UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINSCAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ARRAIAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA A GESTÃO DE SALA DE AULA NO COLÉGIO ESTADUAL DR. JOÃO D’ABREU Neura Márcia da Silva ORIENTADORAS: Profª:MSC.ANA CARMEN SANTANA PROFª DRª MAGDA SUELY PEREIRA COSTA ARRAIAS –TO Janeiro 2012 2 A GESTÃO DE SALA DE AULA NO COLÉGIO ESTADUAL DR. JOÃO D’ABREU Neura Márcia da Silva INTRODUÇÃO Esta produção é um relato da pesquisa-ação realizada com professores do Colégio Estadual Dr. João D’Abreu, no município de Novo Alegre, Tocantins. A referida pesquisa faz parte de um Projeto de Intervenção Pedagógica sobre a constatação de que grande parte dos educadores da Unidade supra ainda tem dificuldades na criação de condições adequadas de ensino e aprendizagem. O embasamento para tal constatação foi o baixo desempenho da escola no IDEB de 2009, nas turmas de 9º ano e disciplinas críticas nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio Básico, apresentadas no resultado final do SARE/2010. A partir desta constatação o objeto de estudo do Projeto de Intervenção passou a ser a gestão de sala de aula e a influência desta na qualidade do ensino-aprendizagem; na clarificação sobre a importância da formação e do perfil profissional do professor na gestão do ensino e da aprendizagem. Nesta perspectiva a pesquisa-ação veio mostrar a importância de o professor assumir a liderança da sala de aula; para que pudesse desenvolver a contento o seu planejamento de ensino, a efetivação de combinados na sala de aula para o bom andamento das aulas. O conhecimento do aluno para melhor adequação da prática educativa às necessidades e interesses de cada turma e aluno. Além disso, ressaltou também, a importância de adequação do discurso à realidade dos alunos para a correta compreensão dos conceitos, procedimentos e atitudes trabalhados pelo professor, novas técnicas de ensino, a relação entre o comportamento e o ambiente escolar, gestão de tempo de aprendizagem, 3 Assim como, a inserção de novas tecnologias para diversificação das aulas, uma vez que cada aluno possui necessidades e formas diferentes de aprender. E novos olhares sobre a avaliação escolar, para que os professores juntamente com a escola repensem a avaliação do ensino e aprendizagem, não só no âmbito da sala de aula, mas a nível institucional, uma vez que a qualidade de ensino depende do perfil da Equipe Escolar. A participação dos professores na pesquisa aconteceu de duas formas: passiva e ativa. Na primeira, cinco professores foram observados, por amostragem, pela Coordenadora Pedagógica, na gestão de sala de aula. E na segunda forma, esses deram sua contribuição através de relatos de experiências de sua prática pedagógica e preenchimento de uma ficha diagnóstica. A priori, o projeto seria um referencial aos professores, orientador educacional, colaboradores, pais de alunos e parceiros sociais sobre os limites e possibilidades que pautam nossa prática pedagógica, através da análise e reflexão sobre a dicotomia existente na relação teoria e prática da gestão de sala de aula e os possíveis encaminhamentos na superação dos hiatos existentes. A posterior este trabalho faz parte de uma ação proativa do Coordenador Pedagógico para se conhecer a realidade sobre a gestão de sala de aula e, posteriormente, evitar novas lacunas no processo de encaminhamento deste profissional no exercício de sua função. Para tanto, os objetivos propostos para esse trabalho foram pautados no reconhecimento dos professores como produtores de saberes, no estímulo destes na criação de condições efetivas para a sala de aula, na pesquisa de novas abordagens que viessem contribuir na formação geral e específica de cada docente, assim como, avaliação precisa da gestão de sala de aula, mediante observação in loco e o estudo de outros meios de ensino para suporte na construção do conhecimento. Para tanto, a Coordenação Pedagógica propôs aos professores e direção da escola um Projeto de Intervenção com foco na formação continuada in loco, para estudo e análise da conectividade entre gestão de sala de aula e qualidade de ensino- aprendizagem. O próximo encaminhamento foi uma coleta de dados, por amostragem, realizada durante a observação das aulas de alguns professores e reuniões pedagógicas da Unidade de Ensino. 4 E a partir desse diagnóstico a pesquisadora elaborou um relatório das necessidades e interesses didáticos - pedagógicos mais urgentes a serem trabalhados durante os encontros de grupos de estudo dos professores. Sendo eles: competências e habilidades necessárias a um professor, liderança em sala de aula, conhecimento do aluno, práticas de inclusão, relação professor-aluno, novas técnicas de ensino, influência do clima escolar na gestão de sala de aula. Assim como, gestão do tempo de aprendizagem, dinamização das aulas, inserção de novas tecnologias no processo educativo e aprofundamento sobre avaliação escolar. Antes, porém; discutiu-se a qualidade do material didático com a equipe pedagógica para que o mesmo se tornasse uma ferramenta valiosa na construção de novas competências e habilidades do professor na gestão de sala de aula. A metodologia utilizada pautou-se na elaboração de um Cronograma de atividades, incluindo apresentação do Projeto de Intervenção (PI), Coleta de Dados, Elaboração da produção didático-pedagógica, Discussão deste material com a equipe pedagógica e implementação das ações do PI, resumindo-se em atividades voltadas para a observação de alguns professores na gestão de sala de aula, na devolutiva individual desta, na análise e reflexão desta gestão à luz do conhecimento durante os encontros de grupos de estudo in loco na primeira semana do corrente ano. Assim como, por meio de oficinas pedagógicas, nas reuniões para elaboração do Projeto Político Pedagógico e/ou Plano de Desenvolvimento da Escola, nos planejamentos participativos, Pré-conselhos, Conselhos de Classe ocorridos durante o ano letivo e por meio de um documento síntese de avaliação dos alunos e professores sobre os problemas relacionados ao ensino e aprendizagem e intervenções propostas por estes para superação dos mesmos. E os resultados obtidos foram conhecimentos da realidade escolar nas diferentes dimensões, evidenciando a conectividade entre elas, elaboração de um Regimento Interno com a participação de toda comunidade escolar, aperfeiçoamento na prática pedagógica de muitos professores, mediante sequência didática, diversificação das atividades, registro diário da sala de aula, mais clarificação das funções de cada um e da importância destas para a qualidade do ensino e da aprendizagem. 5 REVISÃO DE LITERATURA O assunto sobre Gestão de Sala de Aula é bastante complexo porque envolve vários fatores no processo. Fatores estes que sem os quais a gestão de sala de aula não produzirá os frutos merecidos, a aprendizagem dos alunos. Em se tratando desses fatores é necessário explicitá-los para melhor compreensão da importância dessa pesquisa para as Escolas, principalmente, para a Unidade de Ensino onde a pesquisa foi realizada. Os fatores de que se trata o parágrafo anterior diz respeito a sete dimensões apontadas pelos coordenadores UNICEF², PNUD³, INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação), em 2004, como elementos fundamentais que devem ser refletidos pela escola para avaliação da qualidade do ensino que ela desenvolve. Essas dimensões resumemse em Ambiente Educativo, Avaliação, Gestão Escolar Democrática, Formação e Condições de Trabalho Adequado dos Profissionais da Escola, Ambiente Físico Escolar e Acesso, Permanência e Sucesso na Escola e Prática Pedagógica. Dentre estas dimensões, focaremos a prática pedagógica por estar relacionada diretamente à gestão da sala de aula. A prática pedagógica requer uma ação planejada e refletida do professor diariamente na sala de aula para que os alunos aprendam, sintam o desejo de aprender cada vez mais e com autonomia. Para tanto, o ponta pé dessa prática deve ser o conhecimento prévio do aluno, suas necessidades e interesses, considerando que crianças, jovens e adultos vivem momentos especiais de suas vidas. Neste sentido, a prática pedagógica deve ser definida, conhecida e atualizada constantemente por toda comunidade escolar, as aulas devem ser regularmente planejadas, os professores tem direitos a momentos especiais e periódicos para troca de experiências pedagógicas, de prepararem diagnósticos no início e no final do ano letivo para conhecerem as competências e habilidades alcançadas até então pelos alunos e, a partir deste, realizar o seu planejamento de ensino. ________________________ ²Em inglês significa Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância. ³Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. 6 Quanto à contextualização do currículo, esta deve ser mediante atividades para identificação de problemas, assim como estudo e de intervenção do entorno da escola. Além da contextualização do currículo, o professor deve aplicar uma variedade de estratégias e de recursos de ensino-aprendizagem, tais como internet, jornais, revistas e livros diversos, filmes, jogos pedagógicos, dentre outros. Os alunos precisam demonstrar o que aprenderam através da oralidade, da escrita, do teatro, da pintura, do entretenimento. Para tanto, as aulas deverão ser organizadas conforme o tipo de atividade proposta. Além disso, o professor deve explicar de forma clara e objetiva os objetivos a serem alcançados pelos alunos em cada atividade educativa. E para que este possa atingi-los, aquele deve organizar a aula para que cada aluno possa questionar e discutir sobre o assunto em pauta, emitir opinião com direito a réplica e tréplica na defesa das suas opiniões. Bem como, construção do processo democrático na sala de aula, oportunizando aos alunos a proposição, criação e realização de atividades dentro da sala de aula, no espaço escolar e no entorno da escola. Assim como, reforçar os alunos nos conteúdos não assimilados em séries anteriores e na série atual. Só isto não basta, o professor deve organizar feiras ou exposição dos trabalhos dos alunos, tais como, desenhos, poesias, invenções. Assim como, a construção de uma prática de incentivo e orientação ao trabalho em grupo no desenvolvimento de pesquisas e experimentos. Bem como, uma prática pedagógica inclusiva com apoio individualizado, tanto aos alunos com necessidades educativas especiais, quanto àqueles com déficit de competências e habilidades para a série, respeitando um tempo diferenciado para cada um assimilar os conteúdos e dispensando cuidados e atenção igual a todos os alunos, indiferente da sua cor, cultura, opção sexual, condição física e social e do seu gênero. O professor, na gestão de sala de aula, deve proporcionar um ambiente satisfatório para o efetivo aprendizado dos alunos. Segundo Roseli Brito, no seu blog, a referida gestão não se trata de punição ou recompensa, mas, sim, de resguardar que todos os alunos se envolvam ativamente nas tarefas escolares. Isto significa que todo professor deve ser proativo, ao invés de reativo aos possíveis problemas de ensino e aprendizagem. Por isso, é tarefa do 7 professor acender o interesse e aumentar a motivação para aprender, encontrando o ponto de convergência com o que é significativo para os alunos. Além disso, utilizar perguntas que instiguem a reflexão e a crítica e recursos tecnológicos para iniciar as lições e cativar os alunos. Para manutenção da ordem, autora Roseli Brito (2010)propõe ao professor não disciplinar toda a sala de uma só vez, nem bater boca com o aluno, ao invés de dar a direção do que fazer cumprir o que for dito, uso de linguagem não verbal de forma adequada e evitar que uma aula seja chata. Tudo isso só é possível com mudança de postura, procedimentos ou práticas pedagógicas, os quais estão diretamente ligados ao Plano de Aula que, às vezes, não constam estratégias de ensino que contemple um ritmo de atividades que deixe o aluno ocupado e motivado todo o tempo da aula. No caso do ensino de crianças e jovens, é a Pedagogia que deve dar conta de responder pela organização da aula, do ambiente, da criação de procedimentos, do uso de diversificadas práticas de ensino, enfim, ferramentas que você precisa lançar mão para atingir o objetivo: fazer os alunos aprenderem. Mello enfatiza que a postura pedagógica do professor pode levar o aluno a se concentrar nas atividades propostas e que a variedade de recursos metodológicos e tecnológicos é um ótimo caminho para envolver o aluno no processo de construção do conhecimento. Construção essa que só ocorrerá de forma interdisciplinar e contextualizada, observando o cotidiano dos alunos e da comunidade onde estes estão inseridos, mediante participação dos mesmos, diferenciação pedagógica, tanto em recursos metodológicos quanto tecnológicos para o estudo de situações problemas, interatividade, com foco no social. A autora destaca que a aquisição de competências para gerir bem uma sala de aula depende de muito estudo, leitura, treinamento, da forma de domínio e aplicação de tais conhecimentos. Bem como, capacidade técnica e eficiência profissional na organização de estratégias adequadas. Assim deixa evidente sobre a importância da formação do professor e o seu comprometimento político-pedagógico. Destaca também, que o aluno percebe claramente quando o professor não domina determinado conteúdo. Isso fica evidente quando o professor se perde nas explicações, não consegue sanar as dúvidas dos alunos, nem dizer onde tais conteúdos são aplicados, por exemplo. Porém, o professor 8 pode demonstrar profissionalismo, recorrendo à ajuda do coordenador pedagógico ou de um colega de conhecimento técnico mais experiente, a fim de orientá-lo na organização metodológica que o leve ao aprofundamento teórico da disciplina sobre sua responsabilidade. Percebe-se, então, que o pedagógico é o eixo fundamental. E a organização deste evidencia que os demais setores da escola também o são. Segundo Aninger (apud: Mello), na sala de aula o professor deve resolver problemas de gestão de conteúdos e de conflitos. A gestão do conteúdo refere-se ao gerenciamento do espaço, materiais, equipamentos e recursos utilizados. Enquanto a gestão de conflitos diz respeito ao gerenciam ento dos problemas disciplinares, em relação à postura comportamental e suas relações inter e intrapessoal, dentro e fora da sala de aula, tanto por parte do aluno como do professor e funcionário. Isto por que num mundo de transformações, com predominância do consumo, hedonismo, individualidade (...) e adolescência precoce, exige do professor novas habilidades para novas competências. Além dos saberes técnicos, o professor atual precisa agregar novos conhecimentos além dos cognitivos. Exigem-se hoje, professores gestores, com visão ampliada da Escola e que perceba sua importância para além da sala de aula (BORDONI, 2010). Isto por que a sociedade contemporânea exige professores que saibam fazer uso da linguagem digital interativa, através da utilização de l ousas digitais na sala de aula, elaboração, edição e construção de conteúdo educativo, utilizando linguagem do vídeo digital, por professores e alunos como recursos didáticos. E para que a maior parte do processo de ensino e aprendizagem aconteça, Sely Santos Vilela, em seu artigo “Gestão na Sala de Aula”, contribui dizendo que é preciso a planificação e organização das aulas, o uso e a distribuição de recursos, os estabelecimentos e a explicitação das regras, a reação ao comportamento individual e de grupo [...]. A ordem depende da gestão de como os grupos são organizados na sala, do monitoramento e ritmo dos acontecimentos que acontecem nesse espaço. E Bordoni (2010) complementa dizendo que, com as redes sem fio e as tecnologias móveis, o professor atual precisa adquirir a competência da gestão de atividades digitais integradas com as presenciais e que façam parte do Projeto Político Pedagógico da Escola. 9 Outra contribuição sobre gestão de sala de aula vem de Rosilda Maria Alves, no seu trabalho acadêmico reforça a necessidade do professor se atualizar e de estar sempre conectado com o seu tempo e que veja em cada aluno um ser humano de muitas possibilidades. E para que o professor se torne eficiente e eficaz na gestão de sala de aula, este precisa criar um clima de relações entre com seus alunos que favoreça as atividades de orientação, integração e assistência às atividades escolares. Isto é, assessorar os alunos em diversos campos, principalmente, no campo psicossocial devido a proximidade. Para tanto, o professor precisa ter as seguintes habilidades: flexibilidade, diagnóstico e escolha de estilo de liderança. Para Perrenoud (1999), competência é a capacidade de um professor mobilizar de forma dinâmica um conjunto de recursos cognitivos, tais como, saberes, capacidades, informações, dentre outros, para a solução pertinente e eficaz para múltiplas situações. Para tanto, faz-se necessário as seguintes competências: organização e direção de situações de aprendizagem, administração da progressão das aprendizagens, conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação, envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho, trabalhar em equipe, participar na administração da escola, informar e envolver os pais, utilizar novas tecnologias, enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão e administrar a sua própria formação continuada. Dentre essas competências, duas delas destacam-se numa gestão de sala de aula: administrar a progressão das aprendizagens. O professor precisa conhecer e administrar situações problemas e ajustá-las ao nível e às possibilidades dos alunos. Para tanto, é preciso que esse profissional adquira uma visão ampliada dos objetivos do ensino, paute sua prática em teorias subjacentes da aprendizagem, saiba observar e avaliar os alunos em diferentes situações de aprendizagem, numa abordagem formativa, monitorar periodicamente as competências adquiridas e adotar medidas preventivas para superação das não alcançadas. Em conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação, o professor deve administrar a heterogeneidade da turma, propiciando apoio integral a todos os alunos, principalmente aos alunos com defasagem de conteúdos para que estes se desenvolvam cognitivamente em tempo hábil. 10 No site “o cantinho do professor” destaca que o sucesso do ensino depende muito do manejo de classe. E, este, é a forma como o professor organiza a sala de aula. Para tanto, o planejamento do professor deve ser adequado às especificidades de cada turma. Assim deve ser a organização didática para que os alunos desenvolvam um comportamento orientado para a execução das tarefas. Por isso, espera-se que o professor seja proativo quanto as eventuais situações problemas, recorra a metodologias diferenciadas de ensino que crie uma atmosfera positiva e estimulante na sala de aula· Bem como, clareza na transposição didática, construção coletiva de combinados e de compromissos com os alunos. E organização do espaço da sala de aula de forma que este contribua na produtividade do ensino e da aprendizagem. Para Rodrigues Júnior (2011), define administração da sala de aula como um conjunto de procedimentos utilizados pelo professor na sala de aula que favorece aprendizagem, porque reduz a dispersividade, a confusão, a desordem. Esta geralmente está associada à deficiência ou ausência de aprendizagem. Manter a ordem numa sala é dar condições para que todos aprendam n seu potencial máximo. Mas nem sempre toda desordem significa má administração ou indisciplina na sala de aula. Há atividades que acarretam interações ruidosas ou bastante movimentação por parte dos alunos, tais como jogos instrucionais e algumas atividades. Não basta o professor ter conhecimento dos fundamentos de uma gestão de sala de aula, é preciso reconhecer que há certas limitações envolvendo sua profissão. O professor não deve assumir as competências de profissionais de outras áreas, tais como, psicólogos, orientadores educacionais, psiquiatra, delegado de polícia, pediatras, assistentes sociais. Tampouco deve esquecer que cada aluno é um rio com vários afluentes: sociais, financeiros, familiares e psicológicos. Na equação de Medley, Everston e Emmer (apud: Rodrigues Júnior, 2011), uma boa instrução= boa instrução. E para equalizar tal equação Kounin (idem) elenca sete condutas que contribuem para a administração de classe eficiente. Sendo elas: proatividade, onipresença, simultaneidade, continuidade, “pique”, cobrança e variedade. 11 Proatividade é quando o professor é prevenido, toma todas as medidas possíveis para evitar que os problemas aconteçam. Este tipo de conduta reflete em resultados satisfatórios nas avaliações propostas. Ao contrário, a reatividade são as providências tomadas depois que os problemas acontecem, remediando a situação. Professores reativos, o seu foco é a manutenção da ordem, é o policiamento dos alunos. Numa turma onde o professor tem conduta reativa, percebem-se vários alunos alheios à instrução e nenhuma providência significativa é tomada para superação do problema. Onipresença, conduta que evita dispersividade, pois o professor circula democraticamente em todo espaço da sala de aula, entre os alunos para orientá-los e fazer com que o aluno gaste a maior parte do tempo envolvido na aprendizagem. Simultaneidade é a habilidade de o professor realizar mais de uma atividade ao mesmo tempo, mantendo o foco na aprendizagem. É o exemplo de um professor de Educação Física que consegue envolver todos os alunos na sua aula, sem dispersão, com produtividade. Enquanto uns estão na quadra treinando futsal, por exemplo, outros pulam corda, bate-bola próximo à quadra e outros grupos jogam dominó; dama numa sala apropriada. Continuidade é quando o professor inicia uma atividade, desenvolve e conclui a mesma em tempo hábil. Isso é verificado quando o professor inicia a apresentação de um conteúdo e, num dado momento, lembra-se da correção de uma atividade da aula anterior, interrompe o que está fazendo, faz-se a correção da atividade e, logo depois, retoma à apresentação da tarefa inicial. Além disso, ocorrem diariamente muitas interrupções inoportunas, que são as intervenções externas, quando coordenador, orientador, diretor e outros interrompem a dinâmica de algumas aulas. Pique é o contrário de monotonia, tédio, é uma aula com continuidade ascendente, num ritmo cada vez mais acelerado, onde todos prestam atenção, fazem anotações, tiram suas dúvidas, a turma mantém -se interessada na aula o tempo todo e as conversas paralelas não chegam a incomodar o desenvolvimento da aula. Cobrança é conduta de professores eficientes que só passam atividades que realmente instrui, não “enrola” em sala de aula, determina tempo adequado para realização das tarefas, faz a correção no horário estipulado. E todos os alunos se envolvem na atividade porque tem certeza que esta será cobrada e avaliada pelo professor. 12 Variedade é a diversidade de procedimentos e de meios que o professor eficiente utiliza numa mesma aula. Esta é dividida em etapas, por exemplo, na primeira o professor divide a turma em grupos para leitura e discussão do texto. Na segunda, cada grupo apresenta sua avaliação do texto lido. No momento seguinte o professor faz uma avaliação do desempenho de cada grupo, para tanto, cada aluno tem em mãos uma ficha com orientações como se procederá a avaliação feita pelo professor. A combinação destas propicia eficiência na gestão de sala de aula, favorecendo um ambiente adequado à aprendizagem, consequentemente, uma instrução será eficiente. PROCESSO DE PESQUISA-AÇÃO Esta pesquisa-ação faz parte do projeto de intervenção, tendo em vista o baixo desempenho dos alunos nas avaliações, tanto internas quanto externas. Para diagnosticar os problemas relacionados à gestão de sala de aula, fez-se necessário à observação de alguns professores na gestão de sala de aula para coleta de informações, aplicação e análise de fichas respondidas por alunos e professores durante um pré-conselho de classe. Mediante tais observações e análises, organizou-se o material didático para a formação dos professores in loco. Tanto a pauta quanto o material didático foram cuidadosamente avaliados pela equipe pedagógica com aval dos professores e direção. A partir daí elaborou-se uma ação específica para o Projeto Político Pedagógico, incluindo momentos de estudos de professores e coordenador pedagógico sobre os problemas de gestão de sala de aula. E estes momentos aconteceram durante o ano letivo, em datas previamente determinadas, com uma pauta elaborada conforme as dificuldades de gestão de sala de aula detectadas pela coordenação pedagógica durante as observações feitas em sala de aula. Nestas pautas constavam dinâmicas, leituras compartilhadas de diversos trabalhos sobre o assunto, assim como, discussão e reflexão correlacionando-os com a realidade escolar da escola em estudo. destes textos, 13 Além de utilizar um questionário específico para nortear a observação da gestão da sala de aula, durante os pré-conselhos, os alunos e professores responderam uma ficha com perguntas dirigidas para complemento das observações diagnósticas. Tanto as Fichas quanto as observações de sala de aula foram analisadas com o grupo de professores durante os momentos de estudo e confrontadas com teorias de gestão de sala de aula. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Foram realizadas nove observações na sala de aula para essa pesquisa. Em cada uma das observações o Coordenador Pedagógico analisou a gestão de sala de aula durante 50min de quatro professores. Durante as observações percebeu-se que a maioria destes não transitam entre os alunos, as ações relacionadas ao ensino não foram desafiadoras, não há cumprimento de regras pela maioria dos alunos, poucos recursos didáticos e, estes, não despertavam o interesse dos alunos e contribuíam muito pouco para a compreensão do conteúdo. Os alunos que concluíam suas atividades ficavam ociosos e passavam a conversar com os colegas ao lado ou perambulavam pela sala. Ouvia-se o tempo todo o professor chamar a atenção de alguns alunos. Em alguns momentos a atividade era interrompida para tratar de outro assunto, tal como frequência, correção de uma tarefa de casa ou pendentes de atividades da aula anterior. Além disso, não foi presenciada uma variedade de estratégias para se tratar do conteúdo em questão, principalmente, os recursos da tecnologia digital, usou-se mais o livro didático, lousa e giz, tornando as aulas monótonas a maior parte do tempo. E mesmo assim houve professores que não conseguiram manter a sala organizada nem o interesse dos alunos do início ao final da aula. As atividades não tinham tempo predeterminado para conclusão e os professores não conseguiram adesão de alguns alunos para participarem das atividades. Outro ponto crucial dessa observação é que a maioria dos professores sempre retiravam alunos da sala para buscar algum material que se esqueceu de solicitar antes, tais como, tesoura, cola, como, giz, apagador, 14 cópias de atividades. Ou então o próprio professor deixava os alunos a sós e iam solicitar materiais ou serviços de cópia. Outro dado interessante é que muitos alunos não se preocupavam em participar das aulas, poucos realizavam as atividades solicitadas e as correções individuais não contemplavam todos os alunos. Alguns professores escreviam visto na tarefa sem uma análise mais apurada da produção do aluno. Quanto ao monitoramento das habilidades adquiridas, nenhum instrumento de registro foi utilizado durante as aulas. Em relação aos trabalhos coletivos não houve uma distribuição planejada dos alunos. Cada um escolhia o grupo que queria ficar. Com isso muitos alunos resolveram sozinhos as atividades porque sobraram no processo de escolha e o professor deixou como estava. A contextualização dos conteúdos deixou a desejar, pois a maioria dos professores não fez comparações da teoria com a realidade vivida pelos alunos. Alguns conteúdos exigiam mais recursos, uma linguagem mais clara por parte do professor, mas isso não ocorreu na maioria das vezes. E durante a correção de tarefas poucos alunos conseguiram resolvê-las. Percebeu-se que o professor não se atentou para a heterogeneidade da turma, uma vez que cada um dos alunos tem o seu tempo de aprendizagem. Há professores que demonstraram dificuldades para lidarem com situações diferentes de forma simultânea, deixando a sala um caos nesses momentos. Percebeu-se a insegurança de alguns professores de colocarem os alunos em círculo, com medo de não conseguirem manter o controle da turma. Às vezes, alguns alunos davam sugestões para o desenvolvimento de determinada atividade, mas o professor não parava para dar atenção ao aluno . E quando ouvia não punha em prática a sugestão do mesmo. A falta ou a pouca flexibilidade impedia a construção do diálogo professor-aluno, consequentemente, do conhecimento. Bem como, a cooperação entre os alunos para que a ordem fosse mantida na sala de aula. Vale ressaltar que o questionário aplicado veio apenas ampliar a visão do pesquisador para aspectos considerados importantes ao grupo pesquisado, revelando a insatisfação dos alunos com a metodologia do professor. E a percepção do professor em responsabilizar a família e o aluno por todos os problemas relacionados à gestão de sala de aula. 15 CONCLUSÃO Tanto o questionário quanto as observações contribuíram para que a equipe pedagógica refletisse melhor sobre os limites e possibilidades da formação profissional na construção de um ensino eficiente na UE. Durante a pesquisa constatou-se as dificuldades da equipe em se criar estratégias diferenciadas para o ensino, monitoramento da aprendizagem, manutenção da ordem durante a aula, recursos didáticos adequados ao conteúdo aplicado e certa dependência do analógico em plena era digital. Assim como, dificuldade para o estabelecimento de pontes entre o conhecimento formal e o conhecimento adquirido. A falta de clareza na explicação dos conteúdos e poucas atividades de revisão é outro ponto que deve ser melhorado na escola. Ademais possibilitar momentos de estudo sobre os processos de aquisição do conhecimento pelo aluno. Por outro lado, buscar estratégias de melhoria na comunicação entre equipe pedagógica e professores da UE. Bem como ferramentas mais eficientes de liderança pedagógica. Por último, após efetivação da maioria das ações, notou-se um grupo de professores mais engajado, utilizando-se com mais frequência de metodologias inovadoras, maior preocupação na seleção de recursos didáticos, discussões mais enriquecedoras durante os encontros subsequentes. Bem como, uma coordenação pedagógica mais envolvida e focada no processo de ensino e aprendizagem. Enfim, aulas mais dinâmicas, alunos mais envolvidos e melhores resultados educacionais. Conclui-se que, as limitações na formação profissional é um dos maiores entraves a uma gestão de sala de aula eficiente e de uma aprendizagem significativa. Para tanto, o professor precisa desligar daquilo que ele é para fazer diferente e construir novas possibilidades de ensino e aprendizagem, responsabilizando-se pela sua formação através atualizações constantes tanto da sua área de formação quanto de outras afins. de 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORDONI, Tereza. O professor gestor – por onde começar. Mestre, 23 de fevereiro de 2011. INDICADORES DE QUALIDADE NA EDUCAÇÃO/Ação Educativa, Unicef, PNUD, Inep-MEC (coordenadores0. – São Paulo: Ação Educativa, 2004. PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. RODRIGUES JÚNIOR, J.F. Como administrar a sala de aula: fundamentos e prática. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. SARE/2010. Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar. Sitografia/Softwares e ambientes on-line: ALVES, Rosilda Maria. Gestão de sala de aula: GT01- Prática Docente e Profissionalização de Professores (European University). 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