I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG http://ojs.fsg.br/index.php/pesquisaextensao MARKETING DE RELACIONAMENTO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO Eucledes Casagrandea, Rafael Alexandre Zydeckb a Mestrando em Educação. Universidade de Caxias do Sul. [email protected] b Graduando em Administração. Faculdade da Serra Gaúcha. [email protected] Informações de Submissão Eucledes Casagrande, Rua Os 18 do Forte, 1754 - Caxias do Sul – RS - CEP: 95020-100. Rafael Alexandre Zydeck, Rua Os 18 do Forte, 1754 - Caxias do Sul – RS - CEP: 95020-100 Palavras-chave: Marketing. Instituições de ensino. Fidelização e captação. Relacionamento. Resumo O presente artigo quer ser um estudo sobre a importância do uso do marketing de relacionamento para a captação e fidelização de alunos e parceiros nas instituições de ensino. Apoia-se, portanto, em fundamentação teórica e contextualização da Instituição de Ensino Alfa³, de Caxias do Sul, RS, no período de 2011 a 2013. No decorrer do estudo realizar-se-á uma contextualização da realidade do colégio, uma revisão teórica sobre o marketing de relacionamento e o seu uso nas instituições de educação e, por fim, uma análise das principais ações realizadas e dos resultados alcançados com o uso do marketing de relacionamento. 1 INTRODUÇÃO O marketing de relacionamento quer ser um estudo sobre as contribuições dele, para o campo de gestão das instituições Alfa de ensino. Não temos a pretensão de ser uma obra acabada, mas início de uma discussão que aponte caminhos e descortine horizontes para repensarmos a gestão educativa. Esta, por sua vez, precisa constantemente ser objeto de reflexão para poder progredir, firmemente, para um estado sempre melhor e de maior profissionalização no campo educativo. No que tange ao cenário da educação privada brasileira percebemos que, ao contrário do que acontecia no passado, quando as instituições eram mais homogêneas e a realidade mais estável, hoje, a educação passou a ver vista como um negócio com alto poder de faturamento. As escolas privadas, predominantemente as confessionais, passaram, pela atratividade do negócio educação, a receber a concorrência direta de novos investidores. _____________________ 3 Empresa com nome fantasia, com dados baseados em empresa verdadeira. I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 2 Atualmente as instituições privadas têm enfrentado um cenário de crise, sendo pressionadas, externamente, pela estabilização da demanda e, internamente, pela diminuição da receita. Como resposta a esta realidade tivemos um aumento significativo da participação destas instituições em investimentos nas áreas de marketing e publicidade, na busca desesperada de recuperar mercado. Outro problema enfrentado, além da captação, é a fidelização dos alunos. Muitas instituições investiram e investem exclusivamente na captação de alunos e divulgação da marca e se esquecem de fidelizar e reter esses alunos. Tendo em vista essas questões preliminares, o problema desta pesquisa centrase na pergunta acerca do como o marketing de relacionamento pode contribuir para a retenção e ampliação de clientes e parceiros na empresa Alfa. A partir desse horizonte de compreensão, optamos tratar as questões acima mencionadas, a partir de um estudo de caso, bem como através de uma pesquisa bibliográfica e dissertativa. Desse modo, o objetivo deste trabalho consiste em mostrar que as estratégias de marketing de relacionamento. Assim sendo, procuraremos, em um primeiro momento, apresentar a realidade da empresa. Posteriormente faremos uma fundamentação teórica sobre o marketing de relacionamento e suas implicações para o campo da educação básica. Por fim, apontaremos as ações de marketing de relacionamento aplicadas na Alfa, nos anos de 2011 e 2012, bem como os resultados possíveis de mencionar neste curto período de tempo, no que se refere à captação e à fidelização de alunos e parceiros. 2 REFERENCIAL TEÓRICO Neste capítulo procuraremos analisar o conceito de marketing de relacionamento, bem como as estratégias dele decorrentes para o campo da educação básica, na busca de captação e fidelização de alunos e parceiros. Para abordarmos esse tema faremos pesquisa bibliográfica através do aporte teórico de alguns autores, entre eles, Kotler e Gordon, Vavra, Cobra e Braga, Baker. 2.1 Marketing de Relacionamento As principais referências bibliográficas atuais definem o marketing como um processo social e gerencial através do qual as pessoas obtém o que necessitam através da criação, oferta e mudança de produtos, bens e serviços. A palavra marketing, de origem inglesa, deriva do I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 3 termo market, que pode ser traduzida ao português por mercado. É, portanto, uma ação intencional voltada para o mercado. O guru do marketing, Philip Kotler (2000, p. 30), nos diz que “marketing é o processo de planejar e executar a concepção, a determinação de preço, a promoção e a distribuição de ideias, bens e serviços para criar negociações que satisfaçam metas individuais e organizacionais”. Tradicionalmente o marketing foi visto, segundo Vavra (p. 26), na perspectiva de conquistar o maior número possível de clientes. Dessa forma, todos os esforços da organização devem ser no sentido de gerar novos clientes. As prioridades da empresa, nessa perspectiva do marketing de conquista, devem ser: (i) identificar o mercado alvo; (ii) determinar as necessidades deste mercado; (iii) gerar um produto ou serviço para atender estas necessidades; (iv) atrair o máximo número possível de consumidores para experimentar o produto ou serviço. Como podemos perceber a conquista de novos mercados e consumidores tem sido o desejo das empresas na busca de aumentar seus lucros. O problema deste tipo de marketing com ênfase na conquista é que as empresas investem esforços na conquista de clientes em potencial e, muitas vezes, se esquecem dos clientes atuais. Um exemplo do que estamos falando, é quando uma empresa modifica seu produto para torná-lo mais atraente aos novos mercados e não leva em conta o interesse dos atuais clientes. Dessa forma, assume-se que os clientes atuais permanecerão féis e que sua contribuição para os lucros da empresa é certa. Porém, muitas vezes, essa estratégia se mostra falha por esquecer da manutenção dos atuais clientes que, muitas vezes, deixam de ser féis, mudando de preferência (cf. VAVRA, p. 27). Em síntese, podemos depreender que as empresas estão entendendo que tão importante quanto conquistar novos clientes é mantê-los fiéis. Essa nova realidade está criando o que poderíamos definir de evolução no marketing, surgindo a preocupação não apenas de conquistar clientes, mas também de reconhecer a importância da criação de relacionamentos duradouros com eles. Kotler (2006, p. 138) afirma que com a concorrência acirrada é necessário que as instituições passem de uma orientação de marketing voltada para a venda, para uma orientação de marketing voltada para o relacionamento a fim de se diferenciarem no mercado. Abaixo vemos como Kotler (2006, p. 139) apresenta o organograma tradicional versus o organograma das instituições voltadas para o cliente e para o marketing de relacionamento. I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 4 Figura 1: Organograma tradicional versus o voltado para o cliente Fonte: Kotler, 2006. Braido (p. 98) destaca que “o marketing de relacionamento enfatiza principalmente a necessidade de um relacionamento a longo prazo com o mercado, em detrimento das práticas de transações com objetivos de curto prazo, buscando a fidelização dos clientes”. Pesquisas recentes mostram a importância de manter os clientes satisfeitos e fieis para melhoria dos resultados econômicos e financeiros. Já Vavra (p. 30) entende que além da perda de oportunidade de faturamento econômico um cliente insatisfeito apresenta um grande potencial destrutivo: Foi determinado que mais de 90% dos clientes insatisfeitos não farão esforços para fazer reclamações; eles simplesmente passam a fazer negócios com um concorrente, mas eles manifestam sua insatisfação junto a outros clientes potenciais. Desta forma, perder um cliente insatisfeito pode ser mais prejudicial do que parece; um cliente magoado pode transmitir suas queixas a outros nove clientes atuais ou potenciais, multiplicando por novo o grau de insatisfação. É mister destacarmos ainda que os investimentos no marketing de conquista de novos clientes e no marketing de relacionamento para fidelização e também captação devem ser assumidos com igual importância. Porém, manter clientes exige ações diferentes do que as comumente praticadas pelo marketing de conquista. Hoje muitas empresas estão investindo no marketing de relacionamento na busca da manutenção da fidelidade de seus clientes. No que se refere ao marketing de relacionamento encontramos muitas definições. Baker (p. 25) nos adverte para a impossibilidade de uma definição única, visto que todas as definições de marketing de relacionamento são influenciadas por diferentes tradições e diferentes premissas adotadas pelos autores. Porém, apesar dessa pluralidade de definições, há, em geral, de acordo com Baker (p. 25), uma concordância básica quanto as seguintes definições: I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 5 • Marketing de relacionamento refere-se a relacionamentos comerciais entre parceiros econômicos, provedores de serviços e clientes em vários níveis do canal de marketing e do ambiente mais amplo de negócios. • Reconhecer isso resulta em um foco sobre a criação, manutenção e extinção desses relacionamentos comerciais de modo que os participantes do relacionamento alcancem seus objetivos (benefício mútuo). • O lucro continua sendo uma preocupação subjacente ao negócio e os objetivos relacionais são atingidos mediante o cumprimento de promessas. • Confiança é essencial para esse processo de desenvolvimento de relacionamentos e está centrada na manutenção de promessas. O marketing de relacionamento parte, segundo Cobra e Braga (p. 131), da premissa de que quanto mais familiar é um serviço ou produto, maiores serão as probabilidades de se fechar um negócio. Para que isso aconteça, de acordo com os autores citados, três fatores precisam ser atendidos: • O relacionamento da empresa com o cliente não pode ser instrutivo, evasivo nem constrangedor. O relacionamento precisa estar de acordo com a conveniência do cliente, não da empresa ou do vendedor. Para isso, aplicam-se as estratégias do marketing de permissão. • Todo contato da empresa com o cliente deve agregar valor ou ser relevante para o cliente. Contatos contínuos sem valor agregado comprometem a imagem da empresa e deterioram o vínculo relacional. • Para que o famoso slogan “você conhece, você confia” seja realmente válido, é preciso que as ações de relacionamento feitas para tornar o produto conhecido sejam sustentadas por um suporte eficiente. Prometer e não cumprir é corrosivo para as estratégias de relacionamento. Em síntese, a essência do marketing de relacionamento consiste na descoberta por parte das instituições da necessidade de aprender a ser útil aos seus clientes e criar com eles vínculos afetivos e relacionamentos duradouros e que sejam vantajosos para ambos. A partir dessa concepção, todo o encontro com os clientes não são somente oportunidades de concretizar uma venda, mas, principalmente, um momento de aprendizagem. 2.2 Marketing de relacionamento no setor educacional A profissionalização na gestão das instituições de ensino é uma necessidade advinda do enorme crescimento da participação privada na oferta do mercado educacional brasileiro. Esta nova realidade de concorrência está obrigando as escolas privadas a importarem conceitos e metodologias de outros segmentos de mercado para a sua realidade. Segundo Facó (p. 27) pesquisas do INEP apontam que de 1997 a 2002 tivemos o aumento de novas instituições de ensino no Brasil na proporção de 34%. Nesse mesmo período o aumento de matrículas neste setor não passou dos 8%. I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 6 Para Dugaich o marketing educacional que antes praticamente inexistiu é: Por muito tempo, algumas instituições de ensino lideraram o setor educacional pelo reconhecimento do seu nome no mercado e por sua tradição. No entanto, nos últimos anos, com o crescente ingresso de novas instituições, especialmente no ensino superior, o segmento começou a evoluir para um modelo de maior profissionalização das áreas da administração, tecnologia e marketing, atraindo novos investidores e ocupando maior espaço nesse setor da economia. (p. 118) Como reposta a esta nova realidade de concorrência houve a necessidade de propor ações de marketing transacional e nesse cenário a propaganda e a publicidade tornam-se ferramentas imprescindíveis para alavancar matrículas. Outra decorrência direta das mudanças do setor educacional é a preocupação com bem-estar do aluno, como estratégia institucional, a fim de manter um bom relacionamento com esse público alvo, tendo em vista a sua fidelização. (cf. Dugaich, p. 118). Assim, além dos investimentos em marketing tradicional ou transacional, algumas escolas estão despertando para o marketing de relacionamento, ou seja, para ações que favoreçam o cuidado com o aluno ao longo de todo o seu ciclo escolar, bem como após ele, visto que este aluno poderá voltar a consumir algum produto da instituição e até mesmo ser um divulgador gratuito da proposta pedagógica e filosófica da instituição. Para Dugaich, a estratégia de relacionamento amplia o contexto do marketing transacional, passando para o desenvolvimento de relações profundas e de longo prazo com os públicos de interesse, podendo ser considerada uma filosofia organizacional, que tem como principal objetivo atender o cliente da melhor forma possível, em um processo contínuo de conhecimento e comunicação, estabelecendo relacionamentos profundos como meio de obter vantagem competitiva. Manter a lealdade dos clientes é um dos maiores objetivos da filosofia de relacionamento (p. 117-118). Após definir quem é o cliente, mapear geograficamente onde ele se encontra e conhecer o cliente, iniciam-se as estratégias de relacionamentos e criação de vínculos com o cliente. Durante as ações de relacionamento, o cliente e a empresa passam a se conhecerem melhor, desenvolvendo vínculos de confiança e familiaridade. Para que isso ocorra efetivamente, é necessário que, em cada contato, a instituição realize algo que agregue valor ao cliente e ao relacionamento (COBRA e BRAGA, p. 138). Outra saída inovadora é manter relacionamento com escolas de educação infantil, tendo acesso a futuros alunos que terão que procurar outras escolas. Da mesma forma, ações I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 7 de parcerias e cooperação com shoppings e/ou instituições que atendem ao público de interesse do colégio pode ser uma boa alternativa de divulgação da marca, criação de parceiros e fidelização dos clientes. É mister lembrarmos que o relacionamento em uma instituição de educação básica inclui diferentes públicos. Nesse sentido, o sucesso da instituição dependerá da criação e administração de boas relações, pois cada um deles poderá, a curto, médio e longo prazo, se tornar um divulgador da marca da instituição. 3 METODOLOGIA 3.1 Tipo de Estudo Trabalharemos de forma teórica, por meio de pesquisa bibliográfica para tentar responder aos problemas levantados, bem como através de estudo de caso da realidade da Instituição de ensino Alfa. De forma geral, pretendemos, a partir da literatura acerca do desenvolvimento histórico do conceito de marketing de relacionamento, analisar a realidade educacional brasileira no que se refere à captação e à fidelização de alunos. Num primeiro momento, apresentaremos a realidade atual da instituição e os problemas enfrentados na instituição para manter e captar alunos. Posteriormente, buscaremos entender e desenvolver os conceitos de relacionamento, e, após, confrontarmos essa teoria com a realidade educacional atual, apontando as contribuições do marketing de relacionamento nessa instituição. 3.2 Procedimentos Técnicos Estudo de bibliografia atual sobre o tema proposto. Leitura da realidade da escola. Levantamento de dados. Comparação dos resultados da escola nos últimos anos, com os investimentos em marketing de relacionamento feitos, pela escola, em 2011 e 2012. 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.1 Contextualização do tema O tema se desenvolve na área da educação numa instituição privada e quer identificar qual importância do marketing nas instituições de ensino. Desenvolvemos a proposta de como o marketing de relacionamento pode influenciar a fidelização e captação de alunos. 8 I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 Analisaremos as estratégias que são usadas para captar e fidelizar alunos e parceiros na educação básica, bem como mostrar algumas táticas de ações de marketing de relacionamento usadas na empresa Alfa nos anos de 2011 e 2012 e que podem ser implementadas - em outras instituições para diferenciação frente aos seus concorrentes. Delimita-se o estudo em apenas em um Colégio da rede privada. Percebemos que houve um decréscimo do número total de alunos de até 59% num total de tempo de anos de 10 anos. 4.2 Forças e fraquezas FORÇAS - Força da marca - Estrutura física (prédios) - Tradição - Educação Cristã - Localização geográfica - Corpo docente - Melhorias contínuas nos processos pedagógicos - Visibilidade da Instituição na cidade FRAQUEZAS - Gestão administrativa e pedagógica - Qualificação nos processos pedagógicos - Classificação no ENEM - Comunicação interna - Gestão de RH - Produtos com baixo nível de diferenciação Tabela: Forças e fraquezas na empresa Alfa. Fonte: Retirada a partir de relatórios internos. Pesquisas da Checchia Consultora, feitas no final do ano de 2010, apontaram que um conflito cultural tem contribuído para a deterioração dos processos e da imagem institucional; assim como o clima organizacional interno ruim é diretamente responsável pela drástica redução do número de alunos e dos resultados financeiros. 4.3 Total Geral dos Alunos Total Alunos 2000 1500 1000 1528 1242 1065 904 768 690 729 789 671 661 636 765 829 Total Alunos 500 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Gráfico: Representação do número total de alunos. Sistema da empresa Alfa. Acesso em 01 de março de 2013. Fonte: I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 9 Interessa-nos observar aqui, principalmente, os dados que se referem até o ano de 2011, quando a escola, a partir da nova direção, começou aplicar os conceitos do marketing de relacionamento para captação e fidelização de alunos e parceiros. Analisaremos os resultados e ações de marketing de relacionamento desenvolvidas pela escola nos anos 2011 e 2012. Porém, é fundamental observarmos que o colégio, de 2001 a 2011, surpreendeu com uma redução de 59% no número geral de alunos. A queda no ensino médio, neste período, foi de 85%. 4.4 Definição do problema De que forma o marketing de relacionamento pode contribuir para a retenção e ampliação de clientes e parceiros na empresa Alfa? Qual a melhor forma de captar, fidelizar e manter os clientes em uma instituição de educação básica? Essa preocupação se deve a crescente diminuição de alunos ao longo dos últimos anos neste setor. Como tentativa desesperada de reverter este quadro muitas instituições e redes de ensino vêm aumentando significativamente sua participação e investimentos na área do marketing e da publicidade. Entre as ações mais comuns estão a impressão de folhetos, banners, outdoor, propagandas em rádios e TVs. Apesar desse grande investimento, os resultados ainda se mostram insatisfatórios. Diante desse cenário coloca-se a seguinte pergunta: “De que forma a aplicação da estratégia de relacionamento orientada para a segmentação do comportamento de clientes, poderá contribuir com a melhoria da gestão das instituições privadas de ensino”? 4.5 Principais ações de marketing de relacionamento Através do marketing de relacionamento, buscamos oferecer produtos e serviços diferenciados, a fim de satisfazer o cliente. Este, por sua vez, quando satisfeito, produzirá ganhos para a empresa. Um exemplo deste serviço em uma escola é o investimento em atividades extracurriculares que geram renda para a escola, satisfação e segurança para os pais e os alunos. O marketing de relacionamento chama a atenção para o fato de que a escolha de uma instituição tem início antes que o consumidor tenha feito contato direto com a empresa. Nesse processo decisório a opinião de amigos e a imagem da instituição no mercado fazem uma grande diferença. I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 10 Algumas instituições, entre elas a empresa Alfa, estão indo além de simples ações de marketing de conquista e propondo parcerias de formação e cooperação com outras instituições (e empresas) formadoras de opinião. Entre elas destacamos: sindicatos, shoppings e escolas de educação infantil. Desse modo, acreditamos que gerenciar relacionamentos é uma estratégia de formação da marca da instituição e uma questão de sobrevivência futura. Segundo bibliografias da área do marketing, o custo para conquistar um novo cliente é estimado em várias vezes o custo de manter um cliente fiel. Nessa perspectiva, aliando os valores pedagógicos, que prezam por uma educação de qualidade e uma relação de confiança e afeto com os envolvidos no processo educativo, a empresa Alfa está organizando programas de captação, relacionamento e fidelização de alunos e consequentemente, de seus pais e familiares, bem como de parceiros e colaboradores. Entre as principias ações externas realizadas nos últimos dois anos, destacamos: 1) parceria com 40 escolas de Educação Infantil; 2) parceria com 8 escolas de Ensino Fundamental; 3) palestras e oficinas gratuitas e semestrais para formação de professores de educação infantil das escolas parceiras; 4) empréstimo dos espaços físicos para escolas parceiras; 5) semana da criança com programação aberta às escolas de educação infantil; 6) envio de kit de divulgação de matrículas, anual, para 600 alunos formandos das escolas parceiras de educação infantil; 7) jogos de integração com alunos de 8° série das escolas parceiras; 8) palestras gratuitas para alunos de 8° série e Ensino Médio; 9) convênio de descontos com 10 sindicatos; 10) parcerias com shoppings e empresas; Entre as principias ações internas realizadas nos últimos dois anos, destacamos: 1) informativo mensal da escola; 2) presença diária da equipe diretiva no pátio da escola, na entrada e saída dos alunos; 3) futebol semanal de integração com pais; 4) futebol semanal de integração com alunos; 5) ampliação das atividades extraclasse, entre elas: robótica, escola de música, escola de inglês e espanhol, teatro, bale, dança mix, entre outras; 6) projetos de encerramento de cada série; 11 I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 7) lançamento e autógrafo de livros, de todas as turmas, na Feira do Livro de Caxias do Sul; 8) almoço semestral de confraternização de pais, alunos e colaboradores; 9) envio de cartões de aniversários, bem como das principais datas comemorativas do ano; 10) divulgação no site do colégio de alunos que se destacam dentro e fora da instituição; 11) revitalização do Ensino Médio e de todos os espaços físicos; 12) implantação de empresa de fotocópia e empresa de venda de uniforme nas dependências da escola. 4.6 Principais resultados do Marketing de Relacionamento As ações acima nominadas aconteceram ao longo de 2011 e 2012 e serão mantidas e ampliadas em 2013. É importante destacarmos que após dois anos de projetos de parcerias com os diversos públicos alvo e do uso do marketing de relacionamento, interno e externo, podemos mensurar, que o número o número total de alunos, conforme gráfico apresentado no ponto 4.3, aumentou, desde o ano 2011 ao início do ano letivo de 2013 em mais de 30%. No quadro abaixo podemos observar a evolução dos alunos por níveis de ensino. 700 600 500 Ed. Inf 400 Fund. I 300 Fund. II 200 Médio 100 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Gráfico: Representação do número de alunos por níveis de Ensino. Fonte: Sistema da empresa Alfa. Acesso em 01 de março de 2013. Podemos destacar os pontos que estão em queda, no número de alunos, e os pontos em que estão aumentando. Com a verificação, percebemos que desde o ano de 2001 até o ano de 2006, o número de alunos diminuiu. Melhorando apenas no ano de 2006, em apenas dois 12 I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 níveis. Verificamos o histórico e notou-se que a direção da instituição havia mudado, porém no ano de 2011 percebemos significativa melhora em todos os níveis. Já nos quadros abaixo, com mais detalhes, verificamos os alunos que frequentam a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I. 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Ed. Inf Fund. I 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Gráfico: Representação do número de alunos no níveis de Ens. Fund. I e Educação Infantil. Fonte: Sistema da empresa Alfa. Acesso em 01 de março de 2013. Percebeu-se ampliação do número de alunos nas séries iniciais, na Educação Infantil, de 2011 a 2013, de 81%. No Ensino Fundamental I, de 23%. Foram esses setores que mais cresceram no Colégio e com boas tendências de aumentar. Isso aconteceu depois das estratégias de relacionamento foram lançadas. No gráfico abaixo, perceberemos o que está acontecendo com os níveis dos alunos maiores do Colégio, que são: Ensino Fundamental II e Ensino Médio. 700 600 500 400 300 200 100 0 Fund. II Médio 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Gráfico: Representação do número de alunos no níveis de Ens. Fund. II e Ensino Médio. Fonte: Sistema da empresa Alfa. Acesso em 01 de março de 2013. Já no Ensino Fundamental II o crescimento foi de 20% e no Ensino Médio de apenas 9%, entre os anos de 2011 e 2013. Tudo indica que essa estabilização do número de alunos no Ensino Médio permanecerá por mais dois anos, pois o número de alunos nas séries finais do 13 I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 Fundamental II ainda é pouco, o que demonstra um grande índice de evasão, principalmente no Ensino Médio e no Ensino Fundamental II. É importante destacar ainda que a linha do Ensino Fundamental II, a partir de 2013, voltou a crescer devido à diminuição da evasão e ao aumento significativo de ingresso de alunos novos no Fundamental I. No gráfico abaixo, percebemos a entrada de alunos novos na Instituição. TOTAL ALUNOS NOVOS TOTAL ALUNOS 86 94 91 2009 2010 2011 207 187 2012 2013 Gráfico: Representação do número de alunos novos. Fonte: Sistema da empresa Alfa. Acesso em 01 de março de 2013. Gostaríamos de ressaltar o número de alunos novos. Podemos verificar que o aumento de alunos novos a partir do uso do marketing de relacionamento foi bem superior a 100% em relação à média dos últimos três anos. Já no gráfico abaixo podemos comparar o total de alunos novos, por níveis de ensino, nos últimos cinco anos. Alunos novos por níveis ED. INFANTIL FI FII MÉDIO 85 79 66 64 51 45 37 22 14 2009 5 27 21 9 2010 40 20 24 11 9 2011 22 8 2012 2013 Gráfico: Representação do número de alunos nos níveis de ensino nos últimos 05 anos. Fonte: Sistema da empresa Alfa. Acesso em 01 de março de 2013. O maior aumento de número de alunos novos ocorreu justamente no foco do projeto de parcerias com as escolas de educação infantil. Sendo que dos 85 alunos novos do Ensino Fundamental I, 52 foram matriculados no 1° ano. Nos últimos anos, de 2009 a 2011, o I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 14 número de alunos novos, por ano, nesta série não passou de 13 alunos. Assim, o aumento de alunos novos no 1° ano do Fundamental I foi de 300% em relação à média dos últimos três anos. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por muitos anos algumas instituições de educação básica, especialmente as confessionais, pela tradição e nome, lideram o mercado educacional do Brasil. Com o crescente aumento da concorrência, o setor passou a exigir uma profissionalização cada vez maior em todos os setores especialmente no administrativo. Essas instituições estão investindo valores altos em marketing de conquista, com o intuito de recuperar o mercado perdido. Prova dessa realidade é a grande participação do setor educacional nos negócios de publicidade, anúncios e propagandas. Como foi mostrado na empresa Alfa, entre os anos de 2001 a 2011, sofreu uma diminuição de 59% no número geral de alunos. No Ensino Médio a diminuição foi ainda maior e surpreendeu com uma queda de 85%. Hoje algumas instituições, entre elas o colégio Alfa, estão se dando conta que apenas o investimento em marketing tradicional é insuficiente. Urge a necessidade de se investir quantitativa e qualitativamente nos relacionamentos. O amadurecimento no setor leva as instituições a se preocuparem fortemente com a satisfação dos seus clientes. Prova disso são os programas e centrais de relacionamentos desenvolvidos pelas instituições de ensino no desejo de conhecer seus alunos e de se comunicar mais diretamente com eles. É importante lembrarmos que o relacionamento de uma instituição envolve diferentes públicos alvo. No caso da educação não é diferente. Os colégios precisam se relacionar bem com todos os públicos envolvidos, assim como desenvolver boas relações para que eles se tornem multiplicadores gratuitos da instituição. Entre estes vários públicos, podemos citar: pais e familiares, professores e funcionários, fornecedores, escolas parceiras, alunos, formadores de opinião, ex-alunos e futuros alunos. No que se refere ao contexto atual do Colégio, percebemos que nos dois últimos anos, com a implantação de diversas ações de marketing de relacionamento dirigidas aos diversos públicos de interesse da instituição, tivemos muitos sinais visíveis positivos e, portanto, aspectos de crescimento. Entre eles podemos citar: 1) 30% de aumento do número geral de alunos; I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 15 2) aumento de mais de 100% no número geral de alunos novos em relação à média de 2009 a 2011; 3) 300% de aumento nos alunos novos que ingressam no 1° ano do Ensino Fundamental, em relação à média dos últimos três anos; 4) aumento de 100% nos alunos do turno integral, passando de 60 alunos, em 2011, para 120, em 2013; 5) redução da inadimplência de 14%, em 2011, para 8% em 2012; 6) aumento significativo da receita; 7) diminuição expressiva de bolsas e descontos comerciais. Entre os fatores mais difíceis de serem mensurados, nota-se uma grande melhora, no (a): 1) revitalização, atualização e modernização da Escola com relação ao seu ambiente competitivo, estimulando o crescimento dos negócios atuais; 2) clima organizacional; 3) responsabilidade direta dos colaboradores na busca por resultados e metas; 4) achatamento da estrutura piramidal de forma a aproximar os responsáveis ao mercado (alunos, pais de alunos, professores, instituições parceiras); 5) redução dos retrabalhos; 6) diminuição de focos de resistência e insatisfações; 7) valorização e aprimoramento de cada profissional, individual e coletivamente; 8) revitalização da proposta pedagógica do Ensino Médio; 9) fidelização e captação de alunos; 10) revitalização do Turno Integral. Por fim, é mister destacarmos que o marketing de relacionamento pode ser uma saída viável para a fidelização de alunos e parceiros, bem como para o aumento do número de alunos e consequentemente do resultado financeiro. Outra premissa, que rege o marketing de relacionamento e aponta para a lucratividade é a confiança na instituição, que deixa alunos mais propensos a retornar aos bancos escolares para a realização de novos cursos e ainda indicar a instituição para parentes e amigos, o que resulta na redução de custos aparentes. Para que de fato uma instituição avance nesse sentido, é necessário que todos os colaboradores estejam cientes do seu papel dentro da instituição e principalmente o quanto a cooperação é importante para o sucesso. I Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG Caxias do Sul – RS, de 30 de Setembro a 02 de Outubro de 2013 16 Assim, para que o relacionamento se torne um valor na instituição é necessário que esteja impregnado na cultura da escola, ou seja, toda a comunidade educativa deve estar, a partir do seu trabalho específico, envolvida com esse espírito e empenhada em criar e fortalecer um relacionamento duradouro com todos os públicos alvos da instituição, uma vez que o comprometimento de todos é fundamental nesse processo. 6 REFERÊNCIAS BAKER, Michael. Administração de Marketing. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. BRAIDO, Quelen. Marketing de Relacionamento: oportunidade para desenvolvimento e crescimento contínuo no setor financeiro. Disponível em: revista eletrônica de contabilidade. Volume , n° 3, março/maio de 2005. CHECCHIA CONSULTORIA. Relatório Pesquisa Institucional. Ano de 2010. Documento de uso restrito da Instituição Alfa. Cobra, Marcos e BRAGA, Ryon. 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