públicos. Importante compreender que a imagem é aquilo que existe na realidade, a imagem não é o que se comunica, se a imagem comunicada não corresponde à realidade algo está errado. È a percepção dos destinatários da imagem projetada (públicos) que definirá a imagem real ou percebida. O nosso objetivo está centrado no Marketing Institucional (em que também podemos agregar a dimensão do corporativo, às vezes utilizado como sinônimo), portanto vamos destacá-lo. Ries e Trout (1989) afirmam que o posicionamento não é o que nós definimos como posicionamento, ou seja, não é o que fazemos com o produto ou a 46 empresa, mas o que fazemos com a cabeça do cliente, consumidor ou público-alvo. Em suma, posicionamento é como somos “percebidos”, “registrados” na mente dos nossos públicos. Então, as ações, imagens que emitimos, são consubstanciadas na mente do nosso consumidor do modo como eles nos percebem! Convenhamos que não é algo simples! O conceito de posicionamento significa que, para os clientes reconhecerem o valor e guardarem boa lembrança de um determinado produto é necessário que fique muito claro o que este produto representa. Em uma sociedade inundada por informação, a única possibilidade de uma marca ser lembrada e reconhecida é ocupando a mente dos consumidores com uma mensagem muito clara e bem forte. Um produto bem posicionado representa uma categoria específica, com foco, ganhando espaço e reconhecimento justamente pela força da mensagem. Não nos cabe aqui aprofundar noções de marca, pois vocês estudam marca ao estudarem produto, mas apenas para ter um enunciado presente. Utilizaremos a noção mais tradicional que emana da American Marketing Association (AMA). Marca é “um nome, termo, sinal, símbolo ou design, ou uma combinação de tudo isso, destinado a identificar os produtos ou serviços de uma fornecedor ou grupo de fornecedores para diferenciá-los de outros concorrentes” (Kotler; Keller, 2006, p. 269). É sabido que o valor da marca depende do conceito que ela representa no mercado. Assim sendo, para as empresas as marcas representam uma propriedade legal incrivelmente valiosa que pode influenciar o comportamento do consumidor, ser comprada e vendida e, ainda, oferecer a segurança de receitas futuras e estáveis para seu proprietário (Kotler; Keller, 2006, p. 269). Desta forma, podemos inferir que o Marketing Institucional tem como tarefa primordial zelar pela imagem e posicionamento da marca da instituição/organização. Várias são as formas de agregar valor a uma marca e se diz popularmente que “quem não é visto não é lembrado”. Assim, a visão estratégica para a criação de ações que podem valorizar uma marca, desde a determinação de formas de divulgação até a integração da comunicação empresarial de modo a maximizar o aproveitamento da verba utilizada em cada ação, deve ser o foco de ações do Marketing Institucional. Agora, trataremos de como fazer chegar aos públicos visados as informações vitais. Este é o tema de nossa próxima Unidade. 47 Comunicação Institucional ou Corporativa Os públicos que acompanham com interesse a vida das empresas são “os consumidores, distribuidores, empregados, fornecedores, concorrentes, investidores, acionistas, governo, organizações não–governamentais, comunidades e, em especial, a mídia,” utilizando-nos dos públicos enunciados por Silva Neto (2006, p. 240). O mesmo autor vai nos subsidiar com os parágrafos seguintes em que discorre sobre comunicação corporativa e, pode ser usada como sinônimo de institucional e, neste caso, é perfeitamente compatível. Assim, repasso-lhes seu texto. A comunicação corporativa é o meio que a empresa usa para se comunicar com seus públicos e que consiste em diversos elementos, como marcas, produtos e serviços, divulgações pela mídia, anúncios de propaganda, patrocínios, eventos, relatórios, balanços financeiros, página na Internet, entre outros. Ela tem a função de acompanhar as tendências sociais, políticas, econômicas e culturais, de modo que as empresas possam criar imagens e projetar suas mensagens. Cabe a ela aproveitar as oportunidades ou criar situações adequadas para que as empresas possam se comunicar de maneira eficaz, entender e capitalizar o interesse dos públicos e escolher a melhor combinação possível de canais de comunicação. No ambiente interno das empresas a comunicação corporativa tem como finalidade gerar uma atmosfera de confiança, capaz de motivar as pessoas na realização de suas funções. “A comunicação corporativa é um instrumento importante para as empresas se defenderem de ataques de grupos contrários ou para evitar ou minimizar as consequências futuras de problemas reais detectados em suas atividades operacionais” (Silva Neto, 2006, p. 40). O autor menciona Jack Welch, considerado um dos maiores comunicadores corporativos da atualidade e que presidiu a General Electric (GE) de 1980 a 2001, que aponta a existência de uma forte associação entre a comunicação corporativa e o planejamento estratégico (lembram quando mencionamos a importância da missão e visão institucional?), a ponto de a comunicação ser um valor essencial para transformar uma empresa e sustentar sua vitalidade. Welch considera que as empresas devem ter como preocupação contínua as suas práticas empresariais, analisando o impacto de suas decisões junto aos diferentes públicos, avaliando os sucessos e as falhas e discutindo novas ideias dentro e fora da empresa. (Silva Neto, 2006, p. 240-241). Para que a comunicação emanada por todo o complexo organizacional não se disperse e atinja seus alvos de forma sinérgica, atualmente tem criado significado a proposta denominada Comunicação Integrada de Marketing (CIM). Sob esse conceito a organização integra e coordena cuidadosamente seus vários canais de comunicação – 48 anúncios de mídia de massa, venda pessoal, promoção de vendas, relações públicas, marketing direto e todos os outros, a fim de enviar uma mensagem clara, coerente e poderosa sobre a organização e seus produtos (Shimp, 2002, p. 40). CIM é o realinhamento das comunicações a fim de observá-las do mesmo modo que os públicos as veem – como um fluxo de informações provenientes de fontes indistinguíveis. Se nosso objetivo é posicionar nossa organização na mente dos públicos de modo favorável nossas mensagens devem estar relacionadas umas com as outras; não podem entrar em conflito com mensagens já armazenadas anteriormente na mente dos públicos com os quais a instituição interage. Schultz, Tannenbaum e Lauterborn (1994, p. 28-29) fazem interessante alerta: À medida que o mundo se torna mais complexo e que as pessoas gastam mais tempo selecionando informações para ajudá-las na importante tarefa de viver, há menos tempo e espaço para informações, dados ou conceitos sobre o produto ou o serviço do anunciante. Assim sendo, o anunciante deve fornecer motivos para a pessoa processar sua informação. Por isso, a empresa deve comunicar a sua personalidade (ditada pela missão, visão, lembram?) e não pode afastar-se dela quando comunicar sobre si mesma. Kapferer (2003, p. 385) alerta que “a comunicação dita de empresa tem por objetivo tornála mais transparente. Ela revela o físico da empresa, seus recursos humanos, tecnológicos e financeiros. Ela esclarece suas ambições enquanto agente econômico”. Cabe acrescentar que organizações que são agentes sociais terão esse escopo na sua missão e como tal agente é que se posicionará. A comunicação dita “institucional” enuncia os valores da empresa: ela é o porta-voz da alma e da vocação da empresa. Não é por acaso que essa forma de comunicação cresce. O público exige das grandes empresas que elas legitimem sua atividade. A eficiência econômica e financeira não é suficiente, as empresas devem demonstrar sua justificativa social. Quanto mais importante é uma empresa – seja em nível mundial, para as multinacionais, seja local, para uma PME (Pequena e Média Empresa) – mais ela deve se preocupar com sua faceta “institucional”, com sua inserção na sociedade, com seu valor cívico e moral no sentido mais amplo. A comunicação institucional assinala a contribuição da empresa para a coletividade: esse último termo é crucial. Não se trata mais de se dirigir ao financista, ao assalariado, ao consumidor, ao fornecedor, mas ao cidadão em cada um deles. O conteúdo da comunicação institucional é moral, político ou filosófico (Kapferer, 2003, p. 385). Agora que temos claro o que significa a comunicação institucional ou 49 corporativa, abordaremos quais são os seus objetivos e como ela se manifesta nos componentes da mídia. Objetivos da Comunicação Institucional e sua Manifestação nos Componentes da Mídia Neste tópico apresentaremos as variadas modalidades que a comunicação institucional (ou corporativa) pode assumir e, de cada uma, enumera-se os objetivos e ações principais. Cabe lembrar que aqui estamos avaliando o composto promocional na sua utilização específica para Marketing Institucional. Começamos com a propaganda, e para esta discussão utilizarei o texto de Silva Neto (2006), que considero muito apropriado e manterei a sua denominação “Propaganda Corporativa”, para que você desenvolva a agilidade de incorporar as duas denominações – Institucional/Corporativa – que se apresentam na literatura. Esse tipo de propaganda pode ser manifestado por meio da propaganda corporativa, de assessoria de imprensa, de relações públicas, do clima organizacional, de atividades de comunicação institucional, ou ainda, apoio, alianças e parcerias. Conheça mais sobre cada uma delas. a) Propaganda corporativa A propaganda corporativa é o uso da comunicação paga com vistas a garantir a divulgação adequada de fatos de interesse de uma empresa nos meios de comunicação e beneficiar assim sua reputação. Isso ocorre, principalmente, quando, por razões diversas, a mídia espontânea não divulga de forma suficiente os assuntos da empresa. Considere, por exemplo, a necessidade vital de uma empresa em obter espaço na mídia para esclarecer o público sobre a sua versão dos fatos sobre uma grave crise e informar as providências que está tomando para resolver o problema. A única forma de garantir o acesso aos veículos mais indicados e de maior audiência, com o espaço e impacto convenientes, é por meio da comunicação paga. Isso, obviamente, não significa que a mídia espontânea não deva ser utilizada no processo de comunicação, por meio de entrevistas e releases (são textos informativos da empresa enviados aos órgãos de comunicação, exemplo: jornais), porém convém lembrar que a empresa não tem controle sobre a mídia, ainda que conte com um excelente trabalho de assessoria de imprensa. A propaganda corporativa pode realizar as seguintes funções: Criar ou rejuvenescer a imagem da organização: são usados anúncios corporativos para divulgar 50 as alterações no nome da empresa, organização ou instituição (escolhemos sempre a denominação mais apropriada ao nosso caso específico), informar o público sobre novos objetivos, anunciar fusões e criação de novas empresas, divulgar estratégias de crescimento e outras informações de interesse da empresa. Divulgar o ponto de vista da organização: são usados anúncios de esclarecimento na tentativa de dar a versão da empresa a situações em que há percepções negativas, crises, controvérsias públicas e que envolvem ameaças de consumidores, governos ou comunidades. Dependendo de cada caso, os anúncios podem ser assinados pela empresa ou por uma entidade setorial ou, ainda, por terceiros com reconhecida credibilidade pública. Nessa mesma linha, também são vinculados artigos ou informes publicitários nos quais a instituição, diretamente ou por meio de terceiros, defende seu ponto de vista. Divulgar ações de responsabilidade social da organização: são empregados anúncios institucionais criativos para divulgar que a empresa patrocina boas causas em benefício da sociedade, sobre ecologia, saúde, cultura, educação, entre outros. O objetivo desses anúncios é assegurar que essas ações tenham boa divulgação e proporcionem a imagem de organização cidadã corporativa responsável. As empresas que trabalham com produtos que podem gerar controvérsia pública, como cigarros, biotecnologia, petróleo, bebidas e produtos farmacêuticos, utilizam-se com frequência desse tipo de anúncio. Fortalecer a imagem financeira da organização: são usados anúncios financeiros para produzir boa imagem da empresa junto ao mercado de capitais, representado principalmente por investidores, analistas e outros profissionais da área. As empresas se utilizam de anúncios pagos para transmitir informações sobre seu desempenho, vantagens competitivas e perspectivas de resultados futuros e esperam com isso valorizar suas ações em bolsas de valores e facilitar a capacitação de recursos no mercado de capitais (Silva Neto, 2006, p. 244-245). Percebam que os termos empresa, organização, instituição para não ficarmos tentados a pensar que o enunciado serve só para um tipo de organização! b) Assessoria de imprensa Constitui-se em uma importante ferramenta para o Marketing Institucional – sua tarefa é divulgar as atividades e opiniões da organização para a imprensa, facilitando o fluxo de informações entre a empresa ou instituição e seus públicos. À assessoria de imprensa cabe recolher informações, organizar, elaborar textos para os veículos de 51 comunicação. Entre suas atividades destaca-se ainda a convocação de entrevistas coletivas, acompanhamento de representantes da organização a programas de rádio, televisão, jornais. A preocupação do setor é propiciar que se fale bem da empresa, a publicidade existe para isso. E, quando a imprensa e os formadores de opinião desempenham esse papel de difusores é muito importante, pois são as pessoas e instituições alheias que estão emitindo uma opinião sobre a empresa. Assim, a credibilidade da empresa é respaldada e fortalecida também pela mídia. c) Relações Públicas Em alguns momentos pode-se sobrepor as atividades das relações públicas com as da assessoria de imprensa. Nas organizações em que as atividades são separadas é essencial que trabalhem integradas. Usualmente se concebe que a prática de relações públicas envolve planejar, implantar e instituir o processo total de comunicação institucional da organização como recurso estratégico de sua interação com os diferentes públicos. Cabe-lhe ordenar todos os relacionamentos com esses públicos, buscando gerar conceito favorável sobre a organização, capaz de despertar no público credibilidade, boa vontade para com a organização, suas atividades e seus produtos. O serviço de relações públicas concentra-se na identidade da organização e na sua filosofia, tendo por alvo a imagem projetada na opinião pública. d) Clima Organizacional O ambiente interno é o primeiro espelho a refletir a imagem das organizações. Se apresentar problemas, a imagem projetada gerará distorções. O Endomarketing é a atividade ligada à gestão de pessoas apropriada para atuar no planejamento de Marketing interno, com vistas a seu reflexo nos públicos organizacionais. A comunicação interna, sob suas diferentes formas – comunicação gerencial, administrativa, jornais internos, intranet – também deve estar integrada ao CIM, fortalecendo os sustentáculos da imagem institucional. É importante atentarmos para a abordagem de Silva Neto (2006, p. 240241): A experiência recomenda que a comunicação corporativa não seja uma atividade isolada. Deve contar com profissionais com formação em Administração de Empresas e não somente em Jornalismo ou Comunicação, e se reportar ao presidente ou diretor executivo para ter credibilidade, atenção e suficiente importância dentro e fora da 52 empresa. Seus representantes precisam estar envolvidos nos processos de planejamento estratégico e de tomada de decisões, de modo a somar forças e conhecimento para construir e manter a reputação da empresa. e) Apoio, Alianças, Parcerias Para conquistar, garantir ou melhorar seu espaço no mercado e na sociedade, as organizações podem desenvolver uma série de atividades. O Marketing Institucional, portanto, muitas vezes estará ligado a outras instituições para valorizar sua imagem. Normalmente o apelo ideológico de parceria deve ser compartilhado pelas organizações parceiras. No momento em que empresas ligam seu nome a eventos e realizações de interesse comunitário, estará usufruindo da imagem positiva da causa apoiada. Além disso, as empresas estão cada vez mais imbuídas das práticas de responsabilidade social, em que exercitam o compromisso que a sociedade lhes cobra. A empresa socialmente responsável, portanto, assume postura proativa e participa na busca de soluções para problemas sociais. Assim, cada vez mais as empresas buscam relacionamentos com outras instituições, principalmente aquelas ligadas à cultura, esporte, ações sociais, instituições de caridade, para que ambas obtenham benefícios. De um modo geral esse relacionamento acontece na forma de patrocínio. No que patrocínio se diferencia de filantropia? Patrocínio é uma relação jurídica em que uma parte cede benefícios à outra em troca de uma contrapartida. É um acordo profissional em que patrocinador e patrocinado buscam objetivos claros e definidos. Filantropia, por sua vez, está mais ligada a investimento social, que segundo Ashley (2002, p. 58) é uma evolução de meramente fazer donativos de caridade. Na ótica da responsabilidade social, as empresas éticas e comprometidas com a sociedade agem em favor de comunidades necessitadas, não esperando retorno direto e ajustado, como nos casos de patrocínio. Podemos então considerar que o Marketing Institucional pode estar proximamente relacionado a outras nomenclaturas de Marketing, já bastante disseminadas. 53 Relações de Marketing Institucional com outras Denominações do Marketing A seguir apresentaremos outras denominações do Marketing que estão estreitamente ligadas ao Marketing Institucional. MARKETING CULTURAL Na dimensão de suporte ao Marketing Institucional, considera-se como sendo toda ação de marketing que usa expressões culturais como veículo de comunicação para difundir o nome, o produto ou fixar imagem de uma organização patrocinadora. Como exemplo, podemos considerar o patrocínio de um show em que a empresa pode associar sua marca à música, como encaminhar outras ações integradas: oferecer amostras do produto (promoção), distribuir ingressos aos funcionários (endomarketing), informar aos clientes sobre o show que a empresa promove e várias outras ações possíveis e que a imaginação propicie integrar. MARKETING ESPORTIVO Também a associação da instituição propicia ao esporte força à marca. O Marketing Esportivo promove ações voltadas à divulgação e associação com entidades esportivas. Araújo (2002) relaciona como objetivos do Marketing Esportivo: aumentar o reconhecimento público, reforçar a imagem corporativa, estabelecer relações com segmentos específicos do mercado, envolver a organização (empresa) com a comunidade e também conferir credibilidade associando-se à qualidade e emoção do evento ou esporte patrocinado. O Marketing Esportivo pode envolver várias atividades como patrocínios, criação e exploração de eventos, licenciamento de produtos, fabricação e venda de material esportivo. Modernamente surge mais uma denominação ligada ao Marketing Esportivo, ou seja, naming rights, que consiste na prática de dar nome a uma instalação ou espaço físico, usufruindo benefícios como reforço de mídia, imagem, merchandising, e o clube recebe valores que auxiliam em sua gestão financeira. MARKETING ECOLÓGICO Quando o ambiente natural assume proporções de preocupação global e ocupa uma dimensão de condicionamento mercadológico. As organizações passam a se aliar a programas e causas voltadas à preservação e recuperação ambiental, como plantar uma muda de árvore a cada produto adquirido, por exemplo. 54 MARKETING SOCIAL O estudo de Marketing Social é um aspecto relativamente recente no âmbito do Marketing. Surge quando se passa a considerar Marketing como agente de trocas que transcendem, ultrapassam as esferas meramente econômicas. O Marketing passa a ser considerado como um instrumento social pelo qual um padrão de vida é transmitido à sociedade e, portanto, tem responsabilidade social mais ampla, envolvendo toda a sociedade com seus públicos e trocas e não só as empresas e seus consumidores. Afirma-se que o papel do Marketing deve estar sintonizado mais com a melhoria social que com ganho econômico, com aspirações humanas mais que com necessidades, em suma, constitui-se em estratégias que se voltam a mudanças sociais. Está intimamente ligado ao conceito de responsabilidade social. Responsabilidade social, ética, qualidade de vida, despontam como as grandes cobranças feitas ao Marketing em seu escopo mais amplo (Froemming, 2002b, p. 12) que é aquele foco do Marketing Social no empreendimento de promover melhorias para a sociedade. Esta denominação de Marketing está voltada a campanhas que buscam um esforço organizado, feito por um grupo (agente da mudança) visando a convencer outros grupos (os escolhidos como alvo) a aceitar, modificar ou abandonar ideias, atitudes, práticas e comportamentos. Podemos mencionar inúmeros fatores e causas sociais. Alguns são ligados a questões de saúde: alimentação equilibrada, exames para detecção de doenças precoces, vacinação, dentre outras. Ações podem estar direcionadas a diminuir riscos: direção sem álcool, uso de cinto de segurança, uso de preservativos para sexo seguro, etc. Ações ligadas ao meio ambiente: coleta seletiva de lixo, uso de materiais biodegradáveis, dentre outros. A dimensão destes enfoques especiais de Marketing (Cultural, Esportivo, Ecológico, Social e de Causa Social) são alguns que potencializam a transmissão de uma boa identidade institucional. VOLUNTARIADO EMPRESARIAL Voluntariado é um tema novo nas organizações e vamos abordá-lo sucintamente aqui por também considerá-lo uma forma de as organizações darem vazão a seus princípios ideológicos e como fonte de reforço à imagem organizacional. A prática do voluntariado empresarial chega ao Brasil por meio de filiais de empresas internacionais que trouxeram suas práticas de voluntariado, que despontou nos Estados Unidos na 55 década de 70. As práticas surgiram como resposta às expectativas crescentes de as organizações agirem de forma socialmente responsável. As empresas começam a se dar conta de que esta prática agrega benefícios. Kern Allen, em entrevista, cita como exemplo os benefícios estratégicos das ações de voluntariado para as metas dos negócios. Há um crescimento significativo de empresas privadas brasileiras com trabalhos nas comunidades. Entre 2000 e 2004 a participação pulou de 59% para 69%. São aproximadamente 600 mil empresas que orientam ações de voluntariado. Anna Peliano, coordenadora geral da pesquisa Ação Social das Empresas, realizada pelo Ipea, da qual foram extraídos os dados do parágrafo anterior, destaca as razões que levam ao aumento da prática do voluntariado: É um conjunto de fatores que leva a empresa a atuar cada vez mais na área social. O primeiro deles diz respeito à questão humanitária, isto é, ajudar ao próximo sempre é gratificante. Um outro fator, que diz respeito principalmente às empresas de grande porte, é a competitividade, a questão da imagem. Finalmente, uma grande parte das empresas já percebe que é difícil ter uma “ilha de prosperidade” no meio de uma região carente ou de um país com muita pobreza. Na próxima Unidade trataremos da reputação organizacional e o gerenciamento em situações de risco e de crises, pois são momentos em que todo o arcabouço de posicionamento, imagem e marca, construídos ao longo do tempo, são postos à prova. É o momento mais crucial das atividades de Marketing Institucional Reforço à Reputação Institucional e Gerenciamento de Crises Nesta Unidade vamos entender o que compreende a reputação de uma instituição, como gerenciar crises e o que são comunicações de risco. Reputação Institucional O Marketing Institucional, é possível concluir, desempenha importante papel nas atividades de “polimento de imagens”, na busca de sólida reputação e reconhecimento público para a organização. O sentido mais usual do Marketing Institucional é o que se volta para a obtenção, preservação e melhoria da imagem da organização no mercado e na sociedade como um todo. É utilizado para formar, manter, consolidar ou mudar conceito público de uma organização. Quando é que uma organização precisa mudar seu conceito? Em várias ocasiões, tanto para o reforço de situações favoráveis quanto para contornar ocasiões de crise organizacional advinda da opinião pública ou da própria reputação corporativa, ambas abordadas na sequência. 56 a) Opinião Pública A opinião pública muda continuamente em relação às empresas. “Ela é positiva quando as empresas investem, geram empregos, lançam novos produtos ou patrocinam causas sociais; é negativa quando a mídia divulga notícias a respeito da má qualidade de produtos, sobre falhas e acidentes graves nos processos de fabricação ou referente a comportamentos corporativos irresponsáveis” (Silva Neto, 2006, p. 241). Cada vez mais as empresas têm de lidar com acusações verdadeiras e falsas em um cenário globalizado, competitivo e com muitos canais de comunicação acessíveis para disseminar as informações. “As empresas atacadas por problemas reais ou imaginários não podem se dar ao luxo da omissão. Ou agem rapidamente de forma profissional para minimizar os danos potenciais ou acabam pagando mais caro depois para corrigir as consequências” (Silva Neto, 2006, p. 241). b) Reputação Corporativa Organizações que ofertam bens e serviços precisam se preocupar com sua imagem pública e preservá-la, bem como, e até com mais rigor, as organizações sem fins lucrativos. Exemplificando podemos destacar, entre outros, escolas públicas, hospitais, organizações políticas, organizações públicas e, mais que todas, as organizações filantrópicas devem emanar ética e transparência nas estratégias e ações. Sabemos que: A mídia dedica boa parte de seu trabalho à divulgação de notícias sobre os setores empresariais e, para despertar o interesse da audiência, frequentemente, divulga também informações que podem gerar controvérsias e, às vezes, colocar em risco a imagem ou a reputação das empresas. Acusações legítimas ou falsas precisam ser respondidas à altura e cabe à comunicação corporativa atuar nesses casos, já que ela é a voz pela qual a empresa se comunica com seus públicos (Silva Neto, 2006, p.240). Prossegue o mesmo autor destacando que a boa reputação de uma empresa é resultante da coerência geral das imagens percebidas por seus públicos pela identidade que esta forma por meio do uso de nomes, marcas, logotipos, símbolos, slogans, apresentações públicas e visão, bem como do alinhamento desses valores com os interesses dos diferentes públicos. Percebam a importância dos temas que já tratamos anteriormente: imagens, públicos, identidade, marca, visão e a integração dessas 57 emanações (CIM) que criam o posicionamento das organizações. Silva Neto (2006, p. 241-244) explora de modo apropriado esse desmembramento. Vamos parafraseá-lo: A visão, que inspira valores básicos, como filosofias, padrões e objetivos, que asseguram coerência e continuidade nas mensagens corporativas, pode diferenciar uma organização das demais e aumentar o interesse e a percepção positiva de seus públicos, conferindo-lhe boa reputação. Às vezes, porém, essas percepções podem não fazer jus à realidade da empresa e, quando isso ocorre, cabe à comunicação corporativa ajustá-las para criar uma reputação corporativa sustentável e que se mantenha ao longo do tempo. Além da visão, os nomes, marcas, logotipos, slogans e outras formas de apresentação pública também geram identidade e vantagem competitivas para as empresas, como é o caso da Petrobras, Votorantin, Klabin, Embraer, Alcoa, IBM, Microsoft, McDonald’s, Toyota, BMW, HSBC, entre outras. As marcas, em especial, constituem uma dimensão forte de identidade uma vez que estão presentes nos produtos utilizados no dia-a-dia pelas pessoas. E é por essa razão que o valor de uma marca é dado pelo poder de lembranças que ela exerce junto ao público, a fidelidade que possui junto a seus clientes e pela força de imagem associada a esta. O alinhamento dos valores da instituição com os interesses de seus diferentes públicos requer atenção ao se comunicar para evitar percepções erradas que possam comprometer a sua identidade. Por exemplo, alunos e professores, geralmente, querem ouvir histórias distintas, e não raro conflitantes, das universidades. Por exemplo, alunos querem mensalidades congeladas, professores querem salários reajustados. Em empresas os investidores esperam aumento de lucros e dividendos, que podem significar redução de custos com demissões de pessoal, o que os empregados obviamente não desejam. Ambos os públicos, no entanto, tendem a valorizar as realidades positivas de uma empresa, capazes de gerar bons resultados e garantir seus dividendos e empregos. A comunicação institucional deverá, portanto, identificar essas informações de consenso entre segmentos de públicos da empresa e empregá-las na comunicação dirigida ao público em geral. E quando a crise já se estabeleceu, o que fazer 58 Gerenciamento de Crises Quando uma empresa é atingida por uma crise, seja ela por qual motivo for, é momento de essa organização agir com presteza. Mesmo que uma crise possa provocar um turbilhão, esse é um momento crucial para o gerenciamento, pois toda a história, a tradição, enfim, sua marca, correm grande risco. O que se faz nessas ocasiões? É neste momento que a sociedade espera seriedade das organizações nas quais ela acredita. Os públicos não esperam organizações que nunca cometam erros; eles esperam, quando tal acontecer, serem informados e tratados com respeito, ética e cidadania. CREDIBILIDADE Credibilidade é a palavra chave para a aceitação pública de uma empresa, produto ou tema e as técnicas de comunicação de risco permitem desenvolver mensagens críveis que sejam convincentes, claras, concisas e positivas. Pessoas preocupadas são geralmente desconfiadas e menos receptivas e tendem a aceitar mais facilmente as mensagens nas quais percebam a presença de elementos de confiança e credibilidade. Assim e nessa ordem, elementos como empatia e atenção, honestidade e franqueza têm impacto positivo em pessoas preocupadas. Outra forma de se obter credibilidade é utilizar o apoio de terceiros com reconhecida credibilidade no processo de comunicação. Uma fonte de baixa credibilidade se beneficia da credibilidade de outra fonte de maior credibilidade que concorda com a sua posição sobre um assunto. Da mesma forma, uma fonte de baixa credibilidade perde ao atacar uma fonte que tenha mais credibilidade junto ao público (Silva Neto, 2006, p. 255). PERCEPÇÃO DE RISCO A percepção de risco refere-se aos fatores que afetam a compreensão das pessoas diante do risco, ou seja, preocupação, medo e ansiedade. Pessoas mal informadas sobre um determinado assunto tendem a ficar mais preocupadas e a ter percepções de risco maiores que aquelas que conhecem o assunto. Assim, essas pessoas exaltam a importância dos problemas e se tornam mais refratárias aos esclarecimentos. Como forma de minimizar a percepção de risco, que gera frustrações e resistência de aceitação, Silva Neto (2006) recomenda o uso de mensagens claras e concisas e ouvir com atenção os públicos envolvidos. 59 RUÍDO MENTAL E DOMINÂNCIA NEGATIVA Sabe-se que pessoas preocupadas têm dificuldades para ouvir e processar informações. Ao se sentirem ameaçadas, acionam mecanismos de defesa e reduzem a atenção e o interesse pela comunicação. Numa situação assim, é possível minimizar o bloqueio gerado pelo ruído mental limitando o número de mensagens, repetindo e usando comunicação clara e concisa. Para as pessoas preocupadas e hostis, uma informação negativa gera maior impacto que uma positiva. As pessoas tendem a pensar negativamente e a repetição da afirmação negativa, mesmo quando refutada, acaba reforçando o aspecto negativo. Nessas circunstâncias, recomenda-se o uso de apenas palavras e mensagens positivas. (Silva Neto, 2006, p. 255-256). Já começamos a entender como as pessoas reagem ao risco; agora vejamos recomendações do autor para uma forma mais eficiente de comunicar situações de risco. Comunicação de Risco A comunicação de risco é um conjunto de técnicas desenvolvidas para ajudar as empresas e seus dirigentes a se comunicarem com o público em situações reais ou potenciais de conflito de interesses. É uma abordagem desenvolvida com base em teorias científicas e planejamento para comunicar com eficácia em situações de grande preocupação, baixa credibilidade e controvérsias. MODELOS DE COMUNICAÇÃO DE RISCO Com base nos quatro pontos abordados, credibilidade, percepção de risco, ruído mental e dominância negativa, podemos desenvolver mensagens adequadas para cada situação ou conjunto de situações, que serão empregadas nos modelos de comunicação de risco. Entre os diversos modelos conhecidos destacam-se o Mapa de Mensagens e o Diálogo com Parceiros (Stakeholders), que são muito eficientes para orientar o processo de perguntas e respostas, treinar as pessoas responsáveis pela comunicação nas empresas e imprimir homogeneidade, rapidez e eficiência ao processo de comunicação. O modelo Mapa de Mensagens consiste em elaborar antecipadamente as respostas para um grande número de perguntas previsíveis, com mensagens convincentes, claras, concisas e positivas, que são organizadas e apresentadas por assunto, o que facilita o trabalho dos porta-vozes da empresa. Além de disponibilizar rapidamente as melhores respostas, os mapas reduzem os riscos de respostas incompletas ou erradas, que podem gerar problemas legais ou de imagem. O modelo 60 Diálogo com Parceiros (Stakeholders) foi desenvolvido para ouvir e entender as percepções dos parceiros de negócios de uma empresa, proporcionando um canal de comunicação eficiente para administrar situações de conflito antes que elas se transformem em crises. Consiste em organizar encontros periódicos de representantes da empresa, devidamente treinados, com os parceiros de negócio, como clientes, fornecedores, distribuidores, sindicatos e comunidades, para ouvir e responder suas dúvidas a respeito da empresa e seus assuntos (Silva Neto, 2006, p. 256). A palavra stakeholders, já conhecida de vocês, refere-se aos parceiros e é justamente a maneira pela qual o autor está se referindo a todos aqueles públicos com os quais a organização interage. Bem, e quando o risco redunda em uma crise? Vejamos alguns indicativos para gerenciá-la. O QUE CARACTERIZA UMA CRISE As crises têm algumas características em comum. No princípio surge um assunto que tem o potencial de se tornar crise e que fica restrito ao conhecimento de poucas pessoas ou públicos mais próximos e familiarizados com as atividades da empresa. Se não detectado e resolvido, o assunto passa gradualmente ao conhecimento de outros públicos menos próximos e acaba sendo captado pela mídia que “aperta o gatilho” da crise ao divulgá-lo ao grande público. Com a crise instalada, as autoridades, entidades não-governamentais e políticos se posicionam publicamente e a mídia, pressiona por mais informações e declarações, acirrando o debate e podendo colocar em risco a reputação da empresa. Segue-se, então, um período de busca de soluções e, dependendo da gravidade da crise, ela vai perdendo importância e substância até acabar ou ser esquecida. As empresas, em geral, estão sujeitas aos riscos impostos por suas atividades operacionais e pelos diferentes interesses do público. Algumas têm o risco presente em sua rotina, como as indústrias de energia e de produtos químicos. Todas, porém, precisam ser proativas e estarem preparadas para enfrentar as crises. No caso de acidentes naturais, fora do controle das empresas, a tendência do público é perdoar, porém quando os acidentes ocorrem por erro humano ou negligência, as empresas são mal vistas e sua reputação é gravemente abalada. De modo geral o público tende a lembrar mais das notícias negativas que das positivas e uma grande crise 61 corporativa sempre terá audiência e espaço na mídia (Silva Neto, 2006, p. 257-258). Identificada a crise, procedimentos que já passam a compor o Plano de Contingências da empresa podem auxiliar na minimização de seus efeitos. ADMINISTRANDO A CRISE Muitas empresas erram ao responder às crises com informações insuficientes ou contraditórias, sem coordenação interna ou por utilizarem a mídia espontânea como único veículo de comunicação com seus públicos. Diante da surpresa de uma crise, a tendência é a empresa entrar em pânico na medida em que é incapaz de responder ao forte assédio da mídia. Esse quadro torna evidente a importância de dispor de uma estratégia proativa e não simplesmente reativa para lidar com as crises. A experiência comprova que a empresa precisa manter um monitoramento contínuo de seus problemas e agir logo no começo do ciclo da crise ou na fase que precede a sua eclosão. Deve identificar e tomar as providências necessárias para minimizar os problemas e desenvolver estratégias de comunicação com os públicos afetados. Agindo de forma proativa, mesmo os problemas corporativos com potencial de se tornarem crises graves podem ser entendidos, perdoados ou esquecidos pelo público. Veja a seguir alguns pontos que Silva Neto (2006, p. 258) relaciona para serem considerados em um plano de preparação antecipada para as crises: • determinar as áreas da empresa que poderiam ser mais afetadas por crises; • identificar que públicos seriam mais afetados por crises; • avaliar os riscos para a continuidade das operações da empresa; • coletar, analisar e disponibilizar todo tipo de informações pertinentes; • identificar as pessoas e entidades que poderiam auxiliar a empresa em uma crise; • definir o fluxo de comunicação da empresa com os públicos, inclusive o interno; • escolher os meios de comunicação mais efetivos; • definir e treinar equipes de pessoal para cada tipo de crise; • a comunicação em situações de crise deve ter uma abordagem centralizada; • definir claramente quem lidera o processo e colocar recursos a sua disposição. 62 Vimos que a maneira como o processo é partilhado com os públicos tem reflexo na percepção, portanto merece especial atenção. COMUNICAÇÃO EM SITUAÇÕES DE CRISE Toda crise contém aspectos drásticos que a mídia sabe que causam forte impacto em suas audiências. Os jornais e os noticiários de TV, por exemplo, dedicam grande parte de seu espaço para divulgar crises envolvendo produtos defeituosos, contaminações do meio ambiente, acidentes nos processos de fabricação e de transporte, comportamentos corporativos reprováveis, entre outros. Com o avanço da tecnologia de comunicação, as crises são divulgadas rapidamente pela Internet e pelos noticiários de TV. Esse cenário de globalização e de rapidez fez emergir nas empresas a necessidade de agir de forma proativa e desenvolver maior capacidade de resposta às crises. A ocorrência de uma grave crise em uma subsidiária no Brasil pode influenciar o preço das ações da empresa nos Estados Unidos e vice-versa. O desfecho poderá ser determinado pela maneira como a empresa vai administrar a comunicação (Silva Neto, 2006, p. 257). Embora os planos preparados com antecipação nunca sejam completos porque as crises nem sempre são iguais ou previsíveis, eles são muito úteis para ordenar rapidamente as primeiras ações no caso de ocorrer uma crise na empresa. É nestes momentos que o esforço de Marketing Institucional deve atuar com empenho técnico e estratégico, devidamente articulado e coordenado para atingir os resultados desejados. 63 Referências ARMSTRONG, Gary. Introdução ao Marketing. Rio de Janeiro: PrenticeHall do Brasil, 1993. ASHLEY, Patrícia Almeida (Org.). Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2002. ARAÚJO, A. G. Placar Favorável. Revista Marketing, fev. 2002. BERKOWITZ, Eric N. et al. Marketing. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora, 2003. COBRA, Marcos. Plano estratégico de Marketing. São Paulo: Atlas, 1989. FROEMMING, Lurdes Marlene Seide. Encontros de serviços em uma instituição de Ensino Superior. Ijuí: Ed. Unijuí, 2002a. FROEMMING, Lurdes Marlene Seide. A evolução do conceito de Marketing Social. HARTLEY, Robert F. Erros de Marketing e sucessos. São Paulo: Manole, 2001. KAPFERER, Jean-Noel. As marcas, capital da empresa: criar e desenvolver marcas fortes. Porto Alegre: Bookman, 2003. KOTLER, Philip; KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Princípios de Marketing. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos, 1999. KOTLER, Philip; KOTLER, Philip; FOX, Karen F. Maketing estratégico para instituições educacionais. São Paulo: Atlas, 1994. PINHEIRO, Duda; GULLO, José. Comunicação integrada de Marketing: gestão dos elementos de comunicação: suporte às estratégias de marketing e de negócios da empresa. São Paulo: Atlas, 2005. PRINGLE, Hamish; THOMPSON, Marjorie. Marketing social: marketing para causas sociais e a construção das marcas. São Paulo: Makron Books, 2000. SILVA NETO, Belmiro R. Estratégias de comunicação corporativa (Corporate Affairs). In: DIAS, Sergio Roberto. Marketing estratégia e valor. São Paulo: Saraiva, 2006. VAZ, Gil Nuno. Marketing institucional: o mercado de idéias e imagens. São Paulo: Pioneira, 1995. 64