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A LINGUAGEM CORPORAL COMO COMPONENTE NO CURRÍCULO
MULTICULTURAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA
SILVIA PAVESI SBORQUIA
A escola é uma das instituições responsáveis pela socialização do patrimônio
cultural, ou seja, responsável pela formação e mediação simbólica que se dá
nas interações humanas. A cultura é compreendida como conteúdo substancial
da educação, sua fonte e sua justificativa. Uma teoria cultural da educação vê a
educação, a pedagogia e o currículo como campos de luta e conflito
simbólicos, como arenas contestadas na busca da imposição de significados e
de hegemonia cultural. Emana deste entendimento a problemática sobre a
elaboração curricular: como não eleger uma lógica única da cultura corporal, ou
seja, como trabalhar a cultura corporal mediada pelas diferentes identidades
dos alunos? Tal problemática nos levou a identificar a linguagem corporal como
um componente a ser interpretado no currículo escolar. Assim sendo,
objetivamos estudar a linguagem corporal e sua relação com o currículo da
Educação Física. O motivo deste estudo é de considerarmos que as teorias
críticas da educação promovem a escola como local de encontro de culturas e
a Educação Física como espaço para o reconhecimento, ressignificação e
ampliação da cultura corporal. O encaminhamento metodológico baseou-se em
um estudo exploratório e as análises dos dados permitiram inferir que a
linguagem corporal constitui a lógica ou Semiótica, ou seja, as formações
simbólicas que cada pessoa constrói ao internalizar lentamente uma infinidade
de gestos com seus respectivos significados mediante um intenso diálogo com
o ambiente cultural. Esse fato é facilmente observado, por exemplo, quando
comparamos a “linguagem corporal” de dois grupos que apresentam a mesma
composição coreográfica. Apesar da dimensão gramatical desse texto, isto é, a
coreografia ser a mesma, sua dimensão conotativa, isto é, subjetiva, poderá
ser bem diferente. A formação simbólica é a capacidade humana de
transformar a realidade atribuindo sentidos/significados que só o ser humano é
capaz de perceber. No entanto, a cultura não é apenas universo simbólico, mas
é também mediação. Nessa perspectiva as manifestações corporais são
entendidas como formas de comunicação com o mundo, constituintes e
construtoras de cultura, mas, também, por ela possibilitadas. É uma linguagem,
com especificidade própria, mas enquanto cultura habita o mundo do simbólico,
isto é, humano. Pois, o que qualifica o movimento enquanto humano é o
sentido/significado do mover-se, sentido/significado mediado simbolicamente e
que o coloca no plano da cultura. A análise cultural entendida como o estudo
de formas simbólicas mediadas pelas relações humanas deverá, portanto,
considerar o contexto em que essas formas simbólicas são produzidas,
transmitidas e recebidas. As teorias críticas da Educação nos oferecem os
recursos para se pensar em ações pedagógicas que se proponham a trabalhar
a partir das práticas sociais dos grupos que chegam à escola, para pela
mediação, socialização e ampliação de saberes, proporcionar-lhes uma melhor
compreensão das teias que envolvem os produtos sociais, suas condições e
modos de produção, fato este, necessário à emancipação e transformação
social. Uma vez que a cultura corporal de movimento agregou temas gerais a
serem trabalhados na escola, seus currículos poderiam, inicialmente,
comprometer-se com a linguagem corporal advinda das crianças e jovens,
buscando entendê-las, explicá-las e ampliá-las.
Palavras chaves: Educação Física; currículo; linguagem corporal
Área: Fundamentos teóricos –metodológicos e de avaliação no processo ensino-aprendizagem
da Educação Física.
Doutoranda da Universidade Estadual de Campinas
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