A EFICÁCIA DA INTERVENÇÃO CONITIVO-COMPORTAMENTAL EM SUJEITOS COM ANSIEDADE SOCIAL Maura Nunes Pimentel de Carvalho Enfermeira graduada pela Faculdade de Ensino Superior de Floriano, Licenciada e bacharelanda em psicologia pela Universidade Estadual do Piauí. RESUMO Esta pesquisa tem como foco a eficácia da terapia cognitivo-comportamental em sujeitos com ansiedade social. O transtorno de ansiedade social é caracterizado pelo Manual de Diagnóstico Estatístico e de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana de 2002 (DSM IV), por um medo acentuado e persistente de situações sociais ou de desempenho nas quais o indivíduo teme a se sentir envergonhado ou embaraçado. A ansiedade social afeta tanto a vida pessoal quanto a vida profissional da pessoa, as complicações socioeconômicas induzem a gastos excessivos com profissionais e exames muitas vezes dispensáveis. Para a realização do estudo, foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica em livros e artigos científicos. Considerada um problema de saúde pública, a ansiedade social causa um grande impacto no sistema de saúde, não só pelo gasto com o tratamento, mas também pela busca mais freqüente por atendimento médico em decorrência de sintomas físicos resultantes dos sintomas ansiosos. Os assuntos abordados destacam a caracterização do transtorno com suas peculiaridades e características gerais, a realização do diagnóstico com ênfase na importância do diagnóstico diferencial e as formas de tratamento, com ênfase, principalmente, na terapia cognitivo-comportamental. Conclui-se através deste trabalho, a eficácia da terapia cognitivocomportamental, que se apresenta com um referencial teórico sistematizado e uma variedade de técnicas importantes no tratamento da ansiedade social. Palavras-chave: Ansiedade social. Efetividade. Terapia cognitivo-comportamental. 2 1 INTRODUÇÃO O termo fobia deriva da palavra grega phobos, que significa terror e medo extremo. O deus Phobos caracterizava-se por causar muito medo aos seus inimigos e, assim, ajudar o seu pai, Ares, o Deus da guerra. O primeiro a referir-se a ansiedade social foi Hipócrates, no entanto o termo fobia foi utilizado a partir do século XIX em textos médicos recebendo então o conceito de medo extremo, que se manifesta fora de qualquer proporção ao estímulo desencadeador e que não pode ser explicado, resultando sempre na esquiva ao objeto temido (SILVEIRA E VALENÇA, 2005). A ansiedade social afeta tanto a vida pessoal quanto a vida profissional da pessoa, as complicações socioeconômicas induzem a gastos excessivos com profissionais e exames muitas vezes dispensáveis. Quando o paciente não é diagnosticado precocemente as conseqüências são traumatizantes como pedidos de demissão, afastamento do trabalho, absenteísmo etc. A principal característica desse transtorno é a esquiva a situações que geram ansiedade, levando conseqüentemente a um isolamento social. Considerada um problema de saúde pública, a ansiedade social causa um grande impacto no sistema de saúde, não só pelo gasto com o tratamento, mas também pela busca mais freqüente por atendimento médico em decorrência de sintomas físicos resultantes dos sintomas ansiosos. Os transtornos de ansiedade são responsáveis por importante custo social, tanto em função do sofrimento individual quanto em virtude dos custos sociais indiretos. O Transtorno de Ansiedade Social começa muito cedo na vida da pessoa, há manifestações desde a infância, mas torna-se mais evidente no início da vida adulta na medida em que os contatos com os outros se tornam mais obrigatórios. Assim, esta pesquisa torna-se relevante por esclarecer como é diagnosticado o transtorno e suas particularidades, bem como as formas de intervenção, conhecimentos que são importantes não somente para profissionais da área da saúde mental, mas também clínicos, cardiologistas e neurologistas, os quais na maioria das vezes são os primeiros profissionais a receber as pessoas portadoras do transtorno. Com isto, o estudo propôs-se a investigar a eficácia da terapia cognitivocomportamental nos pacientes diagnosticados com transtorno de ansiedade social, discutindo os estudos teóricos conceituais já publicados, bem como as técnicas utilizadas nessa terapia. Discute-se, também, a importância da realização de um diagnóstico diferencial do transtorno de ansiedade social com outros problemas médico. 3 2 TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL 2.1 CONCEITO O transtorno de ansiedade social é caracterizado pelo Manual de Diagnóstico Estatístico e de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana de 2002 (DSM IV), por um medo acentuado e persistente de situações sociais ou de desempenho nas quais o indivíduo teme a se sentir envergonhado ou embaraçado. Essas situações sociais temidas levam ao comportamento fóbico-evitativo, os quais formam prejuízos significativas, para o indivíduo, podem ser expressos na escola, trabalho ou nas relações afetivas sociais (MULULO et al, 2009). Sobre o assunto Burato, Crippa e Loureiro (2009) afirmam que o transtorno tem início no começo da adolescência e segue um curso crônico com alta proporção de comorbidades o que faz com que seja considerado um importante problema de saúde pública, embora subreconhecido e subdiagnosticado. Os mesmos autores ressaltam que os principais medos estão relacionados à exposição como parecer ridículo, ser o centro das atenções, ser observado por outras pessoas, comer, beber ou escrever em público, interagir com estranhos ou pessoas do sexo oposto, dizer tolices, falar ao telefone e usar banheiros públicos. Em todas essas situações o individuo julga estar exposto a avaliações dos outros. Castillo et al (2000) relatam que em jovens a ansiedade por ser expressa por choros, acessos de raiva ou afastamentos de situações sociais nas quais haja pessoas não familiares. As crianças com o transtorno relatam desconforto em inúmeras situações: falar em sala de aula, comer na cantina próxima a outras crianças, escrever na frente de outros colegas, usar banheiros públicos, dirigir a palavra a figuras de autoridade como professores e treinadores. 2.2 EPIDEMIOLOGIA E PREVALÊNCIA Para Mululo et al (2009) a prevalência do transtorno de ansiedade social durante a vida é de 12,1% e, em amostras clínicas, os pacientes representam de 10 a 20% dos indivíduos com transtornos de ansiedade, segundo o autor, é o transtorno de ansiedade mais prevalente. Em estudos epidemiológicos, as mulheres são mais afetadas que os homens, mas, em amostras clínicas, o contrário também foi referido. A razão dessa variação é desconhecida. A 4 idade de pico para a fobia social é de 10 anos, embora seja comum desde os 5 até os 35 anos de idade ( SADOCK, 2007). Sobre o assunto, Picon (2003) afirma que o pico de incidência é os 15 anos, também concorda que em estudos clínicos a prevalência é de homens em relação às mulheres (2:1). Afirma que o transtorno é mais freqüente em indivíduos de baixo poder aquisitivo e de início precoce, com 50% dos casos iniciando na adolescência e 50%, em torno dos 20 anos de idade. A autora afirma também que menos dos 25% dos fóbicos recebem tratamento, e a maioria recebe tratamento inadequado. O diagnóstico precoce certamente pode prevenir a piora e deterioração do quadro, com melhora na situação ocupacional do paciente, qualidade de vida e comorbidades. Os indivíduos com fobia social podem apresentar história de outros transtornos de ansiedade, transtornos do humor, transtornos relacionados ao uso de drogas e bulimia nervosa. Além disso, o transtorno de ansiedade com evitação ocorre com freqüência em pessoas com fobia social generalizada (SADOCK e SADOCK, 2007). O autor discorre que relatos de co-morbidade com fobia específica variam de 50 a 80%. 2.3 ETIOLOGIA Para Sadock e Sadock (2007) as causas precisas da ansiedade social são bastante variadas, a patogenia das fobias uma vez compreendida, pode se mostrar um modelo claro de interações entre fatores biológicos e genéticos, por um lado, e acontecimentos ambientais por outro. As causas para o surgimento de fobia social em um determinado indivíduo certamente são múltiplas, Picon (2003) ao discorrer sobre o assunto afirma que provavelmente diferentes indivíduos com fobia social terão diferentes componentes em suas cargas genéticas, desenvolvimento psicológico precoce e experiências de vida, que combinados determinarão o surgimento da doença. O modelo etiológico atual para esse transtorno é multifatorial e incompleto. A autora salienta que diversos autores têm sugerido fatores predisponentes ou etiológicos possíveis, como: inibição comportamental em bebês e crianças pequenas, baixos escores de extroversão, neuroticismo, timidez na infância, experiências traumáticas condicionadoras, pais com transtorno de personalidade esquiva e familiares com transtorno de ansiedade. 5 Sant’Anna et al. (2002) afirmam que a neurobiologia da fobia social ainda é pouco conhecida, e as vias serotoninérgicas, noradrenérgicas e gabaérgicas têm sido mais estudadas, sendo a principal evidência de implicação dessas vias neuronais as respostas farmacológicas obtidas com medicamentos utilizados na atualidade. A via dopaminérgica tem sido implicada na fobia social, onde estudos revelam diminuição de densidade de receptores dopaminérgicos na região estriatal de fóbicos sociais em relação a controles normais. O sistema dopaminérgico modula o comportamento de abordagem e sua disfunção pode estar relacionada com transtornos de ansiedade social. 2.4 DIAGNÓSTICO Até a década de 80, os casos de ansiedade ou fobia social eram descritos na literatura da área de psicologia como timidez patológica, ansiedade de encontro ou mesmo insegurança. Somente passou a constar como categoria diagnóstica em 1980 com a publicação do DSM-III. Em 1987 os quadros de fobia social foram individualizados em dois subtipos: 1. fobia social circunscrita ou restrita, como nos casos de falar, comer ou assinar cheques em público; e 2.fobia social generalizada, em que aparecem temor, ansiedade e evitação à maioria das situações sociais, como, por exemplo, iniciar e manter conversações, manter-se próximo a alguém, falar com pessoas de autoridade e participar de festas (PICON, 2003). No transtorno de ansiedade social, o indivíduo apresenta um estado de ansiedade que provém da expectativa ou presença de avaliação interpessoal em situações sociais imaginadas ou reais, caracterizado por uma preocupação excessiva em que o indivíduo em questão sentese percebido e avaliado pelos demais. O medo persistente de situações sociais de desempenho social, interação verbal ou situações de potencial avaliação por outras pessoas são as características que identificam e diferenciam o grupo dos fóbicos sociais dos demais transtornos mentais de ansiedade (Rapee e Heimberg, 1997). Para Caballo (2000) a ansiedade social é aquela experimentada por uma pessoa na quando está em companhia de outras e aumenta com o nível de formalidade da situação social e o grau em que o indivíduo sente-se exposto ao escrutínio, acompanhando-se por um desejo de evitar ou fugir da situação social. A definição atual para a ansiedade social é um medo marcante e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho, em que a pessoa se sente exposta a desconhecidos ou a avaliação dos outros ( Associação psiquiátrica americana, 2002). 6 2.4.1CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA ANSIEDADE SOCIAL O transtorno de ansiedade social pode ser acompanhado de outras patologias, assim segue no quadro abaixo os principais critérios para diagnosticar a ansiedade social: A. Medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho, nas quais o indivíduo é exposto a pessoas estranhas ou ao possível escrutínio por terceiros. O indivíduo teme agir de um modo( ou mostrar sintomas de ansiedade ) que lhe seja humilhante e vergonhoso. B. A exposição à situação social temida quase invariavelmente provoca ansiedade, que pode assumir a forma de um ataque de pânico ligado a situação ou predisposto por situação. Nota: Em crianças a ansiedade pode ser expressa por choro, ataques de raiva, imobilidade ou afastamento de situações sociais com pessoas estranhas. C. A pessoa reconhece que o medo é excessivo ou irracional. Nota: Em crianças esta situação pode estar ausente. D. As situações sociais e de desempenho temidas são evitadas ou suportadas com intensa ansiedade ou sofrimento. E. A esquiva, a antecipação ansiosa ou o sofrimento na situação social ou de desempenho interfere significativamente na rotina, no funcionamento ocupacional (acadêmico), em atividades sociais ou relacionamentos do indivíduo, ou existe sofrimento acentuado por ter fobia. F. Em indivíduos com menos de 18 anos, a duração é no mínimo 6 meses. G. O temor e esquiva não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p.ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral nem é mais bem explicado por outro transtorno mental (p.ex., transtorno do pânico com ou sem agorafobia, transtorno de ansiedade de separação, transtorno dismórfico corporal, transtorno global do desenvolvimento ou transtorno da personalidade esquizóide H. Em presença de uma condição médica geral ou outro transtorno mental, o medo no critério A não tem relação com estes; p.ex., o medo não diz respeito a tremor na doença de Parkinson ou manifestação de um comportamento alimentar anormal na anorexia nervosa ou bulimia nervosa. Generalizada: se os temores incluem a maioria das situações sociais ( considerar também o diagnóstico adicional de transtorno da personalidade de esquiva) FONTE: Associação Psiquiátrica Americana, 2002. 7 2.4.2 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL PARA ANSIEDADE SOCIAL Para Sadock e Sadock (2007), a fobia social precisa ser diferenciada do medo e da timidez normais apropriados, quando os sintomas perturbam a capacidade de desempenhar de maneira apropriada torna-se patológico. Os autores citam condições médicas não psiquiátricas que podem levar ao desenvolvimento de uma fobia e incluem a utilização de drogas (em especial alucinógenos e simpatomiméticos), tumores do sistema nervoso central e doenças cerebrovasculares. é importante estabelecer critérios diagnósticos para diferenciar a ansiedade social de outros transtornos similares. Segue adiante um quadro expositivo sobre essa diferenciação: Transtorno de pânico com Tipicamente não se limita a situações sociais e agorafobia. caracteriza-se pelo surgimento de ataques de pânico inesperados. Agorafobia com história de Envolve ansiedade ou esquiva que não é limitada a transtorno de pânico, transtorno de situações que envolvem a inspeção por outros. ansiedade generalizada e fobia específica. Transtorno de ansiedade separação. de Caracteriza-se por medos em relação à separação de pessoas importantes. Transtornos globais do Manifesta-se por esquiva de situações sociais devido a desenvolvimento, transtorno de falta de interesse em relacionar-se com outras pessoas. personalidade esquizóide. Transtorno da personalidade É conceituada como transtorno da personalidade, mas esquiva. pode descrever o mesmo grupo de pacientes que fobia social, tipo generalizada, um diagnóstico adicional de transtorno da personalidade esquiva deve ser considerada. Ansiedade e esquiva social Caracteriza-se por ansiedade que ocorre apenas durante associada com outros transtornos o curso de outro transtorno mental. Se for julgado que a mentais. ansiedade é melhor explicada por outro transtorno mental, um diagnóstico adicional de fobia social não é necessário. FONTE: FIRST, Michael B., FRANCES, Allen. PINCUS, Harold Alan, 2004. . 8 Tanto a psicoterapia como a farmacoterapia são úteis no tratamento da fobia social. Sadock e Sadokc (2007) indicam que a utilização tanto de uma como de outra produz melhores resultados do que cada tratamento isoladamente, embora este achado não seja aplicável a todas as situações e pacientes. Para os autores a terapia com a combinação de métodos cognitivos e comportamentais é mais efetiva. No tratamento farmacoterápico as drogas mais eficazes no tratamento da fobia social incluem os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), benzodiazepínicos, venlafaxina (Effexor), buspirona (Buspar). 3 METODOLOGIA A metodologia utilizada nessa pesquisa caracteriza-se como bibliográfica realizada em diversas fontes (livros e artigos científicos) sobre a eficácia da intervenção cognitivocomportamental em sujeitos com transtorno de ansiedade social, sendo abordados desde conceitos gerais, tais como epidemiologia, prevalência, como conteúdos mais centrais que visam esclarecer os objetivos propostos do tema em questão, como a abordagem da terapia cognitivo-comportamental nos pacientes que sofrem desse transtorno mental. Para Marconi e Lakatos (2010) a finalidade da pesquisa bibliográfica é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas quer gravadas. Para as autoras, é necessário que o pesquisador tenha habilidade para identificar toda a documentação necessária afim de que economize esforço e tempo. 4 RESULTADOS 4.1 CARACTERÍSTICAS DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL A terapia cognitiva comportamental para D`EL Rey e Abdallah (2006) é considerada a modalidade de tratamento não farmacológica mais estudada no tratamento da fobia social e sua eficácia foi mostrada em um grande número de investigações. Segundo os autores é uma forma de psicoterapia breve estruturada e orientada ao momento presente. Direcionada a resolver problemas atuais e a modificar os pensamentos e comportamentos disfuncionais do paciente, este e o terapeuta trabalha de forma colaborativa, como uma dupla. 9 De acordo com Ito et al (2008), a terapia cognitiva comportamental é educativa e de natureza focal, prioriza as discussões práticas realizadas nas seções e nas tarefas de casa, e estudos indicam que 12 a 16 sessões semanais são suficientes para a redução significativa da sintomatologia. A terapia cognitiva comportamental integra técnicas e conceitos vindos de duas principais abordagens tais como a cognitiva e a comportamental. A terapia cognitiva focaliza o trabalho sobre os fatores cognitivos da psicopatologia sendo uma das primeiras a reconhecer a influência do pensamento sobre o afeto, o comportamento, a biologia e o ambiente. Para Bahls e Navolar (2004) o objetivo da terapia cognitiva é descrever a natureza de conceitos que, quando envolvidos em um processo psicopatológico, são ativados de forma mal adaptativa ou disfuncional, e fornecer estratégias capazes de corrigir esses conceitos idiossincráticos. De acordo com os autores o desenvolvimento da teoria comportamental permitiu o conhecimento a respeito das leis gerais do comportamento, tornando-o mais previsível. Tal conhecimento é o ponto no qual a terapia comportamental se apóia para o desenvolvimento de sua prática clínica. 4.2 TRATAMENTO E EFICÁCIA DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL Para Isolan, Pheula e Manfro (2007) a terapia cognitiva-comportamental consiste em ensinar ao paciente a reconhecer seus sintomas de ansiedade, modificar as suas cognições negativas em situações de ansiedade, desenvolver um plano para lidar com a ansiedade, estimular a exposição gradual às situações temidas e o auto-reforço. Antes de começar a terapia, deve-se colher informações sobre a história da doença, início e tempo de duração; história familiar e predisposição biológica; experiências familiares e escolares relacionamentos sociais; afetivos; sexuais; sintomas fisiológicos; cognitivos e comportamentais; identificação das co-morbidades; necessidade de avaliação psiquiátrica e do uso de medicações; situações desencadeantes de sintomas e grau de interferência e prejuízo desses na vida do indivíduo; fatores ambientais e influência familiar e habilidades sociais préexistentes (ITO, 2008). A avaliação diagnóstica do paciente deve contemplar as possíveis co-morbidades e investigar de forma sistemática os seguintes aspectos (PICON, 2003): 1. Identificar os estímulos: fazendo um inventário dos desencadeantes dos sintomas, ou seja, todas as situações, pessoas ou atividades que despertem mal-estar, ansiedade, evitação, 10 etc. Ex: ir a festas, conversar com colegas, fazer compras, ir ao restaurante ou apresentar seminários. 2. Variáveis do organismo: levantar dados de história pessoal do paciente, como suas vulnerabilidades biológica e psicológica, experiências familiares, sociais, afetivas, sexuais, acadêmicas ou laborativas, desenvolvimento e traços de personalidade e eventos desencadeantes do quadro de fobia social. Ex. paciente com história de inibição comportamental que evolui para timidez e fobia social na adolescência. 3. As respostas do paciente: devem ser avaliadas em seus três níveis. I) Nível somático, autônomo, fisiológico: compreendem os sintomas antes, durante e depois da situação de interação ou desempenho social e a severidade, intensidade e freqüência dos sintomas que é muito variável. Ex. taquicardia, sudorese, tremores nas mãos, rubor facial, náuseas etc. II) Nível cognitivo: que identifica os pensamentos automáticos distorcidos, por exemplo: “se eu falar, eles perceberão minha ansiedade e vão pensar que sou incapaz de fazer este trabalho”, e a percepção que o paciente tem de si mesmo e aquela que ele imagina que os outros tenham dele. III) Nível comportamental: fazer um levantamento de todas as condutas explícitas ou veladas de evitação ou protelação. Ex. evitação de ir a festas, de fazer compras sozinho, sair com pessoas somente do mesmo sexo, não fitar o interlocutor, esconder-se atrás dos outros nos grupos de conversação. 4. Conseqüências: o que o paciente teme que possa ocorrer nas situações sociais, como, por exemplo, sentir-se humilhado, desrespeitado e anormal, ser tratado com desdém ou ironia; e as conseqüências diretas das evitações sistemáticas, que, embora ofereçam alívio imediato da ansiedade, acabam por reforçar a fobia social, causando inúmeras limitações e prejuízos na vida de seus portadores. Ex. o paciente evita sistematicamente apresentações de seus trabalhos em reuniões, com prejuízo de seu desempenho profissional. 5. Motivação do paciente: a efetividade da terapia cognitiva comportamental é diretamente proporcional à motivação e a participação ativa do paciente em seu planejamento e operacionalização. O fóbico social, via de regra, apresenta baixa motivação para a terapia no período de avaliação, que tente aumentar no início do tratamento quando os níveis de ansiedade diminuem. Avaliar níveis de depressão e apatia é essencial para a formulação de casos e planejamento terapêutico, pois também contribuem para a baixa motivação do paciente para mudanças. Ex. paciente não tem esperanças de mudança por estar deprimido e, 11 quando obtém sua primeira melhora percebe uma luz no fim do túnel, embora mantenha suas dúvidas. 6. Fatores ambientais: investigar aspectos da rede social disponíveis tais como : familiares participativos, ambiente de trabalho adequado e vida social ativa. O planejamento da terapia da terapia dependerá também dessas variáveis externas, pois é consideravelmente diferente tratar um individuo sem emprego, morando sozinho e sem amigos e outro que, apesar da fobia social, matem seu trabalho, apesar de constantemente cogitar desistir dele, em função de seus sintomas. 7. Habilidades sociais: todo paciente fóbico social deve ser avaliado em relação a suas habilidades sociais nas relações interpessoais e assertividade: capacidade para iniciar conversas, fazer ou receber críticas ou elogios, fazer indagações, negar-se a fazer algo, defender os seus direitos, etc. 8. Aparência pessoal: a avaliação destes aspectos visa otimizar a terapia cognitivo- comportamental, pois a presença de deformidades físicas, aparência desajeitada ou descuidada podem levar a dificuldades de socialização. Ex. paciente que se veste de forma juvenil por temer que mudanças em seu estilo chamem a atenção sobre si, paciente que não corta os cabelos por temer ser alvo de atenção dos outros. Os dados colhidos na avaliação são importantes para o planejamento do tratamento, devendo priorizar os sintomas que causam maior prejuízo no paciente. É importante no inicio da terapia informar ao paciente sobre o tratamento e as características da ansiedade social. Em relação aos objetivos da terapia cognitivo-comportamental Ito et al. (2008) cita a redução da ansiedade antecipatória, diminuir os sintomas fisiológicos associados, diminuir as cognições negativas que mantêm as crenças disfuncionais e a avaliação negativa pelos outros, diminuir a esquiva fóbica e melhorar as habilidades sociais. Sobre o assunto Picon (2003) afirma que para atingir esses objetivos, faz-se necessária uma abordagem integrada, aliando o tratamento farmacológico, sempre que indicado à terapia. Nos casos de fobia social restrita, a indicação de exposição sistemática isolada tem se mostrado eficaz, tendo menos chances de recaídas. Na fobia social generalizada, casos mais prevalentes em amostras clínicas, em pelo menos 50% são casos graves com altas taxas de comorbidade e muito incapacitantes, a combinação de técnicas cognitivas e comportamentais apresenta melhores resultados. Ainda sobre os componentes mais recentes da intervenção cognitivo-comportamental D’el Rey e Abdallah (2006) destacam as principais técnicas cognitivas e comportamentais, 12 dentre elas: a reestruturação cognitiva, a exposição, o treinamento de habilidades sociais e as técnicas de relaxamento. A reestruturação cognitiva, conforme Ito et al. (2008) envolve, a princípio, a detecção de pensamentos distorcidos, de crenças condicionais e da crença central do paciente, orientando assim o terapeuta na compreensão sobre o funcionamento cognitivo do paciente. Os autores salientam que um diário deve ser utilizado para auxiliar o paciente a registrar seus pensamentos automáticos distorcidos e a respectiva ansiedade em uma situação social. Depois os pacientes são orientados a questionar tais pensamentos de modo a perceber as distorções e corrigi-los diminuindo assim a ansiedade. A aprendizagem adquirida com estes exercícios ajuda os pacientes a identificarem a influência que os pensamentos têm sobre as suas emoções e comportamentos, assim aprendem a se controlar diante de determinadas situações, tornando-se autoconfiantes. A respeito dessa técnica D’el Rey e Abdallah (2006) afirmam que a reestruturação cognitiva procura desafiar diretamente as crenças irracionais ou disfuncionais, substituindo-as por outras mais adaptativas. É aplicada nos pensamentos antes da situação social e também durante e após a situação temida. Em relação à exposição, esta técnica tem por objetivo reduzir a ansiedade e o pensamento fóbico. A exposição requer que o paciente confronte realmente (exposição ao vivo) ou imagine (exposição na imaginação) os estímulos temidos (D’EL REY E ABDALLAH, 2006; ITO, 2008). Paciente e terapeuta identificam as situações que causam ansiedade, listam as condições temidas de menor grau para as de maior intensidade. O paciente é orientado a primeiro enfrentar as situações menos ansiogênicas passando pelo processo de habituação, sendo que, para ocorrer esta adaptação, o treino deve ser sistemático, ou seja, por tempo prolongado e freqüente. Sobre o treinamento de habilidades sociais Ito (2008) afirma que o objetivo dessa técnica é fornecer ao paciente um repertório variado e amplo de comportamentos sociais adaptativos devendo ser planejado de forma específica para cada caso. Para Picon (2003) as técnicas comuns para este treinamento incluem a modelagem com o terapeuta, ensaios comportamentais, retroalimentação corretiva, reforço social e tarefas de casa. Os aspectos de treinamento exposição e os elementos cognitivos são inerentes ao procedimento e benéficos para os pacientes. Ainda sobre essa técnica a autora discorre sobre o aprimoramento das habilidades sociais dos pacientes e o incremento de práticas sociáveis, consta de três partes: 1. Percepção 13 adequada de ambientes sociais: ensina quando, como e onde iniciar e concluir as interações interpessoais; 2. Incremento das habilidades sociais intrapessoais: aprende aspectos verbais e não verbais de relações sociais adequadas, centrando nas áreas problemas para cada paciente de forma individualizada; 3. Melhoria das habilidades para falar em público: ensinar aos pacientes os elementos essenciais para falar em público, incluindo a construção do que deve ser dito e formas de apresentação. Outra técnica importante é o manejo do estresse e relaxamento, D’EL Rey e Abdallah (2006) afirmam essas técnicas ajudam o paciente a controlar sintomas fisiológicos antes ou durante os eventos temidos. A principal técnica de relaxamento utilizada é o relaxamento progressivo de Jacobson. Afirma que a técnica é apropriada para pacientes que apresentam intensos sintomas fisiológicos frente a uma situação temida. Discorda dessa vertente Ito (2008), no qual orienta que tais técnicas são bastante utilizadas e úteis no tratamento de todos os casos ansiosos. O relaxamento progressivo de Jacobson consiste em observar a musculatura identificando qual parte está mais tensa e conseqüentemente propiciar o relaxamento da mesma. Torna-se relevante discutir dados pesquisados sobre a eficácia da terapia cognitivocomportamental em sujeitos com ansiedade social, Mululo et al (2009) afirma a eficácia dessa terapia para a redução da ansiedade, em onze estudos realizados percebeu-se a superioridade da psicoterapia em seis ensaios clínicos. Durante a discussão das etapas da terapia cognitiva comportamental nesta pesquisa, a terapia cognitivo-comportamental configura-se como eficaz uma vez que ensina o paciente não somente sobre a sua patologia, sobre controlar os sintomas mas também respeitando a sua individualidade e voltado a um tratamento educativo. Todos os componentes utilizados pela terapia cognitivo-comportamental no tratamento da ansiedade social mostram-se eficazes na diminuição dos sintomas e numa estabilidade do paciente em longo prazo. Enfim, após esse levantamento bibliográfico pôde-se compreender que vários autores compartilham da relevância do tratamento cognitivo-comportamental no tratamento da ansiedade social, com efetividade bem documentada. 14 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com esta pesquisa, foi possível perceber que a terapia cognitiva comportamental traz benefícios para os pacientes que apresentam ansiedade social, sendo confirmada esta conclusão através dos estudos já publicados sobre a terapia e pacientes com o transtorno, bem como pela teoria e técnicas bem fundamentadas acerca da forma de tratamento e da pesquisa realizada. Através desse estudo conclui-se que a terapia cognitivo-comportamental mostra-se eficaz na modificação dos pensamentos disfuncionais que causam muito sofrimento ao paciente, como também redução dos sintomas físicos. Com o levantamento bibliográfico foi possível salientar como é realizado o diagnóstico diferencial, diferenciando este transtorno de outros que possuem sintomas similares. Com o estudo foi possível compreender como se configura o transtorno da ansiedade social, com seus sintoma e pensamentos, bem como compreender como deve se realizado o diagnóstico. Ressalta-se ainda a forma de manejo do terapeuta cognitivo-comportamental e as técnicas utilizadas que demonstram eficácia na diminuição dos sintomas, sendo efetivas como tratamento. Espera-se que esta pesquisa sirva de base para outros trabalhos mais aprofundados acerca da ansiedade social e as formas de intervenção, visto o grande número de pessoas que são acometidos por esse transtorno em nosso meio, sendo necessários profissionais qualificados para atenderem as reais demandas dessa clientela. 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Associação Psiquiátrica Americana. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artes Médicas. 4ª Ed. 2002. BAHLS, Saint Clair; NAVOLAR, Ariana Bassetti Borba. Terapia cgnitivo-comportamentais: conceitos e pressupostos teóricos. Revista de psicologia eletrônica. n.4, Curitiba, julho,2004. Disponível em http://www.utp.br/psico.utp.online/site4/terapia_cog.pdf; acesso em : 20 /07/2010 BURATO, K.R.S.S.B; CRIPPA J.A.S; LOUREIRO, S.R. Validade e fidedignidade da escala de comportamento de segurança na ansiedade social. Revista Psiquiatria Clínica;v.36;n.5,p.8-175, 2009. CABALLO, V. 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