1.2 SUBESPAÇOS VETORIAIS No exemplo 1 do item 1.1.3 nós mostramos que o R3, com as operações usuais, é um espaço vetorial. No exemplo 4 do mesmo item nós mostramos que W (W = {(0, 0, k), k R}), com as mesmas operações, é também um espaço vetorial. Entretanto, podemos observar que W é um subconjunto de R3 que é, ele próprio, um espaço vetorial. Na verdade, ocorre que dado um espaço vetorial V, é muitas vezes possível formar outro espaço vetorial usando um subconjunto W de V e as operações de V. Como V é um espaço vetorial, as operações de soma e multiplicação por um escalar sempre produzem um outro vetor de V. Agora, para que um subconjunto W de V seja um espaço vetorial, o conjunto W deve também ser fechado para as operações de soma e multiplicação por um escalar. Ou seja, a soma de dois elementos de W tem que ser um elemento de W e a multiplicação de um elemento de W por um escalar tem que pertencer a W. 1.2.1 Definição. Um subconjunto W de um espaço vetorial V é um subespaço vetorial de V, se valem as seguintes propriedades: (i) O vetor nulo de V está em W; (ii) Se u W e v W então u + v W; (iii) Se u W e R então u W. Observações. A melhor forma de verificar se W é subespaço é observando primeiro se ele contém o vetor nulo de V. Se 0 está em W, então as propriedades (ii) e (iii) precisam ser verificadas. De outro modo, se 0 não está em W, então W não pode ser um subespaço e assim, as propriedades (ii) e (iii) não precisam ser verificadas; A propriedade (ii) diz que W é fechado para a soma, ou seja, a soma de dois elementos de W é sempre um elemento de W. E a propriedade (iii) diz que W é fechado para a multiplicação por um escalar, isto é, toda vez que um elemento de W é multiplicado por um escalar, o resultado é um elemento de W; Todo subespaço de um espaço vetorial é ele próprio um espaço vetorial. 1.2.2 Exemplo. Consideremos, como no exemplo 2, item 1.1.4, o espaço vetorial V = R2 com as operações (x1, y1) + (x2, y2) = (x1 + x2 – 1, y1 + y2 – 1) (x1, y1) = (x1 – + 1, y1 – + 1). e os seguintes subconjuntos de V: W1 = {(1, 1)} (lembre que (1, 1) = 0 de V) W2 = {(x, x) R2 / x R} W3 = V. Verifiquemos que W1, W2 e W3 são subespaços vetoriais de V. Sejam u = (1, 1) W1, v = (1, 1) W1 e R; 0 = (1, 1) W1; u + v = (1 + 1 – 1, 1 + 1 – 1) = (1, 1) W1; u = (.1 – + 1, .1 – + 1) = (1, 1) W1; 14 isto é, as propriedades da definição 1.2.1 estão verificadas em W1 que, portanto, é um subespaço vetorial de V. Sejam u = (a, a) W2, v = (b, b) W2 e R; 0 = (1, 1) W2; u + v = (a + b – 1, a + b – 1) = (c, c) W2; u = (a – + 1, a – + 1) = (d, d) W2, de forma que W2 é também um subespaço vetorial de V. É imediato que W3 é um subespaço vetorial de V, uma vez que todo conjunto é um subconjunto de si mesmo. Os subespaços W1 = {0} e W3 = V são ditos subespaços vetoriais triviais de V e W2 é dito um subespaço próprio de V. Na verdade, todo espaço vetorial contém pelo menos dois subespaços, a saber: o subespaço nulo e o próprio espaço, por isto ditos subespaços triviais. Os demais subespaços são ditos próprios. 1.2.3 Exemplo. O espaço vetorial R2 não é subespaço do R3, por que o R2 não é nem mesmo subconjunto do R3; os vetores de R3 têm três componentes, enquanto que os vetores do R2 têm apenas duas componentes. O conjunto S = {(a, b, 0); a, b R} é um subconjunto do R3 que se “parece” e “age” como o R2. Temos que S é um subespaço do R3. Prova. Sejam u = (a1, b1, 0), v = (a2, b2, 0) S e R. 0 = (0, 0, 0) S u + v = (a1, b1, 0) + (a2, b2, 0) = (a1 + a2, b1 + b2, 0) S u = (a1, b1, 0) = (a1, b1, 0) S. S é subespaço do R3. 1.2.4 Exemplos. Subespaços vetoriais do R2: Exemplo 1. Os subespaços próprios do R2 são do tipo W = {(x, y) / y = ax}, que, geometricamente, representam retas que passam pela origem. De fato, em W = {(x, ax) / x R} tomemos u = (x1, ax1) e v = (x2, ax2) e seja R. 15 0 = (0, 0) W u + v = (x1, ax1) + (x2, ax2) = (x1 + x2, ax1 + ax2) = (x1 + x2, a(x1, x2) ) = (x3, ax3) W; u = (x1, ax1) = (x1, ax1) = (x4, ax4) W. Exemplo 2. Seja, agora, W = {(x, y) R2 / y = ax + b, b 0}, que representa, para cada par de números reais a e b, uma reta que não passa pela origem. Temos que W não é um subespaço vetorial de R2 pois 0 = (0, 0) W. Exemplo 3. Um caso interessante é tomar W = {(x, y) R2 / y = x2}, que mesmo contendo o vetor nulo não é subespaço vetorial de R2. Tomemos, por exemplo, u = (1, 1) W v = (2, 4) W u + v = (3, 5) W. 1.2.5 Exemplos. Subespaços vetoriais de R3. Exemplo 1. Os triviais: W1 = {(0, 0, 0)} e W2 = R3. Exemplo 2. Os próprios: retas e planos que passam pela origem, isto é: W3 = {(x, y, z) / y = ax e z = bx} e W4 = {(x, y, z) / ax + by + cz = 0}. Para mostrar que W3 é um subespaço vetorial de R3 procedemos como no exemplo 1, item 1.2.4 . Deixamos como exercício. Para W4, sejam u = (x, y, z) com ax + by + cz = 0, v = (x1, y1, z1) com ax1 + by1 + cz1 = 0 e k R. u + v = (x + x1, y + y1, z + z1) e a(x + x1) + b(y + y1) + c(z + z1) = (ax + by + cz) + (ax1 + by1 + cz1) =0+0 = 0, de modo que u + v W4. ku = (kx, ky, kz) e a(kx) + b(ky) + c(kz) = k(ax + by + cz) = k.0 = 0, ou seja, ku W4. Exemplo 3. Seja W5 = {(x, y, z) / x + y – z – 2 = 0} um plano em R3. Como W5 não contém a origem, não é subespaço vetorial. Também podemos mostrar que, por exemplo, (1, 1, 0) + (0, 1, – 1) = (1, 2, – 1) W5 ou 2.(1, 1, 0) = (2, 2, 0) W5. Exemplo 4. O subconjunto W6 = {(x, x , x) / x R+} não é um subespaço vetorial de R3, pois 16 u = (4, 2, 4) W6 e v = (9, 3, 9) W6 mas u + v = (13, 6, 13) W6. Observemos que 0 = (0, 0, 0) W6, o que não é suficiente para garantir que W é um subespaço vetorial, é uma condição apenas necessária. Atividades de Aprendizagem 1.2 Subespaços Vetoriais 1) De acordo com a definição, um subespaço vetorial é qualquer subconjunto, não vazio, de um espaço vetorial, onde as operações de adição e produto por escalar continuam preservadas. Como você entende a parte em negrito, dessa frase? 2) Pela definição de subconjunto, todo conjunto é subconjunto de si mesmo. Então, se V é um espaço vetorial, quem é o seu “maior” subespaço vetorial? 3) E qual é o “menor” subespaço de um espaço vetorial? 4) Os subespaços, conforme 2 e 3 acima, são chamados os subespaços triviais de um espaço vetorial. Escreva na forma de conjunto e apresentando o vetor genérico, os subespaços triviais dos seguintes espaços vetoriais: 4.1)V1 = R2; 4.2) V2 = R3; 4.3) V3 = Rn; 4.4) V4 é o conjunto de todas as matrizes quadradas de ordem 3; 4.5) V5 é o conjunto de todos os polinômios de grau 3; 5) Analise os conjuntos S abaixo e verifique, pela condição do vetor nulo, quais deles não têm chance de ser subespaço vetorial do espaço vetorial V indicado. 5.1) V = R2. Represente, geometricamente todos os conjuntos S dados abaixo. 5.1.1) S = {(x, y); y = 2x + 3}; 5.1.2) S é a reta que passa pelos pontos (1, 4) e (– 2, 3). Escreva S na forma de conjunto; 5.1.3) S = {(x, y); y = x2 – 1}; 5.1.4) S = {(x, y); y = lnx}; 5.1.5) S = {(x, y); y = x }; 5.1.6) S = {(x, y); y = 2x}; 17 5.1.7) S = {(x, y); x y}; 5.1.8) Escreva, de forma breve, todos os subespaços do R2. 6) V = R3. Reescreva cada S abaixo na forma de conjunto. 6.1) S é o plano dos vetores (a, b, c) com a = 0; 6.2) S é o plano dos vetores (a, b, c) com b = 2; 6.3) S é o plano de equação x + y – 2z = 4; 6.4) S é o conjunto dos vetores (a, b, c) com abc = 0; 6.5) S é o conjunto dos vetores (a, b, c) com a + b + c = 0; 6.6) S é a reta de pontos (x, y, z) com x = y e z = – y; 6.7) S é a reta de pontos (x, y, z) com y = 2x e z = 3; 6.8) Escreva de forma breve todos os subespaços do R3. EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES- SUBESPAÇOS VETORIAIS E.1 Dados os conjuntos W em cada espaço vetorial V indicado proceda assim: Escreva três elementos de W; Reescreva W, apresentando o vetor genérico do item a até o item d; Verifique se W é subespaço vetorial de V. a) W = { (x, y) R2, y = – 2x }, V = R2; b) W = { (x, y) R2; y = – 2x + 1 }, V = R2; c) W = { (x, y, z, t) R4; x = y e z = 2t }, V = R4; d) W = { (x, y, z) R3; x – 2y – 4z = 6 }, V= R3; e) W é o conjunto de todas as matrizes identidade de ordem nxn, para n = 2, 3, 4, ...; V = Mnxn; f) W = { (x, y) R2; y 0 }, V = R2; 0 a g) W = ; a , b R , V = M2x2; b 0 h) W = { (a, a, ..., a) Rn; a R }, V = Rn; i) W = { (a, 2a, 3a); a R }, V = R3; E.2 Seja G o conjunto de todas as funções f tais que f(0) = 1 no espaço vetorial F de todas as funções de R em R, ou seja, 18 F = { f: R R } e G = { f F; f(0) = 1 }. G é subespaço vetorial de F ? E.3 Nos problemas que seguem determine se W é ou não um subespaço do espaço vetorial: a) V = R2; W1 = { (x, y); y 0 }; W2 = { (x, y); y < 0 }; W3 = { (x, y); y = 2 }; b) V = R3; W1 = o plano xOy; W2 = { (x, y, z); x = y = z }; W3 = { (x, y, z); x = y }; c) V = R2; W = { (x, y); x2 + y2 1}; d) V = Mnn; W1 = { D Mnn; D é diagonal }; W2 = { T Mnn; T é triangular superior }; W3 = { S Mnn; S é simétrica }. E.4 Seja H = { (x, y, z); 2x + 3y – z = 0} e K = { (x, y, z); x – 2y + 5z = 0 }. a) Mostre que H e K são subespaços do R3; E.5 Verifique se os subconjuntos W1, W2 e W3 são subespaços vetoriais de V onde: V = M22 e a 1 a ; 0 W1 = A M 22 ; A 0 0 a ; b 0 W2 = A M 22 ; A W3 = { A M22; A é triangular }. Gabarito de Algumas Questões RE.1 Exemplos: escolha qualquer vetor que satisfaça a condição dada. Verificação (vetor genérico): a) W = {(x, – 2x); x R} Sejam u = (x1, – 2x1) W, v = (x2, – 2x2) W e R: i) u + v = (x1 + x2, – 2x1 – 2x2) = (x1 + x2, – 2(x1 + x2)) W ii) u = (x1, – 2x2) = (x1, – 2x2) W. W é um subespaço vetorial de R2. b) W = {(x, – 2x + 1); x R} Como (0, 0) W, podemos concluir que o subconjunto W não é subespaço vetorial. 19 c) W = {(y, y, 2t, t) ; y, t R} Sejam u = (y1, y1, 2t1, t1) W, v = (y2, y2, 2t2, t2) W e R: i) u + v = (y1 + y2, y1 + y2, 2(t1 + t2), t1 + t2) W ii) u = (y1, y2, 2t1, t1) W. W é subespaço vetorial de R4. d) W = {(6 + 2y + 4z, y, z); y, z R} Tomando y = 0 e z = 0, temos (6, 0, 0). Como (0, 0, 0) W, W não é subespaço vetorial do R3. e) W não é subespaço vetorial pois, considerando todas as matrizes identidade (qualquer ordem), não temos a soma definida quando, por exemplo, I2 + I4. f) Contra-Exemplo: Sejam u = (2, – 1) W, = – 1. u = (– 1)(2, – 1) = (– 2, 1) W pois y = 1 > 0. Logo W não é subespaço vetorial de R2. 0 g) Sejam u b1 a1 0 W, v 0 b2 0 b1 a1 0 0 b2 0 b1 a1 0 0 b1 i) u v ii) u a2 W e R. 0 a1 a 2 W 0 a2 0 0 b1 b2 a1 W 0 W é um subespaço vetorial de M22. h) Sejam u = (a, a, ..., a) W, v = (b, b, ..., b) W e R. i) u + v = (a + b, a + b, ..., a + b) W ii) u = (a, a, ..., a) W W é subespaço vetorial de Rn. j) Sejam u = (a, 2a, 3a) W, v = (b, 2b, 3b) W e R. i) u + v = (a + b, 2(a + b), 3(a + b)) W ii) u = (a, 2a, ..., 3a) W W é subespaço vetorial de R3. RE.2 Sejam u = f(x) G f(0) = 1, v = g(x) G g(0) = 1 e R. i) u + v = (f + g)(x) tal que (f + g)(0) = f(0) + g(0) = 1 + 1 1 u + v G e G não é subespaço vetorial de F. RE.3 a) nenhum. Observe: vWe=–2 v W. b) W1, W2 e W3 são subespaços vetoriais de R3. W1 = {(x, y, 0); x, y R} W2 = {(x, x, x); x R} W3 = {(x, x, z); x, z R} facilmente mostramos que se u, v W e R então u + v W e u W. c) Sejam u = (1, 0) W e v = (0, 1) W. 20 u + v = (1, 1) W pois 12 + 12 > 1. Logo, W não é subespaço vetorial de R2. d) Tomando n = 2: a 0 a 0 a W1, v = 2 ; a, b R . Sejam u = 1 W1 = 0 b 0 a1 a2 W1 i) u + v = b1 b2 0 0 0 b1 0 W1 e R. b2 a1 0 W1. 0 b1 ii) u = W1 é subespaço vetorial de M22. a b a b a b ; a, b, c R . Sejam u = 1 1 W2, v = 2 2 W2 e R. W2 = 0 c a1 a2 0 i) u + v = b1 b W2 c1 c2 0 c1 0 c2 a1 b1 W2. 0 c1 ii) u = W2 é subespaço vetorial de M22. a b a c a c ; a, b, c R . Sejam u = 1 1 W3, v = 2 2 W3 e R. W3 = 0 c c1 b1 c2 b2 a1 a2 c1 c2 W3 c1 c2 b1 b2 i) u + v = a1 c1 W3. c1 b1 ii) u = W3 é subespaço vetorial de M22. RE.5 a) H = {(x, y, 2x + 3y); x, y R}. Sejam u = (x1, y1, 2x1 + 3y1) H, v = (x2, y2, 2x2 + 3y2) H e R. i) u + v = (x1 + x2, y1 + y2, 2(x1 + x2) + 3(y1 + y2)) H ii) u = (x1, y1, 2x1 + 3y1) H. H é subespaço vetorial de R3. K = {(2y – 5z, y, z); y, z R}. Sejam u = (2y1 – 5z1, y1, z1) K, v = (2y2 – 5z2, y2, z2) K e R. i) u + v = (2(y1 + y2) – 5(z1 + z2), y1 + y2, z1 + z2) K ii) u = (2y1 – 5z1, y1, z1) K. K é subespaço vetorial de R3. 0 0 0 0 RE.6 * W1 não é subespaço vetorial pois W1. * W2 é subespaço vetorial conforme item (g) do exercício E1. * W3 não é subespaço vetorial. 21 CE: 2 A 0 2 B 3 3 1 é uma matriz triangular (superior). 0 1 é uma matriz triangular (inferior). 4 3 A B 3 2 W3 pois não é uma matriz triangular. 22