Fabio Silveira

Propaganda
4/1/2017
Flash
Macroeconômico
Eduardo Teixeira 1
Mudar e mudar já!!
Mudar o foco da política econômica da inflação para o nível de atividade
A economia brasileira acumulou uma contração de aproximadamente 7,5% nos dois últimos
anos, resultado desastroso que se seguiu a uma virtual estagnação observada em 2014,
quando o PIB cresceu apenas 0,5%. A consequência não poderia ser outra: uma rápida e
aguda crise social, que tem nos indicadores de emprego sua face mais aparente.
Por outro lado, a inflação caiu drasticamente, passando de 10,7% em 2015 para,
provavelmente, menos de 6,5% (o IPCA ainda não tinha saído quando escrevemos esse
texto) no ano passado, o que representa uma redução de cerca de 40%, muito acima do que
o mercado apostava no começo do ano.
Mesmo nessa conjuntura de fraqueza extrema do nível de atividade e rápida queda da
inflação, o Banco Central manteve a taxa de juros em patamares elevadíssimos, reduzindo-a,
timidamente, apenas nas duas últimas reuniões do COPOM. Em resultado, a taxa de juros
real da economia situou-se ao longo do ano passado em níveis superiores ao ano anterior,
em flagrante contradição com as condições objetivas de funcionamento da economia.
Por incrível que possa parecer, alguns saúdam esses resultados como positivos, pois
defendem que, ao fim e ao cabo, a inflação cedeu e esse seria o objetivo imediato da política
econômica, especialmente do Banco Central. No fundo é a defesa do mandato único da
Autoridade Monetária, que caberia zelar apenas pelo combate à inflação.
Verdadeira “jabuticaba” na estrutura do país, esta concepção, uma espécie de “contribuição”
à ciência econômica, tem sido propagada por vários economistas. A simples ideia de que o
Banco Central não deve se preocupar com o nível de atividade, especialmente em momentos
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Consultor Associado da MacroSector Consultores e Sócio da Creta Planejamento
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de crise como o que vivemos, é algo completamente estranho ao receituário vigente nas
economias desenvolvidas, especialmente nos bancos centrais americano (FED) e europeu
(BCE).
Apesar do “esforço” para justificar a atual política econômica, seu resultado é, para dizer o
mínimo, negativo, o que tem ensejado, mesmo que tardiamente, uma reflexão acerca dos
caminhos a seguir a partir desse ano que se inicia. De nossa parte entendemos que a
conjuntura atual demanda uma mudança na composição das políticas cambial, creditícia,
monetária e fiscal, pois sua conformação atual é incapaz de resgatar o país da crise.
É forçoso reconhecer que não é uma tarefa fácil (nunca é), notadamente quando à crise
econômica se soma uma crise política, que tem tangenciado mesmo uma crise institucional. O
grau de atrito e antagonismo entre os poderes da República e entre as diversas instâncias da
União claramente se transformou num obstáculo a mais na superação da crise.
Independente das dificuldades, se não ocorrerem mudanças profundas, correremos,
infelizmente, o risco de a economia continuar a apresentar resultados negativos em 2017.
Lembremos que há alguns meses analistas começaram a sustentar que o pior da crise havia
passado e a economia começaria a se recuperar em julho/setembro, prazo posteriormente
adiado para o último trimestre do ano. A ideia central dos defensores desta aventada
recuperação era que a melhoria do ambiente de negócios (troca de governo, enfrentamento
da crise das finanças públicas, maior previsibilidade do cálculo econômico, relançamento de
programas de concessões, etc.) levaria a uma recuperação do investimento privado força
motriz da economia. Em outras palavras, sustentava-se que a economia teria tocado o
chamado “fundo do poço” e uma recuperação em “V” estaria na eminência de se iniciar. Os
dados mais recentes publicados pelo IBGE e outras instituições deixaram claro que isso ainda
vai demorar a acontecer.
O denominado “mercado”, que chegou a apresentar rasgos de otimismo, cortou
acentuadamente sua estimativa para a evolução do PIB em 2017, que se encontra, como
expresso no último Boletim Focus, agora em 0,5%. O próprio governo, segundo veiculado na
mídia, reduziu sua expectativa de evolução do produto em 2017 de 1,6% (que chegou a ser
denominada de “vigorosa”) para apenas 1%, resultado que se alcançado (e dificilmente será)
caracterizará uma retomada pífia.
Está cada vez mais patente que é preciso urgentemente mudar o foco da política econômica
da inflação para o nível de atividade. Ou seja, o problema central do país no momento não é a
inflação e sim o combate à crise socioeconômica, derivada de políticas públicas que, em
verdade, não foram implementadas apenas pelo atual governo.
Ou seja, uma verdadeira inflexão na política econômica é necessária, respeitando, é claro, as
limitações impostas pela própria conjuntura. Em outro artigo pretendemos listar algumas
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medidas que julgamos importantes, não apenas no que tange as chamadas políticas macro,
como, também, as reformas e outras ações estruturantes. De qualquer forma, independente
do sentido de outras decisões, entendemos ser flagrante a necessidade de uma redução
rápida da SELIC, como forma de diminuir o custo financeiro das empresas (importante para a
decisão de investimento) e do setor público (crucial para o ajuste das finanças da União e dos
governos subnacionais), abrindo espaço e criando estímulos para a recuperação do
investimento produtivo.
É importante ficar claro que é a recuperação do investimento que viabilizará e sustentará a
retomada da economia.
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