Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas Logística Empresarial Prof. Carlos M. Taboada Rodrigues, Dr. Estrutura organizacional da logística nas empresas Isac Paulo Teixeira Júnior 1. Introdução A logística, durante muito tempo foi considerada apenas um conjunto de atividades meramente operacionais, responsáveis por viabilizar o fluxo de matérias-primas até seus clientes finais. Com o passar do tempo, fatores como a globalização, o aumento da concorrência e o desenvolvimento da tecnologia da informação, fizeram com que as operações logísticas se tornassem fundamentais para a competitividade das organizações no ambiente empresarial. É importante salientar que, dada à competição nos mercados globais, é comum que clientes se encontrem geograficamente distantes das unidades produtoras, demandando nesses mercados altamente competitivos, produtos de qualidade e baixo custo, agregados a operações logísticas eficientes (STOCK, KASARDA, 1998). De acordo com Bowersox, Closs e Cooper (2009), a chave para alcançar a liderança logística é conhecer a fundo a arte de combinar a competência operacional e o compromisso com o atendimento às expectativas e solicitações fundamentais dos clientes. Este artigo inicia com uma revisão dos principais conceitos relacionados à logística, sintetizando seus objetivos e assuntos relacionados. A seguir, é apresentado os principais estudos que dizem respeito às estruturas organizacionais das empresas, alinhando os conceitos abordados com a logística empresarial. Neste contexto, serão apresentadas as formas de configuração estrutural, as dimensões dessas estruturas e os conceitos de logística integrada interna e externa. Em seguida, serão apresentadas as dimensões organizacionais derivadas do relacionamento das empresas envolvidas na cadeia de suprimento e o cenário da logística e da cadeia de suprimento no país e no exterior. Por fim, as considerações finais e algumas sugestões de oportunidades de pesquisa. 2. Conceituação da logística A logística, antes de se tornar um fator de competitividade para as empresas, foi utilizada desde os tempos antigos para, assim como nos dias de hoje, prover o fluxo eficiente de materiais e de informação. Christopher (2009) relata que desde a construção das pirâmides, os princípios dessa atividade pouco mudaram e guerras têm sido definidas pelas capacidades ou incapacidades de prover o fluxo de armamentos e outros materiais de forma eficiente. Como exemplo, o autor cita a derrota dos britânicos na guerra de Independência dos Estados Unidos. Segundo ele, em sua maioria, a derrota pode ser atribuída às falhas de logística. Para inicio da concepção do tema abordado nesta pesquisa, é oportuno evidenciar alguns conceitos do gerenciamento logístico nas empresas. “A Logística é o processo de gerenciamento estratégico da compra, do transporte e da armazenagem de matérias-primas, partes e produtos acabados (além dos fluxos de informações relacionados) por parte da organização e de seus canais de marketing, de tal modo que a lucratividade atual e futura sejam maximinizadas mediante a entrega de encomendas com o menor custo associado” (CHRISTOPHER, 2007 p.4). Fluxo de Materiais Fornecedores Compra de material Operações Distribuição Clientes Fluxo de Informações Figura 1. Processo de gerenciamento logístico Fonte: Christopher (2009) Para Ballou (2006), a logística trata da criação de valor para todos aqueles que têm interesses diretos nessa atividade. Produtos e serviços não têm valor a menos que estejam em poder dos clientes quando e onde eles pretenderem consumi-los. É interessante ressaltar, que somente se agrega valor quando os clientes estão dispostos a pagar pelo produto ou serviço, mais que o custo de colocá-lo a disposição para o consumo. Segundo Bowersox, Closs e Cooper (2009), a logística deve ser administrada como um esforço integrado para atingir a satisfação do cliente pelo menor custo total. As operações, quando geridas dessa forma, dão inicio ao processo de criação de valor. Entende-se como custo, segundo Alvarenga e Novaes (1994, p.5) “a constituição da soma dos insumos (mão-de-obra, energia, materiais diversos, equipamentos, instalações fixas, etc.) necessários para realizar um determinado serviço ou operação, avaliados monetariamente”. A busca pela diminuição dos custos não pode afetar o nível de qualidade de serviços exigidos pelos clientes. Segundo Christopher (2009), “o propósito da gestão da cadeia de suprimentos e da logística é oferecer aos clientes o nível de qualidade de serviço que eles exigem, e fazê-lo com menos custo em toda a cadeia”. A estratégia logística tem como finalidade alcançar a melhor equação entre custos e a excelência do serviço prestado. Na definição anterior, também se citou a cadeia de suprimentos para conceituar os propósitos da atividade logística nas empresas. A cadeia de suprimentos, ou supply chain em inglês, envolve um escopo de atividades que ultrapassam os limites da logística nas corporações. Para Christopher (2009), a logística é caracterizada como a orientação e a estrutura de planejamento que cria, em um plano único, o fluxo de produtos e de informação ao longo de um negócio. O gerenciamento da cadeia de suprimentos, por sua vez, encontra-se apoiado nesta estrutura, criando vínculos e coordenação entre os processos de outras organizações existentes no mesmo canal. A evolução da gestão da cadeia de suprimentos sugere que as estruturas organizacionais das empresas devam ultrapassar os limites da própria companhia (departamentos, áreas, etc.), ampliando tal estrutura para a cadeia de suprimentos do negócio em que atua (CHOW, HEAVER, HENRIKSSON, 1998). Nesta próxima etapa, serão apresentados os principais conceitos das estruturas organizacionais das empresas e da logística. 3. Conceituação da estrutura organizacional da logística “A arquitetura organizacional surgiu como uma abordagem que prima pelo aperfeiçoamento do formato empresarial, procurando aperfeiçoar fatores considerados chaves como: o próprio negócio da administração, as pessoas que o executam e as regras que o regem. Esta abordagem [...] visa a construção de projetos empresariais complexos, capazes de responder ao quadro de acirrada competitividade global.” (ARAÚJO, 2001). Há autores que comparam a arquitetura de uma empresa ao próprio corpo humano, referindo-se a estrutura óssea como a própria estrutura organizacional das empresas. Segundo Farah e Cavalcanti (1992), O corpo é formado por partes, tais como a cabeça, pescoço, tronco e membros. Se tirado um raio x deste, nos deparamos com uma estrutura óssea que sustenta esse corpo, sem o que, o mesmo se transformaria num amontoado de músculos, nervos, órgãos, etc. Neste contexto, as empresas assim como o próprio corpo humano, dependem de uma estrutura que as suporte, caso contrário, serão apenas processos, partes, departamentos ou áreas que não tem ligação nenhuma, e assim, comprometendo a eficiência do atendimento de seus objetivos fundamentais. Entende-se organização como um conjunto de formas sistemáticas de cooperação humana para a produção e o intercâmbio de bens econômicos. A palavra estrutura, por sua vez, é definida isoladamente como a organização das partes ou dos elementos que formam um todo. Deste modo, estrutura organizacional pode ser interpretada como a forma que as empresas se articulam (organizam) para desenvolver as atividades da empresa. Para Stock e Kasarda (1998) são diversas as formas de classificação e definição das estruturas organizacionais na literatura, e dentre elas, destaca-se a forma como as atividades são divididas através das unidades organizacionais e a maneira como as tomadas de decisão são realizadas. Os autores acrescentam ainda que, tradicionalmente, as estruturas eram voltadas somente para as atividades internas da empresa, e hoje, segundo suas próprias interpretações, essas estruturas se encontram voltadas para toda a cadeia de suprimento. Presidente Finanças Operações Logística Marketing C Figura 2. Estrutura organizacional genérica Fonte: Adaptado de BALLOU (2006) A escolha de uma estrutura organizacional para dado empreendimento deve levar em consideração os diversos fatores ambientais e estratégicos que envolvem a operação da empresa. Para uma organização empresarial em seus estágios iniciais de vida, com poucos recursos e produção de um ou poucos produtos, é comum a escolha de uma estrutura funcional clássica. Alterando-se as características de homogeneidade dos produtos, clientes, área de atuação, recursos e estratégias, altera-se também o tipo de estrutura apropriado ao empreendimento (FARAH e CACALVANCTI, 1992). A partir deste argumento, faz-se necessário o entendimento da teoria de Contingência e sua contribuição para o estudo das estruturas funcionais das empresas. Segundo ela, não há nada de absoluto nas organizações. Tudo depende das variáveis do ambiente. Neste contexto, pode-se concluir que a definição de uma estrutura funcional adequada depende da percepção da empresa acerca do ambiente onde está situado e suas estratégias. Variáveis Contingenciais Estratégia Estrutura Integração Desempenho Figura 3. Conceito de estruturas organizacionais Fonte: CHOW, HEAVER e HENRIKSSON (1998) Na figura 3, nota-se que as variáveis ambientais ou contingenciais estão ligadas diretamente as etapas de estratégia e estrutura da empresa. Estas variáveis influenciam a forma de posicionamento no mercado e o modo de como ela vai se estruturar para atingir os objetivos traçados pela estratégia. Para Casarotto (2009 apud Aacker), há cinco dimensões que compõem o meio ambiente: tecnológica, governamental, econômica, cultural, demográfica e ecológica. Ballou (2006) cita que no caso da logística, o tipo do produto fabricado pode exercer influência direta na forma que o mesmo é entregue aos clientes finais, acrescentando ainda que esta organização precisará estar estruturada de modo adequado para ter a competência de oferecer o serviço logístico apropriado aos seus consumidores. As operações logísticas evoluíram muito nos últimos anos, e esta evolução proporcionou mudanças na maneira como as organizações se estruturam para desenvolver estas operações. Para Ballou (2006 apud BOWERSOX, DAUGHERTY, 1987), a história desta evolução pode ser dividida em três estágios: Estágio 1: Iniciou no começo da década de 1970 e representou a idéia de aglomerar as atividades que eram importantes, para concretizar as compensações de custos inerentes a gerência logística. As estruturas organizacionais deste estágio ainda não tinham a eficiência necessária para a coordenação das atividades logísticas. Estágio 2: Dirigida para estruturas formais, na qual um tomador de decisão era o responsável por todas as atividades logísticas relevantes. Através disso, proporcionouse o controle direto sobre a coordenação das atividades de logística. Estágio 3: Estruturas organizacionais iniciaram um processo de integração com as atividades logísticas, abrangendo o abastecimento e a distribuição física. Dava-se inicio a integração plena das atividades logísticas. Antes de entrar no âmbito das dimensões da estrutura organizacional, é relevante conceituar as três opções organizacionais difundidas. A primeira delas, chamada de organização informal, é utilizada quando há a coordenação das atividades por meio de coerção ou persuasão sem que a estrutura organizacional tenha de ser modificada. A segunda, chamada de estrutura semi formal ou organização matricial, tem geralmente o seu planejamento logístico e operacional cruzado com várias funções dentro da estrutura organizacional da empresa. Por fim, a terceira e última, a estrutura formal estabelece linhas transparentes e definidas de autoridade e responsabilidade para a logística (BALLOU, 2006). Depois de sintetizado o conceito das opções de organização formal, semi formal e informal, será abordado a seguir as três dimensões da estrutura organizacional. 4. Dimensões da estrutura organizacional A pesquisa dessas estruturas, à caráter logístico, é derivada dos estudos clássicos das estruturas organizacionais das empresas e seguem os mesmos parâmetros utilizados na concepção do modelo clássico de estruturas funcionais sugeridos pelas ciências organizacionais. “Uma maneira usual de representação e análise da estrutura organizacional é mediante considerações sobre o grau de centralização e descentralização. Outra linha de pesquisa, também bastante difundida, trata de dividir as organizações em configurações básicas (estrutura simples, burocracia mecanizada, burocracia profissional, forma divisionalizada e adhocracia) e diante dessas estruturas, analisar aspectos referentes à centralização, mecanismos de coordenação, formalização, especialização, padronização, entre outros.” (MINTZNERG, 1995 apud OLIVEIRA, MORAES, 2006). Sob a ótica do estudo da estrutura organizacional tradicional, é apresentadas a seguir, as três dimensões que envolvem esta linha de pesquisa. a) Centralização É determinado pelo nível de centralização da autoridade para a tomada de decisão nas empresas. Uma organização na qual somente um indivíduo toma as decisões formais tem a configuração mais centralizada possível (CHOW, HEAVER, HENRIKSON, 1995). À medida que o processo de tomada de decisão é diluído, e um número maior de indivíduos, departamentos ou áreas se tornam responsáveis por estas decisões, inicia-se um processo de descentralização. O posicionamento adotado pelas empresas influência diretamente o comportamento dos processos decisórios da organização. Empresas caracterizadas por um alto grau de centralização, encontram maior facilidade para a integração das diversas atividades organizacionais em prol de um objetivo comum. Deste modo, quando o poder decisório se encontra pouco diluído, a coordenação da empresa é simplificada, podendo assim, melhorar a eficiência do atendimento dos objetivos e, consequentemente, melhorar o desempenho. (STANK, DAUGHERTY, GUSTIN, 1994) Eficiência + + Centralização - Desempenho Interação / Fluxo de Informação - Figura 4. Influência da centralização no desempenho das organizações Fonte: STANK, DAUGHERTY, GUSTIN (1994) Conforme nota-se na figura 4, apesar da centralização auxiliar o aumento da eficiência quando o assunto é o atendimento de objetivos comuns, ela acaba por ficar restrita a um canal de comunicação mais lento. Caso alguma mudança tenha que ser feita de maneira mais rápida, é possível que falte agilidade para que a decisão seja tomada de imediato. Chow, Heaver e Henriksson (1998) sugerem que esta dimensão seja dividida em duas outras sub-dimensões, São elas: Concentração: O grau pelo qual o poder de tomada de decisões está concentrada na empresa e; Distância hierárquica entre os responsáveis pela decisão sobre as atividades logísticas e executivas responsáveis pelas decisões de caráter global. Com essas subdivisões é possível explorar o grau de centralização mesmo em níveis hierárquicos mais baixos. Deste modo, é evidenciada a possibilidade do estudo em áreas e divisões específicas além da alta administração. Em contraste com as empresas centralizadas, encontram-se as organizações cuja suas estruturas apresentam graus elevados de descentralização. Empresas com estas características diluem a autonomia dos processos decisórios a níveis hierárquicos menores, apresentando algumas características diferentes das relatadas anteriormente. Conforme relatam STANK, DAUGHERTY, GUSTIN (1994) “A descentralização aloca o processo decisório em componentes mais gerenciáveis, permitindo um melhor planejamento e abordagens mais analíticas. É característica deste tipo de posicionamento, o aumento da flexibilidade, da capacidade de resposta [...] e a melhoria da interação entre os funcionários. Flexibilidade + Poder de resposta Descentralização + + Desempenho Fragmentação - Ineficiência Figura 5. Influência da descentralização no desempenho das organizações Fonte: STANK, DAUGHERTY, GUSTIN (1994) b) Padronização O conceito original desta dimensão é de origem inglesa e, ao adaptá-lo para o idioma português, surgiram duas formas de denominação. A denominação original, em inglês, é “Formalization”. No Brasil, é comum que pesquisas refiram-se a dimensão de padronização e formalização. Neste trabalho, esta dimensão será tratada como o grau de padronização das atividades da organização, porém ressalto que é comum estudos se utilizarem igualmente do outro tipo de denominação. De acordo com Chow, Heaver e Henriksson (1998), “o grau de padronização se refere à medida que as decisões da empresa são governadas por regras, procedimentos, políticas e contratos formais”. c) Integração Assim como no caso anterior, há autores que utilizam outras denominações a fim de designar esta mesma dimensão. Neste caso, optei por utilizar a palavra “integração” motivado por entender que este termo é bastante relevante para o estudo da logística. Outro fato que corrobora para a utilização deste termo é o assunto “logística integrada”, assunto este, que será tratado a seguir. Entende-se por integração como a condição de constituir um todo pela adição ou combinação de partes e elementos, ou ainda, o processo pelo qual indivíduos de ordem inferior se unem para formar outros de ordem mais elevada com o resultado de uma maior complexidade de estrutura ou constituição. No âmbito da ciência que trata das organizações, não há um único modo para conceituar a integração. Alguns autores sugerem que este deva ser tratado apenas como um fenômeno estrutural, enquanto outros preferem crer que a integração vai além e se caracterize por um produto da adequada estruturação organizacional. Conforme relata o autor, “integração é o ato de estabelecer e organizar o relacionamento entre as diversas entidades do sistema, com o propósito de unificá-las formando uma única” (PARSONS, 1960 apud CHOW, HEAVER, HENRIKSSON, 1998). Por outro lado, há autores que definem integração como: “A qualidade do processo de colaboração que existe entre as entidades existentes, necessárias para a consolidação de um objetivo comum” (LAWRENCE, LORSCH, 1993 apud CHOW, HEAVER, HENRIKSSON, 1998). 5. Logística Integrada Para Stock, Greis e Kasarda (2000) as atividades logísticas foram, no passado, comumente divididas entre as diversas áreas funcionais da empresa. Com o passar do tempo, percebeu-se que as atividades logísticas precisavam estar relacionadas com o processo de negócio e não simplesmente através de uma estrutura hierárquica e funcional estabelecida e divida entre os setores da organização. É interessante salientar que, a logística integrada aqui abordada não está atrelada somente ao conceito de governança da cadeia de suprimento. As práticas logísticas aqui tratadas, também se referem às atividades operacionais que coordenam o fluxo de materiais de fornecedores para consumidores através do fluxo de valor. A logística integrada pode ser dividida em duas dimensões: a integração interna e a integração externa. Segundo Stock e Kasarda (1998, p. 46), “entende-se por integração interna como o modo que a logística interage com as diferentes áreas funcionais e também pela medida que a logística é, ou não, uma unidade funcional separada da organização”. Para estabelecer a integração interna das atividades logísticas, faz-se necessário que estas estejam coordenadas com as outras atividades funcionais da empresa. Para esta coordenação, é importante que o fluxo de informação, tanto eletrônico quanto interpessoal, entre logística e demais departamentos, seja operado de forma eficiente de maneira a extinguir a diferença formal entre a logística e outras áreas da empresa (STOCK, GREIS, KASARDA, 2000). A Integração externa, agora no âmbito da cadeia de suprimentos, é definida pela interação das atividades da empresa com as diversas empresas que constituem o negócio como um todo. Esta integração entende que a organização busca um amplo relacionamento com as empresas que compõe a cadeia de suprimentos, formando a partir deste relacionamento, uma única unidade competitiva (STOCK, GREIS, KASARDA, 2000). Este relacionamento está baseado em uma ampla comunicação com clientes e fornecedores, coordenação entre as atividades da cadeia, e uma maior proximidade organizacional entre as partes. 6. Dimensões derivadas dos inter-relacionamentos empresariais As três dimensões clássicas apresentadas anteriormente derivaram do estudo das estruturas organizacionais sob a ótica da ciência organizacional e foram adaptados, quando possível, para o âmbito da logística. Quando o assunto se entende para a cadeia de suprimentos, há estudos que indicam a existência de cinco novas dimensões que envolvem a estrutura organizacional sob a ótica da cadeia como um todo. São elas: a) Formalização: Similar a abordada na dimensão clássica. Caracteriza-se pelo grau com que a empresa é governadas por regras, procedimentos, políticas e contratos formais. b) Intensidade: Nível de recursos e investimentos empregados no relacionamento das empresas. Quanto maior os recursos destinados para este relacionamento, maior o grau de intensidade entre as partes da cadeia. c) Freqüência: Quantidade de interações e contatos entre as organizações. d) Padronização: Também similar a uma das dimensões clássica abordadas anteriormente. Diz respeito ao grau de similaridade dos recursos existentes entre as organizações. e) Reciprocidade: Grau de simetria no relacionamento. Esta dimensão está amplamente relacionada ao equilíbrio de poder ou à medida que uma das empresas domina o relacionamento. Como exemplo, pode-se citar um cliente cuja participação no negócio do fornecedor é pequena comparada a outros. (CHOW, HEAVER, HENRIKSSON, 1998) 7. Cenário da logística e cadeia de suprimento nas estruturas organizacionais do Brasil e do mundo Com a abertura da economia e a globalização, as empresas brasileiras continuam empregando esforços no sentido de ganhar maior competitividade, esforços estes, que também envolvem o domínio da logística. No entanto, de maneira geral, no que diz respeito à evolução dos processos logísticos, há muito potencial de desenvolvimento pela frente. É comum ainda que empresas continuem trabalhando através do fluxo logístico por estoques e tendo seus diversos setores atuando de forma isolada. Há também empresas que já apresentam uma primeira evolução, buscando melhor articulação com seus fornecedores, e adotando um planejamento mais integrado de suas operações. Em relação a estágios mais avançados, onde haja uma integração estratégica otimizada entre os participantes da cadeia de suprimento, são poucas as empresas que conseguem adotar tal nível de evolução. A estrutura organizacional das empresas é uma das limitantes da evolução da logística no Brasil. A clássica divisão da empresa em setores girando em torno de atividades afins (finanças, manufatura, vendas, marketing, transporte, armazenagem) não permite o tratamento sistêmico e por processo das operações logísticas. No entanto, mesmo nos Estados Unidos, onde a logística é mais desenvolvida e essa evolução iniciou a mais tempo, há também muitas empresas operando em níveis logísticos inferiores, sendo poucas as que conseguiram se desenvolver para a atuar de forma totalmente integrada (NOVAES, 2007). A seguir, serão apresentadas as principais configurações de estruturas organizacionais utilizadas pelas empresas, evidenciando o posicionamento do departamento de logística na estrutura, as orientações teóricas relacionadas e algumas empresas que utilizam as configurações descritas. TIPO A TIPO B TIPO C Coordenação e Conexão TIPO D TIPO E Coordenação e Conexão Área de Logística/Cadeia de Suprimento Demais áreas funcionais Figura 6. Tipos de organização da Logística/Cadeia de Suprimento Adaptado de KIM (2006) Configuração de organização Condição da área de CS na EA Orientações teóricas TIPO A O departamento de CS não existe ou está diluído em outros. Lambert and Stock (1993) Bowersox and Daugherty (1995) Bowersox et al. (2002) Monezka et al. (2002) Head (2005) Jabnoun and Sahraoui (2004) - US Steel Corp -TRW Inc. -Continental General Tire TIPO B O departamento de CS funciona como uma área funcional comum. Lambert and Stock (1993) Bowersox and Daugherty (1995) Johannssen and Solem (2002) -LG -Cisco -Honeywell TIPO C O departamento de CS funciona como uma área funcional, estrutura matricial. Pritsker (1997) Johnson (1997); Huang and Lin (2002) Monezka et al. (2002) Johannessen and Solem (2002) Bowersox et al. (2002) TIPO D TIPO E O departamento de CS está localizado acima das demais áreas formais, estrutura matricial. As demais áreas são subordinadas ao departamento de CS. Benita et al. (1992) Lambert and Stock (1993) Bowersox and Daugherty (1995) Johannessen and Solem (2002) Monezka et al. (2002) Monezka et al. (2002) Johannessen and Solem (2002) Jabnoun and Sahraoui (2004) Head (2005) CS: Cadeia de Suprimento; EA: Estrutura Organizacional Tabela 1. Características das estruturas organizacionais Adaptado de KIM (2006) Empresas que adotam essa configuração de EA -Texas Instrument -Shell -Sony -HP -Toyota -Nike -BMW -Dell Computer -Samsung -Whirlpool -Johnson & Johnson 8. Conclusão Em decorrência da acirrada competitividade nos mercados globais, empresas buscam na excelência operacional os diferenciais que as destaquem perante a concorrência. A logística durante muito tempo foi vista de forma displicente, tratava-se apenas como um conjunto de atividades meramente operacionais que visavam prover o fluxo de materiais e informação de fornecedores até clientes finais. As áreas de finanças, marketing, engenharia e produção tinham maior visibilidade por serem julgadas mais estratégicas para a empresa. À medida que o tempo passava, estudos indicavam a operação logística como um fator de estratégia e as empresas necessitaram mudar seus conceitos. Hoje, entende-se que empresas que almejam se destacar no mercado devem coordenar as atividades logísticas de maneira eficiente e, para que isto ocorra, todas as outras áreas da organização devem estar integradas neste sentido. A proposta de integração, proporcionou visibilidade da logística nas estruturas organizacionais das empresas, partindo de atividades de pouca expressividade a posições de destaque nas estruturas hierárquicas das organizações. Diante do exposto, pode se afirmar que a estrutura organizacional da logística nas empresas é um fator estratégico e que sua adequada configuração é peça fundamental para facilitar a implantação de um gerenciamento logístico eficiente e consequentemente, obter os resultados esperados. 8.1 Oportunidades de pesquisa Apesar do aumento do número de pesquisas voltadas para o estudo das estruturas organizacionais da logística nas empresas, ainda são muitas as oportunidades para o desenvolvimento científico. Dentre elas, destacam: A realização de pesquisas abrangendo a indústria brasileira, analisando as configurações estruturais adotadas pelas empresas e, avaliando a partir delas, o desempenho logístico das operações de cada tipo de configuração; O estudo do desenvolvimento e da maturidade tecnológica das operações logísticas nas indústrias brasileiras, relacionados à estrutura organizacional. 9. Referências Bibliográficas ARAÚJO, Luis César G. 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