Mecanismos de Resistência das plantas aos patógenos PONTO PARA REFLEXÃO Todas as plantas devem possuir meios de se proteger de organismos parasitas/patógenos que as atacam. (Do contrário, não existiriam plantas) A interação hospedeiro x patógeno pode ser encarada como uma luta entre os dois pela sobrevivência O patógeno lança mão de suas armas químicas para atacar o hospedeiro, enquanto este, procura se defender, através de mecanismos estruturais e/ou bioquímicos Atenção: os mecanismos de ataque e defesa são subdivididos em função de objetivos didáticos. A interação hospedeiro-patógeno deve ser encarada como um sistema único, que depende da PLANTA, do PATÓGENO e do MEIO-AMBIENTE Planta Ambiente Patógeno Resistência – conceito As plantas, na natureza, estão sujeitas a um grande número de microrganismos A resistência é a REGRA e a suscetibilidade é a EXCEÇÃO A RESISTÊNCIA... é dinâmica e coordenada é um sistema multicompetente resulta de vários diferentes mecanismos de resistência As plantas podem se defender: Para facilitar os estudos : Passivamente Ativamente PRÉ-FORMADOS (passivos, constitutivos) PÓS-FORMADOS (ativos, induzíveis) Ambos podem ser subdivididos em: Estruturais Bioquímicos Os ESTRUTURAIS atuam como barreiras físicas, impedindo a entrada do patógeno e a colonização dos tecidos Os BIOQUÍMICOS: reações que ocorrem nas células do hospedeiro produzindo substâncias que são tóxicas ao patógeno ou criam condições adversas para o crescimento deste no interior da planta Fatores que afetam os mecanismos estruturais e bioquímicos nas respostas de resistência (numa mesma interação): IDADE DA PLANTA ÓRGÃO / TECIDO DA PLANTA ESTADO NUTRICIONAL CONDIÇÕES AMBIENTAIS B A E C D FIGURA 2-11 Tipos de invasão de patógenos em plantas infectadas. (A) Sarna da macieira: o fungo (Venturia sp) cresce somente na cutícula e nas células epidérmicas de folhas e frutos. (B) Os mílidos pulverulentos, o micélio do fungo cresce na superfície do hospedeiro, mas envia haustórios para dentro das células epidérmicas. (C) Micélio do fungo (vermelho) cresce somente nos espaços intercelulares. (D) Hifa do fungo Ustilago numa folha infectada. (E) Doenças causadas por bactérias que crescem e bloqueiam o xilema. (A) University of Oregon, (B) G. Celio, APS, (D) Mims et al. (1992). Intern. J. Plant Sci. 153, 289–300, and (E) E. Alves, Federal University of Lavras, Brazil.] FATORES ESTRUTURAIS Defesas físicas que evitam ou restringem o desenvolvimento da doença Podem ser: I) Pré-formados II) Pós-formados Pré-formados 1ª. Linha de defesa: superfície da planta I.1) Cutícula Onde ocorre o contato inicial entre patógeno e planta Recobre a parede celular das células epidérmicas em contato com o meio externo Camada lipídica, composta por uma mistura de ceras e um polímero insolúvel denominado cutina micro.magnet.fsu.edu/cells/leaftissue/images/... ghs.gresham.k12.or.us/.../plants/pics/leafxs.gif Recobre folhas, flores, frutos e talos jovens Superfície hidrofóbica, impede a formação de um filme de água, onde os fungos poderiam germinar e as bactérias se multiplicarem A espessura nem sempre está correlacionada com a resistência. Porém, há exemplos em que há correlação: F. solani f. sp. pisi – ervilha C. gloeosporioides – mamão www.weeds.iastate.edu/mgmt/2001/cuticle2.JPG Cutícula brilhante www.naturescapes.net/042004/Figure3.jpg Os esporos de Phytophthora spp. — como a maioria dos fungos fitopatogênicos — germinam para formar uma hifa que são especializadas em penetrar a cutícula e a parede celular. Estas hifas de penetração normalmente surgem dos apressórios, embora alguns colonizadores de raízes possam não formar apressórios The spores of Phytophthora: weapons of the plant destroyer Howard S. Judelson & Flavio A. Blanco Nature Reviews Microbiology 3, 47-58 (January 2005) Barreira estrutural e também tóxica: Substâncias antifúngicas isoladas da cutícula de algumas plantas macieira, algodão, fumo Exemplo: Peronospora hyoscyami f sp tabacina Alta germinação sobre a superfície de folhas de Nicotiana debneyi Baixa germinação sobre N. tabacum Explicação: N tabacum possui um inibidor de germinação (4,8,13-duvatrieno-1,3-diol) ausente em N. debneyi I.2) ESTÔMATOS Número Morfologia Localização Período de abertura hcs.osu.edu/hcs300/gif/stoma.gif NÚMERO Normalmente, ocorrem em densidade de 100 a 300 / mm2 na superfície foliar Completamente abertos: ostíolo com área aproximada de 90 mm2, que é suficiente para a penetração ativa de tubos germinativos de fungos, bem como a penetração passiva de células bacterianas MORFOLOGIA Morfologia da crista cuticular junto ao ostíolo Na suscetível, a crista tem suas paredes internas perpendiculares à superfície da folha Resistente: dificulta a entrada de água na câmara sub-estomática e a formação de um filme contínuo de água entre a superfície externa da folha e o mesofilo LOCALIZAÇÃO Exemplo: Pessegueiro x Xanthomonas pruni - Quando inoculadas, sintomas somente quando aspergiam na superfície inferior das folhas, onde os estômatos estão situados www.scielo.br/.../babt/v47n6/a13fig03.gif PERÍODO DE ABERTURA Alguns patógenos podem forçar a entrada através dos estômatos fechados. Outros devem esperar a abertura (desvantagem) Exemplos: 1) Puccinia recondita (ferrugem da folha do trigo): acesso ao interior do hospedeiro sob condições de luz OU escuro 2) Puccinia graminis f sp tritici (ferrugem do colmo): somente em condições de luz; sensibilidade do fungo ao CO2 ( a [CO2] aumenta no escuro, em função da respiração) TRICOMAS Prolongamentos uni ou multicelulares, a partir da epiderme Várias formas Poucas evidências dessas estruturas na resistência Hipóteses: No de pêlos interfeririam na continuidade do filme d’água sobre as superfícies do hospedeiro dificultando germinação de esporos e multiplicação das bactérias Repelência aos insetos, vetores de doenças Tricomas conectados a glândulas secretoras de substâncias tóxicas aos fitopatógenos Tricomas ESPESSURA DAS PAREDES CELULARES Paredes celulares espessas podem contribuir na restrição da colonização Folhas: xilema e as fibras esclerenquemáticas (ricas em lignina), podem interromper o avanço de fungos e bactérias, originando sintomas do tipo “manchas angulares” Capacitam os patógenos a colonizar somente as áreas entre as nervuras Pode levar a uma redução do inóculo II) PÓS-FORMADOS Apesar dos fatores de resistência estruturais pré-formados, os patógenos conseguem ter acesso ao interior das plantas Novas barreiras estruturais, que interferem com o progresso dos fitopatógenos nos tecidos II.1) Estruturas de defesa celular (células individuais sob ataque do patógeno) II.2) Estruturas de defesa histológica (tecidos da planta, normalmente distantes do sítio de penetração do patógeno) II.1) Estruturas de defesa celular Agregação citoplasmática Acumulação de massa de citoplasma, no sítio de ataque do patógeno Ocorre rapidamente. Exemplos: Plasmodiophora brassicae x repolho 20 segundos, nas células de pêlos absorventes das raízes Erysiphe graminis f sp hordei x cevada 5 a 10 minutos em células de coleóptilos Papilas Deposição de material homogêneo entre a membrana plasmática e a parede celular no sítio de infecção, sob a hifa de penetração Formadas de 2 a 3 horas após a inoculação com fungos São constituídas de calose (beta-1,3-glucana), podendo também conter lignina, derivados fenólicos, celulose, silício e suberina Barreiras contra a penetração e troca de metabólitos Reparam a parede celular após a invasão FIGURE 2-9 Electron micrographs of direct penetration of a fungus (Colletotrichum graminicola) into an epidermal leaf cell. (A) (a) Developing appressorium from a conidium. Note wax rods (arrows) on leaf surface. (b) Mature appressorium separated by a septum from the germination tube. (B) (a) Formation of penetration peg at the central point of contact of appressorium with the cell wall. (b) Structures in the penetration peg, which has already penetrated the cell wall, and papilla produced by the invaded cell. (C) Development of infection hypha. (a) Infection peg penetrating the papilla. (b) Appressorium and swollen infection hypha after penetration. (D) On completion of penetration and establishment of infection, the appressorium consists mostly of a large vacuole and is cut off from the infection hypha by a septum. (Photographs courtesy of D. J. Politis and H. Wheeler.) Halos Nos sítios de penetração Alterações na parede superior das células epidérmicas, provavelmente, devido à degradação das mesmas pelos fungos invasores Presença de calose, lignina, lipídeos cuticulares e sílica: parece que os halos são locais específicos para a deposição dessas substâncias – funcionam para reduzir a perda de água nos sítios de penetração Lignificação Lignina: uma das substâncias mais importantes da parede celular Lignificação pode ocorrer em citoplasmas em degeneração, em depósitos extra-celulares e nas paredes das células A lignina ou o processo de lignificação podem interferir com o crescimento de patógenos Modificação química das paredes celulares, que traria os seguintes resultados: Aumento da resistência das paredes à ação de enzimas interferência na difusão de toxinas do patógeno para o hospedeiro e de nutrientes do hospedeiro para o patógeno Patógenos também podem ser lignificados, impedindo seu crescimento II.2) ESTRUTURAS DE DEFESA HISTOLÓGICA Camadas de cortiça Em resposta à injúria mecânica e à presença de patógenos (nos pontos de penetração e crescimento) Originam-se de células formadas a partir do felogênio (tecido meristemático), que se caracterizam pela presença de suberina e protoplasma morto Impedem a invasão dos tecidos sadios da planta Interrompem o fluxo de nutrientes e água Interrompem o fluxo de matabólitos tóxicos Tecidos mortos envoltos pela camada de cortiça (incluindo o patógeno), podem permanecer na planta, originando manchas necróticas (lesões) ou podem ser empurrados pelos tecidos sadios em direção ao exterior da planta (ex. Sarna da macieira) Camada de abscisão Abscisão de folhas, flores, frutos ou partes desses é precedida pela formação da camada de abscisão Caracterizada pela dissolução da lamela média entre duas camadas de células adjacentes, através da ação de enzimas, principalmente celulolíticas e pectolíticas A dissolução causa a separação das células, com o consequente afrouxamento dos tecidos envolvidos, o que pode levar à queda dos tecidos conteúdo o patógeno A camada de abscisão separa o tecido sadio do doente, protegendo o restante da planta Camada de abscisão Tiloses São formadas nos vasos do xilema Resposta a estresse abiótico, envelhecimento e/ou invasão por patógenos vasculares O protoplasma das células do parênquima adjacentes ao xilema sofre um processo de hipertrofia e cresce para o interior do xilema através das pontuações As projeções protoplasmáticas podem aumentar em tamanho e número dentro dos vasos, levando à obstrução parcial ou total Restringem o transporte de água e podem conter o avanço do patógeno para outro locais do hospedeiro Atenção: a formação de tiloses pode contribuir com a resistência da planta apenas quando esta ocorre precocemente e nas áreas próximas ao sítio inicial de infecção Plantas resistentes a murchas vasculares exibem a capacidade de formar maiores quantidades de tiloses do que plantas suscetíveis A restrição no movimento do patógeno é seguida pelo acúmulo de terpenóides fungitóxicos Schematic drawing of tyloses in the xylem vessel. Reproduced from G. N. Agrios, Plant Pathology, 5th ed. 2005, page 217