Ser feliz e aprender

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24/04/2017
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O Globo [email protected] ANTÔNIO GOIS
Ser feliz e aprender
É possível combinar bem­estar de alunos e boas notas. Relatório do Pisa mostra que
pais e professores podem contribuir para isso
Oque é mais valioso: ter a certeza de que o filho está feliz, ou saber que ele está com boas notas na escola?
Certamente haverá quem, diante dessa questão, priorize um ou outro aspecto. Mas provavelmente a maioria dos
pais de adolescentes antes de tudo questionarão a própria pergunta. Afinal, ser feliz e ter bom desempenho
escolar não devem ser excludentes. E esta foi uma das principais conclusões de um relatório divulgado na
semana passada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
O fato de a OCDE produzir esse tipo de estudo já é digno de nota, pois a entidade organiza o Pisa, exame
internacional que avalia aprendizado de alunos de 15 anos em mais de 70 países. A prova é questionada por uma
parcela expressiva de educadores por produzir rankings de sistemas educacionais, dando, segundo os críticos,
demasiada ênfase a resultados de testes padronizados. No relatório divulgado semana passada, o foco, porém,
não era o desempenho, mas sim o bem­estar dos jovens.
Ao correlacionar resultados de aprendizagem com o nível de satisfação dos estudantes com suas vidas, a
OCDE identificou que há de fato países em que felicidade não combina com bom desempenho escolar. Os casos
mais emblemáticos são de nações asiáticas, como Coreia do Sul, Japão e China. Há um conjunto de países em
que acontece o oposto: baixo desempenho e maior felicidade. O Brasil está nesse grupo, composto principalmente
por latino­americanos, ao lado de México, Colômbia, República Dominicana e Peru. Para a entidade, o ideal a
perseguir neste contexto está em sistemas educacionais de nações europeias, como Finlândia, Holanda, Suíça e
Estônia, onde há altos níveis de aprendizagem e de felicidade.
Apesar de se sentirem relativamente felizes, os jovens brasileiros aparecem na pesquisa com um dado
preocupante: são dos que, na comparação internacional, mais relataram altos níveis de ansiedade com provas,
mesmo quando se sentiam preparados para elas.
O relatório indica que há atitudes de pais e educadores que podem influenciar positivamente tanto no bem­
estar dos adolescentes e em seu aprendizado. Alunos que reportaram conversar mais com seus pais e ter mais
tempo de convívio entre eles (e menos isolados na internet) têm níveis de felicidade maiores. No caso da escola, a
ansiedade gerada com os testes diminui quando estudantes reportam que seus professores adaptam as aulas
para as necessidades suas e dos colegas e conseguem dar ajuda individual quando há alguma dificuldade de
aprendizado. O estresse aumenta consideravelmente, porém, quando alunos dizem sentir que os professores
acham eles menos inteligentes, ou quando acreditam que são mais rigorosos na avaliação deles na comparação
com outros colegas.
O fato de alunos brasileiros reportarem alto nível de estresse com provas somado às evidências sobre atitudes
de pais e educadores que podem contribuir com isso merece reflexão. Talvez sejam indicativos de que ainda
trabalhamos por aqui com a ideia de que as provas servem mais para separar os que merecem ser aprovados dos
que serão castigados com uma reprovação, em vez de encarálas principalmente como instrumentos de
diagnóstico que permitem identificar lacunas no aprendizado a serem trabalhadas com cada aluno, em seu
benefício.l
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