Instituto Superior Técnico Departamento de Matemática Secção de Álgebra e Análise Exercı́cios Resolvidos Integrais de Linha. Teorema de Green Exercı́cio 1 Um aro circular de raio 1 rola sem deslizar ao longo de uma linha recta. Qual é o comprimento da trajectória descrita por um ponto do aro entre um contacto com o solo e a próxima vez que se encontra á mesma altura que o centro? A curva descrita por um ponto do aro chama-se ciclóide Resolução: Podemos colocar o aro no plano xOy a rolar ao longo do eixo Ox de tal forma que, no inı́cio do movimento, o centro se encontra no ponto (0, 1) e o ponto do aro em questão se encontra na origem. O facto de o aro rolar sem deslizar significa que quando o centro se desloca uma distãncia s ao longo do eixo Ox, o ponto no aro descreve, em relação ao centro do aro, um arco de circunferência de comprimento s. Em particular, num quarto de volta do aro, o centro deslocar-se-á um comprimento total de π2 . y PSfrag replacements 1 0 s s 2π x Figura 1: Esboço da ciclóide O movimento do ponto do aro pode-se decompôr em dois: o movimento do centro do aro e o movimento do ponto em relação ao centro. Se usarmos a distância percorrida pelo aro como parâmetro, a trajectória do centro é descrita pelo caminho g1 : [0, π2 ] −→ R2 definido por g1 (s) = (s, 1) Por outro lado, a trajectória do ponto no aro em relação ao centro é descrita pelo caminho g2 : [0, π2 ] −→ R2 definido por π π − s), sen(− − s)) 2 2 = (− sen s, − cos s) g2 (s) = (cos(− já que o vector que une o centro ao ponto do aro começa por fazer um ângulo de − π2 com o eixo Ox e roda no sentido dos ponteiros do relógio. 1 Portanto, a trajectória descrita pelo ponto no aro é dada pela soma destes dois caminhos: g : [0, π2 ] −→ R2 definido por g(s) = g1 (s) + g2 (s) = (s − sen s, 1 − cos s) O comprimento deste caminho é dado pela expressão (onde C = g([0, π2 ])) Z 1= C Z π 2 ||g 0 (s)||ds 0 Como g 0 (s) = (1 − cos s, sen s) temos ||g 0 (s)|| = = e portanto Z 1 = C = p p 1 − 2 cos s + cos2 s + sen2 s 2(1 − cos s) Z Z π 2 0 1 0 p p 2(1 − cos s)ds 2(1 − u) √ √ Z 1 du √ 2 = 1+u 0 √ √ = 2 2( 2 − 1) du 1 − u2 onde na passagem da primeira para a segunda linha se fez a mudança de variável u = cos s. 2 Exercı́cio 2 Um avião a hélice desloca-se em linha recta a uma velocidade constante igual a 1. Se a hélice do avião tem raio r e roda a velocidade constante, ω vezes por unidade de tempo, qual é o comprimento da trajectória descrita por um extremo da hélice quando o avião se desloca L unidades de comprimento? Resolução: Podemos colocar o avião a deslocar-se ao longo do eixo Ox e de tal forma que no instante inicial o centro da hélice se encontra na origem. Então uma parametrização da trajectória percorrida pelo centro da hélice é dada pelo caminho g1 : [0, L] −→ R3 , definido por g1 (t) = (t, 0, 0) Por outro lado, a hélice roda a uma velocidade constante em relação ao centro, num plano perpendicular ao eixo Ox. Na figura 2 apresenta-se a trajectória do extremo da hélice e a respectiva projecção no plano x = 0. z z x=0 y y PSfrag replacements 2π x Figura 2: Trajectória do extremo da hélice Assim, uma parametrização da trajectória do extremo da hélice em relação ao centro é dada pelo caminho g2 : [0, L] −→ R3 , definido por g2 (t) = (0, r cos(2πωt), r sen(2πωt)) A trajectória do extremo da hélice é descrita pela soma dos dois caminhos em R 3 . Isto é, por g : [0, L] −→ R3 , definido por g(t) = (t, r cos(2πωt), r sen(2πωt)) O comprimento deste caminho é dado pela expressão (onde C = g([0, L])) Z Z L 1= ||g 0 (t)||dt C 0 Como g 0 (t) = (1, −2πωr sen(2πωt), 2πωr cos(2πωt)) temos ||g 0 (t)|| = = p p 1 + 4π 2 r2 ω 2 sen2 (2πωt) + 4π 2 r2 ω 2 cos2 (2πωt) 1 + 4π 2 r2 ω 2 3 e portanto Z 1=L C p 1 + 4π 2 r2 ω 2 4 Exercı́cio 3 Um fio C, com densidade de massa ρ(x, y, z) = |x(y + 1)|, tem a configuração da intersecção das superfı́cies S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = P = {(x, y, z) ∈ R3 : y + p x2 + y 2 } √ 2z = 1} Calcule a massa de C. Resolução: A massa do fio é dada pelo integral de linha Z m= ρ. C Para calcular este integral de linha precisamos de determinar uma parametrização para a curva C. Comecemos por determinar a equação da projecção, C 0 , de C no plano xOy: ( p 2 z = x2 + y 2 ⇒ x2 + y 2 = 12 − y + y2 1 √ z = 2 (1 − y) x2 + ⇔ (y+1)2 2 = 1. Portanto a projecção C 0 é uma elipse centrada no ponto (0, −1, 0) com eixo maior de comprimento √ 2 e eixo menor de comprimento 1. Uma parametrização para C pode ser definida por √ √ g(t) = (cos(t), 2 sen(t) − 1, 2 − sen(t)), t ∈ [0, 2π], √ onde se usou o facto de que, quando t percorre o intervalo [0, 2π], a função (cos(t), 2 sen(t) − 1, 0) √ percorre a projecção C 0 e que o único ponto de C por cima de (cos(t), 2 sen(t) − 1, 0) tem coordenada z dada por √ √ 1 1 z = √ (1 − y(g(t))) = √ (1 − ( 2 sen(t) − 1)) = 2 − sen(t). 2 2 Temos g 0 (t) ||g 0 (t)|| ρ(g(t)) √ = (− sen(t), 2 cos(t), − cos(t)) p p = sen2 (t) + 2 cos2 (t) + cos2 (t) = 1 + 2 cos2 (t) √ 1 = | cos(t)( 2 sen(t) − 1 + 1)| = √ | sen(2t)|, 2 logo m= Z 2π ρ(g(t))||g 0 (t)||dt = 0 = = = 1 √ 2 Z 4 √ 2 Z 2π | sen(2t)| 0 π 2 sen(2t) 0 p p 1 + 2 cos2 (t)dt 1 + 2 cos2 (t)dt i π2 3 4 h √ −(1 + 2 cos2 (t)) 2 0 3 2 3 4 √ (3 2 − 1). 3 2 5 Exercı́cio 4 Um filamento eléctrico C, com densidade de carga eléctrica p σ(x, y, z) = 5 − 8(x + 1)(y + 1) tem a configuração da intersecção das superfı́cies S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = z} P = {(x, y, z) ∈ R3 : 2x + 2y + z = −1} Calcule a carga eléctrica de C. Resolução: A carga eléctrica do filamento é dada pelo integral de linha Z σ. q= C Para calcular este integral de linha precisamos de determinar uma parametrização para a curva C. Comecemos por determinar a equação da projecção, C 0 , de C no plano xOy: ( z = x2 + y 2 ⇒ −1 − 2y − 2x = x2 + y 2 z = −1 − 2y − 2x (x + 1)2 + (y + 1)2 = 1. ⇔ Portanto a projecção C 0 é uma circunferência de raio 1 centrada no ponto (−1, −1, 0). Uma parametrização para C pode ser definida por g(t) = (cos(t) − 1, sen(t) − 1, 3 − 2 cos(t) − 2 sen(t)), t ∈ [0, 2π] onde se usou o facto de que, quando t percorre o intervalo [0, 2π], (cos(t) − 1, sen(t) − 1, 0) percorre a projecção C 0 . Para além disso, o único ponto de C por cima de (cos(t) − 1, sen(t) − 1, 0) tem coordenada z dada por z = −1 − 2(sen(t) − 1) − 2(cos(t) − 1) = 3 − 2 cos(t) − 2 sen(t). Temos logo g 0 (t) = (− sen(t), cos(t), 2 sen(t) − 2 cos(t)) p p ||g 0 (t)|| = sen2 (t) + cos2 (t) + (2 sen(t) − 2 cos(t))2 = 5 − 8 sen(t) cos(t) p p σ(g(t)) = 5 − 8(x(g(t) + 1)(y(g(t) + 1) = 5 − 8 cos(t) sen(t) q= Z 2π 0 σ(g(t))||g (t)||dt = 0 Z 2π 0 (5 − 8 cos(t) sen(t))dt 2π = [5t + 2 cos(2t)]0 = 10π. 6 Exercı́cio 5 Resolva as seguintes questões. 1. Parametrize as curvas: a) Um segmento de recta percorrido desde o ponto (1, 0, 1) até ao ponto (0, 0, −1), b) O arco da circunferência de raio 1 centrada no ponto (0, 0, 1) e contida no plano z = 1, percorrida no sentido que visto da origem é o dos ponteiros do relógio, desde o ponto (−1, 0, 1) até ao ponto (1, 0, 1), c) A porção da curva de intersecção das superfı́cies x = y 2 e x2 + y 2 + z 2 = 1 contida na região z ≥ 0, percorrida da esquerda para a direita quando vista da origem. 2. a) Calcule as coordenadas do centro de massa de um filamento com a forma da curva da alı́nea 1.b), se a função densidade de massa for dada por f (x, y, z) = x 2 + z 2 . b) Considere o campo vectorial F : R3 \ {(0, 0, 0)} → R3 definido por F (x, y, z) = Determine o valor do integral 1 (x, y, z). x2 + y 2 + z 2 Z α F · dg para as curvas α das alı́neas 1.a) e 1.b) percorridas no sentido indicado. Resolução: 1. a) Para o caso deste segmento de recta, obtemos g1 (t) = (1, 0, 1) + t[(0, 0, −1) − (1, 0, 1)] com t ∈ [0, 1]. Ou seja, g1 (t) = (1 − t, 0, 1 − 2t) b) Dado que o arco de circunferência está contido no plano z = 1, esta última coordenada aparecerá constante na parametrização. Como a curva é percorrida no sentido dos ponteiros do relógio vista da origem, obtemos: g2 (t) = (cos t, sin t, 1) A variação do parâmetro t deduz-se dos pontos inicial (−1, 0, 1) e final (1, 0, 1) e, portanto, t ∈ [−π, 0]. c) Para esta curva podemos tomar y como variável independente, ou seja, como parâmetro. Como a curva é percorrida da esquerda para a direita quando vista da origem, y deve decrescer ao longo dessa curva. Assim, obtemos: y = −t x = y 2 = t2 p p z = 1 − x 2 − y 2 = 1 − t 4 − t2 Note-se que, de acordo com o enunciado, z deve ser sempre positivo. Para descobrir os limites do intervalo da parametrização, resolvemos, para z = 0, o sistema ( 2 x + y2 + z 2 = 1 x = y2 7 Tirando o valor de y, obtemos y4 + y2 = 1 donde concluimos que y2 = ou seja, y = Portanto, com t ∈ [− 2. q√ 5−1 2 q√ 5−1 2 , ou y = − √ 5−1 2 q√ 5−1 2 . g3 (t) = (t2 , −t, q√ 5−1 2 ]. p 1 − t 4 − t2 ) a) Escrevendo (xCM , yCM , zCM ) para as coordenadas do centro de massa, podemos concluir imediatamente por simetria que zCM = 1 e, uma vez que a função de densidade de massa e o filamento são simétricos em relação ao plano yz, que xCM = 0. A coordenada yCM é dada pela fórmula: R yf (x, y, z)ds yCM = Rα2 α2 f (x, y, z)ds Tem-se g20 (t) = (− sin t, cos t, 0) ||g20 (t)|| = 1, Então, Z e 0 1 8 3 sin t(1 + cos t)dt = (− cos t − cos t) = − , y(x + z )ds = 3 3 −π α2 −π 2 Z Z 2 2 2 (x + z )ds = α2 0 Z 2 0 2 (1 + cos t)dt = π + −π Z 0 −π 1 + cos 2t 3π dt = 2 2 ou seja, 16 , 9π e, portanto, as coordenadas do centro de massa são yCM = − (0, − 16 , 1). 9π b) Por definição, temos Z α1 F · dg = Z = Z = Z = Z 1 F (g1 (t)) · g10 (t)dt 0 1 F (1 − t, 0, 1 − 2t) · (−1, 0, −2)dt 0 1 0 1 0 1 (1 − t, 0, 1 − 2t) · (−1, 0, −2)dt (1 − t)2 + (1 − 2t)2 5t − 3 dt 5t2 − 6t + 2 1 = log |5t2 − 6t + 2||t=1 t=0 2 log 2 1 . = [log 1 − log 2] = − 2 2 8 Para a segunda curva, obtemos Z α2 0 F · dg = Z −π = Z −π F (g2 (t)) · g20 (t)dt 0 0 = Z −π = Z −π F (cos t, sin t, 1) · (− sin t, cos t, 0)dt 1 (cos t, sin t, 1) · (− sin t, cos t, 0)dt 2 0 0dt = 0. 9 Exercı́cio 6 Considere o caminho g : [0, 1] → R2 definido por g(t) = (et cos(2πt), et sen(2πt)). a) Calcule o comprimento L(g) do caminho g. b) Calcule a coordenada x̄ do centróide da curva representada por g. c) Calcule o trabalho da força f (x, y) = (x, y) ao longo de g. Resolução: a) Para calcular o comprimento precisamos de calcular a derivada de g: g 0 (t) = (et cos(2πt) − 2πet sen(2πt), et sen(2πt) + 2πet cos(2πt)) e a respectiva norma ||g 0 (t)|| = Portanto, L(g) = Z 1 0 0 ||g (t)||dt = Z 1 0 p 1 + 4π 2 et p p 1 + 4π 2 et dt = 1 + 4π 2 (e − 1) b) Por definição de centróide temos: 1 x̄ = L(g) Z 1 1 x(g(t))||g (t)||dt = (e − 1) 0 0 Z 1 e2t cos(2πt)dt 0 Integrando por partes duas vezes obtemos x̄ = e2 − 1 2(e − 1)(1 + π 2 ) t t c) O trabalho é dado por W = Z 1 0 0 f (g(t)) · g (t)dt = Z 1 0 0 (e cos(2πt), e sen(2πt)) · g (t)dt = 10 Z 1 0 e2t dt = e2 − 1 2 Exercı́cio 7 Considere a curva C ⊂ R3 parametrizada pelo caminho g : [0, 2π] → R3 definido por √ g(θ) = 3θ cos(θ), 3θ sen(θ), 2 2 θ3/2 . a) Calcule o comprimento do caminho g. b) Seja a densidade de massa de C dada por α(x, y, z) = α, constante. Calcule o momento de inércia de C em relação ao eixo z. c) Considere que C está mergulhada num campo eléctrico dado pela expressão f (x, y, z) = (y, −x, z) Se C fôr a trajéctoria de uma partı́cula pontual de carga eléctrica unitária, calcule o trabalho realizado pela força eléctrica ao longo dessa trajéctoria. Resolução: a) Temos e, portanto, √ √ g 0 (θ) = −3θsen(θ) + 3 cos(θ), 3sen(θ) + 3θ cos(θ), 3 2 θ ||g 0 (θ)|| = 3(1 + θ) Assim, o comprimento de C é dado por Lg = Z 2π 3(1 + θ)dθ = 6π(1 + π). 0 b) A distância dum ponto (x, y, z) ao eixo dos z é dada por d(x, y, z) = d(g(θ))2 = 9θ2 p x2 + y 2 . Logo, e, portanto, o momento de inércia pedido será Z 2π Z 2π I= 9αθ2 ||g 0 (θ)||dθ = 27α θ2 (1 + θ)dθ = 27απ 3 (8/3 + 4π). 0 c) Temos 0 √ f (g(θ)) = (3θ sen(θ), −3θ cos(θ), 2 2 θ3/2 ) Logo, f (g(θ)) · g 0 (θ) = 3θ2 e o trabalho será dado por W = Z 2π 0 f (g(θ)) · g 0 (θ)dθ = 11 Z 2π 3θ2 dθ = 8π 3 . 0 Exercı́cio 8 Investigue se o campo vectorial 2x 2y 2 F (x, y, z) = − 2 , , z (x − y 2 )2 (x2 − y 2 )2 é gradiente no seu domı́nio de definição. Em caso afirmativo, dê a expressão geral do potencial. Em qualquer caso, calcule Z F C onde C é a curva parametrizada por g(t) = (et , sen t, t) com 0 ≤ t ≤ π 2. Resolução: O domı́nio de definição do campo F é o conjunto {(x, y, z) ∈ R3 : x 6= ±y} que é a união de 4 conjuntos em estrela, limitados pelos planos x = y e x = −y. y x=y x x = −y PSfrag replacements Figura 3: Esboço do domı́nio do campo F Como F é gradiente no domı́nio se e só se fôr gradiente em cada uma destas regiões conexas por arcos, é suficiente ver que F é fechado: 2y 8xy ∂ ∂ 2x = − = − ∂y (x2 −y 2 )2 (x2 −y 2 )3 ∂x (x2 −y 2 )2 2x ∂ ∂ 2 = 0 = ∂z − (x2 −y 2 )2 ∂x z 2y ∂ ∂ 2 = 0 = 2 2 2 ∂z (x −y ) ∂y z Portanto F é um campo gradiente. 12 Para determinar um potencial V (x, y, z) para F temos as equações: Da primeira obtemos, ∂V ∂x 2x = − (x2 −y 2 )2 ∂V ∂y = ∂V ∂z = z2 V (x, y, z) = Substituindo V na segunda, 2y (x2 −y 2 )2 1 + C(y, z) x2 − y 2 ∂C (y, z) = 0 ⇔ C(y, z) = D(z) ∂y e finalmente da terceira equação obtemos D0 (z) = z 2 ⇔ D(z) = z3 +E 3 Portanto o potencial tem a forma V (x, y, z) = 1 z3 + +E x2 − y 2 3 onde E é uma constante. No entanto, uma vez que a região onde o campo está definido não é um conjunto conexo por arcos, a constante pode variar de componente para componente. Assim, a expressão geral para o potencial é dada por 1 z3 se x > |y| x2 −y 2 + 3 + E1 z3 1 x2 −y se y > |x| 2 + 3 + E2 V (x, y, z) = 1 z3 x2 −y2 + 3 + E3 se x < −|y| z3 1 se y < −|x| x2 −y 2 + 3 + E4 com Ei ∈ R. Finalmente, pelo teorema fundamental do cálculo (que podemos aplicar porque o caminho g está inteiramente contido na região em que x > |y|), uma vez que g(0) = (1, 0, 0) π π π g( ) = (e 2 , 0, ) 2 2 temos Z F π = V (e 2 , 0, C = e−π + π ) − V (1, 0, 0) 2 π3 −1 24 13 Exercı́cio 9 Considere o campo definido em R2 − {(0, 0)} por x y F (x, y) = , − x2 + 4y 2 x2 + 4y 2 Calcule o integral de linha de F ao longo da circunferência de raio 1 centrada na origem e percorrida no sentido directo. Resolução: Se tentarmos calcular o integral de linha pela definição verificaremos imediatamente que não é uma tarefa fácil. Em vez disso podemos tentar utilizar o teorema de Green. O campo F é fechado: ∂ y x ∂ x2 − 4y 2 − 2 = = 2 ∂y x2 + 4y 2 (x + 4y 2 )2 ∂x x + 4y 2 Consideremos uma região S, limitada pela circunferência de raio 1 centrada na origem e percorrida no sentido directo e por outra linha L regular, fechada e percorrida no sentido directo, em que seja possı́vel aplicar o Teorema de Green. Sendo F um campo fechado, aplicando o Teorema de Green obtemos I I F = F C L em que C designa a circunferência de raio 1 centrada na origem e percorrida no sentido directo. Portanto, em vez de calcular o integral de F em C podemos calcular o integral de F em L. H Assim, devemos escolher L de tal forma que o integral L F seja simples. y 2 L C 1 PSfrag replacements 4 x Figura 4: Esboço da região S limitada por C e por L A expressão do campo sugere que consideremos curvas onde x2 + 4y 2 seja constante, isto é elipses. Consideremos, por exemplo, o caminho h(t) = (4 cos t, 2 sen t), 0 ≤ t ≤ 2π que percorre a elipse x2 + 4y 2 = 16 uma vez no sentido directo como se mostra na figura 4. 14 Portanto, o integral de linha de F ao longo de L é dado por I Z 2π 2 cos t sen t .(−4 sen t, 2 cos t)dt , − F.dh = 4 cos2 t + 4 sen2 t 4 cos2 t + 4 sen2 t 0 Z 2π 1 = − dt 4 0 = − π 2 15 Exercı́cio 10 Considere o campo vectorial f : R3 7→ R3 definido por f (x, y, z) = (yzexyz , xzexyz , xyexyz ) a) Sabendo que f define uma força conservativa, encontre um potencial φ para f . b) Calcule o trabalho de f ao longo da espiral parametrizada pelo caminho g(t) = (5 cos(t), 5 sen(t), t2 ) com t ∈ [0, π/4]. Resolução: a) O potencial φ satisfaz a condição ∇φ = f , ou seja verifica as equações ∂φ ∂x ∂φ ∂y = yzexyz ∂φ ∂z = xyexyz = xzexyz Integrando a primeira equação, obtem-se φ(x, y, z) = exyz + g(y, z) onde g(y, z) é arbitrária. Substituindo na segunda e terceira equações obtemos ∂g ∂g = =0 ∂y ∂z pelo que g é uma constante que podemos tomar como sendo zero. (Recorde-se que o potencial φ está definido a menos de uma constante.) Concluı́mos, assim, que podemos tomar φ(x, y, z) = exyz . Nota: Em geral é preciso cuidado quando se tenta calcular o potencial deste modo. Quando não sabemos à partida se o campo vectorial f é conservativo, é muito importante verificar se o potencial φ obtido está bem definido e é de classe C 1 na região em que está definido o problema. Só nesse caso temos a garantia que f é conservativa. Também é possı́vel encontrar φ recorrendo ao teorema fundamental do cálculo para integrais de linha, segundo o qual, sendo f conservativa e escolhendo-se um ponto base p 0 , se tem Z f, φ(p) = L onde o integral é calculado ao longo de um caminho diferenciável L qualquer que ligue p 0 a um ponto genérico p = (x, y, z). No nosso caso podemos escolher p0 = 0 e o caminho como sendo o segmento de recta entre p0 e p, parametrizado por h(t) = (tx, ty, tz), com t ∈ [0, 1]. 16 Obtemos então, φ(x, y, z) = Z = Z = Z 1 f (h(t)) · h0 (t)dt = 0 1 (t2 yzet 3 xyz , t2 xzet 3 xyz , xyt2 et 3 0 1 3xyzt2 et 3 xyz xyz ) · (x, y, z)dt = dt = 0 = exyz − 1 que, a menos de uma constante, é o resultado obtido acima. b) Para calcular o trabalho de f ao longo da espiral vamos utilizar o teorema fundamental do cálculo, Z Z W = f dg = ∇φ = φ(g(π/4)) − φ(g(0)) = √ √ = φ(5 2/2, 5 2/2, π 2 /16) − φ(5, 0, 0) = = e25π 2 /32 −1 Note-se que seria muito mais difı́cil fazer este cálculo directamente utilizando a definição de trabalho. 17 Exercı́cio 11 Determine quais dos seguintes campos F são gradientes no domı́nio indicado. Se F for um gradiente determine um potencial. Caso contrário, determine uma curva fechada C H contida no domı́nio do campo tal que C F · dg 6= 0. 1. F : R2 → R2 definido por F (x, y) = (sin y + y, x cos y + x + 3y 2 ), 2. F : R3 → R3 definido por F (x, y, z) = (x, −z, y), 3. F : R3 → R3 definido por F (x, y, z) = (2xyz, x2 z + 2yz 2 , x2 y + 2y 2 z), 4. F : R3 \ {(0, 0, z) : z ∈ R} → R3 definido por F (x, y, z) = (− y x , , z 2 ). x2 + y 2 x2 + y 2 Resolução: 1. A função F é de classe C 1 . Calculando as derivadas cruzadas, obtemos ∂(x cos y + x + 3y 2 ) ∂(sin y + y) = cos y + 1 = ∂y ∂x logo F é um campo fechado. Uma vez que R2 é um conjunto em estrela, concluimos que F é um gradiente. Para calcular um potencial φ(x, y), resolvemos o sistema ( ∂φ φ(x, y) = x sin y + xy + C(y) ∂x = sin y + y ⇐⇒ ∂φ = x cos y + x + 3y 2 x cos y + x + C 0 (y) = x cos y + x + 3y 2 ∂y Resolvendo a segunda equação do segundo sistema obtem-se C(y) = y 3 + C onde C ∈ R é uma constante. Conclui-se que um potencial para F é dado, por exemplo, por φ(x, y) = x sin y + xy + y 3 . 2. O campo F não é fechado uma vez que ∂F3 ∂F2 = −1 6= 1 = ∂z ∂y portanto não é um gradiente. Para determinar uma curva fechada ao longo do qual o integral de F é não nulo, notamos que as componentes y e z do campo são (−z, y), o que significa que o campo é tangente a qualquer cilindro com eixo igual ao eixo Ox. Assim, se calcularmos o integral de linha do campo ao longo de uma circunferência com centro no eixo dos xx e contida num plano perpendicular ao eixo dos xx, o integral será não nulo. Por exemplo, podemos tomar a circunferência C parametrizada por g(t) = (0, 10 cos t, 10sint) e obtemos I C F · dg = Z = 0 ≤ t ≤ 2π 2π 0 Z F (0, 10 cos t, 10 sin t) · (0, −10 sin t, 10 cos t)dt 2π 0 100(cos2 t + sin2 t)dt = 200π 6= 0. 18 3. O campo F é de classe C 1 . Calculando as derivadas cruzadas obtemos ∂F1 ∂F2 = 2xz = ∂y ∂x ∂F1 ∂F3 = 2xy = ∂z ∂x ∂F3 ∂F2 = x2 + 4yz = ∂z ∂y pelo que o campo é fechado. Uma vez que R3 é um conjunto em estrela, concluimos que F é um gradiente. Para achar um potencial φ(x, y, z) resolvemos o sistema ∂φ = 2xyz φ(x, y, z) = x2 yz + C1 (y, z) ∂x ∂φ 2 2 φ(x, y, z) = x2 yz + y 2 z 2 + C2 (x, z) ⇐⇒ ∂y = x z + 2yz ∂φ 2 2 φ(x, y, z) = x2 yz + y 2 z 2 + C3 (x, y) ∂z = x y + 2y z donde se conclui que um potencial é dado, por exemplo, por φ(x, y, z) = x2 yz + y 2 z 2 . 4. O campo F é de classe C 1 e calculando as derivadas cruzadas vemos que é um campo fechado. No entanto, uma vez que R3 \ {(0, 0, z) : z ∈ R} não é um conjunto simplesmente conexo, nada podemos concluir quanto a F ser ou não um gradiente. Para decidirmos se F é ou não um gradiente, temos portanto de determinar se existe ou não uma curva fechada ao longo da qual o integral de F é não nulo. Para isso devemos tentar perceber qual é o aspecto geométrico do campo. As duas primeiras componentes mostram que F é tangente aos cilindros com eixo igual ao eixo dos zz pelo que se calcularmos um integral ao longo de uma circunferência centrada num ponto do eixo dos zz e paralela ao plano xy o integral de F será não nulo. Podemos, por exemplo, calcular o integral ao longo da circunferência parametrizada por g(t) = (cos t, sin t, 0) e obtemos I F · dg = Z Z 0 ≤ t ≤ 2π 2π 0 0 2π F (cos t, sin t, 0) · (− sin t, cos t, 0)dt = cos2 t + sin2 tdt = 2π 6= 0. Conclui-se que o campo F não é um gradiente. 19 Exercı́cio 12 Calcule onde I P dx + Qdy γ 2 2 (P, Q) = −y 3 + 1 + 2x2 yex cos y 2 , x3 + xex cos y 2 − 2y 2 sin y 2 e γ é a circunferência de raio 1, centrada na origem e percorrida uma vez no sentido directo. Resolução: Pelo teorema de Green, ZZ I ∂Q ∂P dxdy − P dx + Qdy = ∂x ∂y S γ onde S é o cı́rculo de raio 1 centrado na origem. Como ∂Q ∂x ∂P ∂y concluimos que 2 = 3x2 + 1 + 2x2 ex cos y 2 − 2y 2 sin y 2 ; 2 = −3y 2 + 1 + 2x2 ex cos y 2 − 2y 2 sin y 2 , I P dx + Qdy = ZZ = Z γ 0 3x2 + 3y 2 dxdy S 1 Z 2π 0 3r4 = 2π 4 3π = . 2 3r2 rdθdr 1 0 Nota: Note-se que o cálculo deste integral de linha pela definição seria bastante mais complicado. 20 Exercı́cio 13 Seja F : R2 \ {(−1, 0), (1, 1), (0, 0)} → R2 o campo vectorial F = (P, Q) definido por y y−1 5x P (x, y) = − +p 2 (x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + (y − 1)2 x + y2 Q(x, y) = − 1. Calcule o integral x−1 5y x+1 + +p . (x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + (y − 1)2 x2 + y 2 Z P dx + Qdy C 2 2 onde C é a elipse x9 + y16 = 1 percorrida uma vez no sentido directo (isto é no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio). 2. Indique justificadamente se o campo F é um gradiente no conjunto [ 1 1 2 2 R \ {(x, y) ∈ R : y = x + , −1 ≤ x ≤ 1} {(0, 0)} . 2 2 Resolução: 1. Se definirmos F1 (x, y) = y x+1 ,− (x + 1)2 + y 2 (x + 1)2 + y 2 , F2 (x, y) = − F3 (x, y) = temos x−1 y−1 , 2 2 (x − 1) + (y − 1) (x − 1)2 + (y − 1)2 ! 5x 5y p ,p , x2 + y 2 x2 + y 2 , F = F1 + F2 + F3 e portanto I C F · dg = I C F1 · dg + I C F2 · dg + I C F3 · dg. O campo F3 é o campo radial F (r) = 5~er (onde ~er designa o vector unitário que p aponta 2 2 na direcção radial) H e portanto é um gradiente (com potencial V (x, y) = 5r = 5 x + y ). Conclui-se que C F3 · dg = 0. O campo F1 obtem-se do campo G(x, y) = − x y , x2 + y 2 x2 + y 2 fazendo a substituição x 7→ x − (−1) e multiplicando por −1, enquanto que F2 se obtem fazendo a substituição x 7→ x − 1, y 7→ y − 1. Portanto, tal como G, F1 e F2 são campos fechados mas não gradientes. Para calcular o integral de F1 ao longo de C podemos aplicar o teorema de Green à região D = {(x, y) ∈ R2 : (x + 1)2 + y 2 ≥ 1, 21 y2 x2 + ≤ 1} 9 16 para concluir que o integral ao longo de C coincide com o integral ao longo da circunferência de raio 1 centrada em (−1, 0) percorrida no sentido directo. Uma parametrização desta circunferência é dada por g(t) = (−1 + cos t, sin t), 0 ≤ t ≤ 2π, logo I C F1 · dg = Z = Z 2π F1 (−1 + cos t, sin t) · (− sin t, cos t)dt 0 2π 0 −1dt = −2π. Da mesma maneira, podemos aplicar o teorema de Green para concluir que o integral de F 2 ao longo de C coincide com o integral de F2 ao longo de uma circunferência de centro em (1, 1) e de raio 1 percorrida no sentido directo. Portanto I C F2 · dg = Z = Z e concluimos finalmente que I C 2π F2 (1 + cos t, 1 + sin t) · (− sin t, cos t)dt 0 2π 1dt = 2π 0 P dx + Qdy = −2π + 2π + 0 = 0. 2. O campo F é um gradiente no conjunto S indicado sse Z F · dg = 0 α para toda a curva fechada α contida em S. Podemos, como na alı́nea anterior, escrever F = F1 + F2 + F3 , e uma vez que F3 é um gradiente, precisamos apenas de decidir se F1 + F2 é um gradiente em S. F1 + F2 está definido e é fechado em S ∪ {(0, 0)} = R2 \ {(x, y) ∈ R2 : y = x 1 + , 0 ≤ x ≤ 1} 2 2 e qualquer curva em S ∪ {(0, 0)} é homotópica ou a um ponto, ou à elipse C percorrida um certo número de vezes (ou no sentido directo ou no sentido dos ponteiros do relógio). Portanto o teorema de Green garante que se α dá k voltas à origem, I I (F1 + F2 ) = k (F1 + F2 ) = 0. α C Conclui-se que F1 + F2 é um gradiente em S ∪ {(0, 0)}, o que por sua vez implica que F é um gradiente em S. 22 Exercı́cio 14 Indique se o campo vectorial y y−1 x x−1 F (x, y) = − 2 + , − (x + y 2 ) (x − 1)2 + (y − 1)2 (x2 + y 2 ) (x − 1)2 + (y − 1)2 é gradiente no seu domı́nio de definição. Calcule Z F C onde C é a circunferência de raio 3, centrada no ponto (1/2, 1/2) e percorrida no sentido antihorário. Resolução: O domı́nio de definição do campo F é o conjunto R2 \ {(0, 0), (1, 1)}. É fácil de verificar que ∂x Fy = ∂y Fx , pelo que F é um campo fechado. No entanto, R2 \ {(0, 0), (1, 1)} não é um conjunto em estrela (nem é simplesmente conexo). Consequentemente, não podemos decidir imediatamente se F é ou não um gradiente no seu domı́nio. Observemos que F = F1 + F2 , com y x F1 (x, y) = − 2 , (x + y 2 ) (x2 + y 2 ) y−1 x−1 F2 (x, y) = , − (x − 1)2 + (y − 1)2 (x − 1)2 + (y − 1)2 e, acilmente se verifica, que F1 e F2 são campos fechados. Seja C1 a circunferência de raio 1/10 (esta é só uma escolha possı́vel) centrada na origem, percorrida no sentido anti-horário. Seja C2 a circunferência de raio 1/10 centrada no ponto (1, 1), percorrida no sentido anti-horário. Temos que Z Z F1 = 2π ; F1 = 0. C1 C2 O primeiro resultado segue de um cálculo directo imediato. O segundo obtém-se do Teorema de Green, porque F1 é fechado e não tem singularidades no interior do disco cuja fronteira é C2 . Do mesmo modo, temos que Z Z F2 = 0 ; F2 = −2π. C1 C2 A primeira igualdade resulta do Teorema de Green, porque F2 é fechado e não tem singularidades no interior do disco cuja fronteira é C1 . A segunda igualdade segue por um cálculo directo imediato. Podemos então aplicar o Teorema de Green na região interior a C e exterior a C 1 e C2 . Como F é fechado o integral duplo de ∂x Fy − ∂y Fx é nulo, e do teorema de Green concluimos que Z Z Z F = 2π − 2π = 0. F+ F = C C1 C2 Recorde-se que F é gradiente no seu domı́nio se e só se o trabalho for zero ao longo de qualquer caminho fechado. Ora temos, por exemplo, que Z Z F = F1 = 2π C1 C1 logo F não é gradiente no seu domı́nio. No entanto, F já seria um gradiente, por exemplo, no conjunto exterior a C. 23 Exercı́cio 15 Considere o campo vectorial f : R2 − {(0, 0)} 7→ R2 definido por f (x, y) = (x/(x2 + y 2 ), y/(x2 + y 2 )). a) Sabendo que f define uma força conservativa, encontre um potencial φ para f . b) Calcule o trabalho de f ao longo da espiral parametrizada pelo caminho g(t) = (2t cos(t), 2t sen(t)) com t ∈ [π, 2π]. c) Calcule o trabalho de f ao longo do quadrado de vértices (1, 0), (0, 1), (−1, 0), (0, −1) percorrido no sentido anti-horário. Será f um gradiente no seu domı́nio ? Resolução: a) O potencial φ satisfaz a condição ∇φ = f , ou seja, verifica as equações ∂φ ∂x ∂φ ∂y = x/(x2 + y 2 ) = y/(x2 + y 2 ) Integrando a primeira equação, obtem-se φ(x, y) = (1/2)ln(x2 + y 2 ) + g(y) onde g(y) é arbitrária. Substituindo na segunda equação obtemos ∂g =0 ∂y pelo que g é uma constante que podemos tomar como sendo zero. (Recorde-se que o potencial φ está definido a menos de uma constante.) Concluı́mos, assim, que podemos tomar φ(x, y) = (1/2)ln(x2 + y 2 ). Nota: Em geral é preciso cuidado quando se tenta calcular o potencial deste modo. Quando não sabemos à partida se o campo vectorial f é conservativo, é muito importante verificar se o potencial φ obtido está bem definido e é de classe C 1 na região em que está definido o problema. Só nesse caso temos a garantia que f é conservativa. Também é possı́vel encontrar φ recorrendo ao teorema fundamental do cálculo para integrais de linha, que diz que sendo f conservativa e escolhendo-se um ponto base p0 , se tem Z φ(p) = f, L onde o integral é calculado ao longo de um caminho seccionalmente regular qualquer L que ligue p0 a p = (x, y). No nosso caso podemos escolher esse caminho da seguinte forma: Tomamos por exemplo, p0 = (1, 0) e ligamos o ponto p = (x, y) a p0 seguindo primeiro um segmento de recta radial até à circunferência de raio 1 centrada na origem. Depois seguimos um arco dessa circunferência até p0 . 24 y p p0 x PSfrag replacements Figura 5: O campo f é perpendicular às circunferências centradas na origem O trabalho de f ao longo da segunda parte da trajectória é nulo porque f , sendo radial, é perpendicular às circunferências centradas na origem p tal como se ilustra na figura 5. Basta então tomar o caminho g(t) = (tx, ty) onde t ∈ [1, 1/ x2 + y 2 ] que liga o ponto p = (x, y) à circunferência de raio 1 centrada na origem. Temos então Z √ 2 2 1/ φ(x, y) x +y = 1 = Z 1/ √ (tx/((tx)2 + (ty)2 ), ty/((tx)2 + (ty)2 )) · (x, y)dt = x2 +y 2 1/tdt = 1 = (1/2)ln(x2 + y 2 ) que concorda com o que obtivemos acima. b ) Para calcular o trabalho de f ao longo da espiral vamos utilizar o teorema fundamental do cálculo, Z Z W = f dg = ∇φ dg = φ(g(2π)) − φ(g(π)) = = φ(4π, 0) − φ(−2π, 0) = = (1/2)(ln(16π 2 ) − ln(4π 2 )) = = ln(2) Note-se que seria muito mais difı́cil fazer este cálculo directamente utilizando a definição de trabalho. c) O trabalho de f ao longo do quadrado é zero porque f = ∇φ e o quadrado é uma curva fechada. Evidentemente que f é um gradiente, pois como vimos temos f = ∇φ com φ bem definida em todo o domı́nio de f . 25 Exercı́cio 16 Considere o campo vectorial f : R3 7→ R3 definido por f (x, y, z) = (y 2 z, 2xyz, xy 2). a) Sabendo que f define uma força conservativa, encontre um potencial φ para f . b) Calcule o trabalho de f ao longo da espiral parametrizada pelo caminho g(t) = (2 cos(t), 2 sen(t), t) com t ∈ [0, π/4]. c) Seja C uma curva regular fechada em R3 . O que pode dizer sobre o trabalho de f ao longo de C ? Resolução: a) O potencial φ satisfaz a condição ∇φ = f , ou seja, verifica as equações ∂φ ∂x ∂φ ∂y = y2z ∂φ ∂z = xy 2 = 2xyz Integrando a primeira equação, obtem-se φ(x, y, z) = xy 2 z + g(y, z) onde g(y, z) é arbitrária. Substituindo na segunda e terceira equações obtemos ∂g ∂g = =0 ∂y ∂z pelo que g é uma constante que podemos tomar como sendo zero. (Recorde-se que o potencial φ está definido a menos de uma constante.) Concluı́mos assim que podemos tomar φ(x, y, z) = xy 2 z. Nota: Em geral é preciso cuidado quando se tenta calcular o potencial deste modo. Quando não sabemos à partida se o campo vectorial f é conservativo, é muito importante verificar se o potencial φ obtido está bem definido e é de classe C 1 na região em que está definido o problema. Só nesse caso temos a garantia que f é conservativa. Também é possı́vel encontrar φ recorrendo ao teorema fundamental do cálculo para integrais de linha, que estabelece que sendo f conservativa e escolhendo-se um ponto base p 0 , se tem Z φ(p) = f, L onde o integral é calculado ao longo de um caminho seccionalmente regular qualquer L que ligue p0 a p. No nosso caso podemos escolher p0 = 0 e o caminho como sendo o segmento de recta que une p à origem, parametrizado por h(t) = (tx, ty, tz), com t ∈ [0, 1]. Obtemos 26 então, φ(x, y, z) = Z = Z = Z 1 f (h(t)) · h0 (t)dt 0 1 0 1 (t3 y 2 z, 2t3 xyz, t3 xy 2 ) · (x, y, z)dt 4xy 2 zt3 dt 0 = xy 2 z que é o resultado obtido acima. b) Para calcular o trabalho de f ao longo da espiral vamos utilizar o teorema fundamental do cálculo, Z Z W = f dg = ∇φ dg = φ(g(π/4)) − φ(g(0)) √ √ π = φ( 2, 2, ) − φ(2, 0, 0) 4 √ 2 = π 2 Note-se que seria muito mais difı́cil fazer este cálculo directamente utilizando a definição de trabalho. c) Seja p um ponto da curva C e l(t), com t ∈ [a, b], um caminho que parametrize C e tal que l(a) = l(b) = p. Então, pelo teorema fundamental do cálculo temos Z Z f dl = ∇φ dl = φ(l(b)) − φ(l(a)) = φ(p) − φ(p) = 0. Logo, o trabalho da força conservativa f ao longo de uma curva fechada é zero. 27 Exercı́cio 17 Considere o campo vectorial F : R2 \ {(0, 0), (0, 1)} → R2 definido por y y−1 x x F (x, y) = − 2 − , + x + y2 x2 + (y − 1)2 x2 + y 2 x2 + (y − 1)2 Determine o integral de linha do campo F ao longo do caminho que descreve a fronteira do quadrado com vértices nos pontos (2, 2), (−2, 2), (−2, −2), (2, −2) no sentido directo (contrário ao dos ponteiros de um relógio). Resolução: Designemos por γ o caminho que descreve a fronteira Γ do quadrado e sejam g1 : [0, 2π] → R2 e g2 : [0, 2π] → R2 os caminhos definidos por g1 (t) g2 (t) 1 1 = ( cos t, sen t) 4 4 1 1 = ( cos t, (sen t + 1)) 4 4 ou seja, g1 descreve a circunferência C1 de raio 1/4 e centro na origem no sentido positivo e g2 descreve a circunferência C2 de raio 1/4 e centro no ponto (0, 1) no sentido positivo tal como se ilustra na figura 6. y C2 Γ C1 x PSfrag replacements Figura 6: As linhas Γ, C1 , C2 O campo F pode ser decomposto na soma de dois campos F = F1 + F2 em que y x F1 (x, y) = − 2 , x + y 2 x2 + y 2 x y−1 , F2 (x, y) = − 2 x + (y − 1)2 x2 + (y − 1)2 Facilmente se verifica que os campos F1 e F2 são fechados, ou seja, o campo F é fechado. Portanto, aplicando o teorema de Green à região limitada pelas circunferências C 1 e C2 e pela fronteira Γ do quadrado, obtemos Z Z Z 0= F · dγ − F · dg1 − F · dg2 Γ C1 28 C2 ou seja, Z Γ F · dγ = Z C1 (F1 + F2 ) · dg1 + Z C2 (F1 + F2 ) · dg2 Por outro lado, o cı́rculo limitado pela circunferência C2 não contém a origem e, portanto temos Z F1 · dg2 = 0 C2 Do mesmo modo, o cı́rculo limitado pela cicunferência C1 não contém o ponto (0, 1) e, portanto, concluimos que Z F2 · dg1 = 0 C1 Assim, temos Z Γ F · dγ = Z C1 F1 · dg1 + Z C2 F2 · dg2 Da definição de integral de linha de um campo vectorial obtemos Z 2π Z (− sen t, cos t) · (− sen t, cos t)dt = 2π F1 · dg1 = 0 C1 Z C2 F2 · dg2 = Z 2π 0 (− sen t, cos t) · (− sen t, cos t)dt = 2π Portanto, Z Γ F · dγ = 2π + 2π = 4π 29 Exercı́cio 18 Considere o campo vectorial 3(x − 1) x+1 3y −y f (x, y) = + , + + x . (x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + y 2 (x + 1)2 + y 2 (x − 1)2 + y 2 Calcule o trabalho de f ao longo da elipse de equação x 2 /25 + y 2 /16 = 1 percorrida no sentido anti-horário. Resolução: Para facilitar a análise decompomos o campo f em três partes: f = h + g + l onde h(x, y, z) = ( x+1 −y , ) 2 2 (x + 1) + y (x + 1)2 + y 2 g(x, y, z) = ( 3(x − 1) 3y , ) (x − 1)2 + y 2 (x − 1)2 + y 2 l(x, y, z) = (0, x) O campo h é fechado, é singular no ponto (−1, 0) (que portanto não pertence ao seu domı́nio), e não é um gradiente. De facto, seja C a circunferência de raio 1 centrada em (−1, 0). Facilmente se verifica que o trabalho de h ao longo se C percorrida no sentido anti-horário é 2π, pelo que h não é conservativo. y E C0 C x PSfrag replacements Figura 7: O campo g é radial com centro no ponto (1, 0) que não pertence ao seu domı́nio. É fechado. Seja C 0 a circunferência de raio 1 centrada em (1, 0). O trabalho de g ao longo de C 0 é nulo porque g é perpendicular a C 0 . Pelo teorema de Green conclui-se que o integral de g ao longo de qualquer curva regular fechada em R2 − {(1, 0)} é zero, pelo que g é um gradiente nesse conjunto. Seja E a elipse do enunciado que vamos considerar percorrida no sentido anti-horário. Aplicando o teorema de Green à região contida entre as curvas C e E, sendo h fechado, concluı́mos que Z Z h= h = 2π. E C 2 Por outro lado, como g é gradiente em R − {(1, 0)} temos Z g = 0. E 30 R Só falta agora calcular E l. O campo l = (0, x) é de classe C 1 na região A contida no interior da curva E. Logo, pelo teorema de Green temos Z Z Z l = (∂1 l2 − ∂2 l1 )dxdy = (1)dxdy = (área da elipse) = 20π E A R A R R R Obtemos finalmente E f = E h + E g + E l = 2π + 0 + 20π = 22π. Note-se que teria sido extraordinariamnte mais longo, difı́cil e aborrecido fazer este cálculo directamente através da definição. 31 Exercı́cio 19 Calcule I P dx + Qdy γ onde (P, Q) = −y + 1 − x2 + y 2 − 2xy (1 + x2 + y 2 )2 , cos (x) + 1 + x2 − y 2 − 2xy (1 + x2 + y 2 )2 ! e γ é a fronteira do quadrado S = (x, y) ∈ R2 : |x| < 1, |y| < 1 percorrida uma vez no sentido directo. Resolução: Pelo teorema de Green, I ZZ P dx + Qdy = γ S ∂Q ∂P − ∂x ∂y dxdy Como ∂Q ∂x = − sen (x) + ∂P ∂y = −1 + (2x − 2y) 1 + x2 + y 2 2 − 4x 1 + x2 + y 2 1 + x2 − y 2 − 2xy (1 + x2 + y 2 )4 2 (2y − 2x) 1 + x2 + y 2 − 4y 1 + x2 + y 2 1 − x2 + y 2 − 2xy (1 + x2 + y 2 )4 ; , concluimos que ∂Q ∂P − ∂x ∂y = − sen (x) + 1 + 4 (x − y) 1 + x2 + y 2 − 4 x + x3 + xy 2 − y − yx2 − y 3 (1 + x2 + y 2 ) 3 = − sen (x) + 1 e que portanto I P dx + Qdy = γ ZZ (− sen (x) + 1) dxdy = 4 S (já que sen (x) é ı́mpar e portanto o seu integral em [−1, 1] é zero). Note-se que o cálculo deste integral de linha pela definição seria bastante mais complicado. 32