Complicações Infecciosas e Medidas Preventivas em Hemodiálise e Diálise Peritoneal Cristiane de Magalhães Rosa Ribeiro Médica Infectologista Coordenadora Controle de Infecção Hospitalar- Fresenius Medical Care Gestora de Qualidade - Hospital Adventista Silvestre [email protected] Controle de Infecção Hospitalar e Diálise • Normatização do Atendimento a pacientes com Insuficiência Renal Crônica em Clínicas de Hemodiálise a partir do Evento de Óbitos em Caruaru-PE (1996) – portaria 2042/1996 • RESOLUÇÃO-RDC Nº 154, DE 15 DE JUNHO DE 2004: PCPIEA – Programa de Controle e Prevenção de Infecção e Eventos Adversos Controle de Infecção Hospitalar e Diálise • Infecções Relacionadas à Acessos para Diálise: Hemodiálise: cateteres temporários e permanentes Diálise peritoneal: cateter peritoneal e peritonite • Reações Pirogênicas:Tratamento de Água • Soroconversão para hepatite B e hepatite C Controle de Infecção Hospitalar e Diálise • Acidentes com Materiais Biológicos e PGRSS • Reprocessamento de artigos: dialisadores e linhas • Limpeza e Desinfecção de Pisos, Superfícies e Equipamentos • Otimização do Uso de Antimicrobianos • Eventos Adversos • Controle de Disseminação de Microrganismos (MRSA,VRE,Tuberculose, entre outros) Acessos Vasculares para Hemodiálise Acessos temporários: Cateter Central de Duplo Lúmen Jugular Subclávia Femoral Shunt A / V Permcath® Acessos permanentes ou semi-permanentes: Fístula Artério Venosa Enxerto - prótese Permcath ® Título da Apresentação 6 Infecções Relacionadas a Acesso Acesso Vascular Permanente HD Fístula Arteriovenosa (FAV) •Infecções relacionadas à procedimento cirúrgico: confecção ou revisão •Infecções relacionadas à manipulação em sala Indicador: Episódios de Infecção x 100 Número de pacientes com FAV 7 Critérios Diagnósticos: Infecção FAV • Alterações no membro da FAV como edema, eritema, hipertermia, celulite, com ou sem saída de secreção. • Alterações no local de punção: ponto purulento • Geralmente acompanhado de dor • Pode ser acompanhado de bacteremia relacionada à infecção – hemoculturas positivas sem outro foco ACESSOS PARA HEMODIÁLISE Fístula Artério Venosa É a anastomose direta entre uma artéria e uma veia superficial,levando a dilatação da veia e desenvolvimento de uma parede venosa mais espessa, permitindo a inserção repetida de agulhas e um fluxo de sangue constante para HD PTFE: Polytetrafluoretileno Prótese Fácil inserção Uso rápido Pouca deformidade Custo elevado Risco de infecção menor que CDL Risco de Infecção maior que FAV Medidas preventivas durante a confecção cirúrgica da FAV: • preparo de pele: antisséptico degermante seguido de alcóolico • antibioticoprofilaxia cirúrgica: de acordo com o serviço • paramentação do cirurgião: barreira máxima • cuidado no pós-op: utilização após maturação Medidas preventivas durante manipulação de FAV em sala: • lavagem do braço da FAV: água e sabão comum antes da punção • preparo de pele para punção: álcool a 70% • boa técnica de punção: evitar hematomas • “button role”: atenção no preparo da pele Infecções Relacionadas a Acesso Temporário Cateter de Dupla Luz Temporário (CDL) • Infecções relacionadas à inserção • Infecções relacionadas à manipulação em sala Critérios diagnósticos bem estabelecidos • Indicador: Episódios de Infecção x 1000 Cateter dia Como calcular o índice de infecção da sua unidade? No total de episódios de infecção em determinado período* No total de dias de cateter em determinado período** x 1000 * No total de episódios de infecção = soma de todos os episódios de infecção na unidade em um determinado período ** Soma de todos os dias de uso de todos os cateteres da unidade, no mesmo período determinado Ex: Planilha Clínica “Meu Rim” - Controle cateter mês Abril Nome Data Data Motivo instalação do retirada do retirada cateter cateter João Silva 01/04/11 Maria Aquino 05/04/11 20/04/11 infecção Nelson Souza 10/04/11 15/04/11 obstrução Nelson Souza 15/04/11 José Fabiano 23/04/11 01/04/11 Maria Aquino 22/04/11 TOTAL mês 1 infecção Dias de cateter 30 15 5 15 30 8 103 dias Taxa em cateter/dia = 1/103 x 1000 = 9,7 Cateter - dia Por que assim podemos comparar melhor? Veja os exemplos de comparação utilizando-se as taxas usuais de episódios de infecção/mês e as taxas de cateter/dia: Pela análise usual, acreditaríamos que a clínica “Meu Rim” tem resultados melhores que a clínica “Renal”. Porém, pelo cálculo de cateter/dia percebemos que na verdade os pacientes da clínica Renal utilizaram cateter por mais dias e com menor risco de infecção. Clínica “Meu Rim” 06 pacientes com cateter 120 dias de uso de cateter 3 episódios de infecção Clínica “Renal” 05 pacientes com cateter 150 dias de uso de cateter 3 episódios de infecção Cálculo usual (no de infecções por pacientes): (3/6) x100= 50% Cálculo usual (no de infecções por pacientes) (3/5)x100= 60% Taxa cateter dia: (3/120)x100= 2,5 Taxa cateter dia: (3/150)x100= 2 Mecanismos de infecção de cateter CUFF Diagnósticos de Infecção Relacionada a Cateter para Hemodiálise • Infecção de local de Inserção: presença de secreção purulenta, edema ou hiperemia no local de inserção do cateter na ausência de febre, com hemocultura (quando colhida) negativa. Diagnósticos de Infecção Relacionada a Cateter • Infecção de Corrente Sanguínea sem sinais de infecção local: presença de pelo menos um dos seguintes sinais e sintomas: febre ou calafrios, mal estar, inapetência, dor local, taquicardia ou hipotensão em paciente sem outro foco provável de infecção (deve ser realizada anamnese cuidadosa) cateter de dupla luz sem infecção de local de inserção. O quadro de infecção relacionada a cateter é um quadro sistêmico, persistente inclusive fora do momento da diálise. A hemocultura é positiva. Diagnóstico de Infecção Relacionada a Cateter • Infecção de Corrente sanguínea relacionada a cateter com sinais de infecção: presença de pelo menos um dos seguintes sinais e sintomas: febre, mal estar, inapetência, dor local, taquicardia ou hipotensão em paciente com infecção de local de inserção do cateter. Importante: Quadro de calafrios em pacientes com cateter, sem história sugestiva, após anamnese cuidadosa, não é diagnóstico de infecção relacionado a cateter Pacote de Medidas – Bundles Infecção relacionada a cateter 1- Acesso preferencial: Fístula Arteriovenosa: Em 2004 nos EUA: Campanha Nacional para estimular a confecção de FAV 32,2% em 2003 para 55,8% em 2010 Wish JB, Vascular access for dialysis in the United States: progress, hurdless, controversies, and the future. Semin Dial 2010;23:614-8 2- Retirada precoce do cateter sem cuff: Perguntar em toda diálise, este paciente ainda tem necessidade de usar este cateter? Medidas preventivas durante manipulação em sala 3- Em caso de uso inevitável de CDL sem cuff: otimizar cuidados com cateter desde a inserção, manuseio e manutenção 4- Medidas de cuidados locais: desinfecção das conecções, uso de pomadas no curativo e lock solutions. (*): Wish JB, Vascular access for dialysis in the United States: progress, hurdless, controversies, and the future. Semin Dial 2010;23:614-8 Medidas preventivas durante a inserção do cateter: Localização: preferencialmente jugular, desestimular femural Preparo de pele: anti-séptico degermante seguido de alcoólico, (de preferência, Clorexidina) Barreira máxima: gorro, máscara, capote estéril, luva estéril, campo estéril longo Lavagem das mãos: como para uma cirurgia (escovação) “Check-list”: enfermagem checa medidas preconizadas Soluções para fechamento de cateteres (lock) Histórico de 30 anos de uso de heparina como único lock... • Bom anticoagulante • Porém: • Não possui efeito sobre crescimento bacteriano/biofilme • Pode produzir sangramentos indesejáveis (efeitos sistêmicos) Por que não algo que também colabore para proteção para infecções? 26 Heparina + Antibióticos Pp problemas: • Manipulação • Resistência bacteriana Long-Term Gentamicin Lock Catheter Prophylaxis Is Associated with Gentamicin-Resistant GramPositive Bacteremias in Chronic Hemodialysis Patients J Am Soc Nephrol (Nov) 20:70A 2009 Citrato um ótimo anticoagulante... Ótimo anticoagulante = Ótimo efeito anticoagulante sem provocar sangramentos. • Citrato tem ótimo efeito anticoagulante; • Citrato tem pequena meia-vida (metabolizado rapidamente) Adultos normais metabolizam 3g de citrato a cada 5 minutos (3) (3) Kramer et al. Citrate pharmacokinetics and metabolism in cirrhotic and noncirrhotic critically ill patients. Crit Care Med 2003 Oct;31(10):2450-5. Citrato e Biofilme Microrganismos + Matriz de Polissacarídeos = barreira a penetração de antibióticos • • Cálcio é essencial para o crescimento bacteriano Citrato em concentrações alta pode ser usado para inibir o crescimento bacteriano Estudos com Citrato 291 pacientes (9 centros de Hemodiálise) (8 Holanda 1 Bélgica) 148 pacientes Citrato 30% 143 pacientes Heparina CDLs tunelizados (98) e temporários (193) 18 mese s CITRATO 30% HEPARINA P Episódios de Infecção Sistêmica 9 33 < 0,001 Episódios de Infecção Sistêmica 1,1 4,1 Infecção de Orifício de Saída 11 32 Retirada de Cateter por Obstrução 27 29 Sangramentos 6 19 (por cada 1000 dias de uso de cateter) Nenhum dos dois grupos teve efeitos colaterais graves 0,012 0,005 Random izados Fluxo da Hemodiálise Dialisador Anti-Coagulação Bomba de Sangue Sangue que retorna Dialisato novo Dialisato Usado ao paciente Sangue que sai do paciente Dialisador Entrada do dialisato Feixe de fibras capilares Saída do sangue Saída do dialisato Transferencia de solutos através da parede capilar Entrada do sangue O fluxo do dialisato dentro do capilar, passa em contracorrente com o fluxo de sangue. Fluxo Contracorrente Sangue Sangue UREMICO com níveis elevados De creatinina, potássio, uréia, sódio, etc... Sangue LIMPO com reduzidos níveis De uréia, creatinina,etc ... Interior do lúmen das fibras capilares Exterior das fibras capilares Dialisato USADO com uréia,creatinina, etc... Dialisato NOVO contendo Os eletrólitos essenciais Dialisato O fluxo de sangue e dialisato devem passar em direção contraria para manter a diferença de gradiente de concentração e remover o máximo de solutos através da membrana semipermeável. O QUE ACONTECE NA MEMBRANA DO DIALISADOR? Sangue 200 - 400 ml/min Bicarbonato Pequenas proteínas e.g. ß2-Microglobulina Acetato Glicose Eletrólitos Fragmentos bactérias Electrólitos Toxinas Urêmicas Cel. Sangue Proteínas grandes Bactérias Dialisato 500 - 800 ml/min Qualidade da Água Objetivos do controle da qualidade da água • Reduzir o risco de complicações infecciosas • Reduzir distúrbios metabólicos Controle de Microrganismos • Água não é estéril A contaminação depende da capacidade de crescimento bacteriano adaptado ao meio de solução. • Bactérias gram negativas não fermentadoras: Pseudomonas spp, Acinetobacter spp, Stenotrophomonas maltophilia;Burkholderia cepacia, Alcalígenes spp, Flavobacterium spp, Achromobacter spp e outras • Bactérias gram negativas fermentadoras: Serratia spp, Enterobacter spp; • Micobactérias não tuberculosas: M.chelonae,M.fortuitum,M.gordonae,M.kansasii, M.avium, M.intracellulare Complicações infecciosas • Bactérias • Produtos bacterianos: endotoxinas, peptideoglicanos e muramilpeptídeos da parede bacteriana, lipopolissacarídeos e toxinas como microcistina 03_ Tratamento de Água para Hemodiálise: Filtro de Areia Abrandador Filtro de Carvão Osmose Reversa Filtro de Areia: Remoção de sólidos suspensos de tamanho acima de 10 micra. Abrandador: Retenção por troca iônica, de Cálcio e Magnésio. Filtro de Carvão: Remoção de Cloro Livre, e retenção de matéria orgânica. Osmose: Retenção de sais dissolvidos em 97 à 99%, e matéria orgânica em 99.9% Controle microbiológico Localidade Bactérias ufc/ml após tratamento Bactérias ufc/ml na solução de diálise Europa 1997 <100 - Japão 1995 - <100 Canadá 1986 <200 - Estados Unidos 1996 <200 <2000 Brasil <2000 Alemanha 1998 <100 <100 Holanda 1998 <100 <100 Suécia 1998 <100 <100 Contaminação de Água para Hemodiálise Contaminação Bacteriológica Microcistina - toxina da Cyanobacteria Sangue e tecido hepático de pacientes – 60 óbitos -1996 Coluna de carvão e coluna de resina com presença de fragmentos da cianobactéria Shideh Pouria In The Lancet vol 352 july 4, 1998 Contaminação de Água para Hemodiálise Microcistina Cianobactérias, conhecidas como Algas azuis Geralmente encontrados em reservatórios rasos, com água morna e com pouco movimento Não são encontradas em poços artesianos profundos Após morte celular há liberação de toxinas Intoxicação antiga – descrição do séc XII Consequências clínicas em longo prazo de contaminação bacteriana • Estimulação repetida de células mononucleares • Contato com membrana do dialisador, bactérias e produtos bacterianos • Elevação da síntese de citocinas e outros mediadores pró-inflamatórios • Inflamação sistêmica crônica Inflamação sistêmica crônica • Amiloidose por beta2 microglobulina • Aumento de incidência de síndrome do túnel do carpo • Maior susceptibilidade a infecções • Síndrome da Resposta de fase aguda: TNF-alfa, IL1 e IL6 aumentam a síntese hepática de proteina C reativa e amilóide A e reduz albumina e transferrina • Hipoalbuminemia: preditor de mortalidade • PCR alto: preditor de doença cardiovascular Manuseio da Máquina de Hemodiálise • Pode ser utilizada em mais de um paciente na mesma unidade do hospital ou em unidades diferentes Pontos Críticos: •Painel de controle •Garras •Ponteiras para aspirar concentrados •Apoio superior •Todo gabinete externo Osmose Reversa Portátil Recomendações Gerais: Deixar o mais próximo possível da máquina de HD com mangueiras curtas Não deixar no expurgo, sala de utilidades, banheiro, corredor, telhado, etc Providenciar saída de água potável Providenciar esgotamento adequado Osmose Reversa Portátil Recomendações Gerais: Não deixar materiais, medicações, bolsas, mochilas, pastas, alimentos, bandejas de medicação, sobre a máquina Solicitar prontuário da máquina com rotina de manutenção preventiva, troca de filtro, tratamento da membrana de osmose, desinfecção da máquina: de acordo com fabricante (a cada mês, 15 dias, 100 horas de uso...) Diálise Peritoneal Peritonite: É a inflamação da membrana peritoneal. Quais as fontes de contaminação na diálise peritoneal? I - Fontes “exógenas” de infecção a) Infecção extra-luminal o Infecção no túnel subcutâneo o Infecção no orifício de saída do cateter o Vazamento de líquido o Extrusão do cuff CET-2005 I - Fontes “exógenas” de infecção b) Infecção Intra-luminal o Contaminação durante as trocas de bolsas o Contaminação durante administração de medicamentos o Vazamento na bolsa o Aquecer a bolsa em calor úmido o Furo ou corte no equipo e/ou cateter II - Fontes “endógenas” de infecção o Via hematogênica o Via enterogência: por exemplo, diverticulite o Via tubas uterinas Como se faz o diagnóstico de peritonite? o Sinais e sintomas de infecção peritoneal: Líquido turvo Febre Dor abdominal Náuseas / vômitos Diarréia CET-2005 Como se faz o diagnóstico de peritonite? o Identificação do microorganismo no efluente: Coloração gram (útil para o diagnóstico rápido da presença de fungos) e cultura o Presença de líquido turvo com células inflamatórias: > 100 leucócitos / cm3 > 50% Polimorfonucleares CET-2005 Medidas Preventivas Relacionadas a cateter de Diálise Peritoneal Cateter de tenckhoff Inserção pelo médico: Antibioticoprofilaxia: cefazolina 1g IV meia hora antes da cirurgia Preparo de pele: antisséptico degermante seguido de alcóolico Curativo cirúrgico prolongado: epitelização do local de saída Medidas Preventivas Relacionadas a c Diálise Peritoneal • Medidas preventivas durante a troca de bolsas pelo paciente ou cuidador Treinamento da técnica com pontos críticos bem identificados, Visita domiciliar com avaliação técnica: é método de auto-cuidado Escolha do melhor método: DPAC ou DPA Soroconversão para Hepatites Soroconversão para Hepatite B: • Medidas preventivas: Vacinação Isolamento físico na sala amarela dos pacientes com HBsAg + : não utilização compartilhada de máquinas, acompanhamento sorológico Soroconversão para Hepatite C: • Medidas preventivas: Isolamento “funcional” dos pacientes com anti-corpos anti-HCV positivos, acompanhamento de sorologias dos susceptiveis