RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS ORGANIZAÇÕES MÓDULO 2 1. FORNECEDORES 1.1 Seleção, Avaliação e Parceria com Fornecedores ● Critérios de seleção e avaliação de fornecedores ● Trabalho infantil na cadeia produtiva ● Trabalho forçado (ou análogo ao escravo) na cadeia produtiva ● Relações com trabalhadores terceirizados ● Apoio ao desenvolvimento de fornecedores A questão da escolha do fornecedor numa empresa com gestão socialmente responsável passa por questões éticas que devem ser consideradas. Como uma empresa pode ser considerada responsável, se na política de escolha de seus fornecedores utiliza apenas o critério de preço, não considerando a sua responsabilidade social? Se não leva em consideração se seu fornecedor utiliza trabalho infantil, comercializa produtos roubados, faz “meia nota”, não respeita os funcionários, o meio ambiente e a comunidade? Ao aceitar esse fornecedor, ela será conivente com a forma de gestão dele. 1.2 Critérios de Seleção e Avaliação de Fornecedores Para regular suas relações com fornecedores e parceiros, a empresa: A. Possui políticas de seleção e avaliação de fornecedores e parceiros conhecidas pelas partes envolvidas e baseadas apenas em fatores como qualidade, preço e prazo. B. Possui normas conhecidas de seleção e avaliação de fornecedores que contemplam critérios e exigências relativas ao cumprimento da legislação trabalhista, previdenciária e fiscal. C. Além de critérios básicos de respeito à legislação, suas normas de seleção e avaliação de fornecedores incluem critérios específicos de responsabilidade social, como proibição do trabalho infantil, relações de trabalho adequadas e adoção de padrões ambientais. D. Além dos critérios descritos anteriormente, exige que seus fornecedores reproduzam suas exigências quanto à responsabilidade social para seus respectivos fornecedores, e que monitorem esses critérios periodicamente. ● A empresa, ao selecionar fornecedores (ou desenvolver novos fornecedores), inclui como critério a prática efetiva de processos éticos de gestão das informações de caráter privado obtidas em suas relações com clientes ou com o mercado em geral? ● A empresa possui política explícita ou programa específico de responsabilidade social empresarial para a cadeia de fornecedores? ● Discute questões relacionadas à responsabilidade social com seus fornecedores, visando ao treinamento e à adequação deles a seus critérios? ● Exige práticas de responsabilidade social de seus fornecedores, realiza visitas de inspeção dessas práticas? ● Conhece em profundidade a origem das matérias-primas, insumos e produtos utilizados em sua produção ou nas operações diárias e tem a garantia de que nessas origens os direitos humanos e o meio ambiente são respeitados? ● Adota critérios de compra que considerem a garantia de origem para evitar aquisição de produtos “piratas”, falsificados ou frutos de roubo de carga? 1.3. trabalho infantil na cadeia produtiva Nas suas relações com fornecedores e parceiros, a empresa: A. Possui políticas formais com o objetivo de contribuir para a erradicação do trabalho infantil, discute a questão com os fornecedores e os estimula a cumprir a legislação. B. Além de discutir a questão, possui cláusula específica em seus contratos relativa à proibição do trabalho infantil. C. Além de possuir cláusulas específicas em seus contratos que proíbem o trabalho infantil, verifica seu cumprimento. D. Articula programas e atividades que visam erradicar o trabalho infantil em sua cadeia produtiva, incluindo sua proibição nos contratos de seus fornecedores com 2 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes terceiros. A empresa tem como prática proceder periodicamente pesquisa, verificação e relatórios sobre sua cadeia produtiva, realizando inspeções in loco e exigindo documentação com probatória de não existência de mão-de-obra infantil? 1.4. Trabalho Forçado (Ou Análogo Ao Escravo) Na Cadeia Produtiva Nas suas relações com fornecedores e parceiros, a empresa: A. Possui políticas formais com o objetivo de contribuir para a erradicação do trabalho forçado, discute a questão com os fornecedores e os estimula a cumprir a legislação. B. Além de discutir a questão, possui cláusula específica em seus contratos relativa à proibição do trabalho forçado. C. Além de possuir cláusulas específicas em seus contratos que proíbem o trabalho forçado, verifica seu cumprimento. D. Articula programas e atividades que visam erradicar o trabalho forçado em sua cadeia produtiva, incluindo sua proibição nos contratos de seus fornecedores com terceiros. A empresa tem como prática proceder periodicamente pesquisa, verificação e relatórios de avaliação e acompanhamento de seus fornecedores, exigindo documentação comprobatória de não existência de mão-de-obra forçada? 1.5. Relações Com Trabalhadores Terceirizados Em suas relações com trabalhadores terceirizados e/ou com os fornecedores desses serviços, a empresa: A. Mantém relação contratual dentro dos parâmetros legais de coresponsabilidade pelo cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias. B. Monitora periodicamente o cumprimento dos requisitos estabelecidos, exigindo que sejam feitos ajustes que garantam o correto cumprimento da legislação. C. Além de monitorar o cumprimento da legislação, negocia com seus fornecedores para que proporcionem a seus empregados níveis salariais compatíveis com as médias de mercado. D. Oferece ao trabalhador terceirizado as mesmas condições de saúde e segurança e o acesso a benefícios básicos gozados pelos empregados regulares, como transporte, alimentação, creche, ambulatório etc. A empresa integra os trabalhadores terceirizados a seus programas de treinamento e desenvolvimento profissional? 3 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes Possui política de integração dos trabalhadores terceirizados com a cultura, valores e princípios da empresa? 1.6. apoio ao desenvolvimento de fornecedores 1.6.1 Com relação a fornecedores de igual ou menor porte, a empresa A. Negocia com transparência e estabelece relações contratuais apenas com base em critérios comerciais. B. Contribui para a melhoria do padrão gerencial dos parceiros, disponibilizando informações e promovendo atividades conjuntas de treina mento. C. Além de contribuir para a melhoria gerencial dos parceiros, mantém com eles relações comerciais duradouras e utiliza critérios de negociação que consideram seu crescimento futuro. D. Além de contribuir para o crescimento de seus fornecedores de igual ou menor porte, estimula e facilita seu envolvimento em projetos sociais e ambientais. A empresa inclui entre seus fornecedores indivíduos ou grupos da comunidade, tais como cooperativas, associações de bairro e organizações com projetos de geração de renda para grupos usualmente excluídos (populações indígenas, pessoas com deficiência etc.)? ● Apoia organizações que praticam e promovem o Comércio Justo? ● Tem como norma o tratamento justo aos fornecedores, privilegiando o pequeno fornecedor (com remuneração justa e em dia, qualidade na relação, programas de qualificação e de transferência de tecnologias etc.)? ● Estimula a formação de redes ou cooperativas de fornecedores, ajudando-os a se adequar a novos padrões de fornecimento? ● Tem política de compras que privilegie fornecedores com certificação sócioambiental (como SA800034, ISO 1400035, FSC36, FLO37 etc.)? ● Tem mecanismos formais que permitam que sejam transferidos para a cadeia de fornecedores seus valores e princípios, tais como boas condições de trabalho, ausência de mão-de-obra infantil e escrava, proteção ao meio ambiente, equidade de gênero, transparência, participação e prestação de contas? 2. CONSUMIDORES E CLIENTES 2.1. DIMENSÃO SOCIAL DO CONSUMO ● Política de comunicação comercial ● Excelência do atendimento ● Conhecimento e gerenciamento dos danos potenciais dos produtos e serviços 4 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes Outra questão importante na gestão socialmente responsável é a política que a empresa tem em relação aos seus clientes. Como a empresa considera seus clientes? Como alguém que, ao comprar seus produtos, não tem mais responsabilidade sobre os produtos, seu uso, seu descarte, seus perigos, sua qualidade, sua garantia? Considera que a partir da compra o problema é do cliente? Como a empresa utiliza a comunicação com os clientes, a propaganda, o atendimento ao consumidor? Como uma forma de enganar e “enrolar”, violando o Código de Defesa do Consumidor? Todas essas questões são trabalhadas na disciplina de Marketing, que propõe uma postura responsável na relação com os clientes. 2.2. POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO COMERCIAL Considerando a influência de sua política de comunicação comercial na criação de uma imagem de credibilidade e confiança, a empresa: A. Focaliza suas estratégias de comunicação nos objetivos relacionados a volume de vendas e resultados financeiros de curto prazo. B. Tem uma política formal de comunicação alinhada com seus valores e princípios, abrangendo todo o seu material de comunicação, tanto interno quanto externo. C. Além de ter uma política de comunicação abrangente e alinhada com seus valores e princípios, procura estimular a comunicação dos clientes e consumidores 5 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes com a empresa e esclarecer aspectos inovadores ou controversos de seus produtos e serviços, bem como alertar para eventuais efeitos prejudiciais e cuidados necessários ao seu uso. D. Além de ter uma política de comunicação e esclarecer e alertar para cuidados necessários ao uso de seus produtos e serviços, desenvolve parceria com fornecedores, distribuidores, assistência técnica e representantes de consumidores visando criar uma cultura de responsabilidade e transparência na comunicação com consumidores e clientes. ● A empresa atualiza sempre que necessário o material de comunicação destinado aos consumidores/clientes (como rótulos, embalagens, bulas, manuais de operação, instruções de uso, termos de garantia e peças publicitárias, entre outros) para tornar mais transparente o relacionamento e mais seguro o uso de seus produtos? ● Chama a atenção do cliente/consumidor para alterações nas características de seus produtos ou serviços (composição, qualidade, prazos, peso, preço etc.)? ● Tem política formal contra propaganda que coloque crianças, adolescentes, negros, mulheres ou qualquer indivíduo em situação preconceituosa, constrangedora, desrespeitosa ou de risco? ● Realiza análise prévia de peças publicitárias para verificar a conformidade com seus valores éticos e com a legislação de defesa do consumidor? ● Não se utiliza da demonstração dos defeitos ou deficiências dos produtos ou serviços dos concorrentes para promover seus produtos ou serviços? 2.3. EXCELÊNCIA DO ATENDIMENTO Quanto a seu compromisso com a qualidade dos serviços de atendimento ao consumidor/cliente, a empresa: A. Possui um atendimento básico receptivo, amplamente divulgado, focado na informação e na solução de demandas individuais. B. Proporciona fácil acesso do consumidor/cliente ao serviço de seu interesse, registra e comunica internamente as manifestações dele, resolvendo rápida e individualmente as demandas e orientando-o sobre os procedimentos adota dos. C. Além de registrar as manifestações e resolver rapidamente as demandas, possui processos que incluem a procura das causas dos problemas e a utilização dessas informações para aprimorar a qualidade dos produtos e serviços. D. Atua pro ativamente no estabelecimento de canais de comunicação gratuitos e de fácil acesso para o consumidor/ cliente e incorpora as manifestações e expectativas dele no desenvolvimento de produtos e serviços e na revisão do material de comunicação. ● A empresa tem um ombudsman do consumidor ou função similar? ● A empresa oferece Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) ou outra forma de 6 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes atendimento especializado para receber e encaminhar sugestões, opiniões e reclamações relativas a seus produtos e serviços? ● A empresa promove treinamento contínuo de seus profissionais de atendimento para uma relação ética e de respeito aos direitos do consumidor? ● A empresa treina e incentiva seu profissional de atendimento a reconhecer falhas e agir com rapidez e autonomia na resolução de problemas? ● A empresa adverte continuamente seu profissional de atendimento e áreas correlatas sobre a importância de procedimentos éticos na obtenção, manutenção e uso das informações de caráter privado resultantes da interação com seus consumidores, clientes ou usuários? ● O serviço de atendimento a consumidores/clientes é acompanhado por indicadores e tem representação nos processos de tomada de decisão da empresa? ● Ao vender produtos e serviços, a empresa utiliza somente argumentos verdadeiros para o convencimento do consumidor ou cliente? ● A empresa tem política explícita de não-suborno para obtenção de decisão de compra de produtos ou contratação de serviços? 2.4. Conhecimento E Gerenciamento Dos Danos Potenciais Dos Produtos E Serviços Quanto ao conhecimento e gerenciamento dos danos potenciais de seus produtos e serviços, a empresa: A. Realiza esporadicamente estudos e pesquisas técnicas sobre danos potenciais de seus produtos e serviços para os consumidores/clientes. B. Realiza estudos e pesquisas técnicas sobre riscos potenciais e divulga tais informações para parceiros comerciais, adotando medidas preventivas ou corretivas com agilidade. C. Disponibiliza informações detalhadas e treina o pessoal interno e os parceiros externos para adotarem medidas preventivas e corretivas com agilidade e eficiência, tendo um compromisso de transparência, inclusive com o consumidor, e integração de iniciativas em situações de crise. D. Faz pesquisas e interage com fornecedores e distribuidores, consumidores, concorrentes e governo para um contínuo aperfeiçoamento dos produtos e serviços, substituindo componentes, tecnologias e procedimentos para minimizar riscos à saúde e à segurança, evitar danos morais e garantir a privacidade do consumidor/cliente. ● A empresa mantém programa especial com foco em saúde e segurança do consumidor/cliente de seus produtos e serviços? ● Possui sistemas internos ágeis e capacita sua área de comunicação externa para responder com rapidez e transparência a situações de crise? 7 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes ● Foi, nos últimos três anos, processada pelo não-cumprimento de regulamentos relacionados à saúde e à segurança do consumidor/cliente? ● Tem serviços/produtos proibidos em outros países e ainda comercializados no Brasil ou exportados? ● Possui uma política formal de proteção à privacidade e/ ou um sistema de gestão das informações privadas do consumidor, cliente ou usuário? ● Informa ao cliente o propósito da coleta de informações pessoais antes de fazê-la? ● Solicita apenas informações pessoais relevantes e não além dos objetivos para os quais declara serem necessárias? ● Fornece informações cadastrais do cliente a terceiros apenas mediante a autorização dele? ● Possui uma política que permite ao consumidor, cliente ou usuário a inclusão, alteração e exclusão de seus dados do banco de informações da empresa? ● Possui registros de reclamação por desrespeito à privacidade do cliente e os avalia periodicamente? 3. Comunidade Relações com a comunidade local ● Gerenciamento do impacto da empresa na comunidade de entorno ● Relações com organizações locais Ação social ● Financiamento da ação social ● Envolvimento da empresa com a ação social 8 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes A empresa socialmente responsável tem consciência do impacto que produz na comunidade, tanto no entorno onde está instalada como também na comunidade local e global. Como a empresa interfere na comunidade onde está instalada, no comércio local, no trânsito, na poluição, na segurança, na saúde? A gestão responsável procura minimizar este impacto participando da comunidade local. Na relação com a comunidade como um todo, como a empresa pode contribuir para melhorar a situação de vida das pessoas, contribuindo com a educação, saúde, lazer, cultura etc.? Para conseguirem atuar na comunidade, as empresas constroem parcerias com organizações do chamado terceiro setor e organizações sociais, sem fins lucrativos, conhecidas como ONGs. 3.1. Gerenciamento Do Impacto Da Empresa Na Comunidade De Entorno Considerando seus possíveis impactos na vida da comunidade (demanda sobre centros de saúde e lazer, creches, transporte público, tráfego de veículos etc.), a empresa: A. Procura tomar medidas reparadoras em resposta a reclamações e manifestações da comunidade. 9 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes B. Conhece em profundidade seus impactos na comunidade, possui processo estruturado para registrar reclamações e promove reuniões sistemáticas para informar lideranças locais sobre providências tomadas. C. Possui uma política formal de antecipar-se a demandas da comunidade e informá-la sobre atuais e futuros planos e impactos de suas atividades, e envolve a comunidade na resolução dos problemas. D. Além de possuir uma política formal de relacionamento com a comunidade, mantém comitês permanentes ou grupos de trabalho com a participação de lideranças locais para analisar suas atividades e monitorar seus impactos. A empresa reconhece a comunidade em que está presente como parte interessada importante em seus processos decisórios? ● Participa ativamente da discussão de problemas comunitários e do encaminhamento de soluções? ● Contribui com melhorias na infra-estrutura ou no ambiente local que possam ser usufruídas pela comunidade (habitações, estradas, pontes, escolas, hospitais etc.)? ● Tem programa para empregar, nas respectivas atividades e na medida praticável, o maior número de pessoas do local, dando-lhes formação, com o objetivo de aumentar os níveis de qualificação da comunidade em que está inserida, em cooperação com sindicatos, ONGs, representantes da comunidade ou autoridades públicas competentes? ● Tem práticas de compras e de investimentos para aprimorar o desenvolvimento socioeconômico da comunidade em que está presente? ● Conscientiza e treina seus empregados para respeitarem os valores e tradições da comunidade onde atua? ● Nos últimos anos, a empresa recebeu reclamações ou manifestações da comunidade (petições, abaixo-assinados, protestos) por excesso de lixo, geração de mau cheiro, efluentes e outras formas de poluição (sonora, visual etc.), por excesso de tráfego de veículos, causando barulho e transtorno, por interferência em sistemas de comunicação? 3.2. Relações Com Organizações Locais Com relação às organizações comunitárias, ONGs e equipamentos públicos (escola, postos de saúde etc.) presentes no seu entorno, a empresa: A. Conhece superficialmente suas atividades e responde pontualmente a eventuais pedidos de apoio. B. Participa da vida associativa local e apoia várias entidades com doações, financiamento e implementação de projetos, divulgando experiências bem-sucedidas. C. Capacita lideranças envolvidas, mantém parcerias de longo prazo com entidades da comunidade local e participa da elaboração e implantação de projetos 10 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes conjuntos. D. Além de parcerias com entidades locais, busca influenciar políticas públicas, estabelecendo alianças e participando de diversas redes a fim de maximizar sua contribuição para o desenvolvimento local. A empresa faz um levantamento das necessidades locais antes de desenhar seus projetos na comunidade, realiza na comunidade, em conjunto com organizações locais, campanhas educacionais e/ou de interesse público? A empresa pode criar e desenvolver projetos que envolvam a comunidade diretamente ou criando parcerias com organizações sociais que já estão trabalhando com os mesmos objetivos definidos por ela. Podem ser projetos de melhorar a educação ou proporcionar mais lazer, cultura, saúde, esporte para as diferentes faixas etárias. Algumas empresas têm criado departamentos específicos para administrar as parcerias e investimentos, outras têm criado uma organização específica, como um instituto ou fundação, que funcionam como seu “braço social” (Instituto Pão de Açúcar, Instituto C&A, Fundação Itaú Social, Fundação Ford etc.). Vamos ver alguns conceitos das organizações do terceiro setor, que são organizações sem fins lucrativos, com objetivos sociais, com as quais as empresas criam parcerias. 3.2.1. Organizações do terceiro setor: seus organismos e funções sistêmicas Artigo baseado na dissertação apresentada ao programa de Mestrado em Administração da Universidade Paulista – UNIP. 11 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes Professor: José Américo Zelito Sampaio Orientador: Prof. Dr. Sérgio Batista Zaccareli Como no mundo biológico, a maioria das organizações do terceiro setor, quando é criada por um pequeno grupo de pessoas buscando alguma ação no ecossistema, motivadas pela indignação, funciona como uma célula, com todas as suas macromoléculas com suas funções específicas. Enquanto ela é apenas uma, relaciona-se com o sistema maior retirando energia e a transformando e devolvendo de diversas formas, de acordo com sua missão transformadora. O desenvolvimento dessa célula e sua multiplicação dependerão de sua capacidade de retirar cada vez maior energia do ecossistema e dos seus resultados como órgão transformador do ecossistema. Na medida em que essa célula se desenvolve, ela se multiplica em outras células com funções específicas, mas pertencentes ao mesmo órgão. A partir da célula responsável por reciclar e transformar a energia retirada, surgem duas novas células. Uma delas tem como função retirar energia do ecossistema de maneira cada vez mais organizada e gerir essa energia de forma eficaz para que a célula de reciclagem possa atingir seu objetivo. Essa nova célula formará o sistema administrativo, que terá novos tamanhos e subsistemas na razão do crescimento de todo o organismo. Ao mesmo tempo, da mesma célula de onde se desenvolveu a célula administrativa, a célula da missão, surge outra, carregando todas as características do raciocínio, que proporcionará ao órgão a direção que ele terá que tomar para continuar seu desenvolvimento e evitar sua destruição. Essa nova célula chamaremos de conselho. Ela é formada por um grupo de pessoas que tem como função definir caminhos e prever perigos. Essa é a estrutura básica de funcionamento das organizações do terceiro setor. Independentemente de sua missão no ecossistema, pode ser apresentada por estes três subsistemas: o conselho, a administração e o subsistema responsável por atingir a atividade-fim. Cada um deles interage na busca pela realização da missão da organização, como pontos de apoio e de direção. Esse organismo, com seus subsistemas, tem como ponto de ligação, ou elemento catalisador, o executivo principal, que proporciona que a organização cumpra sua missão, através de sua liderança. Podemos criar um paralelo relacionando a função do diretor executivo como sendo a função das enzimas nas células. Elas são proteínas com atividades catalíticas, consideradas as unidades funcionais do metabolismo celular. 12 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes O subsistema missão é composto pelos sistemas que proporcionam a operacionalização e realização da missão da organização. Ele dará o output final para a sociedade. Nos conceitos tradicionais de administração, poderíamos considerar que é a produção do serviço, se não fosse a existência de uma diferença básica: esse serviço não é trocado com o mercado, mas sim doado. Conforme Kotler, no terceiro setor não existe uma transação, mas sim uma transferência. Nesse subsistema se encontra a equipe técnica, responsável pela mudança, pela missão da organização. Em alguns casos existe a atuação dos voluntários. Suas características são singulares, cada organismo tem sua missão e sua forma de atingila, ficando impossível tentar classificá-los dadas as inúmeras possibilidades de resolver cada problema. Com o desenvolvimento dessa célula, os aspectos administrativos, até então tratados pelo bom senso e amadoristicamente, se transformam em uma nova molécula, responsável pelos aspectos administrativos. ● Administração: Essa célula, como podemos ver nas observações de Hudson (1999), quando compara as formas de administração, não é muito diferente da administração das organizações do primeiro ou segundo setores. A diferença está nos aspectos circunstanciais que este setor apresenta. Uma outra forma de combinações genéticas também é apresentada no artigo de Andres Pablo Falconer “A promessa do terceiro setor”, quando desenvolve o assunto de gestão do setor diante das teorias de administração modernas. A comparação da especificidade de características entre o terceiro setor e os demais setores é apresentada no artigo, citando as oito distinções principais de O’Neill. ● Propósito/Missão: Ganhar dinheiro, para organizações sem fins lucrativos, é subsidiário ao propósito de prover algum bem ou serviço, enquanto para as empresas privadas a provisão de produtos ou serviços tem por objetivo gerar dinheiro. ● Valores: Todas as organizações têm valores próprios, mas em nenhum setor os valores são tão centrais aos propósitos quanto no terceiro setor. ● Aquisição de recursos: Empresas normalmente obtêm recursos através da venda de produtos e serviços; órgãos governamentais obtêm a maior parcela de seus recursos através de impostos; organizações do terceiro setor recebem dinheiro das 13 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes mais variadas fontes: vendas de serviços, doações de indivíduos, grants de fundações, empresas e governo, resultados de investimentos patrimoniais etc. A aquisição de recursos no terceiro setor é, portanto, uma tarefa altamente complexa e demandante de uma variedade de técnicas e conhecimento. ● Botton line (resultados): No terceiro setor não há a mesma clareza existente no mercado quanto ao que representa um bom resultado e quais são os melhores indicadores de eficiência e eficácia. ● Ambiente legal: A legislação que incide sobre o terceiro setor difere significativamente das leis dos outros setores, particularmente no que diz respeito à aplicação dos recursos e à tributação. ● Perfil do trabalhador: No terceiro setor, uma parcela do trabalho é realizada por voluntários não remunerados. O tipo de atividade realizada, o nível de qualificação dos trabalhadores e a forma de remuneração diferem no terceiro setor da realidade do mercado e do Estado. ● Governança: A estrutura de poder e tomada de decisão no terceiro setor atribui um papel importante ao conselho da entidade, formado por voluntários que não devem se beneficiar dos resultados da organização. A relação entre o conselho e o corpo profissional tende a ser mais próxima do que ocorre no Estado e no mercado. ● Complexidade organizacional: O’Neill argumenta que uma nonprofit é tipicamente mais complexa do que uma organização empresarial, no tipo e variedade de serviços prestados, na relação com múltiplos públicos, na dependência de fontes de recursos e outras dimensões. Segundo a análise das características apresentadas nesses subsistemas, elas não fazem com que as funções de administração no terceiro setor sejam diferentes daquelas de qualquer outro tipo de organização, mas o perfil do terceiro setor reveste essas funções de atribuições específicas que requerem de seus subsistemas conhecimentos, habilidades, atitudes e valores específicos. Da mesma forma que o subsistema da missão, o subsistema administrativo terá a complexidade exigida pelo tamanho e a função da organização, determinada também por aspectos cronológicos. A pequena célula que age no ecossistema, tentando modificá-lo, vai se desenvolvendo, se multiplicando em função dos resultados atingidos e da sensibilidade do sistema maior em aceitá-lo, incorporando sistemas administrativos comuns, como RH, financeiro, marketing, além de sistemas específicos da área, como é o caso da captação de fundos, responsável por buscar energia para sua existência no ecossistema. Com essa multiplicação das células, esse organismo necessita de um elemento que o deixe unido, sem perder sua função original, e que funciona como um elemento de ligação entre as células, responsável pela existência do todo, do organismo. ► Diretor executivo – agente catalisador A importância desse elemento catalisador nas organizações do terceiro setor é apresentada por Simone de Castro Tavares Coelho como sendo uma característica do setor, a influência determinante das lideranças no perfil das organizações. Geralmente, a influência dos diretores executivos nas decisões e definições da 14 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes entidade é encarada como normal, pois no cotidiano são eles que tomam as decisões, propõem e implementam atividades. Peter Drucker, quando escreve sobre o terceiro setor, também apresenta como relevante a influência do líder nessas organizações, considerando como a tarefa mais importante do líder de uma organização a de prever a crise. Talvez não evitá-la, mas prevê-la. A capacidade do líder está em tornar a organização capaz de prever a tempestade, resistir a ela e, na verdade, estar adiante dela. Isto é chamado de inovação, de renovação constante. Você não pode evitar uma grande catástrofe, mas pode construir uma organização preparada para a batalha, com moral elevado e que já tenha enfrentado crises, que saiba como se comportar, tenha autocon fiança e na qual as pessoas confiam umas nas outras (p. 7). Outra consideração de Drucker em relação ao líder da organização é que o executivo de uma instituição sem fins lucrativos não trata com um público dominante, como acontece normalmente em organizações que visam ao lucro, que têm como público constituinte final o acionista e, no governo, o eleitor. O líder terá que tratar com uma multiplicidade de públicos, os conselheiros, que provavelmente estão intensamente envolvidos na operação da agência. Em organizações sem fins lucrativos, não basta ser adequado como líder. Você precisa ser excepcionalmente bom, porque sua agência será comprometida com uma causa. Você quer como líder pessoas que têm em alta conta as funções da agência, que levam a sério não a si mesmas, mas seus papéis. Qualquer pessoa que ocupa essa posição de liderança e pensa que é um grande homem ou uma grande mulher acabará consigo mesma – e com a agência (p. 13). Em minha opinião, os líderes mais eficazes nunca dizem “Eu”. E não é porque eles treinaram para não fazê-lo. Eles não pensam em “Eu”. Eles pensam em “nós”; pensam em “equipe”. Eles compreendem que sua função é de fazer a equipe funcionar. Eles aceitam a oportunidade e não fogem a ela, mas a equipe leva o crédito. Há uma identificação (muitas vezes inconsciente) com a tarefa e com o grupo. É ela que cria confiança, que possibilita a execução da tarefa (p. 13). Para Drucker, a importância do líder está baseada na sua principal tarefa, a de equilibrar o longo prazo, do curto prazo, e trabalhar os pequenos detalhes, não ver somente o quadro geral, mas não esquecer a pessoa que está lá. Um outro problema que Drucker considera ainda mais difícil de tratar é equilíbrio entre a concentração de recursos em uma meta e uma diversificação suficiente. Outra situação de busca de equilíbrio que o executivo tem que decidir está relacionada entre a oportunidade e o risco. É para essas decisões de busca de equilíbrio que as instituições sem fins lucrativos necessitam de líderes, remunerados ou não. Com a posição de Drucker, analisando a função do líder, completa-se a afirmação de Simone de Castro, que considera líder fundador, o idealizador, a pessoa mais importante para sucesso da organização. A liderança, nos termos que Drucker apresenta, deverá ser a continuação dos objetivos definidos pelo fundador, sendo ele remunerado ou não. Isso se deve ao fato de que a organização, como vimos no início do trabalho, teve como motivação para sua fundação a indignação com relação a alguma questão de um grupo de pessoas com seu líder, que a personaliza e que muitas vezes será o paradigma da organização enquanto ela existir. Isso acontece normalmente no início 15 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes da vida da organização. De certa forma, pelo aspecto biológico, podemos insinuar que esse será o DNA da organização. ► O Conselho Além do aspecto funcional, as regras jurídicas para a constituição de uma entidade sem fins lucrativos, assim como outras exigências, estabelecem duas obrigatoriedades, que interferem diretamente na gestão da entidade: elas deverão ter um conselho, cujos membros não podem ser remunerados direta ou indiretamente nem obter lucro com as atividades desenvolvidas pela organização, e ter um estatuto contendo as regras estabelecidas de funcionamento e de organização. Na pesquisa realizada por Simone de Castro, foi constatado que a existência do estatuto é pro forma, apenas para cumprimento de uma exigência legal. Esse documento é engavetado e impera a prática cotidiana na definição dos procedimentos. Entretanto, continua, os conselhos diretivos funcionam, embora de forma esporádica. A fórmula de funcionamento mais comum encontrada nessa pesquisa era composta de uma assembleia geral, um conselho fiscal e uma diretoria executiva. A assembleia geral é composta pelos sócios e, eventualmente, por representantes da comunidade, e tem como competência básica aprovar as diretrizes gerais de funcionamento da entidade, eleger a diretoria executiva e o conselho fiscal e aprovar a prestação de contas anual apresentada pelo conselho fiscal. Para Hudson, os conselhos têm funções especiais. É um grupo poderoso que estabelece a missão, fixa objetivos, nomeia a equipe e monitora o desempenho. O conselho está no topo da hierarquia e é responsável por todas as ações da organização. O conselho se reúne sem muita frequência e se preocupa geralmente com assuntos e crises de curto prazo, tornando-se, na prática, muitas vezes dependente da equipe técnica, nas informações e aconselhamento e principalmente na preparação de planos e estratégias que vai aprovar. A equipe técnica não só controla o conselho, como frequentemente exerce um papel significativo na determinação de seu grupo de membros (...). Assim, achar que o conselho representa o poder está um tanto longe da realidade. Na prática, muitos conselhos dependem mais da equipe técnica do que esta do conselho. Mas este não precisa ser necessariamente o caso. Alguns conselhos exercem a função de liderança. Valorizam a organização ao propor questões, antecipar e proporcionar conhecimentos. Preocupam-se com a visão da organização, seus valores, cultura e realiza ções. Prestam atenção especial ao desenvolvimento de um conselho forte que não apenas planeje a sucessão, mas que contribua para o desenvolvimento das pessoas que agrega. (...) Comparam favoravelmente com aqueles que tentam controlar detalhes e geralmente acabam não podendo enxergar a floresta por causa das árvores (p. 23). Baseado na ideia dos membros eficientes, Hudson descreve a atividade do conselho como complexa e sutil, realizando funções bastante diferenciadas: ● Administrar a organização; ● Delegar responsabilidades para a organização; ● Resolver conflitos entre diferentes grupos de patrocinadores; 16 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes ● Aconselhar os administradores. Numa visão simplista, o conselho tem a função bem definida de estabelecer políticas, e a função da equipe técnica é implementar essas políticas, o que não se aplica totalmente na prática. Peter Drucker, quando entrevista o Dr. David Hubbard, apresenta um exemplo de conselho eficaz quando responde sobre o papel do conselho: Um conselho precisa saber que possui a organização, mas não para seu benefício próprio – como conselho – mas para benefício da missão que essa organização deve desempenhar. Os membros do conselho não a possuem como se fossem acionistas; eles a possuem porque se importam com ela. Eu diria que existe frequentemente um mal entendido entre os conselhos a respeito do significado dessa propriedade. Na verdade eles possuem a organização em parceria, porque ela, em certo sentido, também pertence a outros (p. 123). Mais à frente na entrevista, quando Drucker pergunta sobre a função do conselho, na questão da liderança na captação de fundos para a organização: Na verdade, podemos falar especificamente a respeito de como eu vejo cada uma das funções de um membro do conselho. Os membros do conselho são governadores. Quando se sentam ao redor da mesa e votam, eles governam a instituição. Os membros do conselho são patrocinadores e aqui chegamos ao seu papel na doação e no levantamento de fundos. Eles são embaixadores – interpretando a missão da instituição, defendendo-a quando está sob pressão, representando-a em sua comunidade. Finalmente, eles são consultores: quase todo curador possui alguma experiência profissional cuja contratação seria dispendiosa. Posso chamar certos curadores e fazer uma pergunta de ordem legal, administrativa ou educacional e obter uma reação quase instantânea. Governados, patrocinados, embaixador e consultor são quatro papéis principais (p. 126). Essa mesma ideia apresentada por Drucker, governar a organização, é desenvolvida por Hudson, quando define as principais funções dos conselhos. Os conselhos são responsáveis pela determinação da missão e objetivos, pela estratégia e pelo monitoramento do desempenho versus os planos acordados, além de estar atentos para as mudanças do ambiente externo, assegurando que a organização esteja direcionada para reagir às novas circunstâncias. Outra função apresentada por Hudson é a responsabilidade por todo o trabalho da organização, pela contratação do pessoal de alto nível e, dependendo da natureza da organização, é o conselho quem responde aos membros e aos financiadores. A terceira função do conselho é resolver conflitos dentro da organização, visto que essas organizações são alianças de pessoas com interesses variados. O mais importante para o conselho é concentra r seus esforços nas funções relevantes que ninguém mais possa resolver. Este é o erro mais comum cometido pelos conselhos: gastar tempo em atividades que devem ser delegadas aos funcionários. Para separar os papéis do conselho e da equipe técnica, a proposta de Hudson é pensar em termos das funções distintas de governo e administração. 17 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes A distinção entre governo e administração não é clara, não pode ser definida com exatidão, mas as funções mais importantes do conselho são diferentes das tarefas executadas pelo pessoal remunerado. Governar é responsabilidade do conselho. Trata-se de assegurar que a organização tenha uma missão e estratégia claras, mas não necessariamente desenvolvê-las. Trata-se de assegurar que a organização seja bem dirigida, mas não necessariamente administrá-la. Trata-se de dar orientação na distribuição de recursos, porém, com menor preocupação em relação a cifras precisas. Governar e assumir responsabilidade pelo desempenho da organização, mas sem interferir nos detalhes do sistema de monitoração do desempenho. O governo preocupa-se, em última análise, em proporcionar percepção, conhecimento e um bom julgamento. Os conselhos precisam encontrar meios de fornecer esses elementos, que vão além de estabelecer políticas abstratas, repletas de boas in tenções, mas de pouco uso prático (p. 25). Para que esse equilíbrio entre o conselho e a equipe técnica aconteça, é necessário que ambos sejam fortes, com uma equipe eficiente, necessitando menos intervenção do conselho, e que este seja formado por pessoas dedicadas que disponibilizam voluntariamente seu tempo para governar. ► Comparando os Conselhos Essa é provavelmente a maior diferença entre um conselho de uma empresa que tem fins lucrativos e uma organização do terceiro setor. No artigo de F. Warren McFarlan, apresentam-se as diferenças entre os conselhos dos dois setores. Apesar da similaridade aparente, a governança do setor privado e do setor sem fins lucrativos é bem diferente, e essa diferença está em “como” os dois setores avaliam e desenvolvem suas missões e como esses resultados são avaliados. Somente os resultados financeiros, por exemplo, não são suficientes para avaliar o sucesso da organização. Quanto ao número de membros, a célula semelhante das empresas com fins lucrativos é formada por um número que varia de 8 a 14 membros, que são escolhidos em três tipos de pessoas: líderes de corporações similares, especialistas em tecnologia relevante para o negócio e pessoas com bons contatos políticos. No terceiro setor, o conselho é composto por um número muito maior, pois eles necessitam de muito mais representantes da comunidade, especialmente possíveis doadores. Para ficarem mais claras as diferenças de características de cada setor, no quadro a seguir, Warren MacFarlan aponta cinco variáveis e suas diferenças. 18 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes Essa comparação entre os conselhos é importante para a análise das organizações do terceiro setor. A partir da célula única, quando acontece o ciclo de divisão celular e se desenvolve uma nova célula duplicando seu DNA, transportando as suas características genéticas, pode acontecer de estar-se criando uma célula geneticamente modificada, usando os DNAs do segundo setor, o que poderá ser a sua morte. 3.3. Financiamento Da Ação Social O financiamento da ação social da empresa é baseado em: A. Verba variável, administrada arbitrariamente por diretor ou gerente, em resposta a solicitações externas. B. Verbas definidas em orçamento anual, geridas com transparência por comitê ou grupo de trabalho, conforme critérios preestabelecidos. 19 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes C. Programa social estruturado ou investimento social privado, gerenciado por equipe especializada, com dotação orçamentária estável e com público, metas e estratégias definidos. D. Programa social estruturado ou investimento social privado que conta com mecanismo próprio para a geração de receita, estando assegurada sua continuidade a longo prazo (fundo patrimonial e/ou percentual fixo sobre o faturamento da empresa). Para entendermos sobre o financiamento de ações sociais que uma empresa pode desenvolver, vamos utilizar os conceitos de investimento social corporativo apresentados pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS (www.idis.org.br). Entende-se como Investimento Social Corporativo a doação voluntária das empresas em forma de recursos financeiros, em espécie, humanos, técnicos e gerenciais, voltada para o benefício público. O investimento social planejado e estruturado pode trazer inúmeros benefícios para a organização e seus stakeholders e causar um impacto mais efetivo na população beneficiária. Cada vez mais, as empresas precisam se preparar para fazer investimentos e doações de forma estratégica, com foco de atuação em uma área específica e voltados para resultados. O investimento social estratégico é aquele que: ● Agrega valor à comunidade e às empresas; ● Guarda identidade com os valores da corporação; ● Promove o engajamento do público interno; ● Envolve parceiros com promissados com mudanças; ● Possibilita investimentos compartilhados; ● Desenvolve vínculos duradouros com a comunidade beneficiada; ● Estabelece comprometimento de longo prazo de modo a sustentar e multiplicar os resultados. ● A empresa inclui a ação social e seus responsáveis no processo geral de planejamento estratégico, utilizando especialistas no ciclo de planejamento, monitoramento e avaliação de sua ação social? ● Planeja sua ação social visando maximizar seu impacto a longo prazo, otimiza o impacto da sua ação social alavancando recursos de outras empresas ou organizações privadas e/ou a participação de órgãos públicos? ● Tem procedimento de consulta periódica aos beneficiários de sua ação social, monitorando-a por meio de indicadores de desempenho? 20 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes 3.4. Envolvimento Da Empresa Com A Ação Social Como forma de concretizar sua ação social, a empresa: A. Faz doações de produtos e recursos financeiros, cede instalações, mobiliza o trabalho voluntário de seus empregados e/ou desenvolve projetos sociais próprios. B. Além de doações e/ou projetos sociais corporativos, cede horas de seus empregados ou equipamentos para atividades ligadas a esses projetos. C. Além de apoio material, possui projeto estruturado pelo qual cede suas competências técnicas, tecnológicas e gerenciais para fortalecer os projetos sociais (corporativos ou realizados por terceiros). D. Além de apoio material e aporte de competências, envolve as organizações ou lideranças locais no desenho e na implementação dos projetos sociais, e intercede perante outros organismos, públicos ou privados, pela concretização desses projetos. ● A empresa utiliza os incentivos fiscais de dedução ou desconto de doações e patrocínios? ● Possui mecanismos para estimular fornecedores, acionistas e outras partes interessadas a fazer doações financeiras? ● Divulga internamente os projetos que apoia e desenvolve, oferecendo oportunidades de trabalho voluntário e estimulando a participação dos empregados? ● Autoriza o uso controlado de horas pagas para o trabalho voluntário? Quanto à governança da ação social, a empresa possui um conselho ou comitê misto, com membros de diferentes áreas da empresa, ou do grupo empresarial, incluindo membros da sociedade credenciados para tratar da área temática em que atua? No seguinte artigo de Ruth Cardoso, publicado originalmente pelo jornal O Estado de São Paulo, em 27 de setembro de 2004, disponível na Revista do Terceiro Setor (http://arruda.rits.org.br/rets/servlet/newstorm.notitia.apresentacao.ServletDeSecao?co digoDaSecao=11&dataDoJornal=109726921300), podemos ver a importância do terceiro setor no desenvolvimento do Brasil. Nos anos 80 muitos setores estavam mobilizados pela redemocratização do país, mas as associações civis eram a face mais ativa deste debate que reunia associações profissionais (OAB, ABI etc.) e grupos de ativistas reunidos em ONGs. Juntos, lutavam para garantir direitos e desenvolviam experiências novas mostrando que era e é possível proteger o meio ambiente, educar crianças que abandonaram a escola, apoiar mulheres vítimas de violência e tantas outras atividades de interesse público. Com a redemocratização, estes novos atores ganharam força porque constituem a expressão de uma cidadania participante e responsável. Com a ampliação da presença da sociedade civil, difundiu-se uma nova designação, aplicada ao conjunto das organizações sem fins lucrativos – o terceiro setor. Só nas democracias criam-se as condições para que este setor se amplie e para que o segundo setor (as empresas) também assuma sua parte na responsabilidade coletiva de criar uma vida social de melhor qualidade e as agências governamentais (primeiro setor) possam cooperar e aprender com experiências ricas, mas de pequena escala. 21 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes Na década de 90, com a democracia, as organizações do terceiro setor se ampliaram no Brasil e no mundo, e a sociedade civil teve um papel fundamental na luta pela democratização e na reconstrução social. O crescente protagonismo dos cidadãos e de suas organizações é um fenômeno mundial, mas aqui contaram com um terceiro setor, já mobilizado pelas lutas da década anterior, que estava pronto para desenvolver parcerias com os demais setores. Também o setor governamental iniciou uma nova forma de diálogo com a sociedade que se desdobrou em parcerias eficazes com os outros dois setores. Dessa forma, foi sendo construído um novo modelo de relacionamento entre os governos, o mercado e as iniciativas sem fins lucrativos, modificando as tradicionais intervenções assistencialistas. As organizações do terceiro setor que cresceram nesse período foram justamente aquelas que lutaram contra o clientelismo e o assistencialismo, ao mesmo tempo pela constatação da ineficácia dos métodos tradicionais usados para combater a pobreza. As associações civis nunca pretenderam substituir o Estado e, se a sua ação é múltipla e diversificada, não se caracteriza anti-Estado. Cabe à sociedade civil, que reconquistou a democracia, lutar contra preferências e privilégios impostos por razões políticas e que retardam as ações sérias e não assistencialistas. Reafirmo que o terceiro setor só floresce em ambiente democrático e, quando reaparecem os costumes clientelísticos do passado, todos perdem, tanto o governo quanto a sociedade. As instituições do terceiro setor não sobrevivem sem transparência e credibilidade porque dependem da legitimidade que lhes confere a sociedade. 4. Marketing Social Na relação da empresa com a comunidade, é muito comum confundir os conceitos que estamos estudando com os de marketing social. Para deixar clara a diferença, vamos analisar o conceito de marketing social apresentado no capítulo 3.3 do estudo desenvolvido por Cristiani de Oliveira Silva Duarte e Juliana de Queiroz Ribeiro Torres, “Responsabilidade social empresarial: dimensões históricas e conceituais”, disponível em <http://www.ethos.org.br/docs/comunidade_academica/pdf/pev42042.pdf>. Uma das atividades do marketing é trabalhar a marca. As características que sempre definiram uma marca - benefícios, preço, qualidade e estilo – agora se juntam a diversos fatores, entre eles a origem e as condições de fabricação e o impacto do produto no meio ambiente. Sabe-se que atualmente a imagem da marca pode ser atingida positiva ou negativamente pelo que acontece em qualquer estágio do ciclo do produto ou do serviço, ou em qualquer lugar no processo do negócio ou de atuação. Alguns fatores podem influenciar o desenvolvimento de marcas estratégicas. De acordo com Gayson e Hodges (2002): 22 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes ● As marcas são ativos de valor cada vez mais reconhecidos; ● As marcas tornam-se mais vulneráveis por causa da rapidez com que se pode transmitir uma informação negativa; ● A vigilância severa dos consumidores e ONGs exige um maior comprometimento e responsabilidade por parte das marcas. Antigamente os consumidores faziam suas escolhas e definiam suas preferências de consumo a partir de atributos de superioridade funcional, e os produtos ofereciam desempenho mais competitivo. Por essa visão estratégica, o consumidor era visto apenas como “personagem demográfico”, concreto e unidimensional, em que importavam características como classe social, sexo, faixa etária e nível de escolaridade. Recentemente, as marcas são vendidas com outro tipo de promessa, com valores emocionais e comportamentais. A nova estratégia de marketing baseava-se em uma visão expandida do consumidor: um “ser psicográfico”, em que as características que importavam eram suas vontades, angústias, desejos e ambições. Agora estas características não bastam. Cada vez mais as novas gerações de consumidores exigem compromissos sociais das marcas, praticados de fato e com resultados efetivos. Mais do que valores funcionais e emocionais, os consumidores esperam que as marcas tenham atitude e práticas responsáveis e o chamado consumidor final exerce cada vez mais sua cidadania no momento da compra. Daí a abordagem do marketing social, que não se restringe à mera transposição dos métodos e técnicas do marketing comercial para a área social, mas à nova forma de ver e entender as questões sociais. Antes de definir marketing social é importante entender o conceito de marketing: “Silva (2001), citando Kotler&Armstrong, define marketing como ‘um processo pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação e troca de produtos e valores’”. Conceito de marketing social: Schiavo (1999) explica que a expressão marketing social surgiu nos Estados Unidos em 1971 e foi usada pela primeira vez por Kotler e Zaltman, que, na época, estudavam aplicações do marketing que contribuíssem para a busca e o encaminhamento de soluções para as diversas questões sociais. Naquele ano, publicaram no Journal of Marketing um artigo intitulado “Social Marketing: An Approach to Planned Social Change”, conceituando o marketing social como o “processo de criação, implementação e controle de programas desenvolvidos para influenciar a aceitabilidade das ideias sociais, envolvendo considerações relativas ao planejamento de produto, preço, comunicação, distribuição e pesquisa de marketing”. Atucha apud Schiavo (1999) define: “Marketing social é uma ferramenta democrática e eficiente, que aplica os princípios e instrumentos do marketing, de modo a criar e outorgar um maior valor à proposta social. O marketing social redescobre o consumidor por meio do diálogo interativo, o que gera condições para que construa o processo de reflexão, participação e mudança social”. 23 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes Sabendo das características desse consumidor, muitas empresas tentam manter relações com projetos sociais, pensando que somente isso é suficiente para que o consumidor acredite em suas intenções, mas não é verdade. No entanto, na maioria das vezes não adotam ações (sejam elas internas ou externas) que realmente tenham o intuito de influenciar e gerar consciência social em um determinado grupo. De acordo com Pinto (2001), “algumas empresas acreditam que basta desenvolver algum projeto filantrópico para serem percebidas como marcas cidadãs. Engano. Marca cidadã é a que expressa a sua cidadania de forma contínua, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da comunidade interna e externa”. A legitimação social de uma marca deve ser entendida pela empresa como consequência de sua estratégia e de suas ações para que o efeito de marketing seja verdadeiro e duradouro. Além disso, com um mercado consumidor cada vez mais cidadão e exigente, as marcas têm de construir sua imagem de forma consistente, sendo passíveis de comprovação prática através de auditoria, transformando sua reputação em algo demonstrável. A tarefa de agregar traços de responsabilidade social na marca da empresa não é exclusiva do marketing. Ela deverá fazer parte da estratégia do negócio, da visão, da missão e dos valores da empresa. Surge a consciência de que marca não é apenas um slogan, mas a identidade da empresa ou uma “consciência corporotiva ”. A busca do verdadeiro significado das marcas afastou as agências de publicidade dos produtos e as aproximou do exame psicológico/antropológico do que significam as marcas para a cultura e a vida das pessoas. Com a estratégia de marketing social e a construção da marca surgiu um novo tipo de negócio, no qual a empresa orgulhosamente informará que sua marca não é apenas um produto, mas um estilo de vida, uma atitude, um conjunto de valores. No entanto, o contrário também é verdadeiro. Ações antiéticas ou “pequenos deslizes” podem acabar com a reputação de uma marca. Como diz o ditado: “leva-se cem anos para construir uma reputação e apenas trinta minutos para destruí-la”. 5. Governo E Sociedade Transparência política ● Contribuições para campanhas políticas ● Práticas anticorrupção e propina Liderança social ● Liderança e influência social ● Participação em projetos sociais governamentais 24 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes A relação da empresa com o governo e suas secretarias é um ponto delicado na gestão responsável. Muitas vezes assistimos a denúncias de empresas que se envolvem em corrupção, pagamentos de propina em troca de favores, problemas em campanhas eleitorais. A gestão responsável passa por essas questões. Como é essa relação? É transparente, dentro da legalidade? 5.1. Contribuições Para Campanhas Políticas Com relação ao financiamento de candidatos a cargos públicos e de partidos políticos, a empresa: A. Quando financia, o faz limitando a decisão aos membros da alta direção, dentro dos parâmetros estabelecidos pela legislação. B. Quando financia, fundamenta-se em regras e critérios definidos internamente, permitindo ao público interno o acesso às informações sobre a decisão tomada. C. A decisão de financiamento ou não financiamento é tomada de forma transparente, permitindo às partes interessadas acesso às informações e requerendo do financiado a respectiva comprovação e registro da doação. D. Além do descrito no estágio anterior, promove campanhas de conscientização política, cidadania e importância do voto, envolvendo todos os empregados e outras partes interessadas, e estimula e facilita debates com candidatos ou partidos. ● Nos últimos cinco anos, a empresa foi mencionada negativamente na imprensa por contribuir financeiramente para campanha política? ● A empresa tem norma explícita de não utilização do poder econômico para influenciar contribuições de outras empresas, fornecedores, distribuidores e outros parceiros? ● A empresa estimula que seus empregados exerçam a avaliação e o controle da atuação dos candidatos que elegeram? 25 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes 5.2. Práticas Anticorrupção ePropina Na relação com autoridades, agentes e fiscais do poder público, em todos os níveis, a empresa: A. Procura evitar situações que envolvam favorecimento a agentes do poder público, porém não tem procedimentos formais nem divulgados de controle e punição. B. Mantém postura reconhecida pelo público interno quanto à proibição de favorecimento direto ou indireto de agentes do poder público. C. Possui normas escritas sobre o tema, as quais são divulgadas amplamente ao público interno e externo (representantes do poder público com os quais se relaciona), e mantém procedimentos formais de controle, punição e auditoria. D. Além de divulgar suas normas interna e externamente e auditar regularmente seu cumprimento, inclui entre elas a obrigatoriedade de se denunciar às autoridades superiores qualquer oferta recebida. ● A empresa teve seu nome mencionado na imprensa nos últimos cinco anos sob suspeita de ter participado de incidente envolvendo o oferecimento de propina ou a prática de corrupção de agentes públicos? ● Prevê medidas punitivas aos colaboradores e empregados envolvidos no favorecimento a agentes do poder público? ● Possui política explícita de não apoio e participação em processos que objetivam a manipulação de editais de concorrência (públicos ou privados)? 5.3. Liderança e Influência Social Buscando exercer sua cidadania por meio de associações e fóruns empresariais, a empresa: A. Participa de comissões e grupos de trabalho relacionados à defesa e promoção dos interesses específicos do seu ramo ou setor de negócio. B. Participa de comissões e grupos de trabalho relacionados a questões de interesse público e de responsabilidade social. C. Participa ativamente, contribuindo com recursos humanos ou financeiros, de processos de elaboração de propostas de interesse público e de caráter social. D. Tem membros de sua alta direção envolvidos na articulação, viabilização e fortalecimento de propostas de caráter social e em diálogo com autoridades públicas visando sua adoção. ● A empresa patrocina ou realiza campanhas de mídia exclusivamente relacionadas a questões de interesse público? ● Interage ativamente com instituições de ensino de todos os níveis para a elaboração de propostas para melhoria da qualificação da mão-de-obra do setor em que atua? 26 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes ● Estimula e patrocina projetos de desenvolvimento de pesquisa e tecnologia, interagindo ativamente com a comunidade acadêmica e científica? 5.4. Participação Em Projetos Sociais Governamentais Em seu envolvimento com as atividades sociais realizadas por entidades governamentais, a empresa: A. Contribui apenas com o pagamento de impostos. B. Contribui ocasionalmente com o poder público na realização de eventos e atividades pontuais e/ou apoia financeiramente programas e projetos do poder público, em resposta a solicitações das autoridades. C. Contribui regularmente com recursos humanos, técnicos ou financeiros para a realização de projetos específicos e localizados, executados por entidades governamentais. D. Participa ativamente da elaboração, aperfeiçoamento, execução, controle e avaliação de políticas públicas de interesse geral. ● A empresa adota ou desenvolve parceria com organismos públicos visando a objetivos como melhorar a qualidade de ensino, a assistência social, a saúde e/ou a infraestrutura, erradicar o trabalho infantil e/ou o trabalho forçado, incentivar a geração de renda e/ou de emprego, promover segurança alimentar etc.? ● Patrocina programa público ou privado de bolsa escolar? ● Articula e coordena parcerias nos programas de que participa? 6. Considerações Finais Como vimos, a gestão socialmente responsável é uma forma de gestão que pensa na empresa como uma organização social que interfere no meio ambiente em cada um de seus stakeholders. O estudo desenvolvido por Cristiani de Oliveira Silva Duarte e Juliana de Queiroz Ribeiro Torres, “Responsabilidade social empresarial: dimensões históricas e conceituais”, disponível em <http://www.ethos.org.br/docs/comunidade_academica/pdf/pev42042.pdf>, no cap. IV, descreve os impactos que a gestão socialmente responsável produz na empresa. 6.1. Stakeholders Para as empresas que têm uma visão verdadeira do mundo globalizado, o desenvolvimento intelectual e emocional do ser humano importa muito mais que uma expansão geográfica de mercados. 27 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes “(...) Uma empresa globalizada – mundial ou não – é aquela que tem uma visão do todo – de si mesma, das pessoas que trabalham nela e do mundo que está ao seu redor” (Shipka apud Roddick, 2002). Para se atingir este modelo de gestão responsável, torna-se essencial que a empresa conheça e entenda seus parceiros, a mudança que este vi vencia e a dinâmica dessa relação. Cada parceiro interage e exerce uma influência na organização que deve ser identificada e analisada pela mesma. Alguns princípios norteadores devem ser tratados com os chamados grupos de interesse ou parte envolvida no negócio: ● Abrir canais de comunicação de mão dupla, para um diálogo efetivo entre as partes; ● Possuir engajamento de longo prazo com as questões propostas e assumidas; ● Ganhar credibilidade por meio de parcerias diversificadas; ● Assegurar a coerência e a continuidade das ações, legitimando as ações sociais; ● Falar a linguagem de cada stakeholder, evitando ruídos de comunicação que possam trazer desentendimentos nos relacionamentos. Assim sendo, tão importante quanto a alta produtividade e a capacidade de inovação tecnológica das empresas é também sua capacidade de estabelecer uma comunicação aberta, eficaz, ética e transparente com seus parceiros. A seguir, serão apresentados alguns dos principais stakeholders e questões envolvidas no negócio. 6.2. Acionistas e Investidores “As empresas precisam ter o lucro como objetivo, do contrário, elas morrem. Mas se uma empresa é orientada apenas para ter lucro (...) também morrerá, porque não terá mais nenhum motivo para existir” (Ford a pud Roddick, 2002). Os acionistas e investidores apresentam grande relação de confiança com a organização, uma vez que assumem grandes riscos ao prover consideráveis valores para alavancar os negócios. Por isso, ao efetuarem suas aplicações financeiras, preocupam-se em fazê-lo em empresas sólidas e coerentes, que respeitem o meio ambiente, as condições humanas e sociais de seus empregados e que zelem pela qualidade de suas relações com a comunidade. Analistas financeiros já começam a incorporar a variável ambiental e, mais amplamente, a responsabilidade social em suas análises, de forma que um dos elementos analisados atualmente para definir o preço das ações é o comportamento ambiental das empresas, ou seja, suas atitudes em relação ao meio ambiente. O primeiro fundo de investimento em empresas socialmente responsáveis no Brasil é o Fundo Ethical, criado pelo ABN Amro Real, em novembro de 2001. Este fundo utiliza o critério de responsabilidade social como fator imprescindível para a 28 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes entrada de uma empresa em sua carteira de clientes. Tal fato é uma tendência mundial. Nos Estados Unidos, o fundo vigente é o Dow Jones Sustainability Index e na Inglaterra o FTSE4Good. Ambos valorizam a rentabilidade, a liquidez e a segurança (Arnt, 2003). A empresa deve distribuir corretamente e de forma transparente os resultados para seus acionistas, sejam eles minoritários ou majoritários. Uma boa governança corporativa assegura aos sócios equidade, transparência, prestação de contas e responsabilidade pelos resultados. 6.3. Consumidores e Concorrentes “Jamais ponha em dúvida se um pequeno grupo de cidadãos conscientes e comprometidos pode mudar o mundo; na realidade são eles os únicos capazes de fazer isso” (Mead apud Roddick, 2002). A relação de consumo entre empresas e clientes vai além da troca de dinheiro por produtos ou serviços. Implica equilíbrio entre direitos e deveres de ambos, estando implícitos neste processo: desejos, necessidades, expectativas e aspirações. Na prática, a responsabilidade social em relação aos clientes e consumidores está relacionada ao desenvolvimento de produtos e serviços confiáveis e que não provoquem danos à saúde dos indivíduos. A dimensão social do consumo traz ainda a questão da política de marketing e comunicação que devem estar atentas ao caráter educativo de suas ações, ao fato de não excederem as expectativas do que é oferecido efetivamente pelo produto ou serviço, não provocando desconforto ou constrangimento a quem recebê-la e informando corretamente os riscos potenciais dos produtos oferecidos. Outro fator que merece destaque é a excelência no atendimento. Cabe à empresa apoiar seus consumidores/ clientes antes, durante e depois da efetuação da venda, prevenindo-os dos possíveis prejuízos com o uso do seu produto. A qualidade do Serviço de Atendimento a Clientes (SAC) é uma referência importante neste aspecto, indicando a disponibilidade da empresa para adaptar-se às necessidades e demandas dos clientes. No que se refere às práticas de concorrência desleal, práticas monopolistas, de espionagem industrial ou de confidencialidade de informações (já que atualmente o grande diferencial competitivo é o capital intelectual), vale ressaltar que a empresa socialmente responsável não se envolve nessas ações ilícitas. Pelo contrário, se engaja no combate ao comércio ilegal e ao contrabando, não só como forma de sobrevivência do seu negócio, mas também como forma de garantir a qualidade de seus produtos e serviços. 6.4. Comunidade “A palavra comunidade vem de ‘comunhão’, de dividir uma tarefa comum. E é no compartilhamento de uma tarefa que as pessoas são capazes de fazer mais do que imaginam. Aí, sim, existe algo real que merece ser celebrado” (Fox apud Roddick, 2002). 29 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes O envolvimento e investimento na comunidade em que está inserida, que lhe oferece infraestrutura e capital social, contribui decisivamente para a viabilização dos negócios da empresa. O respeito aos costumes, às culturas locais e o empenho na educação, na disseminação de valores sociais, devem fazer parte de uma política de envolvimento comunitário da empresa, resultado da compreensão de seu papel de agente de melhorias sociais. A empresa deve gerenciar o impacto de suas atividades produtivas e manter bons relacionamentos com as organizações civis atuantes na região, uma vez que trazer benefícios para a comunidade é uma contrapartida justa. Este investimento pode ser realizado mediante apoio material e serviços a projetos comunitários, como o apoio e reconhecimento do trabalho voluntário de seus funcionários. O trabalho voluntário tem sido considerado um fator de motivação e satisfação das pessoas em seu ambiente profissional. A empresa pode incentivar essas atividades, liberando seus empregados em parte de seu horário de trabalho, despertando para a ideia de que ser voluntário não é apenas doar, é trocar: de um lado as empresas transmitem conceitos de administração e gestão, como avaliação de resultados, estabelecimento de metas, parcerias e estratégias, de outro, as entidades filantrópicas, que têm em seus colaboradores pessoas que fazem mais com menos, ensinam sobre motivação, trabalho em equipe e como trabalhar diante de tantas adversidades. 6.5. Meio Ambiente “Nós precisamos perguntar como, o quê, onde e quando as coisas são feitas. Sabendo mais sobre a produção e a origem dos produtos nós ganhamos força” (Roddick, 2002). A empresa deve responsabilizar-se pelos diferentes tipos de impactos que pode vir a causar ao meio ambiente. Uma empresa ambientalmente responsável está sempre atenta às ações de manutenção e melhoria das condições ambientais, minimizando riscos e ações agressivas à natureza. Para isto, investe em tecnologias antipoluentes, recicla produtos e o lixo gerado, implanta “auditoria verde”, mantém relacionamento estreito com órgãos de fiscalização ambiental, limita o uso de recursos naturais e de descargas nocivas, constrói estações de tratamento de efluentes para reciclar a água utilizada e é responsável pelo ciclo de vida de seus produtos. 6.6. Fornecedores E Parceiros Comerciais “Podemos saber o valor de um produto numa loja, mas não compreendemos o quanto ele cria meios de sobrevivência para as pessoas e como ele provê assistência e avanço econômico” (Roddick, 2002). Os fornecedores são, de certa forma, uma extensão da empresa, por isto, devem compartilhar dos mesmos valores e estabelecer uma relação de parceria e con fiabilidade. 30 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes Cabe, então, à empresa transmitir estes valores explicitados em seu código de conduta, tomando-o como orientador em casos de conflito, como favorecimentos e obtenção de vantagens pessoais. É interessante que a escolha dos fornecedores baseie-se em critérios claros, valorizando a livre concorrência e com transparência na cotação de preços, além de avaliar questões como condições de trabalho dos terceirizados e, principalmente, se não há caso de trabalho infantil na cadeia produtiva. 6.7. Governo “Todo conhecimento deveria ser traduzido em ação” (Einstein a p u d Roddick, 2002). As relações empresariais junto ao governo devem atender à seguinte premissa: responsabilidade social começa onde a obrigação legal termina. Pagar impostos, oferecer condições de trabalho seguras e saudáveis e não ter práticas discrimina tórias, respeitando a diversidade, são obrigações legais. Mas a empresa pode ir além, sendo ainda mais ética e responsável, promovendo outras ações que contribuam para boas relações com órgãos governamentais. Além destas questões, as empresas devem ser transparentes e cuidadosas quanto ao apoio em campanhas políticas, que podem gerar desconfiança, evitando também pagamentos que visem a influenciar ou agilizar decisões governamentais. 6.8. Funcionários “(...) o lugar de trabalho sempre representou uma comunidade, um lugar onde as pessoas trabalham para um bem comum. Ele deve ser, além disso, um lugar especial, criativo, alegre” (Roddick, 2002). Os funcionários são o diferencial, o capital humano e intelectual capaz de mobilizar e propiciar o sucesso de uma organização. Por isso, devem ser valorizados, motivados e desenvolvidos, a fim de obter a coesão interna para atingir os objetivos da empresa. Uma empresa age de forma socialmente responsável e ética quando o faz desde o primeiro contato com seu funcionário. Faz seu recrutamento e seleção de forma transparente, oferecendo oportunidades a candidatos independentemente de sua raça, religião, sexo ou idade. A ideia de que ser ético e responsável socialmente deve começar internamente deve ser pensada em relação aos investimentos em treinamento e desenvolvimento, segurança no local de trabalho, estímulo à qualidade de vida, salários compatíveis com o mercado, abertura e transparência para a comunicação em todos os níveis hierárquicos e, inclusive, atenção e preparo de seus funcionários para a aposentadoria. Cabe enfatizar que as empresas e grandes organizações econômicas que agregam valores como cidadania, solidariedade e ética, estimulando-os também em seus funcionários, certamente ganharão seu respeito e admiração, o que os torna mais motivados, criando impactos nas políticas de retenção e captação de talentos, além de maior produtividade e satisfação. 31 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes 6.9. Gestão Da Responsabilidade Social Corporativa “Quando bem transmitidos, os valores trazem a mensagem de objetivos comuns, padrões e concepções sobre o que é importante de fato e pelo que vale a pena lutar; e têm um poder imenso de motivar as pessoas” (Gardner apud Roddick, 2002). Gerir uma organização empresarial de modo socialmente responsável não implica, como pensam os mais radicais, abandonar os objetivos econômicos, mas sim agregar valores sociais a essa gestão, como pensar os impactos na comunidade, na geração de emprego e renda dos funcionários, no financiamento de sua educação e adoção de políticas ambien talmen te compatíveis. 6.10. Estágios De Desenvolvimento ● Primeiro estágio, de gerência de impacto – a empresa apenas corrige e gerencia, atendendo às demandas e impactos sociais negativos. ● Segundo estágio, o da gerência de risco – a empresa já apresenta uma postura mais profilática, identificando os riscos e interesses junto aos stakeholders, evitando, assim, possíveis efeitos negativos em sua imagem e nos processos estratégicos. ● Terceiro estágio – a organização enxerga não só os riscos, mas também as oportunidades que se desenham neste novo cenário, trabalhando com uma gerência estratégica, ampliando sua percepção da responsabilidade social e da sustentabilidade. Voltada para o desenvolvimento sustentável, a empresa projeta em seus negócios uma perspectiva multidimensional, que envolve a garantia de direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais, na medida em que todos fazem parte de um processo de obtenção de uma economia solidária. A responsabilidade social nas empresas é um olhar estratégico, que deve estar incorporado à gestão da organização: seus valores, sua missão, visão e processos. É uma consciência e atitude corporativas, um processo de longo prazo, e não depende apenas da boa vontade, mas principalmente da preparação desses recursos humanos. O grande desafio é desenvolver uma política de gestão que trabalhe a comunidade interna de forma a desenvolvê-la no âmbito pessoal, profissional e como cidadãos. Não deveria ser necessário que fossem impostas questões legais como respeito à diversidade e ao trabalhador, já que a empresa deve valorizar e estimular o que tem de diferencial neste intenso cenário competitivo: o capital humano e intelectual que possui. Desta forma, suas ações devem ter uma visão sistêmica, considerando não só o corpo funcional, mas um modelo sustentável de responsabilidade social, incorporando também o relacionamento com seus stakeholders. A responsabilidade social deve fazer parte da cultura empresarial: A responsabilidade social faz parte da cultura empresarial e por isso deve estar claramente embutida em sua visão, missão e valores, assim como descrita em manuais de ética dos empregados e nos processos de comunicação. Segundo Borger (2001), o desenvolvimento da missão social implica compartilhar uma visão que 32 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes vai além da maximização de lucros, mas também de princípios e valores éticos que definirão as relações com os diversos stakeholders. A missão, no entanto, não é suficiente para criar o clima favorável à gestão responsável, ela apenas fornece a filosofia de administração a ser tomada. A sustentação desta filosofia se dará mediante os processos organizacionais que transformarão este discurso em prática. Fatores que interferem numa atuação orientada para a responsabilidade social empresarial: ● Liderança e compromisso com a responsabilidade social empresarial: a liderança é um fator crítico, uma vez que ações e comportamentos dos líderes fornecem padrões de conduta aos funcionários, além do contexto cultural para a atuação de outras partes envolvidas. Os indicadores que compõem a liderança e o compromisso são a missão, visão e valores (que declaram esta adesão e a promulgam por toda a empresa); a existência de uma função dentro da estrutura organizacional que se encarregue de fomentar e trabalhar o tema na empresa; o envolvimento da alta administração, que deve liderar o processo, transmitir os valores contidos na visão e missão, construindo assim a ética corporativa; e, também, a participação em entidades e associações profissionais e sociais, que são importantes na construção de relações da empresa com a comunidade e a sociedade em geral; ● Políticas e estratégias: as políticas traduzem os princípios e diretrizes a serem seguidos e devem ser definidas em termos gerais e setoriais (política de RH, de marketing, de meio ambiente, para relações com clientes e fornecedores etc.). Além disso, uma análise sistemática deve ser feita para identificar novas oportunidades e possíveis ameaças aos negócios, mapear stakeholders definir os objetivos e metas sociais; ● Procedimentos e práticas gerenciais: para que as políticas e estratégias sejam postas em prática é preciso haver um forte alinhamento interno das ações, adotando práticas orientadas para atingir os objetivos sem desrespeitar os valores corporativos. Práticas importantes são também as de avaliação do desempenho social, capacitação dos funcionários e envolvidos, e a comunicação e informação, disseminando estes valores e esclarecendo dúvidas quanto às práticas da organização; ● Projetos e investimentos sociais: são a prática efetiva das políticas, estratégias e planos em ações orientadas para a responsabilidade social empresarial. Para isso, devem-se planejar investimentos, alocar recursos financeiros, humanos e materiais para projetos orientados para a atuação social. Borger (2001) afirma que “a dinâmica empresarial é o conjunto das variáveis que refletem o desempenho da empresa, o desempenho tecnológico, o ambiente e as condições de trabalho oferecidas pela empresa a seus participantes, e a reputação da empresa junto às partes interessadas”. São considerados como variáveis da dinâmica empresarial; ● Clima organizacional: as práticas de responsabilidade social impactam o ambiente de trabalho, o desempenho dos funcionários e, consequentemente, a cultura corporativa. Os indicadores de clima organizacional que podem ser considerados são a satisfação dos empregados (motivação, participação, moral etc., medidos através de pesquisa de clima), a produtividade, a atração e retenção de talentos, além da capacitação dos funcionários para aprendizagem, inovação e criatividade, que estarão dispostos a sugerir melhorias e implantar novos projetos; ● Desempenho tecnológico: a organização estará adaptada às mudanças do ambiente externo, reagindo com flexibilidade e agilidade, e capacitada para a 33 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes inovação; ● Desempenho operacional, ambiental, econômico-financeiro e mercadológico: melhorias nos processos operacionais, racionalização e redução de custos são fatores importantes na melhoria das condições, inclusive as de competitividade; ● Reputação: a percepção dos envolvidos no negócio indica a imagem institucional diante dos consumidores, dos órgãos públicos e dos próprios funcionários. 6.11. Os Gestores Para lidar com essas questões é interessante que os gestores tenham um conhecimento multidisciplinar e uma visão sistêmica: conhecimento amplo do negócio, consciência social, forte habilidade em comunicação, proatividade, bom senso e capacidade de identificar oportunidades e interesses nas áreas. Com uma prática estruturada e funcional, em que todos estão em sinergia, unem-se competências e otimizam-se recursos. Uma organização privada, mais do que um conjunto de forças econômicas, é um conjunto de pessoas. Esta comunidade de trabalho deve ser gerida de forma que cada indivíduo enxergue em sua função profissional uma forma de fazer sua parte, sendo cidadão não só fora do ambiente de trabalho, mas também dentro dele. A empresa é um organismo, porque são pessoas que a constituem e é através desse conjunto de comportamentos e atitudes pessoais que se dá o comportamento e a cultura organizacional de uma empresa cidadã. Como conclui o texto, “a empresa é um organismo, porque são pessoas que a constituem e é através desse conjunto de comportamentos e atitudes pessoais que se dá o comportamento e a cultura organizacional de uma empresa cidadã”. Portanto, a gestão socialmente responsável passa por um processo que está definitivamente vinculado ao desenvolvimento de sua cultura e consequentemente deve estar claro em sua visão, missão e valores e em seu código de ética, além da transformação desse discurso em prática. Cada vez mais a responsabilidade social nas empresas caminha para um olhar estratégico, incorporado à gestão da organização. Trata-se, portanto, segundo Young (2003), do fato de “que as empresas já sabem da importância de incorporar estes valores e know-how, mas este é um processo de longo prazo e não depende apenas da boa vontade, depende principalmente da preparação destes recursos humanos de forma a desenvolvê-la no âmbito pessoal, profissional e como cidadãos; suas ações devem ter uma visão sistêmica, considerando não só o corpo funcional, mas um modelo sustentável de responsabilidade social, incorporando também o relacionamento com seus stakeholders.” Portanto, os gestores das empresas com responsabilidade social devem ter novos conhecimentos e habilidades para melhor atingir tais objetivos. É interessante que tenham um conhecimento multidisciplinar e uma visão sistêmica, além de conhecimento amplo do negócio e consciência social. O artigo “Quem é o gestor socialmente responsável”, de Ricardo Young, disponível no site do Instituto Ethos (http://www.ethos.org.br/DesktopDefault.aspx?TabID=3921&Alias=Uniethos&Lang=ptBR), trata desta questão: quem é este novo gestor? 34 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes Podemos afirmar que este novo administrador, o gestor de uma empresa socialmente responsável, deve ter em mente que seu objetivo é gerar valor em três dimensões: econômica, social e ambiental, tendo consciência do todo. “O gestor socialmente responsável olha a empresa de um ponto de vista holístico, isto é, sabe que ela faz parte de múltiplos processos interligados, com plexos e multicausais”. Precisa ter claro que “as organizações têm uma nova função social e os gestores devem conhecer o impacto agregado que toda a cadeia produtiva gera em todas essas esferas”. 35 Responsabilidade Social nas Organizações - Módulo 2: Fornecedores, Consumidores e Clientes