I Seminário ATIID - Acessibilidade, Tecnologia da Informação e Inclusão Digital (S. Paulo, Brasil, 28-29/08/2001) ALFABETIZAÇÃO DIGITAL DE EDUCADORES: UMA CHAVE PARA A INCLUSÃO DO CIDADÃO NO MUNDO DIGITAL Aldo N. Pontes Mestrando em Educação na área "Educação, Ciência e Tecnologia" Faculdade de Educação Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP R. Ernesto Kulmann, 80 - apto. 87 - 13.013-010 Campinas - SP e-mail: [email protected] RESUMO Um dos grandes desafios da educação atual é o como estabelecer sua adequação a uma sociedade que exige cada vez mais do cidadão uma formação geral e de qualidade. Dentre as competências necessárias exigidas nessa formação, a alfabetização para o uso da tecnologia, no desenvolvimento das mais diversas atividades, constitui o maior desafio da educação e dos educadores. Na era da informação, a educação é elemento de progresso e de exclusão social (CASTELLS, 1999).Como garantir aos alunos tais saberes se nem mesmo os educadores, que são os principais responsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem, tiveram/têm formação para o domínio de tais competências? Embora tenha havido uma verdadeira revolução nesse campo nós últimos vinte anos, a formação ainda deixa muito a desejar. Existe uma certa incapacidade para colocar em prática concepções e modelos inovadores. As instituições ficam fechadas em si mesmas, ora por um academicismo excessivo ora por um empirismo tradicional. (Nóvoa, 2001) Um ponto aparentemente consensual é que a formação do cidadão para o acesso ao mundo digital depende diretamente da qualidade da formação dos professores. Para atender a este novo enfoque, é necessária tanto uma maior atenção tanto com a formação inicial dos novos educadores, quanto com a formação continuada daqueles que já estão no exercício da profissão. Assim, a formação continuada do educador passa a ser uma imposição a ser encarada como um processo permanente, contínuo, integrado ao seu cotidiano e ao das escolas, e não como uma atividade que ocorre à margem dos projetos profissionais dos educadores ou da organização da escola. Com base nesses pressupostos, O Centro Municipal de Ensino Supletivo Modular, escola situada na periferia de Campinas - SP, no I Seminário ATIID - Acessibilidade, Tecnologia da Informação e Inclusão Digital (S. Paulo, Brasil, 28-29/08/2001) primeiro semestre do ano de 1999, deu início ao Proquiae - Programa de Qualificação em Informática Aplicada à Educação. Desenvolvido enquanto formação continuada em serviço, o objetivo geral desse programa era desenvolver um processo de formação continuada que gerasse recursos humanos capazes de articular: a) a ação pedagógica com o uso das tecnologias informáticas; b) a exploração da tecnologia computacional; c) as teorias educacionais e os interesses e vivências da comunidade; d) o acesso ao mundo digital ao corpo docente e, consequentemente aos alunos. Quando nos preocupamos em gerar recursos humanos, optamos por esse caminho por acreditarmos que ninguém melhor do que os próprios educadores, que convivem diariamente com os alunos, para inserir esse instrumento na prática pedagógica, enquanto mecanismo capaz de contribuir para a construção e reconstrução do conhecimento. Inicialmente nos empenhamos na formação dos educadores para desenvolvimento de competências que lhes garantissem a inclusão no mundo digital. Esse processo foi realizado em duas etapas distintas: 1) o Módulo I, onde os educadores foram instrumentalizados para o uso das tecnologias informáticas. Terminado esse módulo, verificamos que os conhecimentos trabalhados nesse módulo não garantiam aos professores as competências necessárias para inserirem o computador em sua prática pedagógica. Observamos que o problema não era tanto a instrumentalização mas como aplicar a informática na educação; 2) A partir dessa análise, estruturamos e ofertamos o Módulo II do Programa, onde trabalhamos a Metodologia para a Aplicação da Informática na Educação. Esse foi o momento mais rico do Programa, pois abriu-se o espaço para reflexão sobre as transformações da sociedade e, consequentemente, da prática pedagógica, com as novas tecnologias de informação e comunicação e a montagem de projetos interdisciplinares que tinham a função de trazer essas discussões para a prática pedagógica. A aplicação desses projetos trouxe alguns resultados considerados significativos: a) dinamização da comunicação vertical e horizontal na unidade escolar; b) garantia de novas possibilidades de emprego para os alunos e professores; c) inclusão do grupo (professores e alunos) no mundo digital; d) desenvolvimento de práticas de pesquisa/investigação escolar; e) realização constante de projetos interdisciplinares; f) dinamização das práticas de leitura e escrita na escola; g) melhora na freqüências escolar; I Seminário ATIID - Acessibilidade, Tecnologia da Informação e Inclusão Digital (S. Paulo, Brasil, 28-29/08/2001) h) melhora na qualidade dos trabalhos escolares; i) despertar do interesse por outras possibilidades oferecidas pela informática; j) consciência dos avanços da tecnologia nos setores de informação e comunicação e sua importância na sociedade. Objetivamos, com essa proposta de comunicação, relatar essa experiência vivenciada na qualificação dos educadores do Modular Campinas. Pois, considerando nossa inserção em uma sociedade onde o bem de consumo maior é o conhecimento (Levy, 1993) e as responsabilidades da escola nessa sociedade enquanto instituição que contribui (se não, deveria) para a formação do cidadão, a escola não pode se eximir da tarefa de permitir a todos o acesso ao conhecimento e, principalmente, a construção e a reconstrução do conhecimento, sob o risco de contribuir ainda mais para as defasagens de oportunidades decorrentes da nova divisão de classes prevista por Schaff (1990). ...pode-se produzir uma nova divisão entre as pessoas, a saber: uma divisão entre as que têm algo que é socialmente importante e as que não têm. Este ‘algo’, no caso, é a informação no sentido mais amplo do termo que, em certas condições, pode substituir a propriedade dos meios de produção como fator discriminante da nova divisão social, uma divisão semelhante, mas não idêntica, à atual subdivisão. (Schaff, 1990) Em outras palavras, considerando a nova configuração da sociedade onde o domínio da tecnologia torna-se cada vez mais uma questão de sobrevivência, incorrer no erro de privar qualquer indivíduo do acesso a ela é estar contribuindo para o surgimento de mais um tipo de excluído, o analfabeto digital. Referências Bibliográficas CASTELLS, M. A máquina humana. Isto é, São Paulo, n.º 1549, p. 59, 6 jun. 1999. Entrevista. LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do pensamento na Era da Informática. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. NÓVOA, A. Professor se forma na escola. Nova Escola, São Paulo, n.º 142, p. 12-14, maio 2001. Entrevista. PAPERT, S. A máquina das crianças. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. I Seminário ATIID - Acessibilidade, Tecnologia da Informação e Inclusão Digital (S. Paulo, Brasil, 28-29/08/2001) SCHAFF, A. A Sociedade Informática. São Paulo, Unesp: Brasiliense, 1990. IMPORTANTE: Resumo de trabalho apresentado no I Seminário ATIID - Acessibilidade, Tecnologia da Informação e Inclusão Digital, São Paulo, 28-29/08/01, disponível em www.fsp.usp.br/acessibilidade. Toda e qualquer citação, reprodução ou divulgação, parcial ou total, sob qualquer forma e meio, deste texto, deve obrigatoriamente registrar essa publicação online, além dos demais dados bibliográficos (título, autoria).