Capítulo 5 - O TERCEIRO SETOR “Sob o impacto de um Estado que vem diminuindo sua ação social e de uma sociedade com necessidades cada vez maiores, cresce a consciência nas pessoas – tanto físicas quanto jurídicas – de que é necessário posicionar-se proativamente no espaço público, se o que se deseja é um desenvolvimento social sustentado”. (Evelyn Berg Ioschpe) O Conceito O termo surgiu para tentar denominar de forma unificada as tantas instituições particulares que desenvolvem atividades de caráter público, pois sua atuação específica exigia que essas instituições fossem identificadas de forma diferenciada das demais. Elas promovem ações de natureza privada, porém com finalidades públicas, como por exemplo, as organizações não-governamentais (ONG´s), as organizações de trabalho voluntário, ou ainda as organizações sem fins lucrativos. Muitos autores mencionam a dificuldade de enquadrar todos esses tipos de organizações numa única nomenclatura, porém, concordam que independente de um termo único para identificá-las, sua importância social e econômica já é bastante relevante. No Brasil, os últimos quinze anos foram marcados pelo surgimento de muitas instituições atuantes do Terceiro Setor e o que é mais curioso é a diversidade de áreas de atuação das mesmas que vão desde a educação até o design. Sua ampliação permitiu uma abrangência quase que universal. Chegar a uma definição real do que seja o Terceiro Setor é importante para que se possa conhecer os limites que o separam do primeiro setor (Estado) e do segundo setor (mercado). Apesar da importância da inter-relação entre estes, tanto ideologicamente como economicamente. O terceiro Setor mesmo sendo formado por organismos distintos da esfera estatal já consegue ter sobre essa esfera uma influência significativa no âmbito da política e também da economia. O Termo O termo Terceiro Setor é uma denominação ainda pouco utilizada em virtude de se tratar de uma nomenclatura relativamente nova e é sempre bom esclarecer que denomina-se terceiro por considerar que o Estado e o mercado representam o primeiro e segundo setores respectivamente. A diferença básica entre os três setores é que enquanto os dois primeiros buscam auferir lucros, o Terceiro Setor almeja justamente o contrário. A área de atuação do Terceiro Setor é justamente aquela onde a responsabilidade social e o compromisso de cada um como cidadão falam mais alto. São atividades de características totalmente públicas, mas que por inoperância do Estado passaram a ser desenvolvidas por terceiros. Nasce então o cidadão consciente de sua coresponsabilidade pela sociedade da qual faz parte. As organizações do Terceiro Setor podem atuar de forma muito efetiva buscando benefícios que são ao mesmo tempo público e coletivo e podem ainda, ajudar ao Estado a cumprir com suas obrigações, principalmente em relação às questões das desigualdades sociais. Hoje, as ações realizadas por instituições do Terceiro Setor contribuem de forma muito significativa para o desenvolvimento social dos países onde essas instituições atuam. Aqui no Brasil, por exemplo, algumas grandes comunidades já são totalmente dependentes dos trabalhos dessas organizações, ou seja, no caso de algumas delas deixar de atuar serão muitos os afetados. Segundo Salamon e Anheier (1997), as organizações do Terceiro Setor apresentam as cinco características descritas abaixo: 1. São Estruturadas – Necessariamente devem possuir uma estrutural interna formal com regras e procedimentos próprios; 2. São Privadas – para que uma instituição seja considerada atuante do Terceiro Setor, esta não poderá ter nenhum tipo de relação com o Estado, embora o mesmo possa destinar parte de seus recursos para essas instituições. Qualquer tipo de relação institucional com o governo descaracteriza sua atuação no Terceiro Setor; 3. Não repartem lucros – no caso de algum lucro ser gerado nenhum dirigente poderá ser beneficiado com esse lucro que deverá ser imediatamente repassado aos beneficiários descritos na missão da organização. A repartição de lucros não deve existir em instituições sem fins lucrativos; 4. São autônomas – sua gerência é feita sem que haja a interferência externa, ou seja, elas realizam uma autogestão; 5. São voluntárias – necessitam de pessoas que realizem um trabalho voluntário e não remunerado. Esses voluntários que destinam parte do seu tempo ao auxílio de causas sociais. AGENTES PRIVADOS FINS PÚBLICO TERCEIRO SETOR Ao passo que o Terceiro Setor vai se consolidando vai crescendo na mesma proporção a necessidade de se repensar as ações do Estado para com o cidadão, bem como a responsabilidade de cada cidadão por sua sociedade. O Terceiro Setor une Estado e sociedade civil na busca por uma melhor condição de vida. O que há de negativo no Terceiro Setor? Um problema que se tem observado é que as organizações que compõem o Terceiro Setor ainda não conseguiram perceber a sua importância na dinâmica da sociedade. Elas ainda atuam muito isoladamente, perdendo a oportunidade de irem bem mais além caso se unissem seus esforços. Essa postura dificulta a construção de uma identidade própria do setor muito importante para que o mesmo se consolide ainda mais. Setores cuja identidade é bem definida têm bem mais credibilidade quando da apresentação de seus projetos à sociedade. Outro ponto negativo que se pode perceber nesse setor é em relação a sua administração. Geralmente as empresas do terceiro setor são administradas por amadores, ou seja, pessoas sem a experiência exigida pelo setor, principalmente em relação às técnicas modernas que hoje vêm sendo utilizadas pelas empresas privadas. A gestão deficitária dessas empresas as leva a uma má gerência de seus recursos, bem como a um inexpressível impacto social, frente as expectativas. Segundo André L. Fisher e a Rosa M. Fisher “os principais dilemas dessas organizações é a afirmação de sua identidade, sua perenidade, sua falta de estrutura ao lidar com os processos administrativos, a concorrência por fundos e a adaptação às demandas que estão constantemente em mudança”. As instituições integrantes do Terceiro Setor são atores de uma grande revolução que modifica o perfil de atuação da sociedade, que sai de sua condição de expectador para se tornar participante ativo de todo processo de mudança que vem acontecendo.