1 UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP PSICOLOGIA TEORIAS E

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
PSICOLOGIA
TEORIAS E SISTEMAS EM PSICOLOGIA
FICHAMENTO
A DIVERSIDADE DA PSICOLOGIA – UMA CONSTRUÇÃO TEÓRICA
BEHAVIORISMO RADICAL
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 Primórdios e fundamentos
O Comportamentalismo, como linha dentro da Psicologia, tem como objeto principal
o estudo do comportamento
Primórdios – estudava os atos que podiam ser descritos de modo objetivo mediante a
observação
Estudo do comportamento – chamado de Behaviorismo – três tendência:
Behaviorismo Cognitivo, Behaviorismo Metodológico e Behaviorismo Radical
Behaviorismo Cognitivo – pressupõe que existe uma relação entre o mundo, como
ambiente externo ao indivíduo, que desencadeia neste pensamentos e sentimentos que
irão determinar seu comportamento no ambiente. Há uma mediação entre o ambiente e
o comportamento; esta mediação é a percepção e o significado atribuído por eles aos
eventos ambientais. “O comportamento e afeto do indivíduo são largamente
determinados pelo modo como ele estrutura o mundo, como olha para as coisas e
como interpreta essas coisas”
Behaviorismo Metodológico – ênfase aos procedimentos de medida do
comportamento na sua relação com o ambiente. “Psicologia S – R”, onde S
operacionaliza o ambiente e R o comportamento
Behaviorismo Radical – entende por comportamento as relações do organismo com o
ambiente, expresso pela tríplice contingência de reforçamento. O ambiente em que se
encontra o homem determina e constrói as característica que serão particulares a cada
um
Comportamentalismo/Behaviorismo – surgiu nos Estados Unidos da Amércia com
John Broadus Watson (1878-1958), que se dedicou a fundar uma nova escola de
pensamento para a Psicologia, oficialmente conhecida através da publicação
Psychology as the Behaviorist Views
Watson – “A Psicologia, tal como o behaviorista a vê, é um ramo puramente objetivo
e experimental da ciência natural. A sua finalidade teórica é a previsão e o controle do
comportamento. A introspecção não constitui parte essencial dos seus métodos e o
valor científico dos seus dados não depende do fato de se prestarem a uma fácil
interpretação em termos de consciência ... a Psicologia terá que descartar qualquer
referência à consciência ... ela já não precisa iludir-se crendo que seu objeto de
observação são os estados mentais”
Ciência do comportamento voltado para si mesmo, sem referir-se como recurso
explicativo ao sistema nervoso ou seus mecanismos, como era feito pela fisiologia
Watson – métodos de investigação: observação, com ou sem uso de instrumento;
métodos de teste; método do relato verbal; e método do reflexo condicionado
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Reflexo condicionado – processo de conexão entre um estímulo e uma resposta
específica de um organismo. Já investigado por Pavlov (1849-1936) e Bechtevev
(1857-1927)
Watson – o reflexo condicionado, ou melhor, o processo de condicionamento passa a
ser considerado uma unidade de medida do comportamento, pois permite identificar as
relações ambiente versus comportamento, e decompor o comportamento humano em
suas partes constituintes, facilitando a observação e a mensuração
Ao contrário das abordagens de Wundt (1832-1920) e de Titchener (1867-1927), em
que os sujeitos eram observadores e observados, no Comportamentalismo eles são
somente observados pelos experimentadores -> o homem passou à posição de um ser
que se comporta como outro qualquer > o homem já não observa, ele apenas se
comporta > reforço da idéia do homem como máquina: basta um estímulo para ocorrer
uma cadeia de respostas
O Comportamentalismo se ocupa do comportamento do organismo inteiro com
relação ao seu ambiente
A Psicologia de Watson foi um esforço de construção de uma ciência livre de noções
mentalistas e de métodos subjetivos, uma ciência tão objetivo quanto a física > para se
entender o comportamento pode-se partir da observação, não precisando supor
processos mentais que explicariam tal comportamento > com a análise dos tópicos
fundamentia da Psicologia, como instinto, aprendizagem, emoção e pensamento,
Watson enfatiza a influência do ambiente sobre o comportamento dos organismos
 O behaviorismo radical
Constituiu-se no início do século XX – capitalismo em pleno desenvolvimento –
crescente concentração de capital e grande desenvolvimento industrial e tecnológico –
crise de 1929; guerras; espaço para diferentes modos de comportamentos
Estados Unidos da América – desenvolvimento tecnológico e na área de pesquisas
Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), um dos maiores teóricos do Behaviorismo
Radical
Mecanicismo – “O mecanicismo envolvia não só a suposição da realidade existente
independentemente do sujeito, como colocava também a necessidade de se buscar
sempre um mecanismo que a explicasse. Uma realidde que se forma por uma sucessão
de interações mecânicas faz supor a necessidade constante de uma matéria através da
qual o efeito pudesse se propagar e a necessidade de um princípio de explicação
sempre baseado em um mecanismo. Para eventos que não se podia observar uma
relação causal espacial ou temporal imediata, muitas vezes se tornava necessária a
elaboração de conceito baseados em interpretações ou especulações para garantir a
conexão do sistema de causas. Foi esse caráter interpretativo e especulativo da ciência
física que foi criticado por alguns epistemólogos, por gerar conceitos definidos em
termos de propriedades das quais não temos nenhuma segurança de sua existência,
conceitos formulados com base em interpretações inseguras e muitas vezes
metafísicas”
Mach (1838-1916) – nega a existência de substâncias materiais, para ele tudo são
sensações. O objeto de conhecimento é combinação de elementos, de sensações.
Abandona-se a noção de causalidade mecânica e passa-se à descrição de relações
funcionais entre sensações. Explicar é descrever relações ordenadas entre fatos
observados. Estas relações funcionais substituem as noções tradicionais de causa e
efeito
Skinner – a partir de 1931 – trabalhos vinculados a este tipo de pensamento; adota a
concepção de explicação baseada em identificar relações funcionais entre eventos
comportamentais
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Reflexo – correlação observável entre estímulo e resposta
Comportamento – é o fazer do organismo. “O comportamento é uma exata função de
forças agindo sobre o organismo”
Objeto de estudo – comportamento do organismo total; interessa-lhe como as unidades
do comportamento se unem e interagem; reflexo como unidade comportamental a ser
estudada
Comportamento operante – o organismo age sobre o ambiente e produz
conseqüências, reforçamento; selecionando os reflexos importantes e descartando os
irrelevantes. A relação não é com um estímulo eliciador, mas com o estímulo
reforçador que se segue à resposta
Tríplice contingência de reforçamento – engloba o comportamento e suas condições
antecedentes e suas conseqüências. Consiste em um estímulo discriminativo seguido
de uma resposta, que, por sua vez, é seguida por um estímulo reforçador, que controla
a probabilidade futura de resposta (Sd – R – Sr) – “... Isto parece possibilitar que o
comportamento não seja explicado como mero produto passivo do ambiente, mas seja
visto como um processo de relações recíprocas, em que o homem é produtor do meio
que o determina.”
Não há causa ligada ao comportamento e sim relações funcionais que fazem com que
ele possa ocorrer
Seleção por conseqüências – a seleção dos comportamentos ocorre em função de seus
efeitos sobre o ambiente, são as conseqüências ocorridas no passado que determinam a
probabilidade de ocorrência do comportamento em uma situação futura. O homem que
se comporta é um ser em processo, em constante transformação. A sua interação com
o ambiente e com os outros homens gera formas variadas de comportamento, em que a
multiplicidade, a diversidade e a variabilidade são marcas constantes
Tríplice determinação ambiental indissociável – a espécie (filogenética), a vida do
indivíduo (ontogenética) e a cultura (práticas culturais)
Seleção natural ou da espécie, filogenética – refere-se às característica dos membros
de uma espécie e a padrões comportamentais que seriam selecionados segundo os
mesmos mecanismos. O processo envolve o comportamento imitativo e a modelagem,
o que permite que membros de uma espécie adquiram comportamentos selecionados
com outros membros da mesma espécie
Seleção por história de vida do indivíduo ou ontogenético – refere-se à aquisição de
comportamentos que são importantes para a pessoa e não mais se restringindo à
sobrevivência. Isto permite uma maior adaptação a ambientes em constante mudança.
Os membros da espécie que aprendem através de operantes ampliam muito seu
repertório e, conseqüentemente, o mundo se amplia para eles
Comportamento social e verbal simbólico – surgido a partir destes dois níveis de
seleção. “O comportamento verbal permite mais do que mostrar e fazer, permite um
mostrar e fazer que leva os indivíduos a fazerem pelo outro”
Seleção de práticas culturais – se baseiam em reforçamento social e dependem da
participação de mais de um indivíduo. “A cultura permite uma certa atemporalidade
da experiência no sentido de que permite que o mundo seja conhecido através da
experiência de outros, que sequer precisam estar presentes fisicamente.”
Comportamento verbal – permite que os indivíduos tenham acesso ao mundo privado
e, conseqüentemente, construam sua subjetividade
Concepções empiristas do conhecimento – o conhecimento se constituía a partir de
sensações que geravam idéias que se associavam para formar o pensamento
Skinner não pode ser inserido nas concepções empiristas do conhecimento
Para Skinner: o homem não é uma tabula rasa; conhecer é muito mais do que
responder a estímulos; o conhecimento deve ser compreendido como uma forma de
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ação sobre o mundo; o conhecimento supõe uma interação dinâmica, é produto e
processo ao mesmo tempo; a percepção é fruto do momento atual e da história de
reforçamento de quem percebe, é uma construção, uma forma de ação sobre o mundo
Evolução do Behaviorismo Radical – partindo da discussão do conceito de reflexo até
apreender os três níveis de determinação do comportamento humano, modifica a visão
de determinismo inicialmente adotado, na medida em que o determinismo mecanicista
é cada vez mais deixado de lado, havendo uma ampliação da compreensão da
causalidade
Watson e Skinner acreditavam numa ciência não mentalista; valorizado os
comportamentos que o homem apresenta
Skinner percebeu que era possível lidar com a subjetividade e a individualidade sem
recorrer ao conceito de mente
O Behaviorismo preocupa-se em analisar todo o contexto em que está inserido o
comportamento
Os postulados de Skinner referem-se a um modelo de homem em constante
transformação, múltiplo e processual, configurando uma oposição ao positivismo
comtiano, em que a idéia de transformação e mudanças qualitativas é inaceitável
As contingência ambientais é que são responsáveis pelos comportamentos do homem
Nossos comportamentos são determinados por conseqüência da nossa história
filogenética (próprias de cada espécie), ontogenética (próprias de cada ser – a história
de vida de cada indivíduo) e pelas nossas práticas culturais
O homem é controlado e controla o meio em que vive por meio das contingências a
que está submetido e que ele mesmo constrói e produz
“O homem é simultaneamente um organismo, uma pessoa e um self. Estas três
dimensões são separadas enquanto recurso de análise para identificarmos as
diferentes fontes de determinação de cada comportamento de um homem singular:
história da espécie, do indivíduo e da cultura”
Metacontingência – refere-se à relações de contingências entre as práticas culturais e
seus resultados, ou seja, as metacontingência emergem na evolução das culturas
construídas e pelas contingência comportamentais. A metacontingência refere-se à
unidade de análise, descreve relações funcionais, das produções advindas da e para a
cultura. A metacontingência amplia a concepção de relação sujeito-objeto no processo
de produção de conhecimento, apresenta-se como um produto e processo da relação
sujeito-objeto, que dela parte e para ela retorna.
É através da cultura e do comportamento social que se torna viável o comportamento
verbal, que, por sua vez, permite o acesso ao mundo privado
É com o comportamento verbal que os homens interagem produzindo cultura
É pela comunidade verbal que se constrói uma parte importante dos indivíduos: sua
subjetividade
O Behaviorismo Radical vê o homem como um ser que se comporta, devido a uma
história pessoal e global, da qual são resultados tanto o seu comportamento quanto a
sua subjetividade
O comportamento específico de uma pessoa é a sua própria subjetividade
Subjetividade – se estabelece na relação entre os grupos, fundados e baseados numa
cultura, por meio do comportamento social, tendo como instrumento básico de
construção desta subjetividade o comportamento verbal, porque se não for expressa,
não há subjetividade existente
A subjetividade é própria de cada indivíduo em função das contingência de
reforçamento a que esteve e está submetido, mas refere-se a um nível estritamente
social na medida em que sem o acompanhamento público, sem a modelagem e o
reforçamento social, o comportamento verbal e a cultura, a subjetividade inexiste
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O Behaviorismo Radical, conforme é apresentado por Skinner ao longo de sua obra,
vem esclarecer que o mundo interno de cada um de nós é objetivado pelo mundo
externo a partir das relações que com ele pactua
O homem e, portanto, o seu mundo interno são produtos da relação com a coletividade
Behaviorismo Radical – ciência da análise do comportamento, na qual o que é
valorizado e considerado é a forma como os comportamentos ocorrem, quais as
contingências envolvidas e os reforços existentes para a manutenção ou extinção de
um comportamento
FENOMENOLOGIA
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 Momento de constituição: antecedentes históricos
Entre os séculos XIV e XV – inicia-se um período de reformulação nas relações entre
os homens e entre estes e o ambiente – passagem do sistema feudal para o modo
capitalista de produção
1ª Revolução Industrial na Inglaterra e Revolução Burguesa na França
Final do século XIX – estados europeus unificados pelo nacionalismo e pelo
imperialismo
Expansão econômica e política – nova proposta de entendimento do que era o
conhecimento
Descobertas tecnológicas e domínio da natureza
Alemanha – local de nascimento da Fenomenologia
Alemanha – até meados do século XVIII – todas as característica de sociedade feudal;
a partir de 1871, a Alemanha foi reorganizada em 25 estados federados que formavam
o império; recuperar atraso no desenvolvimento do capitalismo; crescimento industrial
acompanhado de extensa legislação trabalhista; grande ênfase no desenvolvimento do
conhecimento científico; pensamento filosófico interdependente do movimento social,
político e econômico
 Momento de constituição: crítica ao conhecimento da época
Edmund Husserl (1859-1938) – “como produzir, identificar e fundamentar uma
interpretação verdadeira”. Segundo Merleau Pontu, “destinou-se a resolver
simultaneamente, uma crise das ciências do homem e uma crise das ciências
simplesmente”
Husserl – crítica aos sistemas vigentes na época de obtenção de conhecimento,
sobretudo a Psicologia (psicologismo), a História (historicismo), a Sociologia e a
Filofofia (naturalismo)
Husserl pretende encontrar a fundamentação radical de todas as ciências, o
fundamento da Filosofia
Período dos primeiros trabalhos de Husserl – dez últimos anos do século XIX;
desmoronamento dos grandes sistemas filosóficos tradicionais: Hegel e Schopenhauer
Psicologia – de acordo com a tendência positivista, busca constituir-se como ciência
exata conforme o modelo das ciências da natureza, eliminando os aspectos subjetivos
e, portanto, não científicos que o uso da introspecção comportava
Matemática – afasta-se dos dados da intuição, procurando constituir sistemas formais
que permitiriam unificar numa só as diversas disciplina
A partir de 1880, as estruturas do pensamento positivista começam a ser questionadas
quanto aos fundamentos e o alcance da ciência: seria suas leis realmente universais?
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Brentano – professor de Husserl – desenvolvia seu pensamento profundamente
influenciado pela Psicologia Experimental; afirmava que os dados básicos da análise
psicológica são as manifestações particulares da consciência, as quais denominou
fenômenos ou atos psíquicos. Fenômenos psíquicos: existe intencionalidade e um
modo de percepção original, imediato; a percepção original que se tem dos fenômenos
constitui o seu conhecimento fundamental;
Fenomenologia de Husserl – campo de análise delimitado pela exploração do campo
da consciência e sua relação com os objetos, a intencionalidade, perseguida pela
escola de Brentano
Psicologismo – os fenômenos do conhecimento têm seu fundamento na atividade
psíquica do homem
Crítica de Husserl ao Psicologismo – diferença entre ato e conteúdo do ato; não pode
haver um conteúdo do ato sem um ato; isto não implica que as leis de um sejam as leis
do outro; para que a Psicologia Experimental fosse a ciência absolutamente fundante
do conhecimento, teríamos que reger o conteúdo, que encerra o elemento ideal ou
teórico, pelas leis que regulam o ato; neste caso, a verdade, que se refere ao conteúdo,
ficaria dependente do processo psicológico, que se refere ao ato, e seríamos levados a
um puro subjetivismo e relativismo da verdade. Ao contrário, afirma Husserl, são as
ciências empíricas e práticas dependem das teóricas ou racionais. O ato deve depender
das leis do conteúdo. A ciência fundante do conhecimento tem que ser independente
da experiência e do caráter puramente teórico ou racional. A ciência racional por
excelência é a Lógica. Assim, a consciência será sempre consciência de alguma coisa
ou fenômeno. Por isso, é necessário separar a Filosofia da Psicologia, e não confundir
a essência ou consciência intencional, conteúdo, com a forma ou o processo do ato
consciente
Naturalismo – o conhecimento da época fundava-se em realidades, ditas naturais, a
natureza ou o mundo exterior se impunham ao conhecimento. O naturalismo nos diz
que apenas o empírico ou o físico é real. A ciência recusa qualquer realidade ideal,
tende a naturalizar toda a realidade para torna-la uma realidade física, empírica
Crítica de Husserl ao Naturalismo – a idéia de naturalizar o pensamento e, portanto, o
conhecimento reduz toda ciência e a Filosofia ao universo dos atos psíquicos. Além
disso, toda afirmação nesta situação será contingente, singular e particular, não
levando, portanto, a nenhuma lei absolutamente verdadeira e necessária. A crítica ao
naturalismo está necessariamente associada à crítica ao psicologismo
Historicismo – submete o conhecimento, e, mais precisamente, a Filosofia, às
condições sociais, psicológicas e históricas que estão, em princípio, fora do âmbito de
qualquer ciência
Crítica de Husserl ao Historicismo – submetendo um fato científico às condições
sociais, por exemplo, acaba-se por perder o sentido do fato em questão. Esta crítica
está associada à crítica que ele fazia a Hegel sobre a historicidade e o movimento do
Espírito ao longo da história. Para ele não é a história que decide qual posição ou
axioma é válido, não é possível interpretar toda a realidade e toda verdade como se
fossem relativas ao desenrolar histórico
Husserl - As ciências, cuja preocupação são os fatos da natureza, não incluem a
subjetividade em seus trabalhos com os corpos; as denominadas ciências do espírito,
na tentativa de serem o mais objetivas possíveis e suprirem, dessa forma, uma
exigência positivista, acabam focando os olhares em seus respectivos objetos e
ignoram, conseqüentemente, uma provável influência do cientista/sujeito sobre o
objeto. O fruto desta postura é uma constatação vazia dos fenômenos observados, à
qual não são colocados maiores esclarecimentos. Quando é rejeitada a subjetividade
do observador diante de um objeto, qualquer constatação torna-se vazia, sendo aquele
objeto, então, deturpado. Acaba-se, muitas vezes, descrevendo uma situação que não
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coincide com a realidade; desta forma, Husserl afirmará que nada pode ser descrito
sem se levar em conta o olhar do sujeito: a intencionalidade
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 Fundamentos epistemológicos
Husserl / Descartes – Descartes não explorou os pressupostos transcendentais da
experiência empírica: retornou muito rapidamente da dúvida sistêmica, que o levou ao
cogito, eu penso, ao mundo natural empírico. Husserl não considera o cogito como o
princípio indubitável do qual todo o resto pode derivar. Para ele é a subjetividade da
consciência, a única fonte transcendental de todo conhecimento absoluto e
objetivamente válido. Considera o fenômeno na sua pureza absoluta, como se
apresenta em si mesmo, isto é, como coisa própria simplesmente revelada à
consciência
Husserl / Kant – para Kant o mundo apresenta-se dividido em dois níveis: o da
aparência ou dos fenômenos, que são as propriedades dos objetos existentes; e o da
essência ou “coisa em si” (noumenon), impossível de ser atingido pela razão pura e,
portanto, impossível de ser conhecido. Segundo Kant, não conhecemos as coisas em si
mesmas – noumenon – mas somente o modo pelo qual elas nos aparecem
(fenômeno).Husserl coloca-se contrário à concepção kantiana de mundo, de homem e
de conhecimento, dedicando-se a formular uma ciência na qual as coisas possam ser
apreendidas em sua essência, tentando estabelecer leis precisas e incontestáveis, pois a
relação sujeito versus objeto permeada pela intencionalidade possibilita a apreensão da
essência dos fenômenos
Husserl / Hegel – Hegel rompe com a separação entre aparência e essência imposta
por Kant. Ao propor a unidade contraditória entre real e racional, explicita que o
absoluto ou ser é cognoscível e a Filosofia é uma retomada paciente do caminho que o
Espírito percorre no desenrolar da História, ele está presente em cada momento da
experiência humana, não como algo de fora ou à parte, mas como a própria
concretização do absoluto. O fenômeno é reabsorvido num conhecimento sistemático
do ser, pois o fenômeno e a essência são momentos distintos neste movimento
contraditório. Husserl discorda de Hegel nesta unidade ser e fenômeno, para ele o
sentido do ser e do fenômeno são distintos mas não podem ser dissociados e, portanto,
podem ser apreendidos
A dialética hegeliana, como lógica de pensamento, será incorporada na
Fenomenologia pelos seguidores de Husserl, que ampliarão sua proposta: Martin
Heidegger (1889-1976), Ludwig Biswanger (1881-1966) e Jean-Paul Sartre (19081980), entre outros
Sören Aabye Kierkegaard (1813-1855) proponente do Existencialismo, terá grande
influência no pensamento de Heidegger, discípulo de Husserl, que desenvolverá a
dasein análise bastante utilizada na Psicologia
O Existencialismo surge contemporaneamente à Fenomenologia
Kierkegaard critica o sistema hegeliano: a unidade real e racional unifica o interno e o
externo, elimina a distinção entre Deus, mundo e Indivíduo, dado que tudo se integra
numa essência única, que é o Espírito Absoluto. Kierkegaard nega que o Indivíduo, o
sujeito, é uma categoria essencial da existência. Assim, a verdade é uma apropriação
subjetiva, pois sua raiz está na existência concreta e integrada de cada Indivíduo
particular. Segundo Kierkegaard há um abismo entre o Indivíduo, em sua
singularidade, e o Espírito Absoluto, entre o tempo disponível para o Indivíduo
realizar suas potencialidades e a eternidade que é o próprio Indivíduo Absoluto.
Kierkegaard questiona a objetividade e a busca deste tipo de verdade, pois o
indispensável é introduzir a verdade na existência e não tanto conhecê-la. Kierkegaard
assume o raciocínio dialético no desenvolvimento do seu pensamento. A dialética em
direção ao existencial exige que o Indivíduo se aprofunde no autoconhecimento da sua
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existência, que se apresenta como oposição dos extremos; o eu não é dado, somente
sua possibilidade de existir. Esta visão da dialética e da existência como fundantes do
Indivíduo e do sujeito será resgatada por Heidegger ao criticar a consciência
transcendental de Husserl
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 Fundamentos e conceitos
A Fenomenologia se propõe à descrição da estrutura dos fenômenos, sendo a maior
preocupação de Husserl encontrar um método universal, que possa reger o pensamento
de modo que se atinja o conhecimento universal e verdadeiro
Para tal, é necessário que se saiba como se conhece e que não seja ignorado tudo
aquilo relacionado com o ato de conhecer, como por exemplo, a subjetividade dos
homens, a qual seria “a primeira verdade indubitável para começar a pensar
corretamente”
Husserl estabelece algumas exigências que deveria conter a verdadeira fundamentação
da Filosofia. As características da verdadeira fundamentação seriam: ,
1) deve ser a priori, isto é, independente da experiência, uma vez que uma ciência
teórica e absoluta prescinde da experiência, sempre contingente e particular;
2) esta aprioridade implica ausência de pressupostos. Temos que proceder com inteira
liberdade, sem nos deixarmos influenciar por qualquer opinião dominante, quer
científica, quer filosófica, para nos orientarmos exclusivamente pelas coisas;
3) finalmente, o fundamento radical tem que ser evidente por si mesmo, isto é,
autojustificável, pois possui um caráter imediato e plenamente reflexo
Evidência – está relacionada com os conceitos de intenção e intuição
Intenção significativa – existe quando significamos intencionalmente o objeto, sem
considerar sua presença
Esta intenção pode ser preenchida pela presença do objeto – neste caso temos a
intuição
Intuição – é o preenchimento de uma intenção
A evidência é a consciência da intuição
Husserl usa as duas palavras, evidência e intuição, indiferentemente, porque elas se
implicam. Husserl distingue as evidência a partir do objeto e não do sujeito
Intuição sensível – refere-se a uma singularidade empírica, ou seja, um objeto diante
de mim
Intuição categorial – refere-se àquilo que se afirma ao conteúdo do juízo
Objetos categoriais – são todos aqueles que admitem um aspecto supra-sensível ou
idel
Intuição eidética ou ideação – refere-se aos “objetos universais”, também
denominados essências ou eidos, correspondem aos chamados ‘conceitos universais,
que se verificam invariavelmente em diferentes indivíduos
Evidência apodítica – o supremo grau de intuição que só se verificaria na plena
adequação entre intencionado e intuído. Husserl reconhece que esta adequação plena é
um estado-limite, que de fato nunca se atinge
Coisa mesma – é entendida não como a realidade existindo em si, mas como um
fenômeno; fenômeno este que se dá a nós por intermédio dos sentidos dotados de uma
essência.
Essência de um fenômeno é intuída
Intuir – significa identificar o fato e ver o sentido ideal que cada pessoa atribui a ele ao
percebê-lo
Todo fenômeno tem uma essência, o que se traduzirá pela possibilidade de designá-lo,
nomeá-lo, e ele sempre estará vinculado a um sentido para quem o percebe
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O primeiro passo para a obtenção de uma verdade é descobrir o fenômeno, com o
objetivo de atingir a sua essência, “matéria” da qual se constituem todas as coisas.
Neste processo das coisas mesmas, deve haver um total despojamento de préconceitos e pré-juízos que haviam, porventura, sido construídos a respeito do fato
antes de este ser percebido. Para isto é necessário passar por diferente etapas ou passos
para se chegar à evidência apodítica. Este passos são:
1) epoché e redução: espontaneamente vivemos na “atitude natural”, ou seja,
consideramos as coisas como exteriores, e, portanto, o mundo como existente em si,
independente da nossa consciência
No entanto, esta certeza não se dá por evidência apodítica
Há algo mais evidente que o objeto exterior: é a própria consciência do objeto exterior
A consciência impõe-se apoditicamente; é certa, ainda que tal objeto não exista
Portanto, o começo absoluto tem que estar no objeto enquanto consciente
Em relação às coisas enquanto existentes exteriormente, o filósofo deve “suspender” o
seu juízo
Tal suspensão recebe o nome de epoché > não se põe em questão o mundo exterior >
apenas se “reduz” à consciência, para assim ser possível começar por aquilo que é
insofismável
Realidade transcendente – corresponde às coisas enquanto existente fora ou para além
da consciência
Realidade transcendental – se aplica às “coisas”, enquanto reduzidas à consciência
Ambos os mundos são reais
2) Redução psicológica e redução transcendental: a redução psicológica significa
suspender todos os juízos relativos a tudo que é exterior ao sujeito
É preciso fazer a redução transcendental, ponto entre parênteses, ou praticando a
epoché relativamente a essas essências psicológicas
Redução transcendental – eleva à “consciência pura” ou “transcendental” – as
vivências perdem inteiramente o seu caráter psicológico e existencial para
conservarem apenas a relação pura do sujeito plenamente purificado ao objetivo
enquanto consciente, que é objeto significado
O “eu puro” – mostra-se na atitude fenomenológica como “um expectador
desinteressado” ou “imparcial”, apto a aprender, sem perigo de erro, tudo o que se lhe
apresentar como “fenômeno” da consciência
Objeto intencional – é a constituição do objeto pensado. É o produto desta relação
entre sujeito e objeto, portanto, o conhecimento produzido
Evidência apodítica – para chegar a ela o homem utiliza-se da consciência, que
envolve três dimensões: intencionalidade, temporalidade e horizonte
Intencionalidade da consciência – refere-se à consciência que, como ato, é sempre
consciência de alguma coisa, ou seja, é a descrição das diferentes formas de relação
entre o sujeito e o mundo. A consciência não está dentro do sujeito, mas exerce função
mediadora entre o sujeito e o mundo
Temporalidade da consciência – refere-se ao fato de que toda consciência intencional
é uma síntese no tempo. A percepção do objeto supõe a percepção da sua identidade
ao longo de uma sucessão temporal de imagens. O significado do objeto depende do
que recordamos dele
Horizonte da consciência – refere-se ao fato de que a consciência intencional envolve
uma atualidade explícita (como consciência de algo) e uma potencialidade implícita,
que é o conjunto de estados passados, antecipados, sugeridos, suspeitos,
assemelhados, contrastados etc., em relação ao qual o objeto tematizado adquire um
significado para o sujeito. Os horizontes são na experiência pré-reflexiva
inconscientes, passando desapercebidos, e uma das tarefas das análises
fenomenológicas concretas é justamente elucidá-los
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Consciência – constituída pelo que Husserl denomina de “atos intencionais”
Atos intencionais – são a percepção, memória, especulação, paixão, imaginação, entre
outros
Consciência Transcendental – a consciência é também necessariamente dada a priori,
de forma a garantir a possibilidade de conhecer
Noesis – são os atos intencionais, ou seja, que se dirigem e visam algo
Noemas – são os objetos em sua essência ou com significados aos quais os noesis se
direcionam
Intencionalidade – relação entre sujeito (noesis) e objeto (noema) – há um movimento
tal entre sujeito e objeto que um se dirige ao encontro do outro
Fenomenologia – uma busca empática que estabelece ligações entre sujeito e objeto
através dos atos intencionais, da possibilidade de comunicação, seja pela fala ou pela
escuta, e da expressividade de forma geral, cabendo “a ela distinguir, revelar o que há
de essencial na percepção, recordação, imaginação
Cada ato intencional e seu correlato intencional, ou seja, noesis e noemas, são uma
unidade e têm uma região própria do ser, o que leva ao raciocínio que um ente possui
inúmeras possibilidades de ser visto, ou melhor, há diferente locais para se visualizar o
mesmo ente, como se cada regição tivesse uma vista diferente para a mesma praia
Fenomenologia husserliana – é uma ontologia regional (ón: ser, em grego), já que
encara o ser dividido em diversas regiões; o ser ainda outorgaria sentido às coisas que
visa conforme a região focada pela sua consciência
O outro-eu e a constituição do objeto para uma pluralidade de sujeitos – MerleauPonty: “O filósofo, retornando aquém das determinações de fato que limitam sua
visão, jamais atinge, em si mesmo, um pensador totalmente universal. Está sempre
situado, sempre individualizado, e é por isto que necessita do diálogo; entrar em
comunicação com outras situações (outros filósofos ou outros homens) é a maneira
mais segura de ultrapassar seus limites. Como escreveu Husserl nos seus últimos
tempos, a subjetividade derradeira, filosófica, última, radical, aquela que os filósofos
cham de Subjetividade transcendental, é uma intersubjetividade
Husserl – em função de um sentimento interior, ou intropia (Einfühlung), constituemse, na consciência transcendental, outros eus, como sujeitos cognescentes, idênticos. O
sujeito fenomenológico atinge um grau superior, constituindo-se como um entre
muitos. Atinge-se, assim, o nós transcendental, e é para esta pluralidde que o sujeito
individual cognoscente apreende o objeto como válido. O objeto intencional,
constituído intersubjetivamente, é o fenômeno no seu grau pleno de evidência
apodítica
Martin Heidegger (1889-1976) – foi aluno de Husserl; A obra de Heidegger surge em
meio a uma geração de valores sacudidos pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918),
em que a questão do Ser e da existência se recolocam. Heidegger desenvolverá seu
trabalho seguindo o pensamento husserliano, determinando o que se denominam
característica primordiais do ser, as quais estão presentes em sua obra O ser e o tempo
(1930). O homem existe, desta forma, “compreendendo, espacializando e
temporalizando o seu existir no mundo
Heidegger – “o que para a fenomenologia dos atos conscientes se realiza como o automostrar-se dos fenômenos é pensado mais originariamente por Aristóteles e por todo
pensamento e existência dos gregos como Aléthea, como desvelamento do que se
apresenta, seu desocultamento e seu mostrar-se. Aquilo que as Investigações Lógicas
de Husserl redescobriram como a atitude básica do pensamento revela-se como o traço
fundamental do pensamento grego, quando não da Filosofia como tal. Isto levou-o a
questionar-se sobre de onde e de que maneira se determina aquilo que, de acordo com
a fenomenologia, deve ser experimentado como a coisa mesma? É ela a consciência e
sua objetividade, ou é o ser do ente em seu desvelamento e ocultação?”
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Heidegger levou dez anos para responder estas duas questões, e publicou O ser e o
tempo
Ser – é algo indefinível, evidente por si só e de entendimento universal: todo ser
humano sabe o que é o ser e sabe o que é o não-ser
Dentro do ser encontra-se o nada e vice-versa: o ser tem em si a possibilidade de nãoser, uma vez que, ao mesmo tempo que é algo, também é contrário deste algo
Cabe ainda ao ser a chance de tornar-se o seu não-ser; todo ser é, ao mesmo tempo,
um vir-a-ser – a unidade dos contrários é o ponto fundante do ser (Hegel)
Alteridade – é o outro, aquilo que o ser não é
Identidade – aquilo que o ser é
Alteridade surge da identidade – é a partir da identidade que sabemos o que somos, e,
portanto, o que não somos, ou seja, nossa alteridade, o outro
O ser é um ser de relação – ser e mundo só existem na relação ser-mundo, enquanto
relacionados
Cabe ao ser dar sentido ao mundo ou significá-lo, de modo que o mundo então possa
existir. O eu torna-se eu (apenas possui identidade) quando em relação com o tu (que é
o mundo, a alteridade, o outro)
A compreensão do mundo trata da compreensão de si próprio. O ser (responsável
pelos sentidos e significados do mundo) fita o mundo como extensão de si mesmo
Esta relação pode ser dar de duas maneiras: Eu-isso e Eu-tu
Eu-isso – o isso é visto apenas como objeto de experiência
Eu-tu – há reciprocidade na relação; é na relação em que são colocados limites ao ser;
o ser percebe a existência do outro, ou de sua alteridade. Na relação Eu-Tu, o ser fala
e descreve a si mesmo > o outro, ou o mundo, existe como extensão do eu e só
permeado pelos significados que foram estabelecidos pelo ser
A significação do mundo pelo ser dá-se dentro da temporalidade e do espaço. No
passado está a memória dos fatos aos quais são atribuídos significados no presente; o
futuro contém o vir-a-ser
O tempo é dotado de significados: o passado é significado no presente e esta
significação está voltada a uma intenção no futuro
Atuação clínica – foca sua atenção nos sentidos ou significados que o paciente/cliente
atribui, no momento vivido, aos fatos passados de sua vida
Espaço – visto da mesma forma que o tempo > local onde o ser atua
O ser caminha sua atuação em direção à morte, que gera a Angústia
Angústia – sentimento em relação ao nada e por meio do qual o ser compreende-se e
descobre o seu sentido: ao ser frente à morte é colocado um questionamento acerca de
sua existência; a Angústia gerada diante da morte dá ao ser a possibilidade de refletir a
seu respeito, fazer descobertas acerca de seu próprio mundo; e, finalmente, obter
respostas sobre o seu sentido e o sentido do mundo ao seu redor
Relação ser-mundo – o mundo é quase como uma extensão do ser
Dasein – “ser-aí”, “ser-no-mundo”; a oportunidade do ser de exercer seu poder de
escolha. É na relação com o mundo que o ser é e dentro dele tem de utilizar a sua
possibilidade de escolha, sempre tendo em mente suas necessidades
Hegel – frente ao desejo e à necessidade, cabe ao ser escolher
O dasein se traduz pela possibilidade e necessidade de exercer o poder de escolha; o
dasein é uma possibilidade de ser. O existir – (ser) – humano é inacabado, é um
constante “vir-a-ser” hegeliano > o homem projeta e nega a sua situação original de
alienado
Filosofar heideggeriano – constante interrogação, na procura de revelar e compreender
sobre o ser. A ciência deve des-vendar uma das possibilidades do ser, porém, tendo
apenas a capacidade de des-vendar uma entre todas as existentes
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PSICOLOGIA HUMANISTA:
UMA TENTATIVA DE SISTEMATIZAÇÃO DA
DENOMINADA TERCEIRA FORÇA EM PSICOLOGIA
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 Momento de constituição – antecedentes históricos
Humanismo – Idade Moderna – movimento de ruptura com os ultrapassados valores
medievais; apogeu durante o Renascimento; grande ênfase ao estudo de autores
clássicos greco-romanos, ao espírito de pesquisa e indagação e à valorização da
observação => refutação as crenças religiosas/“teocentrismo” => desenvolvimento da
ciência moderna => cisão definitiva com a Igreja e com a filosofia escolástica
Homem colocado no centro das preocupações
Determinação em resolver os problemas que a vida lhe apresentava
Consciência da capacidade de atuação e modificação da realidade
Livre e responsável pelas escolhas e alterações provocadas
Despojado do cômodo papel de agente passivo frente ao mundo
Antropocentrismo – deslocamento das atenções para o homem > “o centro das
preocupações”
Teocentrismo – Deus ocupava o centro do Universo e tudo ocorria “por sua vontade”,
de modo que restaria ao homem voltar sua atenção para a fé, a religião e a vida após a
morte; não haveria motivos para se alterar a ordem natural das coisas
Psicologia Humanista – denota semelhanças com o movimento renascentista, no que
diz respeito a ter significado uma Revolução, em termos de pensamento, à sua época e
por sua teoria se identificar, e muito, com as ideologias humanistas e antropocêntricas
Crises – Descoberta de Copérnico, no início do século XVI, de que a Terra não era o
centro do universo, mas um simples ponto em sua imensidão. Teoria da evolução das
espécies de Charles Darwin, que data do século XIX, baseada no mecanismo de
seleção natural. “Descoberta” do inconsciente por Sigmund Freud, no início do século
XX => o homem não é tão “dono de si” ou “poderoso” – muito de si está além de seu
próprio controle
1ª Grande Guerra (1914-1918); 2ª Grande Guerra (1939-1945); emergência dos
Estados Unidos como grande potência; “Guerra Fria” (Estados Unidos x União
Soviética); confrontos EUA x URSS deslocaram-se para o plano militar, ideológico,
cultural, desportivo, diplomático, econômico e, sobretudo, tecnológico
Charlotte Bühler – psicóloga humanista americana – situação de constante tensão
econômica, social e política vivida pelos povos de todo o mundo, e, em particular,
pelos americanos, responsável pelo surgimento de um estado de espírito novo,
comparado com o tempo em que tudo o que as pessoas buscavam era a “diversão”.
Introversão antes desconhecida, um desespero absurdo
Karen Horney (1885-1952) e Eric Fromm (1900-1980) – questionavam a possibilidade
de confiar nessa sociedade que constrói bombas atômicas para aniquilar populações
Jovens – duvidarem dos valores e da moralidade tradicional
Descobertas científicas – dúvidas a respeito de dogmas e pregações da Igreja, como a
existência de Deus
“Qual é o significado de tudo?”, “Quem somos nós, quem sou eu?”, “Qual o modo
certo de viver?”
Bühler – abordou a importância de um grupo de jovens, os quais denominou
“construtivos”, na formação dos ideais da Psicologia Humanista, uma vez que estes
viam a necessidade de aperfeiçoar as experiências pessoais e sociais, procurando ajuda
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nas pessoas mais velhas em que confiavam para encontrar valores e crenças mais
profundas, a fim de liberar sua criatividade e expressar suas potencialidades
Gomes – advento da Psicologia Humanista não pode ser dissociado do quadro de
grande ascensão econômica dos Estados Unidos, no início dos anos 60, no governo
Kennedy > responsável pelo surgimento de valores tais como independência,
hedonismo, dissidência, tolerância, permissividade, auto-expressão, que cada vez mais
reforçavam o clima de preocupação com o individual, em que o sujeito apresentava-se
como centro das preocupações
1930-1960 – anos marcados pela guerra, luta de poder, os homens eram para os
governos apenas mais um dentro dos batalhões do exército, a morte era “a vizinha”
sempre presente e muitas vezes já esperada; não se sabia sobre o dia futuro (seremos
vencedores ou vencidos, encontraremos mais miséria ou riquezas); parecia não haver
lugar para a esperança, uma nova chance ou mudança de vida, especialmente nos
EUA, onde cada homem é apenas mais uma fonte de trabalho, que, se explorada,
permitirá maior lucro ao opressor
Ideologia liberal – pregava serem todos os indivíduos iguais, mas absolutamente livres
para defenderem seus interesses particulares sem limitações. É famosa a expressão
“sonho americano”, sobre vencer e ser alguém na vida, ou seja, retomar essa
possibilidade que parece obscura e possuir liberdade para mudar de lado, nesta
contundente luta de poder existente nas relações sociais
Psicologia Humanista – surge como uma forma de responder a esses anseios da
sociedade, com concepções que garantem a possibilidade de transformação que
dependa apenas da vontade individual, como uma forma de as pessoas conceberem-se
como “EUS” e não apenas como mais uns, como diferentes, devendo assim ser
tratadas. Retoma, resgata a individualidade, a subjetividade, as emoções próprias e
particulares de cada ser humano
A Psicologia que adotou o modelo das ciências naturais como única forma de
constituir-se como ciência independente, agora proclama ser tal método reducionista e
insuficiente
 Bases epistemológicas
Psicologia Humanista – possui ramificações
Giovanetti divide a Psicologia Humanista em duas grandes escolas:
1) a escola americana, originária do Humanismo individual, onde encontram-se a:
- Psicoterapia Humanista-Existencial, embasada em Kierkegaard – principal
representante, Carl Rogers; e a
- Psicoterapia Fenomenológico-Existencial – principal representante, Rollo May
2) a escola européia, berço das principais idéias fenomenológicas e existenciais,
encontrando-se caracterizada pela:
- Daseinsanalyse, de Biswanger;
- Análise Existencial, de Medad Boss;
- Psicoterapias Antropológicas; e
- Psicoterapia Antropológico-Fenomenológico
Parece haver uma ligação entre as Psicologias Humanistas e a Fenomenológica
Giovanetti – a diferença entre as várias abordagens está em que cada uma delas
destacará aspectos diferentes ao descrever as características fundamentais do homem
Henri-Louis Bérgson (1859-1941) – filósofo do século XIX precursor das idéias
humanistas
Abraham Maslow e Carl Rogers – seguidores do pensamento de Bérgson
Bérgson – fez uma crítica aos modelos mecanicista e finalista – afirma que a realidade
se define pelo movimento, em sua simplicidade indivisível e em sua totalidade,
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englobando mais que as partes componentes às quais se referem as explicações
mecanicista e finalista. Tal movimento é conduzido pelo impulso vital (“élan vital”)
ou impulso original da vida, o qual define como uma tendência a agir sobre a matéria
bruta. Assim, para ele, vida e matéria são indivisíveis: a vida evolui ligada à matéria e,
caracterizada pelo movimento e pela criação, atravessa a matéria inerte, destacando
nela seres vivos. Portanto, o impulso da vida consiste numa exig~encia de criação e,
ao encontrar a matéria, cujo movimento é oposto ao seu, introduz nela a
indeterminação e a liberdade
Bérgson – compreende a inteligência e o instinto como duas formas diferentes, mas
complementares, de atuação sobre a matéria bruta
 instinto – caracteriza-se pela faculdade de utilizar e construir instrumentos
organizados e, portanto, mecanismos inatos; o instinto tende à inconsciência; o
conhecimento inato recai priritariamente sobre as coisas
 inteligência – caracteriza-se pela faculdade de fabricar e empregar
instrumentos inorganizados; a inteligência é orientada no sentido da
consciência, envolve um conhecimento pensado; o conhecimento recai sobre
as relações; a inteligência como possibilidade de exteriorização da consciência
 a evolução ocorre pela penetração da consciência na matéria, arrastando-a à
organização
 consciência – princípio motor da evolução; no homem a consciência encontrou
saída para libertar-se, libertando-se a partir das complicações e embaraços da
ação
 “evolução criadora” – concepção espiritualista da evolução, entendida como
uma resposta ao evolucionismo materialista
 “élan vital” – corresponde a uma tendência da realidade; o ser humano é
dotado desta tendência; fundamento do homem e de sua atividade; fundamento
do conhecimento
 movimento – corresponde ao equilíbrio, crescimento e organização
 “eu de superfície” – caracteriza-se por ser estático, mecanizado e restrito ao
que se poderia se denomina “eu social” do indivíduo; a maioria dos homens
vive apenas o “eu de superfície”, sem jamais experienciar a liberdade
 “eu profundo” – diz respeito ao “eu pessoal” – quer, se apaixona, evolui,
cresce constantemente, sendo acima de tudo criador, livre e dinâmico, e pode
ou não ser atingido pelo homem; caracteriza-se por ser uma duração pura e
irreversível, em permanente mudança qualitativa e irrepetição contínua, que
mantém sua identidade por intermédio da memória
 imagem de um cone: a base seria o inconsciente e cresceria sempre pela
aquisição de novas experiências; o vértice representaria o momento presente,
de inserção do psiquismo na vida. No interior do cone, os elementos psíquicos
apresentam duplo movimento: 1) do vértice para a base (experiências presentes
que passam para o inconsciente) e 2) da base para o vértice (o inconsciente
emerge atuando sobre o plano da consciência). O crescimento incessante do
cone significa que cada qual carrega atrás de si todo o seu passado, que é
conservado integralmente
 livre-arbítrio – encontra-se no “eu-profundo” e constitui a verdadeira
personalidade do homem. Bérgson apresentava-se como defensor e
reformulador do livre-arbítrio, contraponde-se às teses deterministas que
estavam em voga na sua época
 inteligência e o instinto – formas diferentes mas complementares de ação sobre
a matéria
 intuição – síntese da inteligência e instinto
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 inteligência – trabalha analiticamente, fragmenta, espacializa e fixa a realidade,
que é nela um puro tornar-se. Essa atividade do intelecto, típica do “eu
superficial”, não proporciona o conhecimento da natureza mesma dos objetos,
porque os conceitos não correspondem à essência do objeto
 essências – só podem ser atingidas através da intuição, que possibilita o
encontro ao “eu profundo” com a intimidade do objeto
 a intuição permitiria a apreensão do que é vida, dinamismo, mudança
qualitativa, duração e criação. Por isso, a metafísica teria na intuição o seu
principal método
Husserl – criador da Fenomenologia; possível base epistemológica ds Psicologias
Humanistas; críticas às ciências naturais e às concepções deterministas da Psicologia
 criticava uma tendência em denominar todos os fenômenos como materiais,
toda realidade como física
 dizia ser este pressuposto dos pesquisadores ditos materialistas uma concepção
idealista, já que a objetividade que supõem é essencialmente ideal
 como provariam cientificamente, através da experimentação, observação e com
consenso de um ou mais pesquisadores, ser tal método o único que permite
conhecer e ser esse conhecimento correspondente ao real?!
 Somente concebendo-o como um pressuposto, portanto, concebendo-o
idealisticamente
 Criticava também o “psicologismo” – tendência em reduzir tudo, e
conseqüentemente a possibilidade de conhecimento, a processos mentais
 Para ele não há verdade independente do processo psíquico e sua organização
– nesta medida esta crítica refuta a proposta bergsoniana
 Pregava que o conhecimento só seria possível através de uma redução
fenomenológica por parte do sujeito que conhece > um despojar-se de todas as
suas pré-concepções
 O que o sujeito conhece refere-se àquilo que apreendeu do objeto a partir de
sua vivência e pressupostos
 Redução fenomenológica – é colocada como o único e imprescindível meio de
se chegar à “essência” do objeto e não apenas à sua “aparência” > como se
mostra a uma determinada consciência um determinado objeto
 Todo fenômeno possui uma essência, que possibilita designá-lo, e o
conhecimento deveria visas, dessa forma, à apreensão da “coisa mesma” ou
“coisa em si”
 Consciência intencional – a relação sujeito-objeto refere-se a uma relação na
qual o sujeito constitui o objeto, sendo a consciência sempre consciência de
alguma coisa e o objeto sempre um objeto para uma consciência >
intencionalidade
Franz Brentano – “em qualquer fenômeno caracteristicamente humano deve se incluir
a presença da mente, (...) sendo tais pressupostos mentais irredutíveis e caracterizados
pela intencionalidade, ou seja, o psíquico é caracterizado pela diretividade em relação
a um objeto ou referência a um conteúdo”. “O ato de perceber implica
necessariamente a presença do objeto percebido e o ato de pensar supõe o objeto
pensável”
Concepção fenomenológica – implica em limitar todo o conhecimento ao sujeito e
suas significações; o que ele vê, percebe e significa, a sua relação com o objeto não
pressupõe uma existência independente do objeto em relação ao sujeito que o percebe;
é como o objeto existisse a partir da maneira que o sujeito o percebe
Redução fenomenológica – método fenomenológico – não pressupõe um conceito do
que é verdadeiro ou falso ou uma teoria e consenso válido para todos os indivíduos
Maslow e Rogers – possuem propostas condinzentes com esta concepção
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 As três revoluções em psicologia
Três momentos que são apontados como momentos de revolução, por teóricos da
Psicologia Humanista:
1ª revolução – por volta de 1913 – advento do Behaviorismo. Surgiu em reação à
excessiva preocupação da Psicologia no século XIX com a consciência e com a
introspecção como método de chegar aos dados da atividade mental consciente. Os
behavioristas jogaram fora não só a consciência, mas também os recursos da mente:
sendo o comportamento manifesto aquele que podia ser visto e medido, ele era tudo o
que contava. Ao enfatizar os seus estudos no comportamento humano, deixando de
lado as preocupações com a consciência e os fenômenos mentis, acabou por conceber
o ser humano como produto das determinações ambientais, de forma que o ser
humano, sua subjetividade e sua constituição deveriam ser compreendidos como
frutos das interações com a realidade na qual estavam inseridos. O behaviorismo,
embora tenha centrado seus empenhos no estudo do comportamento humano, não
deixou de seguir, em suas origens, os modelos mecanicista e newtoriano. Os
comportamentos humanos, os fenômenos psicológicos são vistos como funções de
estímulos do mundo externo e a preocupação com a descrição e o registro objetivo por
observadores independentes é bastante pertinente
2ª revolução – Psicanálise – Sigmundo Freud (1856-1939) – descende das ciências
naturais. Freud partiu de uma formação médica e preocupou-se em permanecer fiel
dos conceitos básicos da física clássica enquanto procurava descrever os fenômenos
psicológicos. O ponto de vista topográfico que baseou a proposição da divisão do
aparelho psíquico em três estruturas básicas (id, ego e superego), assim como os
demais pontos de vista que norteiam sua teoria – dinâmico, econômico e genético –
fundamentam-se em leis físico-químicas da época
A Psicanálise tomará como objeto de estudo o inconsciente, que é então reconhecido
como a grande força que move muitos dos fenômenos mentais e dos comportamentos
humanos; minimiza-se, assim o papel da consciência na constituição da pessoa, de
suas ações, seus desejos e sentimentos, em detrimento da força atribuída aos processos
e determinações inconscientes
Para Freud o homem era uma criatura de instintos e, em particular de dois instintos
primários, o de vida e o de morte (de Eros e de Tânatos). Esses dois instintos estavam
em conflito, não só entre si, mas também com o mundo e com a cultura. A sociedade
baseava-se na renúncia dos instintos, através do mecanismo da repressão; mas os
instintos não se rendiam sem luta
Behaviorismo e Psicanálise – o ser humano é, essencialmente, um ser determinado
A Psicanálise surgiu mais ou menos ao mesmo tempo que o Behaviorismo
Behaviorismo – determinismo ambiental; todo destaque ao ambiente externo (aos
estímulos recebidos de fora) como fator determinande do comportamento
Psicanálise – determinismo psicogenético; enfatiza o ambiente interno, ou os
estímulos recebido de dentro sob a forma de impulsos e instintos
3ª revolução ou 3ª força – Psicologia Humanista – vem expressar o rompimento que a
Psicologia Humanista pretendia estabelecer em relação às duas grandes tendências da
Psicologia dominantes até então: o Behaviorismo e a Psicanálise
Pressupostos mecanicistas, reducionista e deterministas do Behaviorismo e da
Psicanálise – fontes de ataque da Psicologia Humanista
Psicologia Humanista
1) maior ênfase à consciência, oferecendo uma contribuição no sentido de fortalecer o
reconhecimento de sua importância na Psicologia acadêmica
2) consideração de que a vida humana possui uma dinâmica na qual, em cada fase, o
ser humano deve alcançar um certo grau de realização, a fim de que possa se estruturar
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como pessoa plena e integrada, de forma que o homem é entendido como um processo
e evolução
3) preocupação em entender a vida humana em sua totalidade e o homem enquanto um
ser uno
4) resgate das possibilidades humanas – a valorização de sua força de vontade, de sua
razão, sua liberdade de escolha e compreensão, de sua responsabilidade pessoal, de
aspectos da experiência peculiarmente humana, como o amor, o ódio, o medo, a
esperança, a felicidade, o bom humor, a afeição e o sentido da vida – e a consideração
da pessoa no contexto da família, do trabalho e dos ambientes sociais
Rogers – “Se eu deixar de interferir nas pessoas,
elas se encarregarão de si mesmas,
Se eu deixar de comandar as pessoas,
elas de comportam por si mesmas,
Se eu deixar de pregar às pessoas,
elas se aperfeiçoam por si mesmas,
Se eu deixar de me impor às pessoas,
elas se tornam elas mesmas.”
O homem seria dotado das possibilidades de se desenvolver, de se realizar, tendendo
naturalmente para o equilíbrio e a auto-organização e devendo caminhar nesse sentido
Figueiredo – “A natureza é sempre boa, é sempre positiva, é uma fonte inesgotável de
criações e prazeres; a sociedade pode não ser tão boa, mas nada impede que se torne, e
isto dependerá essencialmente da transformação do indivíduo, que nada mais é que a
sua autêntica realização, que a atualização infinita do potencial de vida que habita
cada sujeito. Tais concepções, naturalmente, legitimam o projeto de ‘autocurtição’ e a
auto-complacência, ao mesmo tempo que desautorizam qualquer projeto de crítica
racional e transformação da realidade.”
Psicologia humanista – teria sido uma grande experiência, mas sem conseguir resultar
em uma “escola de pensamento humanista em psicologia”, ou em uma teoria que
pudesse ser reconhecida como filosofia da ciência
A maioria dos psicólogos humanistas trabalham em clínicas particulares e não em
universidades, o que os levou a produzir um número de pesquisas bem inferior;
formaram muito menos alunos que seguissem sua tradição, em relação aos psicólogos
acadêmicos
Os psicólogos humanistas estavam se opondo, na década de 1960, a movimento que já
não dominavam em sua forma inicial e não tinham tanta influência na Psicologia. A
Psicanálise freudiana e o Comportamentalismo skinneriano já estavam iniciando uma
mudança na direção indicada pelos psicólogos humanistas, na medida em que
trabalhavam com as questões da interferência do sujeito na construção de si e do
conhecimento
 Precursores teóricos Abrahm Maslow: a psicologia da auto-realização
Maslow: “Eu penso no homem que se auto-atualiza não como um homem comum a
quem alguma coisa foi acrescentada, mas sim como o homem comum de quem nada
foi tirado. O homem comum é um ser humano completo com poderes e capacidades
amortecidos e inibidos.”
Abraham MASLOW (1908-1970) – pai espiritual da Psicologia Humanista; viveu em
Nova York num período em que a cidade era um estimulante centro intelectual por
abrigar estudiosos europeus refugiados da perseguição nazista. Foi sobretudo durante a
Segunda Guerra Mundial que ele se deu conta da reduzida contribuição que a
Psicologia vinha fornecendo à solução de importantes problemas mundiais, quando
procurou a Psicologia Social e da Personalidade, dedicando-se a “descobrir uma
psicologia para a conferência da paz”
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Preocupou-se em desenvolver uma abordagem que pudesse ser usada como
instrumento de promoção de bem-estar psicológico e social
Considerou a questão do crescimento e do desenvolvimento pessoal
Estudou uma amostra de dezoito pessoas que considerava as mais saudáveis e
criativas, para compreender as mais elevadas realizações que os seres humanos são
capazes de alcançar
Critério para a pessoa participar da amostra de seu estudo inicial – não apresentar
neuroses ou outros problemas pessoais maiores e conseguir utilizar, da melhor forma
possível, seus talentos, capacidades e potencialidades
Faziam parte da amostra: Abraham Lincoln, Thomas Jefferson, Albert Einstein, Jane
Adams, William James, Braruch Spinoza e outros – consideradas saudáveis, criativas
e altamente auto-atualizadas
Auto-atualização – elemento central da teoria de Maslow – experienciar de modo
pleno, intenso, fazendo de cada escolha uma opção para o crescimento, realizando e
concretizando o seu potencial, a partir de uma sintonia com a própria natureza íntima e
de um compromisso com os próprios atos, a fim de se reconhecer as defesas que
impedem o processo de crescimento e de se trabalhar para abandona-las; representa
um compromisso com o crescimento e com o desenvolvimento máximo das
capacidades interna e individuais de cada pessoa
Experiências “cumbre” – situações em que a auto-realização é alcançada; são
experiências de amor pleno, experiências religiosas, ou simplesmente vivências
cotidianas
O estado de auto-realização não é estático; não se pressupõe que uma pessoa que
alcance o estado de auto-realização assim permanecerá – trata-se de estados que
podem ocorrer no dia-a-dia, voltando-se a um estado não-atualizado posteriormente
A sociedade e a cultura não são capazes de criar o ser humano, apenas podem ajudá-lo
a concretizar o que já existe em si; toda pessoa possui uma tendência inata para tornarse auto-realizadora
Alcance do nível elevado da existência humana – desenvolvimentos de suas
qualidades e capacidades e a realização de seu potencial
Maslow definiu uma hierarquia de necessidades que a pessoa deveria satosfazer para
se tornar auto-realizadora:
 Necessidades fisiológicas (fome, sono, sede, sexo etc.)
 Necessidades de segurança (estabilidade, ordem, proteção, libertação do medo
e da ansiedade etc.)
 Necessidades de amor e pertinência (família, amizade);
 Necessidades de estima dos outros e de si (auto-respeito, aprovação etc);
 Necessidades de auto-realização (desenvolvimento de capacidades)
Para Maslow as neuroses e desajustamentos psicológicos seriam causados pela
privação de algumas destas necessidades básicas
Satisfeitas as primeiras necessidades, vão emergindo as mais superiores; e estas
satisfeitas, emergem outras ainda mais “nobres”
A auto-realização só é possível através do Outro; é o outro que provê e satisfaz as
necessidades primárias da outra pessoa, possibilitando assim que ela se auto-realize –
como uma mãe que satisfaz a fome do bebê com alimento, permitindo então que ele
possa ter experiência cumbre, no caso, a de amor pleno.
Pessoa auto-realizada – em sua experiência foi possível perceber a existência de uma
totalidade maior que a coexistência de contrários; não se refere ao fato de que a pessoa
não possui necessidades, frustrações e sentimentos contraditórios
Motivação de deficiência – corresponde a uma necessidade de modificar uma situação
que se mostra insatisfatória ou frustradora
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Motivação de ser – refere-se a uma motivação para o crescimento, a um desejo de
procurar uma meta considerada positiva
Cognição S e D (Ser e Deficiência), valores S e D e amor S e D – apenas os indivíduos
auto-realizados são capazes de conhecer, expressar um amor pleno sem conceber o
objeto a partir de suas necessidades satisfeitas ou insatisfeitas, pois se o indivíduo
estiver com alguma deficiência, ele conceberá o objeto a partir da função e
possibilidade de satisfazer-se, deformando este objeto
Maslow afirmou que considerava a Psicologia Humanista uma transição ou preparação
para uma “quarta força”, a Psicologia Transpessoal, que iria além da identidade do
humanismo, das necessidades e interesses humanos, estando mais centrada no cosmos.
Ela estaria preocupada com a investigação das capacidades e potencialidades humanas
máximas, incluindo o estudo da religião e da experiência religiosa
Maslow pode ser considerado um pioneiro da psicologia do potencial humano
Apontou para uma imagem essencialmente otimista do homem
Investigou as dimensões positivas da experiência humana
Suas concepções de saúde psicológica e de realização são contrárias às muitas idéias e
aspectos doentios, hostis e preconceituosos que encontramos na vida cotidiana
A teoria de Maslow foi muito aplicada nos negócios e na indústria, sustentando a
crença de que a necessidade de auto-realização é uma força motivadora e uma
importante fonte potencial de satisfação
Grau de validade científica – bastante baixo
Adquiriu mais força no mundo do trabalho, na educação, na medicina e nas
psicoterapias
Maslow se concentrou na escrita e na pesquisa muito mais que no trabalho de terapia
Terapia – considerava-a eficaz por envolver um relacionamento íntimo e confiante
com outro ser humano, representando um modo de satisfazer as necessidades de amor
e estima que foram frustradas, geralmente em todos os que procuram ajuda psicologia
O terapeuta deveria ser capaz de ajudar sem interferir, respeitando a individualidade
de cada um e suas capacidades particulares, cuidando da essência ou do ser daqueles
com quem trabalha
As relações humanas íntimas poderiam fornecer grande parte do mesmo apoio
encontrado na terapia
O método proposto centra-se em viabilizar que o indivíduo possa realizar suas
potencialidades internas e inatas
Processo de auto-realização – impossível de descrição, pois é autodeterminado e
justifica-se por si só
 Carl Rogers: a perspectiva centrada no cliente
Carl Rogers (1902-1987) desenvolveu sua teoria a partir principalmente de sua
experiência clínica
Não era seguidor de nenhuma escola específica
Desenvolveu trabalhos se relacionando com psicólogos, psicanalista, educadores,
religiosos, psiquiatras, assistentes sociais
Não destaca nenhum nome como sendo seu antecessor
Seu trabalho questiona a autoridade do terapeuta e a suposta falta de consciência do
cliente no processo terapêutico; sugere estar no cliente a grande força da relação; é o
cliente quem dirige e conduz a terapia, como é capaz de conduzir sua vida
Maslow e Rogers – cada pessoa possui uma tendência inata para atualizar as
capacidades e potencialidades do eu
Rogers desenvolve uma teoria da personalidade que se concentra numa única
motivação avassaladora: a atualização do eu
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Impulso para a auto-realização – é inato; pode ser ajudado ou prejudicado por
experiências infantis e pela aprendizagem
Auto-atualização – o nível mais alto da saúde psicológica
Forças positivas em direção à saúde e ao crescimento – inerentes ao organismo
Cada pessoa guarda em si um impulso para ser competente, capaz, completa e autoatualizada
O organismo tem uma tendência geral para funcionar de maneira a se preservar e se
valoriza
Maslow e Rogers – sustentam uma visão bastante otimista e positiva da natureza
humana
Rogers distingue-se de Maslow – 1) desenvolve suas idéias a partir do trabalho com
indivíduos emocionalmente perturbados e não com indivíduos saudáveis; 2)
concepção um pouco diferente acerca das características das pessoas psicologicamente
saudáveis ou que alcançaram seu pleno funcionamento -> elas “se caracterizam por
uma abertura a toda experiência, uma tendência a viver plenamente cada momento, a
capacidade de serem guiadas pelos próprios instintos, e não pela razão ou pelas
opiniões dos outros, um sentido de liberdade de pensamento e de ação e um alto grau
de criatividade
Personalidade – moldada pelo presente e pela maneira como percebemos o presente
conscientemente; Rogers mostra-se preocupado, acima de tudo, com a percepção, a
tomada de consciência e a experiência
Pessoas – capazes de crescimento, mudança e desenvolvimento pessoal
Crescimento pode ser muitas vezes impedido ou interrompido -> na medida em que os
comportamentos e valores reais de um indivíduo distanciarem-se muito da imagem do
seu “self ideal” (características que ele gostaria de ter), esses comportamentos e
valores reais podem se tornar um obstáculo ao desenvolvimento e desenvolvimento da
pessoa
Personalidade que funciona plenamente – personalidade em contínuo estado de fluxo,
constantemente mutável, um processo
Terapia centrada no cliente – principal contribuição de Rogers
O indivíduo tem dentro de si a capacidade, ao menos latente, de compreender os
fatores de sua vida que lhe causam infelicidade e dor, e de reorganizar-se de forma a
superar tais fatores
Coloca um peso maior sobre o impulso individual em direção ao crescimento, à saúde
e ao ajustamento
Terapia – libertar a pessoa para um crescimento e desenvolvimento normais e o cliente
seria alguém capaz de entender a própria situação com uma mínima interferência do
terapeuta
O indivíduo – não é um organismo passivo a ser manipulado -> é ele quem assume a
direção necessária: modifica as metas da terapia e inicia as mudanças
comportamentais que deseja que ocorram -> as intervenções do terapeuta seriam, em
última instância, prejudiciais ao crescimento da pessoa
Terapeutas – lutar por um relacionamento de aceitação e compreensão, sendo acima de
tudo autêntico, expressando-se verdadeiramente e, assim, preocupando-se com o
conhecimento dos próprios sentimentos, da forma como está vivenciando a situação
Rogers – grande valorizados dos relacionamentos
Relacionamentos – seriam capazes de tornar mais visível a personalidade de quem se
relaciona, permitindo às pessoas olharem para si próprias, conhecerem o outro e se
conhecerem melhor - > permitiriam, portanto, que os envolvidos funcionassem por
inteiro, de forma plena
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Trabalho com grupos – Rogers é defensor da capacidade terapêutica do grupo, que
poderia proporcionar um verdadeiro processo de encontro
O grupo é um espaço em que as expressões emocionais vêm à tona e ficam sujeitas às
reações dos outros componentes, exigindo que a pessoa seja ela mesma e procure um
encontro profundo e essencial consigo mesmo
Os grupos são, portanto, capazes de resultar em mudanças reais para os membros que
dele fazem parte
As idéia de Rogers exerceram grande influência na educação, na indústria, em
dinâmica de grupos e trabalho social, na filosofia da ciência
Críticas – papel secundário que destinava a aspectos patológicos do ser humano;
ênfase na auto-atualização como uma tendência inata; critérios científicos de sua
pesquisa
Auto-atualização e conhecimento – só é possível através de uma relação de
cumplicidade entre duas pessoas
Desenvolvimento de conhecimento – a qualidade do encontro entre as duas pessoas é
fundamental -> deve haver congruência, empatia, consideração positiva, consideração
incondicional e a percepção por parte do outro dessas atitudes
Congruência – fato de ser acessível a ambos os sujeitos da relação os sentimentos
vivenciados, tornando-se possível serem comunicados
Empatia – percepção do mundo e dos sentimentos do outro como se fossem seus, sem
jamais esquecer, porém, o fato de que não são seus
Consideração positiva – aceitação afetuosa e positiva do outro e seu mundo
Consideração incondicional – o não julgamento do outro
Este outro deve perceber conscientemente essas considerações que permeiam a
relação, pois somente esse sentimento de cumplicidade poderá leva-lo à transformação
e ao conhecimento
O próprio paciente deve decidir sobre sua vida e o rumo da terapia
Conhecimento – individual; a cumplicidade entre as pessoas apenas propicia que o
conhecimento seja percebido
Não há interferência do outro, ou um pressuposto daquilo que deve ser percebido ou
conceituado pelo paciente -> somente cada indivíduo é capaz de perceber o seu modo
próprio e deve concebe-lo sozinho
Maslow e Rogers – o outro é o possibilitador de qualquer forma de conhecimento e
transformação; através da cumplicidade ou satisfação de suas necessidades básicas; o
próprio sujeito que pode perceber o processo e fazê-lo acontecer, caracterizando a
possibilidade do conhecimento como individual
PSICANÁLISE
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A Europa no fim do século XIX – o surgimento da Psicanálise
Período que antecede o século XIX – passagem da Renascença, início da Idade
Moderna, fim da Idade Média, Iluminismo no século XVII, Reformas Religiosas,
desenvolvimento da consciência individual e coletiva, Revolução Francesa, Revolução
Industrial, advento do Capitalismo
Produtos destes grandes movimentos – reestruturação e delimitação do poder e do
mercado consumidor
Em relação ao desenvolvimento das idéias – proposição de novos modos de
conhecimento, valorização do conhecimento científico e tecnológicos em
contraposição ao conhecimento teológico
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Século XIX – diversas batalhas e lutas na Europa, lutas entre regiões, enfrentamentos
de classes, Revolução de 1848 na França (proletária), grave crise agrícola na Europa,
êxodo rural, crescimento demográfico das cidades, desemprego, escassez de mercados,
excesso de produção
Alemanha – efeitos tardios da Revolução Francesa e da Revolução Industrial; somente
enfrentados no século XIX; produção de conhecimentos no âmbito das ciências
naturais, a Física, a Biologia, a Química, e desenvolvimento do conhecimento como
especialização e formação profissional do povo para o trabalho nas indústrias;
proliferam-se as universidades; filosofia romântica e idealista é abandonada;
desenvolvimento; estudos no campo das ciências naturais, como a fisiologia, que
mantinha estreita relação com o estudo da física; desenvolvimento da indústria;
coletivismo prevalece sobre o individualismo; organizações e reivindicações coletivas;
transição para o capitalismo; cenário de conflitos e mudanças constantes
Viena no final do século XIX – centro do império Austro-Húngaro; monarquia
absolutista baseada no direito divino dos reis, pelos privilégios aristocráticos e pelo
mercantilismo; “cidade do lazer”; cultura florescia principalmente através da música e
do teatro; burguesia vienense ganha força
Sigmund Freud – Viena final do século XIX; dificuldades para que sua teoria fosse
reconhecida no meio científico vienense > ênfase dada pela Psicanálise ao papel da
sexualidade na vida humana representava uma ofensa à burguesia de Viena >
Psicanálise trabalhava com conceitos e hipóteses, como o inconsciente, que não se
enquadravam nos moldes de ciência daquela época > Freud propunha o homem como
um ser em conflito entre forças antagônicas (as pulsões e a cultura repressora) e
atribuía grande importância aos acontecimentos da infância e sua presença no mundo
mental adulto, características que o aproximavam do movimento romântico e o
afastavam das ciências naturais
Freud - fez Medicina; área clínica e hospitalar, especializando-se em neuroanatomia e
doenças orgânicas do sistema nervoso; inicialmente estudava o cérebro de indivíduos
com patologias psiquiátricas após a morte; abandonou a anatomia e iniciou trabalhos
clínicos; neurologia clínica
Anna O. – paciente de Josef Brauer; hidrófoba; sintomas de histeria: paralisia,
ausência de memória, náuseas, distúrbios de fala e visão; Brauer tratava-a pela
hipnose, através da qual lembrava-se das experiências vivenciadas que a impediam de
beber água
Freud – durante muito tempo adotou o método hipnótico para tratar seus pacientes;
porém, nem todos podiam ser hipnotizados; em muito casos os sintomas reapareciam;
abandonou o método hipnótico, mantendo a catarse, que futuramente originaria a
técnica de livre associação, que consistia na associação livre de idéias que traziam à
tona conteúdos inconscientes, causadores de distúrbios
1885, Paris, conhece Jean Martin Charcot - observando o tratamento oferecido por
Charcot a seus pacientes histéricos, Freud hipotetizou a base sexual dos distúrbios
1895 – publica com Breur Estudos sobre histeria, oficializando o início da Psicanálise
1896 – apresenta um artigo à Sociedade de Psiquiatria e Neurologia de Viena,
relatando as experiências de sedução de suas pacientes, as quais eram realizadas
principalmente pela figura paterna; em seguida descobriu que estas experiências não
ocorriam de fato: tratava-se de fantasias, mas podiam causar traumas e por isso
pareciam tão reais
1900 – escreve A interpretação dos sonhos
No período da Primeira Grande Guerra (1914-1918) havia três grupos psicanalíticos,
que divergiam quanto às conclusões provenientes da observação
Década de 1920 – sistema freudiano englobou estudos sobre a personalidade humana
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1933 – os nazistas tomaram o poder e a teoria psicanalítica foi condenada pelo poder
totalitário, por supervalorizar a vida sexual, e banida da Alemanha
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A Epistemologia
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Psicanálise – surge a partir dos parâmetros sócio-histórico-político-culturais dos
séculos XIX e XX; resultado de uma evolução de conceitos e diretrizes filosóficas e
cintíficas e “ruptura” em relação ao conhecimento até então existente e predominante
(Positivismo e projeto de Psicologia proposto por Wilhelm Wundt)
Positivismo – origem no século XIX; Auguste Comte; estado positivo é marcado pelo
predomínio da observação subordinando a imaginação e a argumentação; para
apreender e explicar os fenômenos psicológicos, o espírito positivo deve buscar suas
relações imutáveis; reafirma as proposições kantianas quanto à causalidade das coisas,
em oposição à concepção mecanicista aristotélica
Influências na obra de Freud – Mecanicista > formulação do Complexo de Édipo, a
partir do qual toma a primeira infância como um conjunto de ocorrências que se
repetem em todos os seres humanos desde o seu nascimento até aproximadamente os 5
ou 6 anos de idade. Positivismo > constante tentativa de Freud equiparar o psiquismo
a algo orgânico, em alguns momentos mais intensa, como no início de sua obra.
Modelo predominantemente causal nas teorias acerca da constituição e da dinâmica do
aparelho psíquico > para Freud, sempre há uma causa para quaisquer eventos
ocorridos na vida o ser humano, não pode haver eventos mentais sem causa que os
determine
Método de análise criado – a interpretação e análise do discurso e de quaisquer
conteúdos mentais evitando-se ao máximo quaisquer interferências externas à situação
terapêutica. 1) confronto do discurso do indivíduo analisado com os fatos por ele
vividos; 2) conclusão de que não há comprovações acerca de uma relação verídica
entre o que é dito pelo paciente e aquilo que efetivamente ocorre; 3) invetigar
simbologia/significação que a pessoa atribuiu à experiência relatada; 4) análise do
discurso internamente nas suas várias manifestações > as regras de interpretação se
tornam uma necessidade psicanalítica, uma vez que esta teoria atravessa a fronteira do
biológico e vai em busca da interpretação de símbolos (como uma distorcao do real,
procurando um sentido além da consciência e atingindo uma verdade inconsciente); a
hermenêutica se torna absolutamente necessária > “ruptura” da Psicanálise em relação
aos modelos científicos vigentes
Inconsciente – objeto de estudo > a obra de Freud opõe-se também ao empirismo
Franz Brentano – necessidade da observação, sem que fosse necessária a
experimentação; projeto de Psicologia empírica; estudar a atividade mental como
processo; importante o ato da experiência de ver ou falar e ouvir; não rejeita a
experimentação, mas acredita que o objeto da Psicologia deveria ser o ato mental – ato
mental de ver, por exemplo, em vez do conteúdo mental daquilo que é visto
Freud em sua prática psicanalítica tem como objeto de estudo o inconsciente humano,
que pretende atingir pela observação através do método de associações livres (o
paciente fica deitado em um divã, durante a sessão terapêutica, e relata o mais
fielmente possível tudo o que lhe ocorre à mente naquele momento, mesmo e
sobretudo se tais ocorrência aparentemente forem desordenadas e desconexas). O
inconsciente é observado por Freud como instância real. Seguindo as influências
positivistas, Freud busca compreender os processos mentais. Baseia todo seu trabalho
na observação (Brentano)
O trabalho do médico e psicanalista é em parte influenciado pelo positivismo, no que
diz respeito à observação, já que este é um dos primeiros elementos de seu trabalho,
que é procedido pela interpretação e análise dos conteúdos psíquicos
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Freud ocupa-se do que é vivido pelo sujeito, como é percebido, assimilado,
processado e quais são seus produtos, daí a formulação do inconsciente como objeto
de estudo
Wundt – coexistência de causalidade física e causalidade psíquica. Psicologia
fisiológica experimental, que reconhece a existência de uma causalidade psíquica, mas
atém seus estudos às influências e à causalidade física enquanto determinante na
experiência imediata. Psicologia social ou psicologia dos povos, que estuda os
processos criativos exaltando a compreensão sobre a causalidade psíquica. Não
consegue fazer comprovações substanciais quando propõe uma unidade psicofísica,
porque utiliza modelos diferentes para análise
Freud – segue a vertente da psicologia dos povos (proposta por Wundt), mas baseia
seus trabalhos nas ciências naturais
Um passeio pela teoria psicanalítica freudiana
Sujeito que sofre > busca algum alívio de suas dores > vai encontrar – na Psicanálise –
um certo tipo de resposta para isso
Histeria – no final dos anos 1890 chamava a atenção dos médicos a existência de uma
série de pessoas que, apesar de apresentarem sintomas no corpo – dores, paralisias,
convulsões -, não tinham para os mesmos um funcionamento que seguisse uma lógica
anátomo-fisiológica; os sintomas não obedeciam às leis de funcionamento do corpo, o
que tornava as pessoas que os apresentava verdadeiras aberrações, incômodos ao
conhecimento já estabelecido
Freud – talvez os sintomas nos corpos quisessem dizer algo, possuíssem algum
significado; ao atribuir aos sintomas no corpo um sentido que não lhes era aparente,
Freud propôs a existência de uma lógica psíquica – para além da lógica anátomofisiológica; busca por desvendar esse funcionamento psíquico, entender seus sentidos,
suas leis e – dessa maneira – pode intervir sobre ele
Início da Psicanálise – Freud investigará o psiquismo humano por duas frentes: 1) por
meio do estudo aprofundado das patologias e da busca de um sentido para as mesmas
– especialmente para a histeria; 2) por meio do estudo dos sonhos, que se converterão
em paradigma do funcionamento psíquico inconsciente
Os movimentos do psiquismo
Freud percebeu que o sintoma que as histéricas apresentavam, um sintoma estranho,
sem correspondência exata com o corpo anatômico, desaparecia quando as pacientes
podiam se lembrar do fato que o provocou juntamente com o afeto que acompanhava
tal fato
No ser humano existem os fatos e os afetos, ou a lembrança ou representação dos fatos
e os afetos ligados aos mesmos
Temos um movimento do tal afeto entre o fato que o originou e o corpo; o afeto tem
uma mobilidade psíquica
O afeto investe, ocupa uma representação ou não. Investimento > importância,
atribuição de valor
Afeto que se investe é o que diz se um fato é ou não importante, revelando seu valor
O afeto, ao se movimentar, transpõe o valor daquilo que o originou para alguma outra
representação
Há uma força, denominada afeto, que se movimenta pelas representações, os fatos, as
coisas, os nomes, o corpo
O ser humano, então, é movido por alguma força, algo que o movimenta e investe
psiquicamente
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As histéricas têm um sintoma que desaparece quando se lembram daquilo que o
provocou e do afeto que o acompanhava. Mas, Freud percebe que, muitas vezes, suas
pacientes não se lembram do que causou o sintoma, como se não quisessem se lembrar
Há uma resistência a que elas se recordem do que gerou o sintoma, porque isso faz
sofrer
Psiquismo – ele não quer sofrer, faz tudo para evitar sofrimento, até mesmo esquecer o
que foi aquele fato tão doloroso que estava associado a um afeto, que por sua vez foi
parar num sintoma, como se o sintoma fosse causa de sofrimento e não uma tentativa
mal sucedida de escapar dele
O psiquismo funciona segundo o princípio do prazer
Lei do princípio do prazer – quando algo vai contra essa lei, ele é ... esquecido
Consciente, pré-consciente e inconsciente – lugar para cada um desses conteúdos do
psiquismo
Sonhos – são semelhantes aos sintomas: ambos parecem não ter sentido algum e, no
entanto, podem ser decifrados
Para analisar os sonhos, Freud toma como método anotar tudo o que lhe vier à cabeça
a partir de cada imagem que o sonho contenha
O sonho traz um conteúdo manifesto, aquele do qual nos lembramos, e um conteúdo
latente, aquele que aparece na medida em que deixamos a mente vagar pelas imagens
do sonho. O manifesto remete ao latente
Sobredeterminação – nada acontece devido a um único motivo. Vale para o sintoma e
também para o sonho. Há uma rede de associações
O sonho é a realização de um desejo
Intenção do psiquismo – a busca de satisfação
Desejo – movimento que vai do incômodo até a experiência de satisfação recriada –
que é a realização do desejo. O desejo é algo que vai de uma falta a um
preenchimento, do desprazer ao prazer. Ex.: bebê
“gap” – lacuna entre o que é almejado e o que é encontrado na experiência com a
realidade. Esse “gap”, essa falta é o que faz com que o desejo exista. Nunca
encontramos plenamente o que buscamos e é isso o que faz com que possamos
sempre desejar
É a falta que faz com que haja movimento, desejo, e, conseqüentemente, vida
O que criamos, por exemplo, em termos de cultura e civilização, pode ser entendido
como uma tentativa de alcançar essa correspondência absoluta do desejo com aquilo
que é realizado
O bebê percebe que alucinar a percepção não resolve a fome e então chora, grita, se
mexe até que a mãe lhe traga comida
O psiquismo visa ao prazer
Princípio de realidade – um adiamento do prazer imediato em troca de algum prazer
possível é a proposta do princípio da realidade
O sonho é uma realização de desejo; ele apresenta o desejo como realizado; no sonho,
o desejo já se saciou, de uma forma alucinada; o sonho é uma realização alucinatória
de desejo; o sonho é o guardião do sono
Esquema apresentado por Freud – Cs-Pcs / Ics -> censura/resistência
O desejo que aparece realizado no sonho é um desejo inconsciente; ele não pode ser
percebido; Freud chama de recalque
Os sonhos são ao mesmo tempo mantenedores do desconhecimento e reveladores
daquilo que visam disfarçar
Os sonhos são a formação de compromisso entre as duas instâncias: a Cs/Pcs
(consciência/pré-consciência – que censura – e o Ics (inconsciente) – que tem seus
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conteúdos recalcados pressionando constantemente por retornarem, ou tornarem pela
primeira vez, à consciência
Quanto maior excitação, maior desprazer; quanto menor excitação, mais prazer
O excesso é percebido como incômodo e desagradável
Mapa do psiquismo proposto por Freud em A interpretação dos sonhos: percepção /
memória / inconsciente / pré-consciente / consciência
A energia psíquica circula, usualmente, do pólo perceptivo para o pólo da consciência
No sonho e na alucinação o movimento do psiquismo é chamado de regressão e
retorna até a percepção
O ato, decorrente de uma percepção alucinada da realidade, pode levar às formulações
delirante acerca dessa mesma realidade que vemos, por exemplo, na psicose
Os lugares psíquicos
O recalque, para Freud, é pedra angular da Psicanálise
O recalque serve para afastar algo da consciência
Uma dupla de forças – atração e repulsão – garante que aquilo que é recalcado
encontre uma barreira para retornar
Recalque diz respeito a uma representação pulsional, a uma idéia que foi catexizada
com uma quota de libido proveniente da pulsão
O recalque serve para que o sujeito fuja do desprazer
Primeira tópica
Inconsciente quer dizer aquilo que está latente, temporariamente inconsciente; e
também trata-se daquilo que é recalcado e não pode tornar-se consciente sob pena de
causar desprazer
A consciência é uma qualidade psíquica, não um lugar, um sistema; ela diz respeito a
um foco, um momento no qual determinado conteúdo é percebido
Os processos do sistema Ics. são atemporais, sendo a referência vinculada ao sistema
da consciência; os processos inconsciente dispensam pouca atenção à realidade,
estando sujeitos ao princípio do prazer; eles são cognoscíveis por meio de seus
derivados: os sonhos, sintomas, atos falhos e outras produções
O sistema pré-consciente / consciente é responsável por colocar em comunicação as
diferentes idéias representações, de modo que umas possa influenciar as outrs e se
estabelecer segundo uma ordem no tempo e no espaço, conforme algum grau de
coerência; cabe a esse sistema efetuar a censura dos conteúdos que não se coadunem
com a ordem estabelecida, recalcar o que cause desprazer e efetuar o teste da realidade
Segunda tópica
Freud propõe uma nova compreensão do psiquismo que não anula a anterior, mas
recoloca-a num outro lugar e ultrapassa-a em alguns pontos
A premissa fundamental da Psicanálise é a divisão do psíquico entre o que é
consciente e o que é inconsciente
Ego – o ego controla as abordagens à motilidade, isto é, à descarga de excitações para
o mundo externo; o ego é a instância mental que supervisiona todos os seus próprios
processos constituintes e que vai dormir à noite, embora ainda exerça censura sobre os
sonhos; desse ego procedem também os recalques
A análise defronta-se com a tarefa de remover as resistências que o ego apresenta
contra o surgimento do recalcado
Há algo no ego – a resistência – que também é inconsciente > o paciente se opõe,
apresenta uma certa resistência a se lembrar, a associar, de forma que o que estava
oculto possa emergir
Tudo o que é recalcado é inconsciente, mas nem tudo que é inconsciente é recalcado
Também uma parte do ego pode ser inconsciente
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A consciência é a superfície do aparelho mental, o sistema que primeiramente é
atingido pelo mundo externo
O ego tem origem no sistema perceptivo e começa por ser pré-consciente
O id é a entidade que se comporta como se fosse inconsciente
O ego não se acha separado do id, funde-se com ele
O recalcado também se funde com o id, é parte dele, mas não é todo o id; o id guarda
em si as moções pulsionais
O ego é aquela parte do id que foi modificada pela influência do mundo externo, por
intermédio da percepção-consciência
O superego é uma gradação do ego, uma diferenciação do ego, assim como o próprio
ego constitui-se como diferenciação do id. O superego não está vinculado à
consciência, relacionando-se com a consciência moral, a autocrítica e os idéias a
serem perseguidos e almejados por um sujeito
Identificação – processo pelo qual um sujeito assimila alguma característica de um
outro, transformando-se a partir disso
O ego é um composto das muitas identificações realizadas desde a infância pelo
indivíduo
Superego – composto a partir das identificações efetuadas pelo indivíduo ao passa
pelo complexo de édipo
O id é o reservatório da libido
O superego é um resíduo das primitivas escolhas objetais do id e uma formação
reativa contra essas escolhas
A relação do superego com o ego funda-se nos preceitos: ‘você deveria ser assim’ e
‘você não pode ser assim’
O superego deriva sua existência do complexo de Édipo e tem por missão recalca-lo
O superego é herdeiro do complexo de Édipo
Entre a primeira e a segunda tópica se interpõe noções fundamentais como Complexo
de Édipo, identificações, formação do superego, moções pulsionais etc. O que faltava
à teoria de 1900, além de um maior refinamento do que seria inconsciente e
consciente, eram as proposições que levassem em conta a sexualidade e as pulsões
A sexualidade e o desenvolvimento psíquico
O recalcado tem a ver com o sexual infantil
A formação dos sintomas relaciona-se com a sexualidade e, mais ainda, que a
sexualidade é o que dá força para que um sintoma – ou qualquer outra produção
psíquica – se constitua
O objeto e o objetivo não são importantes no que tange à sexualidade – são
contingentes, circunstanciais, sendo que o essencial se localizaria em algum outro
lugar
Pulsão sexual (excitações, idéias afetivas, impulsos anelantes, estímulos endógenos) –
é aquilo que move o ser humano, uma força propulsora de um movimento constante,
que coloca o sujeito para agir e o ‘provoca’ de maneira ininterrupta; trata-se de uma
força constante, interna ao psiquismo humano, da qual não se pode fugir e que
pressiona constantemente em busca de satisfação
Pulsão – força constante que impulsiona ao movimento em um sentido, com um
objetivo: ser satisfeita. Ela visa à satisfação, à extinção das necessidades, das
urgências somáticas ou até, em última instância, à aniquilação de si mesmo e de sua
própria tendência ao movimento mediante o retorno a um estado de plenitude, no qual
nenhum movimento se faz necessário posto que o ser de nada carece
‘Gap’ – hiato, uma distância entre a satisfação plena e aquela a que se consegue
atingir. Nessa falta reside a impulsão da pulsão, a possibilidade de movimento
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A diferença entre desejo e pulsão está em que Freud define o desejo como um
movimento eminentemente psíquico, no qual é possível investir representações a partir
dos afetos circulantes por esse psiquismo. Já a pulsão é o que anima esse psiquismo.
Trata-se de uma força impulsionadora que origina toda essa movimentação psíquica,
uma força que aparece no psiquismo como desejo
A pulsão brota no indivíduo como fenômeno físico e orgânico
A pulsão trata-se de um fenômeno fisiológico e de um processo energético-econômico
A pulsão provém do corpo e coloca em movimento um processo que vai da
necessidade ao acúmulo de energia que gera uma pressão no sentido da descarga que
conduz à satisfação
A pulsão é percebida pelo indivíduo como fenômeno psíquico – idéia, vontade, dor,
medo, sensações – e impele o indivíduo a agir
A pulsão se coloca no limiar entre o somático e o psíquico
A pulsão, diferentemente do estímulo, surge dentro do organismo e atua como força
constante. Não há como fugir dessa força constante
É constitutivo do ser humano desde diversas perspectivas: conflito entre o desejo e a
defesa, entre os diferentes sistemas ou instâncias, entre as pulsões e no conflito
edipiano
O primeiro dualismo da teoria freudiana coloca-se em termos de pulsões sexuais do
ego (ou de autoconservação)
Pulsões primordiais – pulsões sexuais e pulsões de autoconservação (ou do ego)
Pulsões de autoconservação – são primárias; dizem respeito à abertura inicial,
perceptiva e motora do organismo ao seu meio; são parcialmente falhas, devido à
prematuridade do homem; não são parte do conflito psíquico; representadas no
conflito psíquico pelo ego
As pulsões do ego dizem respeito a necessidades ou funções indispensáveis à
conservação do sujeito como, por exemplo, a alimentação
As pulsões do ego são particularmente propensas a funcionar segundo o princípio da
realidade
Pulsões sexuais – a pulsão sexual não visa à reprodução, mas satisfação. A
sexualidade humana é permeada por essa pulsão, o que a torna antinatural, pouco
instintiva, atravessada pelo psíquico e, conseqüentemente, pelo simbólico
A diversidade de fontes somáticas de excitação sexual faz com que a pulsão sexual
não esteja unificada desde o início mas, ao contrário, fragmentada em pulsões parciais
cuja satisfação reside no prazer do órgão
Narcisismo – é o amor a si mesmo, é tomar a si como um objeto sexual
A libido narcisista também é manifestação da pulsão sexual
Pulsões de vida – incluem pulsões sexuais e de autoconservação
Pulsões de morte
O aparelho mental encontra-se sujeito a dois princípios que parecem equivaler-se: o
princípio do prazer e o princípio de Nirvana
Princípio de Nirvana – princípio de constância, que diz que o sistema nervoso tem por
função livrar-se dos estímulos que chegam a ele, reduzi-los ou até manter-se em uma
condição não-estimulada
O princípio de prazer é considerado uma modificação do princípio de Nirvana que
serve à pulsão de morte
As neuroses traumáticas e as brincadeiras infantis anunciam a hipótese de que pode
haver algo não regido pelo princípio do prazer relacionado à repetição de
experiências desprazerosas
Os pacientes repetem na transferência todo tipo de situações indesejadas e emoções
penosas, revivendo-as sob pressão de uma compulsão. As pessoas também fazem a
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mesma coisa na vida, longe das análises, repetindo situações que são fonte de
desprazer apenas
Existe uma compulsão à repetição que sobrepuja o princípio do prazer
Ocorre algo da ordem do traumático, um excesso de excitação que deve ser digerido e
que deixou fora de ação o princípio do prazer, uma vez que o psiquismo foi invadido
sem seu filtro usual que lhe permitiria manter suas quantidades dentro de um limite
aceitável
Pulsão de morte – tem por tarefa reconduzir a vida orgânica ao estado inanimado
Pulsão sexual – brota do corpo, de zonas erógenas situadas no corpo e que demandam
ao psiquismo algum trabalho no intuito de satisfazê-la
Primazia da organização genital - a ser conquistada com o advento do complexo de
Édipo
Sexualidade infantil perversa polimorfa – a criança é dotada de uma sexualidade, de
desejo e de busca de satisfação do desejo
Existe uma sexualidade infantil, cujas características são a perversão e a polimorfia da
qual não nos recordamos porque, com o advento do Édipo, uma das implicações é que
esqueçamos do que existiu anteriormente em termos de funcionamento psíquico
A sexualidade infantil constitui-se de um estado de auto-erotismo a um estado de
escolha objetal, passando pelo narcisismo
Fases do desenvolvimento da libido – oral, anal e fálica
Complexo de Édipo – organiza a criança como sendo um eu, separado do mundo, que
faz escolhas e que, principalmente, tem para si interdições e possibilidades nesse ser
separado da mãe. Uma proibição é que não pode ser com a mãe. Outra é que não pode
matar o pai. No Édipo, o sujeito se organiza, se estrutura
O complexo de Édipo inicia-se na fase fálica, na qual o sujeito divide o mundo entre
as pessoas que têm e as que não têm pênis – visto como falo, ou seja, de extremo valor
Complexo de castração – noção de que o sujeito pode perder algo de extremo valor
caso não abra mão de ter e ser tudo; é a imposição de um limite, noção de que existe
um limite e que não se pode tudo e nem se é tudo
No complexo de Édipo, a constatação do fato de que a mãe volta os olhos para outro
lugar, ou seja, a entrada de um terceiro na relação dual mãe-bebê, traz consigo a
constatação da castração: aquela criança não é tudo para a mãe, não é quem a
completa. Se isso representa um duro golpe sobre o narcisismo infantil, é o caminho
possível de existência fora do âmbito do desejo do outro
Inícios da Psicanálise – parte do hipnotismo e da sugestão; preocupação com a
remissão dos sintomas para a busca de sentido
Freud – ouvir o que suas histéricas têm a dizer; análise dos próprios sonhos
Regra fundamental da psicanálise – falar tudo aquilo que passa pela cabeça, da forma
mais livre possível – atenção flutuante e associação livre
Contrapartida - escutar tudo aquilo que é dito até que os sentidos se revelem
Atenção flutuante, associação livre, interpretação para a construção de um sentido que
revele aquilo que não é conhecido para o sujeito
Importância da escuta do analista atenta para aquilo que emerge por entre as falas
esteriotipadas dos pacientes
A repetição aparece como forma de revivescência de um passado que nunca passou,
das experiências vívidas e presentes no inconsciente atemporal e que buscam se fazer
valer – e viver – da mesma maneira que foram desconsiderando a passagem do tempo
Transferência – transposição para o analista daquilo que marcou; busca de elaboração
possível
Para se defender, o eu busca tratar a representação incompatível como se ela não
existisse. Mas como não pode expulsá-la , o melhor que pode fazer é transformá-la em
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uma representação fraca, desprovida de investimento, retirando-lhe o afeto
correspondente. Esse afeto desvinculado da representação que lhe deu origem terá que
se deslocar para algum outro lugar. O que difere as patologias, então, é o lugar para o
qual migra o afeto deslocado
A histeria, a obsessão e a psicose partem de um mesmo princípio: a tentativa de
esquecimento de algo indesejado e se desdobra de formas diferentes a fazer algo com
o afeto que sobra
A histeria faz sintomas conversivos, no corpo
A neurose obsessiva faz as idéias obsessivas e os rituais
A psicose faz alucinações e delírios
Freud traz a idéia de que a formação dos sintomas – conversões, ideações obsessivas,
alucinações, delírios – parte de um compromisso qualquer entre instâncias em prol de
uma defesa
A patologia, conseqüentemente, relaciona-se com o tipo de defesa adotada
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