Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP . CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA Tel. (11) 92357060 ou (48) 96409331 e-mail: [email protected] EDIÇÃO 1147 – Ano 28; 2ª semana maio 2013. No rabo da cadeia global . JOSÉ MARTINS. Na repartição do valor agregado global, a China fica no limbo, junto com Filipinas, Vietnã e outros promissores emergentes da Ásia, que se limitam a transferir para os dominantes oceanos de mais-valia absoluta na montagem final de glamorosas mercadorias capitalistas. Mais do que Singapura – que não se trata propriamente de uma economia nacional, mas de um entreposto comercial sem muita importância para a dinâmica econômica mundial – a China é a realização mais incrível de integração de uma economia dominada nas cadeias globais de produção do século 21. A sua marca registrada: importar a maior parte do capital constante – materializados em matérias primas, máquinas e equipamentos, peças e insumos intermediários – para depois exportar 37% do seu Produto Interno Bruto (PIB) para o mercado mundial (dados de 2006). Trata-se de uma marca muito elevada para uma grande economia, quando comparada, por exemplo, com os Estados Unidos (8%), Japão (14%) Brasil (12%) e Índia (11%). A parte das exportações de manufaturados nas exportações totais da economia é de mais de 96%. Conhecida como a “fábrica do mundo”, a China é de longe a maior base mundial de montagem de mercadorias, ou de terceirização de manufaturas (manufacturing outsourcing), para as empresas globais dos Estados Unidos, União Europeia e Japão; é base também de terceirização para milhares de pequenas e médias empresas da América Latina e alhures. Isso tem consequências letais para o seu desenvolvimento econômico. Mesmo proporcionando enormes taxas de crescimento econômico e contabilizar (apenas contabilizar, como veremos a seguir) volumes recordes nas exportações mundiais, essa função subalterna da China de economia montadora na divisão internacional do trabalho não é nem um pouco neutra. A mais danosa consequência é que a importação massiva do capital constante e seu emprego na produção com vistas à reexportação reduz significativamente a participação do valor adicionado pelas fabricas chinesas nas exportações nacionais. Isso quer dizer que grande parte do valor adicionado contabilizado nas mercadorias exportadas pela China não é produzido na China. Veja, por exemplo, o conhecido tablet iPod, essa glamorosa mercadoria de consumo, cuja montagem final de seus componentes é encomendada pela empresa global norte-americana Aple 1 para empresas de manufaturas terceirizadas (como a Foxcom de Taiwan e outras) atuando na China, em seguida reexportada para os Estados Unidos. Trabalho de pesquisadores da Universidade da Califórnia oferece brilhante ilustração da complexidade das metamorfoses recentes do mercado mundial e como é difícil, como dito no boletim anterior, compreender essa complexidade se valendo apenas da contabilização tradicional do comércio externo. É mostrado no estudo que, em 2005, o preço de mercado (varejo) do iPod era de $299 dólares e o preço de produção (atacado) era de $ 224 dólares. O componente mais caro era o hard drive, produzido (não montado!) pela Toshiba japonesa e custava $73 dólares. Os outros componentes mais custosos eram o módulo de display ($20); o chip processador de vídeo/multimídia ($8) e o controller chip ($5). Os pesquisadores estimaram que a montagem final, feita na China, custou apenas $4 dólares por unidade.1 Antes de ser exportado pela “Aple chinesa” para a “Aple americana” por $150 dólares, a produção de mais de 451 peças ou componentes do iPod serpenteou por inúmeros países e dezenas de companhias diferentes. Quais países apropriam do valor nesta complexa cadeia global? Depende da capacidade produtiva de cada um deles. De acordo com estimativas dos autores, os $73 dólares do hard drive produzido pela Toshiba, por exemplo, continha aproximadamente $54 de peças e trabalho. Assim, o valor adicionado pela Toshiba ao hard drive foi $19 mais seu próprio custo direto de trabalho. Esse $19 é então atribuído ao Japão, dado que a Toshiba é uma empresa japonesa. Continuando, os pesquisadores examinaram os principais componentes do iPod e calcularam o valor adicionado em diferentes países e etapas do processo de produção para então estabelecer a parte do valor criado em cada um deles. Não é uma tarefa fácil, mas, mesmo preliminarmente, fica bastante claro a parte do leão do valor adicionado no iPod para empresas localizadas nos EUA. Os pesquisadores calculam que do preço de mercado de $299 do iPod, $163 foi apropriado por empresas dos EUA. Rateio de $75 para custos de distribuição e varejo, $80 para a Aple, 8% para diversos fabricantes domésticos de peças; Japão, outro dominante, capturou $26 de valor; a Coreia capturou $1. No rabo da cadeia imperialista global, a China não é citada nesta repartição da mais-valia. Ficou no limbo, junto com Tailândia, Filipinas, Vietnã e outros mequetrefes da Ásia que se limitaram a agregar massas enormes de mais-valia absoluta ao valor final do iPod. É assim que se reparte o butin2 imperialista no funcionamento das modernas cadeias produtivas globais de capitais. 1 Linden. G, Kraemer K., and J. Dedrick, “Who Profits from Innovation in Global Value Chains? A Study of the iPod and notebook PCs ” [Quem lucra com a inovação nas cadeias globais de valor? Um estudo do iPod e PCs notebook ] The Paul Merage School of Business, UC Irvine, working paper. Maio 2008. 2 Do francês: o que é tomado do inimigo após uma disputa ou uma guerra. 2 Para receber semanalmente em seu email análises econômicas como esta que você acabou de ler, assine e divulgue o boletim CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA, do 13 de Maio, Núcleo de Educação Popular, S.Paulo. Em 2013, estamos completando 27 ANOS DE VIDA. Vinte e sete anos informando e educando a classe trabalhadora! ASSINE AGORA A CRÍTICA Ligue agora para (11) 9235 7060 ou (48) 96409331 ou escreva um e-mail para [email protected] e saiba as condições para a assinatura! 3