A Arte Terapia ou Reconstrução? -DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM . DA Primarias e Secundarias - PROBLEMAS DA CRIANÇA – Transtornos que interferem na aprendizagem. 1 - Depressão 2 - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH 3 - Transtornos de Ansiedade na Infância 4 – Deficiência Mental . Síndrome de Down. . Síndrome do X-Frágil Rose Valverde - 2008 "Há pessoas que nos falam e nem as escutamos; há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossa vida e nos marcam para sempre." (Cecília Meireles) Arte - Terapia ou Reconstrução? Nise da Silveira - Fundou o Museu de Imagens do Inconsciente em 1952. Desenho de Rose Valverde “Através do desenho a Psicologia e a psiquiatria tem procurado diagnosticar e avaliar distúrbios comportamentais e reencaminhar pessoas em desequilíbrio utilizando das ferramentas que a arte faculta no processo de reequilíbrio emocional. Mas, além disto a arte tem mais ampla função e eu diria até que não deveríamos vê-la como uma terapia tão somente, mas sim, como uma atividade capaz de resgatar ou mesmo reconstruir no ser humano emoções que se achavam reprimidas e aflorá-las. Durante anos pude observar no desenho de vários alunos os traços que denunciavam problemas emocionais, tais como, inquietação, agressividade e até insegurança. Através das linhas, analisando sua pressão assim como a nitidez, o vigor, a direção, a velocidade e a leveza ou rigidez do traço muitas vezes conseguia entender as emoções dos meus alunos e lhes chamava a atenção sobre algum problema, perguntava se estavam tristes ou alegres ou mesmo se estavam angustiados com alguma coisa. Muitos se surpreendiam com o fato de que através do desenho eu conseguia traçar-lhes o perfil, como se estivessem me contando seus problemas; a resposta é que através do desenho podemos analisar o ser humano assim como uma radiografia o faz em relação aos seus órgãos internos. É lógico que há uma grande diferença entre se analisar uma radiografia e um desenho mas a emoção se materializa através do desenho e pude então me perguntar, se podemos diagnosticar problemas emocionais por que não podemos construir novos rumos? Porque não podemos reconstruir através do desenho as emoções que estão em desalinho e tentar orientar estes alunos para uma atitude mais positiva e construtiva na qual ele próprio vai ser capaz de gerenciar seu processo de reconstrução? A partir do momento que trabalhava com o aluno ensinando as técnicas de desenho percebi que não estava lhes ensinando somente técnicas diferentes, mas, que poderia também lhes fornecer algo mais importante ainda, ferramentas necessárias para recompor sua auto-estima e reafirmar sua personalidade fazendo com que eles através da construção artística obtivessem mais segurança e iniciativa. Vários alunos entre adolescentes e adultos com os quais trabalhei falaram claramente sobre a mudança que se processou com eles relacionado ao seu comportamento e a sua atitude diante das coisas. Analisar o processo pelo qual o desenho pode transformar muitas pessoas, sempre foi uma coisa que me inquietou. Muitas vezes observei o desenvolvimento de alunos, que de início, tinham dificuldades de atenção e um controle motor ainda muito bruto, sem definir muito bem detalhes, ou perceber nuances do desenho que precisavam de uma atenção e percepção visual mais desenvolvida e que em alguns meses de curso conseguiram demonstrar um aprendizado consistente e surpreendente para eles mesmos. Desde 2002 quando iniciei o curso de desenho artístico no CEM, passaram pelo curso cerca de 300 alunos e além da riqueza de talentos que descobrimos, houve ainda um grande aprendizado de minha parte em relação aos caminhos que o ser humano trilha ao buscar a sua expressão através do desenho.” Rose Valverde DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ou Dificuldades de Escolares Apresentaremos a seguir algumas definições e reflexões a respeito das Dificuldades de aprendizado e algumas observações a respeito do ensino de Arte neste contexto. Trecho do artigo da psicóloga Renata da Rocha Mazarakis sobre Dificuldades de Aprendizagem: "Para reconhecer em uma criança a dificuldade de aprendizagem, se faz necessário primeiramente entender o que é aprendizagem e quais os fatores que nela interferem. Pode-se dizer que a aprendizagem é um processo complexo que se realiza no interior do indivíduo e se manifesta em uma mudança de comportamento. Para se estabelecer se houve ou não aprendizagem é preciso que as mudanças ocorridas sejam relativamente permanentes. Existem pelo menos sete fatores fundamentais para que tal aprendizagem se efetive, são eles: saúde física e mental, motivação, prévio domínio, maturação, inteligência, concentração ou atenção e memória. A falta de um desses fatores pode ser a causa de insucessos e das dificuldades de aprendizagem que irão surgindo. A partir disso pode-se entender que uma criança é dita com dificuldades de aprendizagem, quando apresenta desvios da expectativa de comportamento do grupo etário a que pertence, ou seja, quando ela não está ajustada aos padrões da maioria desse grupo, e portanto seu comportamento é perturbado, diferente dos demais.” Pode-se destacar algumas das principais causas das dificuldades de aprendizagem, como: causas físicas, sensoriais, neurológicas, intelectuais ou cognitivas, sócio econômicas e emocionais, sendo esta última uma das principais causas que podem dificultar a aprendizagem. Como resultado, as crianças com dificuldades de aprendizagem têm muitas vezes baixos níveis de autoestima e de autoconfiança, o que pode conduzir à falta de motivação, afastamento, crises de ansiedades e estresse e até mesmo depressão. A atribuição multifatorial para as causas dos problemas psiquiátricos, é bastante ilustrado na questão da criança que começa na escola. Ela traz consigo, invariavelmente, as características de seu aspecto biológico, psicológico e social. O que seria uma Dificuldade de Aprendizagem ou Escolar? Não existe ainda uma definição consensual acerca dos critérios e nem mesmo do termo. De modo acadêmico, vamos chamar esse quadro de Dificuldades da Aprendizagem (DA). Alguns autores dividem as DA em Primárias e Secundárias: DA consideradas Primárias, seriam aquelas cuja causa não pode ainda ser atribuída à elementos psiconeurológicos bem estabelecidos ou esclarecidos. Esses casos englobam, principalmente, as chamadas disfunções cerebrais e, dentro das dessas disfunções, teríamos os Transtorno da Leitura, Transtorno da Matemática e Transtorno da Expressão Escrita, bem como os transtornos da linguagem falada, os quais englobam o Transtorno da Linguagem Expressiva e o Transtorno Misto da Linguagem Receptivo-Expressiva. DA consideradas Secundárias seriam aquelas conseqüentes à alterações biológicas específicas e bem estabelecidas e alterações comportamentais e emocionais bem esclarecidas. Em relação às alterações biológicas (neurológicas) teríamos as lesões cerebrais, Paralisia Cerebral, Epilepsia e Deficiência Mental. Envolvem também os sistemas sensoriais, através da Deficiência Auditiva, hipoacusia, deficiência visual e ambliopia. Teríamos ainda, dentro das causas biológicas, as situações de DA conseqüentes a outros problemas perceptivos que afetam a discriminação, síntese, memória e relação espacial e visualização. Problemas de comportamento Em relação aos problemas de comportamento, um dos fatores mais marcantes para desenvolvimento de DA são os quadros classificados como Comportamento Disruptivo e, dentro deles, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e o Transtorno Desafiador e Opositivo. Quanto ao problemas emocionais que favorecem as DA, principal item abordado por nós, temos a Depressão Infantil e a Ansiedade (de Separação) na Infância. A importância do diagnóstico dos problemas emocionais que levam a criança a apresentar um baixo rendimento escolar se justifica por: 1. - Dentre as principais razões para as DA, as emocionais são, atualmente, uma daquelas com melhor possibilidades de tratamento; 2. - Importantíssimo para fazer diagnóstico diferencial com a Deficiência Mental, quadro muito traumático para familiares e com mau prognóstico; 3. - Proporcionar um desenvolvimento satisfatório o mais rapidamente possível. Muito embora as crianças estejam sujeitas à maioria dos transtornos emocionais encontrados nos adultos, a maioria das pessoas ainda acredita que criança não fica "nervosa", porque criança não tem problemas, ou coisas assim. Outros, infelizmente mais ignorantes ainda, acham que "criança nervosa" é falta de correção enérgica, porque quando eram crianças apanhavam se não se comportassem adequadamente. Enfim, a falta de informação sobre psiquiatria infantil é a responsável pela maioria das dificuldades de relacionamento, escolares e sociais das crianças, bem como, responsável por inúmeras seqüelas emocionais no futuro. Cada caso deve ser avaliado particularmente, incluindo na avaliação o entorno familiar e escolar. Se as DA estão presentes no ambiente escolar e ausentes nos outros lugares, o problema deve estar no ambiente de aprendizado e não em algum "distúrbio neurológico" misterioso e não-detectável (Jan Hunt). • Essa dificuldade, digamos, seletiva para o ambiente escolar, é detectada quando a criança aprende bem em outros cursos (inglês, música...), aprende manipular aparelhos eletro-eletrônicos com facilidade, tem boa performance em atividades lúdicas, enfim, quando ela mostra fora da escola que pode aprender como as demais. • Muitas vezes as DA são reações compreensíveis de crianças neurologicamente normais, porém, obrigadas a adequar-se às condições adversas das salas de aula. Podemos ver na clínica diária, muitas crianças sensíveis e emocionalmente retraídas que passam a apresentar DA depois de submetidas à alguma situação constrangedora não percebida pelos demais. Trata-se de uma situação corriqueira agindo sobre uma criança afetivamente diferenciada, que nem sempre a escola, incluindo a professora, orientadora, coordenadora e demais colegas de classe, percebem. • Normalmente as crianças que apresentam dificuldades específicas no início da escolarização, embora não tenham nenhum problema neuropsiquiátrico, provavelmente são aquelas que precisarão de maior atenção. • Quando o problema é da escola, uma exagerada restrição das atividades podem favorecer falsos diagnósticos de Crianças Hiperativas, se as aulas carecem de atrativos pedagógicos, podem surgir falsos diagnósticos de Déficit de Atenção", se a criança é assediada, se apanha de grupos delinqüentes, se é submetida à situações vexatórias (para ela, especificamente), podemos observar falsos diagnósticos de Fobia Escolar e assim por diante. • Dois extremos podem comprometer a escola em relação às DA; ou a escola superestima a questão, acreditando comodamente que a criança é um problema, logo deve ter algum comprometimento neuropsiquiátrico quando, de fato, o problema é de relacionamento ou de adequação difícil às normas da escola ou, ao contrário, subestima um verdadeiro comprometimento neuropsiquiátrico levando à DA, pensando tratar-se de algum problema disciplinar, de método de ensino, de má vontade, etc. Problema da Criança??? Primeiramente devemos questionar se, de fato, a criança apresenta DA ou se seu rendimento não satisfaz as expectativas do professor (da escola). Um desenvolvimento incomum nem sempre denuncia alguma patologia (a gravidez de gêmeos é anormal estatisticamente e normal medicamente), podendo refletir dificuldades pessoais eminentemente circunstanciais. Convém sempre lembrar que a medicina é apenas uma das muitas maneiras de avaliar o ser humano, o qual pode ser argüido pela sociologia, psicologia, antropologia, pela religião, pela pedagogia e assim por diante. Mas a medicina, por sua vez, funciona na base da avaliação, diagnóstico e tratamento e, havendo um diagnóstico MÉDICO, a medicina não abre mão do tratamento. • Portanto, é demagógico o discurso que fala em "rotular pacientes" e coisas do gênero; a medicina diagnostica pacientes, ela não rotula pessoas. Profissionais completamente desfamiliarizados com o diagnóstico médico, até por uma questão de conforto emocional, preferem considerar o diagnóstico uma inutilidade ou um mecanismo de discriminação. Não vale nem a pena comentar... • Na realidade, temos visto que a família só é mobilizada a procurar ajuda especializada para suas crianças quando fica evidente ou ameaçado o rendimento escolar e a aprendizagem. Infelizmente, na maioria das vezes essa ajuda é procurada incorretamente, pois, na medida em que a família se sente ameaçada por algum estigma cultural, qualquer coisa parece servir, desde que não seja o psiquiatra. Serve o neurologista, o psicólogo, terapeutas e pedagogos, mas psiquiatra, decididamente não. • Uma vez esclarecido que psiquiatras não são médicos que só tratam de loucos, vejamos os transtornos que interferem na escolaridade e aprendizagem das crianças: 1 - Depressão Infantil 2 - Déficit de Atenção por Hiperatividade 3 - Ansiedade (de Separação) na Infância 4 - Deficiência Mental Ballone, GJ - Dificuldades de Aprendizagem - in. PsiqWeb, Internet, disponível em <http://www.psiqweb.med.br/infantil/aprendiza.html>revisto em 2003 1 - Depressão O que é? Todos nos sentimos desanimados de vez em quando. Podemos ficar abatidos e desapontados se alguém briga conosco, se não vamos bem na vida escolar ou profissional ou se aquela pessoa por quem estamos apaixonados nos ignora. A tristeza em casos assim é compreensível. A depressão, no entanto, é algo diferente. Não é só estar triste ou desapontada por algum motivo. É uma condição séria que não melhora e que pode ser uma ameaça à vida. A depressão é resultado de desequilíbrios químicos ou hormonais. Essa instabilidade pode ser disparada por uma situação estressante ou pode ser hereditária, já estar "em seus genes". Quando sentimos que a tristeza é mais do que o sentimento simples de desânimo, caso os sintomas descrevam aquilo que sentimos, não devemos esperar nem um minuto mais para procurar ajuda. Quais os sintomas da depressão? Pessoas deprimidas têm pelo menos 5 destes sintomas, sendo que os 2 primeiros são sentidos, no mínimo, há 2 semanas. • Sentem-se tristes o tempo todo. • Não se empolgam mais com coisas de que gostavam antes. • Têm grandes alterações de apetite. • Dormem muito ou, ao contrário, não conseguem dormir. • Sentem-se ansiosas ou hiperativas o tempo todo ou, ao contrário, têm muito pouca energia. • Sentem-se cansadas. • Sentem-se mal consigo mesmas. • Sentem-se confusas, apresentando dificuldade em tomar decisões. • Pensam em morrer ou cometer suicídio. Quem é alvo da depressão? A depressão é muito mais comum nas mulheres do que nos homens. É também comum entre as adolescentes: 6% das garotas entre 9 e 17 anos têm depressão. Nesta fase da adolescência, talvez você não seja muito habilidosa em demonstrar os sentimentos. Talvez não consiga, queira ou precise contar às outras pessoas quando sente-se mal e, por isso, não obtenha a ajuda necessária. Além disso, seus pais ou professores podem achar que é só uma questão de seu mau humor natural e não levar o problema a sério. • • • • • • • Há alguns indícios que você deve procurar em si mesma se achar que está deprimida. Talvez você: Tenha muitas dores estranhas Falte às aulas ou não tenha desempenho nem próximo do que tinha antes Tente fugir ou fale em fugir Tenha crises de choro ou acessos de raiva Use álcool ou drogas Tenha medo de morrer Sinta-se muito sensível à rejeição e ao fracasso Transtorno Afetivo Sazonal O que é? O Transtorno Afetivo Sazonal é um tipo de depressão que atinge as pessoas no final do outono ou inverno por causa do tempo menor de luz do sol. Se você sentir os seguintes sintomas na mudança das estações, pode ser que tenha o problema e precise de tratamento: • falta de energia • muitas horas de sono • necessidade de muita comida, especialmente doces • aumento de peso • sentimento de desespero e angústia • dores físicas 2 - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade - TDAH O que é o TDAH? • O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e freqüentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Existe mesmo o TDAH? • Ele é reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em alguns países, como nos Estados Unidos, portadores de TDAH são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento diferenciado na escola. O TDAH é comum? • Ele é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados. Ele ocorre em 3 a 5% das crianças, em várias regiões diferentes do mundo em que já foi pesquisado. Em mais da metade dos casos o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos. Quais são os sintomas de TDAH? O TDAH se caracteriza por uma combinação de dois tipos de sintomas: 1) Desatenção 2) Hiperatividade-impulsividade O TDAH na infância em geral se associa a dificuldades na escola e no relacionamento com demais crianças, pais e professores. As crianças são tidas como "avoadas", "vivendo no mundo da lua" e geralmente "estabanadas" e com "bicho carpinteiro" ou “ligados por um motor” (isto é, não param quietas por muito tempo). Os meninos tendem a ter mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que as meninas, mas todos são desatentos. Crianças e adolescentes com TDAH podem apresentar mais problemas de comportamento, como por exemplo, dificuldades com regras e limites. Em adultos, ocorrem problemas de desatenção para coisas do cotidiano e do trabalho, bem como com a memória (são muito esquecidos). São inquietos (parece que só relaxam dormindo), vivem mudando de uma coisa para outra e também são impulsivos ("colocam os carros na frente dos bois"). Eles têm dificuldade em avaliar seu próprio comportamento e quanto isto afeta os demais à sua volta. São freqüentemente considerados “egoístas”. Eles têm uma grande freqüência de outros problemas associados, tais como o uso de drogas e álcool, ansiedade e depressão. Quais são as causas do TDAH? • Já existem inúmeros estudos demonstrando que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o que indica que o transtorno não é secundário a fatores culturais (as práticas de determinada sociedade, etc.), o modo como os pais educam os filhos ou resultado de conflitos psicológicos. Estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na região frontal e as suas conexões com o resto do cérebro. A região frontal orbital é uma das mais desenvolvidas no ser humano em comparação com outras espécies animais e é responsável pela inibição do comportamento (isto é, controlar ou inibir comportamentos inadequados), pela capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento. O que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que passam informação entre as células nervosas (neurônios). Existem causas que foram investigadas para estas alterações nos neurotransmissores da região frontal e suas conexões. A) Hereditariedade: Os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma predisposição ao TDAH. A participação de genes foi suspeitada, inicialmente, a partir de observações de que nas famílias de portadores de TDAH a presença de parentes também afetados com TDAH era mais freqüente do que nas famílias que não tinham crianças com TDAH. A prevalência da doença entre os parentes das crianças afetadas é cerca de 2 a 10 vezes mais do que na população em geral (isto é chamado de recorrência familial). Os estudos com gêmeos comparam gêmeos univitelinos e gêmeos fraternos (bivitelinos), quanto a diferentes aspectos do TDAH (presença ou não, tipo, gravidade etc...). Sabendo-se que os gêmeos univitelinos têm 100% de semelhança genética, ao contrário dos fraternos (50% de semelhança genética), se os univitelinos se parecem mais nos sintomas de TDAH do que os fraternos, a única explicação é a participação de componentes genéticos (os pais são iguais, o ambiente é o mesmo, a dieta, etc.). Quanto mais parecidos, ou seja, quanto mais concordam em relação àquelas características, maior é a influência genética para a doença. Realmente, os estudos de gêmeos com TDAH mostraram que os univitelinos são muito mais parecidos (também se diz "concordantes") do que os fraternos, chegando a ter 70% de concordância, o que evidencia uma importante participação de genes na origem do TDAH. A partir dos dados destes estudos, o próximo passo na pesquisa genética do TDAH foi começar a procurar que genes poderiam ser estes. É importante salientar que no TDAH, como na maioria dos transtornos do comportamento, em geral multifatoriais, nunca devemos falar em determinação genética, mas sim em predisposição ou influência genética. O que acontece nestes transtornos é que a predisposição genética envolve vários genes, e não um único gene (como é a regra para várias de nossas características físicas, também). • Provavelmente não existe, ou não se acredita que exista, um único "gene do TDAH". Além disto, genes podem ter diferentes níveis de atividade, alguns podem estar agindo em alguns pacientes de um modo diferente que em outros; eles interagem entre si, somando-se ainda as influências ambientais. • Também existe maior incidência de depressão, transtorno bipolar (antigamente denominado Psicose Maníaco-Depressiva) e abuso de álcool e drogas nos familiares de portadores de TDAH. B) Substâncias ingeridas na gravidez: Tem-se observado que a nicotina e o álcool quando ingeridos durante a gravidez podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê, incluindo-se aí a região frontal orbital. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. É importante lembrar que muitos destes estudos somente nos mostram uma associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito. C) Sofrimento fetal: Alguns estudos mostram que mulheres que tiveram problemas no parto que acabaram causando sofrimento fetal tinham mais chance de terem filhos com TDAH. A relação de causa não é clara. Talvez mães com TDAH sejam mais descuidadas e assim possam estar mais predispostas a problemas na gravidez e no parto. Ou seja, a carga genética que ela própria tem (e que passa ao filho) é que estaria influenciando a maior presença de problemas no parto. D) Exposição a chumbo: Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar sintomas semelhantes aos do TDAH. Entretanto, não há nenhuma necessidade de se realizar qualquer exame de sangue para medir o chumbo numa criança com TDAH, já que isto é raro e pode ser facilmente identificado pela história clínica. E) Problemas Familiares: Algumas teorias sugeriam que problemas familiares (alto grau de discórdia conjugal, baixa instrução da mãe, famílias com apenas um dos pais, funcionamento familiar caótico e famílias com nível socioeconômico mais baixo) poderiam ser a causa do TDAH nas crianças. Estudos recentes têm refutado esta idéia. As dificuldades familiares podem ser mais conseqüência do que causa do TDAH (na criança e mesmo nos pais). Problemas familiares podem agravar um quadro de TDAH, mas não causá-lo. • Sintomas em crianças e adolescentes - As crianças com TDAH, em especial os meninos, são agitadas ou inquietas. - Na idade pré-escolar, estas crianças mostram-se agitadas, movendo-se sem parar pelo ambiente, mexendo em vários objetos como se estivessem “ligadas” por um motor. - Mexem pés e mãos, não param quietas na cadeira, falam muito e constantemente pedem para sair de sala ou da mesa de jantar. - Têm dificuldades para manter atenção em atividades muito longas, repetitivas ou que não lhes sejam interessantes. - São facilmente distraídas por estímulos do ambiente externo, mas também se distraem com pensamentos "internos", isto é, vivem "voando". Nas provas, são visíveis os erros por distração (erram sinais, vírgulas, acentos, etc.). Como a atenção é imprescindível para o bom funcionamento da memória, elas em geral são tidas como "esquecidas": esquecem recados ou material escolar, aquilo que estudaram na véspera da prova, etc. Quando elas se dedicam a fazer algo estimulante ou do seu interesse, conseguem permanecer mais tranqüilas. Isto ocorre porque os centros de prazer no cérebro são ativados e conseguem dar um "reforço" no centro da atenção que é ligado a ele, passando a funcionar em níveis normais. - O fato de uma criança conseguir ficar concentrada em alguma atividade não exclui o diagnóstico de TDAH. É claro que não fazemos coisas interessantes ou estimulantes desde a hora que acordamos até a hora em que vamos dormir: os portadores de TDAH vão ter muitas dificuldades em manter a atenção em um monte de coisas. - Elas também tendem a ser impulsivas (não esperam a vez, não lêem a pergunta até o final e já respondem, interrompem os outros, agem antes de pensar). Freqüentemente também apresentam dificuldades em se organizar e planejar aquilo que querem ou precisam fazer. Seu desempenho sempre parece inferior ao esperado para a sua capacidade intelectual. O TDAH não se associa necessariamente a dificuldades na vida escolar, embora esta seja uma queixa freqüente de pais e professores. É mais comum que os problemas na escola sejam de comportamento que de rendimento (notas). - Um aspecto importante: as meninas têm menos sintomas de hiperatividadeimpulsividade que os meninos (embora sejam igualmente desatentas), o que fez com que se acreditasse que o TDAH só ocorresse no sexo masculino. Como as meninas não incomodam tanto, eram menos encaminhadas para diagnóstico e tratamento médicos. • Sintomas em adultos A existência da forma adulta do TDAH foi oficialmente reconhecida apenas em 1980 pela Associação Psiquiátrica Americana. E, desde então inúmeros estudos têm demonstrado a presença do TDAH em adultos. Passou-se muito tempo até que ela fosse amplamente divulgada no meio médico e ainda hoje, observa-se que este diagnóstico é apenas raramente realizado, persistindo o estereótipo equivocado de TDAH: um transtorno acometendo meninos hiperativos que têm mau desempenho escolar. Muitos médicos desconhecem a existência do TDAH em adultos e quando são procurados por estes pacientes, tendem a tratá-los como se tivessem outros problemas (de personalidade, por exemplo). Quando existe realmente um outro problema associado (depressão, ansiedade ou drogas), o médico só diagnostica este último e “deixa passar” o TDAH. Atualmente acredita-se que em torno de 60% das crianças com TDAH ingressarão na vida adulta com alguns dos sintomas (tanto de desatenção quanto de hiperatividade-impulsividade) porém em menor número do que apresentavam quando eram crianças ou adolescentes. Para se fazer o diagnóstico de TDAH em adultos é obrigatório demonstrar que o transtorno esteve presente desde criança. Isto pode ser difícil em algumas situações, porque o indivíduo pode não se lembrar de sua infância e também os pais podem ser falecidos ou estar bastante idosos para relatar ao médico. Mas em geral o indivíduo lembra de um apelido (tal como “bicho carpinteiro”, etc.) que denuncia os sintomas de hiperatividade-impulsividade e lembra de ser muito “avoado”, com queixas freqüentes de professores e pais. • Sintomas em adultos Os adultos com TDAH costumam ter dificuldade de organizar e planejar suas atividades do dia a dia. Por exemplo, pode ser difícil para uma pessoa com TDAH determinar o que é mais importante dentre muitas coisas que tem para fazer, escolher o que vai fazer primeiro e o que pode deixar para depois. Em conseqüência disso, quem TDAH fica muito “estressado” quando se vê sobrecarregado (e é muito comum que se sobrecarregue com freqüência, uma vez que assume vários compromissos diferentes), pois não sabe por onde começar e tem medo de não conseguir dar conta de tudo. Os indivíduos com TDAH acabam deixando trabalhos pela metade, interrompem no meio o que estão fazendo e começam outra coisa, só voltando ao trabalho anterior bem mais tarde do que o pretendido ou então se esquecendo dele. O portador de TDAH fica com dificuldade para realizar sozinho suas tarefas, principalmente quando são muitas, e o tempo todo precisa ser lembrado pelos outros sobre o que tem para fazer. Isso tudo pode causar problemas na faculdade, no trabalho ou nos relacionamentos com outras pessoas. A persistência nas tarefas também pode ser difícil para o portador de TDAH, que freqüentemente “deixa as coisas pela metade”. Questionário - Adultos O questionário a seguir é denominado ASRS-18 e foi desenvolvido por pesquisadores em colaboração com a Organização Mundial de Saúde. Esta é a versão validada no Brasil. A referência é: Mattos P, Segenreich D, Saboya E, Louzã M, Dias G, Romano M. Adaptação Transcultural para o Português da Escala Adult Self-Report Scale (ASRS-18, versão1.1) para avaliação de sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH) em adultos. Revista Brasileira de Psiquiatria (in press). IMPORTANTE: Lembre-se que o diagnóstico definitivo só pode ser fornecido por um profissional. Parte A 1. Com que freqüência você comete erros por falta de atenção quando tem de trabalhar num projeto chato ou difícil? 2. Com que freqüência você tem dificuldade para manter a atenção quando está fazendo um trabalho chato ou repetitivo? 3. Com que freqüência você tem dificuldade para se concentrar no que as pessoas dizem, mesmo quando elas estão falando diretamente com você? 4. Com que freqüência você deixa um projeto pela metade depois de já ter feito as partes mais difíceis? 5. Com que freqüência você tem dificuldade para fazer um trabalho que exige organização? 6. Quando você precisa fazer algo que exige muita concentração, com que freqüência você evita ou adia o início? 7. Com que freqüência você coloca as coisas fora do lugar ou tem de dificuldade de encontrar as coisas em casa ou no trabalho? 8. Com que freqüência você se distrai com atividades ou barulho a sua volta? 9. Com que freqüência você tem dificuldade para lembrar de compromissos ou obrigações? Parte B 1. Com que freqüência você fica se mexendo na cadeira ou balançando as mãos ou os pés quando precisa ficar sentado (a) por muito tempo? 2. Com que freqüência você se levanta da cadeira em reuniões ou em outras situações onde deveria ficar sentado (a)? 3. Com que freqüência você se sente inquieto (a) ou agitado (a)? 4. Com que freqüência você tem dificuldade para sossegar e relaxar quando tem tempo livre para você? 5. Com que freqüência você se sente ativo (a) demais e necessitando fazer coisas, como se estivesse “com um motor ligado”? 6. Com que freqüência você se pega falando demais em situações sociais? 7. Quando você está conversando, com que freqüência você se pega terminando as frases das pessoas antes delas? 8. Com que freqüência você tem dificuldade para esperar nas situações onde cada um tem a sua vez? 9. Com que freqüência você interrompe os outros quando eles estão ocupados? Como avaliar: Se os itens de desatenção da parte A (1 a 9) E/OU os itens de hiperatividadeimpulsividade da parte B (1 a 9) têm várias respostas marcadas como FREQUENTEMENTE ou MUITO FREQUENTEMENTE existe chances de ser portador de TDAH (pelo menos 4 em cada uma das partes). O questionário ASRS-18 é útil para avaliar apenas o primeiro dos critérios (critério A) para se fazer o diagnóstico. Existem outros critérios que também são necessários. IMPORTANTE: Não se pode fazer o diagnóstico de TDAH apenas com os sintomas descritos na tabela! Veja abaixo os demais critérios. CRITÉRIO A: Sintomas (vistos na tabela acima) CRITÉRIO B: Alguns desses sintomas devem estar presentes desde precocemente (antes dos 7 ou 12 anos). CRITÉRIO C: Existem problemas causados pelos sintomas acima em pelo menos 2 contextos diferentes (por ex., no trabalho, na vida social, na faculdade e no relacionamento conjugal ou familiar). CRITÉRIO D: Há problemas evidentes por conta dos sintomas. CRITÉRIO E: Se existe um outro problema (tal como depressão, deficiência mental, psicose, etc.), os sintomas não podem ser atribuídos exclusivamente a ele. 3 - Transtornos de Ansiedade na Infância A ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo e apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivados de uma antecipação de perigos. As crianças em geral não reconhecem quando seus medos são exagerados ou irracionais. Uma maneira prática de diferenciar ansiedade normal de ansiedade patológica é avaliar se a reação ansiosa é de curta duração, auto limitada e relacionada ao estímulo do momento. Os sintomas de ansiedade podem ocorrer em varias outras condições psiquiátricas tais como: depressões, psicoses, transtornos do desenvolvimento, transtorno hipercinético, entre outros. A causa dos transtornos ansiosos infantís é muitas vezes desconhecida e provavelmente multifatorial, incluindo fatores hereditários e ambientais diversos, com o peso relativo de cada fator variando de caso a caso. Transtorno da Ansiedade de Separação Esse é o mais comum dos transtornos de ansiedade, acometendo 4% das crianças. Caracterizase por uma ansiedade não apropriada e excessiva em relação à separação do lar (pais) ou de figuras importantes cuidadoras para a criança, inadequada para a fase do desenvolvimento da criança. Essas crianças, quando ficam sozinhas, temem que algo possa acontecer para elas ou para seus cuidadores (acidentes, seqüestro, assaltos, ou doenças) que os afastem definitivamente de si. Demonstram um comportamento excessivo de apego aos seus cuidadores, não permitindo o afastamento desses ou telefonando repetidamente para eles afim de tranqüilizar-se sobre seus temores. É comum nessas crianças a ocorrência de recusa escolar. Se a criança sabe que seus pais vão se ausentar apresenta manifestações somáticas de ansiedade (dor abdominal, dor de cabeça, náusea, vômitos, palpitações, tonturas e sensação de desmaio). Em muitos casos de crianças afetadas os pais foram ou são portadores de algum transtorno de ansiedade. A perturbação tem uma duração mínima de quatro semanas e causa sofrimento significativo no funcionamento da vida da criança. O tratamento requer psicoterapia individual com orientação familiar e intervenções farmacológicas quando os sintomas são graves e incapacitantes. Quando há recusa escolar, o retorno às aulas deve ser o mais rápido possível para evitar cronicidade e evasão. É muito importante haver uma sintonia entre pais, escola e terapeuta. • • • Como nos adultos, a prevalência dos transtornos da ansiedade na criança é elevada, embora um pouco menos que nos adultos. Os mais comuns são o de ansiedade de separação com 4% das crianças, transtorno de ansiedade excessiva com aproximadamente 4% também, as fobias específicas em torno de 3%, a fobia social 1% e o pânico 0,6%. Esses problemas incidem igualmente em meninos e meninas: nos adultos é mais comum nas mulheres. Tanto nas crianças como nos adolescentes esses transtornos apresentam flutuações, isto é, há épocas em que melhoram e épocas em que pioram. As pioras sempre são justificadas pelos pais por algum acontecimento externo e nas fases de melhora não há mais motivos para se levar ao psiquiatra. Assim a visita ao profissional é adiada deixando que o paciente sofra desnecessariamente podendo inclusive ter a formação da personalidade influenciada por isso, desenvolvendose num adulto inseguro e medroso. 4 – Deficiência Mental O que é "doença mental“ A ABP - Associação Brasileira de Psiquiatria aproveita a experiência do “The Royal College of Psychiatrists’ da Inglaterra e do National Institute of Mental Health dos Estados Unidos da América para trazer ao conhecimento de todos interessados material informativo a respeito da Doença Mental ou Transtornos Mentais. A Saúde mental é componente chave de uma vida saudável. Durante séculos as pessoas com sofrimento mental foram afastadas do resto da sociedade, algumas vezes encarcerados, em condições precárias, sem direito a se manifestar na condução de suas vidas. Hoje em dia, as atitudes negativas os afastam da sociedade de maneiras mais sutis, mas com a mesma efetividade. O termo “doença mental” ou transtorno mental, engloba um amplo espectro de condições que afetam a mente. Doença mental provoca sintomas tais como, desconforto emocional, distúrbio de conduta e enfraquecimento da memória. Algumas vezes, doenças em outras partes do corpo afetam a mente; outras vezes, desconfortos, escondidos no fundo da mente pode desencadear outras doenças do corpo ou produzir sintomas somáticos. O que causa a “doença mental?” Um grande espectro de fatores – nosso mapa genético, química cerebral, aspectos do nosso estilo de vida. Acontecimentos que nos acometeram no passado e nossas relações com as outras pessoas – participam de alguma forma. Seja qual for a causa, a pessoa que desenvolve a “doença mental” ou o transtorno mental, muitas vezes se sente em sofrimento, desesperançada e incapaz de levar sua vida na sua plenitude. Existe tratamento para a “doença mental?” Uma notícia muito boa é que existem muitos tratamentos efetivos para a doença mental. Eles podem incluir medicamentos e outros tratamentos físicos, ou tratamentos pela fala (Psicoterapias) de várias espécies, aconselhamento e/ou apoio no dia a dia da vida em diferentes formas. Diferentes profissionais, médicos e não médicos, podem estar envolvidos na assistência da pessoa que está mentalmente enferma: clínico geral, psiquiatras, psicoterapeutas, conselheiros, assistentes sociais e grupos de apoio voluntários A Psiquiatria trabalha no diagnóstico e permite o conhecimento e previsão do curso natural da doença, e a escolha do tratamento mais adequado. Síndrome de Down A síndrome de Down (SD) é a síndrome genética melhor conhecida. É responsável por 15% dos portadores de atraso mental que frequentam instituições próprias para crianças especiais. Sua primeira descrição clínica foi publicada em 1866 por Langdon Down. É também chamada de mongolismo devido à aparência facial de seus portadores (fig. 1). Fig. 1. Aparencia facial de pacientes com SD. A causa da SD é o excesso de material genético proveniente do cromossomo 21. Seus portadores apresentam três cromossomos 21, ao invés de dois, por isto a SD é denominada também Trissomia do 21. Há uma relação importante entre a concepção de crianças com a SD e a idade materna. Após os 35 anos a mulher tem maior probabilidade de ter filhos com a SD. Aos vinte anos o risco é de 1 para 1600, enquanto que aos 35 anos é de 1 para 370. A SD ocorre em todas as raças e em ambos os sexos. • Evolução na primeira infância Entrevista no site de Drauzio Varela com Dra. Adriana Buhrer Medica geneticista-clínica e atua junto a associações que envolvem pais e amigos de crianças com alterações genéticas. Drauzio – É lógico que deve haver enormes variações individuais, mas seria possível estabelecer uma comparação genérica entre a evolução das crianças com Down e a evolução de crianças sem a síndrome na primeira infância? Adriana Buhrer – Inicialmente, o desenvolvimento motor (sentar, engatinhar, andar) pode ficar um pouco atrasado. Até um ano e seis meses de idade, crianças normais começam a andar. Portadores da SD começam um pouquinho mais tarde, aos dois anos, embora alguns consigam andar mais cedo, porque fizeram fisioterapia e foram estimulados precocemente. Os déficits na coordenação motora, tanto grossa quanto fina, costumam responder bem aos exercícios de motricidade e à terapia ocupacional. Aos dois anos, a criança normal tem domínio razoável da linguagem e é capaz de construir frases. Já a criança com síndrome de Down tem dificuldade para organizar as idéias e expressar-se com fluência. Apesar desses atrasos, o ideal é que portadores da trissomia 21 freqüentem uma escola comum em classes com crianças normais da mesma idade, atendendo ao que se chama de esquema de inclusão social, e recebam reforço pedagógico, caso se faça necessário. Drauzio – Elas conseguem acompanhar o ritmo das que não têm a síndrome? Adriana Buher – No começo, é provável que não consigam, mas isso não descarta a possibilidade de escolarização. Muitas chegam a completar o ensino fundamental. O que se sabe é que, quanto mais alto o QI e a formação sociocultural dos pais, melhor irá a criança reagir. Andrea Mantegna - Camara Degli Sposi 1474 – Palazzo Ducale – Mantua Entre as primeiras Representações artísticas de uma criança com sindrome de Down • Inserção social Drauzio – Toda criança depende do suporte que a família lhe dá, mas esse suporte tem de ser mais consistente para as que apresentam a SD. Adriana Buhrer – É importante oferecer-lhes as terapias de apoio precocemente para vencer as primeiras dificuldades físicas provocadas pela hipotonia e estimular sua inserção nas atividades normais da família. Ampliar as possibilidades de colocação no mercado de trabalho, nas escolas e na sociedade como um todo é sempre um objetivo de quem lida com essas pessoas. • Adolescência e sexualidade Drauzio – As alterações hormonais são idênticas às que ocorrem na vida dos outros adolescentes? Adriana Buhrer – São idênticas. Normalmente, pessoas com SD não são agressivas. Ao contrário, são afetivas, comunicativas e procuram fazer amigos. Como qualquer adolescente, interessam-se pelo sexo oposto, querem namorar. Os pais precisam estar cientes disso a fim de orientá-las para a vida reprodutiva e sexual, respeitando seu nível de compreensão, como fariam com qualquer outro filho. Via de regra, os meninos são estéreis, mas o desenvolvimento dos genitais é absolutamente normal. As meninas são férteis e, se engravidarem, a possibilidade de terem um filho com a síndrome é de 50%. Por isso, é conveniente levá-las ao ginecologista para discutir com ele o uso de anticoncepcionais. • Características comportamentais Drauzio – O comportamento não agressivo é uma característica marcante nas pessoas com SD? Adriana Buhrer – Costuma ser. Na infância, elas podem ter crises de birra e insistir na satisfação de seus desejos e vontades, mas esse comportamento é corrigível pela educação. Um número bem pequeno apresenta transtorno de atenção e hiperatividade ou autismo, transtornos que interferem em sua sociabilidade. A grande maioria, porém, tem temperamento afável, comunicativo e interessa-se por participar do ambiente ao redor. Depois dos 40 ou 50 anos, mudanças de comportamento podem ser indicativas de depressão, para a qual há tratamento, e 30% das pessoas com trissomia 21 podem manifestar demências como o mal de Alzheimer. Drauzio – Essas demências se instalam precocemente? Adriana Buhrer - Mais precocemente do que na população em geral. Por volta dos 40 anos, parte dos portadores da síndrome apresentam alterações nos exames de ressonância nuclear magnética compatíveis com as do mal de Alzheimer. O quadro clínico, porém, só é perceptível um pouco mais tarde. • Problemas de saúde Drauzio – Há problemas de saúde a que as pessoas com síndrome de Down são mais predispostas? Adriana Buhrer – No passado, a sobrevida das pessoas com síndrome de Down era muito pequena. Hoje se sabe que 40% são portadoras de cardiopa-tias congênitas, têm sopros no coração. A causa mais comum desse distúrbio é um defeito no septo atrioventricular, o septo que separa as aurículas dos ventrí-culos cardíacos e que pode ser corrigido por cirurgia. Embora a cardiopatia favoreça a incidência de hipertensão pulmonar e de pneumonias, não interfere no desenvolvimento da criança porque não as impede de fazer fisioterapia. De qualquer modo, a criança cardiopata está mais sujeita a complicações provocadas por doenças infecciosas comuns na infância, como resfriados que viram pneumonias e hepatites difíceis de curar. Às vezes, infec-ções de ouvido que passam despercebidas podem levar à perda da audição. Tão logo manifestem qualquer sintoma, essas crianças devem ser levadas ao pediatra, para serem tratadas no tempo adequado. Drauzio – Por que as infecções de ouvido podem passar despercebidas? Adriana Buhrer – Porque a criança não consegue dizer exatamente o que sente. A dificuldade com a linguagem atrapalha a comunicação. Por isso, vale sempre a pena fazer uma avaliação auditiva para verificar se não está ocorrendo alguma perda. Como parte dessas crianças apresenta deficiência auditiva do tipo sensorial ao nascer, no berçário de algumas maternidades é feito o teste da orelhinha para saber como ela está ouvindo. Esse teste é muito importante, mas não exclui que todas passem por avaliação do otorrino no primeiro ano de vida. Adultos com a SD também devem avaliar anualmente as condições em que se encontram a audição e a visão. Drauzio – O que pode acontecer com a visão? Adriana Buhrer – O que se sabe é que 4% dessas crianças têm catarata congênita, e outras têm estrabismo ou miopia, que devem ser corrigidos. Drauzio – Que outros problemas de saúde essas crianças podem apresentar? Adriana Buhrer – Essas crianças podem apresentar alterações da tireóide. O teste do pezinho feito na maternidade vai mostrar se elas têm hipotireoidismo congênito. Criança com SD nasce mais molinha e é mais lenta. Tais características podem ser agravadas pelo hipotireoidismo, que pode ser controlado com tratamento a base de hormônios. Outro problema presente em uma em cada 150 crianças com SD é a alteração dos glóbulos brancos do sangue, que vai desde uma reação transitória até a leucemia, um dos cânceres mais comuns na infância. O tratamento é o mesmo indicado para todas as crianças, mas as que têm a síndrome apresentam pequena diferença na resposta às medicações quimioterápicas habituais. Drauzio – Além disso, o hipotireoidismo pode agravar o déficit mental. Adriana Buhrer – É verdade e pode aparecer em qualquer fase da vida. Por isso, é recomendável fazer a avaliação da tireóide uma vez por ano. • Sobrevida Drauzio – Crianças e adultos com síndrome de Down exigem um seguimento médico mais cauteloso. Qual é a sobrevida das pessoas se forem bem cuidadas? Elas envelhecem mais depressa do que as que não têm a síndrome? Adriana Buhrer - Acredito que o envelhecimento precoce esteja mais relacionado com o que ocorria no passado, quando se optava pela institucionalização na maior parte das vezes. Hoje, a mudança de postura diante da educação, visando à participação e à inclusão social, e o controle dos problemas que possam prejudicar sua evolução fizeram com que chegassem aos 50, 60 anos, com boa qualidade de vida. Drauzio – Um dos problemas das pessoas com SD que envelhecem é a perda dos pais. Por isso, os pais têm medo de morrer e deixar os filhos desprotegidos. Como isso é resolvido na prática? Adriana Buhrer – Essa preocupação não é exclusiva dos pais. É de todos que lidam com portadores da síndrome. Por isso, os esforços se concentram em torná-los independentes para cuidarem de si próprios e terem uma ocupação, um trabalho para que não representem um peso na vida dos familiares. Outra opção é criar lares protegidos, ou seja, entidades ou casas que ofereçam certo suporte para atender pessoas com dificuldades e necessidades especiais. Não se trata de isolá-las, mas de criar um espaço que favoreça o convívio dentro da sociedade. Síndrome do X-Frágil • A Síndrome do X-Frágil é uma doença de difícil diagnóstico, só perde para a Síndrome de Down no segmento de retardo mental. O principal sintoma é a dificuldade de aprendizado, a doença afeta o desenvolvimento intelectual e o comportamento do portador, com prevalência é de 1 caso para cada 4 mil homens (1:4000) e 1 para cada 6 mil mulheres (1:6000). • A doença chama-se "X-Frágil" porque é decorrente da anomalia de um gene defeituoso no cromossomo X (determina o sexo, sendo X Y nos homens e X X nas mulheres). A única maneira de detectar a doença precocemente é a predisposição pelo estudo do DNA. A doença pode ser evitada se o casal fizer o exame de DNA quando planejar filhos, principalmente se tiver casos na família. • Os sinais e sintomas clínicos são: macrocefalia (cabeça desproporcional ao corpo), baixo tônus muscular (inclusive com dificuldade para mamar); comprometimento do tecido conjuntivo, pés planos, hiperextensibilidade das articulações, palato alto, prolapso da válvula mitral, prega palmar única, estrabismo, escoliose e calosidade nas mãos (decorrente do hábito de morder as mãos). • O comportamento do portador da Síndrome do X-Frágil é dócil, mas apresenta sinais característicos, como: hiperatividade, impulsividade, concentração rebaixada, ansiedade social, dificuldade em lidar com estímulos sensoriais, imitação, desagrado quando a rotina é alterada, comportamentos repetitivos, irritação ou "explosões emocionais" e traços de autismo como: agitar as mãos, evitar contato tátil e evitar contato visual. • Características clínicas Os sinais da Síndrome do X Frágil são algo diferentes entre portadores homens e mulheres, assim também como é diferente a freqüência dessa ocorrência entre os dois sexos: 1 a cada 660 nascimentos em homens e 1 para cada 1.250 nascimentos em mulheres. • Características clínicas Nos homens: 1 - Região frontal algo protuberante. 2 - Fascie alongada 3 - Orelhas grandes e, freqüentemente, de implantação baixa. 4 - Leve prognatismo (projeção da mandíbula para frente). 5 - Macroorquidismo (aumento do tamanho dos testículos), em 80% dos casos. 6 - Retardo no aparecimento da linguagem. 7 - Severos problemas de atenção. 8 - Instabilidade de conduta, oscilando de amigável a violento. 9 - Pode coexistir um quadro de Autismo Infantil. 10 - Padrão de personalidade retraída, grave e que se evidencia logo na primeira infância 11 - Pode coexistir mutismo, indiferença interpessonal e atos repetitivos sem sentido. 12 - Pobre contato visual (olhar evasivo). 13 - Onicofagia (comer unhas), desde muito cedo. 14 - Hipotonia (flacidez muscular). Este costuma ser o que motiva a primeira consulta. 15 - Retardo intelectual de leve a profundo. 16 - Convulsões em 20% dos casos. • Nas mulheres Conforme já tem observado alguns autores, é freqüente encontrar meninas com a síndrome mas clinicamente normais ou quase normais, sendo a causa da maior parte das consultas, as dificuldades de aprendizagem e/ou de conduta. O prognóstico intelectual depende da porcentagem de células afetadas. Se, por exemplo, apenas 4% das células são afetadas a criança terá uma intelectualidade normal. De um modo geral, pode-se dizer que a maioria das meninas são assintomáticas (dois terços). A importância no diagnóstico da Síndrome do X Frágil em mulheres, está mais relacionada ao planejamento genético e transtornos de conduta do que à intelectualidade. Alguns estudos apontam que 1 entre 259 mulheres de todas as raças é portadora de cromossomo X frágil e, embora assintomáticas (sem sintomas), essas mulheres podem passar esse gen aos filhos homens, os quais têm probabilidade muito grande de manifestar a doença. Em Hones, as estatísticas dos portadores falam em 1 entre 800. Esses números sugerem que, embora a doença franca e manifesta seja muito mais freqüente em homens, as mulheres são muito mais acometidas como portadoras (sem a doença manifesta). • Problemas de Atenção e Hiperatividade Quase um terço das meninas e quase todos os meninos afetados pela Síndrome do X Frágil apresentam significativas alterações da atenção e hiperatividade. Na Europa e EUA a medicação de escolha para esses quadros é na base de psicoestimulantes • Oscilações do Humor e Agressividade Oscilações do humor e rompantes agressivos são comuns em meninos com Síndrome do X Frágil. A agressividade predomina nos pacientes adolescentes e adultos jovens, incluindo aqui também as meninas. Os antipsicóticos e tranquilizantes (benzodiazepínicos) prescritos para esses casos no passado mostraram-se ineficazes. Atualmente os estabilizadores do humor (não anticonvulsivantes) são indicação formal para esses tipos de problemas afetivos e do comportamento agressivo. • A medicação não é o único tratamento útil para os portadores dessa síndrome, sendo desejável que se utilize também a terapia psicomotora e da fala, bem como os recursos da pedagogia especializada. Afortunadamente a maioria dos sintomas comportamentais, como por exemplo a hiperatividade, impulsividade, oscilações do humor, alterações da atenção, agressividade, ansiedade e comportamento obsessivo respondem bem ao tratamento medicamentoso. • • • • • • • Dependendo das necessidades de cada caso, são realizados diversos tratamentos ao longo das etapas de desenvolvimento de um indivíduo afetado. Eles envolvem acompanhamento clínico em diversas especialidades, com ênfase nas áreas de: acompanhamento pediátrico, neurológico e/ou psiquiátrico (com intervenções psicofarmacológicas); estimulação precoce para o desenvolvimento da área psicomotora; atendimento fonoaudiológico, para aquisição da fala (motricidade oral / fonoarticulação), desenvolvimento e organização da linguagem oral e escrita; psicoterapia familiar e/ou individual; atendimento psicopedagógico clínico (para os transtornos de aprendizagem, organização e desenvolvimento do potencial intelectivo); educação escolar, especial ou regular; terapia ocupacional e outros. No tratamento é usado medicamentos mais específicos para atenuar ou eliminar os sintomas da síndrome, terapias especiais e estratégias de ensino que podem ajudar as pessoas afetadas a melhorar o seu desempenho, facilitando a conquista da independência que lhe for possível O lar é de fundamental importância, por ser o primeiro educandário do espírito em recomeço, numa aprendizagem que lhe fixará diretrizes para toda a vida. Sem advogar a defesa dos corretivos mais severos, não podemos desconsiderar que alguns temperamentos infantis, indóceis aos métodos da paciência e do diálogo, da bondade e do esclarecimento diante das faltas, necessitam de mais austeras disciplinas, que os despertam para a compreensão e a anuência aos deveres que se lhes gravam como hábitos para todo o tempo... Todavia, o exorbitar de tal prática põe em ruína o programa educativo, fazendo submeter pelo temor, antes que produzindo o efeito desejado, que é conquistar pelo amor. O amor na educação, jamais pode ser conivência com o erro. Ama, porém, com maior intensidade, quem ajuda-corrigindo, apóia–educando, ampara–disciplinando. Os instintos devem ser submetidos à razão e tal Procedimento somente é possível mediante a educação. Árdua Ascensão – Divaldo P. Franco. “Quando imaginarmos que nada mais é possível fazer em benefício de nosso semelhante, lembremo-nos de que uma palavra de carinho ou um sorriso de compreensão às vezes podem afastar uma desgraça. Há outro aspecto do drama que requer meditação, é o que diz respeito ao cuidado que devemos ter em nossas relações com os nossos semelhantes. Os árabes dizem com razão que somos donos das palavras que calamos e escravos das que proferimos.” O Solar de Apolo – Zilda Gama Pesquisa e montagem: Rose Valverde Prof.a de Artes e Especialista em Arte, Cultura e Educação – IAD / UJFJ Fotos : Internet www.rosevalverde.art.br Página: Arte-Educação - Mais textos para download