1 A INTERAÇÃO PEDAGÓGICO-METODOLÓGICA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Thelma Rosane P. de Souza CEAD/Universidade de Brasília e ABEAS – Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior [email protected] Resumo Este trabalho enfoca a experiência com cursos de especialização lato sensu, utilizando a metodologia da educação a distância. Baseado nos princípios de EAD, que buscam ensinar construindo o conhecimento, criou-se, através da estrutura dos cursos, um vínculo, entre o ensinar e a produção deste conhecimento, através da interação pedagógico-metodológico. As relações entre professor e aluno são desencadeadas pelo próprio processo de aprendizagem e sustentadas pelo sistema interativo e pedagógico criado, o uso de material didático e pelo sistema de acompanhamento ao aluno. O eixo estrutural de um curso é traçado a partir da inter-relação entre teoria e prática, programada no plano curricular, objetivando a formação de um aluno crítico, criativo e capaz de transformar a realidade. Introdução Em um sistema de educação a distância (EAD) o ensino consiste em comportamentos planejados destinados a construir o aprendizado. O ensino é intencional e deliberado objetivando um conhecimento provocado, além das experiências casuais. Segundo Moore, Nosso foco de atenção visa todas as formas de ensino/aprendizado deliberados, planejamento, estruturados que ocorrem em ambientes nos quais as pessoas que buscam o conhecimento estão fisicamente separadas do professor, e a assistência dele deve ser comunicada em forma impressa ou por qualquer outro meio. Caracterizado pela separação entre aluno, instituição e professor, quanto ao tempo e ao local de estudo ou ambos, um sistema de EAD cria relações complexas que vão desde um planejamento organizado até estudos auto-dirigidosç de interações individualizadas, entre aluno e tutor, até estudos de grupos, de uma educação continuada até a capacitação em serviços. (Moore, 1973) O que distingue estas relações é a forma como é mediada esta separação entre aluno, professor e instituição. Na gestão de um sistema de EAD deve ser programada uma forma de mediação pedagógica. A aprendizagem se dá com a interação com outras pessoas em encontros presenciais ou através de outras pessoas, mediante as tecnologias da comunicação. As fitas de vídeo, cassete, telecomunicação, os computadores são excelentes meios de apoio. Estes meios devem ser planejados e estruturados para facilitar o aprendizado uma vez que para EAD interessa o aprendizado intencional, que não significa necessariamente 2 acadêmico e formal, ou seja, interessa o aprendizado planejado, com o aluno separado do professor, estabelecendo um diálogo mediante meios de comunicação. É através dos meios de comunicação que o aluno e seu professor-orientador ou tutor mantém um diálogo através do tempo e do espaço. Para tanto é preciso desenvolver no aluno habilidades para utilizar os meios de comunicação e os processos de aprendizagem e instrução previstos. É importante que ele seja treinado para o uso de qualquer meio audiovisual ou interação com o computador. 1. Metodologia Para fazer um bom trabalho é preciso fazer uma avaliação diagnóstica da situação inicial e das necessidades do aluno em relação a suas metas de aprendizagem. Em geral as aulas são ministradas através dos módulos impressos, distribuem organizadamente conceitos e princípios fundamentais de um tema a ser estudado. Os conteúdos são apresentados nos materiais didáticos que trazem também exemplos, exercícios de auto-avaliação e tarefas. Caso o material seja adequado o aluno vai, poder conhecer os fatos, acreditar e compreender os conceitos e até ser capaz de aplicá-los a situações similares às vivenciadas por ele mesmo. O ponto crítico do sistema é a realização dos trabalhos finais e da avaliação, quando ficam evidentes as dificuldades que os alunos tiveram para acompanhar um curso. Vários erros são cometidos, deixando clara a falta de prática para solução de problemas simples, causados por situações novas e, principalmente, a falta de preparo para o uso e análise de teorias relacionando umas com as outras. O planejamento e o cumprimento do plano de curso evitam esses resultados desastrosos. Por isso é fundamental que o acompanhamento não seja criado para substituir o professor-titular e o material didático e sim como um método de viabilizar um sistema de EAD, enquanto complemento essencial para o aprendizado do aluno. Criação de um acompanhamento ao aluno em um sistema de educação a distância tenta resolver estes problemas, definir o perfil do aluno para garantir o aprendizado individual. São instituídas também as relações de tutorias entre iguais onde alunos, supervisionados por professores e tutores ajudam seus companheiros a desenvolver sua capacidade de aprendizado, formando grupos de estudo. Um modelo funcional é planejar um encontro semanal entre tutor e aluno ou grupo de alunos, utilizando o plano de estudo do aluno para realização das atividades previstas para cada semana do curso, definindo o número de horas/estudo, que não deve ultrapassar 8 horas. O aluno apresenta a situação do seu trabalho, seus avanços e dificuldades e suas dúvidas. O tutor escuta o aluno e discutem as soluções ou considerações importantes para o diálogo, elaborando e resolvendo exercícios práticos, acompanhando uma leitura recomendada, orientando o trabalho prático ou trabalhando com estudo de caso para facilitar a compreensão dos conteúdos curriculares. No final da sessão não se pode esquecer de marcar o próximo encontro e o tempo provável de sua duração. O tutor atua como um assessor. Faz críticas construtivas ajudando o aluno a resolver suas dificuldades, indica novas maneiras de resolver e compreender as dúvidas que tem, ensinando-lhe recursos estratégicos, métodos de estudo e de exploração para avançar em seu aprendizado. Os objetivos dessa tutoria são dar ao aluno condições de criar sua própria independência e de desenvolver critérios próprios de aprendizagem. A atividade de um tutor tem função avaliativa e formativa permanentes, podendo acompanhar o desenvolvimento do aluno, ou suas dificuldades durante o processo de aprendizagem, 3 proporcionando orientações para que as supere, antes do final do curso e da avaliação somativa. Este método pode ser aplicado a qualquer curso, em todas as áreas, desde que sejam determinados o tipo de trabalho a ser realizado pelo tutor e o modo de conduzir o acompanhamento. O aluno, demanda mais a ajuda do tutor no início de um curso, mas é preciso que o método seja desenvolvido durante todo o curso para que cumpra eficazmente seu principal papel: desenvolver no aluno a capacidade de ser autônomo. Além do tutor os módulos, bibliografia, leituras complementares e atividades psicopedagógicas elaboradas para o material didático do curso são elementos preciosos para o desenvolvimento da aprendizagem, como fonte básica para compreensão dos conteúdos. O acompanhamento cumpre sua função de direcionar estes elementos, ampliando a informação e auxiliando na sua compreensão, além de orientar o uso da referência bibliográfica e a elaboração dos trabalhos práticos. Veja, a seguir, o fluxograma das Funções do Acompanhamento ao Aluno. Fluxograma de acompanhamento ao aluno Funções do Tutor 4 Prestar orientações e esclarecimentos sobre conteúdo dos cursos Corrigir os exercícios no final de cada módulo Atribuir menção final com base média das menções atribuídas Orientar o acompanhamento quanto às atividades realizadas com os alunos Promover encontros com tutores para troca de experiências e esclarecimentos Elaborar formulários para avaliação do Material Didático e avaliar sugestões a serem incorporadas Funções do acompanhamento do Aluno Funções da Coordenação Local Avaliar tutores e alunos; material e sugestões apresentados pelos tutores, alunos e comunidade Discutir mensalmente com a coordenação geral sobre as dificuldades não resolvidas Adequar e avaliar metodologicamente o material didático Orientar tutores quanto a metodologia das suas atividades e proporcionar feed back para avaliação do curso Promover a participação dos alunos no CCAS LEGENDAS CL- Coordenação Local CCAS- Curso de Capacitação para Assistentes Sociais Aclarar dúvidas dos alunos e dos tutores quanto ao funcionamento do curso Incentivar o aluno na superação de dificuldades apresentando sugestões Funções do acompanhamento técnicoadministrativo Orientar os alunos quanto ao uso da metodologia e atividades a serem realizadas Participar de encontros com a CL para discussão e troca de experiências Fazer síntese dos relatórios dos tutores e das observações feitas por ocasião dos encontros Enviar mensalmente relatório das atividades à CL com anexos para toda a coordenação Centro de Educação Aberta Continuada e a Distância Universidade de Brasília 5 2. Interação no Sistema O acompanhamento ao aluno, objetiva ainda a criação de elementos que satisfaçam às necessidades de o aluno pertencer a uma comunidade educacional, delimitando o seu próprio meio, seu contexto. Além de estabelecer a identidade do aluno, garante-se a interação entre ele, o material (meio de veicular o processo de ensino aprendizagem), a instituição e todas as pessoas que compõem o sistema de educação a distância (Goffman, 1975). Elementos como a) integração de conhecimentos (conhecimentos prévios do aluno, e as novas habilidades desenvolvidas em um curso); b) integração pessoal (organização de grupos de estudo), facilitando a identificação do aluno com seus companheiros, seu professor e sua instituição, e determinando sua identidade "de aluno". c) integração com os estudos ao auxiliar a permanência do aluno no sistema, ao manter um ritmo de estudo através das solicitações dos tutores, evitando assim o isolamento do processo de ensino; d) integração com sua vida profissional, na medida em que recebe influência externa em sua tarefa de adquirir hábitos regulares de trabalho, e e) integração com o sistema, que define horários e local fixo para que ele tire dúvidas e conheça melhor o próprio sistema permitem, uma supervisão permanente do desenvolvimento da aprendizagem e uma correção oportuna, caso seja necessário (Brito, 1998). Além disso proporcionam a interação do aluno com a instituição, garantindo sua socialização e um maior rendimento acadêmico. A interação, considerada sinônimo de contatos recíprocos, comprova que a relação aluno versus professor pode, quase sempre, ser melhorada (Flanders, 1977). Na sala de aula o professor informa ao aluno o que fazer, como fazer, quando começar, quando concluir e se o que fez está bem feito. Nas instituições da EAD a interação ocorre de maneira diferente: "a interação ocorre entre dois sujeitos ou entre um sujeito e um objeto planejado, elaborado para ser um termo desta interação" (Flanders, 1977), assim: a) o próprio aluno é o seu principal interlocutor na relação de aprendizagem, e b) os recursos impressos e audiovisuais são concebidos para serem motivadores e complementares das situações de aprendizagem, traduzindo, em nova versão a aula do ensino presencial. É possível dialogar com um livro, um vídeo ou um programa de televisão? Sim, se o aluno buscar no texto ou meio áudio-visual as respostas para as perguntas que surgirem e em seguida confrontar o que lê, vê ou ouve com seus conhecimentos anteriores ou com habilidades e destrezas que já possui, e depois lembrar que o texto é uma conversação entre o autor e o leitor e que as respostas estão no próprio texto. É preciso aprender a ler corretamente. Se não for possível vincular o conhecimento novo com o anterior, inferir, analisar e sintetizar não haverá aprendizagem. O material deve estar preparado especialmente para responder às questões desencadeadas pela "leitura" ter uma ligação entre os dados, e contar com a memória do aluno. A memória não é apenas o "decorar" alguma coisa; é poder trazer para o agora uma informação recebida, seja lendo, ouvindo ou vendo qualquer material. É observar atentamente e comparar com outras informações, analisar e sintetizar(Fromm, 1983). Quando o material é veiculado por meio áudio-visual é preciso ser mais critico e prestar mais atenção, checando a linguagem. Para interagir com estes meios, o aluno necessita de um guia adequado que o leve a comparar este material com o curso escrito, com seus conhecimentos já interiorizados. É dificil desenvolver tantas habilidades em um aluno que está distante. 6 Qualquer relação entre pessoas depende de como estas pessoas são vistas. É necessário saber lidar com o ser humano. Preparar uma aula para EAD é lembrar que o aprender acontece de várias maneiras e não apenas em uma sala de aula. O professor é um organizador de experiências, que adequa sua aula a qualquer meio de comunicação,adequando-as ao seu aluno . A comunicação é mais do que compartilhar ou repartir informações. A mensagem vai expressar sentimentos, atitudes e relações entre as pessoas envolvidas; suprimindo a distância fisico-temporal. ( ver Fluxograma de Acompanhamento ao Aluno) Nos cursos de extensão, a interação é totalmente mediada pelo acompanhamento técnico-administrativo mas no caso dos cursos de especialização é preciso que a coordenação metodológica crie instrumentos para melhor conhecer o perfil do aluno e orientá-lo em seus projetos e monografia. Os profissionais envolvidos com essa tarefa devem conhecer todos os princípios básicos da EAD. Os tutores, em especial, por serem professores-orientadores aprendem e desenvolvem habilidades como respeito, responsabilidade e identificação com o sistema educacional, imprescindíveis para qualquer educador. A relação de parceria entre professor e a coordenação metodológico-pedagógica se reconstrói e se recupera na parceria professor tutor/aluno a partir da valorização e do respeito às experiências trazidas pelos alunos esclarecendo as dificuldades e revelando diversos conhecimentos a serem compartilhados no decorrer do curso. Esta nova leitura da realidade favorece a compreensão do aluno, o conhecimento e o exercício do pensamento critico pelas questões referentes a seu exercício profissional exigidos pela imposição de teorias que às vezes, sequer se relacionam com essa prática.(Santos, 1987) A discussão temática com o tutor induzida pelas questões para reflexão e pelos exercícios de auto-avaliação recria a relação teoria-prática questionando as relações com o conhecimento e com a realidade vivenciada para trazer à tona questões conflitivas do cotidiano. (Demo, 1991) Na elaboração das aulas de EAD a disciplina perde a dualidade aula prática versus aula teórica e o ensino se concretiza com a dúvida e a curiosidade despertada pelas situações criadas pela mediação pedagógica. As respostas são sistematizadas pelo acompanhamento, cujos procedimentos metodológicos respondem aos desafios do método científico. (Freire e Shor,1987) O exercício da profissão é apoiado coletivamente pela responsabilidade na escolha do currículo e dos professores com posições diferenciadas e éticas, respeitando os diversos pontos-de-vista do aluno. Conclusão As novas perspectivas da EAD visam a criação de ações básicas imediatas, no sentido de definir novos caminhos para o acompanhamento. Os principais pontos a serem desenvolvidos têm, como base principal, o atendimento às atividades de ajuda ao aprendizado que, a partir de uma reformulação metodológica, possa acompanhar o aluno durante todas as etapas de um curso e possa detectar os problemas em sua origem, visando 7 reestruturar o processo de ensino para aqueles alunos que não conseguirem superar as etapas previstas. Esta reformulação prevê uma diversificação das experiências de aprendizagem e o uso intensivo das tecnologias educacionais para apoiar todo o sistema de EAD. O acompanhamento das tarefas de auto-avaliação e avaliação final permite a avaliação contínua do sistema, gerando novas ações para melhorar, reorientar e estimular o processo educativo. Dentre estas ações é prioritário: .fomentar o acompanhamento via redes telemáticas; qualificar o sistema com recursos humanos e materiais especializados; sistematizar o processamento de informações para os alunos e outros individuos envolvidos no sistema educacional; sistematizar o acompanhamento ao aluno, visando atualizar e avaliar os cursos e o próprio sistema; fomentar os trabalhos de pesquisa para avaliação do sistema e atualização dos métodos de avaliação formativa. A experiência tem comprovado que os alunos podem, mesmo à distância, ser capazes de transformar-se em um sujeito que vai além de um simples receptor, pronto para aprender - e ensinar- construindo novos saberes. 8 Referências Bibliográficas BRITO, B. D de. La Tutoria en los sistemas de educación a distância. Caracas e Sucre, Fondo Editorial Buria e Fondo Editorial a J. de Sucre, 1988. CAPRA, F. O ponto da mutação. São Paulo: Cultrix, 1982. DEMO, P. Pesquisa: Princípio científico e educativo.São Paulo: Cortez, 1991.2° ed. FLANDERS,N. Análisis de la interación didática, Madrid: Editorial Amaya , 1997. FREIRE, P. Extensão ou comunicação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. FREIRE,P e SHOR,I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. FROMM, E. Tener o ser? Madrid: Fondo de Cultura Econômica, 1983. GOFFMAN, E. The presentation of self in every day. Nova Iorque: Doubleday Anchor Books, 1975. SANTOS,B. Um discurso sobre as ciências. Afrontamento, 1995.7° ed. STANFORD, G e ROORK, A. F. Interación Humana y educación. México: Editora Diane, 1981.