AS OFICINAS DE DINÂMICAS DE GRUPO COMO MÉTODO DE TRABALHO COM ALUNOS PORTADORES DO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE NO ÂMBITO ESCOLAR. Úrsula Lima de Magalhães* Adelice Jaqueline Bicalho** RESUMO O objetivo deste artigo é discutir sobre as possibilidades das oficinas de dinâmicas de grupo como recurso possível no âmbito escolar, para trabalho de assistência aos alunos portadores do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade, que têm seu desenvolvimento escolar/cognitivo prejudicado. Para tal articulação, tornou-se necessário discorrer sobre o transtorno, esclarecendo características sintomáticas e implicações que podem ocorrer na ordem familiar, social e escolar da vida da criança que é portadora do TDAH. O estudo foi feito por meio de revisão bibliográfica servindo-se de livros e artigos sobre o assunto. Sabese que o transtorno pode interferir na subjetividade da criança e do adolescente e na sua condição de sujeito, acarretando situações de conflito na sua saúde mental.O trabalho aponta a responsabilidade da escola, de buscar alternativas não só pedagógicas para ajudar o professor a trabalhar com estas crianças, mas também na busca de outros recursos que auxiliem na resolutividade dos problemas que o transtorno trás para o aluno no âmbito escolar. Conclui-se que as oficinas de dinâmicas de grupo podem ajudar no trabalho com alunos portadores do TDAH na escola, que na maioria das vezes não as acolhe bem, por desconhecer a necessidade de se ter um trabalho diferenciado diante das dificuldades cognitivas. Palavras-chaves:TDAH, escola, dinâmicas de grupo. ________________ *Psicóloga. **Psicóloga, Pedagoga, Mestre em Educação pela UNICOR, especialista em Psicopedagogia e Metodologia do Ensino Superior, Docente da UNIVALE e da DOCTUM. 2 INTRODUÇÃO A educação é direito de todos e espera-se que através dela os alunos desenvolvam suas capacidades social, cultural e intelectual. A educação deve, portanto, preparar o indivíduo para o trabalho e para a convivência social. Este comprometimento a escola tem que ter com todos os alunos que chegam às suas dependências, inclusive o aluno que é portador do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, pois ele também tem seu direito à educação, garantido por lei. No entanto, não há como negar que a escola tem dificuldades para promover e/ou favorecer o seu desenvolvimento pois ele traz consigo características que dificultam o processo de ensino-aprendizagem, mas que definitivamente não o impedem. O Transtorno de Déficit de Atenção /Hiperatividade é um problema de saúde mental, que acarreta ao indivíduo que apresenta o transtorno, dificuldades que atrapalham seu desenvolvimento psíquico/emocional e portanto vem despertando o interesse de vários profissionais (neurologistas, psicólogos, educadores, dentre outros.) que têm pesquisado sobre o assunto para podermos entender mais sobre suas possíveis causas, assim como suas conseqüências e possibilidades de tratamentos, para que se possa ter melhores resultados no trabalho com indivíduos que apresentam o TDAH.. É extremamente importante que os profissionais que trabalham com indivíduos portadores do transtorno conheçam profundamente padrões do desenvolvimento infantil para que reconheçam o que são sintomas de TDAH e o que são apenas comportamentos normais do desenvolvimento da criança e do adolescente para que façam a diferenciação do que é normal ou patológico. SOBRE O TDAH O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), também conhecido popularmente como Hiperatividade, se caracteriza por três sintomas básicos: desatenção, impulsividade e hiperatividade física e mental. Segundo Rohde e Benczik (1999), pode-se observar que o transtorno se apresenta por vezes com predomínio da desatenção, onde o sujeito não presta atenção a detalhes ou comete erros por descuido, assim como tem dificuldades de concentrar-se em tarefas ou jogos, pode perder coisas importantes, esquecerse de compromissos e tarefas entre outros sintomas; outra forma que se apresenta é com a hiperatividade e a impulsividade mais evidentes, onde o sujeito não pára sentado por muito 3 tempo, pula, corre excessivamente em situações inadequadas, fala demais, tem dificuldade de esperar sua vez entre outros comportamentos que pode colocá-lo em situações constrangedoras ou de perigo. Em alguns casos apresentam os sintomas de desatenção e impulsividade agrupados, e em qualquer uma das formas em que se apresente, pode trazer sérios prejuízos na qualidade de vida do indivíduo portador do transtorno, pois ao apresentar os sintomas, tem sua vida impactada porque eles comprometem seu comportamento em várias situações do cotidiano e causam estranheza às pessoas que não estão familiarizadas com o tipo de conduta que esses sujeitos apresentam. Como esses sintomas estão presentes em todos os momentos da vida do sujeito, ele pode apresentar dificuldades emocionais, de relacionamento familiar e social, como também baixo rendimento escolar em função de causarem comprometimentos neste âmbito e serem bastante perturbadores no ambiente onde estão inseridos. Segundo o DSM-IV para o diagnóstico do TDAH é necessário que o indivíduo tenha apresentado, antes dos sete anos de idade, alguns sintomas hiperativo-impulsivo que causam comprometimentos e que estes devem estar presentes em pelo menos dois ambientes, além de haver claras evidências de interferências no funcionamento social, escolar ou ocupacional próprio do nível de desenvolvimento do indivíduo em questão. Neurologistas identificaram, através de imageamento, diferenças em regiões do cérebro de sujeitos que sofrem com o transtorno. Na média, tanto seu lobo frontal como o cerebelo são menores, assim como os lobos parietal e temporal. O TDAH parece ser resultado do processamento anormal de informações nessas áreas cerebrais, responsáveis pela emoção e pelo controle dos impulsos e dos movimentos. Mas essas variações não indicam nenhuma deficiência mental básica. Como essa região cerebral parece ser a responsável pela inibição do comportamento, pela atenção sustentada e pelo autocontrole, é possível compreender que o sujeito tenha problemas para sustentar ou manter a atenção focalizada por longos períodos, principalmente se as tarefas a serem realizadas não despertarem seu interesse. Entretanto, é importante ressaltar que provavelmente as alterações responsáveis pelo transtorno possam acontecer em diversos pontos interligados do cérebro, e segundo Rohde e Benczik (1999), pesquisadores observaram também que os “neurotransmissores (dopamina e noradrenalina) parecem estar deficitários, em quantidade ou funcionamento nos indivíduos com TDAH”. Assim, como há um funcionamento cerebral desequilibrado, acarreta dificuldades e/ou inadequações no comportamento dos indivíduos portadores do TDAH que comprometem seu desempenho escolar, social e até familiar. Apesar de todos os estudos feitos até hoje sobre o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade não há um exame que faça o diagnóstico do 4 transtorno e assim ele é fundamentalmente clínico. No entanto, Alíano (2004) ressalta a importância de fazermos o uso da avaliação neuropsicológica como um instrumento de auxilio na avaliação do sujeito: Como já mencionado, a clínica é soberana para o diagnóstico de TDAH, mas a avaliação neuropsicológica pode ser uma ferramenta importante para o diagnóstico diferencial, avaliação de comorbidades e como fornecedora de dados para o planejamento terapêutico. Ela também fornece dados complementares sobre o funcionamento cognitivo do paciente, que ajudam na avaliação do prognóstico. (ALÍANO, 2004, p. 93) Rohde e Benczik (1999) indicam a Escala de Conners e a Escala de Problemas de Atenção do Inventário de Comportamentos de Crianças e Adolescentes, nas suas versões para pais e professores como instrumentos que podem ser utilizados como ferramentas auxiliares no processo diagnóstico, mas são muito incisivos ao dizer que eles não servem como instrumentos isolados. Nessa lógica, as entrevistas com familiares e professores, são fontes importantes de informação que medirão de forma objetiva a quantidade e a intensidade dos sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade que a criança e/ou adolescente apresenta. Exames neurológicos evolutivos, realizados por neuropediatras, podem também indicar dados que fortaleçam o diagnóstico baseando-se na pesquisa de sintomas. Faz-se importante esclarecer que “é fundamental que os sintomas sejam mal-adaptativos e inconsistentes com o nível de desenvolvimento esperado para a idade da criança ou adolescente”(ROHDE E BENCZIK.1999, p.50) para que o diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade seja confirmado e assim o sujeito tenha um acompanhamento que o ajude a lidar com suas dificuldades de forma eficiente. TDAH E CORMOBIDADE. É bastante comum os indivíduos que apresentam o TDAH também apresentarem outros problemas de saúde mental. Rohde e Benczik (1999) afirmam que a comorbidade, que é a ocorrência em conjunto de dois ou mais problemas de saúde, não é um fato incomum e que a frequência de outros problemas de saúde mental é alta sendo que cerca de 50% dos indivíduos com “TDAH também apresentam problemas de comportamento, como agressividade, mentiras, comportamento de oposição ou de desafio às regras” (ROHDE E BENCZIK, 1999, p. 46), além de baixa auto-estima, ansiedade e depressão. Os indivíduos então, desenvolvem um transtorno secundário como conseqüência do transtorno primário; o 5 sofrimento causado pelos sintomas do TDAH pode atingir de tal forma a vida do sujeito que outros transtornos vêm se somar aos que já existem. No caso, o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade causa tantos desconfortos à vida do indivíduo que é portador deste transtorno que ele acaba por desenvolver outros que podem dificultar mais ainda sua rotina diária, sua convivência familiar, social e escolar. Esses transtornos secundários podem originar mais problemas associados aos que já existem e serem de ordem psíquica ou comportamental. Segundo Silva (2009), uma criança ou adolescente pode por exemplo, desenvolver uma ansiedade generalizada ou uma depressão em função da sua dificuldade de manter sua atenção focalizada e saber que algo ficará por fazer, gerando uma preocupação constante que causará desgastes levando assim a uma exaustão. Mas para que também essa ansiedade seja considerada um transtorno secundário ela tem que ter uma constância. Se ela ocorrer por pelo menos num período mínimo de seis meses e provocar um desconforto significativo na vida do indivíduo pode-se caminhar na direção de uma comorbidade, pois ao apresentar o TDAH pode apenas desenvolver picos de ansiedades esporádicos. Silva (2009) também afirma que existem alguns transtornos que são mais comuns acompanharem o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade e são eles: a ansiedade generalizada, o pânico, fobias, TOC, depressão, transtornos de aprendizagem e do sono, uso de drogas e o transtorno desafiador opositivo. Exemplificando o Transtorno Desafiador Opositivo que é um dos transtornos que pode ocorrer em comorbidade, Silva (2009) ainda diz que ele traz grande prejuízo na vida da criança ou adolescente, pois é um distúrbio do comportamento que causa muita consternação porque provoca muitos conflitos com pessoas que exercem papel de autoridade (pais, professores, familiares) frente à criança ou adolescente. Em geral, acometem mais meninos do que meninas, e eles apresentam comportamentos que vão além da rebeldia, sendo bastante desafiadores, hostis e não respeitam a autoridade das pessoas ou as regras estabelecidas. Também tem baixa tolerância à frustração, envolvem-se facilmente em brigas e discussões não assumindo sua responsabilidade ou culpa nos acontecimentos. Diante da autoridade de um pai, mãe ou professor ele irá relutar em negociar ou obedecer à regra que lhe for imposta e diante dessa postura causará atritos com pessoas que são de seu convívio diário dificultando seu relacionamento com eles. O desgaste no relacionamento é inevitável e as pessoas que convivem com ele terão uma imagem daquele sujeito alicerçada nesta relação difícil. Todos os transtornos mencionados sempre causam mais dificuldades ou prejuízos na vida do sujeito e por isso ele necessita de acompanhamento de vários profissionais para ajudálo a lidar também com os sintomas dos transtornos secundários, pois cada um que é 6 desenvolvido em comorbidade, traz em si sintomas próprios e que o profissional de saúde mental tem que estar atento para fazer o diagnóstico e tratamentos adequados, pois muitas vezes os sintomas do transtorno secundário podem ser confundidos com sintomas do TDAH e assim não se faz um diagnóstico correto o que pode comprometer bastante a vida da criança ou adolescente, pois faz com que ele receba sinais sociais negativos que podem comprometer o desenvolvimento da sua autoimagem. Então se faz necessário identificar claramente quais são os déficits existentes que não fazem parte do quadro clínico do TDAH, mas que estão somados a ele e tratar os sintomas tanto do TDAH quanto os sintomas dos transtornos secundários o que requer muito empenho e persistência das pessoas envolvidas (profissionais, pais, professores). A FAMÍLIA, A ESCOLA E A CRIANÇA COM TDAH Os pais geralmente não estão preparados para lidar com seus filhos que apresentam o TDAH e, frequentemente, se queixam do comportamento e do relacionamento difícil e desgastante que se tem com eles porque esperavam uma criança ou adolescente calmo e obediente. Só começam a conhecer e compreender o que se passa, quando o filho ingressa na escola. De acordo com Silva (2009) quando na sala de aula, o aluno parece estar “no mundo da lua” ou “à todo vapor”, apresentando comportamentos que são considerados inadequados e que comprometem o seu desempenho escolar, é que geralmente os pais começam a ter o conhecimento de que seu filho é portador de um transtorno que necessita de cuidados específicos e vão em busca de ajuda para resolver os problemas. Antes, como não conheciam o problema, acreditavam que seu filho era teimoso e desobediente e consideravam até que haviam falhado na educação dele ou que esse era o jeito ou sua personalidade. Os pais, em geral, não entendiam que ele agia diferentemente do esperado porque apresentava o TDAH e como na escola há um ambiente mais estruturado, onde se espera que o sujeito se adapte mantendo comportamentos considerados adequados para que ocorra uma aprendizagem, a sua inadequação fica muito mais evidente. Normalmente é por isso que o diagnóstico do transtorno é tardio; como em casa o ambiente não é tão estruturado para alcançar uma finalidade, como na escola, os sintomas do TDAH vão se disfarçando em temperamentos difíceis e erros de educação, comprometendo relacionamentos além, é claro de comprometer a autoimagem e a autoestima do sujeito portador do transtorno, porque ao introjetar as 7 referências das pessoas que costumam vê-lo como um problema ele irá se ver também como problema. Rohde e Benczik (1999) asseguram que o primeiro passo, para o tratamento, é que a família tenha esclarecimentos sobre o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade para que não recaia sobre a criança ou adolescente portador do transtorno todas as culpas pelos acontecimentos desastrosos ou errados dos outros filhos e para que idéias errôneas acerca de seu caráter sejam desfeitas, removendo estigmas e rótulos. Assim, pode-se trabalhar na direção de um melhor resultado para o sujeito, no sentido de que ele consiga desenvolver plenamente suas potencialidades e reestruture sua autoimagem, como também para que a intensidade do desconforto causado por um filho com TDAH dentro da família diminua. O cansaço e o desgaste que alguns pais demonstram sentir diante de uma criança ou adolescente que tem sintomas hiperativo/impulsivo, podem desencadear castigos físicos e acusações que não terão efeito educativo e só irão gerar sentimentos de rejeição, desvalorização e inadequação e ele internalizará esses sentimentos como verdades que se tornarão uma barreira emocional para o desenvolvimento de sua autoestima. Quando os pais se informam sobre o transtorno e cada vez mais buscam conhecer suas características, fica mais fácil para ele reconhecer se seu filho está sendo desobediente ou incapaz por não conseguir controlar seus impulsos para lidar com a situação e assim intervir de forma correta sem utilizar de meios depreciativos ou pejorativos que humilham e maltratam qualquer pessoa e que nesta época de formação de identidade não será nada benéfico para a subjetividade do indivíduo. Silva (2009) também afirma que, para evitar dificuldades no meio familiar, quanto mais informação se tem sobre o transtorno, melhor é para a criança ou adolescente e sua família, porque aprenderão sobre como proceder em determinadas situações buscando um equilíbrio na educação de seu filho, evitando serem severos ou complacentes em demasia, para justificar qualquer tipo de comportamento: da criança ou adolescente e de quem os corrige. No que se refere aos professores, geralmente observa-se que também não estão preparados para atender as demandas do aluno portador do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Na escola onde há um ambiente estruturado, onde o aluno deve obedecer as regras, rotinas e cumprir tarefas para alcançar metas é que a situação tende ficar mais difícil para o portador do TDAH. O professor que desconhece o problema, espera que todo e qualquer aluno se adéqüe ao comportamento esperado dentro da sala de aula para se cumprir uma grade curricular determinada com no mínimo, um bom desempenho. E como 8 isso provavelmente não irá acontecer em função dos sintomas que o aluno apresenta, o caos se instala em sala de aula. . A falta de conhecimento por parte do professor sobre o transtorno é um dos maiores entraves para o desenvolvimento cognitivo do aluno portador de TDAH. Quando há o predomínio da desatenção o professor pode concluir que seu aluno tem algum déficit cognitivo, já que não consegue manter um padrão de rendimento e “em um dia não consegue acompanhar as aulas ou realizar tarefas propostas e em outros consegue ter bons resultados como as outras crianças”. (SILVA, 2009, p. 24) Quando se soma a impulsividade à desatenção, a situação tende a piorar, porque somado ao rendimento ruim vêm os comportamento inadequados e se conclui que esse aluno é irresponsável, rebelde, mal educada, pois em um dia ele está produtivo e participante, mas no outro simplesmente não tem a menor atenção a nada e não finaliza as tarefas, além de não conseguir ficar sentado por períodos longos. O que o professor precisa compreender é que esses sintomas não têm nenhuma relação com déficit intelectual ou desvio de caráter e que estes alunos com extrema freqüência são bastante inteligentes e criativos quando estimulados e trabalhados adequadamente. Portanto, o comum é que os comportamentos diferenciados e considerados inadequados acabam por atrair a atenção do professor, mas de forma negativa e acabam gerando atritos entre o professor/aluno/pais. A princípio o professor tem a tendência de acreditar que os pais não realizaram sua tarefa de educar seu filho de forma eficiente por terem sido permissivos demais ou omissos ou até mesmo por incompetência. Por sua vez, os pais acreditam que o professor está sendo preguiçoso ou com má vontade de trabalhar e aceitar seu filho com suas dificuldades. Até que consigam se entender, o aluno portador do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade já sofreu com algumas conseqüências dessa falta de entendimento entre pais e professores. Que o professor no geral não está preparado para trabalhar com os alunos que fogem dos padrões normais de desenvolvimento, isto é um fato. Entretanto, hoje é necessário que ele busque meios de desenvolver suas habilidades para trabalhar com alunos que necessitam de um trabalho diferenciado dentro da sala de aula em função de serem portadores de necessidades especiais. Com a educação inclusiva a escola é porta de entrada para todos os alunos com necessidades especiais se incluírem no mundo e não se espera que eles aprendam só a desenvolver a capacidade de conviver em sociedade, mas espera-se que eles tenham a oportunidade de adquirir algum conhecimento, pois este é mais um direito adquirido. O 9 professor tem que se preocupar em formar indivíduos emancipados e não meramente adaptados. Essa é uma critica que é feita por Crochík et ali (2009): Outro aspecto importante a ser mencionado no que se refere à questão da educação inclusiva é o de transmissão de conhecimentos ou a formação e o desenvolvimento de habilidades nos alunos com necessidades educativas especiais que talvez possam ser consideradas menos relevantes do que a socialização. (CROCHÍK, 2009, p. 46) Dessa forma, podemos considerar que o papel do professor vai muito mais além da simples transmissão de conteúdos ou da realização de técnicas didáticas.É um comprometimento e engajamento no desenvolvimento de outro ser. Por isso é uma situação complicada que ainda hoje professores recusem ou rejeitem alunos com dificuldades de aprendizagem como os alunos portadores do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. O professor tem papel fundamental no processo de aprendizagem e na saúde mental de alunos com TDAH. O vínculo que ele constrói com esse aluno é parte importante do processo ensino-aprendizagem, sendo está uma das partes que ajudam o aluno se construir como sujeito criativo, pensante e autônomo. Portanto na escola continua-se a formação da criança ou adolescente como sujeito dotado de subjetividade. Normalmente, durante seu desenvolvimento ele percebe o que é considerado inadequado em seu comportamento, no entanto, não consegue controlar seus impulsos mesmo estando em sala de aula e tendo consciência que precisa controlá-los e os transtornos que causam são experiências que carregam em si uma carga emocional e simbólica tanto para o aluno quanto para o professor advindo toda a subjetivação que se vive nesta relação professor/aluno. Esta relação com o aluno portador do TDAH traz também ao professor sentimentos subjetivos que podem colocar em xeque a própria imagem de profissional competente, pois quando o aluno não rende o quanto deveria, pode deflagrar no professor sentimentos como medos, frustrações, insegurança por sentir-se incompetente por não conseguir desenvolver todo o potencial do aluno. A necessidade de que o professor conheça o transtorno é para que não desenvolva uma postura de rejeição ao aluno e entenda que ele tem dificuldades que não estão ligadas intimamente com a sua capacidade de ensinar, mas que ele precisará desenvolver técnicas pedagógicas específicas para auxiliar o desenvolvimento cognitivo do mesmo. Gomes e Rey (2007) fazem a seguinte colocação: 10 Enquanto os docentes não forem revistos como expressão de sentidos subjetivos individuais e sociais, como sujeitos construtores e singulares, dotados de crenças, desejos, frustrações e afetos, não poderão assumir o papel de educar todo e qualquer aluno, de modificar e redirecionar sua prática profissional para ações mais igualitárias, e a instituição escolar continuará reproduzindo o círculo cruel da diferenciação e exclusão dos alunos. (GOMES; REY, 2007, p 412) Portanto, o professor também é um sujeito que carrega consigo suas próprias questões acerca de sua vida profissional como seus desejos e frustrações entre outros sentimentos, que merecem e necessitam de acolhimento para que tenha condição de redirecionar sua prática profissional desenvolvendo novas atitudes e interações na escola. E neste sentido haverá mudanças que facilitarão o desenvolvimento escolar (cognitivo e de convivência) do aluno portador do TDAH, porque o professor estará mais preparado para acolher, entender e trabalhar as dificuldades que esses alunos trazem consigo, evitando castigos e desaprovações desnecessárias melhorando os aspectos subjetivos dessa relação proporcionando aos alunos um acompanhamento que lhes garanta condições de alcançar um progresso efetivo melhorando a relação professor/aluno/, escola/família. No contexto educacional sempre há uma tendência em se colocar as responsabilidades do não aprender no próprio aluno ou nas condições social e familiar em que ele está inserido e se torna urgente quebrar essa lógica que direciona a atuação das escolas.A instituição deverá, cada vez mais, estar preparada para atender e trabalhar com toda sorte de alunos, e isso ocorrerá, quando a crença que toda a responsabilidade do não aprendizado é do próprio aluno. Na mudança dessa lógica, a escola acabará por compreender e aceitar qual é sua responsabilidade frente à questão, buscando ajuda para desenvolver suas potencialidades de instituição formadora de sujeitos com a efetivação de um processo escolar de qualidade e isso se faz desenvolvendo atitudes e formas de interação na instituição e com mudanças no relacionamento professor/aluno e na técnica de se construir o ensino-aprendizagem. Nessas mudanças a psicologia pode se fazer presente para auxiliar na construção de novas perspectivas de atuação junto ao aluno portador do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade. A DINÂMICA DE GRUPO PARA O TRABALHO COM O TDAH Quando se trabalha com crianças ou adolescentes deve-se ter uma disponibilidade muito grande, pois são seres em descoberta do mundo e como tal, são seres 11 cheios de energia, observadores e curiosos que tem uma capacidade de apreender as situações que os cercam. Percebem quando tudo está em ordem e desenvolvendo-se de maneira mais harmoniosa, mas também percebem quando este desenvolvimento está fora do padrão esperado. A criança ou adolescente com TDAH também tem a capacidade de perceber quando seu desenvolvimento não está compatível com o que se espera dela, principalmente na escola que é um lugar onde tentasse encaixar todos os alunos dentro de um padrão de comportamento. A professora que acompanha este aluno também sabe que ele não se encaixa nos padrões esperado e mesmo que se tenha um diagnóstico bem fundamentado de Transtorno de Déficit de Atenção/hiperatividade, não vai garantir que a situação altere por se conhecer o problema e a questão é: o que fazer com ela? Como ajudá-la? Como trabalhar com ela? O que devemos fazer é proporcionar, a esse aluno portador do transtorno, maneiras “mais saudáveis e produtivas para um TDAH se organizar, que não impliquem tanto desgaste”.(SILVA, 2009, p. 21) A constituição de dinâmicas de grupo pode ser um bom recurso para que alunos portadores do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade possam ser trabalhados de forma que não implique tanto desgaste que normalmente acontece em sua vida diária. Neste espaço ele poderá ter um lugar para trabalhar suas dificuldades, reconhecendo suas habilidades, além de se identificar com outros alunos que apresentam problemas semelhantes. A experiência e o sentimento de identificação podem favorecer o seu desenvolvimento, porque verificarão que não são os únicos que apresentam dificuldades de relacionamento e de aprendizagem, pois como coloca Osório (2000) sobre a formação de grupos terapêuticos “os grupos poderão ser homogêneos ou heterogêneos quanto aos objetivos a que se destinam, o sexo ou a idade de seus componentes, o nível intelectual, a categoria nosológica prevalente em seus componentes, e assim por diante”.(OSÓRIO, 2000, p. 72) É evidente que não é uma tarefa das mais fáceis, porém também não é impossível. Sabendo-se das características peculiares desses alunos como a inquietude, a desatenção, mas também da criatividade que geralmente apresentam é possível desenvolver um lugar de expressão e desenvolvimento. É necessário e de responsabilidade do psicólogo, estabelecer antecipadamente um roteiro de trabalho para favorecer um clima propício onde o aluno possa manifestar espontaneamente e de forma autêntica os seus sentimentos e para que possam também emergir os sentimentos do grupo. 12 É responsabilidade do terapeuta a criação e a manutenção desse clima e sua densidade como elemento psicoterápico dependerá, sobretudo, da atitude do terapeuta. Tal atitude radica-se em sua integridade pessoal, na maneira como saiba manter-se coerente, em sua disposição empática para com o sofrimento alheio, e, “last but not least”, no prazer com que executa sua tarefa. (OSÓRIO, 2000, p. 75) O psicólogo, na sua forma de conduzir o grupo, tem que pensar sempre em manter um espaço aberto para esses alunos, onde se sintam acolhidos nas suas dificuldades para facilitar a expressão de seus sentimentos e pensamentos, que muitas vezes estão perdidos em divagações. Então, é necessário que o psicólogo tenha sempre consciência que está trabalhando com alunos que necessitam de apoio e de estímulos adequados além de um ambiente mais estruturado, pois eles se distraem com facilidade mudando o foco de sua atenção para algo que lhe desperta maior interesse e têm dificuldade de manter a atenção ao longo do tempo. Portanto é necessário que o psicólogo tenha um vasto conhecimento sobre o transtorno e uma grande habilidade e bom treinamento para trabalhar com um grupo de alunos com o TDAH, pois com certeza ele terá uma grande exigência para facilitar a expressão dos sentimentos reais, positivos ou negativos, desses alunos. Rogers (1994) coloca que “se os sentimentos forem expressos e puderem ser aceitos numa relação, resultam em intimidade e sentimentos positivos. (ROGERS, 1994, p. 43) É dessa maneira que cada um deles poderá desenvolver uma maior aceitação do seu ser - emocional, intelectual e físico – tal como é, reconhecendo suas dificuldades e potencialidades. CONCLUSÃO O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é um problema de saúde mental que acomete indivíduos, acarretando geralmente sérios prejuízos para sua vida de forma geral. Afeta suas relações familiar, social e escolar dos sujeitos portadores do transtorno, de forma que estes necessitam de ajuda especializada para terem condições de desenvolverem suas potencialidades. O indivíduo está inserido em um grupo desde que foi concebido e carrega consigo todas as normas, regras, valores e crença de seu grupo familiar. Neste meio é que ele aprende a se reconhecer como ser, igual e pertencente a um grupo distinto dos demais grupos. À medida que cresce, amplia esta convivência e vai buscando se reconhecer, identificando-se e se sentido e fazendo parte do novo grupo do qual procurou integrar. É inegável que os grupos são partes importantes para a estruturação interna de qualquer ser humano. Os 13 sentimentos que despertam nele podem transformar a vida de qualquer um, pois a necessidade de ser aceito faz com as pessoas mudem seu jeito de vestir, falar e comportar entre outros aspectos, e as influências que o grupo exerce sobre os indivíduos podem ser consideradas boas ou ruins pelo seu grupo familiar, se for muito diferente dos valores desse primeiro grupo ao qual pertence. Na verdade, a vida em grupos auxilia o homem a se descobrir e identificar como tal, através das outras pessoas com quem convive Na escola, os alunos vão formando e integrando novos grupos segundo seus gostos, interesses, valores e nesta busca há um espaço que a dinâmica de grupo pode atuar, dando um novo sentido às experiências vividas pelos alunos portadores do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Neste espaço, onde esses alunos trazem experiências semelhantes, é que a escola pode reconhecer a diversidade que é cada uma e assim direcionar um novo olhar para eles reconhecendo-os em sua totalidade – física, psíquica, social e intelectual – e ao enxergá-los como realmente são, ver que são sujeitos de possibilidades com características individuais que precisam ser respeitadas e trabalhadas. Agir frente à diversidade escolar é enriquecedor para qualquer profissional que esteja disposto a enfrentar variados problemas que podem ir de uma dificuldade de adaptação a problemas mais complexos que desencadeiam estigmas e marginalizações. É aqui que a psicologia escolar pode desempenhar seu papel de promover a autonomia de alunos portadores do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, acompanhando seu progresso dentro de suas limitações e contribuindo para a reflexão e atuação mais eficiente de pais e professores junto a alunos com TDAH para que alcancem um pleno desenvolvimento cognitivo e social. THE WORKSHOPS OF DYNAMIC ONES OF GROUP AS METHOD OF WORK WITH PUPILS BEARERS OF the UPSET OF DEFICIT OF ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE IN the SCHOOL EXTENT. SUMMARY The objective of this article is to talk about the means of the workshops of dynamic ones of group like possible resource in the school extent, for work of presence to the pupils 14 bearers of the Upset of the Deficit of Atenção/Hiperatividade, who have his school / cognitive damaged development. For such an articulation, one made necessary to talk about the upset, explaining symptomatic characteristics and implications that can take place in the familiar, social and school order of the life of the child who is a bearer of the TDAH. The study was done through bibliographical revision serving of books and articles on the subject. The upset is known to be able to interfere in the subjectivity of the child and of the adolescent and in his condition of subject, bringing situations of conflict in his mental health. The work points to the responsibility of the school, of looking for not only pedagogic alternatives to help the teacher to work with these children, but also in the search of other resources that they help in the resolutividade of the problems that the upset behind for the pupil in the school extent. It is ended that the workshops of dynamic ones of group can help in the work with pupils bearers of the TDAH in the school, which most times does not welcome them well, because of not knowing the necessity of having been a work differentiated before the cognitive difficulties. Keywords: TDAH, school, dynamic of group. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALÍANO, Ângela. Avaliação Neuropsicológica do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): Contribuições Para Uma Intervenção Eficaz. In: CAPOVILLA, Fernando C. (Org.). Neuropsicologia e Aprendizagem: Abordagem Multidiciplinar . 2º Ed. São Paulo: Editora Memnon, 2004. p. 89-94. CROCHÍK, José Leon, et al; Atitudes de Professores em Relação à Educação Inclusiva. Psicologia Ciência e Profissão. Brasília, 2009,29 (1), p. 40-59. DSM-IV - Transtornos Geralmente Diagnosticados pela Primeira Vez na Infância ou na Adolescência: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4º ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1995. p.12-19. GOMES, Claudia e REY, Fernando Luis Gonzalez. Inclusão Escolar: Representações Compartilhadas de profissionais da Educação acerca da Inclusão Escolar. Psicologia Ciência e Profissão. Brasília, 2007, 27 (3), p. 406-417. OSÓRIO, Luiz Carlos. Grupos: Teorias e Práticas – Acessando a Era da Grupalidade. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 15 ROGERS, Carl. R., Grupos de Encontro. São Paulo: Martins Fontes, 7º ed.1994. ROHDE, Luiz Augusto P; BENCZIK, Edyleine B. P. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: O que é? Como ajudar?. Porto Alegre: Artmed,1999. SILVA, Ana Beatriz B. 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