Orientações não medicamentosas para redução do Colesterol e Triglicérides e prevenção da aterosclerose Introdução Há muito tem sido demonstrado que o aumento do consumo de gordura associa-se à elevação do colesterol e à maior incidência de aterosclerose nas artérias do coração (coronárias) e carótidas. Para se obter sucesso no controle não medicamentoso dos altos níveis de colesterol, LDL-colesterol (“colesterol ruim”) e triglicérides são importantes 5 pontos básicos: 1. Diminuir a ingestão do colesterol e triglicérides; 2. Diminuir a ingestão das substâncias que aumentam em nosso organismo o colesterol, o LDL e os triglicérides; 3. Aumentar a ingestão das substâncias que: - diminuem a absorção intestinal do colesterol, LDL e dos triglicérides em nosso organismo; - diminuem produção do colesterol, LDL e dos triglicérides em nosso organismo; - aumentam a destruição do colesterol, LDL e dos triglicérides em nosso organismo; 4. Aumentar o HDL-colesterol (“bom colesterol”) em nosso organismo; 5. Atividade física regular. 1. Diminuindo a ingestão de Colesterol e Ácidos graxos saturados: Para reduzir a ingestão de colesterol, deve-se diminuir o consumo de alimentos de origem animal, em especial as vísceras, leite integral e seus derivados, embutidos, frios, pele de aves e frutos do mar (camarão, ostra, marisco, polvo, lagosta). Para diminuir o consumo de ácidos graxos saturados, aconselha-se a redução da ingestão produtos de origem animal como leite integral, manteiga, creme de leite, chantilly, queijos gordurosos (provolone, parmesão, mussarela), banha, bacon, sebo, toucinho, gordura das carnes, pele das aves e dos peixes, de gordura animal (carnes gordurosas, leite e derivados), de polpa e leite de coco e de alguns óleos vegetais, como os de dendê. 2. Substâncias que aumentam o Colesterol e Triglicérides em nosso organismo: Ácidos graxos trans: Os ácidos graxos trans são produzidos a partir de óleos vegetais e causam o aumento do LDL-colesterol e redução do HDL-colesterol, aumentando da mesma forma os Triglicérides. A principal fonte de ácidos graxos trans na dieta é a gordura vegetal hidrogenada, utilizada no preparo de sorvetes cremosos, chocolates, pães recheados, molhos para salada, sobremesas cremosas, biscoitos recheados, alimentos com consistência crocante (nuggets, croissants, tortas), bolos industrializados, margarinas duras e alguns alimentos produzidos em redes de “fast-foods”. Não há consenso em relação à quantidade máxima permitida na dieta, no entanto, recomenda-se que a ingestão de gordura trans deva ser menor que 1% das calorias totais da dieta. 3. Substâncias que diminuem o Colesterol e Triglicérides em nosso organismo: A) Ácidos graxos insaturados: Os ácidos graxos polinsaturados (ômega-6 e ômega-3) reduzem o colesterol total, triglicérides e o LDL-colesterol se substituírem na dieta os ácidos graxos saturados, por aumentarem a destruição e diminuírem a produção dos mesmos pelo organismo. O ácido linoléico é essencial para a formação do ômega-6, sendo suas principais fontes alimentares os óleos vegetais de soja, milho, e girassol. Os ácidos graxos ômega-3 são encontrados nos vegetais (soja, canola e linhaça) e em peixes de águas frias (cavala, sardinha, salmão, arenque), promovendo a redução dos triglicérides. Os ácidos graxos monoinsaturados (oléico) exercem o mesmo efeito sobre o colesterol. Suas principais fontes dietéticas são o óleo de oliva, óleo de canola, azeitona, abacate e oleaginosas (amendoim, castanhas, nozes, amêndoas). B) Fibras: As fibras podem ser solúveis ou insolúveis. As fibras solúveis são representadas pela pectina (frutas) e pelas gomas (aveia, cevada e leguminosas: feijão, grão de bico, lentilha e ervilha). Estas fibras diminuem a absorção intestinal do colesterol. O farelo de aveia é o alimento mais rico em fibras solúveis e pode, portanto, diminuir moderadamente o colesterol sangüíneo. As fibras insolúveis não atuam sobre o colesterol diretamente, mas aumentam a saciedade, auxiliando na redução da ingestão calórica. São representadas pela celulose (trigo), hemicelulose (grãos) e lignina (hortaliças). A recomendação de ingestão de fibra alimentar total para adultos é de 20 a 30 g/dia, 5 a 10g destas devendo ser solúveis, como medida adicional para a redução do colesterol. C) Fitosteróis: Os fitosteróis são encontrados apenas nos vegetais e desempenham funções semelhantes ao colesterol em animais. Reduzem o colesterol total por diminuirem a absorção do colesterol no intestino, sendo absorvidos no lugar destes. Uma dieta balanceada com quantidades adequadas de vegetais fornece aproximadamente 200 a 400mg de fitosteróis. No entanto, é necessária a ingestão de 2 g/dia de fitosteróis para a redução média de 10-15% do LDLColestrol. Os fitosteróis não influenciam os níveis de HDL-Colesterol e de triglicérides. D) Proteína de soja: A ingestão de proteína da soja (25 g /dia) pode reduzir o colesterol LDL em até 6%. Onde encontrar: as principais fontes de soja na alimentação são: feijão de soja, óleo de soja, queijo de soja (tofu), molho de soja (shoyo), farinha de soja, leite de soja e o concentrado protéico da soja. Este concentrado exclui a presença de gorduras, mantendo carboidratos e 75% da sua composição em proteínas e é amplamente utilizado como base de alimentos liofilizados e como “suplemento protéico”. E) Antioxidantes: Os antioxidantes, principalmente os flavonóides, impedem que o LDLcolesterol (“colesterol ruim”) cause agressão às artérias, diminuindo o risco de doença arterial coronária. Onde encontrar: principalmente nas verduras, frutas (cereja, amora, uva, morango, jabuticaba), grãos, sementes, castanhas, condimentos e ervas e também em bebidas como vinho, suco de uva e chá. Não há bons estudos científicos, com número suficiente de pacientes que demonstrem a prevenção da aterosclerose com o uso dos suplementos com antioxidantes como, por exemplo, as vitaminas E, C ou beta-caroteno. Não há evidência de que suplementos de vitaminas antioxidantes previnam manifestações clínicas da aterosclerose (infarto agudo do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais), portanto esses não são recomendados. Alimentação rica em frutas e vegetais diversificados fornece doses apropriadas de substâncias antioxidantes, que certamente contribuirão para a manutenção da saúde. F) Redução específica dos Triglicérides: Pacientes com níveis muito elevados de triglicérides devem reduzir a ingestão de gordura total da dieta. Recomenda-se a ingestão de no máximo 15% das calorias diárias na forma de gordura. Na elevação de triglicérides que ocorre em decorrência da obesidade ou diabete, recomenda-se, respectivamente, dieta com poucas calorias, adequação do consumo de carboidratos e gordura, controle dos níveis de açúcar no sangue, além da restrição total do consumo de álcool. 4. Aumentando o HDL-colesterol (o “colesterol bom”): O HDL-colesterol tem a função, em nosso organismo, de “limpá-lo” do “colesterol ruim”, o LDL, evitando seus efeitos indesejáveis nas artérias. O tabagismo está relacionado à queda dos níveis de HDL, sendo indicada a cessação do tabagismo em todos os pacientes com alterações dos níveis de colesterol. A perda de peso também está diretamente relacionada ao aumento dos níveis de HDL, com um aumento de 0,8 mg/dL para cada ponto que se perde de índice de massa corporal. A ingestão de bebidas alcoólicas moderadamente (uma dose no caso das mulheres e duas doses para os homens) propicia o aumento dos níveis do HDL colesterol, com papel especial representado pelo vinho tinto. 5. Atividade física: A atividade física regular auxilia no controle dos altos níveis de colesterol e triglicérides. A prática de exercícios físicos aeróbios promove redução dos níveis dos triglicérides, aumento dos níveis de HDL-colesterol, porém sem alterações significativas sobre as concentrações de LDL-colesterol. Indivíduos com disfunção cardíaca, em recuperação de eventos como infarto agudo do miocárdio ou cirurgias, ou mesmo aqueles que apresentem sintomas aos leves ou moderados esforços, devem iniciar programas de reabilitação cardiovascular supervisionado. O programa de treinamento físico, para a prevenção ou para a reabilitação, deve incluir exercícios aeróbios, tais como, caminhadas, corridas leves, ciclismo, natação. Os exercícios devem ser realizados de três a seis vezes por semana, em sessões de duração de 30 a 60 minutos. Nas atividades aeróbias, recomenda-se que a intensidade seja controlada pela frequência cardíaca, devendo-se manter a mesma entre 60 e 80% da frequência cardíaca máxima (FC Max = 220 - idade). Desta forma, por exemplo, um paciente de 40 anos tem sua frequência cardíaca máxima aceitável de 180 batimentos por minuto. Assim, este paciente, no exercício, deve procurar manter-se com a frequência cardíaca entre 108 e 144 batimentos por minuto. O componente aeróbio das sessões de condicionamento físico deve ser acompanhado por atividades de aquecimento, alongamento e desaquecimento. Exercícios de resistência muscular localizada podem ser utilizados, porém como complemento ao treinamento aeróbio. Tabela - Recomendações dietéticas para o tratamento do colesterol elevado Nutrientes Ingestão recomendada Gordura total 25 a 35% das calorias totais Ácidos graxos saturados ≤ 7% das calorias totais (leite integral, manteiga, creme de leite, chantilly, queijos gordurosos (provolone, parmesão, mussarela), banha, bacon, sebo, toucinho, gordura das carnes, pele das aves e dos peixes, leite de côco) Ácidos graxos trans Menos de 1% (sorvetes, chocolates, pães recheados, molhos para salada, sobremesas cremosas, biscoitos recheados, nuggets, croissants, tortas, bolos industrializados, margarinas duras e alguns alimentos de “fast-foods”.) Ácidos graxos polinsaturados ≤ 10% das calorias totais (óleos vegetais de soja, milho, girassol, canola e linhaça, peixes de águas frias) Ácidos graxos monoinsaturados ≤ 20% das calorias totais (óleo de oliva, óleo de canola, azeitona, abacate, amendoim, castanhas, nozes e amêndoas) Carboidratos 50 a 60% das calorias totais Proteínas Cerca de 15% das calorias totais Colesterol <200 mg/dia Fibras 20 a 30 g/d (frutas, cevada, feijão, grão de bico, lentilha, ervilha e farelo de aveia) Calorias Ajustado ao peso desejável Fontes: 1. IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2007 http://www.apah.org.br/imagens%5Cpdf_diretrizes%5Cdiretriz_de_atheroscl erose.pdf 2. Sadovsky R. American Family Physician 2001. Vol 63 (12). http:/www.aafp.org/afp/20010615/tips/2.html 3. Watts, GF. Treating patients with low high-density lipoprotein cholesterol: choices, issues and opportunities. Curr Control Trials Cardiovasc Med. 2001; 2(3): 118–122. http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=59631 4. Ginsberg HN. Nonpharmacologic management of low levels of high-density lipoprotein cholesterol. Am J Cardiol. 2000; 86 (12A): 41L-45L. 5. Harper CR, Jacobson TA. New Perspectives on the Management of Low Levels of High-Density Lipoprotein Cholesterol. Arch Intern Med. 1999;159:1049-1057 http://archinte.ama-assn.org/cgi/reprint/159/10/1049.pdf 6. Perret B, Ruidavets JB, Vieu C, et al. Consumption Is Associated With Enrichment of High-Density Lipoprotein Particles in Polyunsaturated Lipids and Increased Cholesterol Esterification Rate. Alcoholism: Clinical & Experimental Research. 26(8):1134-1140, August 2002. Editado por: Dr. Bruno Vaz Kerges Bueno