DESAFIOS E CONTRADIÇÕES COMUNICACIONAIS NOS CONSELHOS DE SAÚDE VALDIR DE CASTRO OLIVEIRA I – Resumo Este trabalho discute o papel da comunicação nos conselhos municipais da saúde com base na hipótese que as profundas desigualdades materiais e simbólicas da sociedade ali se reproduzem reiterando a verticalidade do poder e dificultando a comunicação entre os seus membros e, por conseqüência, II – Pressuposto A comunicação e a informação são responsáveis por dar visibilidade à práxis dos atores sociais e, simultaneamente, produzir o compartilhamento de sentidos fazendo com que tudo o que vem a público possa ser visto, ouvido, debatido e comentado por todos (Arendt, 1993). Conferências de saúde vem apontando, de forma crescente, a necessidade da comunicação e da informação no exercício do controle público. III - PRINCÍPIOS DO CONTROLE PÚBLICO Possibilidade do cidadão cobrar das instituições, organizações empresariais, autoridades, lideranças políticas ou de outro conjunto de cidadãos comportamentos geradores de transparência e de adequação de seus atos às expectativas de interesse individual ou público. Exemplos: 1. Código do Consumidor; 2. Ministério Público; 3. Mídia; 4. Movimentos Sociais; 5. A figura do Ombudsman em empresas e jornais; 6. Conselhos de Saúde, etc. IV - QUESTÃO CENTRAL Se existem assimetrias sociais e simbólicas nos conselhos, elas pressupõem diferenças formas de poder, influenciando tanto os processos comunicacionais (interação) quanto a interpretação das informações, o que pode comprometer o exercício do controle público. V - O QUE ENTENDEMOS POR COMUNICAÇÃO? Embora possamos definir a comunicação de várias formas, a prática dos conselhos (formação de consensos, de entendimentos, visibilidade, ética pública e aprendizagem cidadã) requere a comunicação dialógica (Paulo Freire, Pierre Bordieau, Pedro Demo, Hanna Arendt, Habermas) que se relaciona com as práticas discursivas dos sujeitos sociais. A caracterização da comunicação e da informação (verticalidade, horizontalidade, aclamativa, dialógica) é que definirá os limites e os alcance da prática dos conselhos de saúde. Mas não se trata de simples adequação pedagógica das mensagens a um determinado repertório, mas de refletir de que maneira a ordem do poder que se estabelece na dinâmica dos conselhos reitera e mantém as assimetrias sociais e simbólicas. VI - Variáveis que dificultam o funcionamento dos conselhos em relação ao controle público 1. Divergências culturais e políticas quanto à idéia de controle público; 2 . A obsessão fiscalizatória sobre o varejo da saúde; 3. Distanciamento dos conselheirosusuários das comunidades; 4. Fraca alternância de lideranças populares no cargo de conselheiro (por falta de candidatos ou por apego ao cargo); 5. Investimento acanhado nos canais de comunicação e informação; 6. Interpretação instrumental da comunicação e da informação; 7. Dependência administrativa e financeira dos conselhos às secretarias de saúde; 8. Pouco debate ou negligência com a política de saúde e sobre o cumprimento das proposições dos planos de saúde; 9. Fragilidade operacional na tomada de decisões (Nem sempre são cumpridas, principalmente se não for do interesse do gestor; 10. A predominância discursiva do gestor sobre os outros segmentos no exercício do controle público; 11. Fraca expectativa quanto à ética e a coisa pública. VII - Desafios 1. Evitar o simulacro da participação; 2. Investir na capacitação dos três segmentos dos conselhos na perspectiva da ética pública; 3. Contribuir para fazer com que os conselhos sejam espaço de formação de consensos sociais democráticos e caixa de 4. Evitar a domesticação dos conselheiros frente à verticalidade do poder; 5. amenizar as assimetrias cognitivas e simbólicas e investir na ação dialógica; 6. Formar conselheiros para práticas discursivas mais efetivas no exercício do controle público.