Justiça e racionalidade em Alasdair MacIntyre Alberto Leopoldo Batista Neto [email protected] O filósofo escocês Alasdair MacIntyre é um dos principais críticos em atividade do projeto moderno em Filosofia Moral. Propõe uma defesa da tradição aristotélica da ética das virtudes face ao que considera o fracasso do programa moral iluminista, que, segundo ele, foi evidenciado por Nietzsche, e contra as tendências do emotivismo, sob cujo peso julga sucumbirem as controvérsias atuais. A apropriação de um vocabulário gestado no seio de uma tradição cujos pilares são expressamente rejeitados pelas linhas dominantes da especulação moral moderna, e a consequente acumulação de aporias e incoerências nas principais teorias morais do Iluminismo, estariam na base do que MacIntyre identifica como a atual crise nos estudos filosóficos da moralidade. Para desenvolver seu diagnóstico, etiologia e terapêutica, MacIntyre recorre a uma abordagem histórica, e desenvolve um conceito de tradições de pesquisa racional (aparentada às abordagens de Kuhn e Lakatos em Filosofia da Ciência), no interior das quais as concepções relevantes da Filosofia Moral adquirem seus significados. Essas tradições estruturam concepções diversas da racionalidade prática, que emolduram as diferentes acepções de “justiça”, de modo que não pode haver uma confrontação direta entre teorias pertencentes a tradições divergentes ou um autêntico e definitivo triunfo de uma dada teoria através da confutação de suas rivais. Isto não implica, porém, que as referidas tradições constituam “paradigmas incomensuráveis”, podendo aquelas, pelo contrário, ser comparadas segundo critérios, por exemplo, de coerência e fertilidade. A visão de MacIntyre sobre as relações entre o conceito de justiça e uma apresentação determinada dos princípios da racionalidade prática no interior de uma tradição de pesquisa racional pode ajudar a compreender o modo como abordagens distintas sobre os cânones da razão (tal como codificados, por exemplo, em certa compreensão de “Lógica”) condicionam o tratamento de questões filosóficas em contextos mais amplos do que aquele originalmente divisado por MacIntyre, identificando, desde uma perspectiva histórica semelhante, os padrões de relacionamento entre diversas concepções de Lógica (como a aristotélica e a fregeana) e suas respectivas formas de tratamento de conceitos como o de existência.