Direção Escolar A escola historicamente instituída no Brasil tinha uma disposição hierárquica verticalizada e inflexível, onde o diretor usava mão de ferro com intuito de manter a organização estabelecida. Sua presença no ambiente educacional significava a representação da autoridade do Estado, cabendo a esta todas às decisões, seu controle, posterior cumprimento e, portanto, decidindo os rumos do cotidiano dos alunos, funcionários e docentes. Até algum tempo atrás, tínhamos um modelo de direção em que se praticava a supremacia absoluta dos órgãos de comando. A diretoria era estática, tendo como papel central o de estabelecer regras direcionadas ao controle, supervisão, direção, entre outros aspectos correlacionados que eram propostos pelo sistema de ensino vigente. Nesta vertente, quem executava essas obrigações de maneira plena era considerado um bom profissional, pois zelava pelo satisfatório desempenho dos funcionários, além de garantir o fiel cumprimento do que era estabelecido pelos superiores. Era a pessoa que deveria afiançar que cada engrenagem cumprisse o seu papel, pois, desta forma a missão da máquina organizacional estaria realizada, obtendo-se, assim, resultados favoráveis. No entanto, a preocupação exacerbada com as tarefas burocráticas, fazia com que o diretor, geralmente, negligenciasse o trabalho pedagógico e o acompanhamento do capital humano e, por, consequência deixasse para segundo plano o trabalho em equipe. A abordagem, ora descrita, nos remete aos moldes da administração científica de Taylor, orientada pelos princípios da racionalidade limitada, linearidade e mecanicismo do homem, tendo em vista que este era tratado apenas como uma peça do sistema produtivo, o que o leva a uma visão restrita do processo e consequentemente a passividade em tomar iniciativas. Associada a esta teoria, entende-se que o importante é fazer o máximo quantitativamente, sem se preocupar com a qualidade, numa visão objetiva de comandar e controlar daquele que atua como autoridade, isto é o diretor. Hierarquicamente, o diretor ocupa uma posição peculiar uma vez que pode legitimar para os pais muitas das medidas da instituição, assim como legitima para as instâncias superiores institucionais as iniciativas e ações dos profissionais da educação ou do professorado em ação conjunta com a comunidade. Por outro lado, tal posição também o coloca na função de mediador das relações entre o professorado e os órgãos normativos e fiscalizadores do sistema educacional. Do ponto de vista do microssistema, ou seja, da Unidade Escolar, o diretor pode criar, permitir ou tolerar a abertura de novos espaços necessários à transformação do cotidiano escolar. A ação do diretor mostra-se fundamental, igualmente, na constituição da rede de relações e ações que constitui o tecido socioinstitucional no qual o aluno se insere. Embora pouco considerada nos estudos de cunho psicológico sobre o desenvolvimento cognitivo do indivíduo na instituição, esta rede tem implicações significativas no processo de construção do conhecimento, conforme revelam os estudos de orientação sociológica e antropológica, notadamente os estudos etnográficos. São exatamente estes últimos (etnográficos) que mostram, também, como, de certa forma, o diretor imprime um estilo de funcionamento, ou pelo menos à afeta grandemente, determinando, muitas vezes, os limites e a flexibilidade (possível) das normas que regulam o comportamento das pessoas na instituição. Guardadas as especificidades de cada cultura e de cada realidade social, temos, então, a presença na Escola de uma figura com definição funcional semelhante: o diretor está na Escola para dirigir a Unidade. A gestão escolar qualifica-se no exercício interdisciplinar em todas as suas execuções, desde o menor ato de organização ou comunicação ate a mais abrangente decisão e nestas trajetórias estão, no ambiente escolar, todos os resultados e pesquisas que possam apoiar e dar efetividade e relevância ao processo.Os resultados pouco animadores do ensino trouxeram de volta a questão pedagógica, sugerindo a necessidade de mudanças profundas para que o objetivo final da instituição (qual seja, o de instruir o corpo discente) se concretize. É a partir desta necessidade de compreender a instituição escolar como um local de ensino e aprendizagem, no qual todos os indivíduos que nele adentram possam efetivamente aprender. Na realidade, o supervisor se reúne com o diretor antes do início do ano escolar para definir e estabelecer as metas para o referido ano, inclusive as da área pedagógica. Apesar de, não ser previstas atividades que deem subsídio para a ação nesta área, não podemos dizer que esta seja uma tendência nacional, nem temos dados para tanto. Mas, este tema tem surgido reiteradamente no discurso educacional, ao nível de órgãos do governo, sindicatos, organização de profissionais de Educação, pais e outras instâncias da sociedade, ligadas de uma forma ou de outra a Educação. Com algumas exceções, os cursos de treinamento propostos geralmente são organizados a partir do ponto de vista acadêmico e não das necessidades da Escola e da prática em sala de aula, outro aspecto levantado diretamente relacionado a este, é a necessidade eventual de que professores e diretores participem conjuntamente destes cursos de capacitação como uma forma possível para que as motivações, assim como os problemas experimentados por cada categoria, sejam conhecidas mutuamente. Ainda como líder pedagógico, cabe ao diretor estar atento ao trabalho de cada professor, incentivando qualquer tendência inovadora que eles venham a apresentar. Muito da interação diretor-professor se configura pela fiscalização ou discussão de equívocos ou erros ao nível disciplinar ou pedagógico - relatam alguns diretores. Pouco ocorre em função de discussão crítica de situações inadequadas de ensino, em busca de uma solução coletiva. E menos ainda no que se refere à devida apreciação e mesmo a elogios aos esforços e boas realizações dos professores. Na instituição privada a formação contínua dos professores é atribuição fundamental do diretor. Isto pode incluir o diretor dar aula, vez por outra, substituindo o professor, que permanece em sala de aula observando para posterior discussão com o diretor. Pode e deve incluir professores "assistindo e observando aulas ministradas por colegas, da mesma série ou de séries próximas, como elemento formador e motivador a mudanças". Pode e deve incluir reuniões com professores para estudo e troca de idéias sobre suas práticas, problemas, propostas inovadoras e modificações curriculares, assim como para planejamento de atividades de caráter mais coletivo para várias séries ou para várias classes de uma mesma série. Caberia finalmente ao diretor enquanto líder pedagógico, facilitar aos professores a participação em seminários e cursos, assistir a conferências e debates e realizar outras formas de atividade que contribuam para o aprimoramento profissional. A integração com a comunidade é fator de fortalecimento institucional e de promoção da cidadania no entorno escolar. Uma gestão escolar compartilhada no convívio cotidiano é uma forma privilegiada de aprender e socializar saberes, construir valores de uma vida cidadã e de desenvolver atitudes de cooperação, solidária e responsável. Como gestor, o Diretor de Escola deve reunir em seu perfil profissional características que lhe possibilitem observar, pesquisar e refletir sobre o cotidiano escolar de forma a aprimorá-lo conscientemente. É primordial o gestor compreender as necessidades políticas e sociais que interferem no cotidiano escolar para promover a integração com a comunidade, construindo relações de cooperação que favoreçam a formação de redes de apoio e a aprendizagem recíproca propondo e planejando ações voltadas para o contexto sócio-econômico e cultural do entorno escolar, incorporando as demandas e os anseios da comunidade local aos propósitos pedagógicos da escola. Reconhecer a importância das ações de formação continuada para o aprimoramento dos profissionais que atuam na escola, criando espaços que favoreçam o desenvolvimento dessas ações são medidas que irão valorizar a gestão participativa como forma de fortalecimento institucional e de melhoria dos resultados de aprendizagem dos alunos. Cabe, portanto, ao gestor articular e executar as políticas educacionais, na qualidade de líder e mediador entre essas políticas e a proposta pedagógica da escola, construída no coletivo da comunidade escolar, tomando o cuidado para que as ações de formação continuada se traduzam efetivamente em contribuição ao enriquecimento da prática pedagógica em sala de aula, no acompanhamento e avaliação do desenvolvimento da proposta pedagógica e os indicadores de aprendizagem com vistas à melhoria do desempenho escolar, compreender os princípios e diretrizes da administração pública e incorporá-los à prática gestora no cotidiano da administração escolar. Essas características pressupõem que o gestor tenha conhecimento e domínio de competências e habilidades para compreender a natureza, a organização e o funcionamento da educação escolar, suas relações com o contexto histórico-social e com o desenvolvimento humano, bem como a gestão do sistema escolar, seus níveis e modalidades de ensino, é necessário também apropriar-se dos fundamentos e das teorias do processo de ensino e de aprendizagem relacionado a esses princípios, teorias e normas legais a situações reais, interpretando e aplicando a legislação de ensino a favor da população escolar. Com esses princípios, o gestor terá possibilidades em identificar e avaliar criticamente os impactos de diretrizes e medidas educacionais, objetivando tomada de decisão, com vistas à garantia de uma educação plena a seus alunos. Uma boa comunicação também facilita ao gestor a expressarse com clareza, em diferentes situações, com diferentes interlocutores, utilizando-se das linguagens e tecnologias próprias, socializando informações e conhecimentos na busca do diálogo permanente com a comunidade, sempre em função do envolvimento e da participação efetiva de todos. Compreender, valorizar e implementar o trabalho coletivo é essencial. Essa compreensão facilita a prática de valores, atitudes, sentimento de justiça, convívio social, solidário e ético e consequentemente conduzirá ao aprimoramento pessoal e à valorização da vida, sempre reconhecendo e respeitando as diferenças individuais. A sala do diretor não deve ser o lugar regulador da instituição. Ela precisa ser um local aberto em que às pessoas possam entrar livremente para mostrar as coisas boas que foram bem-feitas, e as não tão boas também. Pois nem tudo pode ser perfeito, ainda se tratando de um trabalho coletivo onde muitas pessoas estão envolvidas. Por outro lado, a Escola se abre cada vez mais à participação de membros da família, os quais podem vir espontaneamente para a sala de aula ou para discorrer sobre algum tópico de sua escolha (profissão, hobby, país de origem etc.) ou para ler histórias, relatar uma viagem, ou ainda para ensinar alguma habilidade que possuam (desenho, pintura, dobradura etc.). Muitas vezes, os próprios diretores convidam familiares para estas e outras atividades. Há uma nítida tendência por parte destes diretores de caminhar no sentido de modificar a representação que se tem da função de direção. O diretor tem, realmente, uma tradição de fiscal e executante da ordem disciplinar institucional. Com as sucessivas mudanças na constituição do corpo discente, a instituição escolar modificou significativamente. Várias culturas e línguas convivem hoje em uma mesma escola em muitas das regiões do país, com formas de comportamento e valores muito distintos. Diferem, também, conceitos tais como disciplina, relação com autoridade, ensino, e existem variações até no próprio conceito de escola e educação. A escola modifica-se pressionada também, por esta diversidade. Da mesma forma, o empenho recente destes diretores modifica a maneira como se percebem e como são percebidos pela comunidade escolar (professores, funcionários e alunos) e extraescolar (pais, responsáveis e comunidade), ou seja, a redefinição só pode surgir de um processo interativo de trocas contínuas, que irá modificar, inclusive, as relações de poder e as negociações dentro da Escola. O diretor precisa ser visível, ser uma pessoa real e atuante, mesmo que isto o torne mais vulnerável. Existe um consenso em que decisões impostas de cima para baixo têm, em geral, resultados negativos, quando não catastróficos. Os professores resistem de várias formas e por diferentes razões, às interferências em seu cotidiano em sala de aula. Transformações necessárias, reconhecidas como tal tanto pelo professor como pelo diretor, só podem ocorrer através de um trabalho preliminar de discussão, que deve envolver o maior número possível de profissionais de educação da unidade. Sacristán assevera que a, “Mudança dos currículos para a educação [...] deveria considerar essa situação cultural em nossa sociedade, aproveitar decididamente todos os meios de que hoje se dispõe. [...] a melhora da qualidade do ensino deve partir dessas novas realidades culturais. (SACRISTÁN 1998, p. 171).” Mudanças ao nível de sala de aula mostram-se, com o correr do tempo, impraticáveis sem o apoio institucional da direção. Este é um problema que se verifica, também, ao nível da relação com a família. Os pais parecem resistir muito às inovações pedagógicas que dão ênfase ao processo e não ao produto da ação educacional. Sem compreenderem o que ocorrem, eles exercem pressão e cobrança sobre os professores. Estes, sem o respaldo institucional, geralmente representado pela figura do diretor, são fragilizados em sua atuação. É neste sentido que se esboça outra tendência na função do diretor: legitimar, perante a família, as reformulações metodológicas e pedagógicas que ocorrem no interior da escola. Procedimentos diversos estão sendo utilizados atualmente, como envio semanal de cartas (tipo jornalzinho) aos pais e reuniões para apresentar as novas propostas e para definir, programar e realizar atividades das mais variadas naturezas. O gestor democrático deverá promover ações de formação continuada, garantindo espaços de partilha de experiência e reflexão que possibilitem seu desenvolvimento pessoal e aprimoramento profissional, bem como do grupo que lidera elaborar de forma participativa os planos de aplicação dos recursos físicos e financeiros, vinculados à proposta pedagógica da escola. O gestor é responsável pela administração de pessoal, de recursos materiais e financeiros e do patrimônio escolar. Precisa agir com transparência nos procedimentos administrativos, garantindo a legalidade, a publicidade e a autenticidade das ações e dos documentos escolares, é primordial fortalecer o vínculo com a comunidade local, buscando estabelecer, com outras instituições e lideranças comunitárias, parcerias que promovam o enriquecimento do trabalho da escola e da comunidade em que ela se insere. Assim sendo a gestão democrática do ensino público é um princípio constitucional fortalecido pela LDB e distingue-se pela prática dos seus gestores associada a uma visão de educação emancipadora, que a função social da escola, as demandas da sociedade do conhecimento e a necessidade de se promover interfaces com a comunidade exigem um gestor capaz de identificar e programar espaços de aprendizagem compatíveis com uma educação participativa que assegure a construção de uma escola solidária, democrática, competente, capaz de responder satisfatoriamente as demandas e expectativas da comunidade. A utilização das tecnologias de informação e comunicação na gestão escolar, também deverá ser gerenciada pelo gestor, bem como o processo de avaliação do desempenho escolar como instrumento de acompanhamento do trabalho do professor e dos avanços da aprendizagem do aluno. Vivemos atualmente em um mundo com sistema dinâmico, onde as coisas mudam a todo o momento, e na educação não acontece diferente, por isso devemos nos reportar a uma reflexão séria e profunda, analisando o tipo de educação que estamos tendo e quais as metas traçadas para o futuro, considerando a realidade atual. O Brasil necessita de profundas discussões a esse respeito, uma minuciosa análise desde os sistemas internacionais que representam interesse sobre a educação do nosso país. E um dos espaços que pode possibilitar este trabalho é a gestão educacional como afirma Gomes (2002), que fala da possibilidade da gestão educacional em proporcionar macro visões que direcionam os caminhos por onde se trilha a educação.