TUTORIA: UMA TERAPÊUTICA PARA A FORMAÇÃO MÉDICA? Maria Eugenia Vanzolini* e Patrícia Lacerda Bellodi www.usp.br/fm/tutores Cedem – Centro de Desenvolvimento de Educação Médica Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo FMUSP Introdução e objetivos Resultados Um projeto para o aluno deve a princípio e por princípio atender às suas necessidades e expectativas. Conhecê-las, portanto, é tarefa fundamental para o prosseguimento de tal proposta de ação. Este relato apresenta a avaliação inicial de expectativas, opiniões e conhecimento por parte de um grupo de alunos da FMUSP em relação às propostas do Projeto Tutores FMUSP - espaço institucional para a discussão e orientação do cotidiano da vida acadêmica e profissional dos alunos desta faculdade através da figura de um tutor - no início de sua implantação em 2001. Projeto Tutores como terapêutica para a formação médica: percepção de alunos e “professores” Categorias Nome Tutor (associações) Demanda Metodologia Utilizou-se nessa avaliação de metodologia qualitativa através da realização de grupos de discussão/opinião também chamados "Focus Group". Estes grupos, geralmente compostos de 8-12 membros, têm como tarefa o debate de temas prédefinidos mediado por entrevistadores - um facilitador da discussão e um observador. Não há necessidade de consenso e podem ser utilizadas técnicas de dinâmica de grupo em função dos objetivos do trabalho. Um primeiro grupo de discussão foi constituído por alunos representantes de diferentes entidades acadêmicas da FMUSP (CAOC, DC, Show Medicina, Atlética, Grupo de Teatro), todos do segundo ano e outro por alunos do internato de quinto ano. Como tarefa grupal foi proposto aos alunos que se dividissem em dois subgrupos assumindo os papéis de aluno ou professor e discutissem o tema: O Projeto Tutores como terapêutica para o curso de medicina. Este trabalho apresenta os resultados obtidos com o primeiro grupo, enfatizando as diferenças e semelhanças de percepção a partir do papel assumido na dinâmica aluno x "professor". Tarefa: definir os seguintes aspectos do produto: Temário Características da terapêutica (apresentação, posologia, etc) População-alvo Divulgação • Nome • Estudo da Demanda (espontânea?) O Ministério da Saúde Adverte: Fazer Medicina pode fazer mal à Saúde Poder terapêutico • Eficácia e poder terapêutico: preventivo, curativo, paliativo? • Âmbito de emprego: primário, secundário, terciário? Âmbito emprego Indicações e Contra-indicações • População-alvo • Formação de quem vai aplicar a terapêutica • Características da terapêutica: clínica/cirúrgica/diagnóstica? Reações adversas • Posologia: doses homeopáticas, única, etc • Indicações e contra-indicações • Efeitos colaterais/reações adversas (formas de controle) • Avaliação da evolução do paciente • Adesão ao tratamento Controle das reações adversas Conclusões A analogia com um tratamento médico possibilitou a identificação de aspectos importantes, como as representações de sua eficácia, problemas futuros, forma de administração e outros aspectos que permitiram, ainda no momento de implantação, correção de rumos. As principais questões surgidas foram: há necessidade de maior divulgação do Projeto Tutores entre os alunos em seus aspectos básicos de organização e funcionamento: a obrigatoriedade, os créditos, assim como a presença de um supervisor para o tutor,foram motivo de surpresa e dúvida. é preciso perceber que a figura do tutor é representada como figura de "elite que domina", mas também como líder que "se arrisca pelo grupo". Sem dúvida, para os alunos, é um papel a ser ocupado fundamentalmente por "médicos com vivência da FMUSP” o nome “Projeto” passa a idéia de algo a ser realizado no futuro, pouco transformador e teórico e deveria ser alterado, mas é difícil encontrar uma nomeação mais adequada. há necessidades por parte dos alunos (pouco organizadas e identificadas) a serem satisfeitas, mas não há demanda. Esta deve ser criada para o aluno e espontânea para o tutor. assinalam que a grande necessidade do aluno diz respeito à orientação de seu desenvolvimento profissional e de questões da vida acadêmica. acreditam que os grupos de alunos a serem tutorados devem ser homogêneos e segmentados, respeitando a evolução do curso pelos 3 ciclos; o internato não deve participar (pouco interesse, pouco tempo para descanso, influência prejudicial do veterano) sugerem flexibilidade na organização e funcionamento dos grupos ("doses homeopáticas", mas "injeções" para situações emergenciais), assim como uma abordagem não "invasiva" e equilibrada do tutor acreditam que, a curto prazo as mudanças trazidas pelo projeto serão "paliativas", mas tendem a prevenir e "curar" problemas a longo prazo desinteresse, monotonia, dificuldades de empatia com o tutor, características "narcisistas" do tutor seriam as principais reações adversas a serem controladas sugerem a presença de um coordenador externo para gerenciar mudanças de grupo, assim como reuniões entre os tutores para troca de experiências acreditam numa adesão maior do primeiro-anista, assinalando ser o veterano mais resistente a novas propostas propõem a auto-avaliação do aluno e a avaliação do tutor e do projeto a médio/longo prazo. [email protected] [email protected] “ 3ª Fase da Fuvest” Oligarquia: aquele que conduz, de cima para baixo Existem necessidades, mas não há demanda “Tiro no escuro” “Grito não organizado” Dia-a-dia profissional Sem temas fixos Clínica Doses homeopáticas Flexibilidade e variabilidade na frequência Segmentada “Mistura bombástica” 2 módulos (1º + 2º anos/ 3º + 4º anos) exclusão 5º + 6º anos (tempo para descansar) A presença do veterano: - positiva para ele mesmo: percepção de como era e como mudou - negativa para o calouro: “viciam”, “contaminam”, “pacote do como ser aluno”, “crescer rápido demais”, atrapalham com sua experiência e suas decisões Figura do tutor “ausente” na mediação do grupo, opinião veterano tem maior poder Matrícula Boca-a-boca Disseminação para além das facções Curativo • Forma de apresentação: "gotas", "pílulas", "injeções", "patches“ • Divulgação: médico/público Evolução do paciente Adesão ao tratamento Formação de quem aplicará a terapêutica “Professores” Alunos primário Melhora didática Dificuldades afinidade com o tutor “Mosaico” de alunos Desinteresse Monotonia Não transformação Perda de tempo Obrigatoriedade “Ego” do tutor Experimentar outros grupos Juntar grupos diferentes Pessoa de fora para gerenciar mudanças Reuniões de tutores Supervisão leva à padronização: tutor deve ser mais autônomo e menos dependente Auto-avaliação do aluno Avaliação do tutor Médio/longo prazo 1º ano à parte, englobando Bases Humanísticas e eliminando esta disciplina. Maior adesão porque 1ºnista é mais aberto e receptivo a qualquer proposta (criar o hábito) Veteranos são mais resistentes a novas propostas, são “viciados” Médico Complexo HC/FMUSP Vivência FMUSP “Projeto Tutores” Suporte: aquele que é líder, corre junto mas na frente “experimentando o gelo”, se arriscando também Espontânea para o professor Criada para os alunos Encaminhamento profissional Tutor estimula temas sem “cardápio” (mais difícil, mas mais estimulante) Clínica Doses homeopáticas Pílulas + Injeção (doses concentradas) Alunos interessados Não obrigatório Veterano acaba por “tutorar” de um modo negativo Internet + Convencional Facções podem levar à rejeição da “massa” Paliativo a princípio 2 desdobramentos no futuro: curativo e preventivo primário Melhora didática e da comunicação Alunos desinteressados Pouca afinidade com o tutor (antipatia) Ineficiência Trocar de grupo Conversar com outro tutor Coordenador para mudanças de grupo Supervisão pode acabar com a diversidade Avaliação a curto-prazo dos alunos Avaliação a longo prazo do projeto Forçar aluno a ir Apenas alguns professores do ICB: são muito diferentes Projeto Tutores, Programa Tutores Hoje o Projeto Tutores é o Programa Tutores. O esforço contínuo na divulgação de seus objetivos tem mostrado seus resultados: tutores e alunos contam com um site próprio (), mural, banco de e-mails, boletim informativo e folders dentro da perspectiva de uma estratégia múltipla de comunicação do que acontece. A heterogeneidade dos grupos, ao contrário da expectativa dos alunos, é uma realidade possível: a troca de experiências entre os diferentes anos é uma das maiores razões de satisfação entre os alunos. A “evolução do paciente” através da avaliação do programa por parte de todos os envolvidos tem sido importante para verificar rumos e necessidades de correção ao longo do tempo. Uma estrutura democrática com representantes de todos os envolvidos na Coordenação Geral e um trabalho de suporte e educação continuada aos tutores no desempenho de seus papéis, através da equipe de supervisores, sem dúvida colabora para que “efeitos colaterais indesejados” sejam evitados ou amenizados. Sem dúvida, os efeitos da terapêutica aparecerão mais a médio e longo prazo, mas uma série de indicadores mostra seu poder de eficácia já no presente, especialmente para os alunos dos primeiros anos.