I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ Ações de responsabilidade social na indústria de tabaco: é possível? Ana Paula de Freitas Andrade Lima Administradora, Mestre em Sistemas de Gestão Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense [email protected] Luiz Perez Zotes Engenheiro, Doutor em Engenharia Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense [email protected] Resumo O entendimento de que o papel social das empresas se restringe ao cumprimento das obrigações sociais legais está ultrapassado. Com o surgimento de novas demandas, o crescimento das exigências dos clientes internos e externos, e maior pressão da sociedade por transparência nos negócios, as empresas, por razões estratégicas, se vêem forçadas a adotar uma postura mais responsável em suas ações. Muitas organizações ainda confundem o conceito de responsabilidade social com o exercício da simples filantropia, e as razões que estão por trás desse paradigma não interessam somente à sociedade, significa também melhor desempenho nos negócios e, conseqüentemente, maior lucratividade. Nesse contexto o presente artigo tem como objetivo relatar a experiência de uma organização do ramo de industrialização de tabaco no exercício da sua cidadania empresarial ao desenvolver ações que ultrapassam os limites da legislação e da mera filantropia. A questão será avaliada sob a ótica do marketing, visando identificar o impacto da política de responsabilidade social na imagem institucional da empresa, associadas a outras ações de marketing. Palavras Chave: Responsabilidade Corporativa. Seção 2: Responsabilidade Social Apresentação: Oral Social, Accountability, Cidadania 1. Introdução A consciência de uma sociedade mais justa e a busca de melhor qualidade de vida vem se tornando cada vez mais forte no Brasil. O esgotamento das iniciativas do governo como provedor dessa melhoria de qualidade de vida levou ao nascimento dos movimentos do terceiro setor em todo o mundo e no Brasil. 2 Neste cenário torna-se relevante a preocupação das empresas com o investimento em atividades para melhorar a qualidade de vida da sociedade brasileira. Essas ações são cada vez mais identificadas pelo consumidor que acabam por influenciar na imagem da empresa junto ao mercado, embora, em muitos casos, seja apenas uma estratégia para criar valor para os acionistas, elas acabam proporcionando resultados visíveis e tangíveis para toda sociedade. As transformações sócio-econômicas dos últimos anos têm afetado profundamente o comportamento de empresas até então acostumadas à exclusiva maximização do lucro. Se, por um lado, o setor privado tem cada vez mais lugar de destaque na geração da riqueza; por outro lado, sabe-se que quanto maior o poder, maior é a responsabilidade. Assim, em função da capacidade de criação de riqueza, dos recursos financeiros e humanos disponíveis, pode-se afirmar que as empresas têm uma intrínseca responsabilidade social. De acordo com o Instituto ETHOS - entidade criada para disseminar a prática da Responsabilidade Social Empresarial - é bastante comum, no Brasil, restringir o conceito de cidadania empresarial a prática de doações, sejam estas realizadas em forma de dinheiro ou de produtos. No entanto, há que se observar que o conceito de Responsabilidade Social é mais amplo, implicando, acima de tudo, em um modelo de gestão que vai além do cumprimento da lei e do simples exercício filantrópico, como defende a corrente de pensamento liberal. Segundo Quelhas & Alledi (2002) quando se estuda mais profundamente o assunto percebe-se que o conceito de Responsabilidade Social está em construção. O próprio termo está em processo de definição, pois se ouve e lêem-se os vocábulos: Responsabilidade Social, Cidadania Corporativa, Gestão Social, Gestão Responsável, Accountability, Governança Corporativa e muitos outros todos se referindo ao movimento da Responsabilidade Social Corporativa. Para Correa (1997), o conceito de Responsabilidade Social – termo adotado neste artigo – compreende, múltiplas dimensões, que se compõem dos elementos com os quais a empresa mantém alguma forma de intercâmbio: são chamados de parceiros da empresa. Há cinco grupos beneficiados pela Responsabilidade Social Corporativa: funcionários, clientes, fornecedores, competidores e outros com os quais a empresa mantenha transações comerciais. Além disso, esses autores afirmam que o conceito de Responsabilidade Social pressupõe que a organização tem não apenas obrigações legais e econômicas, mas também certas responsabilidades para com a sociedade, as quais extrapolam os limites daquelas obrigações. Esta afirmação introduz uma questão de suma importância: a distinção entre Responsabilidade Social e Obrigação Social. Uma empresa 3 não pode considerar-se socialmente responsável somente por cumprir os benefícios legais tais como: distribuição de vale transporte, creche para os filhos dos funcionários, etc. A empresa socialmente responsável é aquela que vai além desses limites impostos pela legislação. De acordo com Melo Neto & Froes (2001) a Responsabilidade Social é uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (internas e externas) e consegue incorporálos no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas e proprietários no planejamento de sua atividade, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas e proprietários. Para Neto (2000), para que uma empresa assuma uma conduta que seja de fato socialmente responsável, terá que reavaliar todos os seus processos e seus valores, além da sua postura ética e da forma como ela se relaciona com seus diversos públicos: funcionários, fornecedores, clientes, consumidores, acionistas, comunidade, poder público e o próprio meio ambiente. Drucker (1997) aduz que é justamente em função de a empresa ser bem sucedida no mercado que cresce a necessidade de uma atuação socialmente responsável, visando diminuir os problemas sociais. Para o autor a Responsabilidade Social é um fator importante para que as empresas mantenham sua sustentabilidade. Assim pode-se inferir que a Responsabilidade Social Corporativa é o comprometimento permanente dos empresários em adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, simultaneamente, com a melhoria da qualidade de vida de seus empregados e de seus familiares, da comunidade local e de toda a sociedade. 2. Responsabilidade social e ética Ultimamente nota-se que tem crescido o interesse e preocupação com a ética empresarial bem como dos seus dirigentes e empregados, os quais tem sido alvo da mídia e da literatura sobre administração. Já se observam nos jornais, anúncios selecionando supervisores ou consultores éticos, num evidente sinal de que a empresa está incluindo na sua estratégia a preocupação com a ética e, formalmente está considerando em sua estrutura organizacional. Para Tomei (1984) o termo responsabilidade social tem sido revestido de muitos significados, por se defrontar com áreas limites da ética e da moral, sendo sinônimo muitas vezes de cidadania corporativa e filantropia estratégica. 4 Para Melo Neto & Froes (2001) a empresa pode ser entendida como uma comunidade que propõe aos seus membros uma identidade, valores a compartilhar, uma tarefa comum, um bem comum não distinto do bem de cada um dos seus integrantes e, até mesmo, um sentido de excelência que o “universalismo individualista” é incapaz de considerar. Esta é a cultura das organizações que, começando pela família e continuando através dos demais grupos humanos que cada um contribui para a boa imagem da empresa, pois nenhuma das grandes e excelentes companhias distingue-se pela falta de princípios éticos, mas pela qualidade do produto que coloca à disposição do mercado. As empresas têm uma imagem a resguardar, patrimônio essencial para a continuidade do próprio negócio. A imagem da empresa não pode ser vilipendiada ou reduzida à simples peça publicitária uma vez que ela representa um ativo econômico sensível à credibilidade que inspira. A dimensão ética é uma parte decisiva dentro do conceito de qualidade que a empresa apresenta à sociedade. Drucker (1997) examina a Responsabilidade Social como uma área onde a empresa decide qual será seu papel na sociedade, estabelece seus objetivos sociais, suas metas de desempenho e de influências na sociedade onde atua. A grande função do empreendedor é perceber a essência da responsabilidade que tem nas mãos, em função da sua autoridade. Suas decisões podem envolver desde o lançamento de um simples produto até a transformação de um problema social em um excelente novo produto, uma excelente oportunidade de ganho ou de investimento para a empresa. Outra razão pela qual a ética é abordada nas empresas é, por exemplo, a situação de insegurança e intranqüilidade em que se encontram muitos dirigentes no momento em que necessitam tomar as decisões exigidas pela empresa, mas, sentem-se segundo sua consciência, como se estivessem agindo de maneira eticamente censurável. No entanto, ao pertencer a uma empresa, cujo desenho e funcionamento põem os resultados econômicos no curto prazo adiante do respeito dos direitos das pessoas ou da satisfação da necessidade dos consumidores, tomar decisões eticamente corretas pode tornar-se um ato heróico. Segundo Andreasen (2002) uma organização atuará de forma eticamente adequada quando perseguir suas metas e respeitar os valores e os direitos compartidos pela sociedade na qual está inserida. Cada organização tem uma missão que define todo seu sentido. Um delineamento preciso da missão serve de constante alerta acerca da necessidade de olharse para fora da organização em busca de medidas de sucesso e não somente de clientes. Assim, é mais importante definir claramente a meta e a finalidade da organização estimulando seus membros a alcançá-las do que determinar um conjunto de normas e regulamentos. São os fins que conferem sentido às atividades e as regras só podem ser fixadas se eles forem levados em conta. 5 Feitas algumas considerações acerca do conceito de responsabilidade social e ética empresarial, é necessário uma abordagem conceitual sobre as questões éticas sob o ponto de vista do marketing, abrangendo três P’s do composto de marketing: Produto, Preço e Promoção (Comunicação). 2.1 Questões Éticas em Marketing Para Churchill (2003) as questões éticas surgem ao longo de todo o processo de marketing, desde a pesquisa até o controle das estratégias. Em relação à pesquisa de marketing, é particularmente necessário que as organizações evitem situações enganosas. Táticas antiéticas incluem disfarçar tentativas de venda como pesquisas e não proteger a privacidade das pessoas que participam de um estudo. Questões éticas também podem surgir em relação a todos os elementos do composto de marketing: o produto em si, seu preço e sua promoção. Kotler (2000) ao abordar a questão da Responsabilidade Social e Ética do Marketing, ressalta que a empresa consciente deve tomar decisões tendo em vista as exigências, desejos e interesses dos clientes, porém deve também levar em conta os interesses no longo prazo da sociedade. “Negligenciar esses interesses no longo prazo é um desserviço para os clientes e a sociedade, e as que são alertas vêem os problemas sociais como oportunidades”. Nesse prisma de raciocínio deve-se buscar ações responsáveis de acordo com os seguintes P’s: 2.1.1 Produto: Embalagens: Busca verificar questões diversas como, por exemplo, se as embalagens são enganosas na relação “tamanho embalagem X quantidade produto”. Obsolescência planejada: Esta pode ser obsolescência planejada de estilo (tentativa de influenciar a percepção do consumidor, quanto à aparência aceitável de uma categoria de produto - por exemplo: roupas da moda) e obsolescência planejada funcional (deixar importantes melhorias de produto fora do mercado para que não afetem a atratividade de atuais produtos de sucesso). Produtos alimentícios ou de nutrição: Refere-se ao fato de que, muitas vezes, os rótulos dos produtos não condizem com o valor nutricional, ou com a especificidade do mesmo. 2.1.2 Preço: Técnica da isca do produto barato, Bait-and-Switch: Tática de anunciar um produto a um preço convidativo e, no ponto de venda, oferecer um produto mais caro, alegando que o estoque do produto procurado já se encontra esgotado. Fixação de preço: Este tópico faz alusão a empresas de um mesmo setor que entram em conluio para fixar seus preços em um determinado nível. 6 Preços desleais: Prática de preços demasiadamente baixos, com o intuito de forçar a saída de um concorrente do mercado e, após sua saída, o aumentar os preços acima do nível anterior. Discriminação de preços - refere-se à prática de vender a clientes empresariais similares, produtos iguais a preços diferentes. 2.1.3 Promoção (Comunicação): Propaganda Enganosa: Esta questão é bastante delicada, e dá margem a múltiplas interpretações. Por exemplo: comunicar que um produto tira as manchas quando ele não as tira é considerado propaganda enganosa e está sujeito às penalidades previstas na legislação. Por outro lado, falar que ele é o melhor detergente é totalmente aceitável, sendo denominado puffery (técnica de exaltar e exagerar a qualidade do produto); Propaganda de Bebidas e Cigarros: Em muitos países, a propaganda para estes produtos é proibida, e em outros, está sujeita às múltiplas restrições. 3. Marketing social Segundo Vaz (1995), o Marketing Social é a modalidade de ação mercadológica institucional que tem como objetivo principal atenuar ou eliminar os problemas sociais, as carências da sociedade relacionadas principalmente às questões de higiene e saúde pública, de trabalho, educação, habitação, transportes e nutrição. Kotler & Armstrong (2000) acrescentam que no marketing social, a empresa consciente toma decisões tendo em vista suas exigências, os desejos e interesses do cliente e os interesses de longo prazo da sociedade. De maneira sucinta, o Marketing Social pode ser compreendido como uma forma efetiva de melhorar a imagem corporativa. Diferenciando produtos e aumentando tanto as vendas quanto a fidelidade dos consumidores, alçando a marca para um patamar muito mais elevado. Significa também uma nova forma de comunicação mais engajada e que se diferencia de outras promoções de marcas concorrentes ou mesmo de serviços. Nesse sentido pode-se inferir que o marketing social é uma ferramenta de gestão para que uma organização possa planejar a sua relação de troca com seus diferentes públicos de interesse, visando melhorar as suas condições de sustentabilidade. É absolutamente louvável também que as empresas adotem práticas de marketing mais éticas, não apenas preocupadas com o lucro rápido, mas com a qualidade de vida da sociedade. E é até recomendável que uma empresa utilize estratégias de marketing, especialmente de comunicação, para construir um posicionamento de marca, associando sua imagem a uma causa social. Mas essas diferentes práticas – bastante comuns em outros países – já foram estudadas, classificadas e conceitualmente definidas respectivamente como Marketing 7 (puro e simples) ou Marketing para Causas Sociais (Pringle & Thompson: 2000). Estrategistas de brand (marca) admitem que, além das dimensões racional e emocional, as marcas também se edificam em uma dimensão ética ou espiritual: os clientes do futuro vão querer fazer negócios com empresas mais humanas, que agem como eles agem e acreditam no que eles acreditam. E é nesse contexto que ganha força o Marketing Relacionado a Causas Sociais aqui bastante conhecidos como Marketing Social e, às vezes, de forma equivocada confundida com Responsabilidade Social. (Pringle & Thompson: 2000). Feitas as considerações conceituais, a seguir é apresentado um breve histórico da organização objeto do presente texto, buscando relacionar a estratégia de marketing adotada e as ações responsabilidade social por ela desenvolvida. 4. Histórico A organização Souza Cruz é um dos cinco maiores grupos privados brasileiros; subsidiária do grupo British American Tobacco (BAT), o segundo maior do mundo no mercado de tabaco, com operações em cerca de 180 países. Criada em 1903, atualmente atende diretamente cerca de 200 mil pontos de venda e atinge 74,6% de participação no mercado brasileiro, com 77 bilhões de unidades comercializadas por ano. Na sua longa trajetória até o século que se inicia, com a velocidade da Internet conectando o mundo, a empresa aumentou sua produção, internacionalizou-se, evoluiu tecnologicamente e tornou-se líder absoluta de mercado e referência internacional em produtos de consumo de massa. Em 2003, com a inauguração da fábrica na cidade de Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul, a Souza Cruz comemorou seu primeiro centenário de existência em um evento carregado de simbolismo. Colocando em operação uma das mais modernas unidades produtoras de cigarros do mundo, resultado de um investimento total superior a 500 milhões de reais, a empresa enfatizou o valor mais importante da sua origem e do grupo BAT: a visão e a crença no futuro. O British American Tobacco – BAT – é o mais internacional dos grupos do segmento de tabaco, operando em mais países do que qualquer um de seus concorrentes. Com 14,6 % de participação de mercado mundial a BAT é o segundo maior grupo da indústria de tabaco no mundo. As mais de 300 marcas do seu portfólio são a escolha de um em cada sete do total de um bilhão de fumantes adultos em todos os continentes. Sempre com expressivas participações em cada uma das regiões em que se organiza mundialmente, o grupo detém a liderança em mais de 50 dos 180 mercados em que está presente. Suas 85 fábricas, em 66 países, processaram cerca de 660 mil toneladas de fumo e produziram 777 bilhões de cigarros em 2002. Todo o grupo, incluindo as empresas associadas, 8 emprega mais de 85 mil pessoas em todo o planeta. A BAT não vem sustentando sua significativa presença no mercado mundial durante mais de 100 anos por acaso. Desde 1912, apenas uma década depois de fundada, ela já era uma das 12 maiores empresas pelo conceito de capitalização de mercado. A empresa acredita que mantém viva muito das qualidades que a colocaram na liderança tão cedo. O grupo está comprometido em construir valor para os seus acionistas e acredita que há valor agregado não apenas na forma de conduzir seus negócios, mas também, em como a companhia é estruturada; na sua habilidade de ver o mundo como ele realmente é; na sua habilidade de atrair e reter talentos; de construir relacionamentos de confiança com consumidores, fornecedores, distribuidores e parceiros, e em administrar marcas de alta qualidade. Mas, mais do que tudo, na realidade econômica de hoje, há uma força especial na habilidade em plantar negócios locais em um vasto conjunto de diferentes culturas pelo mundo. Mas, mais do que tudo, na realidade econômica de hoje, há uma força especial na sua habilidade em plantar negócios locais em um vasto conjunto de diferentes culturas pelo mundo. 4.1 O Negócio A mis são da Souza Cruz é fornecer produtos de qualidade a adultos que escolhem fumar e têm conhecimento dos riscos associados ao consumo de cigarros. Produzir e comercializar cigarros são atividades lícitas, altamente reguladas e tributadas pelo Poder Público, e a missão da Souza Cruz é fornecer produtos de qualidade a adultos que escolheram fumar e têm conhecimento dos riscos associados ao consumo de cigarros. Por reconhecer que fabrica um tipo de produto cujo consumo envolve estes riscos, a Souza Cruz, como empresa socialmente responsável, tem como prioridade o desenvolvimento de produtos aceitáveis pelos consumidores e que ofereçam “menores riscos”. O negócio da empresa não é, definitivamente, persuadir pessoas a fumar, mas oferecer marcas de qualidade a adultos que já decidiram, livres e conscientemente, consumir este produto. A empresa apóia o direito de adultos informados de desfrutarem o prazer de fumar, pois nenhum governo pretende proibi-los de fazer tal escolha. A empresa também não vê nada de antiético em fornecer uma fonte de prazer a milhares de fumantes adultos, em todo mundo, que preferem fumar suas marcas, em detrimento das de seus concorrentes. A Souza Cruz concentra seu foco de atividades na fabricação e comercialização de cigarros para o mercado brasileiro, bem como na produção e exportação de fumo em folha, provendo níveis de qualidade requeridos pelos consumidores e de acordo com a legislação e a regulamentação vigente. A empresa defende e apóia regulamentações sensatas e razoáveis sobre o uso de produtos de fumo e também acredita que é do interesse público o atendimento do mercado por empresas responsáveis, que cumprem integralmente as exigências das leis e das regulamentações. Por este motivo, tem como uma das suas diretrizes estratégicas a cooperação com as autoridades governamentais para o combate ao contrabando, à sonegação fiscal e à falsificação de produtos, que 9 vêm criando, no Brasil, um mercado ilegal de significativa proporção, com graves riscos e prejuízos para os consumidores. 4.2 As Ações de Responsabilidade Social Antecipar-se e ir além das simples obrigações legais, atuando de forma socialmente responsável com seus funcionários, parceiros, investidores, governo e sociedade. É desta maneira que a empresa vem agindo, em cem anos de prática de Responsabilidade Social. De forma pioneira, as realizações da Souza Cruz, desde sua fundação, têm englobado todas as áreas e temas que hoje são partes do conceito mais amplo de responsabilidade social. Seja na forma de relacionar-se com os seus funcionários e parceiros, no respeito às necessidades dos seus consumidores, no relacionamento transparente com seus investidores, no contato com as entidades da administração pública e na integração autêntica com a sociedade e com as comunidades onde a empresa opera. Como evolução natural da seqüência de projetos e ações nesta área, a empresa criou, em julho de 2000, o Instituto Souza Cruz, Organização nãoGovernamental, sem fins lucrativos, de abrangência nacional, comprometida com a causa da Educação para o Desenvolvimento Humano Sustentável. O Instituto projeta no campo social as crenças, princípios e valores que sempre nortearam a cultura da Souza Cruz e sua criação significa a ampliação e o aprofundamento de um efetivo compromisso com o bem comum, que acompanha a empresa há mais de 100 anos. Mas, para a empresa, a atitude de ser uma empresa responsável também significa ouvir os principais representantes da sociedade que afetam direta ou indiretamente seus negócios e considerar suas preocupações legítimas no desenvolvimento dos seus planos de negócios. Justamente para buscar constantemente o equilíbrio entre as demandas sociais de seus principais interlocutores e os seus negócios, a Souza Cruz apresentou, em 2003, o seu Relatório Social Corporativo, desenvolvido pela primeira vez por uma empresa brasileira de acordo com os padrões da AA 1000, uma das mais rigorosas normas que regulam o desempenho social e ético das organizações, o Relatório é um processo contínuo de diálogo com os diversos segmentos da sociedade, para conhecer suas demandas e expectativas legítimas. Em todas as suas iniciativas, a empresa busca ser reconhecida como uma empresa responsável. Além disso, a companhia trabalha para obter o reconhecimento público dessa responsabilidade. Mas afinal, uma empresa de cigarros pode ser socialmente responsável? A organização acredita que um negócio cujos produtos estão estatisticamente associados a riscos à saúde das pessoas deve ser gerenciado com extrema responsabilidade social. E com uma ênfase muito maior do que outras empresas. Sempre comprometida com os princípios do desenvolvimento sustentável e trabalhando para apresentar padrões mundiais de desempenho em questões ambientais, segurança e saúde ocupacional, a Souza Cruz apóia milhares de agricultores na produção responsável do tabaco, atuando rigorosamente na eliminação da exploração do trabalho infantil e desenvolvendo ações para contribuir com as comunidades nas quais atua. 10 Como muitas outras empresas, a companhia reconhece que administrando os negócios de forma responsável, a companhia contribui para o desenvolvimento econômico que, por sua vez, ajuda a alcançar o desenvolvimento social e ambiental. Aceitar a responsabilidade social e ambiental e contribuir para a melhoria já se tornou uma prática empresarial, mas é claro também que as empresas não podem solucionar todos os problemas isoladamente. O Governo, a sociedade e as empresas devem oferecer as melhores alternativas para assegurar a produção e a comercialização responsável dos produtos de tabaco que milhões de adultos, avaliando os prazeres e os riscos, desejam seguir consumindo com altos níveis de qualidade e preços competitivos. Alguns dos críticos da indústria do tabaco acham difícil dialogar com uma empresa de cigarros. Mas isto não altera o compromisso da empresa em desenvolver parcerias construtivas para aprofundar o entendimento do que é esperado da companhia e para praticar um comportamento responsável. A Souza Cruz acredita que se todas as partes interessadas puderem ouvir uma as outras, existirão oportunidades reais de encontrar soluções viáveis. Para evoluir cada vez mais na sua atitude de responsabilidade social, a empresa oferece, neste diálogo, uma mente aberta, conhecimento do produto e da parte científica, apoio para uma regulamentação razoável e mais de um século de atuação no Brasil e em diversos países através da BAT. 4.2.1 O Instituto Souza Cruz Criar condições para que pessoas, grupos, organizações e comunidades possam adquirir conhecimentos, valores, atitudes e habilidades que lhes permitam se situar perante sua realidade e atuar sobre ela de maneira solidária, produtiva, criativa e transformadora. Esta é a síntese do conceito de Educação para o Desenvolvimento Humano Sustentável, base da atuação do Instituto Souza Cruz. Criado julho de 2000, o Instituto é uma Organização nãoGovernamental, sem fins lucrativos, de abrangência nacional, com sede no Rio de Janeiro. Reconhecido pelo Ministério da Justiça como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), o Instituto Souza Cruz atua lado a lado de pessoas e organizações que lutam por um País melhor, especialmente no que se refere à educação e formação do jovem do campo. O principal programa do instituto é o Empreendedorismo do Jovem Rural, realizado em parceria com o Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural (CEDEJOR), no Sul do país. O objetivo é incentivar processos sustentáveis através da formação de indivíduos empreendedores, com senso de responsabilidade e capacidade de autogestão. No momento em que há no país uma crescente valorização do setor agrícola, no qual a Souza Cruz tem uma histórica e importante participação com o plantio do fumo, o trabalho 11 do Instituto pretende dar instrumentos a este jovem para que ele exerça papel de liderança e inovação no desenvolvimento local. 4.2.2 Relatório Social Corporativo Ouvir e considerar as expectativas legítimas dos diversos segmentos que se relacionam com a companhia, incorporando-as em seus planos de negócios. Para atuar nesta busca permanente de equilíbrio entre as demandas sociais e os negócios da Souza Cruz, a companhia apresenta o seu Relatório Social Corporativo. Em 2003, de forma pioneira, a empresa apresentou o seu Relatório Social Corporativo desenvolvido pela primeira vez por uma empresa brasileira, de acordo com os padrões da norma AA 1000, uma das mais rigorosas normas que regulam o desempenho social e ético das organizações. Esse relatório e a atitude que ele reflete, além de marcar coerência com o conjunto das ações sociais realizadas ao longo de seus mais de 100 anos de história da empresa, reforçam o seu compromisso de adotar, sempre, uma postura de vanguarda na área de Responsabilidade Social. Para a Souza Cruz, ser uma empresa responsável significa ouvir os principais representantes da sociedade que afetam direta ou indiretamente os seus negócios e considerar as preocupações legítimas no desenvolvimento dos seus planos. É a busca constante do equilíbrio entre as demandas sociais de principais interlocutores da empresa e os seus negócios. E a maneira que a Souza Cruz encontrou para desenvolver esse processo foi o Relatório Social Corporativo. Diversas questões polêmicas foram levantadas e discutidas aberta e construtivamente com os representantes de segmentos importantes da sociedade civil e da administração pública do país, com quatro objetivos principais: 1. Ouvir e compreender suas expectativas e demandas legítimas; 2. Analisar e considerar essas expectativas e demandas legítimas nos planos de negócios da empresa; 3. Responder com planos e ações concretas às preocupações legítimas desses segmentos; 4. Continuar mantendo diálogos construtivos com os segmentos representativos da sociedade brasileira. Com a divulgação do seu Relatório Social Corporativo, a Souza Cruz dá mais um passo na construção permanente de uma empresa moderna e avança na posição de manter o relacionamento aberto com os mais diversos segmentos da sociedade por meio de diálogos construtivos. 5. Conclusões Conforme exposto, a Responsabilidade Social e o Marketing Social são temas cada vez mais discutidos no Brasil e no mundo. Muitos fatores vêm contribuindo para tal, a saber: O contexto sócio-político-econômico mundial repleto de conflitos e de exclusão sócio-econômica; 12 Uma sociedade mais organizada e solidária, capaz de criar e realizar uma série de projetos para a melhoria da mesma, além de alguma forma, pressionar para que as empresas participem desta empreitada; Consumidores mais exigentes e conscientes, muitas vezes dispostos a escolher um produto ou serviço levando em consideração os valores da empresa, e suas ações socialmente responsáveis; Um movimento de conscientização das próprias empresas, que parecem começar a perceber que têm uma parcela representativa de responsabilidade perante a sociedade. Nota-se que a Responsabilidade Social tornou-se uma preocupação não mais do Estado, mas um desafio a ser vencido pela ação conjunta do Estado, das empresas e da sociedade civil. Com base pequena pesquisa bibliográfica realizada e por meio da pesquisa de campo, foi possível identificar uma série de aspectos positivos em algumas ações socialmente responsáveis, como por exemplo: 1. Pode-se inferir que a empresa em questão, ao desenvolver algum tipo de ação social identifica ganhos com relação à imagem institucional; 2. Que os recursos despendidos nos projetos de ações de Responsabilidade Social passam a ser um dos melhores investimentos quando reconhecidos e estimulados pela alta administração da empresa; 3. Estimulada pela valorização do conceito de Responsabilidade Social como nova mentalidade de negócio, e também por uma mudança no comportamento do consumidor que passa a exigir que as corporações façam mais pela sociedade do que pagar impostos e gerar empregos, cada vez mais a empresa arrisca mudar suas práticas de Marketing, conferindo-lhe novos contornos e um sentido mais ético; 4. Imagem positiva e um melhor relacionamento com todos os seus públicos; 5. Transformação de sua abordagem de compliance (complacência) para a de sustentabilidade. Assim genericamente, identificou-se também que as empresas que investem em ações sociais, podem alcançar maior valorização de sua imagem institucional, maior poder de atração e retenção de talentos, maior comprometimento de seu público interno, maior fidelidade por parte de seus consumidores, fornecedores e demais públicos externos. Com tudo isso, a empresa pode vislumbrar maiores possibilidades de sobrevivência em longo prazo. Da mesma forma constatou-se que a sociedade também se beneficia com a atuação socialmente responsável das empresas. Há que se ressaltar, no entanto, que a Responsabilidade Social Corporativa está entremeada de questões éticas de extrema importância, principalmente, no que tange à comunicação, produto e preço. A empresa que atua de forma responsável deve atentar para que estas questões éticas estejam de fato presentes em toda a extensão de seus negócios, caso contrário podem correr o risco de ter sua atuação má percebida pela sociedade de um modo geral, o que poderia gerar um efeito 13 oposto ao desejado, ou seja, uma desvalorização de sua imagem. Uma empresa que, por exemplo, desenvolve uma série de projetos sociais para a comunidade, mas não trata seus funcionários de forma adequada, ou aceita produtos de fornecedores de desempenho ético duvidoso, pode suscitar questões na sociedade, e colocar em dúvida a existência de uma verdadeira Responsabilidade Social. Este seria um aspecto negativo os quais as empresas não devem poupar esforços para evitá-lo. Outra questão delicada identificada com o estudo é a divulgação das ações socialmente responsáveis das empresas. Esta divulgação é de uma forma geral, não muito bem vista. No entanto, foram ressaltados vários aspectos positivos que poderiam prover desta divulgação, tais quais: maior comprometimento das empresas com suas ações, uma vez que estariam assumindo um compromisso em público, perante toda a sociedade; maior quantidade de empresas atuando responsavelmente, em decorrência de uma incitação da concorrência; incentivo a participação ativa de mais organizações da sociedade civil, que estariam mais informadas sobre as variadas fontes de recursos para a realização de seus projetos sociais. Percebe-se que diante da inércia dos Governos (federal, estaduais e municipais) na busca de soluções inovadoras para os problemas sociais, os empresários, mais confiantes em suas capacidades de decisão e ação, chamaram para si o exercício da Responsabilidade Social. Ao desenvolverem suas ações sociais, inicialmente sob forma assistencialista e filantrópica, as empresas começaram a identificar ganhos de imagem. Aos poucos, foram evoluindo para um novo patamar de ações sociais. Abandonaram as práticas filantrópicas tradicionais e começaram a adotar modelos de empreendedorismo social e de filantropia de alto desempenho. Nota-se também que há um aumento do consumo consciente e da boa vontade dos consumidores em relação às causas sociais. Com isso, as empresas estão percebendo um aumento significativo nas vendas, bem como um aumento na lucratividade. O fato é que a questão social está, hoje, no centro das atenções, sendo que existe uma grande distância, no entanto, entre a importância dos programas sociais e a avaliação efetiva que as empresas fazem dos resultados obtidos. Geralmente, predomina a divulgação dos gastos e investimentos feitos. As avaliações mais importantes, porém são aquelas que buscam saber se os resultados esperados são de fato obtidos. Levando em consideração a ótica do Marketing, verifica-se também a necessidade das empresas de utilizar estratégias para alavancar seus negócios. Segundo Pringle & Thompson (2000), o Marketing para Causas Sociais, diz respeito a sinergias e alianças estratégicas. Todas as partes envolvidas (ONGs, empresas, sociedade) se beneficiam e é por isso que o MCS depende muito do momento e tem um potencial tão grande. Pôde ser constatado, no desenvolvimento desse estudo, que a causa social recebe muito mais publicidade do que poderia ter se tivesse de pagar por ela. Na maioria dos casos, há ainda um benefício financeiro direto, como parte dos lucros obtidos ou do preço estipulado, resultante dos acordos comerciais com as parcerias. 14 Ainda pudemos perceber que muitos pensam que o MCS é simplesmente uma exploração cínica da piedade pública para a obtenção de lucros. Sempre haverá pessoas que fazem esse tipo de julgamento dos outros. Entretanto, os consumidores sempre têm o poder da escolha e se a maioria deles achasse que era cinismo, então o MCS deixaria de existir. Fica claro que este não é o caso, mas certamente a integridade da idéia é a base do sucesso de seu desenvolvimento futuro. Com relação aos critérios de certificação das empresas junto às instituições renomadas por meio de auditorias, pôde-se identificar a importância da publicação dos Balanços Sociais corporativos e verificar como as empresas avaliam os recursos despendidos nas ações sociais promovidas e como ocorre o retorno destas ações com relação à imagem institucional e a criação de valor aos acionistas. Segundo Cano (2002), algumas avaliações têm como objetivo específico calcular os custos dos programas em relação ao impacto produzido. Assim temos a avaliação de custo-benefício, que visa apurar o benefício monetário do programa para cada unidade de custo nele investida. Ainda segundo Cano (2002), existe também a avaliação de custo-efetividade, cujo objetivo é determinar o custo monetário por unidade de melhora produzida pelo programa. Tomando por base o estudo da Souza Cruz, conclui-se que nem sempre a avaliação feita dos projetos sociais e/ou ambientais, são tão objetivas assim. Concluímos que existe certo grau de dificuldade para a avaliação monetária efetiva dos resultados obtidos, mas que existe uma percepção muito clara e positiva por parte dos gestores de que é um bom investimento. Finalmente, há que se fazer uma última observação. Assim como as empresas, também os países estão em diferentes níveis de desenvolvimento, no que tange a Responsabilidade Social Corporativa - o nível de informação da população européia, por exemplo, é muito superior ao da brasileira. Desta forma, de uma maneira geral, as empresas brasileiras tendem a preocuparse menos em ser socialmente responsáveis e os consumidores brasileiros tendem a ser menos críticos e exigentes no que tange esta postura empresarial. Não se pode exigir de um indivíduo que mal sabe escrever e que tenha que sustentar sua família com um salário mínimo que esteja tão bem informado e escolha de forma tão consciente os produtos que comprará. No entanto, o que é importante mostrar é que já existe alguma sinalização de avanços tanto na atuação das empresas quanto no senso crítico do consumidor, e que esse processo, apesar de ainda estar em desenvolvimento em nosso país, pode significar uma excelente perspectiva para o futuro. 6. Referências bibliográficas ANDREASEN, A. R.; Ética e marketing social. São Paulo: Futura, 2002. CANO, I.; Introdução a avaliação de programas sociais. Rio de Janeiro: FGV, 2002. CHURCHIL, G. A.; Marketing: Criando valor para o cliente. Rio de Janeiro: Saraiva, 2003. 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