1 UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP PSICOLOGIA TEORIAS E SISTEMAS EM PSICOLOGIA FICHAMENTO A DIVERSIDADE DA PSICOLOGIA – UMA CONSTRUÇÃO TEÓRICA BEHAVIORISMO RADICAL Primórdios e fundamentos O Comportamentalismo, como linha dentro da Psicologia, tem como objeto principal o estudo do comportamento Primórdios – estudava os atos que podiam ser descritos de modo objetivo mediante a observação Estudo do comportamento – chamado de Behaviorismo – três tendência: Behaviorismo Cognitivo, Behaviorismo Metodológico e Behaviorismo Radical Behaviorismo Cognitivo – pressupõe que existe uma relação entre o mundo, como ambiente externo ao indivíduo, que desencadeia neste pensamentos e sentimentos que irão determinar seu comportamento no ambiente. Há uma mediação entre o ambiente e o comportamento; esta mediação é a percepção e o significado atribuído por eles aos eventos ambientais. “O comportamento e afeto do indivíduo são largamente determinados pelo modo como ele estrutura o mundo, como olha para as coisas e como interpreta essas coisas” Behaviorismo Metodológico – ênfase aos procedimentos de medida do comportamento na sua relação com o ambiente. “Psicologia S – R”, onde S operacionaliza o ambiente e R o comportamento Behaviorismo Radical – entende por comportamento as relações do organismo com o ambiente, expresso pela tríplice contingência de reforçamento. O ambiente em que se encontra o homem determina e constrói as característica que serão particulares a cada um Comportamentalismo/Behaviorismo – surgiu nos Estados Unidos da Amércia com John Broadus Watson (1878-1958), que se dedicou a fundar uma nova escola de pensamento para a Psicologia, oficialmente conhecida através da publicação Psychology as the Behaviorist Views Watson – “A Psicologia, tal como o behaviorista a vê, é um ramo puramente objetivo e experimental da ciência natural. A sua finalidade teórica é a previsão e o controle do comportamento. A introspecção não constitui parte essencial dos seus métodos e o valor científico dos seus dados não depende do fato de se prestarem a uma fácil interpretação em termos de consciência ... a Psicologia terá que descartar qualquer referência à consciência ... ela já não precisa iludir-se crendo que seu objeto de observação são os estados mentais” Ciência do comportamento voltado para si mesmo, sem referir-se como recurso explicativo ao sistema nervoso ou seus mecanismos, como era feito pela fisiologia Watson – métodos de investigação: observação, com ou sem uso de instrumento; métodos de teste; método do relato verbal; e método do reflexo condicionado 2 Reflexo condicionado – processo de conexão entre um estímulo e uma resposta específica de um organismo. Já investigado por Pavlov (1849-1936) e Bechtevev (1857-1927) Watson – o reflexo condicionado, ou melhor, o processo de condicionamento passa a ser considerado uma unidade de medida do comportamento, pois permite identificar as relações ambiente versus comportamento, e decompor o comportamento humano em suas partes constituintes, facilitando a observação e a mensuração Ao contrário das abordagens de Wundt (1832-1920) e de Titchener (1867-1927), em que os sujeitos eram observadores e observados, no Comportamentalismo eles são somente observados pelos experimentadores -> o homem passou à posição de um ser que se comporta como outro qualquer > o homem já não observa, ele apenas se comporta > reforço da idéia do homem como máquina: basta um estímulo para ocorrer uma cadeia de respostas O Comportamentalismo se ocupa do comportamento do organismo inteiro com relação ao seu ambiente A Psicologia de Watson foi um esforço de construção de uma ciência livre de noções mentalistas e de métodos subjetivos, uma ciência tão objetivo quanto a física > para se entender o comportamento pode-se partir da observação, não precisando supor processos mentais que explicariam tal comportamento > com a análise dos tópicos fundamentia da Psicologia, como instinto, aprendizagem, emoção e pensamento, Watson enfatiza a influência do ambiente sobre o comportamento dos organismos O behaviorismo radical Constituiu-se no início do século XX – capitalismo em pleno desenvolvimento – crescente concentração de capital e grande desenvolvimento industrial e tecnológico – crise de 1929; guerras; espaço para diferentes modos de comportamentos Estados Unidos da América – desenvolvimento tecnológico e na área de pesquisas Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), um dos maiores teóricos do Behaviorismo Radical Mecanicismo – “O mecanicismo envolvia não só a suposição da realidade existente independentemente do sujeito, como colocava também a necessidade de se buscar sempre um mecanismo que a explicasse. Uma realidde que se forma por uma sucessão de interações mecânicas faz supor a necessidade constante de uma matéria através da qual o efeito pudesse se propagar e a necessidade de um princípio de explicação sempre baseado em um mecanismo. Para eventos que não se podia observar uma relação causal espacial ou temporal imediata, muitas vezes se tornava necessária a elaboração de conceito baseados em interpretações ou especulações para garantir a conexão do sistema de causas. Foi esse caráter interpretativo e especulativo da ciência física que foi criticado por alguns epistemólogos, por gerar conceitos definidos em termos de propriedades das quais não temos nenhuma segurança de sua existência, conceitos formulados com base em interpretações inseguras e muitas vezes metafísicas” Mach (1838-1916) – nega a existência de substâncias materiais, para ele tudo são sensações. O objeto de conhecimento é combinação de elementos, de sensações. Abandona-se a noção de causalidade mecânica e passa-se à descrição de relações funcionais entre sensações. Explicar é descrever relações ordenadas entre fatos observados. Estas relações funcionais substituem as noções tradicionais de causa e efeito Skinner – a partir de 1931 – trabalhos vinculados a este tipo de pensamento; adota a concepção de explicação baseada em identificar relações funcionais entre eventos comportamentais 3 Reflexo – correlação observável entre estímulo e resposta Comportamento – é o fazer do organismo. “O comportamento é uma exata função de forças agindo sobre o organismo” Objeto de estudo – comportamento do organismo total; interessa-lhe como as unidades do comportamento se unem e interagem; reflexo como unidade comportamental a ser estudada Comportamento operante – o organismo age sobre o ambiente e produz conseqüências, reforçamento; selecionando os reflexos importantes e descartando os irrelevantes. A relação não é com um estímulo eliciador, mas com o estímulo reforçador que se segue à resposta Tríplice contingência de reforçamento – engloba o comportamento e suas condições antecedentes e suas conseqüências. Consiste em um estímulo discriminativo seguido de uma resposta, que, por sua vez, é seguida por um estímulo reforçador, que controla a probabilidade futura de resposta (Sd – R – Sr) – “... Isto parece possibilitar que o comportamento não seja explicado como mero produto passivo do ambiente, mas seja visto como um processo de relações recíprocas, em que o homem é produtor do meio que o determina.” Não há causa ligada ao comportamento e sim relações funcionais que fazem com que ele possa ocorrer Seleção por conseqüências – a seleção dos comportamentos ocorre em função de seus efeitos sobre o ambiente, são as conseqüências ocorridas no passado que determinam a probabilidade de ocorrência do comportamento em uma situação futura. O homem que se comporta é um ser em processo, em constante transformação. A sua interação com o ambiente e com os outros homens gera formas variadas de comportamento, em que a multiplicidade, a diversidade e a variabilidade são marcas constantes Tríplice determinação ambiental indissociável – a espécie (filogenética), a vida do indivíduo (ontogenética) e a cultura (práticas culturais) Seleção natural ou da espécie, filogenética – refere-se às característica dos membros de uma espécie e a padrões comportamentais que seriam selecionados segundo os mesmos mecanismos. O processo envolve o comportamento imitativo e a modelagem, o que permite que membros de uma espécie adquiram comportamentos selecionados com outros membros da mesma espécie Seleção por história de vida do indivíduo ou ontogenético – refere-se à aquisição de comportamentos que são importantes para a pessoa e não mais se restringindo à sobrevivência. Isto permite uma maior adaptação a ambientes em constante mudança. Os membros da espécie que aprendem através de operantes ampliam muito seu repertório e, conseqüentemente, o mundo se amplia para eles Comportamento social e verbal simbólico – surgido a partir destes dois níveis de seleção. “O comportamento verbal permite mais do que mostrar e fazer, permite um mostrar e fazer que leva os indivíduos a fazerem pelo outro” Seleção de práticas culturais – se baseiam em reforçamento social e dependem da participação de mais de um indivíduo. “A cultura permite uma certa atemporalidade da experiência no sentido de que permite que o mundo seja conhecido através da experiência de outros, que sequer precisam estar presentes fisicamente.” Comportamento verbal – permite que os indivíduos tenham acesso ao mundo privado e, conseqüentemente, construam sua subjetividade Concepções empiristas do conhecimento – o conhecimento se constituía a partir de sensações que geravam idéias que se associavam para formar o pensamento Skinner não pode ser inserido nas concepções empiristas do conhecimento Para Skinner: o homem não é uma tabula rasa; conhecer é muito mais do que responder a estímulos; o conhecimento deve ser compreendido como uma forma de 4 ação sobre o mundo; o conhecimento supõe uma interação dinâmica, é produto e processo ao mesmo tempo; a percepção é fruto do momento atual e da história de reforçamento de quem percebe, é uma construção, uma forma de ação sobre o mundo Evolução do Behaviorismo Radical – partindo da discussão do conceito de reflexo até apreender os três níveis de determinação do comportamento humano, modifica a visão de determinismo inicialmente adotado, na medida em que o determinismo mecanicista é cada vez mais deixado de lado, havendo uma ampliação da compreensão da causalidade Watson e Skinner acreditavam numa ciência não mentalista; valorizado os comportamentos que o homem apresenta Skinner percebeu que era possível lidar com a subjetividade e a individualidade sem recorrer ao conceito de mente O Behaviorismo preocupa-se em analisar todo o contexto em que está inserido o comportamento Os postulados de Skinner referem-se a um modelo de homem em constante transformação, múltiplo e processual, configurando uma oposição ao positivismo comtiano, em que a idéia de transformação e mudanças qualitativas é inaceitável As contingência ambientais é que são responsáveis pelos comportamentos do homem Nossos comportamentos são determinados por conseqüência da nossa história filogenética (próprias de cada espécie), ontogenética (próprias de cada ser – a história de vida de cada indivíduo) e pelas nossas práticas culturais O homem é controlado e controla o meio em que vive por meio das contingências a que está submetido e que ele mesmo constrói e produz “O homem é simultaneamente um organismo, uma pessoa e um self. Estas três dimensões são separadas enquanto recurso de análise para identificarmos as diferentes fontes de determinação de cada comportamento de um homem singular: história da espécie, do indivíduo e da cultura” Metacontingência – refere-se à relações de contingências entre as práticas culturais e seus resultados, ou seja, as metacontingência emergem na evolução das culturas construídas e pelas contingência comportamentais. A metacontingência refere-se à unidade de análise, descreve relações funcionais, das produções advindas da e para a cultura. A metacontingência amplia a concepção de relação sujeito-objeto no processo de produção de conhecimento, apresenta-se como um produto e processo da relação sujeito-objeto, que dela parte e para ela retorna. É através da cultura e do comportamento social que se torna viável o comportamento verbal, que, por sua vez, permite o acesso ao mundo privado É com o comportamento verbal que os homens interagem produzindo cultura É pela comunidade verbal que se constrói uma parte importante dos indivíduos: sua subjetividade O Behaviorismo Radical vê o homem como um ser que se comporta, devido a uma história pessoal e global, da qual são resultados tanto o seu comportamento quanto a sua subjetividade O comportamento específico de uma pessoa é a sua própria subjetividade Subjetividade – se estabelece na relação entre os grupos, fundados e baseados numa cultura, por meio do comportamento social, tendo como instrumento básico de construção desta subjetividade o comportamento verbal, porque se não for expressa, não há subjetividade existente A subjetividade é própria de cada indivíduo em função das contingência de reforçamento a que esteve e está submetido, mas refere-se a um nível estritamente social na medida em que sem o acompanhamento público, sem a modelagem e o reforçamento social, o comportamento verbal e a cultura, a subjetividade inexiste 5 O Behaviorismo Radical, conforme é apresentado por Skinner ao longo de sua obra, vem esclarecer que o mundo interno de cada um de nós é objetivado pelo mundo externo a partir das relações que com ele pactua O homem e, portanto, o seu mundo interno são produtos da relação com a coletividade Behaviorismo Radical – ciência da análise do comportamento, na qual o que é valorizado e considerado é a forma como os comportamentos ocorrem, quais as contingências envolvidas e os reforços existentes para a manutenção ou extinção de um comportamento FENOMENOLOGIA Momento de constituição: antecedentes históricos Entre os séculos XIV e XV – inicia-se um período de reformulação nas relações entre os homens e entre estes e o ambiente – passagem do sistema feudal para o modo capitalista de produção 1ª Revolução Industrial na Inglaterra e Revolução Burguesa na França Final do século XIX – estados europeus unificados pelo nacionalismo e pelo imperialismo Expansão econômica e política – nova proposta de entendimento do que era o conhecimento Descobertas tecnológicas e domínio da natureza Alemanha – local de nascimento da Fenomenologia Alemanha – até meados do século XVIII – todas as característica de sociedade feudal; a partir de 1871, a Alemanha foi reorganizada em 25 estados federados que formavam o império; recuperar atraso no desenvolvimento do capitalismo; crescimento industrial acompanhado de extensa legislação trabalhista; grande ênfase no desenvolvimento do conhecimento científico; pensamento filosófico interdependente do movimento social, político e econômico Momento de constituição: crítica ao conhecimento da época Edmund Husserl (1859-1938) – “como produzir, identificar e fundamentar uma interpretação verdadeira”. Segundo Merleau Pontu, “destinou-se a resolver simultaneamente, uma crise das ciências do homem e uma crise das ciências simplesmente” Husserl – crítica aos sistemas vigentes na época de obtenção de conhecimento, sobretudo a Psicologia (psicologismo), a História (historicismo), a Sociologia e a Filofofia (naturalismo) Husserl pretende encontrar a fundamentação radical de todas as ciências, o fundamento da Filosofia Período dos primeiros trabalhos de Husserl – dez últimos anos do século XIX; desmoronamento dos grandes sistemas filosóficos tradicionais: Hegel e Schopenhauer Psicologia – de acordo com a tendência positivista, busca constituir-se como ciência exata conforme o modelo das ciências da natureza, eliminando os aspectos subjetivos e, portanto, não científicos que o uso da introspecção comportava Matemática – afasta-se dos dados da intuição, procurando constituir sistemas formais que permitiriam unificar numa só as diversas disciplina A partir de 1880, as estruturas do pensamento positivista começam a ser questionadas quanto aos fundamentos e o alcance da ciência: seria suas leis realmente universais? 6 Brentano – professor de Husserl – desenvolvia seu pensamento profundamente influenciado pela Psicologia Experimental; afirmava que os dados básicos da análise psicológica são as manifestações particulares da consciência, as quais denominou fenômenos ou atos psíquicos. Fenômenos psíquicos: existe intencionalidade e um modo de percepção original, imediato; a percepção original que se tem dos fenômenos constitui o seu conhecimento fundamental; Fenomenologia de Husserl – campo de análise delimitado pela exploração do campo da consciência e sua relação com os objetos, a intencionalidade, perseguida pela escola de Brentano Psicologismo – os fenômenos do conhecimento têm seu fundamento na atividade psíquica do homem Crítica de Husserl ao Psicologismo – diferença entre ato e conteúdo do ato; não pode haver um conteúdo do ato sem um ato; isto não implica que as leis de um sejam as leis do outro; para que a Psicologia Experimental fosse a ciência absolutamente fundante do conhecimento, teríamos que reger o conteúdo, que encerra o elemento ideal ou teórico, pelas leis que regulam o ato; neste caso, a verdade, que se refere ao conteúdo, ficaria dependente do processo psicológico, que se refere ao ato, e seríamos levados a um puro subjetivismo e relativismo da verdade. Ao contrário, afirma Husserl, são as ciências empíricas e práticas dependem das teóricas ou racionais. O ato deve depender das leis do conteúdo. A ciência fundante do conhecimento tem que ser independente da experiência e do caráter puramente teórico ou racional. A ciência racional por excelência é a Lógica. Assim, a consciência será sempre consciência de alguma coisa ou fenômeno. Por isso, é necessário separar a Filosofia da Psicologia, e não confundir a essência ou consciência intencional, conteúdo, com a forma ou o processo do ato consciente Naturalismo – o conhecimento da época fundava-se em realidades, ditas naturais, a natureza ou o mundo exterior se impunham ao conhecimento. O naturalismo nos diz que apenas o empírico ou o físico é real. A ciência recusa qualquer realidade ideal, tende a naturalizar toda a realidade para torna-la uma realidade física, empírica Crítica de Husserl ao Naturalismo – a idéia de naturalizar o pensamento e, portanto, o conhecimento reduz toda ciência e a Filosofia ao universo dos atos psíquicos. Além disso, toda afirmação nesta situação será contingente, singular e particular, não levando, portanto, a nenhuma lei absolutamente verdadeira e necessária. A crítica ao naturalismo está necessariamente associada à crítica ao psicologismo Historicismo – submete o conhecimento, e, mais precisamente, a Filosofia, às condições sociais, psicológicas e históricas que estão, em princípio, fora do âmbito de qualquer ciência Crítica de Husserl ao Historicismo – submetendo um fato científico às condições sociais, por exemplo, acaba-se por perder o sentido do fato em questão. Esta crítica está associada à crítica que ele fazia a Hegel sobre a historicidade e o movimento do Espírito ao longo da história. Para ele não é a história que decide qual posição ou axioma é válido, não é possível interpretar toda a realidade e toda verdade como se fossem relativas ao desenrolar histórico Husserl - As ciências, cuja preocupação são os fatos da natureza, não incluem a subjetividade em seus trabalhos com os corpos; as denominadas ciências do espírito, na tentativa de serem o mais objetivas possíveis e suprirem, dessa forma, uma exigência positivista, acabam focando os olhares em seus respectivos objetos e ignoram, conseqüentemente, uma provável influência do cientista/sujeito sobre o objeto. O fruto desta postura é uma constatação vazia dos fenômenos observados, à qual não são colocados maiores esclarecimentos. Quando é rejeitada a subjetividade do observador diante de um objeto, qualquer constatação torna-se vazia, sendo aquele objeto, então, deturpado. Acaba-se, muitas vezes, descrevendo uma situação que não 7 coincide com a realidade; desta forma, Husserl afirmará que nada pode ser descrito sem se levar em conta o olhar do sujeito: a intencionalidade Fundamentos epistemológicos Husserl / Descartes – Descartes não explorou os pressupostos transcendentais da experiência empírica: retornou muito rapidamente da dúvida sistêmica, que o levou ao cogito, eu penso, ao mundo natural empírico. Husserl não considera o cogito como o princípio indubitável do qual todo o resto pode derivar. Para ele é a subjetividade da consciência, a única fonte transcendental de todo conhecimento absoluto e objetivamente válido. Considera o fenômeno na sua pureza absoluta, como se apresenta em si mesmo, isto é, como coisa própria simplesmente revelada à consciência Husserl / Kant – para Kant o mundo apresenta-se dividido em dois níveis: o da aparência ou dos fenômenos, que são as propriedades dos objetos existentes; e o da essência ou “coisa em si” (noumenon), impossível de ser atingido pela razão pura e, portanto, impossível de ser conhecido. Segundo Kant, não conhecemos as coisas em si mesmas – noumenon – mas somente o modo pelo qual elas nos aparecem (fenômeno).Husserl coloca-se contrário à concepção kantiana de mundo, de homem e de conhecimento, dedicando-se a formular uma ciência na qual as coisas possam ser apreendidas em sua essência, tentando estabelecer leis precisas e incontestáveis, pois a relação sujeito versus objeto permeada pela intencionalidade possibilita a apreensão da essência dos fenômenos Husserl / Hegel – Hegel rompe com a separação entre aparência e essência imposta por Kant. Ao propor a unidade contraditória entre real e racional, explicita que o absoluto ou ser é cognoscível e a Filosofia é uma retomada paciente do caminho que o Espírito percorre no desenrolar da História, ele está presente em cada momento da experiência humana, não como algo de fora ou à parte, mas como a própria concretização do absoluto. O fenômeno é reabsorvido num conhecimento sistemático do ser, pois o fenômeno e a essência são momentos distintos neste movimento contraditório. Husserl discorda de Hegel nesta unidade ser e fenômeno, para ele o sentido do ser e do fenômeno são distintos mas não podem ser dissociados e, portanto, podem ser apreendidos A dialética hegeliana, como lógica de pensamento, será incorporada na Fenomenologia pelos seguidores de Husserl, que ampliarão sua proposta: Martin Heidegger (1889-1976), Ludwig Biswanger (1881-1966) e Jean-Paul Sartre (19081980), entre outros Sören Aabye Kierkegaard (1813-1855) proponente do Existencialismo, terá grande influência no pensamento de Heidegger, discípulo de Husserl, que desenvolverá a dasein análise bastante utilizada na Psicologia O Existencialismo surge contemporaneamente à Fenomenologia Kierkegaard critica o sistema hegeliano: a unidade real e racional unifica o interno e o externo, elimina a distinção entre Deus, mundo e Indivíduo, dado que tudo se integra numa essência única, que é o Espírito Absoluto. Kierkegaard nega que o Indivíduo, o sujeito, é uma categoria essencial da existência. Assim, a verdade é uma apropriação subjetiva, pois sua raiz está na existência concreta e integrada de cada Indivíduo particular. Segundo Kierkegaard há um abismo entre o Indivíduo, em sua singularidade, e o Espírito Absoluto, entre o tempo disponível para o Indivíduo realizar suas potencialidades e a eternidade que é o próprio Indivíduo Absoluto. Kierkegaard questiona a objetividade e a busca deste tipo de verdade, pois o indispensável é introduzir a verdade na existência e não tanto conhecê-la. Kierkegaard assume o raciocínio dialético no desenvolvimento do seu pensamento. A dialética em direção ao existencial exige que o Indivíduo se aprofunde no autoconhecimento da sua 8 existência, que se apresenta como oposição dos extremos; o eu não é dado, somente sua possibilidade de existir. Esta visão da dialética e da existência como fundantes do Indivíduo e do sujeito será resgatada por Heidegger ao criticar a consciência transcendental de Husserl Fundamentos e conceitos A Fenomenologia se propõe à descrição da estrutura dos fenômenos, sendo a maior preocupação de Husserl encontrar um método universal, que possa reger o pensamento de modo que se atinja o conhecimento universal e verdadeiro Para tal, é necessário que se saiba como se conhece e que não seja ignorado tudo aquilo relacionado com o ato de conhecer, como por exemplo, a subjetividade dos homens, a qual seria “a primeira verdade indubitável para começar a pensar corretamente” Husserl estabelece algumas exigências que deveria conter a verdadeira fundamentação da Filosofia. As características da verdadeira fundamentação seriam: , 1) deve ser a priori, isto é, independente da experiência, uma vez que uma ciência teórica e absoluta prescinde da experiência, sempre contingente e particular; 2) esta aprioridade implica ausência de pressupostos. Temos que proceder com inteira liberdade, sem nos deixarmos influenciar por qualquer opinião dominante, quer científica, quer filosófica, para nos orientarmos exclusivamente pelas coisas; 3) finalmente, o fundamento radical tem que ser evidente por si mesmo, isto é, autojustificável, pois possui um caráter imediato e plenamente reflexo Evidência – está relacionada com os conceitos de intenção e intuição Intenção significativa – existe quando significamos intencionalmente o objeto, sem considerar sua presença Esta intenção pode ser preenchida pela presença do objeto – neste caso temos a intuição Intuição – é o preenchimento de uma intenção A evidência é a consciência da intuição Husserl usa as duas palavras, evidência e intuição, indiferentemente, porque elas se implicam. Husserl distingue as evidência a partir do objeto e não do sujeito Intuição sensível – refere-se a uma singularidade empírica, ou seja, um objeto diante de mim Intuição categorial – refere-se àquilo que se afirma ao conteúdo do juízo Objetos categoriais – são todos aqueles que admitem um aspecto supra-sensível ou idel Intuição eidética ou ideação – refere-se aos “objetos universais”, também denominados essências ou eidos, correspondem aos chamados ‘conceitos universais, que se verificam invariavelmente em diferentes indivíduos Evidência apodítica – o supremo grau de intuição que só se verificaria na plena adequação entre intencionado e intuído. Husserl reconhece que esta adequação plena é um estado-limite, que de fato nunca se atinge Coisa mesma – é entendida não como a realidade existindo em si, mas como um fenômeno; fenômeno este que se dá a nós por intermédio dos sentidos dotados de uma essência. Essência de um fenômeno é intuída Intuir – significa identificar o fato e ver o sentido ideal que cada pessoa atribui a ele ao percebê-lo Todo fenômeno tem uma essência, o que se traduzirá pela possibilidade de designá-lo, nomeá-lo, e ele sempre estará vinculado a um sentido para quem o percebe 9 O primeiro passo para a obtenção de uma verdade é descobrir o fenômeno, com o objetivo de atingir a sua essência, “matéria” da qual se constituem todas as coisas. Neste processo das coisas mesmas, deve haver um total despojamento de préconceitos e pré-juízos que haviam, porventura, sido construídos a respeito do fato antes de este ser percebido. Para isto é necessário passar por diferente etapas ou passos para se chegar à evidência apodítica. Este passos são: 1) epoché e redução: espontaneamente vivemos na “atitude natural”, ou seja, consideramos as coisas como exteriores, e, portanto, o mundo como existente em si, independente da nossa consciência No entanto, esta certeza não se dá por evidência apodítica Há algo mais evidente que o objeto exterior: é a própria consciência do objeto exterior A consciência impõe-se apoditicamente; é certa, ainda que tal objeto não exista Portanto, o começo absoluto tem que estar no objeto enquanto consciente Em relação às coisas enquanto existentes exteriormente, o filósofo deve “suspender” o seu juízo Tal suspensão recebe o nome de epoché > não se põe em questão o mundo exterior > apenas se “reduz” à consciência, para assim ser possível começar por aquilo que é insofismável Realidade transcendente – corresponde às coisas enquanto existente fora ou para além da consciência Realidade transcendental – se aplica às “coisas”, enquanto reduzidas à consciência Ambos os mundos são reais 2) Redução psicológica e redução transcendental: a redução psicológica significa suspender todos os juízos relativos a tudo que é exterior ao sujeito É preciso fazer a redução transcendental, ponto entre parênteses, ou praticando a epoché relativamente a essas essências psicológicas Redução transcendental – eleva à “consciência pura” ou “transcendental” – as vivências perdem inteiramente o seu caráter psicológico e existencial para conservarem apenas a relação pura do sujeito plenamente purificado ao objetivo enquanto consciente, que é objeto significado O “eu puro” – mostra-se na atitude fenomenológica como “um expectador desinteressado” ou “imparcial”, apto a aprender, sem perigo de erro, tudo o que se lhe apresentar como “fenômeno” da consciência Objeto intencional – é a constituição do objeto pensado. É o produto desta relação entre sujeito e objeto, portanto, o conhecimento produzido Evidência apodítica – para chegar a ela o homem utiliza-se da consciência, que envolve três dimensões: intencionalidade, temporalidade e horizonte Intencionalidade da consciência – refere-se à consciência que, como ato, é sempre consciência de alguma coisa, ou seja, é a descrição das diferentes formas de relação entre o sujeito e o mundo. A consciência não está dentro do sujeito, mas exerce função mediadora entre o sujeito e o mundo Temporalidade da consciência – refere-se ao fato de que toda consciência intencional é uma síntese no tempo. A percepção do objeto supõe a percepção da sua identidade ao longo de uma sucessão temporal de imagens. O significado do objeto depende do que recordamos dele Horizonte da consciência – refere-se ao fato de que a consciência intencional envolve uma atualidade explícita (como consciência de algo) e uma potencialidade implícita, que é o conjunto de estados passados, antecipados, sugeridos, suspeitos, assemelhados, contrastados etc., em relação ao qual o objeto tematizado adquire um significado para o sujeito. Os horizontes são na experiência pré-reflexiva inconscientes, passando desapercebidos, e uma das tarefas das análises fenomenológicas concretas é justamente elucidá-los 10 Consciência – constituída pelo que Husserl denomina de “atos intencionais” Atos intencionais – são a percepção, memória, especulação, paixão, imaginação, entre outros Consciência Transcendental – a consciência é também necessariamente dada a priori, de forma a garantir a possibilidade de conhecer Noesis – são os atos intencionais, ou seja, que se dirigem e visam algo Noemas – são os objetos em sua essência ou com significados aos quais os noesis se direcionam Intencionalidade – relação entre sujeito (noesis) e objeto (noema) – há um movimento tal entre sujeito e objeto que um se dirige ao encontro do outro Fenomenologia – uma busca empática que estabelece ligações entre sujeito e objeto através dos atos intencionais, da possibilidade de comunicação, seja pela fala ou pela escuta, e da expressividade de forma geral, cabendo “a ela distinguir, revelar o que há de essencial na percepção, recordação, imaginação Cada ato intencional e seu correlato intencional, ou seja, noesis e noemas, são uma unidade e têm uma região própria do ser, o que leva ao raciocínio que um ente possui inúmeras possibilidades de ser visto, ou melhor, há diferente locais para se visualizar o mesmo ente, como se cada regição tivesse uma vista diferente para a mesma praia Fenomenologia husserliana – é uma ontologia regional (ón: ser, em grego), já que encara o ser dividido em diversas regiões; o ser ainda outorgaria sentido às coisas que visa conforme a região focada pela sua consciência O outro-eu e a constituição do objeto para uma pluralidade de sujeitos – MerleauPonty: “O filósofo, retornando aquém das determinações de fato que limitam sua visão, jamais atinge, em si mesmo, um pensador totalmente universal. Está sempre situado, sempre individualizado, e é por isto que necessita do diálogo; entrar em comunicação com outras situações (outros filósofos ou outros homens) é a maneira mais segura de ultrapassar seus limites. Como escreveu Husserl nos seus últimos tempos, a subjetividade derradeira, filosófica, última, radical, aquela que os filósofos cham de Subjetividade transcendental, é uma intersubjetividade Husserl – em função de um sentimento interior, ou intropia (Einfühlung), constituemse, na consciência transcendental, outros eus, como sujeitos cognescentes, idênticos. O sujeito fenomenológico atinge um grau superior, constituindo-se como um entre muitos. Atinge-se, assim, o nós transcendental, e é para esta pluralidde que o sujeito individual cognoscente apreende o objeto como válido. O objeto intencional, constituído intersubjetivamente, é o fenômeno no seu grau pleno de evidência apodítica Martin Heidegger (1889-1976) – foi aluno de Husserl; A obra de Heidegger surge em meio a uma geração de valores sacudidos pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em que a questão do Ser e da existência se recolocam. Heidegger desenvolverá seu trabalho seguindo o pensamento husserliano, determinando o que se denominam característica primordiais do ser, as quais estão presentes em sua obra O ser e o tempo (1930). O homem existe, desta forma, “compreendendo, espacializando e temporalizando o seu existir no mundo Heidegger – “o que para a fenomenologia dos atos conscientes se realiza como o automostrar-se dos fenômenos é pensado mais originariamente por Aristóteles e por todo pensamento e existência dos gregos como Aléthea, como desvelamento do que se apresenta, seu desocultamento e seu mostrar-se. Aquilo que as Investigações Lógicas de Husserl redescobriram como a atitude básica do pensamento revela-se como o traço fundamental do pensamento grego, quando não da Filosofia como tal. Isto levou-o a questionar-se sobre de onde e de que maneira se determina aquilo que, de acordo com a fenomenologia, deve ser experimentado como a coisa mesma? É ela a consciência e sua objetividade, ou é o ser do ente em seu desvelamento e ocultação?” 11 Heidegger levou dez anos para responder estas duas questões, e publicou O ser e o tempo Ser – é algo indefinível, evidente por si só e de entendimento universal: todo ser humano sabe o que é o ser e sabe o que é o não-ser Dentro do ser encontra-se o nada e vice-versa: o ser tem em si a possibilidade de nãoser, uma vez que, ao mesmo tempo que é algo, também é contrário deste algo Cabe ainda ao ser a chance de tornar-se o seu não-ser; todo ser é, ao mesmo tempo, um vir-a-ser – a unidade dos contrários é o ponto fundante do ser (Hegel) Alteridade – é o outro, aquilo que o ser não é Identidade – aquilo que o ser é Alteridade surge da identidade – é a partir da identidade que sabemos o que somos, e, portanto, o que não somos, ou seja, nossa alteridade, o outro O ser é um ser de relação – ser e mundo só existem na relação ser-mundo, enquanto relacionados Cabe ao ser dar sentido ao mundo ou significá-lo, de modo que o mundo então possa existir. O eu torna-se eu (apenas possui identidade) quando em relação com o tu (que é o mundo, a alteridade, o outro) A compreensão do mundo trata da compreensão de si próprio. O ser (responsável pelos sentidos e significados do mundo) fita o mundo como extensão de si mesmo Esta relação pode ser dar de duas maneiras: Eu-isso e Eu-tu Eu-isso – o isso é visto apenas como objeto de experiência Eu-tu – há reciprocidade na relação; é na relação em que são colocados limites ao ser; o ser percebe a existência do outro, ou de sua alteridade. Na relação Eu-Tu, o ser fala e descreve a si mesmo > o outro, ou o mundo, existe como extensão do eu e só permeado pelos significados que foram estabelecidos pelo ser A significação do mundo pelo ser dá-se dentro da temporalidade e do espaço. No passado está a memória dos fatos aos quais são atribuídos significados no presente; o futuro contém o vir-a-ser O tempo é dotado de significados: o passado é significado no presente e esta significação está voltada a uma intenção no futuro Atuação clínica – foca sua atenção nos sentidos ou significados que o paciente/cliente atribui, no momento vivido, aos fatos passados de sua vida Espaço – visto da mesma forma que o tempo > local onde o ser atua O ser caminha sua atuação em direção à morte, que gera a Angústia Angústia – sentimento em relação ao nada e por meio do qual o ser compreende-se e descobre o seu sentido: ao ser frente à morte é colocado um questionamento acerca de sua existência; a Angústia gerada diante da morte dá ao ser a possibilidade de refletir a seu respeito, fazer descobertas acerca de seu próprio mundo; e, finalmente, obter respostas sobre o seu sentido e o sentido do mundo ao seu redor Relação ser-mundo – o mundo é quase como uma extensão do ser Dasein – “ser-aí”, “ser-no-mundo”; a oportunidade do ser de exercer seu poder de escolha. É na relação com o mundo que o ser é e dentro dele tem de utilizar a sua possibilidade de escolha, sempre tendo em mente suas necessidades Hegel – frente ao desejo e à necessidade, cabe ao ser escolher O dasein se traduz pela possibilidade e necessidade de exercer o poder de escolha; o dasein é uma possibilidade de ser. O existir – (ser) – humano é inacabado, é um constante “vir-a-ser” hegeliano > o homem projeta e nega a sua situação original de alienado Filosofar heideggeriano – constante interrogação, na procura de revelar e compreender sobre o ser. A ciência deve des-vendar uma das possibilidades do ser, porém, tendo apenas a capacidade de des-vendar uma entre todas as existentes 12 PSICOLOGIA HUMANISTA: UMA TENTATIVA DE SISTEMATIZAÇÃO DA DENOMINADA TERCEIRA FORÇA EM PSICOLOGIA Momento de constituição – antecedentes históricos Humanismo – Idade Moderna – movimento de ruptura com os ultrapassados valores medievais; apogeu durante o Renascimento; grande ênfase ao estudo de autores clássicos greco-romanos, ao espírito de pesquisa e indagação e à valorização da observação => refutação as crenças religiosas/“teocentrismo” => desenvolvimento da ciência moderna => cisão definitiva com a Igreja e com a filosofia escolástica Homem colocado no centro das preocupações Determinação em resolver os problemas que a vida lhe apresentava Consciência da capacidade de atuação e modificação da realidade Livre e responsável pelas escolhas e alterações provocadas Despojado do cômodo papel de agente passivo frente ao mundo Antropocentrismo – deslocamento das atenções para o homem > “o centro das preocupações” Teocentrismo – Deus ocupava o centro do Universo e tudo ocorria “por sua vontade”, de modo que restaria ao homem voltar sua atenção para a fé, a religião e a vida após a morte; não haveria motivos para se alterar a ordem natural das coisas Psicologia Humanista – denota semelhanças com o movimento renascentista, no que diz respeito a ter significado uma Revolução, em termos de pensamento, à sua época e por sua teoria se identificar, e muito, com as ideologias humanistas e antropocêntricas Crises – Descoberta de Copérnico, no início do século XVI, de que a Terra não era o centro do universo, mas um simples ponto em sua imensidão. Teoria da evolução das espécies de Charles Darwin, que data do século XIX, baseada no mecanismo de seleção natural. “Descoberta” do inconsciente por Sigmund Freud, no início do século XX => o homem não é tão “dono de si” ou “poderoso” – muito de si está além de seu próprio controle 1ª Grande Guerra (1914-1918); 2ª Grande Guerra (1939-1945); emergência dos Estados Unidos como grande potência; “Guerra Fria” (Estados Unidos x União Soviética); confrontos EUA x URSS deslocaram-se para o plano militar, ideológico, cultural, desportivo, diplomático, econômico e, sobretudo, tecnológico Charlotte Bühler – psicóloga humanista americana – situação de constante tensão econômica, social e política vivida pelos povos de todo o mundo, e, em particular, pelos americanos, responsável pelo surgimento de um estado de espírito novo, comparado com o tempo em que tudo o que as pessoas buscavam era a “diversão”. Introversão antes desconhecida, um desespero absurdo Karen Horney (1885-1952) e Eric Fromm (1900-1980) – questionavam a possibilidade de confiar nessa sociedade que constrói bombas atômicas para aniquilar populações Jovens – duvidarem dos valores e da moralidade tradicional Descobertas científicas – dúvidas a respeito de dogmas e pregações da Igreja, como a existência de Deus “Qual é o significado de tudo?”, “Quem somos nós, quem sou eu?”, “Qual o modo certo de viver?” Bühler – abordou a importância de um grupo de jovens, os quais denominou “construtivos”, na formação dos ideais da Psicologia Humanista, uma vez que estes viam a necessidade de aperfeiçoar as experiências pessoais e sociais, procurando ajuda 13 nas pessoas mais velhas em que confiavam para encontrar valores e crenças mais profundas, a fim de liberar sua criatividade e expressar suas potencialidades Gomes – advento da Psicologia Humanista não pode ser dissociado do quadro de grande ascensão econômica dos Estados Unidos, no início dos anos 60, no governo Kennedy > responsável pelo surgimento de valores tais como independência, hedonismo, dissidência, tolerância, permissividade, auto-expressão, que cada vez mais reforçavam o clima de preocupação com o individual, em que o sujeito apresentava-se como centro das preocupações 1930-1960 – anos marcados pela guerra, luta de poder, os homens eram para os governos apenas mais um dentro dos batalhões do exército, a morte era “a vizinha” sempre presente e muitas vezes já esperada; não se sabia sobre o dia futuro (seremos vencedores ou vencidos, encontraremos mais miséria ou riquezas); parecia não haver lugar para a esperança, uma nova chance ou mudança de vida, especialmente nos EUA, onde cada homem é apenas mais uma fonte de trabalho, que, se explorada, permitirá maior lucro ao opressor Ideologia liberal – pregava serem todos os indivíduos iguais, mas absolutamente livres para defenderem seus interesses particulares sem limitações. É famosa a expressão “sonho americano”, sobre vencer e ser alguém na vida, ou seja, retomar essa possibilidade que parece obscura e possuir liberdade para mudar de lado, nesta contundente luta de poder existente nas relações sociais Psicologia Humanista – surge como uma forma de responder a esses anseios da sociedade, com concepções que garantem a possibilidade de transformação que dependa apenas da vontade individual, como uma forma de as pessoas conceberem-se como “EUS” e não apenas como mais uns, como diferentes, devendo assim ser tratadas. Retoma, resgata a individualidade, a subjetividade, as emoções próprias e particulares de cada ser humano A Psicologia que adotou o modelo das ciências naturais como única forma de constituir-se como ciência independente, agora proclama ser tal método reducionista e insuficiente Bases epistemológicas Psicologia Humanista – possui ramificações Giovanetti divide a Psicologia Humanista em duas grandes escolas: 1) a escola americana, originária do Humanismo individual, onde encontram-se a: - Psicoterapia Humanista-Existencial, embasada em Kierkegaard – principal representante, Carl Rogers; e a - Psicoterapia Fenomenológico-Existencial – principal representante, Rollo May 2) a escola européia, berço das principais idéias fenomenológicas e existenciais, encontrando-se caracterizada pela: - Daseinsanalyse, de Biswanger; - Análise Existencial, de Medad Boss; - Psicoterapias Antropológicas; e - Psicoterapia Antropológico-Fenomenológico Parece haver uma ligação entre as Psicologias Humanistas e a Fenomenológica Giovanetti – a diferença entre as várias abordagens está em que cada uma delas destacará aspectos diferentes ao descrever as características fundamentais do homem Henri-Louis Bérgson (1859-1941) – filósofo do século XIX precursor das idéias humanistas Abraham Maslow e Carl Rogers – seguidores do pensamento de Bérgson Bérgson – fez uma crítica aos modelos mecanicista e finalista – afirma que a realidade se define pelo movimento, em sua simplicidade indivisível e em sua totalidade, 14 englobando mais que as partes componentes às quais se referem as explicações mecanicista e finalista. Tal movimento é conduzido pelo impulso vital (“élan vital”) ou impulso original da vida, o qual define como uma tendência a agir sobre a matéria bruta. Assim, para ele, vida e matéria são indivisíveis: a vida evolui ligada à matéria e, caracterizada pelo movimento e pela criação, atravessa a matéria inerte, destacando nela seres vivos. Portanto, o impulso da vida consiste numa exig~encia de criação e, ao encontrar a matéria, cujo movimento é oposto ao seu, introduz nela a indeterminação e a liberdade Bérgson – compreende a inteligência e o instinto como duas formas diferentes, mas complementares, de atuação sobre a matéria bruta instinto – caracteriza-se pela faculdade de utilizar e construir instrumentos organizados e, portanto, mecanismos inatos; o instinto tende à inconsciência; o conhecimento inato recai priritariamente sobre as coisas inteligência – caracteriza-se pela faculdade de fabricar e empregar instrumentos inorganizados; a inteligência é orientada no sentido da consciência, envolve um conhecimento pensado; o conhecimento recai sobre as relações; a inteligência como possibilidade de exteriorização da consciência a evolução ocorre pela penetração da consciência na matéria, arrastando-a à organização consciência – princípio motor da evolução; no homem a consciência encontrou saída para libertar-se, libertando-se a partir das complicações e embaraços da ação “evolução criadora” – concepção espiritualista da evolução, entendida como uma resposta ao evolucionismo materialista “élan vital” – corresponde a uma tendência da realidade; o ser humano é dotado desta tendência; fundamento do homem e de sua atividade; fundamento do conhecimento movimento – corresponde ao equilíbrio, crescimento e organização “eu de superfície” – caracteriza-se por ser estático, mecanizado e restrito ao que se poderia se denomina “eu social” do indivíduo; a maioria dos homens vive apenas o “eu de superfície”, sem jamais experienciar a liberdade “eu profundo” – diz respeito ao “eu pessoal” – quer, se apaixona, evolui, cresce constantemente, sendo acima de tudo criador, livre e dinâmico, e pode ou não ser atingido pelo homem; caracteriza-se por ser uma duração pura e irreversível, em permanente mudança qualitativa e irrepetição contínua, que mantém sua identidade por intermédio da memória imagem de um cone: a base seria o inconsciente e cresceria sempre pela aquisição de novas experiências; o vértice representaria o momento presente, de inserção do psiquismo na vida. No interior do cone, os elementos psíquicos apresentam duplo movimento: 1) do vértice para a base (experiências presentes que passam para o inconsciente) e 2) da base para o vértice (o inconsciente emerge atuando sobre o plano da consciência). O crescimento incessante do cone significa que cada qual carrega atrás de si todo o seu passado, que é conservado integralmente livre-arbítrio – encontra-se no “eu-profundo” e constitui a verdadeira personalidade do homem. Bérgson apresentava-se como defensor e reformulador do livre-arbítrio, contraponde-se às teses deterministas que estavam em voga na sua época inteligência e o instinto – formas diferentes mas complementares de ação sobre a matéria intuição – síntese da inteligência e instinto 15 inteligência – trabalha analiticamente, fragmenta, espacializa e fixa a realidade, que é nela um puro tornar-se. Essa atividade do intelecto, típica do “eu superficial”, não proporciona o conhecimento da natureza mesma dos objetos, porque os conceitos não correspondem à essência do objeto essências – só podem ser atingidas através da intuição, que possibilita o encontro ao “eu profundo” com a intimidade do objeto a intuição permitiria a apreensão do que é vida, dinamismo, mudança qualitativa, duração e criação. Por isso, a metafísica teria na intuição o seu principal método Husserl – criador da Fenomenologia; possível base epistemológica ds Psicologias Humanistas; críticas às ciências naturais e às concepções deterministas da Psicologia criticava uma tendência em denominar todos os fenômenos como materiais, toda realidade como física dizia ser este pressuposto dos pesquisadores ditos materialistas uma concepção idealista, já que a objetividade que supõem é essencialmente ideal como provariam cientificamente, através da experimentação, observação e com consenso de um ou mais pesquisadores, ser tal método o único que permite conhecer e ser esse conhecimento correspondente ao real?! Somente concebendo-o como um pressuposto, portanto, concebendo-o idealisticamente Criticava também o “psicologismo” – tendência em reduzir tudo, e conseqüentemente a possibilidade de conhecimento, a processos mentais Para ele não há verdade independente do processo psíquico e sua organização – nesta medida esta crítica refuta a proposta bergsoniana Pregava que o conhecimento só seria possível através de uma redução fenomenológica por parte do sujeito que conhece > um despojar-se de todas as suas pré-concepções O que o sujeito conhece refere-se àquilo que apreendeu do objeto a partir de sua vivência e pressupostos Redução fenomenológica – é colocada como o único e imprescindível meio de se chegar à “essência” do objeto e não apenas à sua “aparência” > como se mostra a uma determinada consciência um determinado objeto Todo fenômeno possui uma essência, que possibilita designá-lo, e o conhecimento deveria visas, dessa forma, à apreensão da “coisa mesma” ou “coisa em si” Consciência intencional – a relação sujeito-objeto refere-se a uma relação na qual o sujeito constitui o objeto, sendo a consciência sempre consciência de alguma coisa e o objeto sempre um objeto para uma consciência > intencionalidade Franz Brentano – “em qualquer fenômeno caracteristicamente humano deve se incluir a presença da mente, (...) sendo tais pressupostos mentais irredutíveis e caracterizados pela intencionalidade, ou seja, o psíquico é caracterizado pela diretividade em relação a um objeto ou referência a um conteúdo”. “O ato de perceber implica necessariamente a presença do objeto percebido e o ato de pensar supõe o objeto pensável” Concepção fenomenológica – implica em limitar todo o conhecimento ao sujeito e suas significações; o que ele vê, percebe e significa, a sua relação com o objeto não pressupõe uma existência independente do objeto em relação ao sujeito que o percebe; é como o objeto existisse a partir da maneira que o sujeito o percebe Redução fenomenológica – método fenomenológico – não pressupõe um conceito do que é verdadeiro ou falso ou uma teoria e consenso válido para todos os indivíduos Maslow e Rogers – possuem propostas condinzentes com esta concepção 16 As três revoluções em psicologia Três momentos que são apontados como momentos de revolução, por teóricos da Psicologia Humanista: 1ª revolução – por volta de 1913 – advento do Behaviorismo. Surgiu em reação à excessiva preocupação da Psicologia no século XIX com a consciência e com a introspecção como método de chegar aos dados da atividade mental consciente. Os behavioristas jogaram fora não só a consciência, mas também os recursos da mente: sendo o comportamento manifesto aquele que podia ser visto e medido, ele era tudo o que contava. Ao enfatizar os seus estudos no comportamento humano, deixando de lado as preocupações com a consciência e os fenômenos mentis, acabou por conceber o ser humano como produto das determinações ambientais, de forma que o ser humano, sua subjetividade e sua constituição deveriam ser compreendidos como frutos das interações com a realidade na qual estavam inseridos. O behaviorismo, embora tenha centrado seus empenhos no estudo do comportamento humano, não deixou de seguir, em suas origens, os modelos mecanicista e newtoriano. Os comportamentos humanos, os fenômenos psicológicos são vistos como funções de estímulos do mundo externo e a preocupação com a descrição e o registro objetivo por observadores independentes é bastante pertinente 2ª revolução – Psicanálise – Sigmundo Freud (1856-1939) – descende das ciências naturais. Freud partiu de uma formação médica e preocupou-se em permanecer fiel dos conceitos básicos da física clássica enquanto procurava descrever os fenômenos psicológicos. O ponto de vista topográfico que baseou a proposição da divisão do aparelho psíquico em três estruturas básicas (id, ego e superego), assim como os demais pontos de vista que norteiam sua teoria – dinâmico, econômico e genético – fundamentam-se em leis físico-químicas da época A Psicanálise tomará como objeto de estudo o inconsciente, que é então reconhecido como a grande força que move muitos dos fenômenos mentais e dos comportamentos humanos; minimiza-se, assim o papel da consciência na constituição da pessoa, de suas ações, seus desejos e sentimentos, em detrimento da força atribuída aos processos e determinações inconscientes Para Freud o homem era uma criatura de instintos e, em particular de dois instintos primários, o de vida e o de morte (de Eros e de Tânatos). Esses dois instintos estavam em conflito, não só entre si, mas também com o mundo e com a cultura. A sociedade baseava-se na renúncia dos instintos, através do mecanismo da repressão; mas os instintos não se rendiam sem luta Behaviorismo e Psicanálise – o ser humano é, essencialmente, um ser determinado A Psicanálise surgiu mais ou menos ao mesmo tempo que o Behaviorismo Behaviorismo – determinismo ambiental; todo destaque ao ambiente externo (aos estímulos recebidos de fora) como fator determinande do comportamento Psicanálise – determinismo psicogenético; enfatiza o ambiente interno, ou os estímulos recebido de dentro sob a forma de impulsos e instintos 3ª revolução ou 3ª força – Psicologia Humanista – vem expressar o rompimento que a Psicologia Humanista pretendia estabelecer em relação às duas grandes tendências da Psicologia dominantes até então: o Behaviorismo e a Psicanálise Pressupostos mecanicistas, reducionista e deterministas do Behaviorismo e da Psicanálise – fontes de ataque da Psicologia Humanista Psicologia Humanista 1) maior ênfase à consciência, oferecendo uma contribuição no sentido de fortalecer o reconhecimento de sua importância na Psicologia acadêmica 2) consideração de que a vida humana possui uma dinâmica na qual, em cada fase, o ser humano deve alcançar um certo grau de realização, a fim de que possa se estruturar 17 como pessoa plena e integrada, de forma que o homem é entendido como um processo e evolução 3) preocupação em entender a vida humana em sua totalidade e o homem enquanto um ser uno 4) resgate das possibilidades humanas – a valorização de sua força de vontade, de sua razão, sua liberdade de escolha e compreensão, de sua responsabilidade pessoal, de aspectos da experiência peculiarmente humana, como o amor, o ódio, o medo, a esperança, a felicidade, o bom humor, a afeição e o sentido da vida – e a consideração da pessoa no contexto da família, do trabalho e dos ambientes sociais Rogers – “Se eu deixar de interferir nas pessoas, elas se encarregarão de si mesmas, Se eu deixar de comandar as pessoas, elas de comportam por si mesmas, Se eu deixar de pregar às pessoas, elas se aperfeiçoam por si mesmas, Se eu deixar de me impor às pessoas, elas se tornam elas mesmas.” O homem seria dotado das possibilidades de se desenvolver, de se realizar, tendendo naturalmente para o equilíbrio e a auto-organização e devendo caminhar nesse sentido Figueiredo – “A natureza é sempre boa, é sempre positiva, é uma fonte inesgotável de criações e prazeres; a sociedade pode não ser tão boa, mas nada impede que se torne, e isto dependerá essencialmente da transformação do indivíduo, que nada mais é que a sua autêntica realização, que a atualização infinita do potencial de vida que habita cada sujeito. Tais concepções, naturalmente, legitimam o projeto de ‘autocurtição’ e a auto-complacência, ao mesmo tempo que desautorizam qualquer projeto de crítica racional e transformação da realidade.” Psicologia humanista – teria sido uma grande experiência, mas sem conseguir resultar em uma “escola de pensamento humanista em psicologia”, ou em uma teoria que pudesse ser reconhecida como filosofia da ciência A maioria dos psicólogos humanistas trabalham em clínicas particulares e não em universidades, o que os levou a produzir um número de pesquisas bem inferior; formaram muito menos alunos que seguissem sua tradição, em relação aos psicólogos acadêmicos Os psicólogos humanistas estavam se opondo, na década de 1960, a movimento que já não dominavam em sua forma inicial e não tinham tanta influência na Psicologia. A Psicanálise freudiana e o Comportamentalismo skinneriano já estavam iniciando uma mudança na direção indicada pelos psicólogos humanistas, na medida em que trabalhavam com as questões da interferência do sujeito na construção de si e do conhecimento Precursores teóricos Abrahm Maslow: a psicologia da auto-realização Maslow: “Eu penso no homem que se auto-atualiza não como um homem comum a quem alguma coisa foi acrescentada, mas sim como o homem comum de quem nada foi tirado. O homem comum é um ser humano completo com poderes e capacidades amortecidos e inibidos.” Abraham MASLOW (1908-1970) – pai espiritual da Psicologia Humanista; viveu em Nova York num período em que a cidade era um estimulante centro intelectual por abrigar estudiosos europeus refugiados da perseguição nazista. Foi sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial que ele se deu conta da reduzida contribuição que a Psicologia vinha fornecendo à solução de importantes problemas mundiais, quando procurou a Psicologia Social e da Personalidade, dedicando-se a “descobrir uma psicologia para a conferência da paz” 18 Preocupou-se em desenvolver uma abordagem que pudesse ser usada como instrumento de promoção de bem-estar psicológico e social Considerou a questão do crescimento e do desenvolvimento pessoal Estudou uma amostra de dezoito pessoas que considerava as mais saudáveis e criativas, para compreender as mais elevadas realizações que os seres humanos são capazes de alcançar Critério para a pessoa participar da amostra de seu estudo inicial – não apresentar neuroses ou outros problemas pessoais maiores e conseguir utilizar, da melhor forma possível, seus talentos, capacidades e potencialidades Faziam parte da amostra: Abraham Lincoln, Thomas Jefferson, Albert Einstein, Jane Adams, William James, Braruch Spinoza e outros – consideradas saudáveis, criativas e altamente auto-atualizadas Auto-atualização – elemento central da teoria de Maslow – experienciar de modo pleno, intenso, fazendo de cada escolha uma opção para o crescimento, realizando e concretizando o seu potencial, a partir de uma sintonia com a própria natureza íntima e de um compromisso com os próprios atos, a fim de se reconhecer as defesas que impedem o processo de crescimento e de se trabalhar para abandona-las; representa um compromisso com o crescimento e com o desenvolvimento máximo das capacidades interna e individuais de cada pessoa Experiências “cumbre” – situações em que a auto-realização é alcançada; são experiências de amor pleno, experiências religiosas, ou simplesmente vivências cotidianas O estado de auto-realização não é estático; não se pressupõe que uma pessoa que alcance o estado de auto-realização assim permanecerá – trata-se de estados que podem ocorrer no dia-a-dia, voltando-se a um estado não-atualizado posteriormente A sociedade e a cultura não são capazes de criar o ser humano, apenas podem ajudá-lo a concretizar o que já existe em si; toda pessoa possui uma tendência inata para tornarse auto-realizadora Alcance do nível elevado da existência humana – desenvolvimentos de suas qualidades e capacidades e a realização de seu potencial Maslow definiu uma hierarquia de necessidades que a pessoa deveria satosfazer para se tornar auto-realizadora: Necessidades fisiológicas (fome, sono, sede, sexo etc.) Necessidades de segurança (estabilidade, ordem, proteção, libertação do medo e da ansiedade etc.) Necessidades de amor e pertinência (família, amizade); Necessidades de estima dos outros e de si (auto-respeito, aprovação etc); Necessidades de auto-realização (desenvolvimento de capacidades) Para Maslow as neuroses e desajustamentos psicológicos seriam causados pela privação de algumas destas necessidades básicas Satisfeitas as primeiras necessidades, vão emergindo as mais superiores; e estas satisfeitas, emergem outras ainda mais “nobres” A auto-realização só é possível através do Outro; é o outro que provê e satisfaz as necessidades primárias da outra pessoa, possibilitando assim que ela se auto-realize – como uma mãe que satisfaz a fome do bebê com alimento, permitindo então que ele possa ter experiência cumbre, no caso, a de amor pleno. Pessoa auto-realizada – em sua experiência foi possível perceber a existência de uma totalidade maior que a coexistência de contrários; não se refere ao fato de que a pessoa não possui necessidades, frustrações e sentimentos contraditórios Motivação de deficiência – corresponde a uma necessidade de modificar uma situação que se mostra insatisfatória ou frustradora 19 Motivação de ser – refere-se a uma motivação para o crescimento, a um desejo de procurar uma meta considerada positiva Cognição S e D (Ser e Deficiência), valores S e D e amor S e D – apenas os indivíduos auto-realizados são capazes de conhecer, expressar um amor pleno sem conceber o objeto a partir de suas necessidades satisfeitas ou insatisfeitas, pois se o indivíduo estiver com alguma deficiência, ele conceberá o objeto a partir da função e possibilidade de satisfazer-se, deformando este objeto Maslow afirmou que considerava a Psicologia Humanista uma transição ou preparação para uma “quarta força”, a Psicologia Transpessoal, que iria além da identidade do humanismo, das necessidades e interesses humanos, estando mais centrada no cosmos. Ela estaria preocupada com a investigação das capacidades e potencialidades humanas máximas, incluindo o estudo da religião e da experiência religiosa Maslow pode ser considerado um pioneiro da psicologia do potencial humano Apontou para uma imagem essencialmente otimista do homem Investigou as dimensões positivas da experiência humana Suas concepções de saúde psicológica e de realização são contrárias às muitas idéias e aspectos doentios, hostis e preconceituosos que encontramos na vida cotidiana A teoria de Maslow foi muito aplicada nos negócios e na indústria, sustentando a crença de que a necessidade de auto-realização é uma força motivadora e uma importante fonte potencial de satisfação Grau de validade científica – bastante baixo Adquiriu mais força no mundo do trabalho, na educação, na medicina e nas psicoterapias Maslow se concentrou na escrita e na pesquisa muito mais que no trabalho de terapia Terapia – considerava-a eficaz por envolver um relacionamento íntimo e confiante com outro ser humano, representando um modo de satisfazer as necessidades de amor e estima que foram frustradas, geralmente em todos os que procuram ajuda psicologia O terapeuta deveria ser capaz de ajudar sem interferir, respeitando a individualidade de cada um e suas capacidades particulares, cuidando da essência ou do ser daqueles com quem trabalha As relações humanas íntimas poderiam fornecer grande parte do mesmo apoio encontrado na terapia O método proposto centra-se em viabilizar que o indivíduo possa realizar suas potencialidades internas e inatas Processo de auto-realização – impossível de descrição, pois é autodeterminado e justifica-se por si só Carl Rogers: a perspectiva centrada no cliente Carl Rogers (1902-1987) desenvolveu sua teoria a partir principalmente de sua experiência clínica Não era seguidor de nenhuma escola específica Desenvolveu trabalhos se relacionando com psicólogos, psicanalista, educadores, religiosos, psiquiatras, assistentes sociais Não destaca nenhum nome como sendo seu antecessor Seu trabalho questiona a autoridade do terapeuta e a suposta falta de consciência do cliente no processo terapêutico; sugere estar no cliente a grande força da relação; é o cliente quem dirige e conduz a terapia, como é capaz de conduzir sua vida Maslow e Rogers – cada pessoa possui uma tendência inata para atualizar as capacidades e potencialidades do eu Rogers desenvolve uma teoria da personalidade que se concentra numa única motivação avassaladora: a atualização do eu 20 Impulso para a auto-realização – é inato; pode ser ajudado ou prejudicado por experiências infantis e pela aprendizagem Auto-atualização – o nível mais alto da saúde psicológica Forças positivas em direção à saúde e ao crescimento – inerentes ao organismo Cada pessoa guarda em si um impulso para ser competente, capaz, completa e autoatualizada O organismo tem uma tendência geral para funcionar de maneira a se preservar e se valoriza Maslow e Rogers – sustentam uma visão bastante otimista e positiva da natureza humana Rogers distingue-se de Maslow – 1) desenvolve suas idéias a partir do trabalho com indivíduos emocionalmente perturbados e não com indivíduos saudáveis; 2) concepção um pouco diferente acerca das características das pessoas psicologicamente saudáveis ou que alcançaram seu pleno funcionamento -> elas “se caracterizam por uma abertura a toda experiência, uma tendência a viver plenamente cada momento, a capacidade de serem guiadas pelos próprios instintos, e não pela razão ou pelas opiniões dos outros, um sentido de liberdade de pensamento e de ação e um alto grau de criatividade Personalidade – moldada pelo presente e pela maneira como percebemos o presente conscientemente; Rogers mostra-se preocupado, acima de tudo, com a percepção, a tomada de consciência e a experiência Pessoas – capazes de crescimento, mudança e desenvolvimento pessoal Crescimento pode ser muitas vezes impedido ou interrompido -> na medida em que os comportamentos e valores reais de um indivíduo distanciarem-se muito da imagem do seu “self ideal” (características que ele gostaria de ter), esses comportamentos e valores reais podem se tornar um obstáculo ao desenvolvimento e desenvolvimento da pessoa Personalidade que funciona plenamente – personalidade em contínuo estado de fluxo, constantemente mutável, um processo Terapia centrada no cliente – principal contribuição de Rogers O indivíduo tem dentro de si a capacidade, ao menos latente, de compreender os fatores de sua vida que lhe causam infelicidade e dor, e de reorganizar-se de forma a superar tais fatores Coloca um peso maior sobre o impulso individual em direção ao crescimento, à saúde e ao ajustamento Terapia – libertar a pessoa para um crescimento e desenvolvimento normais e o cliente seria alguém capaz de entender a própria situação com uma mínima interferência do terapeuta O indivíduo – não é um organismo passivo a ser manipulado -> é ele quem assume a direção necessária: modifica as metas da terapia e inicia as mudanças comportamentais que deseja que ocorram -> as intervenções do terapeuta seriam, em última instância, prejudiciais ao crescimento da pessoa Terapeutas – lutar por um relacionamento de aceitação e compreensão, sendo acima de tudo autêntico, expressando-se verdadeiramente e, assim, preocupando-se com o conhecimento dos próprios sentimentos, da forma como está vivenciando a situação Rogers – grande valorizados dos relacionamentos Relacionamentos – seriam capazes de tornar mais visível a personalidade de quem se relaciona, permitindo às pessoas olharem para si próprias, conhecerem o outro e se conhecerem melhor - > permitiriam, portanto, que os envolvidos funcionassem por inteiro, de forma plena 21 Trabalho com grupos – Rogers é defensor da capacidade terapêutica do grupo, que poderia proporcionar um verdadeiro processo de encontro O grupo é um espaço em que as expressões emocionais vêm à tona e ficam sujeitas às reações dos outros componentes, exigindo que a pessoa seja ela mesma e procure um encontro profundo e essencial consigo mesmo Os grupos são, portanto, capazes de resultar em mudanças reais para os membros que dele fazem parte As idéia de Rogers exerceram grande influência na educação, na indústria, em dinâmica de grupos e trabalho social, na filosofia da ciência Críticas – papel secundário que destinava a aspectos patológicos do ser humano; ênfase na auto-atualização como uma tendência inata; critérios científicos de sua pesquisa Auto-atualização e conhecimento – só é possível através de uma relação de cumplicidade entre duas pessoas Desenvolvimento de conhecimento – a qualidade do encontro entre as duas pessoas é fundamental -> deve haver congruência, empatia, consideração positiva, consideração incondicional e a percepção por parte do outro dessas atitudes Congruência – fato de ser acessível a ambos os sujeitos da relação os sentimentos vivenciados, tornando-se possível serem comunicados Empatia – percepção do mundo e dos sentimentos do outro como se fossem seus, sem jamais esquecer, porém, o fato de que não são seus Consideração positiva – aceitação afetuosa e positiva do outro e seu mundo Consideração incondicional – o não julgamento do outro Este outro deve perceber conscientemente essas considerações que permeiam a relação, pois somente esse sentimento de cumplicidade poderá leva-lo à transformação e ao conhecimento O próprio paciente deve decidir sobre sua vida e o rumo da terapia Conhecimento – individual; a cumplicidade entre as pessoas apenas propicia que o conhecimento seja percebido Não há interferência do outro, ou um pressuposto daquilo que deve ser percebido ou conceituado pelo paciente -> somente cada indivíduo é capaz de perceber o seu modo próprio e deve concebe-lo sozinho Maslow e Rogers – o outro é o possibilitador de qualquer forma de conhecimento e transformação; através da cumplicidade ou satisfação de suas necessidades básicas; o próprio sujeito que pode perceber o processo e fazê-lo acontecer, caracterizando a possibilidade do conhecimento como individual PSICANÁLISE A Europa no fim do século XIX – o surgimento da Psicanálise Período que antecede o século XIX – passagem da Renascença, início da Idade Moderna, fim da Idade Média, Iluminismo no século XVII, Reformas Religiosas, desenvolvimento da consciência individual e coletiva, Revolução Francesa, Revolução Industrial, advento do Capitalismo Produtos destes grandes movimentos – reestruturação e delimitação do poder e do mercado consumidor Em relação ao desenvolvimento das idéias – proposição de novos modos de conhecimento, valorização do conhecimento científico e tecnológicos em contraposição ao conhecimento teológico 22 Século XIX – diversas batalhas e lutas na Europa, lutas entre regiões, enfrentamentos de classes, Revolução de 1848 na França (proletária), grave crise agrícola na Europa, êxodo rural, crescimento demográfico das cidades, desemprego, escassez de mercados, excesso de produção Alemanha – efeitos tardios da Revolução Francesa e da Revolução Industrial; somente enfrentados no século XIX; produção de conhecimentos no âmbito das ciências naturais, a Física, a Biologia, a Química, e desenvolvimento do conhecimento como especialização e formação profissional do povo para o trabalho nas indústrias; proliferam-se as universidades; filosofia romântica e idealista é abandonada; desenvolvimento; estudos no campo das ciências naturais, como a fisiologia, que mantinha estreita relação com o estudo da física; desenvolvimento da indústria; coletivismo prevalece sobre o individualismo; organizações e reivindicações coletivas; transição para o capitalismo; cenário de conflitos e mudanças constantes Viena no final do século XIX – centro do império Austro-Húngaro; monarquia absolutista baseada no direito divino dos reis, pelos privilégios aristocráticos e pelo mercantilismo; “cidade do lazer”; cultura florescia principalmente através da música e do teatro; burguesia vienense ganha força Sigmund Freud – Viena final do século XIX; dificuldades para que sua teoria fosse reconhecida no meio científico vienense > ênfase dada pela Psicanálise ao papel da sexualidade na vida humana representava uma ofensa à burguesia de Viena > Psicanálise trabalhava com conceitos e hipóteses, como o inconsciente, que não se enquadravam nos moldes de ciência daquela época > Freud propunha o homem como um ser em conflito entre forças antagônicas (as pulsões e a cultura repressora) e atribuía grande importância aos acontecimentos da infância e sua presença no mundo mental adulto, características que o aproximavam do movimento romântico e o afastavam das ciências naturais Freud - fez Medicina; área clínica e hospitalar, especializando-se em neuroanatomia e doenças orgânicas do sistema nervoso; inicialmente estudava o cérebro de indivíduos com patologias psiquiátricas após a morte; abandonou a anatomia e iniciou trabalhos clínicos; neurologia clínica Anna O. – paciente de Josef Brauer; hidrófoba; sintomas de histeria: paralisia, ausência de memória, náuseas, distúrbios de fala e visão; Brauer tratava-a pela hipnose, através da qual lembrava-se das experiências vivenciadas que a impediam de beber água Freud – durante muito tempo adotou o método hipnótico para tratar seus pacientes; porém, nem todos podiam ser hipnotizados; em muito casos os sintomas reapareciam; abandonou o método hipnótico, mantendo a catarse, que futuramente originaria a técnica de livre associação, que consistia na associação livre de idéias que traziam à tona conteúdos inconscientes, causadores de distúrbios 1885, Paris, conhece Jean Martin Charcot - observando o tratamento oferecido por Charcot a seus pacientes histéricos, Freud hipotetizou a base sexual dos distúrbios 1895 – publica com Breur Estudos sobre histeria, oficializando o início da Psicanálise 1896 – apresenta um artigo à Sociedade de Psiquiatria e Neurologia de Viena, relatando as experiências de sedução de suas pacientes, as quais eram realizadas principalmente pela figura paterna; em seguida descobriu que estas experiências não ocorriam de fato: tratava-se de fantasias, mas podiam causar traumas e por isso pareciam tão reais 1900 – escreve A interpretação dos sonhos No período da Primeira Grande Guerra (1914-1918) havia três grupos psicanalíticos, que divergiam quanto às conclusões provenientes da observação Década de 1920 – sistema freudiano englobou estudos sobre a personalidade humana 23 1933 – os nazistas tomaram o poder e a teoria psicanalítica foi condenada pelo poder totalitário, por supervalorizar a vida sexual, e banida da Alemanha A Epistemologia Psicanálise – surge a partir dos parâmetros sócio-histórico-político-culturais dos séculos XIX e XX; resultado de uma evolução de conceitos e diretrizes filosóficas e cintíficas e “ruptura” em relação ao conhecimento até então existente e predominante (Positivismo e projeto de Psicologia proposto por Wilhelm Wundt) Positivismo – origem no século XIX; Auguste Comte; estado positivo é marcado pelo predomínio da observação subordinando a imaginação e a argumentação; para apreender e explicar os fenômenos psicológicos, o espírito positivo deve buscar suas relações imutáveis; reafirma as proposições kantianas quanto à causalidade das coisas, em oposição à concepção mecanicista aristotélica Influências na obra de Freud – Mecanicista > formulação do Complexo de Édipo, a partir do qual toma a primeira infância como um conjunto de ocorrências que se repetem em todos os seres humanos desde o seu nascimento até aproximadamente os 5 ou 6 anos de idade. Positivismo > constante tentativa de Freud equiparar o psiquismo a algo orgânico, em alguns momentos mais intensa, como no início de sua obra. Modelo predominantemente causal nas teorias acerca da constituição e da dinâmica do aparelho psíquico > para Freud, sempre há uma causa para quaisquer eventos ocorridos na vida o ser humano, não pode haver eventos mentais sem causa que os determine Método de análise criado – a interpretação e análise do discurso e de quaisquer conteúdos mentais evitando-se ao máximo quaisquer interferências externas à situação terapêutica. 1) confronto do discurso do indivíduo analisado com os fatos por ele vividos; 2) conclusão de que não há comprovações acerca de uma relação verídica entre o que é dito pelo paciente e aquilo que efetivamente ocorre; 3) invetigar simbologia/significação que a pessoa atribuiu à experiência relatada; 4) análise do discurso internamente nas suas várias manifestações > as regras de interpretação se tornam uma necessidade psicanalítica, uma vez que esta teoria atravessa a fronteira do biológico e vai em busca da interpretação de símbolos (como uma distorcao do real, procurando um sentido além da consciência e atingindo uma verdade inconsciente); a hermenêutica se torna absolutamente necessária > “ruptura” da Psicanálise em relação aos modelos científicos vigentes Inconsciente – objeto de estudo > a obra de Freud opõe-se também ao empirismo Franz Brentano – necessidade da observação, sem que fosse necessária a experimentação; projeto de Psicologia empírica; estudar a atividade mental como processo; importante o ato da experiência de ver ou falar e ouvir; não rejeita a experimentação, mas acredita que o objeto da Psicologia deveria ser o ato mental – ato mental de ver, por exemplo, em vez do conteúdo mental daquilo que é visto Freud em sua prática psicanalítica tem como objeto de estudo o inconsciente humano, que pretende atingir pela observação através do método de associações livres (o paciente fica deitado em um divã, durante a sessão terapêutica, e relata o mais fielmente possível tudo o que lhe ocorre à mente naquele momento, mesmo e sobretudo se tais ocorrência aparentemente forem desordenadas e desconexas). O inconsciente é observado por Freud como instância real. Seguindo as influências positivistas, Freud busca compreender os processos mentais. Baseia todo seu trabalho na observação (Brentano) O trabalho do médico e psicanalista é em parte influenciado pelo positivismo, no que diz respeito à observação, já que este é um dos primeiros elementos de seu trabalho, que é procedido pela interpretação e análise dos conteúdos psíquicos 24 Freud ocupa-se do que é vivido pelo sujeito, como é percebido, assimilado, processado e quais são seus produtos, daí a formulação do inconsciente como objeto de estudo Wundt – coexistência de causalidade física e causalidade psíquica. Psicologia fisiológica experimental, que reconhece a existência de uma causalidade psíquica, mas atém seus estudos às influências e à causalidade física enquanto determinante na experiência imediata. Psicologia social ou psicologia dos povos, que estuda os processos criativos exaltando a compreensão sobre a causalidade psíquica. Não consegue fazer comprovações substanciais quando propõe uma unidade psicofísica, porque utiliza modelos diferentes para análise Freud – segue a vertente da psicologia dos povos (proposta por Wundt), mas baseia seus trabalhos nas ciências naturais Um passeio pela teoria psicanalítica freudiana Sujeito que sofre > busca algum alívio de suas dores > vai encontrar – na Psicanálise – um certo tipo de resposta para isso Histeria – no final dos anos 1890 chamava a atenção dos médicos a existência de uma série de pessoas que, apesar de apresentarem sintomas no corpo – dores, paralisias, convulsões -, não tinham para os mesmos um funcionamento que seguisse uma lógica anátomo-fisiológica; os sintomas não obedeciam às leis de funcionamento do corpo, o que tornava as pessoas que os apresentava verdadeiras aberrações, incômodos ao conhecimento já estabelecido Freud – talvez os sintomas nos corpos quisessem dizer algo, possuíssem algum significado; ao atribuir aos sintomas no corpo um sentido que não lhes era aparente, Freud propôs a existência de uma lógica psíquica – para além da lógica anátomofisiológica; busca por desvendar esse funcionamento psíquico, entender seus sentidos, suas leis e – dessa maneira – pode intervir sobre ele Início da Psicanálise – Freud investigará o psiquismo humano por duas frentes: 1) por meio do estudo aprofundado das patologias e da busca de um sentido para as mesmas – especialmente para a histeria; 2) por meio do estudo dos sonhos, que se converterão em paradigma do funcionamento psíquico inconsciente Os movimentos do psiquismo Freud percebeu que o sintoma que as histéricas apresentavam, um sintoma estranho, sem correspondência exata com o corpo anatômico, desaparecia quando as pacientes podiam se lembrar do fato que o provocou juntamente com o afeto que acompanhava tal fato No ser humano existem os fatos e os afetos, ou a lembrança ou representação dos fatos e os afetos ligados aos mesmos Temos um movimento do tal afeto entre o fato que o originou e o corpo; o afeto tem uma mobilidade psíquica O afeto investe, ocupa uma representação ou não. Investimento > importância, atribuição de valor Afeto que se investe é o que diz se um fato é ou não importante, revelando seu valor O afeto, ao se movimentar, transpõe o valor daquilo que o originou para alguma outra representação Há uma força, denominada afeto, que se movimenta pelas representações, os fatos, as coisas, os nomes, o corpo O ser humano, então, é movido por alguma força, algo que o movimenta e investe psiquicamente 25 As histéricas têm um sintoma que desaparece quando se lembram daquilo que o provocou e do afeto que o acompanhava. Mas, Freud percebe que, muitas vezes, suas pacientes não se lembram do que causou o sintoma, como se não quisessem se lembrar Há uma resistência a que elas se recordem do que gerou o sintoma, porque isso faz sofrer Psiquismo – ele não quer sofrer, faz tudo para evitar sofrimento, até mesmo esquecer o que foi aquele fato tão doloroso que estava associado a um afeto, que por sua vez foi parar num sintoma, como se o sintoma fosse causa de sofrimento e não uma tentativa mal sucedida de escapar dele O psiquismo funciona segundo o princípio do prazer Lei do princípio do prazer – quando algo vai contra essa lei, ele é ... esquecido Consciente, pré-consciente e inconsciente – lugar para cada um desses conteúdos do psiquismo Sonhos – são semelhantes aos sintomas: ambos parecem não ter sentido algum e, no entanto, podem ser decifrados Para analisar os sonhos, Freud toma como método anotar tudo o que lhe vier à cabeça a partir de cada imagem que o sonho contenha O sonho traz um conteúdo manifesto, aquele do qual nos lembramos, e um conteúdo latente, aquele que aparece na medida em que deixamos a mente vagar pelas imagens do sonho. O manifesto remete ao latente Sobredeterminação – nada acontece devido a um único motivo. Vale para o sintoma e também para o sonho. Há uma rede de associações O sonho é a realização de um desejo Intenção do psiquismo – a busca de satisfação Desejo – movimento que vai do incômodo até a experiência de satisfação recriada – que é a realização do desejo. O desejo é algo que vai de uma falta a um preenchimento, do desprazer ao prazer. Ex.: bebê “gap” – lacuna entre o que é almejado e o que é encontrado na experiência com a realidade. Esse “gap”, essa falta é o que faz com que o desejo exista. Nunca encontramos plenamente o que buscamos e é isso o que faz com que possamos sempre desejar É a falta que faz com que haja movimento, desejo, e, conseqüentemente, vida O que criamos, por exemplo, em termos de cultura e civilização, pode ser entendido como uma tentativa de alcançar essa correspondência absoluta do desejo com aquilo que é realizado O bebê percebe que alucinar a percepção não resolve a fome e então chora, grita, se mexe até que a mãe lhe traga comida O psiquismo visa ao prazer Princípio de realidade – um adiamento do prazer imediato em troca de algum prazer possível é a proposta do princípio da realidade O sonho é uma realização de desejo; ele apresenta o desejo como realizado; no sonho, o desejo já se saciou, de uma forma alucinada; o sonho é uma realização alucinatória de desejo; o sonho é o guardião do sono Esquema apresentado por Freud – Cs-Pcs / Ics -> censura/resistência O desejo que aparece realizado no sonho é um desejo inconsciente; ele não pode ser percebido; Freud chama de recalque Os sonhos são ao mesmo tempo mantenedores do desconhecimento e reveladores daquilo que visam disfarçar Os sonhos são a formação de compromisso entre as duas instâncias: a Cs/Pcs (consciência/pré-consciência – que censura – e o Ics (inconsciente) – que tem seus 26 conteúdos recalcados pressionando constantemente por retornarem, ou tornarem pela primeira vez, à consciência Quanto maior excitação, maior desprazer; quanto menor excitação, mais prazer O excesso é percebido como incômodo e desagradável Mapa do psiquismo proposto por Freud em A interpretação dos sonhos: percepção / memória / inconsciente / pré-consciente / consciência A energia psíquica circula, usualmente, do pólo perceptivo para o pólo da consciência No sonho e na alucinação o movimento do psiquismo é chamado de regressão e retorna até a percepção O ato, decorrente de uma percepção alucinada da realidade, pode levar às formulações delirante acerca dessa mesma realidade que vemos, por exemplo, na psicose Os lugares psíquicos O recalque, para Freud, é pedra angular da Psicanálise O recalque serve para afastar algo da consciência Uma dupla de forças – atração e repulsão – garante que aquilo que é recalcado encontre uma barreira para retornar Recalque diz respeito a uma representação pulsional, a uma idéia que foi catexizada com uma quota de libido proveniente da pulsão O recalque serve para que o sujeito fuja do desprazer Primeira tópica Inconsciente quer dizer aquilo que está latente, temporariamente inconsciente; e também trata-se daquilo que é recalcado e não pode tornar-se consciente sob pena de causar desprazer A consciência é uma qualidade psíquica, não um lugar, um sistema; ela diz respeito a um foco, um momento no qual determinado conteúdo é percebido Os processos do sistema Ics. são atemporais, sendo a referência vinculada ao sistema da consciência; os processos inconsciente dispensam pouca atenção à realidade, estando sujeitos ao princípio do prazer; eles são cognoscíveis por meio de seus derivados: os sonhos, sintomas, atos falhos e outras produções O sistema pré-consciente / consciente é responsável por colocar em comunicação as diferentes idéias representações, de modo que umas possa influenciar as outrs e se estabelecer segundo uma ordem no tempo e no espaço, conforme algum grau de coerência; cabe a esse sistema efetuar a censura dos conteúdos que não se coadunem com a ordem estabelecida, recalcar o que cause desprazer e efetuar o teste da realidade Segunda tópica Freud propõe uma nova compreensão do psiquismo que não anula a anterior, mas recoloca-a num outro lugar e ultrapassa-a em alguns pontos A premissa fundamental da Psicanálise é a divisão do psíquico entre o que é consciente e o que é inconsciente Ego – o ego controla as abordagens à motilidade, isto é, à descarga de excitações para o mundo externo; o ego é a instância mental que supervisiona todos os seus próprios processos constituintes e que vai dormir à noite, embora ainda exerça censura sobre os sonhos; desse ego procedem também os recalques A análise defronta-se com a tarefa de remover as resistências que o ego apresenta contra o surgimento do recalcado Há algo no ego – a resistência – que também é inconsciente > o paciente se opõe, apresenta uma certa resistência a se lembrar, a associar, de forma que o que estava oculto possa emergir Tudo o que é recalcado é inconsciente, mas nem tudo que é inconsciente é recalcado Também uma parte do ego pode ser inconsciente 27 A consciência é a superfície do aparelho mental, o sistema que primeiramente é atingido pelo mundo externo O ego tem origem no sistema perceptivo e começa por ser pré-consciente O id é a entidade que se comporta como se fosse inconsciente O ego não se acha separado do id, funde-se com ele O recalcado também se funde com o id, é parte dele, mas não é todo o id; o id guarda em si as moções pulsionais O ego é aquela parte do id que foi modificada pela influência do mundo externo, por intermédio da percepção-consciência O superego é uma gradação do ego, uma diferenciação do ego, assim como o próprio ego constitui-se como diferenciação do id. O superego não está vinculado à consciência, relacionando-se com a consciência moral, a autocrítica e os idéias a serem perseguidos e almejados por um sujeito Identificação – processo pelo qual um sujeito assimila alguma característica de um outro, transformando-se a partir disso O ego é um composto das muitas identificações realizadas desde a infância pelo indivíduo Superego – composto a partir das identificações efetuadas pelo indivíduo ao passa pelo complexo de édipo O id é o reservatório da libido O superego é um resíduo das primitivas escolhas objetais do id e uma formação reativa contra essas escolhas A relação do superego com o ego funda-se nos preceitos: ‘você deveria ser assim’ e ‘você não pode ser assim’ O superego deriva sua existência do complexo de Édipo e tem por missão recalca-lo O superego é herdeiro do complexo de Édipo Entre a primeira e a segunda tópica se interpõe noções fundamentais como Complexo de Édipo, identificações, formação do superego, moções pulsionais etc. O que faltava à teoria de 1900, além de um maior refinamento do que seria inconsciente e consciente, eram as proposições que levassem em conta a sexualidade e as pulsões A sexualidade e o desenvolvimento psíquico O recalcado tem a ver com o sexual infantil A formação dos sintomas relaciona-se com a sexualidade e, mais ainda, que a sexualidade é o que dá força para que um sintoma – ou qualquer outra produção psíquica – se constitua O objeto e o objetivo não são importantes no que tange à sexualidade – são contingentes, circunstanciais, sendo que o essencial se localizaria em algum outro lugar Pulsão sexual (excitações, idéias afetivas, impulsos anelantes, estímulos endógenos) – é aquilo que move o ser humano, uma força propulsora de um movimento constante, que coloca o sujeito para agir e o ‘provoca’ de maneira ininterrupta; trata-se de uma força constante, interna ao psiquismo humano, da qual não se pode fugir e que pressiona constantemente em busca de satisfação Pulsão – força constante que impulsiona ao movimento em um sentido, com um objetivo: ser satisfeita. Ela visa à satisfação, à extinção das necessidades, das urgências somáticas ou até, em última instância, à aniquilação de si mesmo e de sua própria tendência ao movimento mediante o retorno a um estado de plenitude, no qual nenhum movimento se faz necessário posto que o ser de nada carece ‘Gap’ – hiato, uma distância entre a satisfação plena e aquela a que se consegue atingir. Nessa falta reside a impulsão da pulsão, a possibilidade de movimento 28 A diferença entre desejo e pulsão está em que Freud define o desejo como um movimento eminentemente psíquico, no qual é possível investir representações a partir dos afetos circulantes por esse psiquismo. Já a pulsão é o que anima esse psiquismo. Trata-se de uma força impulsionadora que origina toda essa movimentação psíquica, uma força que aparece no psiquismo como desejo A pulsão brota no indivíduo como fenômeno físico e orgânico A pulsão trata-se de um fenômeno fisiológico e de um processo energético-econômico A pulsão provém do corpo e coloca em movimento um processo que vai da necessidade ao acúmulo de energia que gera uma pressão no sentido da descarga que conduz à satisfação A pulsão é percebida pelo indivíduo como fenômeno psíquico – idéia, vontade, dor, medo, sensações – e impele o indivíduo a agir A pulsão se coloca no limiar entre o somático e o psíquico A pulsão, diferentemente do estímulo, surge dentro do organismo e atua como força constante. Não há como fugir dessa força constante É constitutivo do ser humano desde diversas perspectivas: conflito entre o desejo e a defesa, entre os diferentes sistemas ou instâncias, entre as pulsões e no conflito edipiano O primeiro dualismo da teoria freudiana coloca-se em termos de pulsões sexuais do ego (ou de autoconservação) Pulsões primordiais – pulsões sexuais e pulsões de autoconservação (ou do ego) Pulsões de autoconservação – são primárias; dizem respeito à abertura inicial, perceptiva e motora do organismo ao seu meio; são parcialmente falhas, devido à prematuridade do homem; não são parte do conflito psíquico; representadas no conflito psíquico pelo ego As pulsões do ego dizem respeito a necessidades ou funções indispensáveis à conservação do sujeito como, por exemplo, a alimentação As pulsões do ego são particularmente propensas a funcionar segundo o princípio da realidade Pulsões sexuais – a pulsão sexual não visa à reprodução, mas satisfação. A sexualidade humana é permeada por essa pulsão, o que a torna antinatural, pouco instintiva, atravessada pelo psíquico e, conseqüentemente, pelo simbólico A diversidade de fontes somáticas de excitação sexual faz com que a pulsão sexual não esteja unificada desde o início mas, ao contrário, fragmentada em pulsões parciais cuja satisfação reside no prazer do órgão Narcisismo – é o amor a si mesmo, é tomar a si como um objeto sexual A libido narcisista também é manifestação da pulsão sexual Pulsões de vida – incluem pulsões sexuais e de autoconservação Pulsões de morte O aparelho mental encontra-se sujeito a dois princípios que parecem equivaler-se: o princípio do prazer e o princípio de Nirvana Princípio de Nirvana – princípio de constância, que diz que o sistema nervoso tem por função livrar-se dos estímulos que chegam a ele, reduzi-los ou até manter-se em uma condição não-estimulada O princípio de prazer é considerado uma modificação do princípio de Nirvana que serve à pulsão de morte As neuroses traumáticas e as brincadeiras infantis anunciam a hipótese de que pode haver algo não regido pelo princípio do prazer relacionado à repetição de experiências desprazerosas Os pacientes repetem na transferência todo tipo de situações indesejadas e emoções penosas, revivendo-as sob pressão de uma compulsão. As pessoas também fazem a 29 mesma coisa na vida, longe das análises, repetindo situações que são fonte de desprazer apenas Existe uma compulsão à repetição que sobrepuja o princípio do prazer Ocorre algo da ordem do traumático, um excesso de excitação que deve ser digerido e que deixou fora de ação o princípio do prazer, uma vez que o psiquismo foi invadido sem seu filtro usual que lhe permitiria manter suas quantidades dentro de um limite aceitável Pulsão de morte – tem por tarefa reconduzir a vida orgânica ao estado inanimado Pulsão sexual – brota do corpo, de zonas erógenas situadas no corpo e que demandam ao psiquismo algum trabalho no intuito de satisfazê-la Primazia da organização genital - a ser conquistada com o advento do complexo de Édipo Sexualidade infantil perversa polimorfa – a criança é dotada de uma sexualidade, de desejo e de busca de satisfação do desejo Existe uma sexualidade infantil, cujas características são a perversão e a polimorfia da qual não nos recordamos porque, com o advento do Édipo, uma das implicações é que esqueçamos do que existiu anteriormente em termos de funcionamento psíquico A sexualidade infantil constitui-se de um estado de auto-erotismo a um estado de escolha objetal, passando pelo narcisismo Fases do desenvolvimento da libido – oral, anal e fálica Complexo de Édipo – organiza a criança como sendo um eu, separado do mundo, que faz escolhas e que, principalmente, tem para si interdições e possibilidades nesse ser separado da mãe. Uma proibição é que não pode ser com a mãe. Outra é que não pode matar o pai. No Édipo, o sujeito se organiza, se estrutura O complexo de Édipo inicia-se na fase fálica, na qual o sujeito divide o mundo entre as pessoas que têm e as que não têm pênis – visto como falo, ou seja, de extremo valor Complexo de castração – noção de que o sujeito pode perder algo de extremo valor caso não abra mão de ter e ser tudo; é a imposição de um limite, noção de que existe um limite e que não se pode tudo e nem se é tudo No complexo de Édipo, a constatação do fato de que a mãe volta os olhos para outro lugar, ou seja, a entrada de um terceiro na relação dual mãe-bebê, traz consigo a constatação da castração: aquela criança não é tudo para a mãe, não é quem a completa. Se isso representa um duro golpe sobre o narcisismo infantil, é o caminho possível de existência fora do âmbito do desejo do outro Inícios da Psicanálise – parte do hipnotismo e da sugestão; preocupação com a remissão dos sintomas para a busca de sentido Freud – ouvir o que suas histéricas têm a dizer; análise dos próprios sonhos Regra fundamental da psicanálise – falar tudo aquilo que passa pela cabeça, da forma mais livre possível – atenção flutuante e associação livre Contrapartida - escutar tudo aquilo que é dito até que os sentidos se revelem Atenção flutuante, associação livre, interpretação para a construção de um sentido que revele aquilo que não é conhecido para o sujeito Importância da escuta do analista atenta para aquilo que emerge por entre as falas esteriotipadas dos pacientes A repetição aparece como forma de revivescência de um passado que nunca passou, das experiências vívidas e presentes no inconsciente atemporal e que buscam se fazer valer – e viver – da mesma maneira que foram desconsiderando a passagem do tempo Transferência – transposição para o analista daquilo que marcou; busca de elaboração possível Para se defender, o eu busca tratar a representação incompatível como se ela não existisse. Mas como não pode expulsá-la , o melhor que pode fazer é transformá-la em 30 uma representação fraca, desprovida de investimento, retirando-lhe o afeto correspondente. Esse afeto desvinculado da representação que lhe deu origem terá que se deslocar para algum outro lugar. O que difere as patologias, então, é o lugar para o qual migra o afeto deslocado A histeria, a obsessão e a psicose partem de um mesmo princípio: a tentativa de esquecimento de algo indesejado e se desdobra de formas diferentes a fazer algo com o afeto que sobra A histeria faz sintomas conversivos, no corpo A neurose obsessiva faz as idéias obsessivas e os rituais A psicose faz alucinações e delírios Freud traz a idéia de que a formação dos sintomas – conversões, ideações obsessivas, alucinações, delírios – parte de um compromisso qualquer entre instâncias em prol de uma defesa A patologia, conseqüentemente, relaciona-se com o tipo de defesa adotada