ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac ANÁLISE DE CONCEITOS PSICANALÍTICOS A PARTIR DE UM CASO CLÍNICO Naiara Vidotto da Rosa Berwig RESUMO Este trabalho apresenta uma correlação da importância da teoria psicanalítica com a sua prática, por meio de um caso clínico descrito descri na literatura. Para ra este fim, o texto foi baseado em pesquisas bibliográficas sobre a teoria da Psicanálise, mais especificamente: a resistência, a perversão sexual, a busca por prazer, elaboração e o insight. Os resultados revelaram a importância da teoria psicanalítica quando quando colocada em prática na ação do terapeuta. Palavras-Chave: Teorias da psicanálise; p prática; insight. INTRODUÇÃO A Psicanálise desde seu primórdio procurou entender os conflitos existentes no psiquismo humano. Por meio da livre associação de idéias, onde os pacientes eram obrigados a associarem “livremente” estímulos a recordação de traumas que teriam vivenciado, mas que por algum motivo estariam esquecidos, Sigmund Freud chegou a conclusão de que o conflito psíquico era resultante da luta entre as forças forças instintivas e as repressoras. E os sintomas trazidos pelo paciente seriam uma representação simbólica deste conflito inconsciente. A partir parti desse momento a psicanálise pôde de ser considerada como uma nova ciência, com referencias teóricoteórico técnicos próprios, ios, específicos e consistentes (ZIMERMAN, 1999, 1999 p. 23). Freud criou diversas teorias surgidas de suas vivências com seus pacientes pac e conforme Zimerman (1999) (1999) essas teorias, mesmo com avanços, recuos e constantes cons transformações foram essenciais esse alicerces para ara a teoria, técnica, ética e a prática da clínica da psicanálise. Os analistas atuais compreendem que um processo analítico repousa, sobretudo, na dinâmica que existe no campo analítico (termo termo de Baranger, Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 1 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac 1961), estabelecido pelas influências recíprocas entre o par analítico (paciente psicanalista).. E que uma análise não pode funcionar unicamente com o método ultrapassado, no qual o paciente fica com o papel de trazer o seu “material”, “material” enquanto a função do psicanalista é somente o de interpretar o conteúdo cont trazido do pelo paciente (ZIMERMAN, 1999,, p.451). Com o intuito de mostrar a importância da teoria psicanalítica juntamente com a prática do psicanalista, faz-se faz se uma correlação entre a bibliografia da teoria da Psicanálise e um caso clínico encontrado na n literatura iteratura de Irvin Yalom (1996), “Se o estupro fosse legal..”, do livro “Carrasco “C do Amor”.. Onde Carlos, o paciente com câncer em estado terminal, consegue, por meio de terapia e do papel relevante do psiquiatra, com embasamento psicanalítico, resolver conflitos onflitos há tempo existentes. OBJETIVO Identificar a importância da teoria psicanalítica na prática através do caso clínico de Irvin Yalom. METODOLOGIA Estudo de um caso clínico descrito na literatura à luz de pesquisas pesquisa bibliográficas da Psicanálise (GIL, GIL, 1999). RESULTADOS Irvin considerava Carlos um paciente extraordinário e que o exigia exi muito mais do que as suas duas horas semanais de atendimento, desde que começou a lhe atender, pensava nele constantemente. Carlos sofria de um linfoma raro e há mais mais de dez anos se encontrava em tratamento, porém seu organismo não estava mais respondendo ás medicações nem a nenhum outro método utilizado pelos médicos. Fora o próprio oncologista quem o encaminhara, aminhara, pois estava com dificuldades de fazer com que Carlos levasse a sério sua doença e o via muito deprimido e sem ninguém a quem recorrer. Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 2 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac Em seu primeiro encontro com Carlos, Irvin o vê como uma pessoa desagradável,, tanto fisicamente: magro, possuía vários nódulos espalhados pelo corpo e careca devido à quimioterapia, oterapia, como de caráter: cínico, grosseiro e vulgar (seu objetivo de vida era trepar com o máximo de mulheres possível). Mesmo com suas primeiras impressões, Irvin sente-se se atraído por Carlos, fosse por sua generosidade em ajudar um paciente com câncer terminal erminal (ou pelo alívio por ser Carlos e não ele quem estava morrendo), ), pela emoção que demonstrou ao falar de seus dois filhos (um dos únicos momentos em que Carlos demonstrara algum sentimento de afeto, que não de ordem sexual, por outro ser humano), ou, ainda, pela forma melancólica que segurou sua mão entre as dele. Apesar de Irvin aceitá-lo aceitá lo na terapia, surgem muitas inseguranças com relação à finalidade do tratamento. Seria somente acompanhá-lo acompanhá lo durante o sofrimento da quimioterapia? Deveria haver, de sua parte, um comprometimento de que caso Carlos se tornasse asse um paciente terminal, lhe desse apoio até sua morte? Poderia pensar em um tratamento mais “ambicioso”, mesmo para alguém tão perto da morte? Valeria a pena investir sua energia e tempo em algo que qu poderia acabar previamente? Em meio a essas dúvidas, Irvin propôs a Carlos se encontrarem algumas vezes, mais para compartilhar sentimentos, e após esse período avaliaria a continuidade ou não do tratamento. Para sua surpresa, Carlos fez um excelente uso uso da terapia e com isso deram continuidade ao tratamento. A cada sessão, Carlos trazia uma lista de coisas para discutirem – sonhos, problemas no trabalho (mesmo com a doença ele continuava trabalhando como analista financeiro), desconforto físico, seu ódio ódio pela quimioterapia. Mas os assuntos principais principa de Carlos eram as mulheres e sexo. Relatava constantemente os encontros que tivera durante a semana (a maioria era só troca de olhares com mulheres no supermercado). Demonstrava tão grande preocupação com as a mulheres que parecia esquecer que tinha um câncer ativo e agindo fervorosamente em seu corpo. Talvez, esse fosse o motivo de tamanha preocupação nas mulheres, esquecer o câncer. Carlos os era socialmente isolado, não concebia ter qualquer tipo de relação que q não tivesse finalidade sexual. Era praticamente sozinho no mundo, fora seus dois filhos que moravam com a ex-esposa, esposa, não possuía mãe (a mesma morrera em seu parto) nem pai (falecera falecera quando ele tinha 20 anos, do mesmo câncer que ele possuía). possuía) Não tinha Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 3 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac amigos migos do sexo masculino, pois os considerava indignos de confiança e mesmo com as mulheres, só tivera um relacionamento significativo com sua ex-esposa, ex esposa, com a qual foi casado por um breve período de tempo. A fixação de Carlos pelas mulheres era muito anterior anterior ao seu câncer, as considerava seres altamente sexualizados. Por isso não foi de nenhuma surpresa para Irvin, quando Sarah (a terapeuta do grupo ao qual Carlos participava – pois o próprio Irvin o encaminhará na tentativa de forçá-lo lo a uma convivência) relatou o comportamento agressivo e inconveniente de Carlos, que ao saber, durante o relato grupal, do estupro de duas mulheres do grupo (dentre elas, a própria Sarah), pôs-se pôs a fazer perguntas impróprias e por fim afirmou que as mulheres estupradas gostavam gosta do ato e que se o estupro fosse legal, ele também o praticaria. Ao ser questionado por Irvin sobre seu comportamento na terapia de grupo, Carlos se dizia corajoso por ser o único a falar a verdade, pois para ele, todos os homens pensavam da mesma maneira, eira, só não tinham a intrepidez que ele possuía para expressar seus desejos sexuais. Porém quando questionado por Irvin se realmente ele tinha sido honesto e se verdadeiramente ele gostaria de morar em uma sociedade onde o estupro fosse legal, sabendo que sua filha estaria á mercê dessa mesma sociedade, Carlos demonstrou reação, parou de sorrir, ficou sério. Disse que gostaria que a filha tivesse uma relação amorosa com um homem e tivesse uma família. família Agora, com a atenção plena de Carlos, Irvin resolve ir além. Relembra de um sonho que Carlos tivera há duas semanas e que tinha um conteúdo benigno, mas que estavam carregadas de emoções dolorosas e angustiantes para Carlos: [...] ia a uma agência para alugar um carro, carro, mas os únicos existentes eram Honda Civic Civi – os que ele menos gostava. Das várias cores disponíveis, ele escolheu um vermelho. Mas, quando chegou ao estacionamento, estacionamento, o único carro disponível era um verde – a cor da qual ele menos menos gostava! (YALOM, 1996, p. 89) Nesse momento, Irvin utilizou-se utilizou da crença que Carlos possuía na reencarnação (crença que lhe proporcionara um grande alívio com relação ao seu medo da morte) e supôs que o sonho estivesse vinculado a morte e a vida e que a troca de carros estaria Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 4 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac associada ao corpo (trocar um corpo velho por por um novo). Desse modo pediu para que Carlos tentasse entender porque, em seu sonho, o único carro que sobrara para ele era o que ele menos gostava e da cor que ele mais detestava. Após essa inferência da interpretação do sonho, Carlos percebe que estava recebendo, em seu sonho, o que merecia por sua forma de vida na terra (que estava relacionado relacionado com a teoria de sua crença), e que, conforme o sonho, não estava vivendo de forma correta. Vendo que Carlos estava estava atordoado com a interpretação do sonho e com a sua própria reflexão de que não estava vivendo de forma correta, Irvin resolve confrontá-lo confrontá mais um pouco, pois percebe que é o momento correto para isso. isso. Relembra a Carlos sobre um de seus encontros com uma mulher (que havia sido somente uma conversa em uma igreja) e de como Carlos estava convicto de que se tivesse insistido mais um pouco com Ruth (a mulher do encontro), encontro), ela teria saído com ele (sendo que na verdade, Carlos não teria nenhuma possibilidade de ter realmente um encontro com ela). Irvin mostra mostr a Carlos que a busca incessante por mulheres e para que elas o aceitassem, era uma forma dele acreditar que não era diferente dos demais, de que não havia nada errado com ele, enfim, que ele não era um doente á beira da morte, morte, ou seja, era uma forma de negar n a sua realidade. Quando Carlos compreendeu que por meio de suas atitudes, inconscientemente, estava tentando fugir de sua realidade e aceitou que precisava estabelecer um objetivo de vida mais palpável (conversar com as pessoas, ter um relacionamento com oss filhos, conviver socialmente), passou a ter insights sobre diversas situações e mudar seus comportamentos, se tornando uma pessoa mais sensível, solidária, generosa. Carlos passou seus últimos meses de vida sendo um exemplo para seus filhos, para outros utros pacientes de câncer (montou um grupo de apoio á pacientes com câncer terminal) e para o próprio Irvin que ao ver aquele paciente morrendo em uma cama de hospital e o agradecendo por salvar sua vida, teve sua pergunta respondida. Valia a pena trabalharr com um paciente em estágio terminal. A partir da história de Carlos e de seus conflitos, pode-se pode se perceber a importância da teoria psicanalítica e do preparo que o analista deve ter. É possível observar inúmeros conflitos vivenciados pelo personagem e como como os mesmos foram sendo reelaborados ao longo das sessões, sessões, com uma clara influência da teoria psicanalítica. Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 5 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac Dentre os vários conflitos, vamos analisar alguns deles. Iniciamos a discussão, trazendo a resistência inicial de Carlos para com a terapia em grupo, grupo, com a convivência em sociedade e também com seu próprio estado. Segundo Freud (1926), a resistência é uma força inconsciente que se opõe ao processo terapêutico, obstruindo obstruindo seu progresso. Tal força é derivada do “masoquismo primário” do indivíduo. A resistência, como fenômeno fenôme psíquico universal e que se manifesta também fora do processo analítico,, pode ser entendida ainda como integrante da sobrevivência psíquica do indivíduo, por exemplo, exemplo alguém que “resiste” a admitir a morte de um ente querido está na verdade, evitando um sofrimento psíquico que seria insuportável naquele momento. Dentre os vários tipos de resistência, temos com relação à interpretação: interpre [...] a eficácia de toda a interpretação do analista, além da importância do conteúdo, forma, oportunidade, finalidade e destino de como ela é comunicada ao paciente, depende fundamentalmente de destino que as mesmas tomam na mente deste último. Isso nos remete a um problema muito sério relativo à resistência na prática analítica, qual seja, o de que que as interpretações do analista, apesar de estarem certas do ponto de vista de compreensão da conflitiva inconsciente, possam ser ineficazes. (ZIMERMAN, 1999, p. 314) Dentro desse contexto é possível inferir que Carlos também resistia às elaborações trazidas zidas pelo analista, quando, Irvin, em seu trabalho literal, relata que em vários momentos tentou fazer Carlos compreender os seus conflitos, porém de modo ineficaz: Carlos Doutor, entendo exatamente o que você está dizendo, mas Carlos: há uma falha em seu argumento. argumento. Eu não dou a mínima, não dou mesmo a mínima, para as pessoas do grupo. Elas não são pessoas reais. Jamais me associarei a perdedores como aqueles. A opinião deles não significa nada para mim. Eu não quero me aproximar deles. Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 6 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac Eu já havia visto Carlos se se fechar completamente dessa forma em outras ocasiões. (YALOM, 1996, p. 87) se também em Carlos a perversão sexual, sobre a qual Zimerman Observa-se (1999) descreve como sendo o ato de o sujeito perturbar a ordem ou o estado natural das coisas. Desde modo, os sujeitos com perversão consideram essas alterações como sendo boas e normais paraa o mundo no qual estão inseridos, inseridos explicando assim, assim porque de um modo consciente, escolhem ter uma conduta oposta a da normal, desafiando as leis, mesmo sabendo que com seus atos ultrajam a seus pares e a ordem social. social [...] Freud também postulou que as “perversões” ( a “disposição “ perverso – polimorfa da sexualidade infantil)) formariam um estágio normal na constituição do ego da criança, e que, cabe acrescentar, no adulto pode pode aparecer como um necessário elo que conduza o sujeito desde a sua neurose até anormalidade genital. Esse aspecto é importante, porquanto alarga o espectro da genitalidade normal no que concerne à pratica de polimorfas carícias orais, anais...como meios sadios de gozo antecipatório ao coito pleno que sucede, sem propósito destrutivo, o que é muito diferente de empregar os meios pré-genitais pré genitais exclusivamente com uma predominância de perversão, destrutiva, sem consideração pelo(a) próximo(a) como um fim em si mesmo.. (ZIMERMAN, 1999, p. 254) Sobre perversão, Zimerman (1999) ainda destaca que o indivíduo duo “pervertido” (no sentido de perversão) não está na busca primaria primaria da sensualidade, mas que esta est se comporta como uma “válvula de escape maníaca” contra as ansiedades, edades, especialmente as depressivas. Essa problemática fica evidente quando Carlos expõe ao grupo seu desejo em ser estuprado e estuprar,, mesmo sabendo que isso era totalmente contrário à ética de todos do grupo, fora seus constantes pensamentos e desejos, desejos, quase repulsivos, em ter as mais Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 7 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac variadas experiências sexuais, não demonstrando se importar com o outro, mas somente com a sua satisfação: Carlos: - Aqui, este consultório, é o único lugar onde posso dizer a verdade, e a verdade é que, mas do que qualquer qualquer outra coisa, o que eu gostaria de fazer com aquelas duas bocetas do grupo era fodêfodê las! Eu falo sério quando digo que se o estupro fosse legal, eu o faria! E sei bem por onde começaria! começaria (YALOM, 1996, p. 87) tratamento Carlos apresentou melhoras na sua qualidade de Ao decorrer do tratamento, vida, ao ser acolhido pelo terapeuta, ele foi ressignificando ressignificando alguns aspectos de sua vida e os comportamentos destrutivos foram diminuindo. Ao analisar alisar o sonho de Carlos sobre o aluguel de carros, no qual ele ficava com o carro que menos gostava e a cor que mais odiava, Yrvin utiliza-see da importância dos significados dos sonhos e dos conteúdos reprimidos que os sonhos podem revelar, para compreender as angustias reais de Carlos. Ao fazer a interpretação do sonho para seu paciente te parece conseguir tocar em uma parte de Carlos até então adormecida, despertando a atenção do mesmo para suas hipóteses do que o sonho seria, como se interiormente Carlos concordasse que aquela interpretação estivesse coerente com seu real estado. Sobre a teoria de sonhos, podemos destacar: Meltzer (1984): O processo de sonhar é o fundamento, não unicamente de nossa visão do mundo, e, portanto, de nosso estado de ânimo, senão que, também, cada sonho é uma tentativa de resolver um conflito, que primariamente primariame e é um assunto do mundo interno, e logo tem implicações na conduta externa. (ZIMERMAN, interno, 1999, p. 180) O objetivo da Psicanálise é liberar materiais inconscientes, antes inacessíveis, de modo que se possa lidar com eles conscientemente. Para Freud (1930), (1930 esse material permanecia inconsciente apenas através de um consumo considerável e contínuo de Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 8 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac libido. À medida que vai se tornando acessível, a energia vai sendo liberada e pode ser usada pelo ego para atividades mais saudáveis. Com a liberação de material materia bloqueado, as atitudes autodestrutivas vão sendo minimizadas. É possível reavaliar a necessidade de ser punido ou de se sentir inadequado, trazendo à consciência aqueles atos ou fantasmas que levavam à necessidade. (ZIMERMAN, (ZIMERMAN 1999). Pode-se observar noo caso de Carlos, esse momento,, quando ele percebe que sua constante procura por uma esposa, era na verdade uma procura por alguém que o cuidasse, por manter uma proximidade com outro ser humano, ser aceito independente de sua doença. E que as pessoas eram iguais ig a ele, com os mesmos medos, ansiedades e problemas que o afligiam. O ser humano tenta de diversas formas buscar o prazer, sem com isso ter-se ter a garantia de sucesso, identifica-se identifica se a intoxicação química, a religião, e a fruição das obras de artes como formas ormas legítimas de se conseguir prazer, colocando em primeiro plano uma importante técnica a arte de viver, que é o “amor”. Este conjunto de processos mentais internos que dirigem a sua libido para um objeto para extrair satisfação deles (RÊGO, 1995). Freud ud (1930) colocou que, mesmo esta arte, é frágil em garantir uma perene realização do princípio do prazer, uma vez que o ser apaixonado demonstra uma grande vulnerabilidade diante do objeto. Na organização narcísica narcísica da personalidade, uma busca de reconhecimento mento por parte dos outros, tais indivíduos deslocam essa necessidade que basicamente nunca foi satisfeita para a construção de fetiches (ZIMERMAN, N, 1999). Criam a ilusão ilusão de que o “parecer” fica sendo. Por meio disso, pode-se se inferir que Carlos vivenciava essa essa busca de prazer, visto que tentava por meio de seus “encontros”, ser aceito por uma mulher, reconhecido como um homem ainda capaz de satisfazer alguém. Buscava ser visto pelo sexo oposto como um homem atraente, sem deformidades ou doente. E nessa busca, busca, aliada talvez a uma organização narcísica de personalidade, criava uma uma série de fetiches: por seios e até mesmo pelo próprio desejo de estuprar e ser estuprado. Possivelmente, sivelmente, uma das causas da necessidade não satisfeita de Carlos, e geradora de seus fetiches, foi o vazio deixado por sua mãe, que morrera no seu parto, talvez vinculado, inconscientemente, a uma culpa por sua morte. Conforme Rabello (2007), para Erik Erikson,, o crescimento psicológico ocorre por meio de estágios e fases, dependentes ntes da interação int entre o indivíduo duo e o meio, através de crises psicossociais com vertentes positivas e negativas negativas e o modo como esse indivíduo indiví consegue ultrapassar essas crises ao longo dos estágios vividos é que influenciará sua Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 9 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac capacidade na resolução de conflitos. Por Carlos não ter tido um contato com sua mãe logo em seu primeiro estágio de vida, período onde se desenvolve a confiança x desconfiança, isso poderia ter desenvolvido sua dificuldade em estabelecer amizades, visto que relatava não ter confiança nas pessoas. Também conforme Winnicot (1971): “O primeiro espelho da criatura humana é a face da mãe, o seu olhar, seu sorriso, o seu tom de voz...” .” e um pouco mais adiante, ele complementa com outra frase, imaginando expressar com palavras o sentimento primitivo do bebê, ou da criança: “Olho e sou visto, logo existo! E posso, agora permitir-me olhar e ver”. Winnicot (1971) relata que muitos bebês têm uma longa experiência de não receber de volta o que estão dando, e que não há experiência mais penosa e terrível do d que “ver e não ser visto”, e nesses casos, de não ser refletido no espelho, provavelmente embaçado, distorcido ou opaco da mãe. É fácil deduzir a extraordinária importância que tais aspectos representam na prática analítica vincular interacional. E Carlos Carlo tinha essa dificuldade latente em suas relações, enxergava as mulheres como um objeto de prazer, mas na verdade se achava inferior a elas, chegando a relatar que para ele as mulheres estavam em um trono no Olimpo e que escolhiam qual homem queriam ter. Também T se sentia menosprezado, como se não se sentisse visto pelos outros, isso talvez, devido à falta de olhar para o espelho, sua mãe, e receber a imagem refletida, o olhar atencioso, o cuidado. Carlos, decorrido algum tempo em terapia e após uma sessão de d vários confrontos com seu terapeuta, terapeuta retorna a sessão na semana seguinte relatando muitos insights,, o que para Irvin demonstra um ótimo resultado do tratamento com Carlos. O insight,, como a própria palavra anglo-saxônica anglo saxônica sugere, é a possibilidade de o paciente pa ter uma visão (ou compreensão) do que se passa em seu mundo interno psíquico. A sucessão de insights ao longo de um processo analítico, catalisados pelas interpretações (intervenções) do terapeuta, permite a chamada “elaboração”, ou seja, a resolução resoluçã de conflitos, que geram angústias ou outros sintomas psicológicos. psicológicos A obtenção de insights e possibilidade de elaborar conflitos não é exclusiva do processo analítico, podendo ser obtida por meio de um exercício reflexivo pelo próprio indivíduo ou da intervenção inte compreensiva de membros de sua rede afetiva, embora isso ocorra mais raramente. Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 10 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac Os insights que Carlos tivera após uma sessão revelaram o tamanho de sua mudança, pois ele passou a se perceber e perceber aos outros de modo diferente, passando a tratar ar as pessoas de outra maneira. Seu primeiro insight foi chamado por ele de “Todos tem um coração”, ocorreu durante sua terapia em grupo, enquanto algumas mulheres compartilhavam seus sentimentos e falavam das dificuldades de ser solteira e de seus problemas, as, Carlos pode entender que essas mulheres não eram diferentes dele, que elas também tinham um coração assim como ele. A imagem que ele tinha das mulheres, sentadas em um trono decidindo qual homem queriam, mudou subitamente. E Carlos passou a ver em todas todas as pessoas, não só nas mulheres, um coração pulsando, numa linha de pensamento de que as pessoas eram mais do que aparência, elas tinham sentimentos, iguais a ele. Seu segundo insight foi nomeado como “Eu não sou os meus sapatos”. Carlos tinha grande dificuldade iculdade em falar em público, tinha medo de dar vexame e não conseguia aceitar críticas de nenhum tipo, até mesmo profissional. Essa defesa que mantinha era devido a não diferenciar o seu núcleo central de outros atributos ou atividades periféricas, precisava precis “desindentificar-se” se” com as coisas que fazia, gostava ou valorizava, pois não eram seu eu, seu ser central. Durante uma apresentação de trabalho, Carlos começou a repetir um mantra em sua cabeça no qual dizia que não era seu trabalho, estendeu esse mantra, mantra, dizendo que não era suas roupas e nem seus sapatos gastos. Com isso Carlos compreendeu as críticas que recebeu, não como sendo ao seu ser central, e pôde realizar uma maravilhosa apresentação, apresentação, de modo não defensivo CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo da leitura do caso de Carlos, podem-se podem se perceber nitidamente as alterações em seu comportamento e em seu modo de vida, externalizando sua mudança interna, a nova forma como passou a se enxergar, a enxergar aos outros e a enfrentar seus conflitos, medos e angústias. angústias. Carlos passou pelo processo de elaborar conflitos, onde trouxe um novo significado para esses conflitivas existentes em seu ser. Para essa elaboração e ressignificação, foi de extrema importância a orientação de um profissional com conhecimento da teoria teoria psicanalítica, mas também disposto a colocá-la la em prática. Yrvin por meio de suas interpretações e constantes relatos para Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 11 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac Carlos de suas percepções, nos mostra como um profissional bem qualificado pode ser assertivo em um tratamento e como a teoria psicanalítica pode ser colocada em prática em casos clínicos. Conclui-se se também a grande utilidade, utilidade, assim como nesse artigo, das artes (literatura, filmes, dança, teatro) para se estudar a teoria psicanalítica, pois se a psicanálise busca entender o ser humano humano e seus assuntos reprimidos, que melhor instrumento é a arte para isso, posto que é uma ferramenta onde o ser humano pode liberar esses materiais inconscientes, de uma forma onde não seria julgado ou discriminado, externalizando alizando de uma forma aceitável a sociedade e a ele próprio. Para finalizar, vemos que o futuro profissional da psicanálise tem em suas mãos recursos para aperfeiçoar seus aprendizados, aprendizados, antes de começar sua atuação: atuação inúmeros livros, filmes e relatos de casos clínicos, e que essa preparação preparação é de extrema necessidade para a obtenção dos melhores resultados em sua vida profissional, e o mais importante, na vida de seus pacientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS YALOM, I. D. O carrasco do amor e outras histórias sobre psicoterapias. psicoterapias Porto Alegre: Artmed, 1996. ZIMERMAN, D. Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. FREUD, S. (1914). Recordar, repetir e elaborar. In: Edição Standart Brasileira das obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. V.XII. V.XII Rio de Janeiro:: Imago, 1980. REGO, T. C. (1995). Vygotsky: Uma perspectiva histórico-cultural cultural da educação. educação Petrópolis, RJ: Vozes. RABELLO, E.T. e PASSOS, J.S. Erikson e a teoria psicossocial do desenvolvimento. desenvolvimento Disponível em no dia 15 de outubro de 2007. WINNICOTT, D W. - O brincar e a realidade. realidade. R Janeiro, Imago, 1971. 1971 Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 12 ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA TÍFICA DO CESUCA http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail: mail: [email protected] ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1, CESUCA n. 6 (2012) 13