www.aquinate.net/entrevistas ISSN 1808-5733 EDUCAÇÃO MORAL: UMA PRÁTICA A SER VIVIDA! por Paulo Faitanin “Educação Moral é problema a ser estudado, (...) e mais que isto, deve ser uma prática a ser vivida. Decorrente em primeiro lugar da Filosofia Moral, há muito mais a ser analisado, pois se trata de uma disciplina concreta, que pretende oferecer subsídios para o dia a dia das pessoas.” Maria Judith Sucupira da Costa Lins é professora adjunta da Maria Judith Faculdade de Educação da UFRJ. Sua carreira como Sucupira da Costa professora universitária foi iniciada em 1971, na Lins Universidade Santa Úrsula. Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro e Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da UFRJ, Maria Judith prosseguiu com suas pesquisas e em 2002 apresentou à Association for Moral Education os resultados de seus estudos de pós-doutoramento em Ética, Filosofia da Educação e Educação Moral, em Chicago, EUA. Em 1985 e em 1992 esteve na Alemanha como professora universitária convidada pelo DAAD. Com artigos publicados em revistas especializadas nacionais e internacionais e intensa participação em congressos também nacionais e internacionais, Maria Judith coordena atualmente pesquisa no GPEE – Grupo de Pesquisas em Ética e Educação – da Faculdade de Educação da UFRJ, onde leciona na graduação e no programa de pós-graduação em Educação. Além destas atividades, Maria Judith publicou livros de poesia e de literatura infantil e concilia sua vida acadêmica com a atenção à família, o marido Roberto Hugo, os quatro filhos e os quatro netos. Este livro enfoca as questões da Educação Moral tendo como base a Filosofia Moral de Alasdair MacIntyre. Os princípios fundamentais desta teoria que serviram de referência são o alerta feito pelo autor para a Desordem Moral e o Emotivismo, de um lado, e a necessidade da Virtude, de outro. Foram analisadas as idéias e a argumentação do autor, notadamente sua ênfase na ausência da tradição nas sociedades contemporâneas e os problemas decorridos desta falta. Verificamos ainda as propostas alternativas desenvolvidas pelo autor em suas últimas obras, destacando-se a necessidade da Virtude na vida do ser humano para que este possa transcender suas características de animal racional dependente. Esta transcendência não elimina a dependência, pelo contrário, faz desta característica o seu elemento nuclear pela prática da Virtude do receber e do dar juntamente com a vida Moral marcada pela responsabilidade social. Foi analisada a possibilidade de uma Educação Moral baseada nesta teoria. Apesar da crítica de alguns autores que AQUINATE, n°9, (2009), 273-276 273 www.aquinate.net/entrevistas ISSN 1808-5733 consideram MacIntyre um pessimista, neste livro é apontada uma possibilidade de se entender esta teoria pelo lado de um otimismo, na medida em que há produz uma expectativa de Educação Moral. Maria Judith Sucupira da Costa Lins, Educação Moral na perspectiva de Alsdair MacIntyre. Access Editora. 2007. Pedidos: Rua Pinheiro Guimarães, 87 Botafogo Rio de Janeiro-RJ - 22281-080 (21) 2535-1724 A Aquinate agradece à Dra. Maria Judith Sucupira da Costa Lins pela valiosa contribuição com as pesquisas e publicações no campo da Filosofia Moral no Brasil. 1. Qual a importância de uma educação moral hoje inspirada nos valores e princípios da Filosofia Moral de Tomás de Aquino? A importância da Educação Moral está ligada ao significado fundamental da Educação como processo de aperfeiçoamento do ser humano. Visando o aperfeiçoamento do ser humano, a Educação Moral toma como base valores universais pertinentes à sua natureza procurando desenvolvê-los. Considerando que a Educação Moral tem um duplo aspecto, pois diz respeito ao próprio aperfeiçoamento da pessoa enquanto tal e ao mesmo tempo se refere a costumes e comportamentos sociais, pode-se perguntar qual a atualidade desta ou de outra Filosofia que lhe sirva de sustentação. Hoje como em qualquer outra época, a fundamentação tomista oferece um profundo sentido a Educação Moral pelo fato de conceituar o ser humano de maneira completa, preso à sua condição animal e ao mesmo tempo livre para a transcendência para a qual foi criado. A partir do conceito de virtude, ainda em um plano horizontal, Santo Tomás estabelece a verticalidade necessária destas virtudes proporcionando ao ser humano ricos subsídios para seu eterno questionamento sobre quem é, por que existe e para que foi criado. Esta é a atemporalidade básica presente nos valores e princípios da Filosofia Moral de Santo Tomás de Aquino que garante a sua excelência para qualquer época, não só hoje, mas sempre. 2. Fale-nos um pouco do livro com que recentemente a Sra. nos brindou: Educação Moral na perspectiva de Alasdair Macintyre (Rio de Janeiro: Access Editora, 2007) Este pequeno livro é simples e não tem a pretensão de oferecer mais do que uma reflexão a todos interessados em Educação. Como o título indica, trata-se de Educação Moral, e mais ainda explicitado está, que a fundamentação se AQUINATE, n°9, (2009), 273-276 274 www.aquinate.net/entrevistas ISSN 1808-5733 encontra na teoria de Alasdair MacIntyre. Este é um autor escocês, radicado na Universidade Notre Dame EUA, nascido em 1927 e ativamente engajado em contínuos projetos de filosofia moral. Buscando responder a questões práticas, resultantes de uma pesquisa de campo que efetuamos em escola pública de primeiro grau no Rio de Janeiro, voltamo-nos para os princípios apresentados por MacIntyre. O núcleo da discussão está na apresentação da oposição entre Virtude e Emotivismo, na tentativa de esclarecer cada uma destas vertentes e por fim analisar a Educação por meio da Virtude. 3. Quais os projetos que a Sra. está trabalhando agora ou no futuro sobre este tema? Sobre este tema, Educação Moral, estamos trabalhando em dois projetos. a. - Coordenação de Pesquisa sobre o desenvolvimento da Maturidade Ética de alunos de curso médio de preparação de professores de primeiro grau (antigo curso Normal), tendo como fundamentação teórica a contribuição de Alasdair MacIntyre. Esta pesquisa faz parte do Grupo de Pesquisa sobre Ética e Educação (GPEE) da Faculdade de Educação da UFRJ. O tema desta pesquisa, iniciada em 2007, surgiu das conclusões da Pesquisa encerrada em 2006 e apresentada na Conferência Anual da Association for Moral Education em Fribourg, Suíça, na qual foi analisada a atuação dos professores deste nível de ensino no que se refere ao ensino da Ética por meio de Tema Transversal segundo a indicação dos Parâmetros curriculares Nacionais. b. No momento estou iniciando uma pesquisa que pode ser chamada de Educação Moral comparada. Trata-se de uma investigação sobre o desenvolvimento da aprendizagem de virtudes realizadas por alunos das quatro primeiras series da escola elementar numa escola em Ohio, EUA e numa escola semelhante no Rio de Janeiro. Tomamos como fundamentação teórica também a proposta de Alasdair MacIntyre. Este projeto me parece altamente desafiador e muito interessante e do qual espero tirarmos importantes conclusões para a prática da educação moral em ambas as escolas e posteriormente generalizar para outras instituições. A parte empírica iniciouse em maio. 4. É necessário educar? Há uma necessidade da educação? Existe ausência de algo no ser humano que será preenchido pela educação? É possível educar? É legítimo educar? AQUINATE, n°9, (2009), 273-276 275 www.aquinate.net/entrevistas ISSN 1808-5733 a. - A educação moral é necessária? No livro perguntamos se uma educação moral pela virtude é necessária, se uma educação moral com base em MacINtyre será necessária. O problema reside na identificação da carência de algo que torna a educação necessária. Se a educação não fosse necessária, o que estamos nós aqui fazendo, educadores? b. - Outra questão (não digo segunda, pois não estabeleço ordem nas três): é possível educar? Porque se não for possível, o que pretendemos? Se não é possível educar, o que estamos fazendo? Se não é possível, estamos trabalhando num projeto inútil. Se for possível, estamos fazendo a nossa parte. Se for possível, conseguiremos um resultado, atingiremos uma finalidade. c. - A última questão tem se tornado cada vez mais importante. É também a mais difícil para os alunos entenderem. Primeiro distinguimos legitimidade de legalidade. É legítimo educar? É legítimo iniciar uma atividade educacional e levá-la adiante? É legítima a educação moral? Qual o significado da educação moral que vai legitimá-la? Se não for legítima, não poderemos abraçar este projeto, pela própria contradição moral. Se for legítima, voltamos as outras duas questões, é possível? É necessária? Assim, a legitimação da educação moral nos leva aos questionamentos sobre possibilidade e necessidade. AQUINATE, n°9, (2009), 273-276 276