Programa 1 Matemática Discreta Parte 1 - Conjuntos e Aplicações 1 2 2008/09 3 4 5 6 Jorge Manuel L. André 2 FCT/UNL Parte 2 - Grafos e Aplicações 1 2 3 4 5 6 Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 1/1 Conjuntos Relações Binárias Aplicações Indução matemática e divisibilidade Congruências lineares Relações de Recorrência Generalidades Conexidade de grafos Árvores Grafos Eulerianos Grafos Hamiltonianos Matrizes e Grafos Departamento de Matemática (FCT/UNL) 2. Relações Binárias Matemática Discreta 2/1 2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2.1 Definições e Exemplos Definição Seja X um conjunto. Chama-se relação binária sobre X a todo o subconjunto de X × X . Uma relação n-ária (n ∈ N, n ≥ 2) sobre X é um subconjunto de X n . Sejam A e B conjuntos. Define-se produto cartesiano de A por B e representa-se por A × B o conjunto A × B = {(x, y ) : x ∈ A e y ∈ B}. Exemplos Denotamos A × A por A2 . (i) Seja X = {1, 2, 3}. O conjunto R = {(1, 1), (2, 3), (3, 2)}. (ii) Sejam X = {1, 2, 3, 4}. O conjunto R = {(x, y ) ∈ X 2 : x + y ≤ 5}. Exemplos (i) Sejam A = {a, b} e B = {1, 2, 3}. Temos A × B = {(a, 1), (a, 2), (a, 3), (b, 1), (b, 2), (b, 3)}. Notação: Sejam X um conjunto e R uma relação binária sobre X . Dado um par (x, y ) ∈ X × X , escrevemos xRy ou (x, y ) ∈ R, para designar que (x, y ) é um elemento de R. (ii) R2 = {(x, y ) : x ∈ R e y ∈ R}. (iii) Rn = {(x1 , x2 , ..., xn ) : xi ∈ R, i = 1, 2, ..., n}. Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 3/1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 4/1 2. Relações Binárias 2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias Definição Sejam X e Y conjuntos. Uma relação de X em Y é um subconjunto de X × Y . No caso particular de X = Y , temos uma relação binária sobre X . Alguns modos de representar uma relação Seja R uma relação binária sobre X = {x1 , ..., xn }. (i) Através de matriz de adjacências: A matriz de adjacências de R é a matriz A = [aij ]n×n ∈ Mn×n ({0, 1}) definida por: 1 se (xi , xj ) ∈ R aij = 0 se (xi , xj ) ∈ /R Chamamos domı́nio de uma relação R de X em Y ao conjunto domR = {x ∈ X : ∃y ∈ Y (x, y ) ∈ R}, e imagem de uma relação binária R de X em Y ao conjunto (ii) Através de diagrama: os elementos de X são representados por pontos e dois pontos do diagrama que representam xi e xj estão unidos por uma seta, com orientação de xi para xj , se (xi , xj ) ∈ R. imR = {y ∈ Y : ∃x ∈ X (x, y ) ∈ R}. Definimos relação inversa de R a relação de Y em X dada por R −1 = {(y , x) : (x, y ) ∈ R}, e relação composta de duas relações R e S, de X em Y e Y em Z , respectivamente, a relação de X em Z S ◦ R = {(x, y ) : ∃a ∈ Y (x, a) ∈ R e (a, y ) ∈ S}. Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 5/1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) 2. Relações Binárias Matemática Discreta 1.2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2.3. Relações de equivalência 1.2.2 Classificação das relações binárias Uma relação binária reflexiva, simétrica e transitiva diz-se uma relação de equivalência. Definição Dizemos que uma relação binária R sobre X é: • reflexiva se ∀x ∈ X xRx. Exemplos • anti-simétrica se ∀x, y ∈ X xRy ∧ yRx ⇒ x = y . • Seja X = {1, 2, 3, 4}. A relação R = {(1, 1), (1, 2), (4, 1), (2, 2), (3, 3), (1, 4), (2, 1), (4, 4)} não é uma relação de equivalência. • transitiva se ∀x, y , z ∈ X xRy ∧ yRz ⇒ xRz. • A relação R definida em R por: • simétrica se ∀x, y ∈ X xRy ⇒ yRx. • irreflexiva se ∀x ∈ X 6/1 2. Relações Binárias xRy ⇔ x 2 = y 2 ∼ (xRx) . é uma relação de equivalência. Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 7/1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 8/1 2. Relações Binárias 2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias • Em Z a relação de equivalência ∼ definida por: 1.2.4. Classes de equivalência m ∼ n ⇔ |m| = |n|. Definição Dados uma relação de equivalência R num conjunto X e um elemento a ∈ X chama-se classe de equivalência de a (módulo R), e representa-se por [a]R , ao conjunto dos elementos x de X tais que (x, a) ∈ R, isto é • Sejam X um conjunto e ∆ = {(x, x) : x ∈ X }. O conjunto ∆ é uma relação de equivalência sobre X denominada relação identidade sobre X . • Sejam X um conjunto e Ω = {(x, y ) : x, y ∈ X }. O conjunto Ω é uma relação de equivalência sobre X denominada relação universal sobre X . [a]R = {x ∈ X : xRa}. • Para x ∈ R denotamos por ⌊x⌋ o maior inteiro y tal que y ≤ x, também conhecida como a parte inteira de x. Consideremos a relação de equivalência ∼ definida em R por: O conjunto cujos elementos são as classes de equivalência [a]R , com a ∈ X , é chamado conjunto cociente de X por R e representa-se por X /R. x ∼ y ⇔ ⌊x⌋ = ⌊y ⌋. Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 9/1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) 2. Relações Binárias Matemática Discreta 10 / 1 2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias • Em Z define-se uma relação de equivalência ≡n por: Exemplos Vejamos que as seguintes relações são relações de equivalência e determinemos as suas classes de equivalência e o seu conjunto cociente. x ≡n y ⇔ ∃k ∈ Z : x − y = kn, designada por relação de congruência módulo n. • Seja X = {1, 2, 3, 4, 5}. A relação R = {(1, 1), (2, 2), (3, 3), (4, 4), (5, 5), (1, 2), (2, 1), (1, 5), (5, 1), (2, 5), (5, 2)}. Temos: 0 = {..., −2n, −n, 0, n, 2n, ...} 1 = {..., −2n + 1, −n + 1, 1, n + 1, 2n + 1, ...} ... n − 1 = {..., −n − 1, −1, n − 1, 2n − 1, 3n − 1, ...} e Tem-se: [1] = {1, 2, 5} = [2] = [5], [3] = {3}, [4] = {4} e Z/R = {0, 1, ..., n − 1}. X /R = {{1, 2, 5}, {3}, {4}}. Notação: Para dizer que x ≡n y também podemos denotar por x = y (mod n). Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 11 / 1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 12 / 1 2. Relações Binárias 2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias Proposição Sejam X um conjunto e R uma relação de equivalência sobre X . Para quaisquer a, b ∈ X , as seguintes afirmações são equivalentes: Definição Seja X um conjunto. Um conjunto {Xi : i ∈ I } de subconjuntos não vazios de X diz-se uma partição de X se: S (1) X = i∈I Xi (1) bRa; (2) b ∈ [a]R ; (2) i 6= j =⇒ Xi ∩ Xj = ∅, para quaisquer i, j ∈ I . (3) [b]R = [a]R . Teorema Sejam X um conjunto e R uma relação de equivalência sobre X . Temos: (1) Para qualquer x ∈ X , [x]R 6= ∅; (4) A relação R fica determinada pelas suas classes de equivalência. Matemática Discreta 1. Seja X um conjunto. Se A ∈ P(X ) é tal que ∅ ⊂ A ⊂ X , então {A, A} é uma partição de X . 2. Seja X = {1, 2, 3, 4}. Então, {{1}, {2}, {3}, {4}}, {{1, 2}, {3, 4}}, {{1, 3}, {2}, {4}}, {{1, 2, 3, 4}} são partições de X . Mas, {{1, 2}, {3}}, {{1, 2}, {1, 3, 4}} não são partições de X . (2) Para quaisquer x, y ∈ X , [x]R = [y ]R ou [x]R ∩ [y ]R = ∅; S (3) X = x∈X [x]R ; Departamento de Matemática (FCT/UNL) Exemplos 13 / 1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) 2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 14 / 1 1.2. Relações Binárias Teorema Seja X um conjunto. Exemplo 1. Se R é uma relação de equivalência sobre X , então X /R é uma partição de X . 2. Se P = {Xi : i ∈ I } é uma partição de X e R é a relação definida por: xRy Matemática Discreta 2. Relações Binárias ⇐⇒ (∃i ∈ I ) Sendo X = {1, 2, 3, 4, 5} e P = {{1, 2}, {3, 5}, {4}} uma partição de X , então P determina a relação de equivalência R = {(1, 1), (2, 2), (1, 2), (2, 1), (3, 3), (5, 5), (3, 5), (5, 3), (4, 4)} x, y ∈ Xi , sobre X . para quaisquer x, y ∈ X , então: (i) R é relação de equivalência sobre X (ii) P = X /R. Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 15 / 1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 16 / 1 2. Relações Binárias 2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2.5. Relações de ordem Se quaisquer dois elementos de X são comparáveis diz-se que ≤ é uma relação de ordem total. Uma relação binária reflexiva, anti-simétrica e transitiva diz-se uma relação de ordem parcial. Definição As relações de ordem parcial são usualmente designadas por ≤ ou por ⊆. Seja ≤ uma relação de ordem parcial num conjunto X . Dizemos que os elementos x e y são comparáveis se x ≤ y ou y ≤ x. Exemplos • Seja ≤ a relação de ordem usual em R. Então (R, ≤) é uma cadeia. Também (N, ≤), (Z, ≤), (Q, ≤) são cadeias (para a ordem usual). Notação: Sejam ≤ uma r.o.p. sobre X e x e y ∈ X . Denotamos por x < y para significar x ≤ y e x 6= y . Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta Sejam X um conjunto e ≤ uma r.o.p. em X . Dizemos que o par (X , ≤) é um conjunto parcialmente ordenado (c.p.o.). Se ≤ for uma ordem total, dizemos que (X , ≤) é um conjunto totalmente ordenado (ou uma cadeia). 17 / 1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) 2. Relações Binárias Matemática Discreta 18 / 1 2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias • Seja X um conjunto. A relação ≤ definida em P(X ) por: A≤B ⇐⇒ 1.2.6. Diagrama de Hasse A⊆B Sejam X = {x1 , x2 , . . . , xn } e ≤ uma r.o.p. em X . ≤ pode ser representada através de um diagrama (denominado diagrama de Hasse) construı́do do seguinte modo: Os elementos de X são pontos do diagrama e para quaisquer x, y ∈ X , se y cobre x, colocamos o ponto que representa y “acima” do ponto que representa x e unimo-los com um segmento de recta: é uma relação de ordem parcial em P(X ), pelo que (P(X ), ⊆) é um c.p.o.. • Em N definimos a seguinte relação binária (relação de divisibilidade) a≤b ⇐⇒ a|b (a divide b, i.e. ∃c ∈ N ac = b), y para quaisquer a, b ∈ N. Então, (N, |) é um c.p.o. u Definição u Seja (X , ≤) um c.p.o.. Dados x, y ∈ X dizemos que y cobre x (relativamente a ≤) se x ≤ y e não existe z ∈ X tal que x < z < y . Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta x 19 / 1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 20 / 1 2. Relações Binárias 2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias Exemplos 1. Consideremos ({1, 2, 3, 4}, ≤), em que ≤ é a ordem usual em N. Esta cadeia tem o seguinte diagrama de Hasse 4 2. O c.p.o. ({1, 2, . . . , 10}, |), em que | é relação de divisibilidade, tem o diagrama de Hasse 10 u u 8u 3 u 9 6 u 4u 2 u u u u 2@ 3A 1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) @ A @A @Au u Matemática Discreta 21 / 1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) 2. Relações Binárias Matemática Discreta u 5 7 u 1 22 / 1 2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 3. O c.p.o. (P({1, 2, 3}), ⊆) possuı́ o seguinte diagrama de Hasse: Definição {1, 2, 3} u @ u {2, 3} @ u {3} @ @ @ @ @ Sejam (X , ≤) um c.p.o. e Y ⊆ X . @ u @ @ @ @ {1, 3}@ @ @u {1, 2} @ @ @u 1. Dizemos que a ∈ X é um minorante (resp. majorante) de Y se a ≤ y (resp. y ≤ a), para qualquer y ∈ Y . 2. Chamamos primeiro elemento de Y (ou mı́nimo de Y ) a um elemento a ∈ Y tal que a ≤ y , para qualquer y ∈ Y . {1} @ {2} @u @ @ @ @u 3. Chamamos último elemento de Y (ou máximo de Y ) a um elemento b ∈ Y tal que y ≤ b, para qualquer y ∈ Y . ∅ Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 23 / 1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 24 / 1 2. Relações Binárias 2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias 1.2. Relações Binárias Exemplos Definição Sejam (X , ≤) um c.p.o. e Y ⊆ X . 4. Dizemos que a ∈ Y é um elemento minimal (resp. maximal) de Y se não existe b ∈ Y tal que b < a (resp. a < b). 5. Dizemos que a ∈ X é o ı́nfimo (resp. supremo) de Y se a é o maior dos minorantes (resp. menor dos majorantes). 1 Considerando o c.p.o. ({1, 2, . . . , 10}, |), então 1 é o primeiro elemento de X = {1, 2, . . . , 10} e X não tem último elemento. 2 Considerando o c.p.o. ({1, 2, . . . , 10}, |) e Y = {1, 2, 5, 10} então 1 é o primeiro elemento de Y e 10 é o último elemento de Y . Definição Um c.p.o. (X , ≤) diz-se um conjunto bem ordenado (e ≤ uma boa ordem) se qualquer subconjunto não vazio de X possuı́ primeiro elemento. Axioma da boa ordenação O par (N, ≤) em que ≤ denota a ordem usual, é um conjunto bem ordenado. Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 25 / 1 Departamento de Matemática (FCT/UNL) Matemática Discreta 26 / 1