Imprimir () 13/01/2017 ­ 05:00 Corte mais forte de juros pode estabilizar projeções para o PIB Por Camilla Veras Mota e Tainara Machado A Nelson Rocha, do BRP: trajetória da inflação permite corte mais agressivo aceleração no ciclo de corte de juros iniciada na quarta­feira pelo Banco Central, que reduziu a Selic em 0,75 ponto, para 13%, não chega a melhorar as projeções para atividade neste ano, avaliam economistas, mas pode finalmente estabilizar as estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que vêm se deteriorando desde o último trimestre do ano passado. Levantamento feito pelo Valor Data mostra que 17 instituições mantiveram a expectativa que o PIB varie entre 0,5% e 1% e que Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continue desacelerando, chegando próximo ou mesmo ao centro da meta estabelecida pela autoridade monetária, de 4,5%. Para Marco Caruso, do Banco Pine, as surpresas negativas com os dados de atividade em outubro e novembro foram o combustível que o BC precisava para acelerar o ritmo de corte. "Em um ambiente de ancoragem [das expectativas], dá para olhar com mais carinho, por exemplo, para o desemprego", ele avalia. O Pine manteve a projeção feita em novembro, de que a Selic vai chegar a 9,5% até o fim deste ano, mas agora conta com uma antecipação das reduções que levarão os juros a esse nível. A atividade, lembra Caruso, reage de forma defasada à política monetária ­ quanto mais longo for o ciclo de afrouxamento, mais demora para que a economia sinta os benefícios. Essa reação costuma levar de seis a nove meses, afirma Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria ­ que não revisará suas projeções de crescimento para 2017 e 2018, atualmente em 0,7% e 2,4%, porque já as considera "desafiadoras". "A decisão de ontem [quarta­feira] apenas reforça a projeção atual, que embute forte crescimento trimestral ao longo de 2017", diz. Ao acelerar o ritmo de corte de juros, acrescenta Alessandra, o BC parece tentar evitar que se concretize um cenário para a atividade pior do que o mercado já espera, já que os dados correntes da economia real continuam muito fracos. Luiz Fernando Figueiredo, ex­ diretor do BC e economista da Mauá Capital, concorda que a antecipação do afrouxamento pode estancar as revisões para baixo do produto. "A decisão do BC não muda a nossa visão sobre a inflação de 2017 e reduz o risco de um PIB mais baixo". Os dados ruins do último trimestre levaram Caruso, do Pine, a revisar recentemente a queda esperada para o produto no período de 0,4% para 0,7%. Diante da forte herança estatística negativa e da postergação do horizonte de recuperação da atividade para o segundo semestre deste ano, a estimativa para 2017 já estava perto de 0,3%, contra 0,8% antes da rodada de dados de novembro. "Agora podemos voltar para 0,5%", ele afirma. Além do nível de atividade, diz Nelson Rocha, economista do banco Ribeirão Preto (BRP), o BC também tem observado o processo desinflacionário, que se intensificou no segundo semestre. Rocha calcula que o nível atual do IPCA, dessazonalizado e anualizado, é compatível com uma inflação de 3%. E o cenário para este ano também é positivo, com indicação de safra agrícola recorde para diversas culturas. "Se isso acontecer, a inflação de fevereiro, março e abril vai ser muito baixa, com possibilidade de deflação dos IGPs", ele pondera. Sua estimativa está em 4,45%, abaixo do centro da meta e com viés de baixa. O BRP prevê uma trajetória mais benigna para inflação desde meados do ano passado, avaliação que lhe rendeu a segunda posição no ranking Top 5 de longo prazo do BC para o IPCA. Para PIB, sua projeção é de 0,9%, contando com a manutenção do ritmo de corte de juros de 0,75 nas próximas "duas ou três" reuniões e Selic a 9,5% no fim do período. "A sociedade está pagando um preço elevado [pelos juros altos], com desemprego e baixo crescimento", ele comenta. A expectativa para inflação de Carlos Thadeu de Freitas, ex­diretor do BC e economista­chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que foi mantida, já estava abaixo da meta, em 4,4%, em função da fraqueza da economia real. Ele projeta crescimento entre zero e 0,3% em 2017, número que não deve ser revisado por ora, já que o primeiro semestre ainda deve ser de resultados ruins para a atividade, mesmo com juros menores. Isso acontece, em sua avaliação, porque a taxa de juros real continua elevada, em torno de 8% ao ano. Além disso, o nível de endividamento de empresas e famílias segue como um entrave para a recuperação. Até que o processo de 'digestão' de dívidas se complete, diz Freitas, leva algum tempo e só no segundo semestre o ritmo de crescimento anualizado da economia deve ser mais expressivo. Mesmo a redução da inflação, que resulta em aumento da renda real, deve ter pouco efeito no curto prazo, justamente por causa do elevado nível de comprometimento da renda. Para Freitas, o PIB deve ter caído 0,7% no último trimestre de 2016, o que evidencia que a economia real continua a patinar.