Aprendizagem Humana – processo de construção

Propaganda
Aprendizagem Humana – processo de construção
Regina Trilho Otero Xavier
De acordo com Piaget, a aprendizagem humana se constrói em um processo extremamente laborioso e com
a formação de mecanismos complexos a partir da ação do sujeito. Procurando entender melhor esse processo - e
seguindo o lado kantiano de Piaget – uma alternativa é partir da análise das condições para a aprendizagem, isto é, da
análise daquilo que deve existir antes para que algo se realize (condição necessária e anterioridade lógica). Assim,
considerando o ponto de partida, pode-se buscar a gênese e talvez, até arriscar um ponto de chegada.
Piaget procurou compreender como o organismo constrói o funcionamento das estruturas mentais que
possibilitam o conhecimento. Para efeitos de estudos, partiu do nascimento do bebê e das montagens hereditárias,
conforme elas se apresentam no primeiro momento de vida, e considerou como existentes um funcionamento
invariante e um sistema de reflexos, o qual necessita de funcionamento para se consolidar.
Este funcionamento é responsável pelas funções de organização e adaptação e não tem uma programação
pré-definida. Os resultados desse funcionamento são totalmente dependentes das ações do sujeito sobre o meio. A
função de organização é responsável por manter a coerência e pela capacidade de efetuar relações. A função de
adaptação constitui-se de atividades de assimilação e acomodação – e das funções intelectuais reguladoras,
implicativas e explicativas.
Assim, partindo do sistema de reflexos, do modo de funcionamento e das ações do sujeito sobre o meio, as
estruturas mentais vão sendo construídas. Isto é, para que as ações da criança se organizem e para que a experiência
vivida seja estruturada são executadas ações de ordenação, seriação, classificação e/ou implicação em uma
seqüência de tal forma que vai sendo construída uma lógica de ações, isomorfa à lógica das classes e relações.
Quando acontecem experiências que os esquemas existentes não conseguem dar conta, isto é, quando eles não
conseguem assimilar algo em que o sujeito está interessado, são realizadas transformações nesses esquemas para que
ele possa realizar novas assimilações: um conteúdo novo é colocado (assimilado) num conjunto de elementos
organizados (esquemas) que, para adicioná-lo, reorganiza-se transformando-se (acomodação). Assim, a acomodação
diferencia o esquema, tendo, portanto, uma função diferenciadora a qual acontece em função da abstração
reflexionante.
Neste processo, alguns pontos merecem destaque como, por exemplo, a questão da formação de hábitos e
de valores. Desde as aprendizagens sensório-motoras já existe a formação de uma lógica cuja fonte encontra-se mais
nos mecanismos – dependentes dos hábitos adquiridos – por meio dos quais o sujeito aprendeu, do que nos conteúdos
das condutas que permitiram as aprendizagens. Em mais de uma obra, Piaget chama a atenção para o fato de que é
difícil nos livrarmos de certos hábitos adquiridos e que exige um tempo muito maior modificar as formas de
aprendizagem do que aprender um novo conteúdo. Quanto à questão da formação de valores, Piaget fala em valores
relativos à obtenção de êxito nas ações e valores de compreensão quanto à maneira pela qual atingiu o êxito. A
satisfação ocorrerá só no êxito ou só na compreensão dependendo do resultado de uma relação custo/benefício que o
sujeito calculará de forma consciente ou não.
Uma observação importante que decorre das colocações realizadas é a importância fundamental dos
educadores. Os professores ajudam a diminuir o custo na relação custo/benefício quando possibilitam a construção
das estruturas que permitirão que os alunos aprendam os conteúdos e se reestruturem com crescimento para novas
aprendizagens. Os professores podem também agir no sentido de aumentar os benefícios da aprendizagem quando
conseguem vincular a aprendizagem a momentos prazerosos. Da mesma forma os pais, devem manter ativos os
mecanismos de aprendizagem, seja favorecendo momentos prazerosos de aprendizagem, seja valorizando a
aprendizagem e o aprendente.
Concluindo, já que se mencionou o ponto de partida no início desta síntese, pergunta-se qual seria, então, o
ponto de chegada da aprendizagem? Parece-me que a resposta deve ser buscada, principalmente, na qualidade das
interações e do meio em que o sujeito vive, no grau de liberdade de ação e, sobretudo, na capacidade imprevisível de
criatividade construída pelo sujeito ao longo de sua vida.
Download