EXTRATOS DE PATA-DE–VACA INIBEM O CRESCIMENTO DE FUNGOS DO PÃO? Mariana Conceição de Queiroz e Luis Otávio da Silva de Oliveira Orientador: Saulo Cezar Guimarães de Farias Coorientador: Camilla Ferreira Souza Alô Escola: Colégio Estadual Aurelino Leal Endereço: R. Pres. Pedreira, 79 - Ingá, Niterói - RJ, 24210-470 Tels: 3601-2505 E-mail: [email protected] e [email protected] Resumo O surgimento de bolores nos pães gera grande desperdício de comida, visto que estes se tornam impróprios para o consumo humano. Existem milhares de pessoas no mundo que passam fome, sendo papel de qualquer cidadão ou empresa a preocupação com a redução do desperdício de alimento. O presente projeto busca avaliar o potencial antifúngico (no bolor do pão) de extratos de plantas do gênero Bauhinia. Vislumbramos a criação de um produto biotecnológico, a ser utilizado na indústria alimentícia para aumentar o prazo de validade dos pães oferecidos à população. E a criação de uma receita de pão mais durável e de melhor conservação. Foram realizados 4 extratos: 1- folha fresca com água; 2 - folha fresca com álcool etílico; 3 - flor com água; 4- flor com álcool etílico. Os extratos 1, 3 e 4 não apresentaram efeitos na inibição do crescimento do fungo. Porém, o extrato 2 apresentou tanto efeito no bloqueio do crescimento quanto na inibição do surgimento do fungo. Na próxima etapa iremos preparar um pão usando álcool de cereais, para desenvolver um pão mais durável. O tema do desperdício de alimentos foi bastante discutido no grupo. O presente projeto está auxiliando na nossa alfabetização científica de modo que estamos aprendendo a preparar extratos de plantas e a realizar os processos de obtenção de substâncias com potencial biotecnológico. Palavras chave: Bauhinia spp.. Decomposição. Bolor. Introdução Plantas do gênero Bauhinia são conhecidas popularmente por pata-de-vaca, unha-devaca ou mororó. São, aproximadamente, 300 espécies, pertencentes à família Leguminosae, amplamente encontradas em regiões tropicais do mundo. Atividades antifúngicas, antiinflamatótias, antibacterianas e antidiabéticas já foram descritas para algumas espécies deste gênero (SILVA e FILHO, 2002), sendo plantas muito utilizadas na medicina popular. Esta planta foi escolhida para o presente projeto, pois é de fácil obtenção e é característica da Mata Atlântica, bioma presente no município Niterói-RJ, onde o projeto está sendo realizado. Vários compostos de algumas espécies de plantas do gênero Bauhinia já foram isolados e identificados. As classes de compostos orgânicos com interesse medicinal relatadas são: flavonoides, terpenóides, esteroides, triterpenos e taninos. Apesar deste grande conhecimento das classes, pouco se sabe sobre as suas atividades farmacológicas (SILVA e FILHO, 2002). Estas classes de substâncias fazem parte do metabolismo secundário da planta, uma vez que não estão envolvidas nos processos de reprodução, crescimento e desenvolvimento do organismo. Os fungos são organismos unicelulares ou pluricelulares, heterotróficos com grandes variedades de formas. Os fungos que surgem nos pães são conhecidos como bolores e podem ser classificados como decompositores de matéria orgânica. Os bolores do pão podem ser formados por diversas espécies, como a Penicillium candida (VIEIRA, 2012) e Neurospora crassa (BREYD, 2014). As plantas são fontes úteis de substâncias fungitóxicas, as quais, quando comparadas com fungicidas sintéticos, se mostram praticamente inofensivas para o meio ambiente, podendo até superá-las em sua ação fungitóxica. Os fungicidas originados de plantas são utilizados há séculos (CELOTO, 2008). Os compostos isolados de diversas espécies do gênero Bauhinia apresentaram atividade antifúngica. Dentre estes podemos citar: compostos isolados da B. manca apresentaram significativa atividade antifúngica contra as espécies Botrytis cinerea, Claviceps viridis, Coprinus cinereus, Rhizoctonia solani e Saprolegnia asterophora. (ACHENBACH, 1988 apud SILVA e FILHO, 2002); O extrato de DCM (diclorometano), obtido a partir de cascas de B. rufescens, apresentou atividade antifúngica contra a espécie Cladosporium cucumerinum. Os estudos fitoquímicos com esta planta permitiram o isolamento de quatro novos compostos tetracíclicos antifúngicos (MAILLARD et al. 1991 apud SILVA e FILHO, 2002). Além destes efeitos, também foi observado que os extratos aquosos Bauhinia inibiram mais de 90% da germinação de esporos de Colletotrichum gloeosporioides (CELOTO et al., 2008). O surgimento de bolores nos pães, principalmente durante o período de verão, gera grande desperdício de comida, visto que estes se tornam impróprios para o consumo humano. Atualmente, existem milhares de pessoas no mundo que passam fome, sendo papel de qualquer cidadão ou empresa a preocupação com a redução do desperdício de alimento. O presente projeto busca avaliar o potencial antifúngico (no bolor do pão) de extratos de plantas do gênero Bauhinia. Se nossa hipótese for atendida, vislumbramos a criação de um produto biotecnológico, a ser utilizado na indústria alimentícia para aumentar o prazo de validade dos pães oferecidos à população. Objetivo Objetivo Geral Avaliar o potencial antifúngico (no bolor do pão) de extratos de plantas do gênero Bauhinia. Objetivos Específicos Fazer extratos aquosos usando folhas e flores; Fazer extratos alcoólicos usando folhas e flores; Testar o efeito destes extratos em pães já com mofo estabelecido; Avaliar o efeito destes extratos no surgimento do mofo. Produzir pão com álcool de cereais Testar se o pão com álcool de cereais demora mais para mofar. Materiais e Métodos As folhas da Bauhinia spp. foram coletadas no bairro do Sapê, no município de Niterói-RJ. Durante os primeiros experimentos, as folhas foram separadas em 2 grupos e pesadas, e colocada em recipientes de vidro. Um desses recipientes continha 200 ml de água e o outro 200ml de álcool etílico. As folhas foram deixadas em imersão, por 1 semana e mais 1 semana para evaporação do excesso de líquido. Após algumas dificuldades com este protocolo, que serão explicadas na seção dos resultados, decidimos alterá-lo para a metodologia a seguir. No laboratório da escola, são lavadas em água corrente e colocadas em solução de hipoclorito a 10% por 20 minutos, com a finalidade de eliminar microrganismos presentes na sua superfície. Em seguida, foi realizada a lavagem em água, para a retirada do excesso de hipoclorito, e secagem sobre papel absorvente, para redução do excesso de umidade (adaptado de CELOTO et al., 2008). Depois, são secas e picadas. As folhas foram divididas em três porções em recipientes de vidro, protegidos da luz. Numa dessas porções, foi colocada água, na outra, o álcool etílico e, na terceira, água + álcool, nas mesmas proporções. As folhas trituradas permanecem nos solventes por 1 semana. Na sequência, os extratos foram filtrados, usando funil e papel de filtro, e armazenados em refrigerador a 4ºC, até a sua utilização. Os fungos foram cultivados em fatias de pão. Depois que as colônias já estavam estabelecidas, foram cortadas, com facas, partes quadradas do pão contendo os fungos, para que todos os tratamentos e réplicas contivessem a mesma área de cultura de fungos. Estes pedaços foram colocados em bandejas de isopor (materiais reutilizados, para evitar o desperdício) e os extratos foram vertidos, em 5 gotas com o auxílio de pipetas Pauster ou de uma seringa (Figura 1). Nos próximos experimentos, faremos dois controles: C1 - fungo + solvente; C2 - fungo sozinho. Figura 1 Colocação dos extratos nos pedaços de pão com mofo. Uma semana depois os resultados foram observados por meio de leitura visual. O mesmo protocolo foi realizado com as flores (cor rosa). Resultados e Discussão Conforme mencionado nos materiais e métodos, tivemos algumas dificuldades com os extratos iniciais. Alguns dos extratos apresentaram sinais de apodrecimento (Tabela 1) e precisaram ser descartar alguns. Esse sinal de apodrecimento pode ter sido causado por microrganismos presentes nas folhas, antes da manipulação ou por contaminação dos recipientes utilizados, sendo assim, decidimos alterar nosso protocolo de elaboração de extratos. Tabela 1 Resultados dos extratos durante o primeiro experimento. Extrato Folha Solvente Resultado Destino 1 Fresca Água Cheiro péssimo Descartado 2 Fresca Álcool etílico Bom para uso Utilizado 3 Seca Água Bom para uso Utilizado 4 Seca Álcool etílico Cheiro ruim Descartado Com os extratos bons para a utilização não observamos, após uma semana, efeito no controle dos fungos (Figura 2). A B Figura 2 Pão com fungo no dia do experimento (A). E aspecto do experimento uma semana depois (B) Pela análise visual, observamos que os extratos 2 e 3 não apresentaram efeitos no controle do crescimento de fungos decompositores do pão. Após a mudança de metodologia de obtenção dos extratos, percebemos que o extrato alcoólico evitou o desenvolvimento do fungo já estabelecido. Com os pães sem fungo, percebemos que o extrato com álcool impediu o surgimento dos fungos. Já com as flores, não constatamos alteração no padrão dos fungos, indicando que as sustâncias antifúngicas possam não estar presentes nessas partes da planta. Sendo assim, as próximas etapas do projeto serão refazer os extratos utilizando a nova metodologia e testar os efeitos dos extratos na inibição do crescimento dos fungos do pão, ou seja, colocaremos os extratos antes do surgimento dos fungos. A etapa de elaboração do pão com álcool de cereais está sendo realizada, como objetivo de testar uma nova receita de pão “resistente” ao bolor, que tenha uma maior durabilidade e melhor conservação. Conclusões Conversamos bastante sobre o problema da falta de alimentos no mundo e percebemos que se diminuirmos o nosso desperdício, mais alimento estará disponível para a população em geral. Aprendemos a preparar extratos de plantas e a realizar os processos e obtenção de substâncias com potencial biotecnológico. O presente projeto está auxiliando na nossa alfabetização científica, de modo que estamos realizando ciência dentro de um laboratório escolar. O potencial antifúngico dos extratos com álcool de pata-de-vaca na inibição do crescimento dos fungos do pão foi comprovado. Além disso, notamos que o mesmo extrato impediu o surgimento de fungos no pão. As flores aparentemente não apresentam potencial antifúngica. Agradecimentos Agradecemos à Direção da E.M. Levi Carneiro (Niterói) - Olena Nunes e Elaine Sabino por toda ajuda e apoio na realização deste trabalho. Referências CELOTO, M. I. B. et al. Atividade antifúngica de extratos de plantas a Colletotrichum gloeosporioides. Acta Scientiarum. Agronomy, v. 30, n. 1, p. 1-5, 2008. SILVA, M.L.; FILHO, V.C. Plantas do gênero Bauhinia: composição química e potencial farmacológico. Química Nova, v.25, n.3, p.449-454, 2002. BREYD, R. A. O. Avaliação da contaminação e estratégia de controlo do contaminante sazonal Neurospora crassa em produtos de panificação. Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Segurança Alimentar e Saúde Pública. Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, 2014. VIEIRA, L. F. et al. Produção de mudas de Urucum (BIxa orellana l.) em cultivo orgânico utilizando queijo brie como biofertilizante. Cadernos de Agroecologia, v. 6, n. 2, 2012.