CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI – FACECAP - PEDAGOGIA - O DESENVOLVIMENTO DA AFETIVIDADE: A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO JANAÍNA HELENA MARINS LOPES Capivari, SP 2014 CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI – FACECAP - PEDAGOGIA - O DESENVOLVIMENTO DA AFETIVIDADE: A RELAÇÃO PROFESSOR- ALUNO Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da FACECAP/CNEC Capivari, para obtenção do título de Pedagogo, sob a orientação da Prof.ª Lídia Inês Pagotto Piovesani. JANAÍNA HELENA MARINS LOPES Capivari, SP 2014 FICHA CATALOGRÁFICA L853d LOPES, Janaina Helena Marins O Desenvolvimento da afetividade: a relação professor-aluno/Janaina Helena Marins Lopes. Capivari - SP: CNEC, 2014. 31 p. Orientadora: Prof.ª Lídia Inês Pagotto Piovesani Monografia apresentada ao curso de Pedagogia. 1. Afetividade. 2. Relação Interpessoal. 3. Educação. I. Título. II Faculdade Cenecista de Capivari. CDD. 371.30281 DEDICATÓRIA Dedico ao meu pai Fernando... Pai a saudade é grande, mas o meu amor é para sempre. AGRADECIMENTOS Agradeço imensamente a Deus, pois sem ele nada disso seria possível. Eterna gratidão à minha filha Eloise, pela paciência e muita compreensão, pelas noites em que dormiu sem ouvir o meu “Durma com Deus”. Obrigada minha menina! À minha tão amada e mamãe Jacira que sempre me apoiou, acreditando na realização da minha formação. À minha querida irmã Márcia Fernanda que por muitas vezes precisou cuidar de minha filha para que a realização deste sonho se tornasse possível. Ao meu marido Valmir que se mostrou companheiro e amigo nos momentos de angústia, sempre ao meu lado com muita compreensão. Dedico também às minhas amigas Cristiane, Eliane, Solange, Adriana, Sirlei, Marília e Suzana, pessoas maravilhosas que terei para sempre em meu coração e que, por mais difícil que parecesse, sempre estiveram do meu lado. Obrigada pela cumplicidade! A todos os meus professores participantes da minha formação docente por todo ensinamento e preocupação. Quero agradecer também à professora Me. Teresa do Carmo Ferrari Bedendi e à coordenadora do curso Me. Rita de Cássia Cristofoleti, que se tornaram pessoas inesquecíveis na minha vida, exemplos de garra e perseverança. Em especial agradeço à professora Lídia Inês Pagotto Piovesani, minha orientadora, que com toda sua dedicação e paciência, mostrou-se sempre disposta a guiar meus estudos. Enfim agradeço a todos aqueles que direta ou indiretamente participaram da minha formação. Tenho todos vocês como anjos da guarda! “Aos velhos e jovens professores, aos mestres de todos os tempos que foram agraciados pelos céus por essa missão tão digna e feliz. Ser professor é um privilégio é semear em terreno sempre fértil e se encantar com a colheita. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes.” (CHALITA, 2001) LOPES, Janaína Helena Marins. O Desenvolvimento da Afetividade: a relação professoraluno. Trabalho de Curso. Curso de Pedagogia. Faculdade Cenecista de Capivari – CNEC. 31 páginas, 2014. RESUMO A presente monografia, realizada através de pesquisas bibliográficas, enfatiza a afetividade e toda a relação que há entre professor e aluno no espaço escolar. Essa relação pode ser resultante de conflitos de questões sociais e pessoais, que tornam o ambiente escolar não muito produtivo em relação ao interesse do aluno. Chama a atenção para esse tema, muitas vezes ignorado, mas que faz toda diferença na vida de todos os envolvidos. Procura aguçar o olhar que envolve toda essa questão e a importância que isso tem para o aluno dentro da sua realidade emocional. Serão mostradas algumas ações que podem ser seguidas para lidar com a emoção em sala de aula, para que assim seja possível tornar a relação dos dois lados uma junção de respeito, carinho e amor para consigo mesmo e para com seu próximo. Tem como finalidade, também, enfatizar a importância da afetividade no desenvolvimento construtivista, partindo do pressuposto de que o desenvolvimento do sujeito se constitui perante as suas interações com o meio em que vive, podendo facilitar o desenvolvimento intelectual, emocional e afetivo do aluno. Palavras-chave: 1. Afetividade. 2. Relação interpessoal. 3. Educação. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Pedagogia Conteudista – p. 13. Disponível em: <https://cibereducacao.wordpress.com/tag/intencionalidade-pedagogica/>. Acesso em: 04 maio 2014. Figura 2. O prazer de educar – p. 15. Disponível em: <http://identidade85.blogspot.com.br/2013/09/filme-sociedade-dos-poetas-mortos1989.html>. Acesso em: 20 abr. 2014 Figura 3. Unidos pela educação com afetividade– p.20. Disponível em: <http://www.fct.unesp.br/?_escaped_fragment_=/administracao/nbspcci/reuniao-depais/2012/>. Acesso em: 20 abr. 2014 Figura 4. O Acolhimento – p.26 . Disponível em: <http://oficinadepapelreciclado.blogspot.com.br/2011/02/normal-0-21-falsefalse-false-pt-br-x.html>. Acesso em: 20 abr. 2014. SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 10 CAPÍTULO 1. O LUGAR DO AFETO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO..........................12 CAPÍTULO 2. O AFETO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM........... 19 CAPÍTULO 3. AÇÕES AFETIVAS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA.............................24 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................29 REFERÊNCIAS.....................................................................................................................30 INTRODUÇÃO O referente trabalho propõe verificar se a relação de afetividade entre professor-aluno estimula o desenvolvimento cognitivo, afetivo e emocional da criança, no qual indagamos: Pode a afetividade ser um meio possível e facilitador da aprendizagem do aluno? Uma das dificuldades no estudo sobre a afetividade é a definição do real significado do termo. Na linguagem do senso comum, afeto relaciona-se comumente com sentimentos de ternura, carinho e simpatia. Nas mais variadas literaturas, afetividade está relacionada aos mais diversos termos: emoção, estados de humor, motivação, sentimento, paixão, atenção, personalidade, temperamento e outros tantos, porém, na maioria das vezes, o termo é confundido com emoção. Atualmente, a tarefa de grande parte dos professores tem sido apenas transmitir os conteúdos que lhe são impostos. Consideramos que se faz necessário ir mais além, pois o educador precisa estar atento às dificuldades físicas, emocionais e intelectuais do seu aluno e se preocupar com o seu contexto sociocultural. Problematizamos aqui o que as duas partes, aluno e professor, podem fazer para despertar o afeto e, consequentemente, o bom desenvolvimento em sala de aula. O tema se faz necessário porque está sendo esquecido e abolido em muitas salas de aula e trata de algo relevante, que precisa ser recuperado no campo da educação. Kupfer (2003) explica que: Tal visão precisa, no entanto, ser problematizada caso se queira avançar um pouco no difícil terreno dos problemas de aprendizagem, já que se está diante de um fenômeno multideterminado, que ultrapassa a causalidade bipolar cognitivo/afetivo. Os problemas de aprendizagem parecem ser hoje a grande peste educacional de nossos tempos, a grande denúncia de que há algo de podre no reino da educação. (KUPFER, 2003, p.35). Entendemos que isso requer tempo, dedicação, esforço, vontade e conhecimento. É preciso que o educador saiba usar sua autoridade (e não autoritarismo), ou seja, que o professor seja aceito pelos seus alunos a partir de seu conhecimento, pela forma como os trata contrapondo o autoritarismo, no qual o aluno é submetido à imposição da força ou pelo grito. Para que não extrapole os limites necessários para uma convivência sadia, é necessário nunca se esquecer de que está lidando continuamente com as emoções de outro indivíduo. 10 O tema descrito é um fator de extrema relevância ao se tratar de aprendizagem, uma vez que muitos alunos que apresentam problemas emocionais fazem com que esses problemas repercutam negativamente no seu meio escolar e na sua aprendizagem. Desta maneira, esperamos que futuros estudantes de Pedagogia possam refletir a partir da leitura desta pesquisa, fazendo com que este objeto de estudo abra novos olhares e horizontes no campo da educação. Este trabalho teve como modalidade o método da pesquisa bibliográfica de textos de autores como Dantas (1992), Galvão (1995), Freire (1996), Chalita (2001), Almeida (1999) e de outros que se fizeram necessários. Como processo de entendimento desta pesquisa demonstramos, a seguir, como será organizado. No 1º capítulo trataremos do lugar do afeto no campo da educação, mostrando como esse tema foi compreendido e como o afeto tornou-se essencial nesse campo. No 2º capítulo abordaremos o afeto no processo de ensino aprendizagem, quem são os sujeitos envolvidos e a importância deste tema para o bom andamento das relações em sala de aula. O 3º capítulo discorrerá sobre as ações que estimulem a afetividade no ensino e aprendizagem e propõe práticas para que o ensino na educação torne-se significativo na relação dos sujeitos. 11 CAPÍTULO 1. O LUGAR DO AFETO NO CAMPO DA EDUCAÇÃO O tema afetividade, no contexto da sua historicidade, ainda é muito escasso nas pesquisas do campo da educação e a realização de trabalhos neste segmento, em pleno século XXI, pois muitos estudiosos enfocaram os aspectos cognitivos, priorizando o conhecimento acima dos aspectos afetivos. Desta forma, Almeida (1999) afirma que, Nas últimas décadas, várias pesquisas têm procurado dar ênfase aos aspectos cognitivos, abandonando o estudo dos aspectos afetivos, essenciais para a compreensão do comportamento humano em interação social. Esse fato fica bastante claro se observarmos a produção científica desse período, cuja maior preocupação gira em torno da discussão acerca da aquisição do conhecimento. (ALMEIDA, 1999, p.11). Comenius (2006), pai da Didática Magna fez, ainda, relação com a interação dos sujeitos, tendo como formação do homem o ato afetivo, pois observamos que a junção de perfeita harmonia em relação aos sujeitos, torna o ambiente propício de aprendizagem para ambos. E disse ainda “[...] que seja impossível não conseguir bons resultados. E de ensinar rapidamente, ou seja, sem nenhum enfado e sem nenhum aborrecimento para os alunos e para os professores, mas antes com sumo prazer para uns e para outros [...].” (COMENIUS, 2006). Mas foi em Ariès (1981) que pudemos descrever o quanto este sentimento de afeto, ou o referido tema afetividade, no passado era algo desconhecido, porém desde o início do século XVII houve uma transformação em processo de construção ao longo do tempo. Ariès (1981) diz ainda que “É significativo que nessa mesma época tenham ocorrido mudanças importantes na atitude da família para com a criança. A família transformou-se profundamente na medida em que modificou suas relações internas com a criança.” (ARIÈS, 1981, p.154). Ainda em Ariès (1981) vimos que essas condições foram mudando o conceito que a sociedade e a família tinham em desconhecer esse sentimento de infância, trazendo à tona duas formas em que a criança deveria ser abordada no contexto ensino/aprendizagem: uma visão em que teria que aprender para o trabalho adulto e outro a ideia de que tem que brincar e ser paparicada: O primeiro sentimento da infância- caracterizada pela “paparicação”- surgiu no meio familiar, na companhia de criancinhas pequenas. O segundo, ao contrário, proveio de uma fonte exterior à família: dos eclesiásticos ou dos homens da lei, raros até o século XVI, e de um maior número de moralistas no século XVII, preocupados com a disciplina e a racionalidade dos costumes. (ARIÈS, 1981, p. 104). 12 Almeida (1999) comenta que a criança, quando inserida na escola, se depara com novo meio/contexto diferente do âmbito familiar, considerando-se como um afastamento desse tipo de afeto, tornando-a um sujeito com responsabilidades e deveres, norteado por regras e horários. Podemos pontuar como sendo esse um dos fatores resultantes do afastamento entre professor e aluno, pois o aluno muitas vezes tem a visão de que o professor somente tem o papel de “comandar e ditar regras”, de que não está ali para confortá-lo ou ser seu amigo, tomando isso como desculpa para que não obtenha méritos no seu rendimento escolar. De tal modo, Pereira (2004, p.129) acredita que “quanto maior for o diálogo e a livre expressão na construção das regras, revelando-se a base afetiva, mais haverá limites e disciplina, bem como respeito pelas fronteiras do que pertence ao privado e ao público”. Para nos ancorar na perspectiva de que o aluno muitas vezes tem seu conhecimento prévio desconsiderado, Saviani (2008) nos descreve que a Pedagogia conteudista, que prevaleceu por muitos anos, tem como característica o professor como figura central e detentor de todo o conhecimento, pois vimos através do livro “Cuidado, Escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas” (HARPER, et al., 1986) que nesse modelo de escola, a transmissão de informação é a principal - senão a única- via de interação entre os sujeitos: Figura 1. Pedagogia Conteudista. Porém, pesquisas apontam que não devemos desconsiderar que o aluno já traz consigo conhecimentos prévios na sua individuação e esses conhecimentos, por muitas vezes, são desconsiderados, o que se torna um dos fatores resultantes (mas não o principal) do afastamento nas relações dos sujeitos. Um dos estudiosos que faz essa afirmação é Almeida (1999), quando diz que: 13 A criança, quando vai para a escola, leva consigo tanto os conhecimentos já construídos, quanto os prelúdios de sua vida afetiva. Tais aspectos se interpenetram dialeticamente, interagindo de maneira significativa sobre a atividade do conhecimento. (ALMEIDA, 1999, p. 13). Sendo assim Davis e Oliveira (1994) relatam que, [...] mesmo reconhecendo a importância dos fatores emocionais e afetivos na aprendizagem, o objetivo da ação da escola não é resolver dificuldades nesta área. O especifico na instituição escolar é propiciar a aquisição e reformulação dos conhecimentos elaborados por uma dada sociedade. (DAVIS, OLIVEIRA, 1994, p.80). Temos a liberdade então de nos embrenharmos neste contexto fazendo uma relação do afeto com o que dizem os autores, pois a afetividade, quando envolvida por ambas as partes, tem uma postura de mudança, projetando novos rumos a serem seguidos. É o que nos valida Pereira (2004, p.129) ao citar que “quando alunos e professores estão em um ambiente harmônico, integrados e trabalhando em conjunto, cria-se um novo sentido ao aprender e ao ensinar”. Segundo Almeida (1999), é indiscutível a inquietude acerca do afetivo, pois o que torna uma relação equilibrada e comprometida com o sujeito é o fato de que a confiança seja recíproca e que se torne um elo entre ambos, que deve ser trabalhado com muito cuidado. A simples figura do educador já desperta inúmeros e diversos sentimentos nas crianças que, na maioria das vezes, o têm como herói, por exemplo, como uma pessoa que assume um lugar especial e único aos olhos inocentes de quem espera um afago. Partindo desse pressuposto, fica explícito que a presença afetiva do educador pode ser motivo facilitador de aprendizagem. Segundo Savater (1998), O professor não apenas, talvez nem principalmente, ensina com seus meros conhecimentos científicos, mas com a arte de persuasão de sua ascendência sobre os que atendem: deve ser capaz de seduzir sem hipnotizar. Quantas vezes a vocação do aluno é despertada mais por adesão a um professor preferido, à matéria que ele transmite! (SAVATER, 1998, p.131). Exclarecemos aqui que não estamos desqualificando o conhecimento do professor, mas que com sua capacidade em “encantar” seus alunos, torna o ambiente de sala de aula mais propício à aprendizagem prazerosa. 14 Na imagem abaixo percebemos o vínculo afetivo entre professor e alunos, fazendo uma relação com o filme “A sociedade dos poetas mortos”, produzido por Paul Junger Witt, Tony Thomas, Steven Haft e dirigido por Peter Weir (1989), que ocorre na Welton Academy (EUA), uma tradicional escola preparatória, na qual predominam quatro grandes pilares: tradição, honra, disciplina e excelência. Vemos um professor muito querido pelos alunos que se engaja para que eles tomem atitudes libertadoras em suas vidas: Figura 2. O prazer de educar. Isto nos leva a indagar como o afeto surgiu na educação, a partir de que momento se tornou relevante, mostrando de fato que traz repercussões para os sujeitos em questão. É sobre este contexto que devemos destacar o quanto é relevante às duas partes saberem diferenciar esse afeto, não como uma relação de amor, mas sim que o docente se importe com seu aluno, com sua interação na sociedade, com suas relações sociais e que, na maioria das vezes, isso se reflete no seu aprendizado. Sendo assim, Pereira (2004, p.128) nos descreve “[...] estabelecer limites não se opõe a um comportamento afetivo, em alguns casos esta relação se complementa [...]”. Acerca dessa importância das relações afetivas, Davis e Oliveira (1994) nos descrevem que: Na interação que professor e aluno estabelecem na escola, os fatores afetivos e cognitivos de ambos exercem influência decisiva. Na interação, cada parceiro busca o atendimento de alguns dos seus desejos: de proteção, de subordinação, de realização, etc. Através dela, tanto os alunos quanto o professor vão construindo imagens do seu interlocutor, atribuindo-lhe determinadas características, intenções e significados. (DAVIS, OLIVEIRA, 1994, p. 84). 15 Dentre os diversos autores que discutem o tema afetividade, combinando aspectos da Psicologia com a Educação, destaca-se Henri Wallon (1879-1962), educador e médico francês: ele afirmava que a emoção estaria relacionada ao componente biológico do comportamento humano, referindo-se a uma reação de ordem física. Galvão (1995) elabora que Wallon dá ênfase para a afetividade destacando que esta tem fator decisivo na formação do caráter e da personalidade do indivíduo, sendo que estas são as primeiras manifestações que a criança desenvolve, inclusive antes mesmo da inteligência. Para Dantas (1992), A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente, à vida racional. Portanto, no início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturados, com o predomínio da primeira. (DANTAS, 1992, p. 90). Segundo Galvão (1995), na psicogenética humana de Wallon a afetividade teria uma significação mais ampla, na qual se inserem várias manifestações, primeiramente orgânicas como expressões de sofrimento e de prazer que a criança experimenta, como a fome e a saciedade e as manifestações relacionadas ao social como o sentimento, a paixão, a emoção, o humor, etc. Galvão (1995) diz que, para Wallon, o desenvolvimento humano acontece em vários estágios que se tornam essenciais para que, progressivamente, o sujeito se transforme e atinja sua autonomia e atue de forma decisiva sobre o meio. Segundo Galvão (1995), para Wallon “a passagem de um a outro estágio não é uma simples ampliação, mas uma reformulação. Com frequência, instala-se, nos momentos de passagem, uma crise que pode afetar visivelmente a conduta da criança”. (WALLON apud GALVÃO, 1995, p.41). Para Wallon, descrito através de Galvão (1995), a constituição desse sujeito varia de pessoa para pessoa. Propõe, então, o estudo das condutas infantis, buscando compreender cada relação que a criança faz com seu meio ambiente, fazendo com que compreendamos o desenvolvimento infantil, ressaltando a existência da junção dos aspectos afetivos e cognitivos e que ele os julga em cinco estágios: 16 ‘Estágio impulsivo-emocional’, no qual a afetividade e as emoções aparecem em primeiro plano, estando a criança em seu primeiro ano de vida. Neste estágio fica claro que o envolvimento do outro é de extrema importância, pois: Nos momentos dominantemente afetivos do desenvolvimento, o que está em primeiro plano é a construção do sujeito, que se faz pela interação com os outros sujeitos; naqueles de maior peso cognitivo, é o objeto, a realidade extrema, que se modela, à custa da aquisição das técnicas elaboradas pela cultura. (DANTAS, 1992, p. 91). O ‘estágio sensório-motor e projetivo’ é voltado para as maneiras da criança explorar o mundo à sua volta, o que ocorre por volta dos 3 anos. A criança começa a indagar o mundo, já que muitos nessa fase já adquiriram a fala. Há, então, neste estágio o surgimento da função simbólica e da linguagem. Costa (2010) nos afirma que: Essas relações vão alargando os horizontes sociais da criança, e suas manifestações tornam-se gradativamente intencionais. Cada vez mais a criança responde aos estímulos do mundo exterior, tornando-o como instrumento de seu interesse a ser manipulado e explorado. (COSTA, 2010, p.31). Em seguida temos o ‘estágio do personalismo’, que ocorre dos 3 aos 6 anos de idade, mediante suas aquisições e interações sociais, transcendendo assim a sua personalidade. Izabel Galvão (1995) nos descreve que, “a construção da consciência de si, que se dá por meio das interações sociais, reorienta o interesse da criança para as pessoas, definindo o retorno da predominância das relações afetivas”. (GALVÃO, 1995, p.44). No ‘estágio categorial’ vemos a predominância do cognitivo, ocorrendo na faixa etária dos 7 aos 12 anos, na qual pode acontecer a forma de percepção que se aproxima à do adulto, resultando da função simbólica, fazendo com que a criança consiga realizar possibilidades de pensamento como questionamentos, análises e comparações. Por fim é no quinto e último estágio, o da ‘puberdade e adolescência’, que ocorre na faixa etária dos 12 anos, que a afetividade vem a tona, decorrente de todas as transformações desse sujeito, como as suas modificações hormonais. Nesta concepção, segundo Galvão (1995), Wallon explica essa constituição do sujeito perante as situações do meio social, ocorrendo em todos os estágios o envolvimento do afeto, da cognição e do ato motor. 17 Com um viés de finalização, Galvão (1995) nos descreve que Wallon, nas suas concepções pedagógicas, “[...] propõe uma escola engajada, inserida na sociedade e na cultura e, ao mesmo tempo, uma escola comprometida com o desenvolvimento dos indivíduos, numa prática que integre a dimensão social e individual”. (GALVÃO, 1995, p.66). Ainda sobre a teoria walloniana destacamos o quanto ele privilegia os aspectos afetivos, determinantes na direção do processo de desenvolvimento, dizendo que toda ação interativa é efetivamente determinada. No capítulo a seguir trataremos da função da escola e do professor, tendo o afeto como um dos fatores propulsores de aprendizagem. 18 CAPÍTULO 2. O AFETO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM Neste capítulo abordaremos a questão do comprometimento da escola, da sociedade e dos professores com uma educação de qualidade, vendo o aluno como agente ativo no processo de ensino e aprendizagem. Precisamos então ter uma nova visão de mundo, enxergá-lo com olhos de águia, ir mais além e entender que somos vítimas do sistema social que valoriza apenas a estética, cada vez mais, e não o seu conteúdo como um todo, o consumismo e não as valiosas ideias. Devemos nos empenhar para contribuir com uma sociedade mais humanista e saudável no que se diz respeito ao próximo, pois para definir tal interação, concordamos com Freire (1996) quando diz que: É esta percepção do homem e da mulher como seres “programados, mas para aprender” e, portanto, para ensinar, para conhecer, para intervir, que me faz entender a prática educativa como um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos. (FREIRE, 1996, p. 54). Segundo Cury (2003), o professor tem que ter a noção de que não é um pilar apenas na educação de seu aluno, mas um pilar na vida do mesmo. O mestre, apesar de toda a dificuldade que o rodeia, é insubstituível, pois num mundo no qual a máquina é quem comanda, devemos nos lembrar de que os sentimentos ainda são ensinados por seres humanos. Vygotsky (1994) defende que a aquisição do conhecimento é totalmente voltada para as interações sociais. Justifica-se então que, a partir do momento que a criança é inserida culturalmente, o seu desenvolvimento acontece. Vygotsky também não descarta a total importância do outro na constituição do saber da criança e em seu modo de agir e pensar. Seguindo a partir desta concepção, Rego (1994, p.42) concorda nos descrevendo que “[...] a cultura é, portanto, parte constitutiva da natureza humana, já que sua característica psicológica se dá através da internalização dos modos historicamente determinados e culturalmente organizados de operar com informações”. Para tanto, na visão de Almeida (1999), o papel de ensinar e aprender vai um pouco mais além e, considerando que a escola é um campo de vivência e cidadania, é preciso que ela possa trazer no seu alicerce o ideal de proporcionar aos educandos momentos prazerosos de 19 aprendizagem e reconheça a importância do bom relacionamento afetivo entre docentes e discentes. Do mesmo modo, Almeida (1999) diz que: A escola - tanto quanto a família - tem o seu papel no desenvolvimento infantil, e a relação professor–aluno, por ser de natureza antagônica, oferece riquíssimas possibilidades de crescimento. Os conflitos que podem surgir dessa relação desigual exercem um importante papel na personalidade da criança. (ALMEIDA, 1999, p.106). A imagem abaixo que foi retirada de uma pauta de reunião escolar, nos mostra a junção dos papéis dos pais e escola para um processo de desenvolvimento da aprendizagem numa relação afetiva: Figura 3. Unidos pela educação com afetividade. Kullok (2002) ainda nos explica que nesse processo de ensino-aprendizagem o bom relacionamento de ambos deve ser embasado na questão de que o aluno é o sujeito construtor e responsável pelo seu aprendizado, pois como nos descreve Cunha (1989, p.65) “a escola como instituição social determina aos seus próprios integrantes os comportamentos que deles se espera”. Sendo assim completamos com Morgado (2002, p. 18), quando diz que “o professor será apenas um facilitador da busca do conhecimento que o aluno empreende dentro de si mesmo”. Diz ainda que o conhecimento deve ser o centro da relação pedagógica e que a transposição afetiva que a criança faz para o professor deve se transformar em sentimentos ternos e estar voltada para a curiosidade. 20 Freire (1992) descreve que é preciso saber o verdadeiro papel de cada um: escola, família e educadores. Num processo democrático todos devem se envolver na busca dessa aprendizagem. Nesse sentido, Nérici (1885) aponta que o ensino como um todo está pautado como um processo de atender às necessidades desse sujeito como individuo da sociedade, com a pretensão de manter a sua sobrevivência. Como explica Campos, A aprendizagem é, afinal, um processo fundamental da vida. Todo indivíduo aprende e, através da aprendizagem, desenvolve os comportamentos que possibilitam viver. Todas as atividades e realizações humanas exibem os resultados da aprendizagem. (CAMPOS, 2008, p.15). Navarro e Silva (2012) destacam o quanto essa relação é ampla, que esse processo de aprendizagem é o âmago do processo pedagógico em sala de aula, pois se trata de um local onde os sujeitos trocam suas vivências e que deverá sempre haver uma conexão entre a realidade da escola e o contexto histórico do aluno. Para uma aprendizagem efetiva, Cristofoleti e Stefani (2011, p.29) defendem que “[...] o professor compreenda a criança como um todo, ou seja, que perceba que aquele ser humano que está em sala de aula é alguém dotado de emoções, alguém que traz conhecimentos extraescolares”. Portanto, por mais complexas que sejam essas relações humanas, o professor deve ficar atento não somente aos conteúdos e conhecimentos a serem transmitidos, mas também ao processo de construção de cidadania desse aluno. (NAVARRO e SILVA, 2012). Para Almeida (1999), na escola as relações afetivas estão em evidência por se tratar de uma interação entre sujeitos, mesmo a escola sabendo da sua real responsabilidade em transmitir o conhecimento. Sendo assim, para a autora, “[...] na relação professor-aluno, uma relação de pessoa para pessoa, o afeto está presente”. (ALMEIDA, 1999, p.107). Dessa maneira, de acordo com Navarro e Silva (2012), docentes e discentes estão a todo o momento em constantes relações de emoção em sala de aula, pois o aluno é capaz de ter opiniões, de agir, de refletir, assim como o professor e isso deve permear o processo de construção de conhecimento de ambas as partes. Nesse sentido, Libâneo ressalta que: 21 O ensino supõe ajudar os alunos a desenvolver capacidades e habilidades cognitivas de modo que dominem conceitos, formem esquemas mentais de interpretação da realidade, aprendam a organizar ou reestruturar o pensamento, a raciocinar logicamente, a argumentar, a solucionar problemas. (LIBÂNEO, 2008, p.65). Essa aprendizagem se torna mais significativa se a relação professor-aluno for alimentada com afetividade, pois como assegura Cristofoleti e Stefani (2011), não há como desvincular as questões biológicas que constituem o sujeito e, na medida em que atribuímos grande importância ao contexto das relações sociais, podemos facilitar a mediação desse sujeito com o mundo em que ele está inserido. Para Ricotta (2006), o afeto se torna um sentimento que auxilia na compreensão e discernimento no que diz respeito aos valores adquiridos por esse sujeito na escola. Esse processo de aprendizagem envolto pela aquisição de conhecimento é demonstrado pelas competências e habilidades que o docente deve ter, pois ele é o principal mobilizador da curiosidade dos alunos e o principal interlocutor da construção desse conhecimento. Sendo assim, Zabala (1998) nos acrescenta que, [...] não basta que os alunos se encontrem frente a conteúdos para aprender; é necessário que diante destes possam atualizar seus esquemas de conhecimento, compará-los com o que é novo, identificar semelhanças e diferenças integrá-las em seus esquemas, comprovar que o resultado tem certa coerência [...]. (ZABALA, 1998, p. 37). Fundamentados em Ricotta (2006) destacamos o quanto é relevante na prática educativa escola e professor tomarem sempre como base a mesma filosofia, a aprendizagem do aluno, pois fazem com que o caminho para o afeto seja uma realização possível, tornando a escola um alicerce de relacionamento social. Dessa forma, os rumos da escola e do professor atuarão em alternativas conjuntas, visando sempre o mesmo objetivo. Sendo assim, a escola torna-se para o aluno um lugar de acolhimento e acompanhamento de seus anseios, dúvidas e incertezas, por todo o tempo que permanecer nesta instituição. (RICOTTA, 2006). A autora ressalta, também, o papel imprescindível da família como base fortalecedora desse afeto, quando diz que “[...] a família, por sua vez, determina a saúde emocional das pessoas, seja qualitativamente positiva ou negativa. É o grande primeiro grupo que fazemos parte”. (RICOTTA, 2006, p.24). Para ela, a junção escola, família e professor torna-se essencial para a construção do processo de aprendizagem do aluno, se nutridas a prática educativa de aquisição de valores 22 humanos, a apreensão do respeito e confiança e tendo a afetividade como uma aliada, todo o ensinamento terá mais sentido para o aluno. (RICOTTA, 2006). A partir destas considerações, no capítulo a seguir discorreremos sobre ações afetivas nas quais o professor pode delinear o seu processo de ensinar. 23 CAPÍTULO 3. AÇÕES AFETIVAS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA Neste capítulo descrevemos o valor do processo de aprender tendo o afeto como um dos fatores essenciais para que essa evolução do sujeito cognitivo aconteça. Podemos pontuar que não estamos aqui para descrever uma “receita mágica” de como dar aulas ou como amar seus alunos, mas sim ações que visam uma condição de aprendizagem mais significativa num ambiente democrático. Freire (1996) defende que: O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. (FREIRE, 1996, p.96). Assim, queremos provocar uma reflexão nos educadores que estarão cumprindo o papel de orientadores e realizando mais que o simples papel de ensinar. Ainda corroborando com o que o autor acima diz: Não existe construção do processo democrático na Escola se existe só a vontade e o envolvimento do educador, ou só da Escola, rechaçando e fechando as portas para a comunidade e os pais. A construção do processo democrático envolve a participação de todos. (FREIRE, 1992, p.153). Sendo assim, sabemos da real importância do comprometimento de todos, como assegura Veiga (1996, p. 107) “por exigir uma interação entre professores e alunos a dinâmica ensino-aprendizagem escolar envolve fatores afetivos e sociais”. Pode-se destacar aqui o que diz Almeida (1999, p.108), que “dependendo da idade, a criança precisa de uma nutrição afetiva mais racionalizada”. Isso nos dá a entender que para a criança, uma maneira de se demonstrar afeto por ela é mostrando o quanto o professor tem interesse por sua vida e relações sociais. Porém, torna-se importante que as mudanças aconteçam e a escola consiga exercer o seu papel, educando os sujeitos em questão, cumprindo assim o que há de mais importante na educação: formar seres que possam pensar a respeito de tudo o que os tornam seres reflexivos, frutos de uma relação com afetividade. É o que nos sinaliza Chalita (2001, p.264), quando diz que “a escola dos sonhos dos sonhadores, da poesia dos poetas, maternidade, da luta dos 24 lutadores começa com a crença de que, em se falando de vida - e como educação é vida -, a solução está no afeto”. A habilidade em desenvolver o afeto é um grande desafio para o professor de hoje, pois ele tem que passar para o aluno que o mesmo não será, por esse motivo, considerado um fraco perante os outros por manifestar esse afeto, muito pelo contrário, pois o educador que propicia o desenvolvimento e amadurecimento do afeto em seu interior, dá-lhe as armas certas para vencer. Freire (1996) dizia: O meu envolvimento com a prática educativa, sabidamente política, moral, gnosiológica, jamais deixou de ser feito com alegria, o que não significa dizer que tenha invariavelmente podido criá-la nos educandos. Mas, preocupado com ela, enquanto clima ou atmosfera do espaço pedagógico, nunca deixei de estar. (FREIRE, 1996, p.29). É de extrema relevância afirmar que a escola é um ambiente capaz de acrescentar muito à criança. Muitos aspectos positivos e negativos podem ser carregados por essas crianças ao longo do seu período escolar. Portanto, a fim de auxiliar num bom processo de formação intelectual, é importante oferecer um ambiente favorável para a sua formação. Assim, concordamos com Davis e Oliveira (1994) quando dizem que, Tanto a inteligência como a afetividade são mecanismos de adaptação. Permitem ao indivíduo construir noções sobre os objetos, as pessoas e as situações, conferindolhes atributos, qualidades e valores. Assim, contribuem para a construção do próprio sujeito, sua identidade e visão de mundo. (DAVIS, OLIVEIRA, 1994, p. 84). Para Pereira (2004) a criança, quando em contato com relações de afetividade, terá maiores chances de crescimento integral. É indispensável que o afeto entre as duas partes torne-se a evolução e liberdade de sonhar, pois é por esse caminho que temos a oportunidade de conhecer, entender e melhorar nossa realidade. Quando essa base se torna forte, apresenta maiores chances de produzir reações favoráveis entre grupos sociais. Sendo assim, Ariés (1981, p. 104) nos descreve que, “as crianças são plantas jovens que é preciso cultivar e regar com frequência: alguns conselhos dados na hora certa, algumas demonstrações de ternura e amizade feitas de tempos em tempos as comovem e as conquistam”. A imagem a seguir foi retirada do blog “Oficina de Papel Reciclado”, no qual o principal objetivo é resgatar pessoas que a sociedade ignora e que, através do contato não 25 somente corporal, mas sim de afetividade e interação entre os sujeitos, valoriza as palavras e as ideias. Figura 4. O Acolhimento. O professor em sala de aula deverá contribuir para desenvolver em seus alunos a autoestima, a estabilidade, a tranquilidade, a capacidade de saber perdoar, de fazer amigos e de socializar-se. Assim, Cury (2003, p.64) diz que, “um professor fascinante é mestre da sensibilidade. Ele sabe proteger a emoção nos focos da tensão. O que significa isso? Significa não deixar que a agressividade a as atitudes impensadas dos seus alunos roubem sua tranquilidade”. Entendemos que a afetividade é também concebida através da vivência, não se restringindo ao contato físico, mas à interação que se estabelece entre as partes envolvidas, na qual todos os atos comunicativos afetam de maneira favorável o processo de ensino e aprendizagem. Segundo Libâneo (1994), o ato de ensinar e aprender corresponde ao processo de transmissão e assimilação de conhecimentos, ou seja, o cognitivo dos sujeitos. O professor deve ter a consciência que seu trabalho docente nunca é unidirecional, pois os alunos demonstram através de suas respostas e opiniões, o que estão assimilando e, através dessas ações, o professor poderá diagnosticar se o aluno está aprendendo ou não e então fazer os “ajustes” necessários em sala de aula. O autor ainda destaca elementos essenciais que o professor deve se nortear para que o bom desempenho e aquisição do saber do aluno sejam concretizados, bem como a interação na sala de aula. Deve falar corretamente e ter simplicidade no tom da sua voz, saber e 26 reconhecer o cognoscitivo do seu aluno, delinear um bom plano de aula com objetivos claros, e sempre deixar explícito para os seus alunos o que se espera deles em relação a apreensão da matéria. (LIBÂNEO, 1994). O autor nos explícita que: Nesse sentido o professor precisa aprender a combinar severidade e respeito. [...] o processo de ensino consiste ao mesmo tempo da direção da aprendizagem e de orientação da atividade autônoma e independente dos alunos. Cabe ao professor controlar esse processo, estabelecer normas, deixando bem claro o que espera dos alunos. (LIBÂNEO, 1994, p. 251). Queremos aqui esclarecer a diferença entre autoridade e autoritarismo, fatores que muitas vezes fazem com que o afeto seja algo desconsiderado em sala de aula. Nos estudos realizados por Libâneo (1994), a autoridade vem ancorada em conhecimentos e saberes necessários à pratica educativa e na ideia de autonomia do aluno, ou seja, a responsabilidade e individualização que o aluno deve ter internalizadas, uma vez que essa autonomia implica numa das exigências da nossa sociedade. Já o autoritarismo sofre uma deformação, pois o professor autoritário é regado de superioridade e imposições que não contribuem para o aprendizado de seu aluno e muito menos usando de afetividade. Concordamos com os estudos de Pereira (2004): Nesse processo, identifiquei diferenças importantes entre uma ação autoritária e uma ação libertadora, nas quais a relação de autoridade e autoritarismo vão estabelecendo limites de maneiras divergentes. O primeiro converge para um fazer emancipatório, e o segundo ao contrário, promove um tornar-se parte do rebanho, tem um comportamento passivo sem opinião própria. (PEREIRA, 2004, p. 128). Mas o que poderíamos descrever então como ações afetivas? Neste estudo ou neste trabalho, delineamos diversos atos que podem ocorrer entre escola, família, professor e aluno, mas para tanto consideramos de suma importância pontuar os saberes necessários para que o ensino de boa qualidade possa acontecer, sabendo que o afeto pode tornar-se elemento indissociável para o ensino e aprendizagem. O professor deve: Conhecer e aceitar seu aluno como sujeito histórico-cultural; Entender e aceitar suas opiniões; bem como a aquisição da sua autonomia; Ter autoridade sempre amparada no conhecimento; Ter uma relação de cumplicidade com todos os envolvidos; Promover a democracia como condição de aprendizagem; 27 Reconhecer que o outro é importante nas relações sociais bem como afetivas; Manter o diálogo e o tom de voz agradável. Assim, Navarro e Silva (2012) salientam o papel do afeto na relação pedagógica, que se faz necessário por estar voltado a uma ideia de formação de seres construtores de conhecimento e formação social. De acordo com Cunha (1991, p.146) “[...] As virtudes e valores do professor que consegue estabelecer laços afetivos com seus alunos repetem-se e intrincam-se na forma como ele trata o conteúdo e nas habilidades de ensino que envolve”. Concordamos com Chalita (2001, p.12) quando diz que “[...] a educação não pode ser vista como um depósito de informações. Há muitas maneiras de transmitir o conhecimento, mas o ato de educar só pode ser feito com afeto, esta ação só pode se concretizar com amor”. A partir destas reflexões, podemos dizer então que a prática do professor vai mais além, podendo ser exemplo para seu aluno e sabendo lidar com suas emoções e seus anseios. Portando, cabe ao professor considerar esse campo de vivência escolar como uma base fortalecedora de respeito ao próximo, sabendo que, a partir dessa cumplicidade de afeto, bons resultados poderão ser conquistados por ambas as partes. 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS Algumas considerações podem ser feitas ao final desta monografia partindo do fato de que a afetividade pode ser sim, um fator facilitador da aprendizagem do aluno, pois é de extrema relevância o envolvimento dos sujeitos nessa relação professor-aluno. Descrevemos sobre a importância de falar em afeto nos dias atuais, por se tratar de um tema muitas vezes desconsiderado nas relações humanas entre os envolvidos. Nos estudos de Ariès (1981) vimos o quanto essa visão de conceito de infância, tendo o afeto como seu propulsor, era algo totalmente desconhecido, ocorrendo transformações apenas no final no século XVII. Amparamo-nos nas concepções de vários autores, dentre eles Henri Wallon, que estudou as condutas infantis numa visão que entrelaça afetividade, cognição, ato motor e formação social para a formação do sujeito. O psicólogo russo Vygotsky é um dos autores que mais se assemelha com Wallon quanto à necessidade de interação com o outro. Porém, o que os difere é que Wallon enfatiza mais a emoção, enquanto Vygotsky dá ênfase à linguagem. A afetividade deve estar presente nas ações do professor tendo como objetivo o ensino e a aprendizagem do aluno. Vimos, também, que a atividade pedagógica do professor e da escola deve estar pautada numa educação de qualidade e totalmente democrática, viabilizando, por muitas vezes, o vinculo afetivo. Para a construção de uma relação de afetividade e democracia, é necessário que haja oportunidade de interação entre as pessoas, respeitando a diversidade. A partir do reconhecimento dos direitos dos outros, os nossos também serão reconhecidos. Com este estudo não estamos idealizando uma metodologia específica, mas sugerindo que, nos dias atuais, a ideia de dissociar cognição e afeto deve ser descartada no campo da educação, promovendo a interação professor-aluno. Uma visão do professor mais humana vem a tona, quando ele consegue transformar a sala de aula em um ambiente mais afetivo, tendo como base a investigação e o conhecimento extraescolar que este aluno traz consigo. É possível, que partindo dessas ideias, consigamos delinear uma escola absolutamente comprometida com o processo de aprendizagem dos alunos, transformando-os em sujeitos conhecedores de seu papel na sociedade. 29 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Ana Rita Silva. A emoção na sala de aula. 6. ed. Campinas: Papirus, 1999. 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