O SR. FERNANDO DE FABINHO (PFL-BA) pronuncia o seguinte discurso: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é fato largamente conhecido o quanto o empresário brasileiro precisa pagar de encargos nos empréstimos tomados junto ao setor bancário para produzir e contribuir para o desenvolvimento do Brasil. As taxas de juros nacionais têm sido, há muitos anos, as maiores da América Latina. Satisfazer o cumprimento das obrigações associadas aos juros devidos tem requerido um esforço hercúleo do empresário nacional, que ainda por cima tem de administrar seu negócio sob um ambiente de freqüentes mudanças de regras e excessiva volatilidade dos mercados, o que gera elevado risco para a sua atividade produtiva. Vejamos alguns números recentes coletados pela Global Invest, comparando as taxas de juros reais em uma amostra de 40 países, em dezembro de 2003. O Brasil se 2 destaca, de forma negativa, como o país com a maior taxa de juros real, num patamar de 9,9% ao ano, contra uma média de 0,8% ao ano nos países desenvolvidos. Comparando também a taxa brasileira à média praticada nos países emergentes, de 2,3% anuais, constatamos que a taxa de juros real brasileira é mais do que o quádruplo daquela em pontos percentuais. Países como a Colômbia, em estado de guerra civil, conseguiam tinha uma taxa de juros real por volta de 1,4% ao final do ano passado, bem inferior à taxa vigente no Brasil. Pode-se dizer que a “sinalização de preços” da economia brasileira está totalmente ao avesso, tendo em vista os objetivos de um país que deseja e precisa, de maneira urgente, retomar o seu desenvolvimento econômico e social. De um lado, investir na produção envolve entrar em uma verdadeira “corrida de obstáculos” burocráticos, tributários e, sobretudo, financeiros. De outro lado, o setor 3 bancário, cuja missão precípua deveria ser alavancar recursos para o crescimento da economia, prefere emprestar ao Estado, que se tornou um concorrente quase que insuperável na demanda dos recursos disponíveis do País, e cuja insaciável sede de recursos acaba por pressionar as taxas de juros para o setor privado. Não é à toa, Sr. Presidente, que a oferta de crédito ao setor privado é tão baixa na economia brasileira, situando-se entre 24% e 26% do PIB, menor que países como o Chile, com uma proporção superior a 60% e os Estados Unidos, em que atinge quase 50%. O problema maior desses números é o impacto sobre a decisão de investimento do setor produtivo. Como mostra estudo recente da economista Maria Cristina Terra, da FGV do Rio de Janeiro, não há dúvida de que a escassez de 4 crédito, de fato, responde por boa parte do baixo nível de investimentos verificado na economia brasileira. Devemos registrar, Sr. Presidente, que há outros fatores a afetar a taxa de juros para o setor privado, além da mencionada drenagem de recursos exercida pelo setor público. Inadimplência, insegurança jurídica para recuperar créditos, impostos altos, todos esses são fatores relevantes para aumentar os spreads praticados nas transações financeiras no País. Além disso, a política de fixação da taxa de juros básica da economia, a SELIC, pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, COPOM, tem contribuído de forma significativa para manter as taxas de juros elevadas. Apesar dos cortes procedidos na SELIC entre meados de 2003 e o início de 2004, tal movimento foi interrompido em um patamar ainda muito alto. Atualmente, a taxa de juros básica 5 da economia se situa em 16%, sendo que a expectativa de mercado ao final de junho era de uma variação do IPCA da ordem de 6,25%, o que significa uma taxa de juros real de 9,17% ao ano, valor muito acima do padrão internacional. O pior, Sr. Presidente, é que o COPOM não deverá reiniciar nesse processo de queda da SELIC tão cedo. As estimativas mais otimistas do mercado, tendo em vista o comportamento recente da autoridade monetária, são de que a taxa de juros só voltará a cair no início de 2005. Nossa indagação final, senhor Presidente, é como o atual processo de reativação do crescimento econômico no país, já detectado por alguns indicadores econômicos, poderá se sustentar em tal contexto. Nosso temor é de que tal movimento seja condenado a uma morte prematura, se não acompanhado pela queda dos juros reais. Está nas mãos do Governo, portanto, a travessia de tal período com 6 uma política que alie responsabilidade monetária e fiscal a um mínimo de sensibilidade quanto à necessidade de manutenção do crescimento econômico. Muito obrigado. 2004_8679_Fernando de Fabinho.doc202