Assistência Farmacêutica no SUS URM Uso Racional de Medicamentos Agosto/2014 URM O QUE É USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS? PRINCÍPIOS DE USO DE MEDICAMENTOS USO TRADICIONAL Mas há 30 anos ... PRINCÍPIOS DE USO DE MEDICAMENTOS USO RELIGIOSO X CIÊNCIA RELIGIÃO PRINCÍPIOS DE USO DE MEDICAMENTOS Isto é ultrapassado! Eu só uso o que há de mais moderno nessa área... USO “FASHION” USO NÃO-RACIONAL DE MEDICAMENTOS Uso excessivo faz com que, a cada ano, novos produtos sejam lançados, sem que isso necessariamente melhor o estado geral de saúde dos consumidores. Estudo francês De 508 novos produtos farmacêuticos lançados entre 1975 e 1984, 70% não ofereciam vantagens terapêuticas. Avaliação da FDA De 348 novos medicamentos comercializados entre 1981 e 1988, só 3% representaram uma contribuição importante em relação aos tratamentos já existentes. USO NÃO-RACIONAL DE MEDICAMENTOS Compulsão pelo uso de medicamentos “Necessidade” de prescrever algo Percepção das medidas de UR como interferência na liberdade de escolha dos prescritores Expectativas, crenças e fantasias de prescritores, consumidores e dispensadores a respeito dos medicamentos CAUSA DO USO NÃO-RACIONAL DE MEDICAMENTOS Comodidade e sensação de “dever cumprido” por parte do prescritor (rapidamente “atende às necessidades” de pacientes crônicos ou poliqueixosos) Publicidade da indústria farmacêutica Interesses financeiros levando à maior prescrição de medicamentos Desconhecimento dos aspectos farmacológico-clínicos que embasam a prescrição CAUSA DO USO NÃO-RACIONAL DE MEDICAMENTOS MERCANTILIZAÇÃO DA SAÚDE “Medicina da Doença” Sistema de saúde curativo Medicamento “Medicina da Saúde” Sistema de saúde preventivo CAUSA DO USO NÃO-RACIONAL DE MEDICAMENTOS MEDICALIZAÇÃO DA VIDA Necessidade de ampliação do mercado consumidor Inquietação das crianças Menopausa Redução de função sexual Velhice Bem-estar e felicidade são oferecidos por meio de produtos sintéticos ou naturais. SOBRAVIME, 2001 - O que é uso racional de medicamentos USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS “Existe uso racional quando os pacientes recebem os medicamentos apropriados à sua condição clínica, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período de tempo adequado e ao menor custo possível para eles e sua comunidade.” OMS, Conferência Mundial Sobre Uso Racional de Medicamentos, Nairobi, 1985. USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS Diagnóstico adequado Indicação apropriada Esquema de administração adequado Paciente em condições de receber o tratamento proposto: ausência de contra-indicações e menor possibilidade de efeitos adversos Dispensação correta, incluindo informação adequada para o paciente Seguimento do paciente POR QUE PROMOVER O URM? 15% da população mundial consomem mais de 90% do que é produzido pelas indústrias farmacêuticas. 25-70% do gasto em saúde nos países em desenvolvimento correspondem a gastos com medicamentos (menos de 15% nos países desenvolvidos). 50-70% das medicamentosa. consultas médicas geram uma prescrição 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados inadequadamente. Somente 50% dos pacientes, em média, tomam corretamente seus medicamentos. Brundtland, GH. Global partnerships for health. WHO Drug Information 1999; 13(2): 61-64. POR QUE PROMOVER O URM? Erros de prescrição ou reações adversas de medicamentos determinam morte: 1.100 pessoas/2001/Inglaterra e Gales; 106.000 pessoas /1994/ Estados Unidos; 2.925 pessoas/ano/ Canadá. BMJ 2002; 324: 930-31 (20 april) Uma pesquisa do Sistema Nacional de Informações TóxicoFarmacológicas (Sinitox), ligado à Fundação Oswaldo Cruz: 108 mil casos registrados de intoxicação humana em 2006; 30,5% das ocorrências era com medicamentos, lideraram a lista de principais agentes tóxicos. CONSEQUÊNCIAS DO USO NÃO-RACIONAL DE MEDICAMENTOS Progressão da patologia Iatrogenia Aumento do tempo de tratamento Aumento dos custos Falta de adesão a tratamento BENEFÍCIOS DO URM INDIVIDUAIS: eficácia, segurança, conveniência e menor custo. INSTITUCIONAIS: melhoria do padrão de atendimento e significativa redução de custos. NACIONAIS: resultados positivos em avaliações de morbidade, mortalidade e qualidade de vida da população. REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS Ocorrência em 10-20% dos pacientes hospitalizados Responsáveis por 1,7-6,0% das admissões 1,5-35,0% durante a internação (26% em hospital universitário brasileiro) Quarta causa estimada de morte em serviços de urgência nos EUA Aumento significativo de tempo de internação, custos hospitalares e individuais Falsa idéia de segurança: condiciona o profissional de saúde a buscar outras causas para as manifestações apresentadas (“cascata da prescrição”) QUAL A INFLUÊNCIA DA PROPAGANDA SOBRE A DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS? As propagandas de medicamentos fazem parte do cotidiano e estão tão enraizadas que não nos damos conta do seu conteúdo! E isso acontece há muito tempo! PROPAGANDA/PUBLICIDADE “Conjunto de técnicas utilizadas com objetivo de divulgar conhecimentos e/ou promover adesão a princípios, idéias ou teorias, visando exercer influência sobre o público, por meio de ações que objetivem promover determinado medicamento com fins comerciais”. Resolução – RDC No 102, de 30 de novembro de 2000 PROPAGANDA/PUBLICIDADE “É a técnica de convencer os indivíduos de que têm a necessidade absoluta, vital, de algo que jamais imaginaram precisar”. SEDUÇÃO PODER DE PERSUASÃO PROPAGANDA/PUBLICIDADE DE MEDICAMENTOS CUSTOS Mensagens implícitas: “o que é bom custa mais caro” “o preço não importa, frente à possibilidade de obtenção do que se deseja (cura dos males ou cessação do sofrimento)” Estudo mostrou que contato frequente com representantes das indústrias farmacêuticas associa-se de modo forte e independente com maiores custos de prescrição. ANALGÉSICO INFORMAÇÕES SEM APRESENTAÇÃO DAS EVIDÊNCIAS Propagandas de produtos farmacêuticos em 10 fascículos consecutivos de BMJ (março a maio de 1997) 46 diferentes propagandas de 40 produtos farmacêuticos ausência de referências: 15 (32,6%) apenas referências não publicadas: 7 (15,2%) qualquer referência de publicação com corpo de revisores: 40% 55 referências de publicações com corpo de revisores: 13 abstracts ou simpósios patrocinados pela indústria, publicados na própria revista (4) ou em suplementos (9) Mindell J; Kemp T. BMJ 1997; 315(7122): 1621 INFORMAÇÕES SEM APRESENTAÇÃO DAS EVIDÊNCIAS Identificação de propagandas de BMJ em 6 meses (julho a dezembro de 1996) 63 medicamentos em 81 diferentes propagandas apenas 25% com alto nível de evidência 50% sem qualquer tipo de evidência para embasamento da prescrição Smart S; Williams C. BMJ 1997; 315(7122): 1621 EVIDÊNCIAS GERADAS COM A PROMOÇÃO DAS INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS Estudos patrocinados pelas indústrias farmacêuticas Análise de estudos publicados em 13 revistas de cirurgia e clínica: 39% favoráveis ao novo tratamento ou produto da indústria Estudos envolvendo medicamentos: 62% custeados pela indústria (CMAJ 2004; 170(4): 477-480) ASSOCIAÇÃO ESTATISTICAMENTE SIGNIFICATIVA ENTRE O PATROCÍNIO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E AS CONCLUSÕES OBTIDAS NOS ESTUDOS EVIDÊNCIAS GERADAS COM A PROMOÇÃO DAS INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS Razões levantadas para a observação de associação entre patrocínio da indústria farmacêutica e conclusões positivas de ensaios clínicos Qualidade da metodologia empregada: não justifica os resultados. Questionamento de interesse próprio da indústria farmacêutica. Escolha inapropriada da intervenção para ser comparada ao novo tratamento proposto, sendo freqüentemente escolhido como controle um grupo que recebe placebo. INFLUÊNCIA DA PROPAGANDA SOBRE A PRESCRIÇÃO Em estudos sobre uso de novos medicamentos nos EUA, os médicos entrevistados relataram que vêem os representantes das indústrias farmacêuticas como uma fonte importante de informação. Para alguns, são sua única fonte de informação. Em 42% dos casos, informação sobre os últimos fármacos novos prescritos foi derivada de informações de representantes das indústrias farmacêuticas. Jones MI et al. BMJ 2001; 323: 1-7 [4 Aug] McGettigan P et al. Br J Clin Pharmacol 2001; 51: 184-9 RDC nº 96, de 17/12/2008 RDC nº 23, de 20/05/2009 Propaganda, publicidade e informação de medicamentos O conteúdo das referências bibliográficas citadas na propaganda de medicamentos isentos de prescrição devem estar disponíveis pela empresa no SAC e no serviço de atendimento aos profissionais prescritores e dispensadores de medicamentos. As empresas não podem outorgar, oferecer, prometer ou distribuir brindes, benefícios e vantagens aos profissionais prescritores ou dispensadores, aos que exerçam atividade de venda direta ao consumidor, bem como ao público em geral. RDC nº 96, de 17/12/2008 RDC nº 23, de 20/05/2009 Propaganda, publicidade e informação de medicamentos No caso de propaganda ou publicidade veiculada na televisão, quando as informações escritas não forem locucionadas, elas deverão ser exibidas pelo tempo suficiente de leitura. Os programas de fidelização realizados em farmácias e drogarias, dirigidos ao consumidor, não podem ter medicamentos como objeto de pontuação, troca, sorteios ou prêmios. As comparações realizadas de forma direta ou indireta entre quaisquer medicamentos, isentos de prescrição ou não, devem estar baseadas em informações extraídas de estudos comparativos, veiculados em publicações científicas, preferencialmente com níveis de evidência I ou II, e especificar a referência bibliográfica completa. RDC nº 96, de 17/12/2008 RDC nº 23, de 20/05/2009 Propaganda, publicidade e informação de medicamentos É Vedado: estimular e/ou induzir o uso indiscriminado de medicamentos; sugerir ou estimular diagnósticos ao público em geral; incluir imagens de pessoas fazendo uso do medicamento; anunciar um medicamento como novo, depois de transcorridos 2 anos da data de início de sua comercialização no Brasil; incluir selos, marcas nominativas, figurativas ou mistas de instituições governamentais, entidades filantrópicas, etc. RDC nº 96, de 17/12/2008 RDC nº 23, de 20/05/2009 Propaganda, publicidade e informação de medicamentos É Vedado: sugerir que o medicamento possua características organolépticas agradáveis, tais "saboroso", "gostoso", "delicioso” ou imagens; empregar imperativos que induzam diretamente ao consumo de medicamentos, tais como: “tenha”, “tome”, “use”, experimente”; fazer propaganda ou publicidade de medicamentos e (ou) empresas em qualquer parte do bloco de receituários médicos; criar expectativa de venda. RDC nº 96, de 17/12/2008 RDC nº 23, de 20/05/2009 Propaganda, publicidade e informação de medicamentos Amostra Grátis: Somente pode ser feita pelas empresas aos profissionais prescritores em ambulatórios, hospitais, consultórios médicos e odontológicos; É vedado distribuição de amostras grátis de vacinas; É vedada a distribuição de amostras grátis de preparações magistrais; É vedada a distribuição de amostras grátis de medicamentos isentos de prescrição. RDC nº 96, de 17/12/2008 RDC nº 23, de 20/05/2009 Propaganda, publicidade e informação de medicamentos Amostra Grátis: As amostras grátis de medicamentos de venda sob prescrição médica devem conter: 50% do conteúdo da apresentação original registrada na Anvisa e comercializada pela empresa; os antibióticos, que deverão ter a quantidade suficiente para o tratamento de um paciente; os anticoncepcionais e medicamentos de uso contínuo, deverão ter a quantidade de 100% do conteúdo. DESAFIOS O que impede o URM? COMO COMEÇAR Relação nacional de medicamentos essenciais Formulário nacional de medicamentos essenciais Diretrizes de tratamentos padronizados Comitês de Farmácia e Terapêutica Educação em farmacoterapêutica baseada em solução de problemas (graduação e educação continuada) Laing R, Hogerzeil HV, Ross-Degnan D. Tem Recommendations to improve use of medicines in developing countries. Health Policy and Planning 2001; 16: 13-20. FATORES QUE LEVAM A ERROS COM MEDICAMENTOS Liberação rápida dos pacientes Desenvolvimento de novos medicamentos Aumento da complexidade da atenção médica Ênfase na especialização Aumento do uso de medicamentos Pacientes mais doentes e mais idosos BMJ 2002; 324: 930-31 (20 april) CONSEQUÊNCIAS DE ERROS DE PRESCRIÇÃO Redução da confiança em profissionais da saúde Aumento de morbidade e mortalidade Aumento de custos de tratamento (individual, institucional e governamental) Desgaste para o sistema nacional de saúde BMJ 2002; 324: 930-31 (20 april) DESAFIO DE MELHORAR O USO DE MEDICAMENTOS Prover conhecimentos de prescrição e administração de medicamentos seguros no ensino de graduação Treinar prescritores em todos os níveis Realizar ensino baseado em problemas Realizar avaliação clínica objetivamente estruturada BMJ 2002; 324: 930-31 (20 april) DESAFIO DE MELHORAR O USO DE MEDICAMENTOS Pesquisa: financiamento de fontes não comerciais, sobre questionamentos clinicamente relevantes e abordando também condições clínicas típicas de países em desenvolvimento (menor poder aquisitivo) Gerenciais: Comitês de Farmácia e Terapêutica Reguladoras: legislação, diretrizes nacionais de tratamento, formulário terapêutico nacional, lista de medicamentos essenciais OBRIGADA! Suzan Mirian do Patrocinio Alves Centro de Medicamentos do Paraná - CEMEPAR [email protected]