Reflexões sobre a função de RH Propondo-se a refletir sobre a necessidade de um campo estruturado para a função RH desenvolver-se e influenciar o destino de uma organização e adotando uma abordagem orgânica, mais precisamente psico-biológica sobre as organizações empresariais... Formulada a questão: sem planejamento estratégico, sem visão, missão, valores, filosofia é possível considerar a função de recursos humanos como contribuidora para o alcance de resultados? Considerando que a presença, nas empresas, das definições de valores, missão, etc... seja indicativa de uma maior maturidade das organizações; onde o significante, o manifesto surge vinculado e conseqüente de um significado latente. Significante oriundo de uma reflexão acerca da finalidade da própria existência – Qual é o nosso negócio, estamos aqui para fazer o que?. Há de levar-nos a supor de que é admitido como necessário, para manter uma organização atuante e lucrativa, mais que a simples vontade de alguns poucos fundadores, dirigentes e estrategistas. Mas se, analogamente a um organismo, seu estado não for ainda o do plenamente desenvolvido, evidências de fragilidade serão percebidas pelo observador atento. Ações lentas e descoordenadas, como as decorrentes de um corpo sem conexões neurológicas suficientes, dificultarão sua sobrevivência tornando-a potencial vítima da seleção natural presente no mundo dos negócios. Neste estágio administrativo primitivo não é possível o reconhecimento de que se incluem entre seus recursos valiosos os componentes pessoais de seus empregados, não apenas a mão-deobra, puramente braçal, mas o que De Masi denomina mente-de-obra: pessoas, com suas características, desejos, e limitações. Tampouco é provável, nesta fase administrativa em que se encontra, considerar-se a necessidade de uma política de recursos humanos alinhada aos objetivos estratégicos, ainda incipientes, não declarados, e uma função de RH que possa contribuir para o alcance dos resultados esperados. No organismo imaturo dominado ainda pelo instinto e pela irracionalidade, o movimento impulsivo das partes que o compõe dá-se sem a devida integração necessária ao automatismo harmônico que libertará o ser para outras funções também importantes para a vida. Harmonia que advém tendo como condição indispensável o reconhecimento e integração das partes componentes do todo orgânico. Dando continuidade a metáfora. Onde estaria a função de recursos humanos numa organização? E qual seria a sua contribuição para o resultado da ação idealizada? A analogia parece colocá-la em todos os lugares, permeando todo o organismo, como uma função sináptica, transmissora e catalisadora das ações requeridas pelo cérebro. Como as partes componentes têm também seus mecanismos de defesa – no caso de seres, mecanismos reflexos neurovegetativos e em se tratando de organizações: os instintos e desejos das pessoas que as compõem. O sentir implica no reagir às condições desfavoráveis impostas por propósito ou inadvertidamente pelo centro de comando, que geram sinais, inputs valiosos para a correção de erros ou excessos que se configurem em ameaça. Também aqui, a função de RH torna-se fundamental na manutenção e no estímulo a existência desta importante via de retro-alimentação do sistema. Encontramos assim a função de RH, intimamente entrelaçada, fundamental para a sobrevivência e o desenvolvimento das empresas; mas dependente de uma maior maturidade de gestão e estruturação destas, para 1 reconhecer-se presente em todos os setores e indispensável a consecução dos objetivos principais. Indivíduos, grupos e organizações, na plenitude de suas funções psíquicas têm valores e objetivos, isto é, buscam resultados que os satisfaçam. Os que, seja por qual motivo, ainda não os explicitaram, não se indagaram do propósito de suas existências, não focaram o porvir, também buscam satisfação e resultados, embora de maneira diferente daqueles. Aos que andam no escuro, tateando, que valor lhes teriam os olhos? Para que planejar semeaduras e colheitas se o sustento provém do que é colhido pelo caminho? Nas empresas sem planejamento estratégico, alinhado a uma missão e a valores, ou seja, onde está ausente a explicitação do significado ou que, mesmo existente, ainda encontra-se em desacordo com uma realidade possível, não há como se reconhecer a contribuição da política para recursos humanos como necessária, existente e contributiva. Quiçá haja a percepção de que os empregados sejam fundamentais para a sua sobrevivência. O significante desconhecido ou o manifesto desvinculado do oculto, – o existir sem o ser – geram estados de tensões instáveis que procuram incessantemente a revelação do implícito, a definição exata do valor, a resposta às indagações filosóficas, a redução dos níveis de ansiedade. E tende a soluções que busquem a libertação de uma solidão autista e que propicie a convivência com o todo circundante. A busca do outro. Habilitando, então, o surgimento de políticas artífices de um processo de individualização e diferenciação. Políticas internas e externas de convivência e desenvolvimento, entre elas as voltadas para a área de recursos humanos. Uma visão, como um objeto de desejo deslocado no futuro. A missão: trilha constantemente percorrida rumo a este objeto. valores, autorizando a permanência do desejado. A filosofia validando os demais. Um planejamento estratégico para o alcance do ansiado. Cabe indagar quem dá concretitude a toda esta abstração simbólica? Como passar do idealizado ao realizado? Quem serão os navegadores, os estrategistas, os que abrirão e percorrerão as trilhas em direção ao sucesso, senão pessoas e suas máquinas? Para que isto ocorra, para que o sonho ganhe contornos de realidade, é preciso que estas pessoas compartilhem da mesma crença, dos mesmos valores, conheçam a estratégia de alcance, sejam capazes de realizações e tenham seus desejos pessoais coincidentemente atendidos ao realizarem-se os da organização. Eis aí a função de RH delineada; manter o foco no objetivo, manter os valores presentes, o ânimo ativo nos reveses, a capacitação em alta, a confiança diante de intempéries que obriguem a revisão de estratégias, e, sobretudo partilhar o prazer da conquista, do triunfo pelo alcance do almejado. Acreditar que a função de recursos humanos possa contribuir para o alcance de resultados sem que a empresa tenha, declarado o seu discurso. Esperar que ocorram ações complexas e coordenadas, necessárias ao efetivo desempenho de sua funções empresariais, sem que ao menos tenha o significado sido verbalizado. É algo insólito. Pois na ausência de uma diretriz maior, de uma vontade consciente e dominante, caberia a área de RH a opção do improviso e, ao tentar agir de modo coerente, correria o risco de assumir como objetivo algum conjunto de significações existentes que julgasse oportuna, de acordo com as convicções de seus componentes – dada, segundo Freud, a dificuldade de perceber-se o mundo de maneira diferente de nós mesmos. Atitude que poderia levar a resultados em desacordo com os desejos corporativos. Fonte REFLEXÕES sobre a função de RH. [S.l.: s.n.]. 2