FORMAÇÃO DE PREÇO DE VENDA MÓDULO 17 Índice 1. O que é que influencia a percepção de valor? ............... 3 2. O efeito preço de referência ....................................... 3 3. O efeito comparação difícil ......................................... 3 4. O efeito custo de mudança ........................................ 4 5. O efeito preço-qualidade ........................................... 4 6. O efeito gasto .......................................................... 5 2 Formação de Preço de Venda - Módulo 17 1. O QUE É QUE INFLUENCIA A PERCEPÇÃO DE VALOR? Em se tratando de pessoas e de sua total subjetividade com relação ao valor percebido nos produtos e/ou serviços de que elas necessitam – e também o próprio conceito de necessidade é altamente subjetivo, porque uma roupa de marca famosa, por exemplo, pode ser um objeto de desejo para uns e não significar absolutamente nada para outros – torna-se relevante descobrir o que é que influencia tal percepção de valor. Nagle e Holden (2003) apresentam “nove ‘efeitos’ que influenciam a disposição em pagar e tornam os compradores mais ou menos sensíveis à diferença entre preço e valor ao tomarem decisões de com pra”: 2. O EFEITO PREÇO DE REFERÊNCIA Você já se deu conta de que, em uma loja de calçados, mesmo que você indique expressamente ao vendedor que gostaria de provar aquele sapato na vitrine, ele sempre traz outros pares? E qual é o que ele apresenta primeiro e insiste pra você provar? Um modelo mais caro do que aquele que você escolheu, não é mesmo? Isto se ele for um bom vendedor de sapatos, é claro. Essa é uma das muitas táticas utilizadas em vendas, conhecida por “venda de cima para baixo”. Aplica-se também a óculos, veículos, malas, roupas e até mesmo imóveis. Assim se constrói o “preço de referência”. A lembrança de preços vistos no passado também influencia a ideia de preço de referência. Lançamentos de novos produtos são efetuados geralmente com preços abaixo do seu parâmetro julgado ideal, com o objetivo de induzir à experimentação. Depois, quando o consumo se consagrar e ocorrer repetição da compra, o preço poderá ser aumentado. Mas é preciso tomar cuidado na quantificação do volume de vendas de repetição, porque o consumidor poderá associar o produto ao preço de introdução no mercado e julgar – acertadamente, neste caso – que houve um aumento indevido e, por isto, adquirir um produto substituto cujo preço permanece o mesmo. É daí que surge o conceito que os psicólogos denominam de expectativa de preço de referência do cliente para a categoria do produto em si. Porque, na realidade, a maioria dos consumidores não guarda em sua memória o preço de cada um dos produtos que adquire, mas, sim, têm tal expectativa de preço de referência. Essa expectativa também se aplica a preços futuros, quando o consumidor adia suas compras na esperança de que, um pouco mais à frente, os preços poderão ser reduzidos em função da prática de determinado desconto. Como nas liquidações de início de ano, por exemplo. 3. O EFEITO COMPARAÇÃO DIFÍCIL A percepção de valor é, por vezes, adiada em função da superposição de outros atributos do produto usualmente adquirido. É o caso de alguns remédios não genéricos, por exemplo, que invocam uma confiança na marca. Os consumidores continuarão a pagar um preço mais alto pela segurança que sua marca habitual oferece: esta confiança. Também existem casos em que o preço é de difícil comparação entre produtos similares. É o caso de vendas via Internet, que, além do preço do produto, também cobram frete, processamento e outros encargos. Ou produtos que, aparentemente iguais externamente, apresentam pesos diferentes em embalagens com forma e tamanho diferentes. Nagle e Holden citam o caso 3 Formação de Preço de Venda - Módulo 17 de estudo de apreçamento unitário que evidenciou que “a participação de mercado de marcas mais baratas cresceu substancialmente depois de as lojas terem ordenado as marcas pelos seus preços unitários”. Além disso, muitos consumidores estão dispostos a pagar um preçoprêmio por alguns produtos que sejam provenientes de marcas conhecidas e já testadas, com a qualidade já conhecida e julgada adequada, ainda que esta não seja a melhor qualidade do mundo. Os compradores do jornal Folha de São Paulo não o fazem por comparação com o seu concorrente O Estado de São Paulo, ou vice-versa, mas sim porque acreditam que este produto tem aquilo que eles precisam para satisfazer sua necessidade de informação. O mesmo se processa com certos tipos e marcas de veículos, computadores, tratores, implementos agrícolas e tantos outros bens. 4. O EFEITO CUSTO DE MUDANÇA O proprietário de uma frota de ônibus da marca “A” pode pensar em adquirir ônibus da marca “B”? Quais os custos envolvidos? Estoque de peças de reposição, treinamento do pessoal de oficina, pesquisa de custos de componentes vitais fabricados por terceiros, como pneus, por exemplo, levantamento de dados, na prática, sobre consumo e manutenção e tantos outros, não é mesmo? Por isto, é comum acontecer de o concorrente entrante – a marca “B”, no caso – oferecer um substancial desconto nos seus preços, tornando o seu produto muito atraente neste particular aspecto. Até mesmo determinados serviços executados por profissionais, como contadores, advogados e mesmo a babá dos filhos são relativamente cativos. Quem os contrata pensa duas vezes antes de mudar de profissional. Por isto, “quanto maior o investimento específico de um produto que o comprador precisa fazer para trocar de fornecedor, menos sensível a preço se torna esse comprador ao escolher entre alternativas”, nos dizeres de Nagle e Holden. Este é o efeito custo de mudança. Para estes autores, “quanto maior o custo adicional (tanto monetário como não monetário) associado à mudança de fornecedores, menos sensíveis os compradores se mostram ao preço de um produto”. 5. O EFEITO PREÇO-QUALIDADE Este efeito indica que os com pradores são menos sensíveis a preço de um produto porque, para eles, o preço mais alto sinaliza melhor qualidade. E é claro que “qualidade”, aqui no caso, é um conceito igualmente subjetivo. A qualidade de um renomado veículo de passeio pode não ser nada significativa para um consumidor apaixonado por utilitários. Neste caso, o importante é o reflexo pessoal sobre o consumidor que tais objetos de desejo despertam nos outros. Em outras palavras, a aquisição de um produto reconhecidamente caro dá prestígio ao seu adquirente, porque ele comunica aos outros que tem condições de adquirir tal bem. É por isto que o prestígio da loja interessa no momento em que se está comprando um presente para alguém, mas é irrelevante quando se trata de um item para uso pessoal. Existem outros motivos para se estabelecer um preço elevado, mais alto do que os dos concorrentes, como um indicador de qualidade. Ao cobrar preços altos, profissionais liberais – médicos, dentistas, advogados, cabeleireiros – podem agendar o atendimento de seus clientes espaçadamente, porque estes preços altos contribuem para reduzir a clientela. Os efeitos indesejados de uma viagem aérea de longa distância 4 Formação de Preço de Venda - Módulo 17 com crianças pequenas do lado ou um turista conversando em alto volume são eliminados quando se compra uma passagem de primeira classe. O preço alto desta passagem certamente elimina este tipo de inconveniente. E veja, ainda, o caso de banheiros públicos que possuem unidades pagas ao lado de outras gratuitas. Conheci um empresário que resolveu diversificar seus investimentos, adquirindo um ponto comercial em uma atraente rua de São Paulo, famosa pelos seus requintados restaurantes, para ali montar uma churrascaria à moda argentina. Seus filhos, bem educados e frequentadores de ambientes selecionados nesta que é a capital da gastronomia, quando visitaram o empreendimento pela primeira vez imediatamente detectaram algumas importantes modificações a empreender no negócio: melhorar a decoração e a iluminação, substituir o papel toalha... E, o que foi mais contundente: uma substancial elevação nos preços do cardápio. Esta recomendação, em particular, foi seguida à risca, o que contribuiu para a atração de importantes e badalados frequentadores, acostumados ao efeito preçoqualidade, condizente com a reputação de um ponto comercial numa das mais importantes localizações de São Paulo. 6. O EFEITO GASTO Este efeito deve ser analisado sob duas óticas: a de uma empresa que vai empreender um gasto e a ótica de um consumidor doméstico. No caso da empresa, interessa o volume deste gasto como determinante da escolha pela melhor opção, ou seja, o tamanho do gasto. No ambiente doméstico, é a relação entre o gasto e a renda, ou seja, a proporção do gasto em relação à renda disponível que irá nortear as avaliações a serem empreendidas no aspecto preço como determinante da escolha. É fácil perceber que, quanto maior o gasto, maior será o interesse em obter vantagens de preço. Mesmo o comprador doméstico, que normalmente faz pequenas compras em lojas de conveniência, geralmente mais caras do que um supermercado, não deixa de buscar alguma vantagem de preço em suas compras mensais. Isto demonstra sua sensibilidade a preço, neste particular aspecto. 5 Formação de Preço de Venda - Módulo 17