A Realidade Virtual no Tratamento de Fobias em Grandes Centros

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A Realidade Virtual no Tratamento de Fobias em Grandes
Centros Urbanos
ANA PAULA T. WAUKE,1 ROSA MARIA E.M.COSTA,
LUIS ALFREDO V. DE CARVALHO, 1
2
Abstract
This article presents some virtual environments for Phobias treatment. Phobia is an
intense fear of some situations or objects. The Virtual Reality technology has
shown its effectiveness in treating phobias. It has some advantages over exposure in
vivo because Virtual Environments avoid embarrassing situations to the patient,
and it is possible to go beyond reality. It is very difficult for a person who suffers
from phobia to live in a large urban center. In Rio de Janeiro, where are so many
tunnels, it is very difficult for a claustrophobic person to cross the city without
passing through a tunnel. The anxiety level induced for these experiences will be
monitored from physiological responses, verified through cardiac frequency,
arterial pressure and neurophsychological tests to measure the degree of anxiety.
1.Introdução
Nos dias de hoje, um problema que vem afetando muitas pessoas nos grandes centros
urbanos é a síndrome do pânico, que está fortemente relacionada às fobias. A vida agitada
destas cidades, o trânsito, a violência, além de outros fatores estressantes do dia a dia, vêm
gerando um aumento do índice de desenvolvimento de fobias e da síndrome do pânico.
A cidade do Rio de Janeiro, com seus inúmeros túneis, torna mais difícil a vida das
pessoas com claustrofobia, que são levadas a fazer desvios de rotas para evitar passar sob um
desses túneis, tornando seus caminhos mais longos.
Como todo grande centro, esta cidade possui edifícios muito altos, dificultando que as
pessoas fóbicas acessem seus andares superiores, por medo de entrar em um espaço fechado
como os elevadores. Os elevadores panorâmicos também geram problemas em indivíduos
acrofóbicos, que têm medo de altura.
A psicoterapia de exposição dos pacientes aos ambientes reais causadores de fobia é
muito utilizada, porém uma grande dificuldade que se coloca para os psicoterapeutas é o
deslocamento até esses lugares, que associa um alto custo para o tratamento. Ao mesmo
tempo, os pacientes podem se sentir constrangidos de demonstrar seus temores em público e
muitas vezes, estão sujeitos a situações perigosas.
Neste contexto, apesar da exploração da tecnologia de Realidade Virtual (RV), através
dos Ambientes Virtuais (AV) apresentarem resultados promissores no tratamento de fobias,
no Brasil esta área permanece incipiente. A possível utilização dos ambientes desenvolvidos
em outros países mostra-se inadequada, devido as diferenças culturais e arquitetônicas
envolvidas. Logo, percebe-se a necessidade de criação de produtos específicos para o uso aqui
no Brasil.
O objetivo desse artigo é apresentar um conjunto de ambientes virtuais voltados para o
tratamento de pessoas com fobias associadas a vida nos grandes centros urbanos.
Nas próximas seções são abordadas questões relativas à fobia e seu tratamento, e em
seguida, os ambientes são descritos.
2. Fobias
1
2
Coppe-Sistemas/Universidade Federal do Rio de Janeiro ([email protected])
Universidade do Estado do Rio de Janeiro ([email protected])
Segundo Vinclli (Vinclli,2000) fobia é o medo incontrolável que a pessoa sente de determinadas
situações ou objetos, gerando também a ansiedade antecipada, isto é, a pessoa fica ansiosa só em pensar que terá
que se expor ao alvo fóbico. A fobia é diagnosticada se estiver atrapalhando no dia a dia da pessoa e ela admitir
que o medo é exagerado. Pelo DSM -IV (DSM -IV,1994), a fobia é classificada como um transtorno de ansiedade
causado pela exposições a objetos ou situações que geram medo e que acabam levando a pessoa a evitar a
situação ou o objeto causador.
Um outro transtorno que está fortemente relacionado às fobias é o Transtorno do
Pânico, que é o sentimento de medo e pavor (momentâneo) muito mais intenso. Alguns dos
sintomas presentes quando a pessoa tem um ataque de pânico são: falta de ar, palpitação,
tremedeira, sensação de choque, medo de enlouquecer ou perder o controle da situação.
As fobias que serão tratadas nesse contexto são a agorafobia e algumas das fobias
específicas, tais como: acrofobia, que é o medo de altura, e claustrofobia, medo de ambientes
fechados. Segundo os critérios do DSM-IV as fobias estão classificadas como transtornos de
ansiedade, abaixo encontra-se descrita sua classificação:
• Agorafobia – medo de lugares ou situações em que a fuga parece difícil (ou embaraçosa)
ou que a ajuda parece difícil no caso da ocorrência de um ataque de pânico;
• Transtorno do Pânico sem Agorafobia – ataques de pânico inesperados;
• Transtorno do Pânico com Agorafobia – ataques inesperados de pânico e agorafobia;
• Agorafobia sem história de Transtorno do Pânico – presença de agorafobia e alguns
sintomas de pânico sem ataques.
• Fobia Específica – medo persistente de objetos ou situações. A exposição ao objeto ou
situação desencadeia uma resposta imediata caracterizada por uma intensa ansiedade. Os
indivíduos sabem que esse medo é excessivo (exceto crianças). O diagnóstico é
apropriado somente se esse medo ou ato de evitar interfere em sua vida, no seu dia a dia.
• Fobia Social – alta ansiedade provocada por certas exposições a pressões sociais ou de
desempenho.
2.1. Tratamento de Fobias através de Terapias
Em geral, existem diversas terapias para o tratamento das fobias, sendo que a
abordagem mais utilizada é a comportamental. As práticas terapêuticas mais comuns são as de
exposição ao ambiente real, a imaginativa e mais recentemente, a exposição a ambientes
virtuais 3D.
Na terapia de exposição ao ambiente real o psicoterapeuta conduz o paciente ao
ambiente causador da fobia ou que gera a ansiedade antecipada. São realizadas diversas
incursões até que o paciente se acostume com o ambiente. Já na imaginativa, o indivíduo
fóbico deve imaginar o alvo de seu medo e realizar toda a terapia imaginando como se
realmente estivesse no ambiente.
Inicialmente a RV era utilizada apenas em jogos, mas com o aumento da
interatividade e a diminuição do tempo de resposta dos ambientes virtuais, ela passou a ser
alvo de pesquisas, principalmente, no tratamento de fobias (Bullinger, 1998) Neste contexto,
a RV tem mostrado sua eficácia com sucesso em vários trabalhos: um caso interessante foi
descrito por Carlin (Carlin, 1998) que apresenta o tratamento de aracnofobia (medo de
aranhas) com exposições graduadas. Carlin realiza a graduação inicialmente com fotos, para
em seguida expor o paciente a objetos de plástico e finalmente levar a exposição ao ambiente
virtual.
A exposição a um AV tem suas vantagens em relação a exposição ao ambiente real:
custos mais baixos, não submeter o paciente a situações constrangedoras ou perigosas – já que
o terapeuta pode conduzir todo o trabalho em seu consultório, e as exposições serem
graduadas, isto é, permite que aos poucos os fatores que geram a ansiedade possam ser
aumentados ou incluídos, conforme ambiente ou situação. Um aspecto que tem sido de grande
utilidade é a possibilidade de irmos além da realidade, como no trabalho apresentado por
Botella (Botella, 1998) que era composto por uma sala em que as paredes podiam se mover e
diminuir de tamanho até chegar até 1m2, trabalhando os medos associados a ambientes
fechados muito pequenos.
O uso da RV também tem sido eficiente na terapia imaginativa. Como muitas pessoas
têm dificuldade para imaginar o ambiente o AV possibilita a visualização do ambiente sem
esforços extremos.
4. Ambientes Virtuais Urbanos no Tratamento das Fobias
A ambientação dos AV foi projetada baseando-se em situações comuns, encontradas
na maioria dos grandes centros urbanos.
Visando focar a terapia nos indivíduos claustrofóbicos foram incluídos o elevador
convencional, o túnel e um aparelho de ressonância magnética. Um elevador panorâmico e
uma ponte são direcionados para o tratamento das pessoas acrofóbicas. Como a agorafobia
engloba mais de uma fobia, todos os ambientes podem ser direcionados para seu tratamento.
No elevador convencional, apresentado na Figura 1, e no aparelho de ressonância
magnética a terapia de exposição a esses ambientes serão controladas, ou seja, espera-se poder
aumentar o tempo de permanência da pessoa no ambiente, sem muitas alterações fisiológicas.
Figura 1: Elevador convencional - visão externa e frontal e ao lado, a visão interna.
No elevador panorâmico, o paciente só irá para o andar mais acima se a ansiedade diminuir ou estiver
próximo de se estabilizar.
Já o túnel, Figura 2, exibe a visão de dentro do carro percorrendo o túnel. Na ponte haverá uma
graduação com base no fluxo dos carros, isto é, a exposição inicial será sem trânsito e conforme a estabilização
da ansiedade, medida por testes fisiológicos, o tráfego de carros aumentará até haver um engarrafamento.
Para não forçar o paciente a permanecer no ambiente, o que poderia causar uma
ansiedade ainda maior e talvez incontrolável, todos os ambientes possuem um botão para
saída de emergência. No momento em que o paciente desejar interromper a experiência, ele
apertará o botão e será direcionado para fora do ambiente.
Pretende-se verificar a ansiedade dos pacientes ant es, durante e depois das sessões de terapia de
exposição aos ambientes virtuais, os níveis de ansiedade serão analisados através de testes subjetivos e objetivos.
Nos testes subjetivos os pacientes responderão um questionário antes e depois da exposição que indicarão seu
nível de ansiedade. Os testes objetivos consistem em obter informações dos efeitos fisiológicos gerados nos
pacientes durante a exposição, essas informações serão representadas pela coleta de sinais cardíacos, da pressão
arterial e verificação da sudorese.
Figura 2: Túnel - a visão interna do carro que percorrerá o túnel.
5. Comentários Finais
Este artigo apresenta alguns ambientes virtuais voltados para o tratamento de fobias.
Para testá-los, serão selecionados pacientes com fobia específica: claustrofobia, acrofobia e
agorafobia; preferencialmente eles terão o mesmo perfil, não estarão usando medicamentos,
nunca fizeram terapia e não sofrem de epilepsia.
Objetivando-se medir o senso de presença do paciente nas exposição aos AV e
permitir o seu uso futuro em consultórios, serão feitos testes objetivos e subjetivos. Os
objetivos informarão o aumento da ansiedade com alterações nos dados fisiológicos, como
aumento nos sinais cardíacos, na pressão arterial e no suor; os subjetivos demonstrarão a
ansiedade na visão do paciente, como estava se sentindo antes de exposição, como foram suas
reações durante e após as exposições e o que afetou sua fobia. Esses testes serão realizados
em todas as sessões para que se detecte indícios de melhora do quadro clínico destes
pacientes.
Bibliografia
(Botella, 1998) C. Botella, R. M. Baños, C. Perpiñà, H. Villa, M. Alcaniz, A. Rey, Virtual Reality
Treatment of Claustrophobia: a Case Report, Short Communications, Behaviour Research and
Therapy – 36 (1998) 239-246.
(Bullinger, 1998) A. H. Bullinger, A. Roessler, F. M. Spahn, From Toy to Tool: the development of
immersive virtual reality environments for psychotherapy of specific phobia, Virtual Environments
in Clinical Psychology and Neuroscience, (1998)
(Carlin, 1998) A. S. Carlin, H. G. Hoffman, S. Weghorst, Virtual Reality and Tactile Augmentation in
the Treatment of Spiderphobia: a Case Report, Short Communications, Behavior Research and
Therapy – 35 (1998) 153-158.
(DMS,1994) DMS-IV, 1994, “Diagnostic and statistical manual of mental disorders”, American
Psychiatry Association, ed. Washington DC.
(Jang, 2000) D. P. Jang, J. H. Ku, M. Shin, Y. H. Choi, S. I. Kim, Objective Validation of the
Effectiveness of Virtual Reality Psychotherapy, Cyberpsychology & Behavior – 3 (2000) 375-385.
(Vinclli, 2000) F.Vinclli, Y. H. Choi, E. Molinari, B. K. Wiederhold, G. Riva, Experiencial Cognitive
Therapy for Treatment of Panic Disorder with Agoraphobia: Definition of a Clinical Protocol.,
Cyberpsychology & Behavior – 3 (2000) 369-373.
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