ANÁLISE DE CONCEITOS PSIC RESUMO Este trabalho apresenta

Propaganda
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
ANÁLISE DE CONCEITOS PSICANALÍTICOS A PARTIR DE UM CASO
CLÍNICO
Naiara Vidotto da Rosa Berwig
RESUMO
Este trabalho apresenta uma correlação da importância da teoria psicanalítica com a sua
prática, por meio de um caso clínico descrito
descri na literatura. Para
ra este fim, o texto foi
baseado em pesquisas bibliográficas sobre a teoria da Psicanálise, mais especificamente:
a resistência, a perversão sexual, a busca por prazer, elaboração e o insight. Os
resultados revelaram a importância da teoria psicanalítica quando
quando colocada em prática
na ação do terapeuta.
Palavras-Chave: Teorias da psicanálise;
p
prática; insight.
INTRODUÇÃO
A Psicanálise desde seu primórdio procurou entender os conflitos existentes no
psiquismo humano. Por meio da livre associação de idéias, onde os pacientes eram
obrigados a associarem “livremente” estímulos a recordação de traumas que teriam
vivenciado, mas que por algum motivo estariam esquecidos, Sigmund Freud chegou a
conclusão de que o conflito psíquico era resultante da luta entre as forças
forças instintivas e as
repressoras. E os sintomas trazidos pelo paciente seriam uma representação simbólica
deste conflito inconsciente. A partir
parti desse momento a psicanálise pôde
de ser considerada
como uma nova ciência, com referencias teóricoteórico técnicos próprios,
ios, específicos e
consistentes (ZIMERMAN, 1999,
1999 p. 23).
Freud criou diversas teorias surgidas de suas vivências com seus pacientes
pac
e
conforme Zimerman (1999)
(1999) essas teorias, mesmo com avanços, recuos e constantes
cons
transformações foram essenciais
esse
alicerces para
ara a teoria, técnica, ética e a prática da
clínica da psicanálise. Os analistas atuais compreendem que um processo analítico
repousa, sobretudo, na dinâmica que existe no campo analítico (termo
termo de Baranger,
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
1
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
1961), estabelecido pelas influências recíprocas entre o par analítico (paciente psicanalista).. E que uma análise não pode funcionar unicamente com o método
ultrapassado, no qual o paciente fica com o papel de trazer o seu “material”,
“material” enquanto a
função do psicanalista é somente o de interpretar o conteúdo
cont
trazido
do pelo paciente
(ZIMERMAN, 1999,, p.451).
Com o intuito de mostrar a importância da teoria psicanalítica juntamente com a
prática do psicanalista, faz-se
faz se uma correlação entre a bibliografia da teoria da
Psicanálise e um caso clínico encontrado na
n literatura
iteratura de Irvin Yalom (1996), “Se o
estupro fosse legal..”, do livro “Carrasco
“C
do Amor”.. Onde Carlos, o paciente com
câncer em estado terminal, consegue, por meio de terapia e do papel relevante do
psiquiatra, com embasamento psicanalítico, resolver conflitos
onflitos há tempo existentes.
OBJETIVO
Identificar a importância da teoria psicanalítica na prática através do caso clínico
de Irvin Yalom.
METODOLOGIA
Estudo de um caso clínico descrito na literatura à luz de pesquisas
pesquisa bibliográficas
da Psicanálise (GIL,
GIL, 1999).
RESULTADOS
Irvin considerava Carlos um paciente extraordinário e que o exigia
exi
muito mais
do que as suas duas horas semanais de atendimento, desde que começou a lhe atender,
pensava nele constantemente. Carlos sofria de um linfoma raro e há mais
mais de dez anos se
encontrava em tratamento, porém seu organismo não estava mais respondendo ás
medicações nem a nenhum outro método utilizado pelos médicos. Fora o próprio
oncologista quem o encaminhara,
aminhara, pois estava com dificuldades de fazer com que Carlos
levasse a sério sua doença e o via muito deprimido e sem ninguém a quem recorrer.
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
2
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
Em seu primeiro encontro com Carlos, Irvin o vê como uma pessoa
desagradável,, tanto fisicamente: magro, possuía vários nódulos espalhados pelo corpo e
careca devido à quimioterapia,
oterapia, como de caráter: cínico, grosseiro e vulgar (seu objetivo
de vida era trepar com o máximo de mulheres possível). Mesmo com suas primeiras
impressões, Irvin sente-se
se atraído por Carlos, fosse por sua generosidade em ajudar um
paciente com câncer terminal
erminal (ou pelo alívio por ser Carlos e não ele quem estava
morrendo),
), pela emoção que demonstrou ao falar de seus dois filhos (um dos únicos
momentos em que Carlos demonstrara algum sentimento de afeto, que não de ordem
sexual, por outro ser humano), ou, ainda, pela forma melancólica que segurou sua mão
entre as dele.
Apesar de Irvin aceitá-lo
aceitá lo na terapia, surgem muitas inseguranças com relação à
finalidade do tratamento. Seria somente acompanhá-lo
acompanhá lo durante o sofrimento da
quimioterapia? Deveria haver, de sua parte, um comprometimento de que caso Carlos se
tornasse
asse um paciente terminal, lhe desse apoio até sua morte? Poderia pensar em um
tratamento mais “ambicioso”, mesmo para alguém tão perto da morte? Valeria a pena
investir sua energia e tempo em algo que
qu poderia acabar previamente?
Em meio a essas dúvidas, Irvin propôs a Carlos se encontrarem algumas vezes,
mais para compartilhar sentimentos, e após esse período avaliaria a continuidade ou não
do tratamento. Para sua surpresa, Carlos fez um excelente uso
uso da terapia e com isso
deram continuidade ao tratamento. A cada sessão, Carlos trazia uma lista de coisas para
discutirem – sonhos, problemas no trabalho (mesmo com a doença ele continuava
trabalhando como analista financeiro), desconforto físico, seu ódio
ódio pela quimioterapia.
Mas os assuntos principais
principa de Carlos eram as mulheres e sexo.
Relatava
constantemente os encontros que tivera durante a semana (a maioria era só troca de
olhares com mulheres no supermercado). Demonstrava tão grande preocupação com as
a
mulheres que parecia esquecer que tinha um câncer ativo e agindo fervorosamente em
seu corpo. Talvez, esse fosse o motivo de tamanha preocupação nas mulheres, esquecer
o câncer.
Carlos
os era socialmente isolado, não concebia ter qualquer tipo de relação que
q
não tivesse finalidade sexual. Era praticamente sozinho no mundo, fora seus dois filhos
que moravam com a ex-esposa,
esposa, não possuía mãe (a mesma morrera em seu parto) nem
pai (falecera
falecera quando ele tinha 20 anos, do mesmo câncer que ele possuía).
possuía) Não tinha
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
3
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
amigos
migos do sexo masculino, pois os considerava indignos de confiança e mesmo com as
mulheres, só tivera um relacionamento significativo com sua ex-esposa,
ex esposa, com a qual foi
casado por um breve período de tempo.
A fixação de Carlos pelas mulheres era muito anterior
anterior ao seu câncer, as
considerava seres altamente sexualizados. Por isso não foi de nenhuma surpresa para
Irvin, quando Sarah (a terapeuta do grupo ao qual Carlos participava – pois o próprio
Irvin o encaminhará na tentativa de forçá-lo
lo a uma convivência) relatou o
comportamento agressivo e inconveniente de Carlos, que ao saber, durante o relato
grupal, do estupro de duas mulheres do grupo (dentre elas, a própria Sarah), pôs-se
pôs
a
fazer perguntas impróprias e por fim afirmou que as mulheres estupradas gostavam
gosta
do
ato e que se o estupro fosse legal, ele também o praticaria.
Ao ser questionado por Irvin sobre seu comportamento na terapia de grupo,
Carlos se dizia corajoso por ser o único a falar a verdade, pois para ele, todos os homens
pensavam da mesma maneira,
eira, só não tinham a intrepidez que ele possuía para expressar
seus desejos sexuais. Porém quando questionado por Irvin se realmente ele tinha sido
honesto e se verdadeiramente ele gostaria de morar em uma sociedade onde o estupro
fosse legal, sabendo que sua filha estaria á mercê dessa mesma sociedade, Carlos
demonstrou reação, parou de sorrir, ficou sério. Disse que gostaria que a filha tivesse
uma relação amorosa com um homem e tivesse uma família.
família
Agora, com a atenção plena de Carlos, Irvin resolve ir além. Relembra de um
sonho que Carlos tivera há duas semanas e que tinha um conteúdo benigno, mas que
estavam carregadas de emoções dolorosas e angustiantes para Carlos:
[...] ia a uma agência para alugar um carro,
carro, mas os únicos
existentes eram Honda Civic
Civi – os que ele menos gostava. Das
várias cores disponíveis, ele escolheu um vermelho. Mas, quando
chegou ao estacionamento,
estacionamento, o único carro disponível era um verde –
a cor da qual ele menos
menos gostava! (YALOM, 1996, p. 89)
Nesse momento, Irvin utilizou-se
utilizou da crença que Carlos possuía na reencarnação
(crença que lhe proporcionara um grande alívio com relação ao seu medo da morte) e
supôs que o sonho estivesse vinculado a morte e a vida e que a troca de carros estaria
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
4
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
associada ao corpo (trocar um corpo velho por
por um novo). Desse modo pediu para que
Carlos tentasse entender porque, em seu sonho, o único carro que sobrara para ele era o
que ele menos gostava e da cor que ele mais detestava. Após essa inferência da
interpretação do sonho, Carlos percebe que estava recebendo, em seu sonho, o que
merecia por sua forma de vida na terra (que estava relacionado
relacionado com a teoria de sua
crença), e que, conforme o sonho, não estava vivendo de forma correta.
Vendo que Carlos estava
estava atordoado com a interpretação do sonho e com a sua
própria reflexão de que não estava vivendo de forma correta, Irvin resolve confrontá-lo
confrontá
mais um pouco, pois percebe que é o momento correto para isso.
isso. Relembra a Carlos
sobre um de seus encontros com uma mulher (que havia sido somente uma conversa em
uma igreja) e de como Carlos estava convicto de que se tivesse insistido mais um pouco
com Ruth (a mulher do encontro),
encontro), ela teria saído com ele (sendo que na verdade, Carlos
não teria nenhuma possibilidade de ter realmente um encontro com ela). Irvin mostra
mostr a
Carlos que a busca incessante por mulheres e para que elas o aceitassem, era uma forma
dele acreditar que não era diferente dos demais, de que não havia nada errado com ele,
enfim, que ele não era um doente á beira da morte,
morte, ou seja, era uma forma de negar
n
a
sua realidade. Quando Carlos compreendeu que por meio de suas atitudes,
inconscientemente, estava tentando fugir de sua realidade e aceitou que precisava
estabelecer um objetivo de vida mais palpável (conversar com as pessoas, ter um
relacionamento com oss filhos, conviver socialmente), passou a ter insights sobre
diversas situações e mudar seus comportamentos, se tornando uma pessoa mais
sensível, solidária, generosa.
Carlos passou seus últimos meses de vida sendo um exemplo para seus filhos,
para outros
utros pacientes de câncer (montou um grupo de apoio á pacientes com câncer
terminal) e para o próprio Irvin que ao ver aquele paciente morrendo em uma cama de
hospital e o agradecendo por salvar sua vida, teve sua pergunta respondida. Valia a pena
trabalharr com um paciente em estágio terminal.
A partir da história de Carlos e de seus conflitos, pode-se
pode se perceber a importância
da teoria psicanalítica e do preparo que o analista deve ter. É possível observar
inúmeros conflitos vivenciados pelo personagem e como
como os mesmos foram sendo
reelaborados ao longo das sessões,
sessões, com uma clara influência da teoria psicanalítica.
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
5
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
Dentre os vários conflitos, vamos analisar alguns deles. Iniciamos a discussão,
trazendo a resistência inicial de Carlos para com a terapia em grupo,
grupo, com a convivência
em sociedade e também com seu próprio estado. Segundo Freud (1926), a resistência é
uma força inconsciente que se opõe ao processo terapêutico, obstruindo
obstruindo seu progresso.
Tal força é derivada do “masoquismo primário” do indivíduo.
A resistência, como fenômeno
fenôme psíquico universal e que se manifesta também
fora do processo analítico,, pode ser entendida ainda como integrante da sobrevivência
psíquica do indivíduo, por exemplo,
exemplo alguém que “resiste” a admitir a morte de um ente
querido está na verdade, evitando um sofrimento psíquico que seria insuportável
naquele momento.
Dentre os vários tipos de resistência, temos com relação à interpretação:
interpre
[...] a eficácia de toda a interpretação do analista, além da
importância do conteúdo, forma, oportunidade, finalidade e destino
de como ela é comunicada ao paciente, depende fundamentalmente
de destino que as mesmas tomam na mente deste último. Isso nos
remete a um problema muito sério relativo à resistência na prática
analítica, qual seja, o de que
que as interpretações do analista, apesar de
estarem certas do ponto de vista de compreensão da conflitiva
inconsciente, possam ser ineficazes. (ZIMERMAN, 1999, p. 314)
Dentro desse contexto é possível inferir que Carlos também resistia às
elaborações trazidas
zidas pelo analista, quando, Irvin, em seu trabalho literal, relata que em
vários momentos tentou fazer Carlos compreender os seus conflitos, porém de modo
ineficaz:
Carlos Doutor, entendo exatamente o que você está dizendo, mas
Carlos:
há uma falha em seu argumento.
argumento. Eu não dou a mínima, não dou
mesmo a mínima, para as pessoas do grupo. Elas não são pessoas
reais. Jamais me associarei a perdedores como aqueles. A opinião
deles não significa nada para mim. Eu não quero me aproximar
deles.
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
6
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
Eu já havia visto Carlos se
se fechar completamente dessa forma em
outras ocasiões. (YALOM, 1996, p. 87)
se também em Carlos a perversão sexual, sobre a qual Zimerman
Observa-se
(1999) descreve como sendo o ato de o sujeito perturbar a ordem ou o estado natural das
coisas. Desde modo, os sujeitos com perversão consideram essas alterações como sendo
boas e normais paraa o mundo no qual estão inseridos,
inseridos explicando assim,
assim porque de um
modo consciente, escolhem ter uma conduta oposta a da normal, desafiando as leis,
mesmo sabendo que com seus atos ultrajam a seus pares e a ordem social.
social
[...] Freud também postulou que as “perversões” ( a “disposição
“
perverso – polimorfa da sexualidade infantil)) formariam um
estágio normal na constituição do ego da criança, e que, cabe
acrescentar, no adulto pode
pode aparecer como um necessário elo que
conduza o sujeito desde a sua neurose até anormalidade genital.
Esse aspecto é importante, porquanto alarga o espectro da
genitalidade normal no que concerne à pratica de polimorfas
carícias orais, anais...como meios sadios de gozo antecipatório ao
coito pleno que sucede, sem propósito destrutivo, o que é muito
diferente de empregar os meios pré-genitais
pré genitais exclusivamente com
uma predominância de perversão, destrutiva, sem consideração
pelo(a) próximo(a) como um fim em si mesmo.. (ZIMERMAN,
1999, p. 254)
Sobre perversão, Zimerman (1999) ainda destaca que o indivíduo
duo “pervertido”
(no sentido de perversão) não está na busca primaria
primaria da sensualidade, mas que esta
est se
comporta como uma “válvula de escape maníaca” contra as ansiedades,
edades, especialmente
as depressivas.
Essa problemática fica evidente quando Carlos expõe ao grupo seu desejo em ser
estuprado e estuprar,, mesmo sabendo que isso era totalmente contrário à ética de todos
do grupo, fora seus constantes pensamentos e desejos,
desejos, quase repulsivos, em ter as mais
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
7
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
variadas experiências sexuais, não demonstrando se importar com o outro, mas somente
com a sua satisfação:
Carlos: - Aqui, este consultório, é o único lugar onde posso dizer a
verdade, e a verdade é que, mas do que qualquer
qualquer outra coisa, o que
eu gostaria de fazer com aquelas duas bocetas do grupo era fodêfodê
las! Eu falo sério quando digo que se o estupro fosse legal, eu o
faria! E sei bem por onde começaria!
começaria (YALOM, 1996, p. 87)
tratamento Carlos apresentou melhoras na sua qualidade de
Ao decorrer do tratamento,
vida, ao ser acolhido pelo terapeuta, ele foi ressignificando
ressignificando alguns aspectos de sua vida
e os comportamentos destrutivos foram diminuindo.
Ao analisar
alisar o sonho de Carlos sobre o aluguel de carros, no qual ele ficava com
o carro que menos gostava e a cor que mais odiava, Yrvin utiliza-see da importância dos
significados dos sonhos e dos conteúdos reprimidos que os sonhos podem revelar, para
compreender as angustias reais de Carlos. Ao fazer a interpretação do sonho para seu
paciente
te parece conseguir tocar em uma parte de Carlos até então adormecida,
despertando a atenção do mesmo para suas hipóteses do que o sonho seria, como se
interiormente Carlos concordasse que aquela interpretação estivesse coerente com seu
real estado.
Sobre a teoria de sonhos, podemos destacar:
Meltzer (1984): O processo de sonhar é o fundamento, não
unicamente de nossa visão do mundo, e, portanto, de nosso estado
de ânimo, senão que, também, cada sonho é uma tentativa de
resolver um conflito, que primariamente
primariame e é um assunto do mundo
interno, e logo tem implicações na conduta externa. (ZIMERMAN,
interno,
1999, p. 180)
O objetivo da Psicanálise é liberar materiais inconscientes, antes inacessíveis, de
modo que se possa lidar com eles conscientemente. Para Freud (1930),
(1930 esse material
permanecia inconsciente apenas através de um consumo considerável e contínuo de
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
8
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
libido. À medida que vai se tornando acessível, a energia vai sendo liberada e pode ser
usada pelo ego para atividades mais saudáveis. Com a liberação de material
materia bloqueado,
as atitudes autodestrutivas vão sendo minimizadas. É possível reavaliar a necessidade de
ser punido ou de se sentir inadequado, trazendo à consciência aqueles atos ou fantasmas
que levavam à necessidade. (ZIMERMAN,
(ZIMERMAN 1999). Pode-se observar noo caso de Carlos,
esse momento,, quando ele percebe que sua constante procura por uma esposa, era na
verdade uma procura por alguém que o cuidasse, por manter uma proximidade com
outro ser humano, ser aceito independente de sua doença. E que as pessoas eram iguais
ig
a ele, com os mesmos medos, ansiedades e problemas que o afligiam.
O ser humano tenta de diversas formas buscar o prazer, sem com isso ter-se
ter
a
garantia de sucesso, identifica-se
identifica se a intoxicação química, a religião, e a fruição das obras
de artes como formas
ormas legítimas de se conseguir prazer, colocando em primeiro plano
uma importante técnica a arte de viver, que é o “amor”. Este conjunto de processos
mentais internos que dirigem a sua libido para um objeto para extrair satisfação deles
(RÊGO, 1995). Freud
ud (1930) colocou que, mesmo esta arte, é frágil em garantir uma
perene realização do princípio do prazer, uma vez que o ser apaixonado demonstra uma
grande vulnerabilidade diante do objeto. Na organização narcísica
narcísica da personalidade,
uma busca de reconhecimento
mento por parte dos outros, tais indivíduos deslocam essa
necessidade que basicamente nunca foi satisfeita para a construção de fetiches
(ZIMERMAN,
N, 1999). Criam a ilusão
ilusão de que o “parecer” fica sendo. Por meio disso,
pode-se
se inferir que Carlos vivenciava essa
essa busca de prazer, visto que tentava por meio
de seus “encontros”, ser aceito por uma mulher, reconhecido como um homem ainda
capaz de satisfazer alguém. Buscava ser visto pelo sexo oposto como um homem
atraente, sem deformidades ou doente. E nessa busca,
busca, aliada talvez a uma organização
narcísica de personalidade, criava uma
uma série de fetiches: por seios e até mesmo pelo
próprio desejo de estuprar e ser estuprado.
Possivelmente,
sivelmente, uma das causas da necessidade não satisfeita de Carlos, e
geradora de seus fetiches, foi o vazio deixado por sua mãe, que morrera no seu parto,
talvez vinculado, inconscientemente, a uma culpa por sua morte. Conforme Rabello
(2007), para Erik Erikson,, o crescimento psicológico ocorre por meio de estágios e
fases, dependentes
ntes da interação
int
entre o indivíduo
duo e o meio, através de crises
psicossociais com vertentes positivas e negativas
negativas e o modo como esse indivíduo
indiví
consegue ultrapassar essas crises ao longo dos estágios vividos é que influenciará sua
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
9
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
capacidade na resolução de conflitos. Por Carlos não ter tido um contato com sua mãe
logo em seu primeiro estágio de vida, período onde se desenvolve a confiança x
desconfiança, isso poderia ter desenvolvido sua dificuldade em estabelecer amizades,
visto que relatava não ter confiança nas pessoas.
Também conforme Winnicot (1971): “O primeiro espelho da criatura humana é
a face da mãe, o seu olhar, seu sorriso, o seu tom de voz...”
.” e um pouco mais adiante,
ele complementa com outra frase, imaginando expressar com palavras o sentimento
primitivo do bebê, ou da criança: “Olho e sou visto, logo existo! E posso, agora
permitir-me olhar e ver”.
Winnicot (1971) relata que muitos bebês têm uma longa experiência de não
receber de volta o que estão dando, e que não há experiência mais penosa e terrível do
d
que “ver e não ser visto”, e nesses casos, de não ser refletido no espelho, provavelmente
embaçado, distorcido ou opaco da mãe. É fácil deduzir a extraordinária importância que
tais aspectos representam na prática analítica vincular interacional. E Carlos
Carlo tinha essa
dificuldade latente em suas relações, enxergava as mulheres como um objeto de prazer,
mas na verdade se achava inferior a elas, chegando a relatar que para ele as mulheres
estavam em um trono no Olimpo e que escolhiam qual homem queriam ter. Também
T
se
sentia menosprezado, como se não se sentisse visto pelos outros, isso talvez, devido à
falta de olhar para o espelho, sua mãe, e receber a imagem refletida, o olhar atencioso, o
cuidado.
Carlos, decorrido algum tempo em terapia e após uma sessão de
d vários
confrontos com seu terapeuta,
terapeuta retorna a sessão na semana seguinte relatando muitos
insights,, o que para Irvin demonstra um ótimo resultado do tratamento com Carlos. O
insight,, como a própria palavra anglo-saxônica
anglo saxônica sugere, é a possibilidade de o paciente
pa
ter uma visão (ou compreensão) do que se passa em seu mundo interno psíquico. A
sucessão de insights ao longo de um processo analítico, catalisados pelas interpretações
(intervenções) do terapeuta, permite a chamada “elaboração”, ou seja, a resolução
resoluçã de
conflitos, que geram angústias ou outros sintomas psicológicos.
psicológicos A obtenção de insights
e possibilidade de elaborar conflitos não é exclusiva do processo analítico, podendo ser
obtida por meio de um exercício reflexivo pelo próprio indivíduo ou da intervenção
inte
compreensiva de membros de sua rede afetiva, embora isso ocorra mais raramente.
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
10
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
Os insights que Carlos tivera após uma sessão revelaram o tamanho de sua
mudança, pois ele passou a se perceber e perceber aos outros de modo diferente,
passando a tratar
ar as pessoas de outra maneira. Seu primeiro insight foi chamado por ele
de “Todos tem um coração”, ocorreu durante sua terapia em grupo, enquanto algumas
mulheres compartilhavam seus sentimentos e falavam das dificuldades de ser solteira e
de seus problemas,
as, Carlos pode entender que essas mulheres não eram diferentes dele,
que elas também tinham um coração assim como ele. A imagem que ele tinha das
mulheres, sentadas em um trono decidindo qual homem queriam, mudou subitamente. E
Carlos passou a ver em todas
todas as pessoas, não só nas mulheres, um coração pulsando,
numa linha de pensamento de que as pessoas eram mais do que aparência, elas tinham
sentimentos, iguais a ele.
Seu segundo insight foi nomeado como “Eu não sou os meus sapatos”. Carlos
tinha grande dificuldade
iculdade em falar em público, tinha medo de dar vexame e não
conseguia aceitar críticas de nenhum tipo, até mesmo profissional. Essa defesa que
mantinha era devido a não diferenciar o seu núcleo central de outros atributos ou
atividades periféricas, precisava
precis
“desindentificar-se”
se” com as coisas que fazia, gostava
ou valorizava, pois não eram seu eu, seu ser central. Durante uma apresentação de
trabalho, Carlos começou a repetir um mantra em sua cabeça no qual dizia que não era
seu trabalho, estendeu esse mantra,
mantra, dizendo que não era suas roupas e nem seus sapatos
gastos. Com isso Carlos compreendeu as críticas que recebeu, não como sendo ao seu
ser central, e pôde realizar uma maravilhosa apresentação,
apresentação, de modo não defensivo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo da leitura do caso de Carlos, podem-se
podem se perceber nitidamente as
alterações em seu comportamento e em seu modo de vida, externalizando sua mudança
interna, a nova forma como passou a se enxergar, a enxergar aos outros e a enfrentar
seus conflitos, medos e angústias.
angústias. Carlos passou pelo processo de elaborar conflitos,
onde trouxe um novo significado para esses conflitivas existentes em seu ser.
Para essa elaboração e ressignificação, foi de extrema importância a orientação
de um profissional com conhecimento da teoria
teoria psicanalítica, mas também disposto a
colocá-la
la em prática. Yrvin por meio de suas interpretações e constantes relatos para
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
11
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
Carlos de suas percepções, nos mostra como um profissional bem qualificado pode ser
assertivo em um tratamento e como a teoria psicanalítica pode ser colocada em prática
em casos clínicos.
Conclui-se
se também a grande utilidade,
utilidade, assim como nesse artigo, das artes
(literatura, filmes, dança, teatro) para se estudar a teoria psicanalítica, pois se a
psicanálise busca entender o ser humano
humano e seus assuntos reprimidos, que melhor
instrumento é a arte para isso, posto que é uma ferramenta onde o ser humano pode
liberar esses materiais inconscientes, de uma forma onde não seria julgado ou
discriminado, externalizando
alizando de uma forma aceitável a sociedade e a ele próprio.
Para finalizar, vemos que o futuro profissional da psicanálise tem em suas mãos
recursos para aperfeiçoar seus aprendizados,
aprendizados, antes de começar sua atuação:
atuação inúmeros
livros, filmes e relatos de casos clínicos, e que essa preparação
preparação é de extrema necessidade
para a obtenção dos melhores resultados em sua vida profissional, e o mais importante,
na vida de seus pacientes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
YALOM, I. D. O carrasco do amor e outras histórias sobre psicoterapias.
psicoterapias Porto
Alegre: Artmed, 1996.
ZIMERMAN, D. Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1999.
FREUD, S. (1914). Recordar, repetir e elaborar. In: Edição Standart Brasileira das
obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. V.XII.
V.XII Rio de Janeiro:: Imago, 1980.
REGO, T. C. (1995). Vygotsky: Uma perspectiva histórico-cultural
cultural da educação.
educação
Petrópolis, RJ: Vozes.
RABELLO, E.T. e PASSOS, J.S. Erikson e a teoria psicossocial do desenvolvimento.
desenvolvimento
Disponível em no dia 15 de outubro de 2007.
WINNICOTT, D W. - O brincar e a realidade.
realidade. R Janeiro, Imago, 1971.
1971
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
12
ANAIS DA MOSTRA CIENTÍFICA
TÍFICA DO CESUCA
http://ojs.cesuca.edu.br/index.php/mostrac
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000| e-mail:
mail: [email protected]
ANAIS DA VI MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCAv.1,
CESUCA
n. 6 (2012)
13
Download