Processos inclusivos de pessoas com necessidades educacionais especiais em classes de ensino comum Lenise Henz Caçula Pistóia [email protected] NEPIE – PPGEDU/UFRGS www.ufrgs.br/faced/pesquisa/nepie Giselda Corrêa [email protected] Leticia S. Figueiredo [email protected] Um pouco de história - o movimento pela integração A chamada educação inclusiva está associada à educação especial, como campo de conhecimento e ao tema da aprendizagem para todos. A sua origem está ligada ao movimento de integração de sujeitos com necessidades educativas especiais aos sistemas regulares de ensino, a partir de meados dos anos de 1960. O movimento pela integração sempre se referiu aos processos relacionais, com reciprocidade nas interações entre “deficientes” e “não deficientes”. Esperava-se que a sociedade estimulasse as interações e os sentimentos de solidariedade entre seus integrantes, facilitando aos “deficientes” o viver participativamente com os outros. • Para promover a integração implementaram-se modalidades de atendimento educacionais, que variavam desde as escolas especiais até os serviços oferecidos nas escolas e que, pela extrema variedade de ofertas, foram chamados de “cascata de serviços escolares, num continuum de serviços oferecidos que variariam do ambiente mais restritivo ao menos restritivo (Carvalho, 2000). • Este movimento resulta de uma progressão histórica que se caracteriza pela busca cada vez maior da democratização das sociedades, da garantia de direitos humanos e de oportunidades justas às minorias com base em princípios igualitários. Educacionalmente, tal busca traduz-se no desenvolvimento dos princípios de “igualdade de oportunidades” e de “educação para todos”. Integração e/ou Inclusão • O paradigma da inclusão trouxe a substituição de uma prática pedagógica mais encaminhada a uma concepção clínica dos processos do aluno, por uma outra mais voltada para o contexto educacional propriamente dito. No paradigma da integração o trabalho se direcionava para as necessidades educativas gerais dos alunos. No paradigma da inclusão o eixo se voltava para as necessidades educacionais ou educativas específicas de cada aluno. • No início do século XX observa-se que os conceitos de deficiência, diminuição ou handicap têm sido associados às pessoas com deficiência. Havia o predomínio na identificação de causas fundamentalmente orgânicas, geradas no início do desenvolvimento do sujeito, sendo dificilmente modificadas posteriormente (Marchesi e Martín, 1995). • A denominação “deficiente” foi largamente utilizada. Quando do início do processo de integração, passouse a falar em portadores de deficiência, tendo algumas variações quanto ao uso do termo. • Desde os anos de 1990, a discussão no campo da educação especial tem mostrado a preponderância do conceito de necessidades educativas especiais e a preocupação em qualificar as implicações do contexto sobre a aprendizagem dos alunos. A Educação Inclusiva • A chamada educação inclusiva teve início nos Estados Unidos em 1975 com a Lei Pública n. 94.142. Envolve o estabelecimento de programas e de projetos em uma política de sistemas de informação envolvendo escolas, bibliotecas, hospitais e a rede de saúde pública. Prioriza o cruzamento entre o movimento da educação inclusiva e a busca de uma escola de qualidade para todos. Há propostas de modificações curriculares, visando a implantação de programas mais adaptados às necessidades específicas das crianças portadoras de deficiências, valorizando a formação dos educadores. Há o acompanhamento dos alunos que passaram pelo processo de educação inclusiva através de pesquisas educacionais • A educação inclusiva é acompanhada pela discussão de uma nova sociedade e pelo referendo de importantes cartas internacionais, tais como A Conferência Mundial de Educação Para Todos e a Declaração de Salamanca. • Na Conferência Mundial sobre a “Educação Para Todos”, realizada em março de 1990 em Jomtien, Tailândia foi assinada a Declaração Mundial e um Marco de Ação com o compromisso de garantir uma ”educação básica de qualidade para crianças, jovens e adultos”. O conceito de necessidades básicas de aprendizagem passa a envolver além da escola, outras instâncias educativas e ambientes de aprendizagem, tais como a família, a comunidade e os meios de comunicação. • Além disso, passa –se a reconhecer que os sujeitos apresentam necessidades de aprendizagem diferentes, exigindo conteúdos, métodos e modalidades de ensino e aprendizagem que atendam a essas características pessoais e de desenvolvimento. • A proposta educacional contida na Declaração de Salamanca está baseada no princípio da integração que se renova e avança em linhas de ações que apontam para um novo paradigma: a educação inclusiva, que tem como efeito a defesa da participação de crianças e adolescentes com necessidades educativas especiais na rede comum de ensino. Os sujeitos da educação especial Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem:. I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos:. a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; . b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II - dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis;. III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. (Resolução CNE/CEB n.02 de 11 de setembro de 2001.) • A consecução dos princípios da educação inclusiva implica na avaliação das reais condições que possibilitem a inclusão gradativa, contínua, sistemática e planejada de alunos com necessidades educativas especiais nos sistemas de ensino. • Deve ser gradativa porque é preciso que tanto os sistemas de educação especial, como os do ensino regular possam ir se adequando à nova realidade, construindo práticas políticas, institucionais e pedagógicas que garantam o incremento da qualidade do ensino que envolve não só os alunos com necessidades educativas especiais, mas todo o alunado do ensino regular. • A escola inclusiva pode beneficiar a todos, portadores de deficiências ou não, colaborando para que se estabeleçam relações de reciprocidade, baseadas no respeito à diferença, na cooperação e na solidariedade. Espera-se que o trabalho educativo seja propulsor de novas e significativas aprendizagens. • A inclusão pode ser uma oportunidade para todos os alunos, no sentido de vivenciarem acordos participativos mutuamente desenvolvidos com ganhos nas habilidades acadêmicas e sociais e de convivência comunitária . Na era do conhecimento, a pedagogia tornou-se a ciência mais importante porque ela objetiva justamente promover aprendizagem. A era do conhecimento é também a era da sociedade “aprendente” : todos tornaram-se aprendizes. A pedagogia não está mais centrada na didática, em como ensinar, mas na ética e na filosofia, que se pergunta como devemos ser para aprender e o que precisamos saber para aprender a ensinar. (Gadotti, 2000, p.45 e 46.) Como os alunos com necessidades educacionais especiais podem avançar em suas aprendizagens? • A partir de projetos pedagógicos que garantam o princípio do trabalho educativo em interações cada vez mais ricas e complexas compondo uma rede. A Rede de Interações como concepção pedagógica Sintonia entre professoras(es) e alunos(as) – o uso da linguagem Maturana: somos seres humanos somente na linguagem A autopoiese procura pôr a autonomia do ser vivo no centro da caracterização da biologia e considera os seres vivos como dotados de capacidade interpretativa, desde sua origem própria. A comunicação é o entendimento entre as partes como elemento de um contínuo fluir no linguajar, o linguajar não é uma maneira de transmitir conhecimento ou informação, ele é em sua constituição uma maneira de coexistência, uma maneira de viver juntos em coordenações recursivas de ações consensuais, de tal maneira que a estrutura dos participantes muda de modo contingente a sua participação nele. • O processo de conhecimento é encarado como construção ativa da relação entre sujeito e mundo. • Os(as) alunos (as) são sistemas autopoiéticos que sofrem perturbações recíprocas sob a evolução histórica, submetidos às interações do meio ambiente e a escola é um espaço privilegiado em que se dá este fenômeno. • A linguagem modifica de modo radical os domínios comportamentais humanos possibilitando novos fenômenos como a reflexão e a consciência. • O uso da linguagem e da estruturação da consciência leva à constituição do humano • Cada interação será o resultado das transformações do indivíduo com o meio, na qual a linguagem gera a interação e também gerada nela, criando um processo recursivo, o qual permeia de modo absoluto toda nossa ontogenia como indivíduos, desde o caminhar até nossas ações no campo político. • As interações na linguagem têm lugar em uma dança de interações estruturais recíprocas em que todos os envolvidos são afetados mutuamente em suas corporalidades ao operarem como seres humanos em seu linguajar. • O caminho da construção do conhecimento significa a constituição de um processo que é o resultado de sua história evolutiva, não há sobrevivência do mais capaz há sobrevivência de quem é capaz. • Educar passa a significar a configuração de um espaço de convivência desejável para o outro em que eu e o outro possamos fluir no conviver de uma certa maneira particular; é demonstrar a cada aluno(a) que é possível aprender e ensinar – educador(a) e aprendiz: uma transformação congruente. • A escola ao permitir o fluxo de transformações em sua estrutura possibilita aos alunos diferentes a participação no processo educativo. 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