UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ÂNGELA ELISA DA CUNHA AS FACES DA DOR: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO DA TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL Palhoça 2009 ÂNGELA ELISA DA CUNHA AS FACES DA DOR: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO DA TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo. Orientadora: Prof.ª Alessandra d´Avila Scherer, Msc Palhoça 2009 ÂNGELA ELISA DA CUNHA AS FACES DA DOR: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO DA TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo. Palhoça, novembro de 2009. __________________________________________________ Profª e orientadora Alessandra d’Avila Scherer, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina ____________________________________________________ Profª Nádia Kienen , Drª. Universidade do Sul de Santa Catarina ____________________________________________________ Profª Vera Baumgarten Ulysséa Baião, Drª. Universidade do Vale do Itajaí / Universidade Estácio de Sá Dedico este trabalho a todos aqueles que acreditam na vida, acreditam que tudo vale à pena, que todos os sonhos são possíveis, apesar da dor. Dedico também a todos os que se empenham em aliviar a dor do outro. Agradecimentos Prossigo uma viagem perpétua. Ninguém pode fazer o caminho pelo outro. Viajo por mim mesma. Apesar disto, encontrei ao longo da viagem aqueles que me apontam o caminho e seguram minha mão na caminhada. Minha gratidão está registrada aqui neste trabalho mas refere-se à todo o percurso que fiz até aqui. Desde a escolha do curso (quando ainda era criança), até a conclusão. Transitei pela Enfermagem, me envolvi com a Química... mas a Psicologia falou mais alto! Nada seria possível sem a permissão d’Aquele que é a origem da vida e de tudo no universo – Deus. Agradeço aos meus pais (meus educadores), por todos os valores que carrego como ser humano, pelo exemplo de coragem e força. Ao longo da minha existência presenciei meus pais e familiares aliviarem as dores de muitas pessoas, inclusive quando a dor deles era imensa. Assisti minha avó (a Preta) aliviar a dor com as próprias mãos e a fé. Foram muitos os exemplos de amor e solidariedade. Obrigada Galvani e Míriam (pai e mãe) por tudo e principalmente pela biblioteca de psicologia sempre disponível desde que eu era pequena. Obrigada Mariane, Júnior, Sílvia e Gabriela (meus irmãos), por serem meus irmãos. Minha caminhada está repleta de pessoas que se empenham em aliviar a dor do outro, pessoas que me acompanham, me ensinam, me apóiam e lutam comigo. Não posso deixar de me referir a agradecer a elas. Agradeço ao meu companheiro, alma de minha alma, por ser a luz, a música, a poesia... pela compreensão, lealdade, ânimo, coragem e alegria. Através do nosso imenso amor recebemos dos céus nossa criança luz, a Ana Alice. À você Vamblê muito obrigada. Agradeço ao Santos Neto e à Ana Lúcia (meus sogros), pelo apoio, estímulo e porque sempre foram companheiros e me ajudaram muito. Não posso esquecer das minhas amigas de curso, de caminhada e de risadas: à vocês Analú e Flávia muito obrigada. Um agradecimento especial à Professora Maria Ângela: minha mestra no Hospital e na Clínica do Serviço de Psicologia. Outro agradecimento especial à Professora Léia, do Terapeutas da Alegria por me ensinar que a alegria é um ótimo recurso para alívio da dor. Ao meu querido grupo Ivo Machado por entenderem minha ausência e vibrarem por mim todas as quartas-feiras. Aos Amigos do Caminho pelas lições de humanidade. Aos meus amigos : a Ana Cláudia (minha maior força na construção do TCC), a Josiane (a doçura em pessoa) e ao Rudi (uma pessoa lutadora e grande amigo). Aos meus pacientes do Hospital e da Clínica do Serviço de Psicologia por tudo que aprendi. A cor da dor A dor É cinza como dia de chuva Encharca nosso coração com lágrimas Aguça a solidão em nós... A dor É rosa, é branca, amarela e azul, Porque o cinza se foi, Levando consigo o dia de chuva! O sol brilhou outra vez Aqueceu o coração, secou as lágrimas Com o lenço perfumado do amor... Do amor que transforma a dor da lágrima, Mixando as cores dos sentidos e sentimentos Ofertando-nos o arco-íris, Lembrando a aliança que não se desfez. A solidão já não se sente só... Encontrou um aliado que lhe emprestou As cores da dor! Maurilton Morais, psiquiatra e psicoterapeuta cognitivo comportamental RESUMO A dor é definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) como sendo “uma experiência emocional e sensorial desagradável associada a uma lesão tecidual real ou potencial ou descrita em termos de tal lesão”. O aspecto sensorial da dor está associado ao processo de transmissão do impulso doloroso o qual é denominado de nocicepção. Já o aspecto emocional, por sua vez, está relacionado com as respostas comportamentais à dor. É através da dor que se pode perceber um sinal de alerta para um perigo iminente, estando assim relacionada com a proteção do organismo, exibindo os limites que não podem ser transgredidos. Além de induzir anormalidades físicas, a dor pode alterar o equilíbrio psicológico do indivíduo. O trabalho teve o objetivo de analisar, a partir de uma pesquisa bibliográfica, como ocorre a intervenção da Terapia Cognitivo-Comportamental em casos de dor nos pacientes internados em hospital geral. Para alcançar tais objetivos, nesta pesquisa de delineamento bibliográfico, de natureza qualitativa, foram analisados 9 artigos. A fonte de informação desta pesquisa foi a rede mundial de computadores, ao qual se procurou artigos publicados na base de dados do – Google acadêmico. As obras foram identificadas a partir dos seguintes descritores: terapia cognitivo comportamental, hospital, dor, procedimentos e resultado. O estudo desta abordagem, entre todas as outras disponíveis no âmbito da Psicologia, se justificou pelos seus resultados positivos no tratamento da dor. Dessa forma, em um primeiro momento foram definidos o hospital geral e suas características, o trabalho do psicólogo no hospital e a dor. Após, foram identificadas e definidas as técnicas trabalhadas pela Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento da dor, bem como os resultados descritos na literatura, a partir de procedimentos dessa abordagem em casos de dor. Por fim, foi discutida a aplicabilidade do atendimento psicológico em casos de dor com pacientes internados em hospital. Chegou-se à conclusão de que a Terapia Cognitivo Comportamental pode ser aplicável nos casos de dor, em virtude de suas características próprias tais como: foco no presente e no problema apresentado; estabelecimento de metas com a participação ativa do paciente; caráter educativo, que é fundamental para a intervenção psicológica no contexto hospitalar, o que reforça ainda mais a presença do profissional de Psicologia neste contexto. Palavras-chave: Terapia Cognitivo-Comportamental. Dor.Hospital Geral LISTA DE FIGURAS Figura 1: Fisiologia da condução de um estímulo nervoso. ..................................... 30 Figura 2: Processamento esquemático de informação. ............................................ 43 Figura 3: Página principal – Google .......................................................................... 61 Figura 4: Busca por – Google acadêmico ................................................................. 62 Figura 5: Busca de artigos por descritores – Google acadêmico .............................. 62 Figura 6: Artigos selecionados por descritores.......................................................... 63 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Freqüência das subcategorias – intervenção da terapia cognitivo comportamental/hospital ........................................................................................... 67 Gráfico 2: Freqüência das Subcategorias - intervenção da terapia cognitivo comportamental/ dor ................................................................................................. 77 Gráfico 3: Freqüência das Subcategorias - resultados/procedimentos/terapia cognitivo comportamental.......................................................................................... 84 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Objetivos específicos: terapia cognitiva comportamental/dor e intervenção da terapia cognitiva comportamental/resultados/procedimentos/dor......................... 63 Tabela 2: Categorias e Subcategorias – intervenção da terapia cognitivo comportamental/hospital. .......................................................................................... 66 Tabela 3: Categorias e Subcategorias – intervenção da terapia cognitivo comportamental/ dor ................................................................................................. 77 Tabela 4: Categorias e subcategorias – resultados/ procedimentos da Terapia Cognitivo Compotamental/ dor ) ................................................................................ 83 Tabela 5: Apresentação dos Artigos Pesquisados. ................................................. 103 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 13 1.1 PROBLEMÁTICA ........................................................................................................... 14 1.2 OBJETIVOS................................................................................................................... 16 1.2.1 Objetivo geral: ......................................................................................................... 16 1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................... 16 1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 16 2. REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................................. 21 2.1. HOSPITAL GERAL ....................................................................................................... 21 2.2. DOR.............................................................................................................................. 27 2.2.1 NEUROFISIOLOGIA DA DOR .................................................................................... 29 2.3. TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL ............................................................. 35 2.3.1 O cognitivismo na psicologia .................................................................................. 36 2.3.1. Terapia Cognitiva de Aaron Beck .......................................................................... 40 2.3.2. Modelo cognitivo de psicopatologia ...................................................................... 44 2.3.2.1. Aspectos cognitivo comportamentais ...................................................................... 45 2.3.3 Princípios fundamentais da terapia cognitivo- comportamental ............................. 46 2.3.4 Terapia cognitivo-comportamental no tratamento da dor ...................................... 49 2.3.4.1.Tratamento cognitivo-comportamental .................................................................... 49 2.3.4.2.Técnicas Cognitivo – Comportamentais................................................................... 54 2.3.4.3. As técnicas e estratégias para o manejo da dor incluem: ........................................ 54 3 MÉTODO .......................................................................................................................... 60 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................. 60 3.2 FONTE DAS INFORMAÇÕES ...................................................................................... 61 3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS .............................................................. 62 2005 .................................................................................................................................. 64 3.4 - PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS ........................................................... 65 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS: .................................................................... 66 4.1 TÉCNICAS E ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS NO HOSPITAL GERAL ...................... 68 4.2 INTERDISCIPLINARIDADE ........................................................................................... 71 4.3 CARACTERÍSTICAS DA INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA ........................................... 73 4.4 INTERVENÇÃO PSICOTERAPÊUTICA ...................................................................... 74 4.5 TRATAMENTO E MANEJO DA DOR ............................................................................ 78 4.6 ASPECTOS COGNITIVOS RELACIONADOS COM A DOR .......................................... 79 4.7 RELAÇÃO COM A NEUROFISIOLOGIA DA DOR......................................................... 81 4.9. EFICÁCIA DA INTERVENÇÃO NOS CASOS DE DOR ................................................ 84 4.10 OBJETIVOS ALCANÇADOS NOS CASOS DE DOR ................................................... 86 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 88 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 93 APÊNDICE ........................................................................................................................ 102 1 INTRODUÇÃO A presente pesquisa refere-se ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Psicologia do curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Seguindo as diretrizes propostas pelo curso, ao longo da realização desta pesquisa, pretendeu-se inovar e ampliar a produção científica em Psicologia, relacionando-a ao estágio obrigatório do Núcleo Orientado da Saúde do referido curso. A atuação da pesquisadora em Psicologia hospitalar iniciou-se em um estágio curricular obrigatório vinculado ao curso de Psicologia, no Imperial Hospital de Caridade – Irmandade Senhor Jesus dos Passos em Florianópolis, durante os semestres de 2008-2 e 2009-1. Esta prática, aliada às experiências pessoais da pesquisadora, possibilitou a identificação de um problema de pesquisa. Durante a intervenção psicológica junto a pacientes e acompanhantes no referido hospital, foi possível identificar a presença de diferentes níveis de dor, provenientes da hospitalização e do adoecimento. A partir da identificação desta realidade surgiu o questionamento sobre possíveis intervenções da terapia cognitivo comportamental nos casos de dor. Para chegar a tal fim, utilizou-se um levantamento bibliográfico sobre os temas em questão e suas relações. Considerando a necessidade e a relevância da abordagem dos temas dor em pacientes hospitalizados e atuação do psicólogo, este trabalho se propôs a desenvolver uma investigação que teve por foco a intervenção da Terapia CognitivoComportamental (TCC) em casos de dor no paciente hospitalizado em Hospital Geral. Entende-se que, pensar propostas de intervenção no âmbito da formação acadêmica do Psicólogo, é de extrema importância, uma vez que o meio acadêmico pode ser considerado um dos fatores que provavelmente influenciará na forma de atuação, como também na constituição de crenças sobre sua profissão interferindo, na maioria das vezes, na postura deste profissional frente seus pacientes e familiares, equipe e etc. Considerando o tema escolhido para esta pesquisa, a dor em pacientes hospitalizados e a atuação do Psicólogo, puderam compor a estrutura deste estudo: a introdução, que apresentou o tema a ser estudado; a problemática e a definição do 13 problema; a justificativa, que demonstra a relevância da pesquisa; o objetivo geral e os objetivos específicos, que situou o leitor em relação ao delineamento da pesquisa. Em seguida foi apresentado o marco teórico que fundamentou a pesquisa apresentando os temas: Hospital Geral; Dor e, a Compreensão da Teoria CognitivoComportamental. A seguir, foi apresentada a metodologia, de cunho qualitativo e exploratório. Na seqüência foram expostas a coleta e análises dos dados. No fechamento encontram-se as considerações finais, encerrando com as referências bibliográficas e os apêndices. 1.1 PROBLEMÁTICA Ao definirmos o que seria a dor, percebemos que mais do que uma sensação ela é uma percepção que remete à subjetividade de uma experiência dolorosa, que envolve aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais. A associação internacional para estudos da dor define a mesma como “Uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a uma ameaça real ou potencial de dano tecidual, ou descrita em termos de tal dano.” (CARNEIRO, 2006). Já quando falamos de dor crônica, por exemplo, estamos lidando com uma dor que persiste por mais de três meses e perde a finalidade biológica de alarme que visa à preservação da vida, tornando-se uma doença em si. Um traço marcante da dor crônica é sua onipresença, e isso pode marcar grandes prejuízos na qualidade de vida do sujeito doente, como, por exemplo, interromper projetos pessoais e profissionais e incapacidades que muitas vezes acarreta mudanças permanentes na aparência e nas funções corporais. (PIRES, 2008). Pires (2008) afirma ainda que, segundo a Sociedade Brasileira Sobre Estudos da Dor (2003), apesar de não existirem estudos epidemiológicos sobre a dor crônica no Brasil, provavelmente cerca de 50 milhões de brasileiros apresentariam um tipo de dor crônica, segundo estudos feitos em outros países mostrando que perto de 30% da população em um país sofre de dores crônicas. 14 Sabe-se que, independente da razão médica pela qual uma pessoa é hospitalizada, esta será para ela uma experiência de incertezas e apreensão, deixando vulneráveis o paciente e sua família. A quebra da rotina, o afastamento das pessoas próximas queridas, o contato com um ambiente desconhecido e marcado por regras próprias, assim como a dependência de cuidados alheios e a suspensão dos projetos de vida caracteriza a hospitalização como uma situação ameaçadora e geradora de ansiedade. (MAZUTTI ; KITAYAMA, 2008). Segundo Araújo, Linhares e Coelho (2004), a extensão do incômodo causado pela dor ao paciente hospitalizado pode ser tão difícil de ser avaliada quanto o é avaliar a própria experiência dolorosa. Daí é relevante verificar a importância do relato do paciente sobre como ele percebe, expressa e lida com a sua própria dor. A dor não só envolve os componentes físico – sensoriais mas também cognitivos, afetivos e comportamentais. Com vistas aos conceitos oferecidos pela teoria cognitivo comportamental, busca-se analisar as possíveis intervenções do psicólogo que podem ser realizadas no campo da psicologia hospitalar. Na perspectiva cognitivo-comportamental é possível verificar o interesse de auxiliar os pacientes a identificarem seus pensamentos, atitudes, crenças e comportamentos pouco adaptativos. A reconhecer o impacto dos pensamentos, atitudes e emoções sobre a dor e estabelecer correlações entre cognição, afeto e comportamento. (PIMENTA, 2001). Ainda para Pimenta (2001), a Terapia Cognitivo Comportamental pode fornecer referencial teórico e estratégias terapêuticas para auxiliar os pacientes a lidar com quadros dolorosos crônicos, permitindo refletir sobre a relação dor, comportamento, cognição, emoção e ambiente. Pode identificar e corrigir comportamentos e pensamentos disfuncionais. Diante do acima exposto, foi pertinente realizar a seguinte pergunta: Como ocorre a intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental em casos de dor nos pacientes internados em Hospital Geral? 15 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo geral: Avaliar a intervenção da Terapia Cognitivo-Comportamental em casos de dor nos pacientes internados em Hospital Geral. 1.2.2 Objetivos específicos a) Caracterizar a intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental no Hospital Geral; b) Caracterizar a intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental nos casos de dor; c) Identificar os resultados descritos na literatura, a partir de procedimentos da Terapia Cognitivo-Comportamental em casos de dor; 1.3 JUSTIFICATIVA Conforme Silva (2006), as primeiras inserções de atividades psicológicas em hospitais gerais no Brasil datam da década de 1950. No entanto, foi nas últimas duas décadas que o interesse pela Psicologia Hospitalar cresceu significativamente, chegando a organizar-se como uma especialidade regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia em 2000. 16 Os hospitais gerais constituem um campo de trabalho para o psicólogo, em função da proposta de atenção integral á saúde. Segundo Spink (1992), a atuação do psicólogo no hospital geral é mais do que um campo de trabalho, ela aponta para a necessidade de novas técnicas e para a emergência de um novo campo de saber. As autoras Pereira e Zago (1998) descrevem que o psicólogo, ao integrar a equipe de saúde, poderá favorecer o funcionamento interdisciplinar, facilitando, quando necessário, a comunicação entre seus membros. Seu trabalho com o paciente pode ser visto no sentido não só da resolução de conflitos, mas também da promoção de saúde. Toda hospitalização pode marcar a história de vida das pessoas, sendo definida cronológica e emocionalmente, marcando o antes e o depois da hospitalização. O psicólogo inserido no trabalho hospitalar pode levar bem-estar físico, mental e social ao paciente, que chega ao hospital na busca de um atendimento por um problema físico, muitas vezes sem ter noção do que está lhe acontecendo (BARROS, 2003). Segundo Trindade e Teixeira (2000), a Psicologia tem desenvolvido vários modelos teóricos que buscam explicar os comportamentos relacionados com saúde e doença, mostrando que a relação entre os dois é complexa, mediada por diferentes variáveis, entre as quais vários atributos psicológicos, como a percepção de controle, a raiva, o otimismo, a auto eficácia, os estilos de enfrentamento ao estresse, as crenças de saúde, os estados emocionais. As instituições hospitalares vêm abrindo cada vez mais espaço para atividades desempenhadas por psicólogos, valorizando a concepção do trabalho interdisciplinar e multiprofissional, visando a melhores condições de vida para o paciente, sua família e a própria equipe de saúde. Frente à realidade vivida dentro dos hospitais, onde a demanda de atendimento psicológico é grande, com necessidade de resolução rápida, a Psicologia Hospitalar é uma especialidade reconhecida com possibilidades de atuação em diferentes abordagens teóricas (MAZUTTI e KITAYAMA, 2008). Ao ser hospitalizado, o paciente encontra um ambiente diferente de sua casa, impessoal e ameaçador. Sua vida é interrompida, seja por curto ou longo 17 prazo, vivenciando medos e expectativas, sendo tal fato significativo de mudança física, afetiva e social. Para Barros (2003) é nesse contexto que o trabalho do psicólogo se faz presente. À medida que escuta o paciente, não devolve sua harmonia anterior, mas lhe possibilita adquirir recursos para lidar com a angústia advinda do real, da nova situação por ele enfrentada. Humanizar o atendimento nos hospitais é socorrer ao outro, dentro das circunstâncias e das suas necessidades. Assim, o psicólogo pode contribuir para o aprimoramento das relações institucionais, tornando as condições de trabalho mais humanas. Ao interagir junto às equipes, interdisciplinarmente, busca o aperfeiçoamento no atendimento hospitalar, no que diz respeito a promover a humanização nos diversos setores da instituição. (CAMPOS, 1995). Como a dor e/ou a hospitalização são consideradas crises importantes na vida do paciente, sendo acompanhadas de angústia, medo e depressão freqüentemente muito intensas, é fundamental a criação de um espaço onde o paciente possa verbalizar esse sofrimento e sentir que ele é reconhecido, assim como encontrar novas formas possíveis de lidar com ele (BARROS, 2003). A dor é um fenômeno complexo, que importa ser entendido. A dor crônica, por exemplo ultrapassa o sintoma e se constitui numa verdadeira doença que, se não for tratada, o paciente centra-se na sua dor, podendo evoluir até a total incapacidade. (DIAS, 2007). O presente trabalho não pretendeu apenas abordar a temática da dor, mas também explicar a existência de possibilidades terapêuticas, relacionadas a Teoria Cognitivo Comportamental que sejam mais utilizadas no contexto da intervenção da dor no Hospital Geral. Os componentes emocionais envolvidos na experiência dolorosa podem ser mais significativos do que propriamente os componentes sensitivos. Os pacientes com dor apresentam em muitos casos comorbidade, em que há uma prevalência elevada de depressão, ansiedade, transtornos de sono, de sexualidade, de uso/abuso de substâncias, isolamento e problemas nas relações interpessoais. Há, portanto, uma relação entre as reações fisiológicas e a interpretação das 18 qualidades sensoriais com os componentes afetivos, cognitivos e comportamentais (CARVALHO, 2007). Segundo relatam Coniam e Diamond (2001), os efeitos da incapacidade, nos casos de dor crônica, por exemplo, bem como os efeitos familiares, sociais e financeiros inerentes a esta, contribuem todos para o sofrimento prolongado e interferem com a reabilitação de muitos pacientes. Este tipo de dor domina a vida e as preocupações do paciente, da sua família, dos seus amigos. A dor crônica é, geralmente, acompanhada por um conjunto complexo de alterações somáticas e psicossociais, que constituem uma parte integrante de todo o problema da dor crônica e intensificam, consideravelmente, o sofrimento do paciente (CONIAM & DIAMOND, 2001). O psicólogo procura perceber a vivência do paciente, identificando o que se passa com este a partir do momento em que sofre de dor, através de uma relação empática e flexível que visa um encontro mais próximo, afastando a idéia impessoal do atendimento clínico tradicional. Procura-se promover a reabilitação do paciente em todas as esferas da sua vida, para que esta possa ser vivida o mais tranquilamente possível. Para Camon (2001), o psicólogo atua em situações de crise do confronto com a dor, considerando-se que o paciente hospitalizado passa por constantes mudanças, que podem trazer regressões emocionais, negação da realidade, dependência e impotência, que estão também ligadas a própria rotina da hospitalização do paciente. Pelas razões que já foram apontadas, entendemos ser importante analisar as características da intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental em casos de dor nos pacientes internados em Hospital Geral. Pela sua freqüência na população e potencial para causar incapacidades, a dor crônica, por exemplo, tem se tornado um verdadeiro problema de saúde pública, que justifica uma atuação organizada e eficaz. (DIAS, 2007). Esse projeto se justifica pelo fato de que pacientes hospitalizados com dor precisam de atendimento e acompanhamento especial de profissionais, buscando solucionar e evitar transtornos que comprometem a vida do paciente em sociedade. 19 O presente trabalho buscou também realizar levantamentos teóricos que proporcionem aos profissionais da área da saúde, a possibilidade dos mesmos refletirem sobre a contribuição da Terapia Cognitivo Comportamental no alívio da dor. Apontou estratégias que facilitem a relação profissional/paciente em situações de hospitalização com diagnóstico de dor. Nesse sentido, documentar as atividades dos psicólogos com orientação na Terapia Cognitivo Comportamental no hospital geral com pacientes nos casos de dor, justifica este estudo. A literatura buscará contribuir na reunião dados para análise da expansão da psicologia no momento em que ingressa em novos ambientes que não os tradicionais: clínica, escola e indústria. Assim, o presente estudo objetiva traçar uma revisão teórica sobre a dor e também como a intervenção da psicoterapia cognitivo-comportamental pode ser um procedimento psicoterapêutico benéfico no tratamento da dor. 20 2. REFERENCIAL TEÓRICO O referencial teórico configura-se como um capítulo no qual pretende-se esclarecer o que se compreende pelos temas envolvidos na pesquisa. Além disso, apresentam-se as principais concepções teóricas às quais serão utilizadas ao longo da análise dos dados coletados durante a pesquisa. Deste modo, é a isto que se propõe este capítulo. Para tal subdividiu-se o conteúdo teórico em partes que apresentam o hospital geral e a psicologia hospitalar, as dimensões que envolvem o fenômeno da dor, a Terapia Cognitivo Comportamental com os conceitos, princípios fundamentais e técnicas utilizadas. 2.1. HOSPITAL GERAL Em Campos (1995), vemos que a palavra Hospital vem do latim "hospes", que significa hóspede, dando origem a "hospitalis" e "hospitium", que significavam o lugar onde se hospedavam na Antigüidade, além de enfermos, viajantes e peregrinos. Quando o estabelecimento se ocupava dos pobres, incuráveis e insanos, a designação era de "hospitium", ou seja, hospício (designação de hospital de psiquiatria). Desta mesma autora, revemos um pouco da história do hospital. Antigamente, na Grécia, no Egito e na Índia, os médicos aprendiam medicina em locais próximos aos templos e exerciam a profissão no domicílio das pessoas enfermas. Na Índia Antiga, construções do tipo hospitalar eram erguidas perto das estradas por onde passavam os exércitos, assim como estabelecimentos para civis, principalmente para o isolamento de pessoas portadoras de doenças contagiosas. À medida que a medicina foi se desenvolvendo, o Hospital foi assumindo características específicas. No séc.XI, na Inglaterra, surgiu o seu primeiro Hospital 21 Geral, o St. John, em 1084, que tinha por finalidade principal a restauração da saúde. Em 1915, surgiu o Hospital Saint Thomas, na Inglaterra, famoso pela implantação da primeira escola de enfermagem. Os primeiros hospitais foram criados como locais de isolamento onde a caridade se exercia como uma prática de Cristianismo. Eram locais para pobres, mulheres desamparadas, velhos e doentes crônicos, sob o cuidado de monges e religiosos, que apenas diminuíam o sofrimento. Os pacientes com maiores recursos tratavam-se em seus domicílios, independente da organização hospitalar. O primeiro hospital das Américas foi construído na cidade do México, em 1524. No início, o conhecimento que os profissionais de saúde tinham era mais sobre o doente do que as doenças. Com o progresso das pesquisas sobre a gênese das doenças infecciosas, os hospitais passaram a ser o local onde os doentes recebiam cuidados de profissional especializado e/ou equipamentos especiais, ou seja, suas atividades eram de natureza curativa. Diante da preocupação do bem-estar das comunidades, foram surgindo as unidades de saúde, que se dedicavam também à prevenção (embora na prática limitavam-se à curar). Na modernidade, entende-se que os hospitais devem atuar em todos os serviços de saúde, desde a prevenção até a reabilitação e destinados à população total. A respeito do que afirma Lisboa (2002), ao longo da história, observamos no desenvolvimento dos povos e das comunidades a presença dos hospitais. À medida que as doenças e calamidades afetaram a humanidade, às vezes oriundas da própria degradação humana, pôde-se constatar o quanto profissionais e leigos buscavam práticas ou técnicas que minimizassem os sofrimentos de seus doentes e a cura de seus males. Com isso, os hospitais objetivavam a melhoria da qualidade de vida de sua população. Mesmo com o avanço científico e tecnológico, o processo de mudança sempre estará frente a novos desafios. O hospital, em toda a sua história, buscou adaptar-se às mudanças, principalmente nas questões que envolvem a diversidade de funções, a complexidade e, principalmente, o desenvolvimento profissional de seus colaboradores. 22 No relato de Cruz (2002), a história dos hospitais se confunde com a própria história dos povos, marcada por histórias de pioneirismo, coragem, erros, acertos e, sobretudo, muito idealismo. No Brasil os primeiros hospitais surgiram a partir das duas grandes instituições: a Igreja – por meio das Santas Casas – e o exército, principal representante do Estado português. Fundaram a primeira Santa Casa em Santos, em 1538. Já em 1727 começava a funcionar o serviço hospitalar militar do Rio de Janeiro, no Morro de São Bento, origem ao Hospital Real Militar (LISBOA, 2002). Lisboa (2002) afirma ainda que, no caso dos hospitais ligados à Igreja, quase sempre nasciam como destinados a apoiar uma ampla variedade de “excluídos”: órfãos, mães solteiras, velhos, pobres e claro, doentes. O início das grandes campanhas sanitaristas promovidas pelo Estado, levou à criação de hospitais públicos de porte, principalmente no Rio de Janeiro. Vários desses hospitais eram dedicados a especialidades desde o nascimento, como era o caso de hospitais referência no combate a moléstias infecto – contagiosas. Posteriormente, passaram a intervir também na área de doenças mentais. No seguinte conceito, definido pela Organização Mundial de Saúde(OMS), no Informe Técnico número 122, de 1957: O hospital é parte integrante de um sistema coordenado de saúde, cuja função é dispensar à comunidade completa assistência à saúde, tanto curativa quanto preventiva, incluindo serviços extensivos à família, em seu domicílio e ainda um centro de formação para os que trabalham no campo da saúde e para as pesquisas biossociais. A função que se espera do hospital é a de prevenir a doença, restaurar a saúde, exercer funções educativas e promover pesquisa. Segundo Penna (1992) no hospital geral, muitas vezes, o que está em jogo é a sobrevivência – vida versus morte real ou fantasiada. As emoções se depuram. Quando um paciente precisa de uma intervenção psicológica, não há tempo a perder. As intervenções podem ser brevíssimas, de um só encontro, conquanto que sejam precisas; ou podem decorrer 23 durante um longo tempo de internação. Às vezes, o paciente necessita de uma ajuda emocional para viver, outras vezes, precisa ser ajudado a morrer. O paciente ao ser hospitalizado pode sofrer um processo de despersonalização. Pode deixar de ter o seu próprio nome e passa a ser um número de leito ou então alguém portador de uma determinada patologia. O estigma de doente – paciente até mesmo no sentido de sua própria passividade frente aos novos fatos e perspectivas existenciais – poderá fazer com que exista a necessidade de uma total reformulação até mesmo de seus valores e conceitos de ser humano, mundo e relação interpessoal em suas formas conhecidas. Pode deixar de ter significado próprio para significar a partir de diagnósticos realizados sobre sua patologia (CAMON 1994). E pelo simples fato de se tornar “hospitalizado” pode fazer com que a pessoa se enquadre numa nova situação existencial e até mesmo seus vínculos interpessoais poderão passar a existir a partir desta. Seus hábitos anteriores poderão ter que se transformar frente à realidade da hospitalização e da doença. A situação de hospitalização passa a ser determinante de muitas situações que poderão ser consideradas invasivas e abusivas na medida em que os limites e imposições da pessoa hospitalizada, podem não ser respeitados (CAMON, 1994). Para Miranda (2009),o Psicólogo tem um papel fundamental no hospital, ele é um agente humanizador, pois sua atuação é para e com o ser humano, respeitando seu Eu, sua história de vida, seus anseios, medos, sentimentos e questionamentos. Ele enxerga o paciente tal como ele é, e não se atém somente à sua enfermidade. No CTI do hospital (Centro de Terapia Intensiva), por exemplo, seu trabalho é imprescindível, pois a urgência que se faz presente neste setor, muitas vezes não permite que este paciente seja visto, que ele fale, que lhe seja dada atenção necessária, e o psicólogo faz isso, procurando minimizar o seu sofrimento. Não é que o Psicólogo negue a realidade com a qual o paciente se depara, mas ele procura trabalhar dentro desta necessidade, respeitando antes de tudo seu estado de saúde. 24 No CTI, é muito comum que se ouçam perguntas do tipo: “O que é possível o Psicólogo fazer com aquele paciente que não está em condições de falar ou ouvi-lo? O que é importante neste momento, em que se acredita que a Psicologia não tem mais nada a fazer, é que o Psicólogo só pelo fato de estar presente ao lado do paciente, e falando com este, traga conforto, sensação de que há alguém ali prezando pela sua recuperação, por sua vida. É ainda no CTI, que o Psicólogo procura trabalhar terapeuticamente a relação emocional do paciente com a sua doença e/ou momento de crise – pela necessidade de permanência neste setor para o tratamento; ele avalia o quadro psíquico e intercorrências emocionais; pode favorecer a expressão não verbal do paciente intubado ou sem possibilidade de comunicação, através de técnicas adaptativas à situação, aliviando o estresse, sempre com caráter preventivo em saúde mental, favorece a expressão de sentimentos e emoções dos pacientes, sobre seu tratamento e sobre sua experiência e vivência no C.T.I.. O Psicólogo deve detectar, através de estratégias fundamentadas a presença de distúrbios emocionais, já que quando somos capazes de detectar adequadamente a presença de possíveis transtornos, estes podem em princípio receber a devida atenção e controle. Na Unidade de Terapia Intensiva trabalha-se com a prevenção, todos os profissionais devem estar atentos ao paciente 24 horas, e podem detectar componentes psicopatológicos na observação dos seus pacientes. Isto pode tornar fácil o fator de integração com a equipe, e onde a atuação do Psicólogo pode ser de pronta intervenção, pela sua presença constante e sua formação voltada para a investigação e análise de quadros comportamentais e situações de risco. É importante que se ressalte que, a inserção do Psicólogo junto à equipe intensivista, irá somar com seu saber e fazer, aos demais cuidados para que se possa promover um melhor atendimento oferecendo suporte à vida do paciente numa dimensão biopsicosocial. (MIRANDA, 2009). Levy et.al. (2002), afirma que no hospital, a atuação do psicólogo não conta com um "setting" terapêutico preciso e delimitado. Muitas vezes, em atendimento nas enfermarias, o psicólogo tem seu trabalho interrompido diversas 25 vezes pela equipe cuidadora. Dessa forma, é fundamental que o psicólogo tenha claro os limites de sua atuação para que não se torne mais um dos elementos invasivos ao olhar do paciente. É preciso ter muito clara a noção de que a atuação no contexto hospitalar não é psicoterápica, dentro dos moldes do "setting" terapêutico. Ela focaliza a diminuição do sofrimento do paciente diante da hospitalização, embora se faça necessário abranger não somente a hospitalização em si. Isso inclui as seqüelas e conseqüências emocionais decorrentes desse internamento. O atendimento psicológico no ambiente hospitalar baseia-se numa técnica específica e adequada aos objetivos a que se propõe. É a chamada Psicoterapia Breve (PB), que não pode ser definida utilizando-se somente o critério "tempo” para caracterizá-la. De acordo com Bloom (1992),"o tratamento breve tem a intenção de obter um conjunto de objetivos terapêuticos dentro de um limite circunscrito de tempo". A Psicoterapia Breve se firma num tripé de conceitos que ajudam a compreendê-la; a saber: Foco, atividade e planejamento. Foco é definido como sendo "o material consciente e inconsciente do paciente, delimitado como área a ser trabalhada no processo terapêutico por meio de avaliação e planejamento prévios” (Lemgruber, 1998). Malan (1974) acredita ser o foco o "ponto de convergência das atenções" do terapeuta. No contexto hospitalar, o terapeuta vai tentar levar o paciente a trabalhar emocionalmente numa área previamente delimitada. Para tanto, precisará lançar mão de três recursos técnicos: a interpretação seletiva, que prioriza sempre o conflito focal; a atenção seletiva, que tenta vislumbrar somente as possíveis relações do material trazido pelo paciente com o foco estabelecido; e, por fim, a negligência seletiva, que permite ao terapeuta evitar qualquer material que se desvie do foco a ser alcançado. Na história do sofrimento do paciente, o que o terapeuta precisa atentar é para o conflito crônico que vai aparecer nos vários eventos narrados pelo paciente. A Psicoterapia Breve enquanto recurso terapêutico requer uma maior atividade por parte do terapeuta. O sucesso das intervenções de Psicoterapia Breve dentro da abordagem focal está diretamente ligado à capacidade do terapeuta de 26 compreender e avaliar o problema do paciente numa perspectiva psicodinâmica. É assim que poderá estabelecer seu foco de trabalho e fazer um planejamento de situações propiciadoras de experiências emocionais corretivas para seu paciente. No hospital, a Psicoterapia Breve é tida como apoio, e se utiliza de técnicas supressoras de ansiedade. (LEVY et. Al. 2002). 2.2. DOR “DOR, o mais filosófico dos problemas, a mais semiológica das questões.” (Admar Horn) Paviani (2000) relata que através dos tempos, variadas formas foram empregadas para a compreensão da dor. Aristóteles (320 a.C.) considerou-a como um “estado de alma, uma antítese ao prazer”, alertando para uma sensação desagradável. Em 1895, Strang admitiu a possibilidade de dois componentes da dor, a sensação e a reação. Em meados do século XIX, passou-se a considerar a existência da sensação específica e a possibilidade da presença de receptores da dor e vias nervosas. Sherrington, em 1900, relacionou-a com um componente sensitivo e um afetivo, reconhecendo o caráter duplo do fenômeno. A dor existe junto com o ser humano e há milhares de anos se investigam maneiras de controlá-la. A dor está relacionada com uma das funções principais do sistema nervoso que é proteger o organismo, pois funciona como alerta para a ocorrência de lesões nos tecidos. Muitas vezes a dor perde sua função de alerta e passa a comprometer a qualidade de vida, tornando-se um problema crônico (TURK e GATHCEL, 1996). Segundo Pessini (2000) a palavra “dor” origina-se do latim dolore. Segundo especialistas, existem basicamente dois tipos de dor: as agudas e as crônicas. A dor aguda geralmente está associada a algum tipo de lesão corporal e tende a desaparecer logo que esta melhora. A dor crônica é aquela que perdura por mais de seis meses. É aquela que persiste além do tempo razoável e esperado para a cura de uma lesão, ou que está associada a doenças crônicas, causadoras de dor contínua, ou que retorna em intervalos de meses ou anos o normal. 27 A dor é um fenômeno que envolve diversas dimensões, podendo-se afirmar que se trata de um problema médico, comportamental, cognitivo e emocional, pois é acompanhado por um grande sofrimento pessoal, acarretando custos sociais e, também, muitos custos econômicos. Para Pires (2008), um paciente que vive com dor crônica por exemplo, não só experiencia a sensação de dor, mas também se vê forçado a viver com alterações significativas no seu dia a dia provocado pela limitação das suas atividades, por alterações no estado de humor, por uma diminuição da energia e por distúrbios do sono. De acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), a dor “é uma experiência desagradável, sensitiva e emocional, associada com uma lesão real ou potencial dos tecidos ou descrita em termos dessa lesão” (BRADLEY, 1995). Para Angelotti (1999),em algum momento, raras as exceções, todos os seres humanos experimentaram, experimentam ou experimentarão sensações dolorosas. A dor crônica, por exemplo, é expressa inicialmente por numerosas afecções orgânicas e funcionais e a razão maior de incapacidade em diversas afecções clínicas. Esta, em algumas situações, proporciona um sofrimento desnecessário, nocivo ao estado físico e emocional do indivíduo. Sua persistência pode lentificar muito os processos de reparação orgânica e funcional, prolongando os custos da assistência ao doente (DARINI,1991 ; Teixeira, 1995). Pereira e Zago (1998) descrevem que,embora a dor seja considerada por muitos como um fenômeno fisiológico, e como tal tem sido estudado por fisiologistas e neurologistas, a fisiologia da dor e a compreensão da função biológica da dor não explica outros aspectos da experiência da dor. Na sociedade humana, a dor adquire importância social e cultural e certas reações a dor podem ser compreendidas à luz dessa importância. Assim, a condição de dor persistente e crônica, com o passar do tempo, pode tornar-se o centro da vida da pessoa e passa, ela mesma, a constituirse como doença. Para autores como Helman (1994), a cultura é um sistema compartilhado de significados que é aprendido, revisado, mantido e defendido no contexto em que as pessoas interagem. Desta forma, a dor pode ser uma experiência pessoal que 28 depende da aprendizagem cultural, do significado e da situação e de outros fatores únicos da pessoa. O significado da dor pelas pessoas, o modo como elas definem a sua situação e o impacto das experiências pessoais anteriores, poderão determinar a experiência de dor. A cultura de uma pessoa pode tornar-se uma influência condicionadora na formação dos padrões de reação à dor e o conhecimento das atitudes grupais para a dor pode ser importante para a compreensão da reação da pessoa. Sendo a dor um fenômeno universal, é uma importante consideração na intervenção da psicologia. Segundo Angelotti (2001), na literatura cognitivocomportamental, a principal prioridade no tratamento da dor crônica é ensinar o paciente a enfrentar e reduzir a dor e, em segundo momento, ensiná-lo a empregar as técnicas cognitivas para rebater as crenças que destroem sua aceitação da responsabilidade no emprego das técnicas de enfrentamento e autogerenciamento. 2.2.1 NEUROFISIOLOGIA DA DOR A dor tem como objetivo principal o de proteção e surge quando existe uma lesão de tecido. O sistema nervoso é composto por dois sistemas funcionais: o sistema nervoso periférico e o sistema nervoso central. As terminações nervosas livres existentes na pele e em outros tecidos possuem os receptores da dor. É através do sistema nervoso periférico que o estímulo da dor é percebido e captado. Os nervos sensoriais e motores da coluna espinhal conectam os tecidos e órgãos ao sistema nervoso central, completando assim o sistema (CAMPOS, 2003). Campos (2003) afirma ainda que o fenômeno sensitivo doloroso é a transformação dos estímulos ambientais em potenciais de ação que, nas fibras nervosas periféricas, são transferidos para o sistema nervoso central. Todo estímulo intenso, exceto o vibratório, de qualquer modalidade energética, poderá produzir dor. 29 O agente nocivo é detectado pelas ramificações periféricas das fibras nervosas mais finas e numerosas do corpo. A sensação de dor em humanos é viabilizada pelo sistema nociceptivo. A nocicepção é um dos sistemas responsáveis pela percepção humana. Está especificamente envolvida no reconhecimento de um estímulo potencialmente nocivo aos tecidos. Também participa na transmissão de informações sobre a forma do estímulo doloroso (MIRANDA, 2009). De acordo com Miguel Jr. (2007), a origem da dor pode ser central (Sistema nervoso central) ou periférica. Nesta última são encontradas alterações nos distintos subtipos de fibras nervosas, enquanto na dor central as alterações são mais complexas e envolvem vias aferentes, diferentes circuitos cerebrais e a modulação descendente, (figura 1). A fisiologia da condução de um estímulo nervoso envolve quatro componentes funcionais, que podem transformar os sinais de entrada em liberação de neurotransmissores (Ex. bradicinina, prostaglândinas e substância P). Figura 1: Fisiologia da condução de um estímulo nervoso. Fonte: MIGUEL JR. 2007 O primeiro componente funcional é um sinal de entrada (input) que, após fazer contato com um receptor dendrítico com suficiente intensidade, induz a 30 geração de um potencial receptor, o que transforma um estímulo sensitivo doloroso em sinal elétrico local. O segundo componente funcional é o sinal de integração. Como o potencial receptor local não pode por si gerar um potencial de ação, deve ser modificado por uma transmissão ativa adicional. Caso os potenciais do receptor desenvolvam uma soma integrada suficientemente excitatória, será iniciado o potencial de ação. Caso não se gere esse potencial de ação, o sinal de entrada se dissipa sem que haja resposta perceptível. O terceiro componente funcional da condução nervosa é a propagação continuada d potencial de ação para a medula espinhal. O axônio nervoso é o componente anatômico do sistema nervoso responsável pela propagação do potencial de ação. A lesão traumática do axônio é comum, devido à fia freqüentemente longa e tortuosa até a medula espinhal, que torna o axônio vulnerável a uma lesão. O quarto componente funcional é a ascenção do estímulo às estruturas do sistema nervoso central. O corno dorsal é a região da medula espinhal cujo propósito principal é receber o estímulo aferente (que chega da região da lesão), modifica o sinal de entrada de acordo com as influências descendentes dos centros cerebrais superiores e liberar a informação resultante aos centros cerebrais superiores para continuar o processo de compreensão da dor e do local de lesão. Fibras aferentes: as fibras aferentes finas (A delta e C) conduzem informação nociceptiva (dor) e terminam na lâmina superficial do corpo dorsal (lâmina de Rexed II – substância gelatinosa). As fibras aferentes grossas (A beta) terminam em lâminas de Rexed III ( e ainda mais profundamente) e conduzem sensações táteis. Neurotransmissores: o glutamato e a substância P são os principais neurtransmissores nociceptivos das fibras aferentes A delta e C (MIGUEL JR. 2007). Segundo OLIVEIRA (1979), dor é um aviso de alarme que o SNC utiliza para sinalizar um processo de agressão ao organismo com risco para a sua integridade física. Este alarme desencadeia um conjunto de reações de adaptação, de ordem psicológica, autonômica e motora,visando afastar o organismo da causa da agressão,preservando-o. A dor caracteriza-se por uma resposta orgânica 31 protetora, pois alerta o indivíduo para uma lesão iminente ou real dos tecidos, induzindo ao surgimento de respostas reflexas e comportamentais coordenadas com o intuito de manter o dano tecidual o mais controlado possível (WOOLF et al., 1999). Essa dor é classificada como aguda (TEIXEIRA et al., 2001). No entanto, quando a dor passa a se repetir ou sustentar-se por período prolongado, deixa de apresentar vantagens biológicas e passa a causar sofrimento, sendo classificada como dor crônica a qual é gerada por impulsos de pequena magnitude produzidos por atividade neural anormal (MELZACK et al., 1999). A dor crônica pode estar associada com a continuação da patologia ou persistir após a recuperação da doença ou lesão. Se a dor crônica for devido à doença orgânica, ela é efetivamente curada ao se tratar a desordem de base. Geralmente não é bem localizada e tende a ser maciça, dolorida, contínua ou recorrente e é dividida em nociceptiva, neuropática e psicogênica (MERSKEY et al., 1994; SMITH et al., 1986; FÜRST, 1999). Conforme Millan (1999), a dor nociceptiva consiste na estimulação persistente de nociceptores, seja térmico, químico ou mecânico. Nesta dor ocorre ativação contínua das vias centrais da dor e pode ser identificada em pessoas com câncer,Herpes zoster, entre outras. Já a dor neuropática, segundo a IASP, é definida como uma dor causada ou iniciada por uma lesão primária ou por disfunção do SNC (Sistema Nervoso Central) e/ou Periférico (SNP). Esta desordem pode ser provocada por compressão, transecção, infiltração, isquemia, injúria metabólica de corpos celulares de neurônios ou uma combinação desses fatores. Dor do membro fantasma e doenças como Diabetes melittus e Parkinson são as principais causas da dor neuropática (FURST, 1999). A dor psicogênica, por sua vez, está relacionada à prevalência de fatores psicológicos na gênese da sensação dolorosa. Esse tipo de dor pode ser observado em distúrbios psicológicos como na depressão e na ansiedade generalizada (FURST, 1999; MERSKEY, 1986). Ainda para Furst (1999), a percepção da dor ocorre em dois estágios distintos. O primeiro, denominado nocicepção, refere-se à transdução do estímulo doloroso ao SNC por receptores especializados, os nociceptores. O segundo estágio 32 é referente ao processamento elaborado dessa informação nociceptiva, levando à percepção consciente da dor. O processo doloroso tem início nos nociceptores, os quais são receptores morfologicamente diferenciados e estão presentes nas terminações livres das fibras nervosas aferentes (FURST, 1999). Eles são sensibilizados quando o estímulo é potencialmente perigoso, ou seja, excede uma determinada faixa considerada fisiológica (estímulo inócuo) ( MILLAN, 1999). Para o autor Julius (2001) nociceptores, localizados na porção distal dos neurônios aferentes sensoriais (neurônios de primeira ordem), estão amplamente distribuídos na pele, vasos, músculos, articulações e vísceras. Dividem-se em três classes: os mecanoceptores, sensíveis a estímulos mecânicos intensos; os termoceptores, sensíveis a estímulos térmicos (acima de 45°C) e os nociceptores polimodais, sensíveis tanto a estímulos mecânicos e térmicos quanto químicos. (TEIXEIRA et al., 1999) Esses receptores, como característica fundamental, não exibem acomodação e, além disso, apresentam facilitação e aumento da sensibilidade quando estimulados continuamente A estimulação dos nociceptores, que pode ocorrer devido à mudança de temperatura (estímulo nocivo térmico), diferença osmótica ou distensão do tecido (estímulo nocivo mecânico), hipóxia ou lesão tecidual seguida de inflamação (estímulo nocivo químico), promove uma liberação local de mediadores químicos, tais como bradicinina, prótons, histamina, serotonina, metabólitos do ácido araquidônico, ATP, adenosina, citocinas, aminoácidos excitatórios, óxido nítrico, substância P, neurotrofinas, bombesina, opióides, somatostatina, acetilcolina, entre outros. Estes mediadores interagem com nociceptores específicos conduzindo à propagação do sinal nociceptivo por alteração na permeabilidade da membrana da fibra nervosa gerando o potencial de ação (JULIUS et al., 2001). Há ainda os chamados nociceptores silenciosos (silent ou sleeping) os quais existem em pequena proporção nas fibras aferentes primárias e não respondem normalmente a estímulos. No entanto, quando estimulados por mediadores inflamatórios ou após a administração de agentes flogísticos (próinflamatórios), estes nociceptores apresentam atividade espontânea ou tornam-se sensibilizados e respondem a estímulos sensoriais (JULIUS et al., 2001). 33 Os nociceptores transmitem as informações dolorosas para a medula espinhal através das fibras sensoriais aferentes que podem ser de três tipos: fibras Aβ, que são fibras mielinizadas com diâmetro maior que 10 µm, velocidade de condução de 30-100 m/s e que respondem à estimulação tátil; fibras Aδ, as quais são mielinizadas de diâmetro médio de 2-6 µm, com velocidade de condução de 1230 m/s e são responsáveis pela condução rápida do estímulo doloroso; e fibras C, que são amielínicas e de diâmetro pequeno variando de 0,4-1,2 µm, velocidade de condução de 0,5-2 m/s, são responsáveis pela condução lenta do impulso doloroso. As fibras C constituem a maior parte das fibras sensoriais (FURST, 1999). Sabe-se que as fibras Aδ são responsáveis pela condução da “primeira dor” que se caracteriza por ser rápida, aguda e pontual, enquanto as fibras C transmitem a “segunda dor”, sendo esta atrasada, difusa e fraca (JULIUS et al., 2001). Os nociceptores periféricos, situados nas terminações periféricas de neurônios primários, apresentam seus corpos celulares constituindo os gânglios das raízes dorsais. Eles transmitem a informação nociceptiva aos neurônios do corno dorsal da medula espinhal. Os principais neurotransmissores responsáveis pela transmissão do impulso nervoso das fibras aferentes primárias para os neurônios do corno dorsal da medula são a substância P e o glutamato (CALNE et al., 1996; CODERRE et al., 1992). Este processo também depende de canais de cálcio e sódio, sendo os primeiros os principais reguladores da liberação de neurotransmissores (HILL, 2001). Almeida (2004) afirma que o corno dorsal, por sua vez, apresenta-se dividido em seis lâminas de acordo com as características dos seus neurônios, existindo uma correspondência anátomo-funcional. Os neurônios nociceptivos estão localizados nas lâminas I, II e V. Ainda para o mesmo autor, após a interação direta ou indireta com neurônios aferentes primários no corno dorsal, os axônios de neurônios de segunda ordem formam tratos aferentes que transmitem os impulsos nociceptivos para estruturas do tronco cerebral e diencéfalo, incluindo tálamo, substância cinzenta periaquedutal, formação reticular da medula,complexo amigdalóide, hipotálamo, entre outras. 34 O envio da informação dolorosa para os centros superiores ocorre por meio das vias de projeção da dor ou trato anterolateral da coluna. As principais vias de condução da dor no SNC são o trato espinotalâmico, o trato espinorreticular e o trato espinomesencefálico ( MILLAN, 1999). O trato espinorreticuular, também conhecido como via de condução lenta, é filogeneticamente mais antigo e cursa medialmente no tronco cerebral. Está ligado ao Sistema Reticular Ativador Ascendente (SARA) e a Substância Cinzenta Periaquedutal Ventral (SCPV) e envia projeções difusas para o tálamo, córtex e estruturas do sistema límbico. Já o trato espinotalâmico, ou vias de condução rápida, é filogeneticamente mais novo e cursa lateralmente no tronco cerebral. Envia projeções para o tálamo ventrobasal e daí para o córtex sensorial (RUSSO et al., 1998). 2.3. TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL A partir da segunda metade da década de 1950, que os fundamentos da abordagem psicoterápica, hoje amplamente difundida e denominada de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), foram delineados por Aaron T. Beck e Albert Ellis. Fundamentada desde os seus primórdios na pesquisa clínica e experimental, continua comprovando sua eficácia em diversos transtornos psiquiátricos. Esta abordagem psicoterápica se distingue de outras formas de atuação em Psicologia por obedecer a princípios científicos e a pesquisa constante. Tendo como objetivo o embasamento de suas conceituações e aplicações clínicas, a Terapia Cognitivo Comportamental se tornou a modalidade de tratamento psicossocial mais pesquisada e validada em todo o mundo. (Knapp, 2004). No início da década de 1960, uma “revolução cognitiva” começou a emergir, embora os primeiros textos centrais sobre modificação cognitiva tenham aparecido somente na década de 1970 (DOBSON ,2004). A pesquisa de Albert Bandura sobre modelos de processamento de informações e aprendizagem vicária, e as evidências empíricas na área do desenvolvimento da linguagem suscitou 35 questões sobre o modelo comportamental tradicional disponível até então e apontou as limitações de uma abordagem comportamental não mediacional para explicar o comportamento humano. Um número crescente de teóricos e terapeutas começou a se identificar como “cognitivo-comportamentais” em termos de orientação; alguns dos proponentes iniciais mais importantes de uma perspectiva cognitiva e cognitivocomportamental foram Beck, Ellis, Cautela,Meichenbaum e Mahoney (KNAPP, 2008). Segundo afirmam as autoras Araújo e Shinohara (2002), nas décadas seguintes, gradativamente foram se desenvolvendo modelos teóricos diferenciados, dentro desse enfoque. A literatura sugere que o que hoje se entende por “terapias em abordagem cognitivo-comportamental” (TCCs) representa um amplo espectro, composto por dezenas de tipos de terapias diferentes. As duas modalidades mais influentes nas últimas décadas são a Terapia Cognitiva (TC), formulada por Aaron Beck e a Terapia Racional – Emotivo - Comportamental (TREC), formulada por Albert Ellis (DOBSON, 2006). Embora pautadas em princípios epistemológicos diferenciados, é necessário ressaltar que todas as TCCs apresentam um conjunto de pressupostos em comum: a atividade cognitiva influencia o comportamento; a atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada; o comportamento desejado pode ser influenciado via mudança cognitiva (DOBSON, 2006). Assim sendo, só podem ser denominadas de TCCs, as terapias em que a mediação cognitiva pode ser demonstrada; e consequentemente, quando a mediação da cognição é um componente importante do plano de tratamento (DOBSON; 2006). 2.3.1 O cognitivismo na psicologia O movimento Cognitivista, assim como a Psicologia Cognitiva enquanto campo de pesquisa, influenciaram também a Psicoterapia. 36 Segundo Castañon (2007), dentre as características inerentes à imagem de Ser Humano ligada ao Cognitivismo, é possível ressaltar as seguintes: 1) A imagem de um sujeito dotado de consciência; 2) Um sujeito Ativo ( pois busca ativamente metas e constrói ativamente as suas estruturas cognitivas, atribuindo ativamente significado); 3) O Ser Humano como um processador de informações ( um organismo ativo que processa a informação, inicialmente recebendo-a, após decodificando-a, transformando-a, armazenando-a, recuperando-a e por fim utilizando-a); 4) O Ser Humano que possui um Insconsciente Cognitivo ( que consiste num conjunto de estruturas e processos inacessíveis ou muito dificilmente acessíveis à consciência); 5) Um Ser Humano que constrói as regras que regem sua Cognição (que são construídas pelo sujeito em um processo de contínua interação com o mundo. Daí o caráter construtivista implicado no Cognitivismo acerca da origem do conhecimento); 6) Um Ser Humano que possui emoções que atuam através de Cognições (na teoria cognitiva de personalidade, as emoções são mais conseqüências do que causas das cognições, assim, as crenças disfuncionais geram emoções disfuncionais, porém o inverso também é verdadeiro. Diante disso, não são os fatos que geram as emoções e sim as interpretações sobre eles). De acordo com Castañon (2007), “a filosofia da ciência que melhor oferece suporte ao Cognitivismo e a Psicologia Cognitiva é o Racionalismo Crítico”, fundado por Karl Popper. A Revolução Cognitiva só se tornou possível graças à mudança na concepção de ciência moderna. A adoção do método hipotéticodedutivo como modelo de investigação científica produziu impacto na Psicologia, pois propiciou a “investigação de hipotéticos processos cognitivos através de suas conseqüências necessárias diretamente observáveis”. (Castañon, 2007, p. 22). Ainda para o autor acima citado, a respeito do critério de ciência empregado no Cognitivismo, ao minar e posteriormente derrotar o Positivismo Lógico como teoria epistemológica geral, o Racionalismo Crítico acabou com o mito da indução e da observação neutra como fonte original de conhecimento científico. Além disso, ajudou a generalizar o reconhecimento de que o método de investigação da ciência moderna era o hipotético-dedutivo, e não o indutivo-experimental. Sem o enfraquecimento da posição antes hegemônica do Positivismo Lógico em filosofia da ciência, o estudo empírico de processos cognitivos não poderia ter conquistado o respeito da comunidade científica. O Cognitivismo é plenamente compatível com o 37 Racionalismo Crítico, como podemos ver na identidade entre as teses filosóficas de Popper e do Cognitivismo sobre o construtivismo realista (Piaget), o caráter antecipatório da percepção (Bruner), a observação que se faz contra ou a favor de uma teoria (Neisser), a rejeição da tabula rasa (Chomsky),o interacionismo (Sperry) e o caráter de imprevisibilidade que o conhecimento traz ao sujeito(Neisser). O Cognitivismo e a Psicologia Cognitiva não só tem trabalhado em conjunto com a Filosofia, como também reconheceram plenamente esta interdependência. Na verdade, muitos pontos chaves do Cognitivismo e da Psicologia Cognitiva não são mais do que antigas questões filosóficas: construtivismo, racionalismo, intencionalidade, consciência, representação mental, inatismo, significado (Castañon 2007). A terapia cognitiva é uma abordagem psicoterapêutica estruturada e diretiva, que pressupõe que afeto e comportamento são em grande parte determinados pelos padrões de pensamento que o indivíduo desenvolve a partir de experiências anteriores. A Terapia Cognitiva auxilia a pessoa a desenvolver a metacognição, ou seja, habilidade de pensar sobre como ela pensa, de como os pensamentos afetam o humor, sentimentos, comportamentos e como essa cadeia se retro-alimenta, desenvolvendo estresse, hábitos não-saudáveis, pensamentos disfuncionais, contribuindo para a manutenção de comportamentos inadequados (Beck,1997). A Terapia Cognitivo-Comportamental integra os conceitos e as técnicas vindos de duas principais abordagens: a cognitiva e a comportamental. De acordo com a Terapia Cognitiva os indivíduos atribuem significados aos acontecimentos de sua vida. As hipóteses formuladas têm grande influência sobre o comportamento do indivíduo, podendo afetar também a sua auto-imagem (crenças a respeito de si mesmo) e, conseqüentemente, a sua auto-estima. A terapia comportamental fundamenta-se nas teorias do comportamento desenvolvidas no início do século XX, tendo grande repercussão na década de 50 através da obra de Skinner (BAHLS; NAVOLAR, 2004). O comportamento operante é aquele que modifica o ambiente, estando sujeito a alterações a partir das conseqüências de sua atuação sobre o ambiente. Ou seja, as probabilidades futuras de um operante ocorrer novamente está na 38 dependência das conseqüências que foram geradas por ele (SKINNER,1953 apud BAHLS; NAVOLAR,2004)). Ainda para Bahls; Navolar (2004), mudanças terapêuticas acontecem na medida em que ocorrem alterações nos modos disfuncionais de pensamento. Neste ponto de vista, o mundo é considerado como constituinte de uma série de eventos que podem ser classificados como neutros, positivos e negativos, no entanto a avaliação cognitiva que o sujeito faz destes acontecimentos é o que determina o tipo de resposta que será dada na forma de sentimentos e comportamentos. Desta forma, a Terapia Cognitivo Comportamental dá uma grande ênfase aos pensamentos do paciente e a forma como este interpreta o mundo. Um dos objetivos da Terapia Cognitivo Comportamental é corrigir as distorções cognitivas que estão gerando problemas ao indivíduo e fazer com que este desenvolva meios eficazes para enfrentá-los. Para tanto são utilizadas técnicas cognitivas que buscam identificar os pensamentos automáticos, testar estes pensamentos e substituir as distorções cognitivas. As técnicas comportamentais são empregadas para modificar condutas inadequadas relacionadas com o transtorno em questão (ABREU E ROSO, 2003). Assim, o terapeuta, faz um planejamento que envolverá por exemplo: reestruturação cognitiva das crenças irracionais e prescrição de técnicas comportamentais. A reestruturação cognitiva é uma técnica da terapia cognitiva, em que, no procedimento terapêutico o sujeito apreende a identificar as distorções cognitivas e transformá-las em formas mais adequadas de pensar, através do registro de pensamento, ou seja, o paciente a chamado a se monitorar quanto aos seus pensamentos e a registrá-los a fim de que, juntamente ao seu terapeuta ele possa trabalhar a reestruturação cognitiva (ANGELOTTI; FORTES, 2007) 39 2.3.1. Terapia Cognitiva de Aaron Beck A formulação do modelo terapêutico iniciado por Aaron Beck ocorreu a partir de 1956. Era o seu interesse em “localizar a configuração psicológica precisa da depressão para desenvolver uma forma de psicoterapia breve voltada especificamente para o alívio desta psicopatologia focal” (1997, p. 7). As conclusões dos estudos realizados por Beck (1997, p. 7) relacionados aos achados de pesquisa anômalos, o levaram a perceber: “de fato, as manipulações ambientais indicaram que os pacientes deprimidos tendiam mais do que os não deprimidos a evitar comportamentos evocadores de rejeição ou desaprovação em favor de respostas evocando aceitação e aprovação dos outros”. A partir dos fatos expostos, a busca de Beck por explicações para o comportamento do paciente deprimido, que segundo ele, “pelo menos na superfície, parecia refletir uma necessidade de sofrer (1997, p. 7), o levou a desenvolver uma formulação psicológica precisa sobre a depressão, a fim de desenvolver uma abordagem psicoterapêutica breve, voltada para o alívio desta psicopatologia de caráter focal. Os estudos desenvolvidos por Beck também voltaram-se para as observações dos sonhos “masoquistas” (base de seu estudo original), que tinham como foco principal a busca de explicações alternativas para os temas freqüentes do sonhador deprimido. A partir destes dados, os achados demonstraram a presença nos pacientes deprimidos, de construtos negativos de si mesmos e de suas experiências de vida, semelhantes às imagens apresentadas nos sonhos que pareciam expressar distorções da realidade. Somando-se a isto, estudos sistemáticos adicionais que objetivavam o desenvolvimento e a testagem de instrumentos para validação da hipótese que o paciente deprimido tendia a distorcer de forma sistemática a realidade, contribuíram para a continuidade do desenvolvimento da teoria cognitiva da depressão. Com isso, o pressuposto de que o paciente apresentava uma tríade referente à visão negativa global que apresentava sobre si mesmo, sobre o mundo externo e o futuro (tríade cognitiva da 40 depressão), deu origem ao entendimento da depressão e posteriormente a compreensão de outras psicopatologias neuróticas. De acordo com Beck, como pode ser observado em sua afirmação (1997, p.7): À medida que as evidências acumularam para apoiar o papel proeminente de distorções cognitivas negativas, eu concomitantemente tentava aliviar a sintomatologia depressiva do indivíduo desenvolvendo técnicas para corrigir suas distorções através da aplicação de lógica e de regras de evidência, e ajustar seu processamento de informações à realidade. Os experimentos de Beck demonstraram o papel desempenhado por uma série graduada de sucessos em atingir uma meta tangível. Assim, a terapia cognitiva considera que as experiências facilitam/ possibilitam a reversão do autoconceito e expectativas negativas, produzindo efeito direto de forma a atenuar a sintomatologia depressiva. Pode-se afirmar que estes estudos demonstram a aplicabilidade do uso de experimentos reais para testar crenças errôneas ou negativas. “Esta noção de testar hipóteses em uma situação de vida real, cristalizou-se no conceito geral de empirismo colaborativo”. (1997, p. 9) Para este modelo de psicoterapia, as experiências de vida do paciente, constituem um campo de testagem para verificação do funcionamento cognitivo disfuncional. Desta forma, tais experimentos representam uma oportunidade potencial para testar previsões e interpretações negativas, daí o conceito de ‘autoterapia estendida” referente ao conceito de experimento na TC. Segundo Beck (1997), a Terapia comportamental contribuiu substancialmente para o desenvolvimento da TC. Uma variedade de técnicas e estratégias cognitivas e comportamentais são utilizadas na TC. Em resumo, as técnicas cognitivas objetivam delinear e testar os construtos errôneos e as pressuposições mal-adaptativas do paciente. Já as técnicas comportamentais utilizadas funcionam não apenas para modificar o comportamento, mas também para extrair cognições que se associam a comportamentos específicos. Segundo Beck (1997), as técnicas comportamentais são geralmente utilizadas no início do tratamento, ou seja, “(...) o paciente geralmente requer estas técnicas mais ativas no início do tratamento... (...)” (Beck, 1997, p. 6). Sendo assim, é possível afirmar que o trabalho na TC focaliza 41 inicialmente o sintoma apresentado pelo paciente (os comportamentos desajustados) para então iniciar o trabalho cognitivo propriamente dito, que objetiva a reestruturação das cognições disfuncionais, iniciando pelo acesso aos pensamentos automáticos disfuncionais (pré-consciente cognitivo), em seguida às crenças intermediárias (pressupostos, regras e atitudes) para então chegar ao objetivo final da reestruturação cognitiva que são as crenças centrais apresentadas pelo paciente. Assim, o trabalho cognitivo ocorre na psicoterapia do nível mais superficial para o mais profundo de cognição, a partir da principal estratégia do terapeuta cognitivo que é o questionamento socrático. 42 Organização Cognitiva (componentes estruturais) História de Aprendizagem (componentes experienciais) Esquemas específicos Experiências anteriores relacionadas ao esquema Situação Atual Crença Preexistente Comportamento Processamento Esquemático (de Significado) Interpretação da situação em termos de esquemas específicos Ativação de Sistemas Interpretação Ativação de formas dentro de sistemas cognitivos, afetivos, e motivacionais Consciente ou inconsciente Figura 2: Processamento esquemático de informação. Fonte: Beck, 1997. 43 Sobre a noção cognitiva de personalidade, Beck (1997, p. 33) afirma que: A definição cognitiva de personalidade inclui processos esquemáticos individuais, que teoricamente determinam a operação dos principais sistemas de análise psicológica (p. ex. motivação, cognição, emoção, etc). A perspectiva cognitiva enfatizaria padrões característicos do desenvolvimento e diferenciação de uma pessoa e sua adaptação a ambientes sociais e biológicos. Estes padrões são compostos de organizações de esquemas relativamente estáveis, que respondem pela estabilidade de sistemas cognitivos , afetivos, e comportamentais através do tempo. Estes sistemas de esquemas especializados são conceitualizados como os componentes básicos da personalidade. A respeito do processamento cognitivo automático, a psicologia cognitiva contemporânea utiliza o termo “inconsciente cognitivo” para descrever estruturas e processos mentais que não estão acessíveis à consciência fenomenal, porém determinam pensamentos e ações conscientes. Segundo Beck (1997, p. 27) “não há razão teórica para que os processos cognitivos relevantes à psicopatologia devam operar inteiramente dentro da percepção fenomenal consciente”. A partir da seqüência: situação – crença – interpretação – afeto – comportamento, pode compreender que as estruturas ou os esquemas de crenças existentes são ativados pelas circunstâncias do ambiente e o significado (processamento esquemático consciente ou inconsciente) gera uma interpretação que leva ao afeto que é seguido pelo comportamento que modifica a situação original. (Beck, 1997). Para resumir o que foi exposto anteriormente, Beck (1997) afirma que a Terapia Cognitiva ou Cognitivo-comportamental se diferencia da Terapia Comportamental no sentido de apresentar maior ênfase sobre as experiências internas (mentais) do paciente, tais como os pensamentos, emoções, desejos... Diferencia-se também de outras escolas de psicoterapia por “sua ênfase sobre a investigação empírica dos pensamentos automáticos, inferências, conclusões e pressuposições do paciente” (Beck, 1997, p. 7) 2.3.2. Modelo cognitivo de psicopatologia Os sofrimentos humanos tem muitas facetas múltiplas: nunca se encontra outra dor do mesmo tom.(Ésquilo, 1668) 44 2.3.2.1. Aspectos cognitivo comportamentais A abordagem cognitivo comportamental baseia-se no enfoque cognitivo, segundo a qual afetos e comportamentos são determinados pelo modo com que o indivíduo estrutura seu mundo. As imagens, idéias e outras formas de representação mental são definidas como aquelas funções da consciência que envolvem deduções sobre nossas experiências e sobre a ocorrência e o controle dos eventos de vida. Cada um de nós foi construindo, a partir de aprendizados extraídos das experiências ao longo da vida, um jeito de pensar, sentir e se comportar, segundo uma conjugação própria de concepções, idéias, interpretações e pressupostos que fazemos acerca de como as pessoas e as coisas são. Segundo (Castañon, 2007) somos o resultado desse aprendizado. Essa teoria tem como paradigma conceitual a relação entre as variáveis ambientais, o processamento cognitivo, os afetos e os comportamentos, e, neste modelo considera-se que os pensamentos modulam e mantêm as emoções disfuncionais, independentes de suas origens. Cognições consistem em símbolos, esquemas que levanta a hipótese de que as emoções e os comportamentos das pessoas são influenciados por sua percepção dos eventos. Mais do que qualquer evento propriamente dito, é a forma como pensamos sobre o evento que determina a maneira como nos sentimos e nos comportamos (BECK, 1964). Segundo o modelo cognitivo, é possível identificar três níveis de cognição: os pensamentos automáticos, nível mais superficial e espontâneo que surge na mente diante de diversas situações do cotidiano; as crenças intermediárias, onde conteúdos cognitivos aparecem sob a forma de regras e suposições ligadas ao nível mais profundo, que são as crenças centrais a respeito de si mesmo, dos outros e do mundo, que se formam a partir de experiências remotas da infância (Beck, 1997). Para Vandenberghe (2005), no modelo cognitivo do funcionamento humano, comportamentos e emoções são mediados por processos simbólicos subjacentes. Estas variáveis cognitivas, inferidas pelo terapeuta a partir dos comportamentos e dos relatos do paciente, são considerados o cerne do problema. 45 A teoria cognitiva de psicopatologia e psicoterapia considera a cognição o principal componente envolvido nos transtornos psicológicos. Segundo Beck (1976), a pessoa orienta-se em relação às suas vivências com base na sua matriz de esquemas. Um esquema é uma estrutura mental, que filtra, interpreta e codifica informação. Esquemas primitivos mal-adaptativos podem tornar-se extremamente duradouros. Eles podem ser flexíveis ou cristalizados, e podem permanecer durante longos períodos num estado de dormência porque precisam de informação que diz respeito ao seu conteúdo para serem ativados. Na terapia, o paciente aprende a avaliar de maneira crítica os pensamentos que emergem automaticamente, e a gerar pensamentos alternativos mais adaptativos. Ele mantém registros com informações sobre emoções, ações e pensamentos entre sessões e os discute com o terapeuta. A partir deste trabalho, crenças subjacentes aos pensamentos automáticos são identificadas e desafiadas, como também as distorções cognitivas que o paciente vai aprender a rotular e corrigir. A técnica terapêutica é didática, pautada num empirismo colaborativo onde terapeuta e paciente buscam evidências a favor e contra as crenças que são encaradas como hipóteses a serem verificadas. O questionamento socrático é a estratégia mais usada para desafiar as maneiras de pensar do paciente. 2.3.3 Princípios fundamentais da terapia cognitivo- comportamental O princípio fundamental da Terapia Cognitivo Comportamental é que a maneira como os indivíduos percebem e processam a realidade influenciará a maneira como eles se sentem e se comportam. Desta forma, o objetivo terapêutico da Terapia Cognitivo Comportamental, desde seus primórdios, tem sido reestruturar e corrigir esses pensamentos distorcidos e colaborativamente desenvolver soluções pragmáticas para produzir mudança e melhorar transtornos emocionais. A Terapia Cognitivo Comportamental postula que há pensamentos nas fronteiras da consciência que ocorrem espontânea e rapidamente e são uma interpretação imediata de qualquer situação. São chamados de pensamentos 46 automáticos e são distintos do fluxo normal de pensamentos observado no raciocínio reflexivo ou na livre associação. São geralmente aceitos como plausíveis, como verdadeiros. A maioria das pessoas não está imediatamente consciente da presença de pensamentos automáticos, a não ser que estejam treinadas para monitorá-los e identificá-los. De acordo com Beck (1999), “é tão possível perceber um pensamento, focar nele e avaliá-lo, como é possível identificar e refletir sobre uma sensação como a dor”. Nas raízes dessas interpretações automáticas distorcidas estão pensamentos disfuncionais mais profundos, chamados de esquemas (também denominados crenças nucleares, usados com o mesmo significado por muitos autores). Conforme definido por Clark, Beck e Alford (1999), esquemas são “estruturas cognitivas internas relativamente duradouras de armazenamento de características genéricas ou prototípicas de estímulos, idéias ou experiências que são utilizadas para organizar novas informações de maneira significativa, determinando como os fenômenos são percebidos e conceitualizados”. Uma vez que uma determinada crença básica se forma, ela pode influenciar a formação subseqüente de novas crenças relacionadas e, se persistirem, são incorporadas na estrutura cognitiva duradoura ou esquema. Crenças nucleares embutidas nessas estruturas cognitivas modelam o estilo de pensamento de um indivíduo e promovem erros cognitivos encontrados na psicopatologia. Alguns princípios são norteadores da terapia cognitivo-comportamental como um todo, ressalvando-se que esta seja adaptável a cada indivíduo particularmente. Dentre eles o de que a terapia deve basear-se em uma formulação contínua do funcionamento do paciente em termos que valorizem a relação entre situações – pensamentos – emoções – comportamentos. A Terapia Cognitivo-Comportamental busca produzir a mudança cognitiva dos pensamentos e crenças dos pacientes, com objetivo de mudança emocional e comportamental. Segundo Dobson & Dozois (1996), três premissas fundamentais são inerentes à Terapia Cognitivo Comportamental: a) a cognição afeta o comportamento; b) a cognição pode ser monitorada e alterada; 47 c) a mudança comportamental pode ser efetuada por meio da mudança cognitiva. A Terapia Cognitivo Comportamental tem vários princípios norteadores; um deles consiste em despertar no paciente um senso de cooperação e confiança (FREEMAN,1998) e considera as emoções e o relacionamento terapêutico valiosos instrumentos terapêuticos. Na terapia cognitiva o paciente é parte ativa do seu próprio processo de mudança, sendo que a efetividade desse processo vai ser influenciada por inúmeros fatores, entre eles a relação terapêutica. Atualmente se reconhece que não só as qualidades e as habilidades do terapeuta são representativas na evolução do processo, mas também sua utilização com a finalidade de mobilizar o paciente na busca de ajuda e expectativa de alívio, oportunizando o estabelecimento de uma relação terapêutica, a qual, conforme Wolpe (1973),pode constituir-se num poderoso instrumento terapêutico (SILVA, 2003 ). Nesse contexto, pensamos a relação terapêutica segundo Beitman (apud Rangé, 1998:43) como “algo que se refere às qualidades pessoais de um terapeuta, às qualidades pessoais de um paciente e à interação entre ambos”, já que na terapia cognitiva essa interação vai servir como um facilitador na aplicação das técnicas e até mesmo como fator determinante na continuidade e efetividade da terapia (SILVA, 2003 ). Conforme Judith Beck (1997), os princípios básicos da Terapia Cognitivo- Comportamental podem ser assim resumidos: a) estabelecimento de aliança terapêutica; b) identificação do pensamento atual que ajuda a manter os sentimentos negativos e comportamentos problemáticos do paciente; c) ênfase na colaboração e na participação ativa; d) orientação para a meta e foco em problemas. O terapeuta deve, juntamente com o paciente, enumerar os problemas e estabelecer metas específicas; 48 e) foco inicial no aqui-agora, independente do diagnóstico psicológico. O terapeuta voltará sua atenção ao passado em três situações: quando não observar mudança cognitiva estando focado nos problemas atuais; quando o paciente insistir em falar do passado; ou quando o terapeuta precisar entender quando as idéias disfuncionais importantes se originaram e como se mantém até hoje. f) caráter educativo e ênfase na prevenção de recaída. Ensina o paciente a identificar, avaliar e responder seus pensamentos e crenças disfuncionais e projetar um plano de ação para que ele possa ser seu próprio terapeuta. g) duração de tempo limitado, com sessões semi-estruturadas. A contribuição da terapia comportamental cognitiva para o tratamento da dor consiste em enfatizar que a dor está intimamente relacionada com o que a pessoa acredita sobre o mundo e sobre si mesma (VANDENBERGHE, 2005). 2.3.4 Terapia cognitivo-comportamental no tratamento da dor 2.3.4.1.Tratamento cognitivo-comportamental Segundo Menegatti, Amorim e Avi (2005). “Entre todos os tipos de sensações, a dor é a única que envolve não só uma capacidade de identificação do início, duração, localização, intensidade, características físicas do estímulo inicial, como também inclui funções motivacionais, afetivas, cognitivas dirigidas a um comportamento pessoal de desprazer e aversão, dando, ao mesmo tempo, uma interpretação do estímulo em termos de experiências presentes e passadas”. Assim, os autores concluem que o conceito de dor é individual, sendo constituído através da vivência de cada um no meio sócio-cultural em que está inserido. 49 Para os autores Angelotti e Dotto (2005) pode-se considerar que o tratamento cognitivo – comportamental tem como foco ensinar o paciente a enfrentar e reduzir a dor, além de ensiná-lo a empregar técnicas cognitivas para rebater as crenças que dificultam a aceitação da responsabilidade no emprego de técnicas de enfrentamento e autogerenciamento, ou seja, crenças que impediriam uma participação ativa do indivíduo nesse processo. Conforme Beck (1997) ressalta, em primeiro lugar e antes de tudo, para realizar o empreendimento terapêutico é importante estabelecer uma boa relação de trabalho com o paciente (relação terapêutica), um procedimento terapêutico chamado de empirismo colaborativo. Paciente e terapeuta trabalham como uma equipe para avaliar as crenças do paciente, testando-as para verificar se estão corretas ou não e modificando-as de acordo com a realidade. Em segundo lugar, o terapeuta usa o questionamento socrático como um meio de guiar o paciente em um questionamento consciente que permitirá que este tenha um insight sobre seu pensamento distorcido, um procedimento chamado descoberta guiada. Em geral a avaliação inicial consiste em levantar a história completa de queixas sintomáticas, comportamentos associados, acontecimentos importantes de vida, infância história familiar e conjugal, médica tratamentos antiálgicos, abusos de substâncias, tratamentos prévios, estratégias de enfrentamento, etc. Nesse momento é de grande importância verificar os tipos de dor e as circunstâncias associadas, bem como sua localização corporal e possíveis desencadeadores passíveis de identificação. Os dados relatados pelo paciente devem ser reunidos de acordo com padrão e freqüência de ocorrência, duração e intensidade de cada tipo de dor. Com freqüência o paciente vai ter dificuldade em passar essas informações com exatidão, por isso é importante os auto-registros (permitem a identificação de acontecimentos manifestos e encobertos que precedem, acompanham e se seguem aos episódios de dor) para que se obtenha uma compreensão mais clara sobre os aspectos qualitativos, desencadeantes e mantenedores da dor (BECK 1999). Considerando a complexidade do fenômeno doloroso Tollison (1994), citado por Andrade (1998), recomenda avaliar os seguintes itens: 50 • Dimensão fisiológica: início, localização, duração, etiologia e síndrome. • Dimensão sensoperceptiva: intensidade, qualidade e padrão. • Dimensão afetiva: ansiedade,depressão,estado emocional. • Dimensão cognitiva: significado da dor, a visão de si mesmo sem e com a dor e os recursos adaptativos. • Dimensão psicossocial: comunicação e interação interpessoal, vida social e familiar, relação com o trabalho e a casa, interação e relação com a equipe multidisciplinar, recreação e lazer. • Dimensão comportamental: atividade física, comportamentos de dor, aceitação ou rejeição da terapêutica medicamentosa, intervenções da equipe multidisciplinar. • Dimensão sócio-cultural: influência etnocultural, fatores ambientais e influências sociais. A partir da coleta desses dados é possível desenvolver uma conceituação do caso, e assim elabora-se um plano de tratamento específico, no qual serão selecionadas as técnicas e tipos de intervenções a serem realizadas. Ao longo de todo tratamento, utiliza-se a abordagem colaborativa e psicoeducativa, com experiências específicas de aprendizagem desenvolvidas com o intuito de ensinar os pacientes a: a) monitorar e identificar pensamentos automáticos; b) reconhecer as relações entre cognição, afeto e comportamento; c) testar a validade de pensamentos automáticos e crenças nucleares; d) corrigir conceitualizações tendenciosas, substituindo pensamentos distorcidos por cognições mais realistas; e) identificar e alterar crenças, pressupostos ou esquemas subjacentes a padrões disfuncionais de pensamento. As sessões de Terapia Cognitivo Comportamental têm uma estrutura na qual o terapeuta desempenha um papel ativo para auxiliar o paciente a identificar 51 e focar em áreas importantes, propondo e ensaiando técnicas cognitivas e comportamentais específicas, e planejando colaborativamente tarefas entre as sessões. Um plano de tratamento para toda a terapia e a pauta para cada sessão são discutidos com o paciente. Albert Bandura (1969) afirmou que um dos os processos que controlam o comportamento pode ser definido como modelação: uma aprendizagem que se produz pela observação do comportamento de um modelo. Distingue-se da imitação, a qual conceitua como a expressão comportamental de uma modelação. Segundo Bandura, seres humanos adquirem uma parcela muito maior do seu repertório comportamental por modelação do que por modelagem. Aprendemos através da observação de modelos reais, bem como pela observação de modelos simbólicos. A modelação pode produzir efeitos diversos. Em primeiro lugar, ela permite a aquisição de novas respostas para o repertório individual. Em segundo, ela pode inibir ou desinibir respostas já existentes no repertório de um indivíduo. De acordo com esta perspectiva os comportamentos de dor podem ser adquiridos através da modelação. Em 1977, Albert Bandura, representante da teoria social cognitiva, introduziu o conceito de autoeficácia como sendo a crença que o indivíduo tem na sua capacidade para desempenhar um comportamento específico ou realizar tarefas futuras. Mais tarde, em 1997, o autor ampliou este conceito afirmando que as crenças de autoeficácia são as crenças que as pessoas têm em sua capacidade de organizar e executar cursos de ação necessários para alcançar determinados resultados. É papel ativo do terapeuta também, incentivar a auto-eficácia, o entusiasmo e a esperança com relação ao trabalho desafiador de alterar cognições mal adaptativas. Qualquer manifestação de resistência ao tratamento é lidada e tratada como crenças subjacentes disfuncionais. Bandura (1977) fez uma distinção entre expectativas de resultado e expectativas de eficácia. As primeiras dizem respeito à crença que um indivíduo tem de que um determinado comportamento conduzirá a certos resultados. Já expectativas de auto-eficácia referem-se à convicção que um indivíduo tem de que tem a habilidade ou capacidade de apresentar o dito comportamento e, assim, 52 alcançar aquele resultado. Para construir este senso de auto-eficácia, o terapeuta deve, gradualmente, propor tarefas em que o paciente com certeza poderá desempenhar para que assim ele o recupere ou o construa. Sendo assim, a autoeficácia percebida influencia a escolha do ambiente comportamental, ou seja, as pessoas tendem a evitar situações ameaçadoras que elas acreditam exceder suas habilidades de enfrentamento, mas elas se envolvem em atividades e se comportam confiantemente quando se julgam capazes de manusear as situações. A autoeficácia não só pode ter influência direta na escolha das atividades e dos ambientes, mas, mediante expectativas de sucessos eventuais, ela pode afetar os esforços de enfrentamento uma vez que foram iniciados. Quanto maior a autoeficácia percebida, mais ativos são os esforços. Ainda para o autor acima citado, as crenças de autoeficácia se originam e se alteram por meio de quatro fontes: experiência de domínio (êxito); experiência vicária; persuasão social e excitação emocional . As experiências de êxito são as mais influentes, já que o próprio indivíduo experimenta sucessos consecutivos realizando determinada tarefa, tornando-se confiante em seu desempenho para essa atividade específica. Uma vez estabelecida e aumentada, a autoeficácia tende a se generalizar para ouras situações semelhantes àquelas em que foi restaurada. As capacidades comportamentais também podem ser restauradas através da experiência vicária. Ver os outros desempenharem atividades consideradas ameaçadoras sem conseqüências adversas pode gerar expectativas nos observadores de que eles também melhorarão se intensificarem e persistirem em seus esforços. Dessa maneira, quando são mostrados os ganhos alcançados pelo comportamento de enfrentamento com esforço, minimiza para os observadores o impacto negativo da angústia temporária e demonstra que mesmo o mais ansioso pode ser bem-sucedido pela perseverança (BANDURA, 1977). O conceito de auto-eficácia pode ser aplicado a uma variedade de condições de saúde, incluindo a de dor. Estudos sobre auto-eficácia e dor mostraram que as crenças de auto-eficácia relacionam-se com incapacidade, tolerância à dor, manifestação de comportamentos dolorosos e sintomas depressivos (LITT, 1988; CIPHER; FERNANDEZ, 1997). 53 2.3.4.2.Técnicas Cognitivo – Comportamentais Segundo Salvetti e Pimenta ( 2007 ) a Teoria Cognitivo-Comportamental é a mais estudada e divulgada na área do cuidado ao doente com dor e tem enfatizado a importância de se conhecer e atuar nos pensamentos, emoções, comportamentos e atitudes dos doentes, buscando contribuir para o controle da dor, bem-estar e ajustamento dos indivíduos. Crenças são idéias consideradas pela pessoa como verdades absolutas. São noções pré-existentes sobre a natureza da realidade que formam a percepção de nós mesmos, dos outros e do ambiente. As crenças influenciam o doente na percepção e expressão da dor, em como lidar com ela e no manejo do tratamento. Crenças disfuncionais sobre dor e seu controle não são artefatos da experiência que desaparecerão sem ação específica. Se verdadeiras ou falsas, adaptativas ou mal adaptativas, as crenças podem se tornar a realidade interna que controla o comportamento do paciente (SALVETTI; PIMENTA, 2007). 2.3.4.3. As técnicas e estratégias para o manejo da dor incluem: • Informação dos resultados obtidos na avaliação inicial – a compreensão por parte do paciente sobre seu problema dentro da perspectiva cognitivo -comportamental, e a explanação de uma relação lógica deste com os procedimentos a serem aplicados, ajuda para que o paciente se sinta motivado, assim como para que ele participe ativamente desse processo, aderindo com mais confiança nas medidas terapêuticas. É importante também trabalhar no sentido de auxiliar o paciente a aceitar a dor, pois segundo Hayes (citado por Martins e Vandenberghe, 2006) aceitar sentimentos aversivos pode aumentar a capacidade de agir e auxilia a configurar um contexto de mudança. 54 • Proposição do uso do relaxamento progressivo – a dor pode levar a uma contração muscular, disparando sentimentos de raiva e ansiedade, aumentando ainda mais a sensação de dor no paciente (WHITE, 2001). A tensão diária faz com que, a longo prazo, os pacientes diminuam a capacidade de distinguir quando estão tensas ou relaxadas. Para os autores Souza, Forgione e Alves (1999) os métodos de tratamento não-medicamentosos para síndromes dolorosas se concentram nas intervenções comportamentais, tais como o relaxamento, cujos efeitos têm sido satisfatórios. O processo de relaxamento contribui para que o paciente corrija o que está errado em suas relações com seu corpo suas próprias emoções. É uma oportunidade de reorganizar e reintegrar o que é percebido como desestruturado. A calma, conseqüente do relaxamento, e o bem-estar obtido podem mediar esse momento de reflexão para que o paciente redimencione o significado da dor em sua vida e reintegre a seu corpo as partes que estão doentes. As várias modalidades de técnicas de relaxamento se constituem em um importante meio para que o paciente obtenha: regulação de seu tônus muscular, liberação de uma energia, até então consumida por uma dinâmica corporal caracterizada por pontos dolorosos ou bloqueios musculares, reintegração das partes doentes a sua imagem corporal, isto é, àquela representação que formou de seu corpo ao longo da vida, identificação e assimilação de conteúdos que lhe possibilitem um comportamento novo e mais adaptado. As técnicas de relaxamento constituem um conjunto de procedimentos úteis na psicologia aplicada a hospitais para alívio da dor. Deve–se fazer no plano de tratamento da dor, o treino de relaxamento muscular progressivo, acompanhado da respiração diafragmática. Pede-se que o paciente faça uma sequência de contrações e relaxamentos em várias partes do corpo. A tensão muscular pode potencializar a dor no paciente (PEREIRA, 2007). De forma geral o relaxamento contribui ao reduzir e controlar a tensão muscular, ajudando também no controle de outros mecanismos fisiológicos envolvidos no estímulo do sistema nervoso e na produção da dor, além de reduzir a ansiedade, melhorar o sono e a distração do doente. • Engajamento em atividades sociais e de lazer – essas atividades proporcionam no paciente um maior sentimento de auto-eficácia, pois diminui a percepção da dor como sua parceira, ao mesmo tempo que reduz o tempo durante o 55 qual o paciente se sente inativo, além de propiciar distração. É importante porque auxilia no processo de redefinir outras fontes de estimulação, colocando a dor como um ponto menos central na vida do sujeito (SALVETTI;PIMENTA,2007). • Realização de exercícios físicos – apesar do desconforto que proporcionam eles diminuem a dor e favorecem a força, a flexibilidade, a resistência e o tônus muscular. Dentre os benefícios psicológicos percebe-se aumento das sensações de autocontrole, independência e auto-suficiência, melhora na imagem corporal e auto-estima além de propiciar catarse emocional, diminuição de níveis gerais de estresse e alívio de depressões leves. Através de exercícios, o paciente pode aprender a identificar emoções negativas relacionadas com a dor e com eventos estressantes e reconhecer pensamentos disfuncionais e vieses cognitivos associados a elas. Com exercícios ele pode ganhar melhor controle sobre os processos simbólicos relacionados com a experiência e o manejo da dor (TURK; MEINCHENBAUM;GENEST,1983). • Reforço diferencial de comportamento adequado – é a aplicação de estímulos reforçadores aos comportamentos do paciente que não sejam de fuga ou esquiva frente à dor. Nessa técnica em específico, é de fundamental importância a colaboração dos cuidadores, pois o paciente não deve ser considerado incapaz de realizar as atividades (SALVETTI;PIMENTA,2007). • Desenvolvimento de habilidades sociais e treino assertivo – essas habilidades permitem ao paciente se expressar melhor frente a situações sociais de modo a solucionar os problemas destas situações antes que eles se tornem excessivamente ansiógenos, o que diminui de forma imediata a sensação de dor, mas que de forma mais ampla melhora a qualidade de vida social do paciente. Em outras palavras, auxilia o paciente a desenvolver comportamentos adequados para se expressar, evitando assim que ele mantenha a dor como um meio de expressão e evitação de situações em que ele se avalia incapaz de resolver, o que permitirá uma mudança positiva na sua percepção sobre si (JURUENA, 2001). A modelação é uma técnica de habilidade social onde o paciente é submetido a situações cujo objetivo é fazer com que ele observe o próprio terapeuta servir de modelo. ( DELL’AGLIO JÚNIOR e cols., 2003) 56 • Distração – a técnica da distração tem como função, segundo Angelotti (2004), reduzir temporariamente quase todas as formas de pensamentos e/ou sentimentos inadequados. O autor prossegue explicando que a estratégia consiste em modificar o foco de atenção do paciente para situações do próprio ambiente que possam ser mais agradáveis do que o evento aversivo. O paciente passa a perceber, que os sintomas e pensamentos desagradáveis são atenuados quando este se encontra distraído. • Reestruturação cognitiva – permite ao paciente identificar e modificar pensamentos que afetam seu humor e conseqüentemente seu estado físico. Dessa forma, essa técnica visa habilitar o indivíduo a lidar com emoções negativas, situações estressantes, pensamentos mal adaptativos, etc (CLARK;WELLS,1995). • Imaginação dirigida – segundo Freeman e Dattilio (1998), o fato de muitos indivíduos experimentarem sonhos e imagens negativas indica que o poder da imagem é forte. O terapeuta pode ajudar o paciente a mudar o rumo desses sonhos e imagens negativos para cenas de enfrentamento bem sucedidas. É importante sempre aliar a imagística com a proposição verbal, ou seja, fazer o paciente imaginar cenas e elaborar verbalizações sobre elas. Isso permite ao paciente criar novos sentidos para cenas armazenadas em sua memória. A imaginação dirigida tem se mostrado útil nos casos de dor principalmente quando aplicadas em pessoas que não conseguem usar suas imaginações espontaneamente. Permite um contato cada vez mais íntimo com as imagens interiores e com processos de transformações envolvidas. • Utilização do biofeedback: o biofeedback é um aparelho que identifica o nível emocional ou de stress de um indivíduo pelo uso de sensores corporais que detectam com precisão e instantaneamente informações fisiológicas como a respiração, batimento cardíaco, sudorese, atividade cerebral, tensão muscular, entre outras. Estes dados são disponibilizados de modo visual ou sonoro no aparelho ou em um computador. O biofeedback juntamente com técnicas específicas de controle emocional já vem sendo utilizado no tratamento de dor por fornecer dados concretos que facilitam a detecção do estado de ansiedade do paciente (BORALLI e cols. 2003). 57 Aliviar o sofrimento da pessoa doente constitui-se no dever ético e prático das profissões inseridas na saúde, orientadas pela concepção da humanização do cuidar. É necessário considerar que aspectos psicológicos e sociais da doença e da incapacidade física se estendem às bases do comportamento humano, levando o ser humano a variações no processo adaptativo ( BARROS, 2003 ). O objetivo é o sujeito, e não a situação. O interesse do Psicólogo está na forma como o sujeito vive e experimenta o seu estado de saúde ou de doença, na sua relação consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Fazer com que as pessoas incluam no seu projeto de vida um conjunto de atitudes e comportamentos ativos que as levem a promover a saúde e prevenir a doença, além de otimizar técnicas de enfrentamento no processo de ajustamento ao adoecer, à doença e às suas eventuais conseqüências, de tal modo que seja possível, apesar de tudo, ter uma vida ativa e participante ( BARROS, 2003 ). A influência mútua entre pensamento, comportamento, emoção e dor, estabelecida pela Teoria Cognitivo-Comportamental, é enfatizada nos programas educativos com doentes com dor crônica. Visa-se que o doente compreenda que dor é um comportamento socialmente aprendido e reforçado pela interação do indivíduo com o meio ambiente, que ele não é receptor passivo de informações e que pode aprender ou reaprender comportamentos mais adaptativos, isto é, que tragam maior funcionalidade e bem-estar. Atua-se para que os doentes compreendam que os pensamentos (atitudes, expectativas, crenças, entre outros) podem afetar os processos psicológicos, influenciar o humor, determinar comportamentos e ter conseqüências sociais. Atua-se, também, para que aprendam que a emoção, o ambiente social e os comportamentos podem influenciar os processos de pensamento. Doentes com dor crônica, por exemplo, apresentam com freqüência, pensamentos catastróficos, com ênfase nos aspectos negativos e generalizantes, entre outros erros cognitivos. Nesses programas, o doente dialoga, reflete e aprende a reconhecer os efeitos mútuos da dor sobre seu comportamento, pensamento e emoção. Aprende a identificar seus pensamentos e crenças disfuncionais, a procurar evidências que sustentem suas concepções, a debater suas crenças e a investigar alternativas de conceitos e de atribuição de significados. Aprende também novas técnicas comportamentais 58 para o enfrentamento da dor, frequentemente relacionadas à resolução de problemas. Conforme (Caballo,1999), a resolução de problemas pode ser dividida em vários passos: o primeiro implica uma definição clara do problema. A avaliação das soluções propostas pelo paciente é realizada na fase seguinte à solução de problemas, na qual o terapeuta e o paciente examinam cuidadosamente as vantagens e desvantagens de cada resolução. Após a fase de avaliação, o paciente escolhe uma solução eleita. Ele e o terapeuta discutem seu grau de eficácia, se necessita de mudanças ou se outra solução deveria ser tentada. De acordo com o progresso da terapia, é o próprio paciente que faz uma ativa resolução de problemas. Para Beck (1997:2000), muitos pacientes possuem habilidades para resolver problemas. Apenas precisam de ajuda para testar as crenças disfuncionais que impedem esse processo. O objetivo da terapia cognitivo-comportamental no tratamento da dor visa à retirada ou substituição de comportamentos que agravam os mesmos, aceitação da doença, modificações de padrões de pensamentos distorcidos, do tipo pessimismo e catastrofização, introdução e manutenção de hábitos de vida saudáveis retomadas de atividades sociais e profissionais, dentre outros gerando resultados positivos no tratamento da dor. (Bennet, 2002). Os familiares também devem ser orientados sobre relações, comportamento doloroso, crenças, emoção e ambiente. É muito importante que participem das atividades educativas. Devem ser alertados sobre não reforçar conceitos e comportamentos disfuncionais, especialmente os de incapacidade, e a estimular e reforçar comportamentos saudáveis (PIMENTA, 2001). Assim, ainda para Pimenta (2001), ações suporte que os psicólogos desenvolvem junto aos doentes com dor, referem-se a reconhecer sua frustração e sofrimento com a evolução do quadro, e, principalmente, a apoiá-los nas busca de modos mais adaptativos de pensar e de se comportar diante da dor. Visam amparar o doente no processo de compreensão de que continua tendo uma vida, apesar da dor. Essas modificações são lentas, demandam reflexão e muita energia pessoal, modificação da dinâmica familiar, das condições ambientais e, às vezes, da atividade profissional. 59 3 MÉTODO 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA O presente trabalho de pesquisa buscou compreender teoricamente a intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental em casos de dor nos pacientes internados em Hospital Geral, a partir de uma revisão de literatura. Desta forma, definiu-se esta pesquisa como um estudo exploratório, de abordagem qualitativa que apresenta um delineamento de pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas ( GIL, 1991 ). Quanto à natureza qualitativa desta pesquisa, Chizzotti (2000) afirma que pesquisas dessa natureza caracterizam-se pela existência de uma “relação dinâmica” entre o mundo objetivo e o subjetivo, no qual o indivíduo atribui significados aos dados da realidade. De acordo com Gil (2002), os estudos exploratórios têm por objetivo tornar o problema mais explicito, ou seja, explorar com mais familiaridade o problema. Grande parte das pesquisas exploratórias envolve um levantamento bibliográfico. Para a coleta e tratamento das informações, privilegiou-se a forma qualitativa. A coleta de dados qualitativos desta pesquisa se processou através de artigos científicos. Dessa forma, foram definidas previamente as informações mais relevantes, antes de se iniciar a pesquisa bibliográfica. O essencial, na coleta de dados qualitativos, é a sua representatividade. Não há necessidade de definir uma amostra, pois importante é o significado de uma informação para situação avaliada, 60 e não a quantidade de informantes que a repete ou o número de vezes que ela aparece. 3.2 FONTE DAS INFORMAÇÕES As fontes utilizadas nesta pesquisa foram identificadas através de um levantamento bibliográfico .Estas fontes foram retiradas de bases de dados online: Google acadêmico. O método de procedimento utilizado foi para fins monográficos, que serviram como meio de verificar a atuação da Terapia Cognitivo Comportamental como ferramenta de tratamento da dor, e a possibilidade de sua utilização com pacientes internados em Hospital Geral. A pesquisa teve como foco principal bibliografias sobre o assunto, que tem como método de abordagem a Terapia Cognitivo Comportamental no tratamento da dor, bem como a hospitalização, pois foi nesse sentido que desejouse um aprofundamento, para se poder chegar ao fim com respostas aos objetivos levantados no corpo do trabalho. Acesso ao link Google – www.google.com.br, como mostra na figura 1; Figura 3: Página principal – Google 61 3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS A fonte de informação desta pesquisa foi a rede mundial de computadores, ao qual se procurou artigos publicados no buscador – Google acadêmico. Os procedimentos para a coleta de dados foram os seguintes: Busca por Google acadêmico, como mostra a figura 2; Figura 4: Busca por – Google acadêmico Através do buscador, as obras foram identificadas a partir dos seguintes descritores: terapia cognitivo comportamental, hospital, dor, procedimentos e resultado, de uma só vez, conforme indica a figura 3: Figura 5: Busca de artigos por descritores – Google acadêmico 62 Com a identificação dos artigos, estes foram selecionados para leitura dos resumos e na integra quando esta se fez necessário, como indica a figura 4: Figura 6: Artigos selecionados por descritores. Foi selecionado através de leitura para verificação de cientificidade e coerência com os descritores, um total de 9 artigos, cujo levantamento bibliográfico dos artigos compreendeu o período de 2001 até 2008. Em seguida os artigos foram analisados conforme demandam os objetivos específicos como: intervenção da terapia cognitiva comportamental/hospital, intervenção da terapia cognitiva comportamental/dor e intervenção da terapia cognitiva comportamental/resultados/procedimentos/dor. Conforme indica a tabela 1. Tabela 1: Objetivos específicos: terapia cognitiva comportamental/dor e intervenção da terapia cognitiva comportamental/resultados/procedimentos/dor. Autor(es) Título do artigo Periódicos Ano CHAVES, Lucimara Duarte & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Controle da dor pósoperatória: comparação entre métodos analgésicos Rev Latinoam Enfermagem 2003 marçoabril; 11(2):215-9 2003 MOTA, Dálete Delalibera Corrêa de Faria & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos XAVIER, Thaiza Teixeira et al Fadiga em pacientes com câncer avançado: conceito, avaliação e intervenção Revista Brasileira de Cancerologia, 2002, 48(4): 577-583 2002 Dor pós-operatória: características quanti-qualitativa relacionadas a toracotomia pósterolateral e esternotomia Acta Cirúrgica Brasileira Vol 20 - Supl no 1 2005 2005 Objetivo do artigo Descritor (palavra-chave) Comparar o alívio da dor, a ocorrência de efeitos colaterais, o consumo de analgésicos, regular e complementar, e os custos do tratamento álgico em doentes submetidos a analgesia pósoperatória. Analisar o conceito, a prevalência e os fatores relacionados à fadiga, e identificou os métodos de avaliação e os meios de intervenção para o manejo desse sintoma. terapia cognitiva comportamental/ho spital/dor/intervenç ão/resultados Analisar a intensidade e características da dor em pacientes submetidos a toracotomia pósterolateral (TPL) e esternotomia (EST). terapia cognitiva comportamental/ho spital/dor/intervenç ão/resultados terapia cognitiva comportamental/ho spital/dor/intervenç ão/resultados 63 SALVETTI, Marina de Góes & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Dor crônica e a crença de autoeficácia Rev. esc. enferm. USP vol.41 o.1 São Paulo Mar. 2005 Revisar a crítica da literatura sobre a crença de auto-eficácia relacionada à dor crônica e sobre os métodos para sua avaliação. terapia cognitiva comportamental/ho spital/dor/intervenç ão/resultados LIMA, Luciano Ramos de et al Controle da dor no pós-operatório de cirurgia cardíaca: uma breve revisão Revista Eletrônica de Enfermagem2 008;10(2):521 -529 2008 terapia cognitiva comportamental/ho spital/dor/intervenç ão/resultados MAZUTTI, Sandra Regina Gonzaga & KITAYAMA, Marcela Mayami Gomes Psicologia hospitalar: um enfoque em terapia cognitiva Rev. SBPH v.11 n.2 Rio de Janeiro dez. 2008 Identificar as terapêuticas analgésicas para controle da dor no pós-operatório de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca e os instrumentos utilizadospara mensurar a experiência dolorosa. Apresentar a aplicabilidade da Terapia Cognitiva (TC) em pacientes internados em Hospital Geral. SOARES, Vera de Araújo & FIGUEIREDO, Margarida Dor: a hidra de sete cabeças. Rev. Portuguesa de Psicossomáti ca, jul-dez, ano/vol.3, número 002 2001 Dar uma panorâmica da diversidade das situações dolorosas apresentadas pelos utentes de uma consulta de dor. terapia cognitiva comportamental/ho spital/dor/intervenç ão/resultados VANDENBERGH E, Luc Abordagens comportamentais para a dor crônica Psicologia: Reflexão e Crítica, 2005, 18(1), pp.4754 2005 terapia cognitiva comportamental/ho spital/dor/intervenç ão/resultados MIYAZAKI, M. Cristina O. S. et al Psicologia da saúde: extensão de serviços à comunidade, ensino e pesquisa Psicol. USP vol.13 no.1 São Paulo 2002 Traçar quatro grandes eixos teóricose a relação que cada um tem com o problema da dor crônica. Sãoeles a Terapia Comportamental Clássica, a Terapia CognitivaComportamental, a Análise Aplicada do Comportamento e a AnáliseClínica do Comportamento. Estes quatro eixos são propostos comoreduções prototípicas das correntes que caracterizam a atuação clínica. Descrever o desenvolvimento e estágio atual do Serviço de Psicologia do Hospital de Base da FAMERP, iniciado em 1981 com a contratação de uma psicóloga para atuar na enfermaria de Pediatria. terapia cognitiva comportamental/ho spital/dor/intervenç ão/resultados terapia cognitiva comportamental/ho spital/dor/intervenç ão/resultados Fonte: Autora. Como instrumento de acesso, o buscador Google se fez necessário como recurso à realização desta pesquisa – um computador, assim como o acesso á rede de internet e recursos adicionais, como: material para anotações e armazenamento dos dados coletados. 64 3.4 - PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS Segundo Gomes (2002), a técnica da análise de dados pode ser aplicada em pesquisas qualitativas e quantitativas. E foi através do método qualitativo que se encontrou resposta para responder o problema desta pesquisa. As obras encontradas, a partir desses descritores, foram selecionadas a partir dos resumos dos artigos. Depois desta depuração realizou-se uma leitura de cada obra selecionada encontrou-se nove obras cujos resumos apresentavam termos relevantes para esta pesquisa. A escolha das fontes exploradas, quanto a seleção por resumo, sumário e na leitura literal, foi realizada com base nos objetivos geral e específicos propostos nesta pesquisa. Além deste critério, utilizou-se a cientificidade das informações, bem como sua clareza e especificidade acerca dos temas propostos. As descrições foram agrupadas, de acordo com os objetivos específicos, em três grupos, cada um contendo as descrições que contemplassem as discussões pertinentes ao seu objetivo. A análise foi realizada a partir de tais descrições. Inicialmente foram analisadas as descrições das obras relativas a cada objetivo específico em separado. A pesquisadora fez a leitura do material selecionado para compor as categorias de análise, ou seja, características comuns entre si, estando ligada á idéia de classe ou série com o intuito de estabelecer classificações (GOMES, 2002). Em seguida foi feita a organização do material a ser analisado, de acordo com os objetivos propostos, ao qual foi selecionado um total de 9 artigos, conforme indica a tabela 5 apresentado no apêndice. 65 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS: Neste capítulo serão apresentados os dados da pesquisa, bem como análise dos mesmos, com base na fundamentação teórica deste trabalho. Os trechos dos artigos pesquisados estão expostos de forma literal. A partir destes trechos, foram estabelecidas as categorias que correspondessem aos objetivos específicos desta pesquisa. As categorias, com as respectivas subcategorias elaboradas, estão apresentadas em tabelas de análise, conforme os artigos. Sendo assim, este capítulo de apresentação e análise de dados está dividido conforme os objetivos específicos: a) Intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental/hospital geral; b) Intervenção da terapia Cognitivo Comportamental/dor; c) Resultados/ Procedimentos da Terapia Cognitivo Comportamental/dor. Com relação ao primeiro objetivo específico – intervenção da terapia cognitivo comportamental/hospital - foi observado que as subcategorias formavam as seguintes categorias conforme indica a tabela 2: Tabela 2: Categorias e Subcategorias – intervenção da terapia cognitivo comportamental/hospital. Categorias Subcategorias Relaxamento muscular Distração Imaginação dirigida Biofeedback Técnicas e estratégias Resolução de problemas terapêuticas no hospital Relaxamento geral Modelação Estabelecimento de metas Estratégias de mudança cognitiva, afetiva e comportamental Foco nas emoções Reestruturação cognitiva Interdisciplinaridade Características Associação com outras intervenções terapêuticas da intervenção terapêutica Intervenção psicoterapêutica Caráter educativo Terapia breve Foco no presente Aplicabilidade no hospital geral Fonte: Autora. Segundo demonstra o gráfico 1, foram encontradas 17 subcategorias para o objetivo específico – a) intervenção da terapia cognitivo comportamental/ hospital geral. 66 Gráfico 1: Freqüência das subcategorias – intervenção da terapia cognitivo comportamental/hospital Fonte: Autora. As categorias referentes ao objetivo específico, a) intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental/hospital geral, serão descritas a seguir com as respectivas subcategorias, ficando então dividido da seguinte maneira: 4.1 Técnicas e estratégias terapêuticas no hospital geral 4.2 Interdisciplinaridade 4.3 Características da intervenção psicoterapêutica 4.4 Intervenção psicoterapêutica 67 4.1 TÉCNICAS E ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS NO HOSPITAL GERAL Nesse contexto encontramos a Terapia Cognitivo Comportamental na busca de técnicas que aumentem a capacidade do paciente em lidar com a hospitalização e a dor. Albert Bandura, com a Teoria da Aprendizagem Social, afirma que a capacidade humana de pensar é justamente o que diferencia o comportamento das pessoas. Isso ocorre, segundo o referido autor, devido aos processos cognitivos relacionados à aprendizagem. (CLONINGER, 2003). SOARES, Vera de Araújo & FIGUEIREDO , Margarida Peters e Large ( 1990 ), selecionaram pacientes internados para programa com orientação cognitiva comportamental. Incluía treino de relaxamento, reestruturação cognitiva, distração, terapia individual, gestão da medicação e reforço de comportamentos saudáveis. Os resultados indicaram que os pacientes internados apresentavam níveis mais elevados de bem estar psicológico, menos comportamento de dor e menos limitações relacionadas com a saúde. Philips ( 1987 ), utilizando uma amostra de doentes com dor, em ambulatório, os quais submeteu a uma intervenção cognitiva-comportamental, utilizou-se de nove sessões que envolviam treino de relaxamento, estabelecimento de objetivos, redução da medicação, treino de estratégias de coping aumento gradual da atividade e lidar com emoções como a ansiedade e a depressão Modelação Bandura trabalhou sobretudo com as técnicas de modelação, como uma importante estratégia para a mudança do comportamento. Assim, para uma modelação efetiva, desenvolveu a auto-eficácia em sua teoria, em que é trabalhada com o paciente a sua capacidade de acreditar que poderá desempenhar um determinado comportamento. Como Bandura considera que a modelação é a forma que originalmente se aprende um determinado comportamento, também pode ser um modo eficaz para reaprender ou modificar um comportamento no paciente hospitalizado. A investigação das crenças, atitudes e conhecimentos que o paciente possui sobre a dor, quais expectativas trazem, quais medos e fantasias expressam é fundamental para minimizar desinformação e esclarecer conceitos errôneos, visto que estes podem contribuir para a manutenção do quadro de dor e inadequado manejo da dor. A história familiar relacionada à expressão e manejo da queixa dolorosa pode contribuir para a identificação de “modelo” culturalmente aprendido de experienciar e relatar dor. 68 LIMA, Luciano Ramos de et al As terapias não farmacológicas em pacientes internados, ou seja, as físicas e cognitivo-comportamentais, incluem um conjunto de medidas de ordem educacional, física, emocional e comportamental, capazes de ativar os centros supra-segmentares responsáveis pela dimensão sensitivodiscriminativa da experiência dolorosa, estimulando, portanto, o sistema supressor de dor Caráter Educativo Estratégias de mudança cognitiva, afetiva e comportamental Os procedimentos e técnicas da terapia cognitivo-comportamental promovem ganhos na diminuição do impacto da hospitalização na vida dos pacientes. Assim a psicoterapia cognitivo-comportamental pode vir a auxiliar no tratamento. Baseado no modelo da Terapia Cognitivo Comportamental, o objetivo principal do tratamento em paciente hospitalizado é focalizar o papel das cognições, emoções e comportamentos nos sintomas e sinais da patologia. Para Judith Beck (1997),os procedimentos de avaliação determinarão como o tratamento deverá ser conduzido para cada paciente, propondo estratégias de mudança cognitiva, afetiva e comportamental. VANDENBER GHE, Luc A contribuição da terapia comportamental cognitiva para a clínica da dor crônica , em pacientes internados, consiste em enfatizar que a epistemologia pessoal do paciente é uma variável relevante. Ela aponta que a dor está intimamente relacionada com o que a pessoa acredita sobre o mundo e sobre si mesma. Para o clínico, o mais importante é entender que a interpretação que o paciente faz da sua experiência é um alvo válido de intervenção terapêutica. MIYAZAKI, M. Cristina O. S. et al Um repertório comportamental que auxilie paciente e familiares a enfrentar de forma positiva o tratamento envolve, por exemplo, a participação ativa no processo de tratamento, a mudança de cognições prejudiciais e o desenvolvimento de estratégias adequadas de enfrentamento e manejo da dor. Reestruturação Cognitiva Relação terapêutica colaborativa Reestruturação cognitiva Dentre as estratégias utilizadas está também incluída a reestruturação cognitiva: que consiste na análise de pensamentos que afetam o humor ou o estado físico do paciente. O objetivo é, após pensar sobre o problema, conseguir relacionar erros de interpretação da realidade ou, ainda, detectar falta de lógica no conteúdo dos pensamentos realizados àquela situação (ANGELOTTI; FORTES, 2007). MAZUTTI, Sandra Regina Gonzaga & KITAYAMA, Marcela Mayami Gomes Frente à realidade vivida dentro dos hospitais, onde a demanda de atendimento psicológico é grande, com necessidade de resolução rápida, a TC tem-se mostrado eficaz, tanto na sua aplicabilidade como nos resultados obtidos. Isto se deve às próprias características da TC com relação a ser uma terapia breve, focada no problema, de forma estruturada, com resolução de problemas e flexibilidade de pensamentos e crenças disfuncionais. O terapeuta busca produzir a mudança cognitiva dos pensamentos e crenças dos pacientes, com objetivo de mudança emocional e comportamental.A terapia cognitiva ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder seus pensamentos e crenças disfuncionais. A TC baseia-se no modelo cognitivo, que levanta a hipótese de que as emoções e comportamentos das pessoas são influenciados por sua percepção dos eventos Foco no problema Resolução de problemas Caráter educativo Reestruturação Cognitiva Estratégias de mudança cognitiva, afetiva e comportamental 69 Para Beck (2007), o foco no problema busca modificar a relação da pessoa com o meio externo, enfatizando o contato com a patologia. A focalização no problema pode ser correspondente, por exemplo, à reestruturação cognitiva ou à busca por informações acerca da patologia, caracterizando-se pela objetividade do indivíduo diante da doença. O foco na emoção enfatiza a resposta emocional a patologia, visando reduzir a sensação desagradável da doença. CHAVES, Lucimara Duarte & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Dentre as principais técnicas não farmacológicas, temos as terapias físicas (aplicação de calor e frio, massagem, estimulação elétrica transcutânea e acupuntura), que, por meio da ativação do sistema sensitivo-discriminativo, estimulam o sistema supressor de dor, e técnicas cognitivo-comportamentais (relaxamento, técnicas de distração, imaginação dirigida, biofeedback) que, possivelmente, promovem relaxamento muscular, distração da atenção e sugestão, o que interfere na apreciação do estímulo doloroso pós operatório. Relaxamento muscular Distração Imaginação dirigida Biofeedback Os autores Chaves e cols. (2003), assim como Soares e Figueiredo (2001), propõem que as técnicas de recondicionamento psicofísico, também chamadas de relaxamento, venham a ser empregadas no contexto do tratamento de pacientes hospitalizados. Por meio delas, procura-se o restabelecimento do tônus muscular dos indivíduos e promover uma melhora na qualidade de vida, uma vez que oferecem, por conseqüência, bem-estar físico e mental. O relaxamento muscular pode ser útil no manejo da dor. Em pacientes internados em hospital, com dor crônica, por exemplo, o treino em relaxamento pode auxiliar na redução do estresse frente às crises por reforçar neles uma maior sensação de controle, ao invés do sentimento de vulnerabilidade, pois propicia uma forma eficaz de lidar com a hospitalização e com a dor (BARROS , 2003). O estudo demonstrou também relação entre distração e alívio da dor na hospitalização. Conforme Angelotti (2004), a distração consiste na mudança do foco de atenção para outras situações que podem ser agradáveis e disponíveis no próprio ambiente podendo ocorrer a partir disto o engajamento em atividades que “concorram” com o estímulo aversivo (no caso do presente trabalho, a dor). É bastante utilizada em momentos agudos de dor, e auxilia o paciente hospitalizado a combater crenças sobre a falta de controle nas situações em que o sintoma aparece. A imaginação dirigida é estimulada pelo próprio terapeuta, sugere-se uma maneira de exercitar as habilidades imaginativas, deixando claro que as 70 imagens interiores existem e que não é tão difícil percebê-las. A hospitalização pode fazer o paciente adquirir novos comportamentos, muitas vezes, o paciente tende a ter pensamentos mais negativos, e provavelmente perceba que esteja impedido da realização de uma série de atividades que antes praticava, sejam essas atividades ligadas à vida profissional ou pessoal (FREEMAN; DATTÍLIO,1998). Uma outra estratégia da Terapia Cognitivo Comportamental é o treino de biofeedback (auto-regulação psicofisiológica), com o auxílio do equipamento de biofeedback, o paciente recebe informações sobre quais componentes do sistema nervoso que estão ou não relaxados, aumentando a sua percepção do relaxamento total (NETO, 2007). Na resolução de problemas, com estratégias passo a passo, o paciente traduz cada problema em metas tangíveis. Como componente básico da intervenção o paciente é estimulado a treinar cognitivamente, nas diversas situações as estratégias de resolução aprendidas e desenvolve planos de ação. Neste sentido é importante que o paciente seja um elemento ativo em seu tratamento e que o estabelecimento de metas sejam estabelecidas entre o psicólogo e o paciente. As estratégias de resolução de problemas podem incluir : identificação dos pensamentos negativos, interrupação do pensamento irracional, construção e repetição de afirmações positivas, prevenção de recaídas envolvendo pensamentos catastróficos, viabilização de meios para estimular e aumentar suporte social. 4.2 INTERDISCIPLINARIDADE A abordagem cognitivo comportamental baseia-se no enfoque cognitivo, segundo a qual afetos e comportamentos são determinados pelo modo com que o indivíduo estrutura seu mundo. Essa teoria tem como paradigma conceitual a relação entre as variáveis ambientais, o processamento cognitivo, os afetos e os 71 comportamentos, e, neste modelo considera-se que os pensamentos modulam e mantêm as emoções disfuncionais, independentes de suas origens. O tratamento de pacientes com dor exige, além do uso de analgésicos e procedimentos apropriados, a reabilitação das incapacidades física, psicológica e social que acompanham estes casos, necessitando do trabalho conjunto de diferentes especialidades. XAVIER, Thaiza Teixeira et al Medidas adequadas para o alívio da dor aguda pós-operatória de acordo com a classificação obtida em cada avaliação da percepção dolorosa,sendo desta forma realizada uma abordagem farmacológica através de analgésicos e anestésicos, associada a condutas não farmacológicas, através de terapias físicas e técnicas cognitivo-comportamentais. Associação com intervenções terapêuticas outras Segundo Miranda (2009),em seu trabalho junto ao paciente internado, o psicólogo no hospital, favorece a comunicação equipe-paciente-família, promovendo a busca de soluções criativas no processo de adaptação e readaptação. Como elemento integrante da equipe, através da associação com outras intervenções, participa de procedimentos nas mais variadas situações que se relacionam à complexidade dos fatores psíquicos que emergem durante o processo de tratamento da doença física, buscando a humanização do atendimento dentro da instituição hospitalar. SALVETTI, Marina de Góes & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Avaliou-se a auto-eficácia de doentes submetidos à terapêutica que combinou tratamento médico e terapia cognitivacomportamental. Observou-se que crenças de auto-eficácia estavam associadas à funcionalidade e à resposta ao tratamento. Os pacientes com altos escores de auto-eficácia, após o tratamento se consideraram melhor, demonstraram melhor funcionalidade geral e redução dos comportamentos de doente (dependência etc.. ). Neste contexto,segundo Bennet (2002) Associação com intervenções terapêuticas a Terapia outras Cognitivo Comportamental não deve ser vista somente como um meio de alívio da dor na hospitalização, mas também e principalmente um instrumento de reestruturação cognitiva promotor de bem-estar e qualidade de vida dos pacientes. Ela consiste em um tipo de terapia que foca a atenção na forma como o paciente se comporta e na maneira como pensa. 72 4.3 CARACTERÍSTICAS DA INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA A Terapia Cognitivo Comportamental aplicada aos pacientes internados em hospital constitui-se de uma terapia breve. É estruturada e orientada no presente , sendo direcionada à resolução de problemas atuais e na modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais. (J. BECK, 2000). MAZUTTI, Sandra Regina Gonzaga & KITAYAMA, Marcela Mayami Gomes Frente à realidade vivida dentro dos hospitais, onde a demanda de atendimento psicológico é grande, com necessidade de resolução rápida, a TC tem-se mostrado eficaz, tanto na sua aplicabilidade como nos resultados obtidos. Isto se deve às próprias características da TC com relação a ser uma terapia breve, focada no problema, de forma estruturada, com resolução de problemas e flexibilidade de pensamentos e crenças disfuncionais. O terapeuta busca produzir a mudança cognitiva dos pensamentos e crenças dos pacientes, com objetivo de mudança emocional e comportamental.A terapia cognitiva ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder seus pensamentos e crenças disfuncionais. A TC baseia-se no modelo cognitivo, que levanta a hipótese de que as emoções e comportamentos das pessoas são influenciados por sua percepção dos eventos Terapia Breve Caráter educativo Ela possui, entre outras características,conforme Judith Beck (1997), caráter educativo: o aspecto educacional da terapia é associado ao aumento da aderência ao tratamento do paciente hospitalizado, inclusive o tratamento medicamentoso. O objetivo é de aumentar o conhecimento acerca de seu problema e de modificar possíveis comportamentos que estejam contribuindo para a manutenção de sua patologia. LIMA, Luciano Ramos de et al As terapias não farmacológicas em pacientes internados, ou seja, as físicas e cognitivo-comportamentais, incluem um conjunto de medidas de ordem educacional, física, emocional e comportamental, capazes de ativar os centros supra-segmentares responsáveis pela dimensão sensitivodiscriminativa da experiência dolorosa, estimulando, portanto, o sistema supressor de dor Caráter Educativo A psicoeducação objetiva o esclarecimento e a compreensão da patologia, orientando sobre sua dimensão psicobiológica e também melhorando a adesão ao tratamento (Son & Kirchner, 2000). a psicoeducação no tratamento de pacientes hospitalizados corrige idéias equivocadas sobre a origem da doença, oferece a possibilidade de substituir atitudes punitivas por asseguramento e suporte adequados. Conforme os autores citados no referencial teórico como Tollison (1994) apud Andrade (1998), a psicoeducação pretende transformar os familiares e amigos 73 em colaboradores ativos do tratamento com a compreensão da doença, encaminhando déficits psicossociais e aprendendo a importância da adesão ao tratamento. A família deve ser estimulada a participar na elaboração do plano de tratamento, ajudando a definir áreas e comportamentos-alvo de mudanças. O modelo cognitivo proposto por A. Beck (BECK, 2000) parte do pressuposto de que as emoções e os comportamentos das pessoas são influenciados pela percepção que estas fazem das situações. Dessa forma, A. Beck verificou que desde a infância as pessoas desenvolvem determinados pensamentos sobre si mesmas, sobre os outros e sobre seu mundo e tais pensamentos podem se tornar uma constância na vida dessas pessoas, gerando o que denominou de crenças centrais, que são idéias globais, rígidas e supergeneralizadas. A. Beck ainda constatou que essas crenças centrais corroboram no desenvolvimento de outra classe de crenças, baseadas em regras, atitudes ou suposições, as chamadas crenças intermediárias. Essas crenças geralmente são expressas de forma indireta nos pensamentos automáticos. J. Beck (2000) ressalta que as crenças centrais, por serem mais estanques, são mais difíceis de serem trabalhadas do que as crenças intermediárias. Seguindo esse modelo cognitivo, em uma situação de hospitalização, as crenças intermediárias (vindas das centrais) são ativadas e influenciam no pensamento automático e este atua nas emoções, nos comportamentos e nas respostas fisiológicas do organismo. Assim, em uma situação de hospitalização, e mais propriamente nos casos de dor que consiste no tema central deste trabalho, pode-se afirmar que o paciente irá vivenciar este fenômeno a partir da interpretação proveniente do seu modelo cognitivo subjacente. 4.4 INTERVENÇÃO PSICOTERAPÊUTICA A hospitalização pode ser uma experiência complexa. O modelo cognitivo comportamental tem auxiliado na compreensão de como os comportamentos são adquiridos e de como as crenças e erros cognitivos influem na apreciação e vivência de quadros dolorosos. 74 SOARES, Vera de Araújo & FIGUEIREDO , Margarida Peters e Large ( 1990 ), selecionaram pacientes internados para programa com orientação cognitiva comportamental. Incluía treino de relaxamento, reestruturação cognitiva, distração, terapia individual, gestão da medicação e reforço de comportamentos saudáveis. Os resultados indicaram que os pacientes internados apresentavam níveis mais elevados de bem estar psicológico, menos comportamento de dor e menos limitações relacionadas com a saúde. Philips ( 1987 ), utilizando uma amostra de doentes com dor, em ambulatório, os quais submeteu a uma intervenção cognitiva-comportamental, utilizou-se de nove sessões que envolviam treino de relaxamento, estabelecimento de objetivos, redução da medicação, treino de estratégias de coping aumento gradual da atividade e lidar com emoções como a ansiedade e a depressão XAVIER, Thaiza Teixeira et al Medidas adequadas para o alívio da dor aguda pós-operatória de acordo com a classificação obtida em cada avaliação da percepção dolorosa,sendo desta forma realizada uma abordagem farmacológica através de analgésicos e anestésicos, associada a condutas não farmacológicas, através de terapias físicas e técnicas cognitivo-comportamentais. Aplicabilidade no hospital geral Aplicabilidade no Hospital Geral Nessa ótica, a atribuição de significado ao fato "ter dor”, a hospitalização e o estilo de apreciação dos eventos, mais do que a etiologia ou a localização da dor, influem no modo como se lida com a situação. CHAVES, Lucimara Duarte & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Dentre as principais técnicas não farmacológicas, temos as terapias físicas (aplicação de calor e frio, massagem, estimulação elétrica transcutânea e acupuntura), que, por meio da ativação do sistema sensitivo-discriminativo, estimulam o sistema supressor de dor, e técnicas cognitivo-comportamentais (relaxamento, técnicas de distração, imaginação dirigida, biofeedback) que, possivelmente, promovem relaxamento muscular, distração da atenção e sugestão, o que interfere na apreciação do estímulo doloroso pós operatório. Aplicabilidade no Hospital Geral Campos (2005) considera que as vivências de uma doença e de uma hospitalização têm uma significação particular e única para cada paciente. A habilidade para lidar com a situação do adoecimento, ou o adoecer psicológico (decorrente da experiência de estar doente), depende de forças de equilíbrio dinâmicas que interagem entre si: a estrutura emocional do indivíduo, seus recursos adaptativos e a realidade externa. Muitas vezes, situações externas extremamente desfavoráveis podem ser equacionadas por um bom recurso adaptativo. MAZUTTI, Sandra Regina Gonzaga & KITAYAMA, Marcela Mayami Gomes Frente à realidade vivida dentro dos hospitais, onde a demanda de atendimento psicológico é grande, com necessidade de resolução rápida, a TC tem-se mostrado eficaz, tanto na sua aplicabilidade como nos resultados obtidos. Isto se deve às próprias características da TC com relação a ser uma terapia breve, focada no presente, de forma estruturada, com resolução de problemas e flexibilidade de pensamentos e crenças disfuncionais. O terapeuta busca produzir a mudança cognitiva dos pensamentos e crenças dos pacientes, com objetivo de mudança emocional e comportamental.A terapia cognitiva ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder seus pensamentos e crenças disfuncionais. A TC baseia-se no modelo cognitivo, que levanta a hipótese de que as emoções e comportamentos das pessoas são influenciados por sua percepção dos eventos Aplicabilidade no Hospital Geral 75 SALVETTI, Marina de Góes & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Avaliou-se a auto-eficácia de doentes submetidos à terapêutica que combinou tratamento médico e terapia cognitivacomportamental. Observou-se que crenças de auto-eficácia estavam associadas à funcionalidade e à resposta ao tratamento. Os pacientes com altos escores de auto-eficácia, após o tratamento se consideraram melhor, demonstraram melhor funcionalidade geral e redução dos comportamentos de doente (dependência etc.. ). A maior parte dos pacientes Aplicabilidade no Hospital Geral hospitalizados consegue lidar adequadamente com a situação da hospitalização, ou seja, consegue uma boa resolução emocional deste período de crise. Mas muitos padecem psicologicamente diante da doença e da dor, lançando mão inclusive de recursos nocivos e contraproducentes para lidar com a situação de crise. Cabe aí, portanto, a intervenção de uma ajuda profissional para o restabelecimento do paciente como um todo. MOTA, Dálete Delalibera Corrêa de Faria & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Para patologias como a dor, que podem agravar o sintoma de fadiga em pacientes com câncer, as terapias complementares são cada vez mais aceitas em todo o mundo: técnicas cognitivo Comportamentais. Excetuando-se um, todos os estudos foram escritos em países de primeiro mundo. A maioria (59,4%) foi realizada em unidades de cuidados paliativos hospitalares. LIMA, Luciano Ramos de et al As terapias não farmacológicas em pacientes internados, ou seja, as físicas e cognitivo-comportamentais, incluem um conjunto de medidas de ordem educacional, física, emocional e comportamental, capazes de ativar os centros supra-segmentares responsáveis pela dimensão sensitivodiscriminativa da experiência dolorosa, estimulando, portanto, o sistema supressor de dor Aplicabilidade no Hospital Geral Aplicabilidade no Hospital Geral O estudo desenvolvido verificou a eficácia do tratamento cognitivocomportamental que incluiu estratégias e técnicas terapêuticas e sua aplicabilidade no hospital geral. As categorias referentes ao objetivo específico, b) intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental/dor, serão descritas a seguir com as respectivas subcategorias, ficando então dividido da seguinte maneira: 4.5. Tratamento e Manejo da dor 4.6 Aspectos cognitivos relacionados com a dor 4.7 Relação com a neurofisiologia da dor 4.8 Aplicabilidade no contexto atual da área da saúde 76 Sobre o segundo objetivo específico foi observado que as subcategorias formavam as seguintes categorias conforme indica a tabela 3 . Tabela 3: Categorias e Subcategorias – intervenção da terapia cognitivo comportamental/ dor Categorias Tratamento e manejo da dor Aspectos cognitivos relacionados com a dor Relação com a neurofisiologia da dor Subcategorias Proposta terapêutica para o tratamento da dor Indicação no tratamento da dor Indicação no tratamento da dor no hospital geral Neurofisiologia da dor Aplicabilidade no contexto atual da área da Relação entre dor e crença de auto-eficácia saúde Relação entre dor e crenças disfuncionais Fonte: Autora. Segundo demonstra o gráfico 2, foram encontradas 7 subcategorias para o objetivo específico – b) intervenção da terapia cognitivo comportamental/ dor Gráfico 2: Freqüência das Subcategorias - intervenção da terapia cognitivo comportamental/ dor Fonte: Autora. 77 4.5 TRATAMENTO E MANEJO DA DOR Como assinala Beck (1997), no referencial teórico, em primeiro lugar, é necessário o estabelecimento de um diagnóstico da dor que deve se basear nos dados colhidos através de uma anamnese detalhada do paciente. Essa avaliação inicial deve abranger os aspectos físico, psicológico e social do paciente, buscando a compreensão da etiologia da dor, sua progressão, os fatores responsáveis pela sua manutenção assim como os sintomas associados a ela. A anamnese do paciente deve explorar em primeiro lugar as características da dor através de elementos como: a história patológica (quando a dor começou e como evoluiu), localização, intensidade, aspectos qualitativos da dor, freqüência e duração da dor, fatores de melhoria e piora. SOARES, Vera de Araújo & FIGUEIREDO, Margarida Dor: fenômeno com características cognitivas na medida que se atribui um significado a dor. A auto-regulação da dor depende das estratégias de coping: descanso, relaxamento. Proposta terapêutica para o tratamento da dor Em relação aos fatores psicossociais, deve-se explorar os aspectos cognitivos comportamentais e emocionais associados à dor como: sintomas de ansiedade e depressão, sentimentos de raiva e hostilidade associados à dor, crenças e atitudes acerca da dor e do seu tratamento, estratégias de enfrentamento da dor, relacionamentos familiares e sociais antes e depois da dor. Deve-se explorar também os sintomas associados através da avaliação dos prejuízos ocasionados pela dor ao longo do tempo. Ainda para Beck (1997), é importante compreender de que forma a dor mudou a vida do indivíduo e como está a sua qualidade de vida atualmente, explorando aspectos como o sono, apetite, humor, relacionamentos interpessoais, funcionalidade, atenção e concentração, atividades de lazer, trabalho. LIMA, Luciano Ramos de et al As terapias físicas incluem a aplicação de calor e frio, massagem, estimulação elétrica e acupuntura e as cognitivo-comportamentais, o relaxamento, distração, imaginação dirigida e biofeedback, capazes de promover relaxamento muscular e distração da atenção, o que pode interferir positivamente no controle do estímulo doloroso no pósoperatório. Proposta terapêutica para o tratamento da dor 78 A partir desse diagnóstico multifatorial é que serão selecionadas as estratégias terapêuticas a serem utilizadas naquele caso em particular. O tratamento da dor deve ser realizado através de uma combinação de intervenções. As intervenções não- farmacológicas: incluem as técnicas cognitivocomportamentais derivadas de psicologia experimental e teorias de aprendizagem social. Utilizam de técnicas. Freqüentemente, essas técnicas pretendem alterar os processos cognitivos "inadequados" e reforçar os processos cognitivos adequados para lidar com a dor. 4.6 ASPECTOS COGNITIVOS RELACIONADOS COM A DOR A dor foi conceituada pela Associação Internacional para Estudos da Dor como “uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a um dano tecidual, real ou potencial, ou descrita em termos de tais danos. Cada indivíduo aprende a utilizar este termo através de suas experiências anteriores...” Dessa definição corrobora-se que a relação lesão tecidual e dor não é exclusiva ou direta e que na experiência dolorosa os aspectos sensitivos, emocionais e culturais estão relacionados de modo indissociável. Entende-se ainda, como assinalam Menegatti, Amorim e Avi (2005) que dor é sempre uma experiência subjetiva que pode ser compartilhada a partir do relato de quem a sente, e muitos fatores podem influenciar a sua percepção, tal como fadiga, depressão e raiva. Corroborando com este pensamento Angelotti e Dotto (2005), o tratamento deve se basear na etiologia e fisiopatologia da dor e nas suas repercussões, envolvendo assim a eliminação do fator causal . O uso medidas não farmacológicas (procedimentos da Terapia Cognitivo Comportamental) são utilizadas como recursos importantes, indicados no tratamento da dor. MOTA, Dálete Delalibera Corrêa de Faria & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Para patologias como a dor, as terapias complementares são cada vez mais aceitas em todo o mundo: técnicas cognitivo Comportamentais. Indicação tratamento da dor no 79 O tratamento visa reduzir a dor e o uso de medicamentos, reintegrar funcionalmente o paciente e melhorar sua qualidade de vida. Em casos de dor aguda, as intervenções visam à eliminação do desconforto e recorrem fundamentalmente à remoção das causas. No tratamento de dor crônica, por exemplo, ocorre o emprego de psicoterapia e intervenções de reintegração social. XAVIER, Thaiza Teixeira et al O conhecimento dos aspectos relacionados à qualidade da dor, é importante na prática clínica para que sejam tomadas medidas adequadas para o alívio da dor aguda pós-operatória de acordo com a classificação obtida em cada avaliação da percepção dolorosa. Sendo desta forma realizada uma abordagem farmacológica através de analgésicos e anestésicos, associada a condutas não farmacológicas, através de terapias físicas e técnicas cognitivo-comportamentais. Indicação no tratamento da dor no hospital geral Os efeitos incapacitadores da dor devem diminuir quando o paciente começa a ver a dor menos como uma catástrofe sobre qual ele não tem controle e mais como uma condição até certo ponto controlável. De acordo com este raciocínio, o que realmente faz a Terapia Cognitivo Comportamental funcionar é o processo de mudança cognitiva (Thorn, Boothby & Sullivan, 2002; Weisenberg, 1987). A filosofia da Terapia Comportamental Cognitiva é de racionalidade. A abordagem tem uma ênfase forte no sentir-se melhor (no sentido de diminuir emoções negativas). Um estilo de pensamento racional, evita distorções e vê o mundo através de um conjunto de crenças adaptativas. Mudanças em pensamentos catastróficos e de crenças relativas à dor, podem promover mudanças na intensidade da dor no fim do tratamento. Assim mudanças na cognição negativa podem afetar o resultado. A contribuição da Terapia Cognitivo Comportamental para o tratamento da dor consiste em enfatizar que a epistemologia pessoal do paciente é uma variável relevante. Ela aponta que dor está intimamente relacionada com o que a pessoa acredita sobre o mundo e sobre si mesma. O mais importante é entender que a interpretação que o paciente faz da sua experiência é um aspecto válido de intervenção terapêutica. 80 4.7 RELAÇÃO COM A NEUROFISIOLOGIA DA DOR Como assinalam Campos (2003), Miranda (2009), a dor é uma experiência pessoal e complexa que envolve vários componentes sensoriais, sociais, emocionais e comportamentais desagradáveis, associada a uma lesão tecidular real ou potencial. A multidimensionalidade de fatores relacionados a essa sintomatologia traz sérias implicações de ordem avaliativa. Conceitualmente, nocicepção é a resposta neural ao estímulo nociceptivo e dor é a percepção consciente da nocicepção. Etiologicamente, a dor está presente quando há estimulação e/ou sensibilização dos nociceptivos das fibras aferentes primárias e eferentes motoras (dor nociceptiva), quando os nervos periféricos sofrem alguma doença (dor neuropática) e quando ocorrem lesões ou doenças do sistema nervoso central (dor central). A dor aguda é um alerta de que algo no organismo não está bem e está relacionada com afecções traumáticas, queimaduras, infecções e processos inflamatórios. A persistência desses processos reacionais em função da permanência da dor aguda resulta na formação de círculos viciosos com progressivo aumento das disfunções orgânicas e dos efeitos prejudiciais ao paciente internado. Para que seja realizada uma adequada avaliação do episódio de dor, torna-se necessário desenvolver a compreensão do fenômeno, de forma subjetiva, buscando a redução de comportamentos de dor, manifestos ou encobertos, e o aumento de comportamentos saudáveis. Uma avaliação da dor permite compreender a origem e a magnitude do fenômeno, levando a um melhor manejo terapêutico: devem ser investigados localização, intensidade, início, duração e periodicidade dos episódios dolorosos, qualidade sensitiva, padrão evolutivo, fatores agravantes ou atenuantes e outros sintomas associados. Para Chaves; Pimenta (2003), conforme artigo encontrado na pesquisa, entre as técnicas não-farmacológicas para controle e a supressão da dor, encontramos as técnicas cognitivo comportamentais (relaxamento, técnicas de distração, imaginação dirigida e biofeedback). 81 CHAVES, Lucimara Duarte & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Para o controle da dor pós-operatória, é indicada a abordagem multimodal, que inclui as técnicas farmacológicas e não-farmacológicas ( terapia cognitiva comportamental ). O objetivo é bloquear a geração, transmissão, percepção e apreciação dos estímulos nociceptivos, o que pode ser feito em diferentes níveis do sistema nervoso central e periférico. Neurofisiologia da dor Assim, o objetivo da intervenção é bloquear a geração, transmissão, percepção e apreciação dos estímulos nociceptivos, o que poder ser realizado em diferentes níveis do sistema nervoso central e periférico. 4.8 APLICABILIDADE NO CONTEXTO ATUAL DA ÁREA DA SAÚDE A intervenção aos pacientes com dor tem como objetivo a melhoria da qualidade de vida, a reabilitação das incapacidades e a reintegração social. A completa eliminação da sensação dolorosa, possível na maioria dos casos de dor aguda, por exemplo, muitas vezes não é viável em pacientes com dor crônica. VANDENBERGHE, Luc A contribuição da terapia comportamental cognitiva para a clínica da dor: a dor está intimamente relacionada com o que a pessoa acredita sobre o mundo e sobre si mesma. Relação entre dor e crenças disfuncionais As dificuldades observadas deram suporte ao conceito atual de que a dor crônica é uma síndrome na qual os aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais, além da questão puramente física, estão envolvidos de maneira indissociável. SOARES, Vera de Araújo & FIGUEIREDO, Margarida Dor: fenômeno com características cognitivas na medida que se atribui um significado a dor. A auto-regulação da dor depende das estratégias de coping: descanso, relaxamento. Relação entre dor e crenças disfuncionais Salvetti; Pimenta (2007) consideram que as crenças e atitudes do paciente podem influenciar no modo dele perceber, expressar e lidar com a dor, e as intervenções da terapia cognitivo comportamental são realizadas no sentido de corrigir estas crenças e atitudes pouco adaptativas (disfuncionais) no manejo dos pacientes com dor. 82 SALVETTI, Marina de Góes & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Relação entre crença de auto-eficácia e diferentes tipos de comportamentos relacionados à dor crônica: quanto menor a crença de auto-eficácia, maior a quantidade de comportamentos dolorosos e de evitação da dor. Relação entre dor crônica, autoeficácia, incapacidade e depressão: baixa auto-eficácia e dor intensa contribuem para o desenvolvimento de incapacidade e depressão: preditores de incapacidade. A Teoria Cognitivo-Comportamental é a mais estudada e divulgada na área do cuidado ao doente com dor crônica e tem enfatizado a importância de se conhecer e atuar nos pensamentos, emoções, comportamentos e atitudes dos doentes, buscando contribuir para o controle da dor, bem-estar e ajustamento dos indivíduos. Relação entre dor e crença de auto-eficácia Para Bandura (1977), a expectativa de autoeficácia pessoal determina se o comportamento será iniciado, quanto esforço será empreendido e por quanto tempo esse comportamento será mantido diante de obstáculos e experiências aversivas. A força das convicções das pessoas em sua própria efetividade prediz se elas irão tentar enfrentar as situações dadas. Conforme Litt (1988), Cipher, Fernandez (1997), a crença de auto eficácia é aplicada à condições de dor, principalmente por esta estar relacionada a incapacidade de tolerância à dor, a manifestação de comportamentos dolorosos e a sintomas depressivos. As categorias referentes ao objetivo específico, c) resultados/procedimentos da Terapia Cognitivo Comportamental/dor, serão descritas a seguir com as respectivas subcategorias, ficando então dividido da seguinte maneira: 4.9. Eficácia da intervenção nos casos de dor 4.10 Objetivos alcançados nos casos de dor Atendendo ao terceiro objetivo específico foi observado que as subcategorias formavam categorias conforme indica a tabela 5. Tabela 4: Categorias e subcategorias – resultados/ procedimentos da Terapia Cognitivo Compotamental/ dor ) Categorias Subcategorias Melhora no funcionamento geral Eficácia da intervenção nos casos de dor Melhora na funcionalidade física Controle da dor Relaxamento muscular Objetivos alcançados nos casos de dor Distração Repercussão na neurofisiologia da dor Fonte: Autora. 83 Segundo demonstra o gráfico 3, foram encontradas 6 subcategorias para o objetivo específico – c) resultados/ procedimentos/ terapia cognitivo comportamental Gráfico 3: Freqüência das Subcategorias - resultados/procedimentos/terapia cognitivo comportamental Fonte: Autora. 4.9. EFICÁCIA DA INTERVENÇÃO NOS CASOS DE DOR Pimenta (2001), considera que programas de tratamento baseados no modelo Cognitivo-Comportamental tem sido cada vez mais utilizada para o tratamento e controle da dor. Isso porque o aspecto sensorial está muito ligado aos aspectos cognitivos, afetivos e comportamentais do indivíduo. A terapia cognitivocomportamental, por considerar as relações entre indivíduo e ambiente, procura articular o mundo interno do doente (cognições, pensamentos e sentimentos, emoções) e seu mundo externo (comportamento individual e sociedade, resposta ambiental). Para isso busca instrumentalizar o doente para uma convivência com a 84 dor menos penosa, além de fornecer toda a informação sobre o que é a doença, os fatores desencadeantes, as dores conseqüentes e o uso de medicamentos preventivos. Corroborando com este pensamento, Barros (2003) afirma que através dessa abordagem, o paciente é levado a analisar a ligação entre pensamento, emoção, comportamentos e fatores ambientais, que contribuem, tanto para o surgimento, quanto para a perpetuação dos sintomas da doença. Procura-se estimular a aderência ao tratamento, substituir comportamentos que possam desencadear crises de dor por aqueles que possam preveni-las e diminuir a percepção da dor. SOARES, Vera de Araújo & FIGUEIREDO, Margarida Philips ( 1987 ), utilizando uma amostra de doentes com dor, em ambulatório, os quais submeteu a uma intervenção cognitivacomportamental, utilizou-se de nove sessões que envolviam treino de relaxamento, estabelecimento de objetivos, redução da medicação, treino de estratégias de coping aumento gradual da atividade e lidar com emoções como a ansiedade e a depressão. O estudo revelou melhoras clínicas significativas em 83% dos participantes. Os pacientes demonstraram uma diminuição significativa na dimensão afetiva da dor, na depressão e nos comportamentos de evitamento. Peters e Large ( 1990 ), selecionaram pacientes internados para programa com orientação cognitiva comportamental. Incluía treino de relaxamento, reestruturação cognitiva, distração, terapia individual, gestão da medicação e reforço de comportamentos saudáveis. Os resultados indicaram que os pacientes internados apresentavam níveis mais elevados de bem estar psicológico, menos comportamento de dor e menos limitações relacionadas com a saúde. Melhora no funcionamento geral É importante instrumentalizar o doente para que os desencadeantes e conseqüentes ambientais, alimentares e emocionais sejam controlados pelo mesmo. Busca-se, desta forma, que o indivíduo que sofre de dor possa desenvolver uma reestruturação cognitiva dando uma resignificação a sua condição de saúde. SALVETTI, Marina de Góes & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Os mecanismos através dos quais as orientações pré- operatórias diminuem complicações pós-operatórias foram investigados. O estudo envolveu 68 mulheres submetidas à colecistectomia e avaliou as relações entre comportamentos de auto-eficácia no pré e pós operatório. Os resultados mostraram relação positiva entre os escores de expectativa de eficácia, respiração profunda e deambulação pós-operatória. Os escores de expectativa de resultado apresentaram relação negativa com a necessidade de medicação para dor no pós-operatório. Os pesquisadores concluíram que a auto-eficácia mostrou-se positivamente relacionada a comportamentos pós-operatórios para diminuir complicações e facilitar a recuperação, e que a auto-eficácia foi capaz de explicar o mecanismo através do qual as orientações pré-operatórias exercem seus efeitos no pós-operatório. Melhora na funcionalidade física A aplicação das técnicas objetiva reduzir os sintomas da dor, promovendo e estimulando o paciente a desenvolver estratégias de enfrentamento mais adaptativas e eficientes, mudando as cognições distorcidas a respeito da doença e 85 diminuindo os comportamentos de esquiva e sintomas psicológicos (ex: depressão, ansiedade e estresse), contribuindo assim para a melhora da funcionalidade física e da funcionalidade geral. 4.10 OBJETIVOS ALCANÇADOS NOS CASOS DE DOR A vivência dolorosa interfere em diversos domínios da vida: bem-estar fisiológico (habilidade funcional, força, fadiga, sono e repouso, entre outros), bemestar emocional (ansiedade, depressão, desprazer, infelicidade, medo e potência, entre outros), bem-estar social (mudança de papéis e nos relacionamentos). A interferência em algum deles pode modificar a experiência global. O controle da dor é mais efetivo quando envolve intervenções não-farmacológicas, que atuem nos diversos componentes da dor. CHAVES, Lucimara Duarte & PIMENTA, Cibele Andrucioli de Mattos Técnicas cognitivo-comportamentais (relaxamento, técnicas de distração, imaginação dirigida, e biofeedback) : promovem relaxamento muscular, distração da atenção e sugestão, o que interfere na apreciação do estímulo doloroso. Relaxamento muscular Distração Controle da dor As intervenções para o controle da dor compreendem, além de outras o uso de medidas , cognitivo comportamentais. É desejável o uso dessas intervenções , uma vez possibilitam melhor resposta analgésica,com repercussão na neurofisiologia da dor, visto a possibilidade de interferirem, simultaneamente, na geração do impulso nociceptivo, nos processos de transmissão e de interpretação do fenômeno doloroso e na estimulação do sistema supressor de dor. LIMA, Luciano Ramos de et al As terapias cognitivo-comportamentais, incluem um conjunto de medidas de ordem educacional, física, emocional e comportamental, capazes de ativar os centros supra-segmentares estimulando o sistema supressor de dor. As terapias físicas incluem a aplicação de calor e frio, massagem, estimulação elétrica e acupuntura e as cognitivocomportamentais, o relaxamento, distração, imaginação dirigida e biofeedback, capazes de promover relaxamento muscular e distração da atenção, o que pode interferir positivamente no controle do estímulo doloroso no pós-operatório. Repercussão na neurofisiologia da dor Técnicas para o controle da dor compreendem conjunto de medidas de ordens educacional, física, emocional e comportamental. Oferecem ao paciente 86 senso de controle da situação, estimulam a responsabilidade e participação no tratamento. O relaxamento, conforme assinala Barros (2003), no referencial teórico, pode ser definido como o estado de relativa ausência de ansiedade e tensão muscular; o relaxamento dos músculos e a serenidade da mente. As respostas advindas do relaxamento são o oposto das presentes na situação de ansiedade. Há diminuição do consumo de oxigênio, do tônus muscular, da pressão arterial, da freqüência respiratória e cardíaca. Podendo assim, ser utilizado como técnica de alívio e controle da dor. Cabe ainda citar Angelotti (2004), referindo-se às técnicas de distração para o controle da dor, que podem ser compreendidas como a focalização da atenção em outro estímulo que não a dor. É o aumento da estimulação de outros canais sensoriais, como a audição, a visão e o tato. A atenção à dor é prejudicada pela atenção a outro estímulo. O estímulo pode ser externo (ouvir música por fone de ouvido, assistir filme) ou interno (cantar ou fazer contas mentalmente). O uso da distração pode aumentar a tolerância à dor e à sensação de controle. Ouvir música, jogar jogos, utilizar técnicas de respiração, assistir filmes, ler, fazer contas ou cantar mentalmente, marcar o compasso de uma música com os pés ou com as mãos, imaginar cenas agradáveis são exemplos de técnicas de distração que podem ser utilizadas. O objetivo é produzir relaxamento, experimentar sensação de bem-estar, retirar o foco da dor e diminuir a percepção da dor. 87 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa teve como principal objetivo avaliar a intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental em casos de dor nos pacientes internados em hospital geral. Para tanto, foi realizado um estudo bibliográfico. Para responder ao objetivo geral desta pesquisa, considera-se que os objetivos específicos da mesma foram respondidos. Diante da literatura pesquisada, com base nos objetivos específicos deste trabalho, a fim de responder ao objetivo geral, pôde-se discutir alguns aspectos: A dor é um fenômeno universal que acompanha a humanidade desde sempre e é uma das emoções mais precoces que freqüentemente experienciamos, de modo que a dor é uma conseqüência inevitável da condição humana. É essa proximidade entre a dor e a própria experiência de ser humano que faz com que esse fenômeno tenha tantos sentidos. O presente trabalho teve por objetivo, então, avaliar um modelo terapêutico que se propõe a diagnosticar e tratar esse fenômeno clínico tão amplo e complexo a partir de uma pesquisa bibliográfica em artigos científicos publicados no meio virtual. Essa foi a metodologia escolhida para apresentar e analisar a singularidade das estratégias terapêuticas introduzidas pelo modelo terapêutico cognitivo comportamental no âmbito da racionalidade científica moderna. Em relação aos objetivos específicos, cujo foco foi caracterizar a intervenção da Terapia Cognitivo Comportamental no hospital geral e nos casos de dor, assim como identificar os resultados descritos na literatura a partir de procedimentos da Terapia Cognitivo Comportamental, cabe algumas observações que levaram à resposta dos questionamentos iniciais que esse trabalho se propôs a refletir: Foi possível constatar através dessa revisão da literatura sobre a dor e o seu manejo terapêutico que as técnicas e estratégias cognitivo comportamentais, oferecem um aparato técnico e teórico que permite a presença do psicólogo no tratamento da dor, sendo ela aguda ou crônica. 88 Antes de mais nada, é necessário ressaltar que muitos dos impasses que se apresentam no trabalho do alívio da dor acontecem em função da complexidade do próprio fenômeno da dor. A disponibilidade de enfrentar os desafios desta prática de saúde implica na necessária compreensão dos aspectos relacionados à atitudes individuais, convicções, cognições e comportamentos apresentados pelo paciente enquanto limites para autoeficácia e ajustamento ao estado de doença. A aplicação dos pressupostos da terapia cognitivo comportamental pode conduzir à idéia de as pessoas são autônomas e ativas no seu processo de mudança, pois constroem ativamente as suas representações mentais, com a constante interação que estabelecem com o mundo externo. Daí a possibilidade de se adaptarem à dor a partir do desenvolvimento de estratégias funcionais de enfrentamento, bem como de respostas emocionais saudáveis, o que permite que mantenham uma vida relativamente ativa apesar da dor. A compreensão da importância dos aspectos cognitivos (avaliação da situação, crenças, atitudes, expectativas, motivação, atenção) na vivência da dor, levou à incorporação dos preceitos da teoria cognitiva no manejo de pacientes com quadros dolorosos, podendo ser aplicados em atendimento aos pacientes hospitalizados. As atitudes frente à dor influenciam na aceitação das propostas terapêuticas, no resultado e satisfação com o tratamento, e na capacidade dos indivíduos construírem uma vida ativa e satisfatória, apesar da dor. Observou-se que pacientes com maior disfunção psíquica, física e social podem apresentar algumas características próprias, tais como julgar-se sem habilidade para controlar a dor. A pesquisa possibilitou o conhecimento de um programa educativo em dor, associado à mudanças nas atitudes e crenças frente ao problema. Mudanças no modo de “ver” a dor, de se posicionar frente a ela, foram tidas como indicativas da melhora dos sintomas depressivos e do funcionamento físico. Este programa citado anteriormente, na modalidade de grupo educativo, como conteúdo da parte cognitiva, propõe o desenvolvimento dos seguintes passos: oferecer informação atualizada e identificar as crenças e os pensamentos dos pacientes sobre dor, relacionar tais crenças e pensamentos aos comportamentos de evitação, de mudança na sensação dolorosa e auxiliar o paciente a buscar evidências que confirmem ou neguem suas crenças e a buscar explicações 89 alternativas. A ênfase do trabalho deve ser na melhora da funcionalidade e no alívio da dor. Em síntese, pode-se afirmar que o cunho educativo da Terapia Cognitivo Comportamental proporciona a aprendizagem de estratégias para o manejo da dor pelo paciente como já foi citado anteriormente no presente trabalho. Como exemplo destas técnicas, pode-se citar as de relaxamento, distração, resolução de problemas, entre outras e fundamentalmente a aprendizagem da principal estratégia de mudança da terapia cognitiva que é o questionamento socrático que possibilita ao paciente ao aprendê-lo, tornar-se autônomo na reestruturação de suas crenças disfuncionais (aqui, relativas à dor). Desta forma, percebe-se que as técnicas descritas visam propiciar ao paciente uma melhora na sua sensação de eficácia e controle frente à dor e conseqüentemente frente a outras situações da vida em geral, permitindo a esse indivíduo retirar o fenômeno doloroso do foco central de sua vida, se expondo de forma mais saudável a uma variabilidade maior de contextos e estímulos Na experiência cotidiana nas instituições de saúde, em especial nos hospitais, é necessário o conhecimento básico acerca das possibilidades de controle da dor. Daí a relevância profissional desta pesquisa, por caracterizar um tipo de intervenção psicológica com a dor e a partir disso, oferecer subsídios para a prática dos profissionais que atuam nesta área, avaliando a construção de estratégias terapêuticas de cuidado em saúde respeitando a singularidade envolvida no processo de adoecimento, aproximando-se assim das reais necessidades do paciente. A dor é geralmente útil, é um sintoma, um sinal claro de perigo. A dor crônica pode extrapolar sua utilidade; a mensagem foi enviada e foi recebida ao cérebro, mas continua a ser enviada sem ter um objetivo benéfico. A dor aguda tem freqüentemente uma fonte clara. A dor crônica é mais persistente e pode durar meses ou anos, e pode ou não ter uma causa óbvia. Para diagnosticar a causa da dor, os médicos tentam normalmente determinar sua intensidade e qual a sua causa. Isto pode ser um desafio. Nenhum exame de laboratório pode provar que a dor existe, e descrever a dor em palavras pode ser difícil. Além disso, cada pessoa experimenta a dor de forma diferente. 90 O médico poderá fazer perguntas a respeito da história da dor. Ele pode lhe pedir que descreva sua dor usando uma escala. Uma vez o médico tenha determinado se a dor é aguda ou crônica, e descobre a fonte da dor, ele poderá saber a melhor maneira de tratá-la. Porém, os médicos freqüentemente começam a tratar a dor antes de identificarem sua causa, para diminuir o sofrimento do paciente. O médico provavelmente irá optar por tratar a dor antes de diagnosticar sua causa. Muitos medicamentos são úteis, entretanto o quão bem eles funcionam depende do paciente e da natureza da dor. Os tratamentos não medicamentosos podem ser especialmente úteis para pessoas com dor crônica. Em alguns casos, estes tratamentos podem estimular analgésicos naturais, chamados de endorfinas, que são criadas dentro do próprio corpo. Em outros casos, os tratamentos não medicamentosos (técnicas da Terapia Cognitivo Comportamental) trabalham diretamente nos nervos para interferir na transmissão das mensagens de dor. Dor significa que algum problema existe, e as pessoas toleram de diferentes graus diferentes tipos de dor. Pessoas com dor crônica podem passar por um período muito difícil. As fontes de dor podem ser difíceis de achar e de tratar, e a dor pode continuar até mesmo depois que sua causa foi diagnosticada. A dor crônica pode causar complicações como desordens do sono, perda de apetite e depressão. Quem sofre de dor crônica pode precisar aprender a conviver por muito tempo com a dor. Mudanças no estilo de vida e tratamentos não medicamentosos como as técnicas da Terapia Cognitivo Comportamental poderão ajudar no dia a dia. Como o aspecto psicológico só é uma das diversas dimensões que permeiam o fenômeno doloroso, o psicólogo deve ser um dos profissionais envolvidos nesse cuidado, tornando indispensável o trabalho interdisciplinar para uma maior eficácia do tratamento. A interdisciplinaridade é entendida como a articulação de diferentes saberes sobre a realidade, o espaço onde se criam estratégias, permitindo contemplar os múltiplos e complexos elementos que estão envolvidos em qualquer prática de saúde. O cuidado em saúde, em especial no caso do doente com dor, passa pela constituição de um projeto terapêutico que permita uma abertura para novas possibilidades de viver a vida. 91 Enquanto a investigação da dor como um fenômeno fisiológico é importante, a dor não pode mais ser reduzida a fisiologia. A dificuldade de falar sobre dor e compreender a dor de outra pessoa resulta de sua complicada origem como função de nosso corpo e de nossa identidade. Cada indivíduo vivencia este momento de uma maneira diferente, de acordo com as significações que estabeleceu durante sua vida. Portanto, são padrões de vivência e comportamentos que juntamente com as expectativas do indivíduo, sustentam reações com manifestações na área cognitiva e afetiva. A dor física é pessoal, intransferível e ninguém sabe como realmente é a dor do outro, quanta dor cada um sente. Pode-se dizer que cada dor é a dor da pessoa com sua história, sua personalidade, contexto e momento. A mesma dor, em diferentes situações, pode nem ser percebida ou ser muito forte, em decorrência da distração ou atenção oferecida a ela. Este foi apenas um estudo, dos muitos já existentes na área de Psicologia e espera-se que possa contribuir aos muitos que ainda virão. Contudo, mais pesquisas devem ser realizadas, especialmente as que dizem respeito à diversos fatores que desempenham um papel importante na experiência da dor: a atenção que se dá a dor, o medo associado a dor, a tristeza ou estados depressivos, pois a maioria das pesquisas na área referem-se à fisiologia da dor. Para além de uma definição, e para além de sua fenomenologia, falar sobre a dor na sua dimensão psíquica, não apenas sob o ponto de vista de sua vivência, mas sobretudo procurar entender a origem, a finalidade da dor, é a melhor forma de se alcançar, penso eu, a compreensão da vivência psíquica do paciente que sofre a dor. Acredito não ser uma tarefa fácil. Afinal, se por um lado, como diz Miguel de Cervantes, “todo mundo é capaz de suportar uma dor, com exceção de quem a sente”, mostrando aí sua dimensão subjetiva, por outro, querer “explicar a dor do outro é o início de toda imoralidade” (E. Levinás), por conta da assimetria existente entre meu universo e o do outro. 92 6. 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Autor(es) Título do artigo Periódico Ano Objetivo do artigo Descritor (palavra-chave) Intervenção da Terapia Cognitiva Comportamental/Hospital Geral Dentre as principais técnicas não farmacológicas, temos as terapias físicas (aplicação de calor e frio, massagem, estimulação elétrica transcutânea e acupuntura), que, por meio da ativação do sistema sensitivo-discriminativo, estimulam o sistema supressor de dor, e técnicas cognitivo-comportamentais (relaxamento, técnicas de distração, imaginação dirigida, hipnose e biofeedback) que, possivelmente, promovem relaxamento muscular, distração da atenção e sugestão, o que interfere na apreciação do estímulo doloroso pós operatório Para patologias como a dor, que podem agravar o sintoma de fadiga em pacientes com câncer, as terapias complementares são cada vez mais aceitas em todo o mundo: técnicas cognitivo Comportamentais. Excetuando-se um, todos os estudos foram escritos em países de primeiro mundo. A maioria (59,4%) foi realizada em unidades de cuidados paliativos hospitalares. CHAVES, Lucimara Duarte & PIMENTA , Cibele Andrucioli de Mattos Controle da dor pósoperatória: comparaç ão entre métodos analgésico s Rev Latino-am Enfermag em 2003 marçoabril; 11(2):2159 2003 Comparar o alívio da dor, a ocorrência de efeitos colaterais, o consumo de analgésicos, regular e complementar, e os custos do tratamento álgico em doentes submetidos a analgesia pósoperatória. terapia cognitiva comportamental /hospital/dor/ intervenção/ resultados MOTA, Dálete Delalibera Corrêa de Faria & PIMENTA , Cibele Andrucioli de Mattos Fadiga em pacientes com câncer avançado: conceito, avaliação e intervençã o Revista Brasileira de Cancerolo gia, 2002, 48(4): 577-583 2002 terapia cognitiva comportamental/ hospital/dor/ intervenção/resul tados XAVIER, Thaiza Teixeira et al Dor pósoperatória: característ icas quantiqualitativa relacionad as a toracotomi a pósterolateral e esternoto mia Acta Cirúrgica Brasileira Vol 20 Supl no 1 2005 2005 Analisar o conceito, a prevalência e os fatores relacionados à fadiga, e identificou os métodos de avaliação e os meios de intervenção para o manejo desse sintoma. Analisar a intensidade e características da dor em pacientes submetidos a toracotomia póstero-lateral (TPL) e esternotomia (EST). terapia cognitiva comportamental/ hospital/dor/ intervenção/resul tados Medidas adequadas para o alívioda dor aguda pós-operatória de acordo com a classificação obtida em cada avaliação da percepção dolorosa,sendo desta forma realizada uma abordagem farmacológica através de analgésicos e anestésicos, associada a condutas não farmacológicas, através de terapias físicas e técnicas cognitivocomportamentais. Intervenção da Terapia Cognitiva Comportamental/Dor Para o controle da dor pósoperatória, é indicada a abordagem multimodal, que inclui as técnicas farmacológicas e nãofarmacológicas ( terapia cognitiva comportamental ). O objetivo é bloquear a geração, transmissão, percepção e apreciação dos estímulos nociceptivos, o que pode ser feito em diferentes níveis do sistema nervoso central e periférico. Em patologias como a dor, as terapias complementares são cada vez mais aceitas em todo o mundo: técnicas cognitivo Comportamentais. São medidas adequadas para o alívio da dor aguda pósoperatória : terapias físicas e técnicas cognitivocomportamentais. 103 Resultados/ Procedimentos da Terapia CognitivaComportamental /dor Técnicas cognitivocomportamentais (relaxamento, técnicas de distração, imaginação dirigida, hipnose e biofeedback) : promovem relaxamento muscular, distração da atenção e sugestão, o que interfere na apreciação do estímulo doloroso. SALVETT I, Marina de Góes & PIMENTA , Cibele Andrucioli de Mattos Dor crônica e a crença de autoeficácia Rev. esc. enferm. USP vol.4 1 no.1 São Paulo Mar. 2007 Revisar a crítica da literatura sobre a crença de autoeficácia relacionada à dor crônica e sobre os métodos para sua avaliação. terapia cognitiva comportamental hospital/dor/ intervenção/resul tados Avaliou-se a auto-eficácia de doentes submetidos à terapêutica que combinou tratamento médico e terapia cognitiva-comportamental. Observou-se que crenças de autoeficácia estavam associadas à funcionalidade e à resposta ao tratamento. Os pacientes com altos escores de auto-eficácia, após o tratamento se consideraram melhor, demonstraram melhor funcionalidade geral e redução dos comportamentos de doente (dependência etc.. ). Relação entre crença de autoeficácia e diferentes tipos de comportamentos relacionados à dor crônica, quanto menor a crença de auto-eficácia, maior a quantidade de comportamentos dolorosos e de evitação da dor. relação entre dor crônica, autoeficácia, incapacidade e depressão. Baixa auto-eficácia e dor intensa contribuíram para o desenvolvimento de incapacidade e depressão: preditores de incapacidade. A Teoria CognitivoComportamental é a mais estudada e divulgada na área do cuidado ao doente com dor crônica e tem enfatizado a importância de se conhecer e atuar nos pensamentos, emoções, comportamentos e atitudes dos doentes, buscando contribuir para o controle da dor, bem-estar e ajustamento dos indivíduos. LIMA, Luciano Ramos de et al Controle da dor no pósoperatório de cirurgia cardíaca: uma breve revisão Revista Eletrônica de Enfermag em2008;1 0(2):521529 2008 Identificar as terapêuticas analgésicas para controle da dor no pós-operatório de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca e os instrumentos utilizados para terapia cognitiva comportamental/ hospital/dor/ intervenção/resul tados As terapias não farmacológicas, utilizadas em pacientes internados, ou seja, as físicas e cognitivocomportamentais, incluem um conjunto de medidas de ordem educacional, física, emocional e comportamental, capazes de ativar os centros supra-segmentares responsáveis pela dimensão sensitivodiscriminativa da As terapias físicas incluem a aplicação de calor e frio, massagem, estimulação elétrica e acupuntura e as cognitivo-comportamentais, o relaxamento, distração, imaginação dirigida, hipnose e biofeedback, capazes de promover relaxamento muscular e distração da 104 Os mecanismos através dos quais as orientações pré- operatórias diminuem complicações pósoperatórias foram investigados. O estudo envolveu 68 mulheres submetidas à colecistectomia e avaliou as relações entre comportamentos de autoeficácia no pré e pós operatório. Os resultados mostraram relação positiva entre os escores de expectativa de eficácia, respiração profunda e deambulação pósoperatória. Os escores de expectativa de resultado apresentaram relação negativa com a necessidade de medicação para dor no pós-operatório. Os pesquisadores concluíram que a auto-eficácia mostrou-se positivamente relacionada a comportamentos pósoperatórios para diminuir complicações e facilitar a recuperação, e que a auto-eficácia foi capaz de explicar o mecanismo através do qual as orientações préoperatórias exercem seus efeitos no pós-operatório. As terapias cognitivocomportamentais, incluem um conjunto de medidas de ordem educacional, física, emocional e comportamental, capazes de ativar os centros suprasegmentares estimulando o sistema supressor de dor mensurar experiência dolorosa. a experiência dolorosa, estimulando, portanto, o sistema supressor de dor MAZUTTI, Sandra Regina Gonzaga & KITAYAM A, Marcela Mayami Gomes Psicologia hospitalar: um enfoque em terapia cognitiva Rev. SBPH v.11 n.2 Rio de Janeiro dez. 2008 Apresentar a aplicabilidade da Terapia Cognitiva (TC) em pacientes internados em Hospital Geral. terapia cognitiva comportamental/ hospital/dor /intervenção/resu ltados Frente à realidade vivida dentro dos hospitais, onde a demanda de atendimento psicológico é grande, com necessidade de resolução rápida, a TC tem-se mostrado eficaz, tanto na sua aplicabilidade como nos resultados obtidos. Isto se deve às próprias características da TC com relação a ser uma terapia breve, focada no presente, de forma estruturada, com resolução de problemas e flexibilidade de pensamentos e crenças disfuncionais. SOARES, Vera de Araújo & FIGUEIR EDO, Margarida Dor: a hidra de sete cabeças. Rev. Portugue sa de Psicosso mática, jul-dez, ano/vol.3, número 002 2001 Dar uma panorâmica da diversidade das situações dolorosas apresentadas pelos utentes de uma consulta de dor. terapia cognitiva comportamental/ hospital/dor/ intervenção/resul tados Peters e Large ( 1990 ), selecionaram pacientes internados para programa com orientação cognitiva comportamental. Incluía treino de relaxamento, reestruturação cognitiva, distração, terapia individual, gestão da medicação e reforço de comportamentos saudáveis. Os resultados indicaram que os pacientes internados apresentavam níveis mais elevados de bem estar psicológico, menos comportamento de dor e menos limitações relacionadas com a saúde. atenção, o que pode interferir positivamente no controle do estímulo doloroso no pósoperatório. Dor: fenômeno com características cognitivas na medida que se atribui um significado a dor. A autoregulação da dor depende das estratégias de coping: descanso, relaxamento. 105 O terapeuta busca produzir a mudança cognitiva dos pensamentos e crenças dos pacientes, com objetivo de mudança emocional e comportamental.A terapia cognitiva ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder seus pensamentos e crenças disfuncionais. A TC baseia-se no modelo cognitivo, que levanta a hipótese de que as emoções e comportamentos das pessoas são influenciados por sua percepção dos eventos. Philips ( 1987 ), utilizando uma amostra de doentes com dor, em ambulatório, os quais submeteu a uma intervenção cognitivacomportamental, utilizouse de nove sessões que envolviam treino de relaxamento, estabelecimento de objetivos, redução da medicação, treino de estratégias de coping aumento gradual da atividade e lidar com emoções como a ansiedade e a depressão. O estudo revelou melhoras clínicas significativas em 83% dos participantes. Os pacientes demonstraram uma diminuição significativa na dimensão afetiva da dor, na depressão e nos comportamentos de evitamento. VANDEN BERGHE, Luc MIYAZAK I, M. Cristina O. S. et al Abordage ns comporta mentais para a dor crônica Psicologia da saúde: extensão de serviços à comunida de, ensino e pesquisa Psicologi a: Reflexão e Crítica, 2005, 18(1), pp.47-54 2005 Psicol. USP vol.1 3 no.1 Sã o Paulo 2002 Traçar quatro grandes eixos teóricos e a relação que cada um tem com o problema da dor crônica. São eles a Terapia Comportamental Clássica, a Terapia Cognitiva Comportamental, a Análise Aplicada do Comportamento e a Análise Clínica do Comportamento. Estes quatro eixos são propostos como reduções prototípicas das correntes que caracterizam a atuação clínica. Descrever o desenvolvimento e estágio atual do Serviço de Psicologia do Hospital de Base da FAMERP, iniciado em 1981 com a contratação de uma psicóloga para atuar na enfermaria de Pediatria. terapia cognitiva comportamental/ hospital/dor/ intervenção/resul tados terapia cognitiva comportamental/ hospital/dor /intervenção/resu ltados A contribuição da terapia comportamental cognitiva para a clínicada dor crônica consiste em enfatizar que a epistemologia pessoal do paciente é uma variável relevante. Ela aponta que dor está intimamente relacionada com o que a pessoa acredita sobre o mundo e sobre si mesma. Para o clínico, o mais importante é entender que a interpretação que o paciente faz da sua experiência é um alvo válido de intervenção terapêutica. A terapia comportamental cognitiva aponta que a dor está intimamente relacionada com o que a pessoa acredita sobre o mundo e sobre si mesma. A interpretação que o paciente faz da sua experiência é um alvo válido de intervenção terapêutica. Um repertório comportamental que auxilie paciente e familiares a enfrentar de forma positiva o tratamento envolve, por exemplo, a participação ativa no processo de tratamento, a mudança de cognições prejudiciais e o desenvolvimento de estratégias adequadas de enfrentamento e manejo da dor. Enfrentar de forma positiva o tratamento com a dor: participação ativa no processo de tratamento, a mudança de cognições prejudiciais e o desenvolvimento de estratégias adequadas de enfrentamento e manejo da dor. 106 107