UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” O PRAZER DE APRENDER E ENSINAR MATEMÁTICA CARMEN VARELLA ORIENTADOR: PROF. LUIZ CLAUDIO LOPES ALVES RIO DE JANEIRO AGOSTO/2003 I UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” O PRAZER DE APRENDER E ENSINAR MATEMÁTICA CARMEN VARELLA Apresentação de monografia ao Conjunto Universitário Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Docência do Ensino Superior. RIO DE JANEIRO AGOSTO/2003 II AGRADECIMENTOS A todos os professores do Projeto “A Vez do Mestre”, aos amigos do Curso de Docência e a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. III DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu merido pela colaboração e compreensão de sempre. Ao meu filho com todo carinho do mundo. IV EPÍGRAFE Poesia Matemática Às folhas tantas do livro matemático um Quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma Incógnita. Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a do ápice à base: uma figura ímpar; olhos rombóides, boca trapezóide, corpo retangular, seios esferóides. Fez da sua uma vida paralela à dela, até que se encontraram no infinito. “Quem és tu?” – indagou ele em ânsia radical. “Sou a soma dos quadrados dos catetos. Mas pode me chamar de hipotenusa”. E de falarem descobriram que eram (o que em aritmética corresponde a almas irmãs) primos entre si. E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz numa sexta potenciação traçando, ao sabor do momento e da paixão, retas, curvas, círculos e linhas senoidais nos jardins da quarta dimensão. escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas e os exegetas do Universo finito Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. E enfim resolveram se casar, constituir um lar, mais que um lar, uma perpendicular. Convidaram para padrinhos o Polígono e a Bissetriz. E fizeram planos e equações e diagramas para o futuro, sonhando com uma felicidade integral e diferencial. E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos. E foram felizes até aquele dia em que tudo vira afinal monotonia. Foi então que surgiu o Máximo Divisor comum, freqüentador de círculos concêntricos viciosos. Ofereceu-lhe, a ela, uma grandeza absoluta e reduziu-a a um denominador comum. Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade. Era um triângulo, tanto chamado amoroso. Desse problema ela era uma fração a mais ordinária. Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade, e tudo que era espúrio passou a ser moralidade, como aliás em qualquer sociedade. (Millôr Fernandes) V SUMÁRIO INTRODUÇÃO 07 CAPÍTULO I A construção do conhecimento matemático 09 CAPÍTULO II A função social da Matemática 15 CAPÍTULO III Matemática e linguagem 21 CAPÍTULO IV Jogos e brincadeiras para ensinar Matemática 27 CONCLUSÃO 36 BIBLIOGRAFIA 39 ÍNDICE 40 ANEXOS 41 FOLHA DE AVALIAÇÃO 42 VI INTRODUÇÃO Segundo Dante (1989), a matemática é uma das mais importantes ferramentas da sociedade moderna. Apropriar-se dos conceitos e procedimentos matemáticos básicos contribui para a formação do futuro cidadão que se engajará no mundo do trabalho das relações sociais, culturais e políticas. Várias pesquisas nos mostram que de cada dez alunos, nove, pelo menos, não gostam de matemática. E ao longo da vida escolar muitos vão sendo reprovados nessa disciplina. O que é possível fazer para que o ensino da matemática se torne mais prazeroso e menos assustador? O objetivo do presente estudo é mostrar que a matemática pode ser ensinada e aprendida de forma prazerosa quando apresentada de maneira natural e sempre relacionada com o cotidiano. A proposta é resgatar e levar ao aluno a história do ser humano como sujeito criador ao longo do tempo e mostrar que as idéias e conceitos são, na realidade, fruto da construção do conhecimento matemático em épocas passadas e atuais. Numa sociedade do conhecimento e da comunicação é preciso que desde as séries iniciais as crianças comecem a comunicar idéias, procedimentos e atitudes matemáticas, falando, dramatizando, escrevendo, desenhando, representando. O mundo está em constante mudança, dado o grane e rápido desenvolvimento da tecnologia. Máquinas de calcular, computadores, Internet são assuntos do cotidiano. VII E todos eles têm ligações estreitas com a matemática. Daí a relevância deste trabalho. Para acompanhar essa rápida mudança, foi necessário estudar e pesquisar. Como deveria ser o ensino de matemática? No primeiro capítulo vamos dar ênfase a construção do conhecimento matemático. Um pouco da história da matemática desde a Grécia. Um esboço também da visão de Piaget quanto a construção do pensamento-lógico matemático. Para o segundo capítulo, reservamos a função social da matemática. O compromisso político do ensino da matemática se pretendemos contribuir para que os educandos sejam sujeitos das transformações sociais. No capítulo três, matemática e linguagem: tanto a língua quanto a matemática possuem funções e metas que se complementam. Ambas desenvolvem as habilidades de interpretar, analisar e sintetizar. No quarto capítulo, é possível ensinar matemática brincando? Como o uso de jogos e brincadeiras podem resgatar o patrimônio histórico-social e cultural de determinado grupo? Enfim, o lixo estrutural comum à educação, escola e sociedade é o conhecimento. Da relação dialética entre esses componentes resultará o modelo de educação, de escola e de sociedade que desejamos, temos um longo caminho a percorrer. VIII CAPÍTULO I A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO IX A matemática é uma ciência construída e organizada pelo ser humano, Sob esse aspecto, ela desempenha um papel fundamental na formação do pensamento lógico-matemático a partir do desenvolvimento de habilidades de raciocínio específicas. Estabelece relações entre objetos, fatos e conceitos, generalizar, prever, proteger e abstrair são exemplos dessas habilidades. Quando se pergunta a alguém acerca do que trata a matemática, é provável que a resposta seja do tipo: é a ciência dos números. Mas há áreas da matemática onde os números não aparecem, a geometria é o exemplo clássico. Para os gregos, os primeiros a elevarem a matemática à categoria de ciências, ela era uma atividade essencialmente contemplativa. Os objetos de que tratava eram vistos como entidades com existência própria, sobre os quais se debruçaria o espírito em busca da verdade. Nesse período, a matemática foi substancializada e identificada com a geometria, enquanto a álgebra, vista como uma técnica sem resultados tidos como nobres, permanecia uma disciplina secundária na hierarquia das ciências. Segundo alguns autores, a visão da matemática que se desenhou na Grécia e repetiu-se no início dos tempos modernos, foi logo golpeada, de um lado, por dúvidas quanto à validade absoluta dos axiomas da geometria euclidiana, e de outro, por fenômenos da análise que chocavam e desafiavam a intuição, em cujo poder se depositava ilimitada confiança. Nas matemáticas clássicas, cada área tinha suas próprias leis e baseava-se em objetos distintos: a álgebra, a teoria dos números, a análise, a geometria, a teoria das possibilidades etc. X A ênfase nas estruturas subjacentes a essas teorias permitiu a localização de estruturas-mãe, estruturas algébricas, estruturas de ordem e estruturas topológicas, a partir das quais toda a matemática poderia ser desenvolvida de maneira unificada. A matemática como ciência pura, estudada sem preocupações pragmáticas, inicia-se na Grécia, com Pitágoras, misterioso personagem que tanto pode ter sido um homem como um deus de uma sociedade secreta ou um pseudônimo coletivo, dizem alguns autores. Durante a Idade Média, a matemática atravessou, no ocidente, um longo período de marasmo. No entanto, no oriente, os árabes desenvolviam, nessa mesma época, a matemática dos gregos e, sobretudo, a álgebra. Com isso, preservaram os conhecimentos clássicos e abriram caminho para a retomada ocidental da matemática, durante a renascença. A matemática, tal como se conhece atualmente, começa milênios antes de Cristo, na região Mesopotâmica. Fragmentos da época mostram que os babilônios detinham conhecimentos importantes, conheciam o Teorema de Pitágoras, sabiam resolver a equação de segundo grau e calculavam volumes de sólidos geométricos. Os egípcios conheciam uma matemática semelhante à que por muito tempo predominou no ensino elementar: um amontoado de receitas de cálculo. A matemática, como podemos perceber, é um amplo conjunto de conhecimentos voltados para a resolução de problemas do cotidiano, bem como para a aplicação por outras áreas de conhecimento. XI Atualmente, uma das principais características da matemática é a superprodução. Os trabalhos dirigem-se para vários campos de criação, que podem ser divididos em seis grandes grupos: lógica e fundamentos, álgebra, análise, geometria, estatística e probabilidades e ainda matemática aplicada. A maior parte dessa produção é usada pelas outras ciências. Daí a importância da matemática não só para o cotidiano, mas também para as outras disciplinas. Piaget (1978) concebeu dois pólos ou extremos ao tratar dois tipos de conhecimento: num deles, o conhecimento físico e, no outro, o conhecimento lógico-matemático. O conhecimento físico é o conhecimento das características do objeto (cor, forma, espessura, textura, tamanho, flexibilidade etc.). Estas características se encontram no próprio objeto. Portanto, a criança só adquire este conhecimento através da sua ação sobre os objetos: explorando, observando, manipulando, empurrando, jogando, amassando, quebrando etc. Segundo Piaget (1978), o conhecimento lógico-matemático, por outro lado, se refere às relações criadas pelo indivíduo entre os objetos. Por exemplo, quando comparamos duas bolas de tamanhos diferentes, estabelecemos uma relação entre elas: uma bola pode ser maior ou menor que outra. A diferença que existe entre elas não se encontra nem em uma nem em outra bola, mas sim na relação que criamos mentalmente entre elas. Conforme Piaget (1978), a fonte do conhecimento lógico-matemático não se encontra no objeto, mas no próprio pensamento do indivíduo. É uma fonte interna. XII As pesquisas realizadas a respeito de como se constrói o conhecimento são da maior importâncias para os professores. Segundo Kamii (1995), a criança não constrói o número, por exemplo, fora do contexto geral do pensamento no dia-a-dia. Logo, o professor deve encorajar a criança a colocar todos os tipos de coisas, e eventos em relações todo o tempo, em vez de focalizar apenas a quantificação. É importante observar que, embora o conceito de número seja construído pela criança, resultado de uma elaboração mental sua, embora se trate de um conhecimento que não pode ser transmitido à criança, os pesquisadores são unânimes em afirmar: o professor pode, a partir do aproveitamento de situações cotidianas, criar oportunidades e desafios que levem a criança a pensar, a estabelecer relações, a solucionar problemas que surjam, favorecendo assim o desenvolvimento de seu raciocínio. Segundo Kamii (1995), a criança não constrói o número fora do contexto geral do pensamento no dia-a-dia. Neste sentido, ela chama a atenção para o fato de que todas as situações cotidianas sejam exploradas pedindo-se às crianças que relacionem objetos, comparem quantidades, procedam à distribuição de objetos por pessoas ou por grupos, em vez de apenas focalizarmos, mais uma vez repetimos, a quantificação. Conhecer estes aspectos é útil, para que o professor possa exploralos de várias formas, cotidianamente. As crianças não constroem conceitos numéricos apenas pela manipulação de objetos. É a atividade reflexiva da criança, à medida que atua sobre os objetos e vai alcançando abstrações, a responsável pela construção de tais conceitos. E o professor é o mediador dessa construção, cabe a ele, portanto, estar atento a provocar a reflexão, o questionamento, a dúvida. XIII Para a construção do conceito de número, a criança, de acordo com Piaget (1978), precisa ter estabelecido dois tipos de relações: a ordem e a inclusão hierárquica. Segundo Piaget (1978), para que ela efetue uma contagem, deve ter conseguido ordenar mentalmente os objetos, mesmo que a disposição destes não corresponda a uma ordem espacial, ou seja, mesmo que ela não os coloque numa fileira sobre a mesa, por exemplo. Conforme Piaget (1978), o conhecimento lógico-matemático é construído internamente pelo indivíduo a partir do estabelecimento de relações entre os objetos, a manipulação de quantidades é um conhecimento lógicomatemático: a manipulação de símbolos, a compreensão do significado das convenções na escrita da matemática, bem como o seu emprego adequado, é um conhecimento social. XIV CAPÍTULO II A FUNÇÃO SOCIAL DA MATEMÁTICA XV Segundo Duarte, se pretendemos contribuir para que os educandos sejam sujeitos das transformações sociais e do uso da matemática nessas transformações sociais, é necessário que contribuamos para que eles desenvolvam um modo de pensar e agir que possibilite captar a realidade enquanto um processo, conhecer as leis internas do desenvolvimento desse processo, para poder captar as possibilidades de transformação do real. O compromisso político do ensino da matemática está na forma como o processo de transmissão/assimilação é realizado: os alunos devem poder utilizar os conhecimentos como ferramentas de transformação social. Utilizar os conhecimentos como ferramentas de transformação social não significa somente analisar os aspectos sócio-econômicos da matemática, tais como: inflação, custo de vida, reajustes salariais, mas também o estudo de assuntos que propiciem uma efetiva socialização dos conteúdos da matemática. Segundo alguns autores, o papel da educação, seja aquela a cargo da família ou aquela a cargo da escola, tem um duplo objetivo: significa levar crianças e jovens a construir conhecimento e a transpor seus limites pessoais como ser humano. De acordo com Piaget (1978), se uma criança aprende a pensar autônoma e criticamente do ponto de vista intelectual, isto é, quando é estimulada a dar respostas a partir do que sente, do que acredita ser verdade, e não da pressão de pais e professores, tende a entender a importância da honestidade, de tomar decisões, de construir por si mesma normas de conduta, articulando várias éticas. Tavares e Alarcão (1998), observam que, na concepção tradicional de educação, o bom pedagogo era apenas um bom explicador. XVI Os alunos aprendiam, muitas vezes, memorizando as fórmulas e os resumos ditados pelos professores, nos testes, era reproduzida a ciência aprendida, sobretudo aquelas partes recomendadas pelos próprios mestres. “O mais importante de tudo isso é que a avaliação final da disciplina iria depender, em grande parte, da obediência a essa orientação fielmente seguida”. (TAVARES e ALACÃO, 1998, p. 98-99) Para que a escola mude, é necessário que professores e professoras mudem sua forma de ser professor e professora. Ao integrar à sua prática docente os resultados de pesquisas nos campos da epistemologia e do currículo, da psicologia e das relações entre ensino-aprendizagem, que possibilitam novas formas de conhecimento, ensino e aprendizagem os educadores estarão contribuindo para futuras mudanças. A intensificação do trabalho leva os professores a seguir por atalhos, a economizar esforços, a realizar apenas o essencial para cumprir a tarefa que tem entre as mãos. “Tudo isso obriga os professores a apoiar-se cada vez mais nos especialistas, a esperar que lhes digam o que fazer, iniciando-se um processo de depreciação da experiência e das capacidades adquiridas ao longo dos anos”. (APPLE e JUNGCK, 1990, p. 156) De modo geral, o ato de educar parte do pressuposto de que a cultura do aluno nada tem a ver com a escola. Ignorando a cultura que ela traz, a criança, supõe-se que todas as crianças, ao entrarem na escola, sejam iguais. Não se respeita as diferenças. XVII Mas a sociedade apresenta desigualdades e a escola termina privilegiando alunos que têm maior acesso aos meios eletrônicos de comunicação, que manuseiam, com maior freqüência, livros de histórias, jornais, revistas e que, no próprio ambiente familiar, estão expostos a assuntos relacionados aos que vão tratar na escola. Como o conhecimento trabalhado pela escola tem sido apropriado pelos setores dominantes da sociedade, o aluno pertencente às camadas populares tem uma bagagem cultural distante do que é ensinado na escola. Por outro lado, este aluno tem uma série de habilidades e conhecimentos construídos na luta pela sobrevivência, no seio de nossas relações sociais que, de modo geral, são ignorados pelos professores oriundos dos setores médios da população. Uma pedagogia que leve em conta essas diferenças, que se proponha a perguntar, a escutar e a valorizar os conhecimentos e habilidades trazidas pela criança, apresentará certamente resultados bem melhores que os verificados até agora. Os conhecimentos a serem transmitidos/assimilados na escola só terão valor efetivo na medida em que possibilitem aos alunos a apreensão e a transformação da realidade. Nesta concepção o conteúdo só terá validade se contiver, enquanto objeto de cada ciência, a sua origem, a fundamentação teórica e as suas ferramentas de análise, articuladas com o contexto histórico de sua produção. Em síntese, a proposta de matemática nasce das experiências vividas pelo próprio aluno e, junto com as demais áreas de conhecimento, facilita a formação das identidades individuais e a formação de conceitos próprios mediante um processo de construção crítica. XVIII Ao mesmo tempo, ensina os alunos a fazerem os cálculos necessários à sua sobrevivência cotidiana. O procedimento do professor deve ser intencional na reprodução das linhas essenciais do desenvolvimento humano no campo da aquisição de noções. As transformações devem ser geradas por necessidades até atingir o objetivo. A proposta de matemática, portanto, é a de um ensino dinâmico, integrado com as outras áreas, a serviço da socialização do saber. Deve ser uma preocupação constante do professor de matemática o resgate da experiência de vida de cada criança. É importante utilizar a matemática para desenvolver o espírito questionador dos alunos, dando-lhes condições de se sentirem atuantes em direção à autonomia de pensamento, buscando informações por si sós, independentemente da escola. É essencial que cada aluno desenvolva um raciocínio lógico, mediante um processo de construção crítica que começa na percepção visual e espacial até chegar aos hábitos de trabalho e atitudes de socialização indispensáveis à formação pessoal de um conceito, o primeiro indício de que ele conseguiu superar as barreiras que foram criadas em torno da matemática tradicional. Segundo Vasconcellos, a questão de fundo é o professor estar comprometido com a construção do conhecimento como mediação para a construção da cidadania por parte de todos os alunos. XIX Objetivamente, se houver efetiva aprendizagem, como que anulamos o efeito da lógica classificatória que reina na educação, pois praticamente ninguém vai ser reprovado, por um lado, ou enganado, deixar de se apropriar do conhecimento, por outro. XX CAPÍTULO III MATEMÁTICA E LINGUAGEM XXI Como acontece com outras aprendizagens, o ponto de partida para a aquisição dos conteúdos matemáticos deve ser os conhecimentos prévios dos educandos. Na educação de jovens e adultos, mais do que em outras modalidades de ensino, esses conhecimentos costumam ser bastante diversificados e muitas vezes são encarados, equivocadamente, como obstáculos à aprendizagem. A comunicação desempenha um papel fundamental para auxiliar os alunos a construírem os vínculos entre as noções informais e intuitivas e a linguagem abstrata e simbólica da matemática. Os adultos não escolarizados aprendem muito através da comunicação oral, por isso é importante dar-lhes a oportunidade de falar de matemática, de explicar suas idéias antes de representa-las no papel. A interação com a fala de seus colegas ajuda-os a construir conhecimento, a aprender outras formas de pensar sobre um determinado problema, a clarificar seu próprio processo de raciocínio. Devemos também estimula-los a produzir registros gráficos e mesmo a escrever sobre matemática, por exemplo, descrevendo a solução de um problema. O professor pode facilitar esse processo formulando perguntas que levem os educandos a investigar e a expor seus pontos de vista, estimulandoos a produzirem seus próprios registros, a partir dos quais serão buscadas as relações com as representações formais e com as escritas simbólicas. A aprendizagem da matemática refere-se a um conjunto de conceitos e procedimentos que comportam métodos de investigação e raciocínio, formas de representação e comunicação. Como ciência, a matemática engloba um amplo campo de relações, regularidades e coerências, despertando a curiosidade e instigando a capacidade de generalizar, projetar, prever e abstrair. O desenvolvimento XXII desse procedimento amplia os meios para compreender o mundo que nos cerca, tanto em situações mais próximas, presentes na vida cotidiana, como naquelas de caráter mais geral. Por outro lado, a matemática também é a base para a construção de conhecimentos relacionados às outras áreas do currículo. Ela está presente nas Ciências Exatas, nas Ciências naturais e sociais, nas variadas formas de comunicação e expressão. Saber matemática torna-se cada vez mais necessário no mundo atual, em que se generalizam tecnologias e meios de informação baseados em dados quantitativos e espaciais em diferentes representações. A complexidade do mundo do trabalho exige da escola, cada vez mais, a formação de pessoas que saibam fazer perguntas, que assimilem rapidamente informações e resolvam problemas utilizando processos de pensamento cada vez mais elaborados. No ensino fundamental, a atividade matemática deve estar orientada para integrar de forma equilibrada seu papel formativo (o desenvolvimento de capacidades intelectuais fundamentais para a estruturação do pensamento e do raciocínio-lógico) e o seu papel funcional (as aplicações na vida prática e na resolução de problemas de diversos campos de atividade). O simples domínio da contagem e de técnicas de cálculo não contempla todas essas funções, intimamente relacionadas às exigências econômicas e sociais do mundo moderno. A reorganização dos conteúdos matemáticos nos currículos escolares pressupõe uma revisão na forma como vêm sendo trabalhados. Nesta perspectiva, ensinar e aprender matemática nos currículos escolares pressupõe uma revisão na forma como se apresenta regras e técnicas, resoluções de problemas, muito mais do que reconhecer símbolos, XXIII manejar fórmulas, ensinar e aprender é, sobretudo, interpretar, construir ferramentas conceituais, criar significados, sensibilizar-se para perceber os problemas, tanto quanto saber equaciona-los ou resolve-los. Os alunos só adquirirão uma postura crítica em relação aos conhecimentos matemáticos se, através de um trabalho competente do professor, tornarem-se capazes de interpretar, analisar e comparar as informações matemáticas que lhes chegam no cotidiano, avaliando sua consistência e veracidade. Somente dessa forma possibilitaremos ao nosso aluno desenvolver uma ação transformadora sobre si mesmo e sobre a sociedade. A comunicação é a função primeira da linguagem. A comunicação não consiste apenas na transmissão de idéias, informações ou fatos, mas também, e principalmente, na proposição de novas formas de ver objetos e conceitos, interferindo e modificando os significados. É possível desenvolver a comunicação em matemática. Tanto a língua quanto a matemática desenvolvem as habilidades de interpretar, analisar, sintetizar. Língua e matemática possuem funções e metas que se complementam. Um suporte para o desenvolvimento da oralidade e da aprendizagem significativa da escrita em matemática é a utilização de histórias e textos variados. É possível criar um ambiente significativo para o aprendizado do aluno de modo que, sem medo de se expressar, de se colocar, de errar, ele faça elos cognitivos entre a linguagem familiar, conceitos do mundo real, linguagem matemática formal e manipulação dos símbolos matemáticos. XXIV A intenção é criar também oportunidades para a introdução e o uso do vocabulário matemático, que aparece natural e informalmente no discurso de sala de aula. Textos sobre a história, origem e evolução de alguns fatos e conceitos matemáticos representam uma grande contribuição pedagógica. O objetivo é resgatar e levar ao aluno a história do ser humano como sujeito criador ao longo do tempo e mostrar que as idéias e os conceitos são, na realidade, fruto da construção do conhecimento matemático em épocas passadas e atuais. Bakhtin (1979), como um precursor da lingüística moderna, enfatiza o caráter social da linguagem e, conseqüentemente, o seu caráter dialógico. E é a presença desse interlocutor que definirá o seu perfil, ou seja, em função do ouvinte, ela será mais formal ou mais coloquial, mais cuidada ou mais solta. Assim, Bakhtin (1979), conclui que não é a atividade mental que organiza a expressão, mas, ao contrário, é a expressão que organiza a atividade mental, que a modela e determina sua orientação. Diante de uma afirmação como essa, vemos o quanto é importante e determinante, mesmo no desenvolvimento dos alunos, a interação professor/alunos e alunos/alunos no cotidiano escolar. E vemos o quanto é essencial que o professor estimule o exercício da verbalização entre eles. Para Vygotsky, a interação é fundamental no processo de aprendizagem, já que para ele, aquilo que uma criança faz, hoje, com ajuda de outra, fará sozinha amanhã. Trata-se da noção de zona de desenvolvimento proximal. Isto nos leva a valorizar o trabalho em conjunto, a cooperação entre os membros de um grupo, a troca de informação e conhecimentos entre as crianças. XXV Segundo Bakhtin (1979), a função central da linguagem não é a expressão, mas a comunicação e, conseqüentemente, a interação verbal constitui a realidade primeira da língua. Daí a importância dada por ele ao diálogo, como já foi enfatizado acima. O objetivo principal de uma escola que se pretende democrática é que cada aluno conquiste sua liberdade. Esta só se efetivará quando o corpo discente adquirir consciência de seu espaço existencial, social, político e cultural. A questão da interdisciplinariedade não deve ser puro jogo onde os objetivos de cada disciplina se estruturem a partir do suporte filosófico que orienta a proposta educacional. Portanto, o trabalho docente relaciona a prática vivida pelos alunos com os conteúdos propostos pelo professor. A aula começa pela constatação da prática real, que é relacionada com o conteúdo proposto, na forma de um confronto entre a experiência e a explicação do professor. Vai-se da ação à compreensão e da compreensão à ação, até a síntese (o que não é outra coisa senão a unidade entre teoria e prática). XXVI CAPÍTULO IV JOGOS E BRINCADEIRAS PARA ENSINAR MATEMÁTICA XXVII “É muito importante que nós educadores tenhamos consciência da importância de criarmos ambientes inteligentes, além de reconhecer a inteligência em nosso sistema mente/corpo. É preciso que se dedique um tempo para refletir sobre estes ambientes educativos, que precisam ser estimuladores, agradáveis, inteligentes”. (MARANHÃO, 2000, p. 83-84) “A escola busca objetivos essenciais da educação, o domínio do conhecimento acadêmico, mas deve enfatizar o gosto pelo estudar, a conscientização da importância da busca do conhecimento e de seu processo de construção”. (MARANHÃO, 2000, p. 84) Jogos, brincadeiras, técnicas com arte, tudo isso são estratégias para ensinar matemática de uma forma criativa. Desenvolver a criatividade deve ser sempre a grande preocupação dos educadores. 4.1. MATEMÁTICA NA SALA DE AULA Diante de uma situação de aprendizagem, também é importante que o professor situe os alunos, explicando os objetivos, as aplicações do que está sendo estudado e as possíveis relações com outros campos do conhecimento. Sugerindo caminhos, fazendo propostas de trabalho, orientando a atividade e interpretando os erros como meios de aprendizagem, ele poderá estabelecer vínculos entre as experiências e conhecimentos dos alunos e os novos conteúdos a serem aprendidos. No início da escolaridade é importante enfatizar o caráter instrumental das noções matemáticas, tornando-o como fio condutor da aprendizagem. Assim, a transmissão de informações e a exercitação de técnicas não devem ocupar das atividades de resolução de problemas. XXVIII O processo de ensino e aprendizagem deve centrar-se na análise e na interpretação de situações na busca de estratégias de solução, na análise e comparação entre diversas estratégias, na discussão de diferentes métodos de solução. Desse modo, pode-se favorecer não só o domínio das técnicas mas também o de procedimentos como a observação, a experimentação, as estimativas, a verificação e a argumentação. Um caminho é transformar as situações do cotidiano que envolvem noções e notações matemáticas em suporte para a aprendizagem significativa de procedimentos mais abstratos. Alguns exemplos de fatos e situações cotidianas que podem propiciar interessantes explorações matemáticas são: levantamento de dados pessoais, endereços, códigos postais, números de telefone etc., para reconhecimento das várias funções dos números; atividades de compra e venda, cálculo do valor da cesta básica, de encargos sociais, de orçamento doméstico, para exercícios de cálculo; leitura e interpretação de informações que aparecem em moedas e cédulas de dinheiro, conta de luz, para observar as escritas numéricas e fazer cálculos mentais. A resolução de problemas matemáticos na sala de aula envolve várias atividades e mobiliza diferentes capacidades dos alunos: compreender problema; elaborar um plano de solução; executar o plano; verificar ou comprovar a solução; justificar a solução; comunicar a resposta. É bastante forte entre professores a idéia de que a ausência de materiais manipuláveis na sala de aula pode comprometer a aprendizagem da matemática, como se a manipulação desses materiais tivesse a força de imprimir no pensamento dos alunos as noções matemáticas que se procura concretizar através deles. Para muitos, uma atividade bem conduzida deve passar seqüencialmente pela manipulação, representação e simbolização, sendo os materiais um trampolim para atingir as abstrações. Nesta visão, o concreto geralmente é interpretação como sinônimo de difícil. XXIX É importante decepar alguns equívocos embutidos nessas idéias. Freqüentemente, o concreto é tomado como o que se pode tocar, atribuir-se aos objetivos manipuláveis a propriedade de tornar significativa uma situação de aprendizagem. Na construção do conhecimento, existem muitos fatos que, mesmo sendo simbólicos, expressam tão diretamente seu significado que não necessitam de qualquer tipo de mediação para serem compreendidos. É o caso de adultos analfabetos que não necessitam de material de contagem para identificar pequenas quantidades e operar com elas, pois já têm essas noções construídas mentalmente. Se conhecerem as escritas numéricas correspondentes a essas quantidades, poderão operar a partir dessas representações simbólicas sem maiores problemas. Outras vezes, as situações de aprendizagem tornam-se significativas se forem estabelecidas relações com situações mais próximas, mais familiares, como é o caso da utilização de sólidos geométricos de massa ou de madeira para que os alunos identifiquem, pela observação, certas características das figuras tridimensionais. Materiais para apoiar a aprendizagem dos números e das operações como ábacos, material dourado, discos de frações, cópias de cédulas e moedas ou outros podem ser recursos didáticos eficientes, desde que estejam relacionados a situações significativas que provoquem a reflexão dos alunos sobre as ações desencadeadas. A calculadora também é indicada como um recurso didático, embora o seu uso na sala de aula ainda seja considerado uma questão polêmica. É inegável que essas máquinas, transformando-se em objetos de consumo amplo, estão se convertendo pela população, tanto nas atividades cotidianas como nas profissionais. XXX Enquanto a maioria das escolas e dos livros didáticos a ignoram e continuam ensinando mecanicamente o cálculo com lápis e papel, de acordo com os procedimentos convencionais, ampla difusão das calculadoras tem provocado uma perceptível modificação no hábito de calcular das pessoas e mesmo na sua atitude ante as atividades numéricas. De outro lado, algumas experiências escolares com a calculadora evidenciam que seu uso pode constituir um fator de motivação e interesse pela matemática, instigando o hábito de investigação e aproximando o ensino da matemática da realidade extra-escolar. É possível trabalhar vários conteúdos com o auxílio da calculadora, como as regras do sistema decimal de numeração, as propriedades das operações, as representações decimais, o conceito das operações e cálculos. Embora os conteúdos e os objetivos didáticos estejam desdobrados em itens, a ordenação em que eles aparecem não deve ser interpretada como indicação de uma seqüência rígida. Diversas combinações entre os conteúdos são possíveis, dependendo do problema que desencadeará uma situação de aprendizagem e das conexões lógicas estabelecidas entre diversas situações. Por exemplo, pode-se iniciar o estudo dos números decimais a partir de problemas que envolvam medidas ou ainda propor o estudo das frações a partir de um trabalho com composição e decomposição de figuras geométricas. O bloco números e operações numéricas englobam o estudo dos números naturais, de suas funções e representações, das características do sistema decimal de numeração, dos números racionais na forma decimal e fracionária; do significado da adição, subtração, multiplicação e divisão, dos fatos fundamentais, dos diferentes procedimentos de estimativa, cálculo mental e cálculo escrito. XXXI O bloco medidas reúne conhecimentos de grande utilidade prática, que também podem ser articulados com o estudo do espaço, das formas, dos números e das operações. Os conteúdos deste bloco envolvem a noção de medida e de proporcionalidade, de unidade de medida e das relações entre suas diferentes representações. Tais noções são desenvolvidas a partir do estudo e utilização de diferentes sistemas de medida: tempo, massa, capacidade, comprimento, superfície e valor (sistema monetário). Nos blocos de conteúdo, destacam-se os procedimentos de estimativa como uma dimensão fundamental da aprendizagem matemática. Quando lidamos com quantidades, é muito comum utilizarmos termos como “cerca de”, “quase”, “um pouco mais”, “mais ou menos”. Nossa capacidade de estimar convive com nosso sentido numérico e espacial. Particularmente no caso de jovens e adultos, as situações que envolvem contagem e mensuração presentes na vida diária podem favorecer o desenvolvimento dos procedimentos de arredondamento, aproximação e compensação que os dotam de grande capacidade para decidirem, em situações reais, se um determinado resultado é razoável. Na sala de aula, pode-se aperfeiçoar essas habilidades, encarando o trabalho sobre estimativas como aspecto inerente e contínuo da aprendizagem de matemática. A busca e análise de diferentes estratégias de estimativa possibilitam a identificação e compreensão de interesses relações matemáticas e faz com que os alunos valorizem, aperfeiçoem e criem suas próprias estratégias. O trabalho sistemático com estimativas favorece a flexibilidade e a criatividade dos processos de pensamento. XXXII 4.2. A MATEMÁTICA DO BRINCAR NUMA VISÃO INTERDISCIPLINAR Com o objetivo de auxiliar os professores no desenvolvimento do raciocínio lógico, criatividade e autonomia de seus alunos, jogos e brincadeiras são incorporados no cotidiano da sala de aula. É possível através das brincadeiras ampliar o conhecimento dos alunos e construir um novo significado para a aprendizagem matemática. Desde muito pequenas as crianças se dedicam ao misterioso mundo dos números, utilizando nas mais diversas situações: o número do telefone, o calendário, o dinheiro, seu peso, sua altura etc. Tornar o aprendizado da matemática mais dinâmico e criativo este deve ser sempre o objetivo do professor. É preciso estimular o raciocínio lógico, estimular o aluno a pensar por ele mesmo, fazendo suas próprias descobertas. Ao contrário do método tradicional, apresentam-se primeiro os jogos e depois os conteúdos. O professor expõe as situações-problema e apenas os encaminha e orienta. Os jogos têm que funcionar como ferramentas, assim, orientados pelos professores, os alunos criam e recriam jogos nos quais aplicam as matérias estudadas. Os jogos são os disparadores de conteúdos. Os números inteiros são um exemplo. Aprende-se a somar e subtrair durante um jogo e depois mostra-se que eles estavam aprendendo as duas operações. Segundo Piaget (1978), a criança adquire conhecimento ao construílo a partir de seu interior, ao invés de internaliza-lo diretamente de seu meio ambiente. XXXIII Na aritmética da primeira série do ensino fundamental, por exemplo, se uma criança escreve que “4+2=5”, a maioria dos professores assinala isto como erro. De acordo com Piaget (1978), o resultado deste tipo de correção é que as crianças tornam-se convencidas de que a verdade advém somente da cabeça do professor. Segundo Carraher (1989), as crianças que são desencorajadas assim de pensar autonomamente construirão menos conhecimentos do que aquelas que são mentalmente ativas e autoconfiantes. Um modo de ensinar aritmética na primeira série é o de eliminar totalmente a instrução e introduzir muitos jogos como a “Batalha dupla”, por exemplo. Este jogo é parecido com a “Batalha”, com a diferença de que é a soma de duas cartas que é comparada com a soma das cartas do adversário. As crianças não necessitam ser ensinadas a somar porque podem calcular por si próprias o resultado de cada adição. Além disso, num jogo, elas podem intercambiar seus pontos de vista quando um dos jogadores afirma, por exemplo, que 2+4=5. Esta maneira de aprender é muito mais ativa e conducente ao desenvolvimento da autonomia do que as folhas de exercícios finaliza Piaget (1978). Segundo Piaget (1978), o desenvolvimento da inteligência está voltado para o equilíbrio; a inteligência é adaptação. O homem estaria sempre buscando uma melhor adaptação ao ambiente. Dessa forma podemos entender a importância do brincar para o desenvolvimento humano. XXXIV Para Piaget (1971), “quando brinca, a criança assimila o mundo à sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui”. (KISHIMOTO, 1999, p. 59) A Matemática surgiu com a necessidade de resolver questões da vida cotidiana: contar, acrescentar, retirar, medir etc. E ninguém coloca em dúvida que esta necessidade está presente também na vida das crianças. Elas reúnem objetos, contam os passos, dividem um doce com o colega. Cabe à escola sistematizar e ampliar esse conhecimento. Cabe a escola proporcionar aos alunos o acesso ao conhecimento sistematizado que deve ser organizado em seqüência. Cabe a escola propor situações em que atuando e se integrando com o professor e colegas, os alunos atinjam formas mais complexas de se situarem no tempo e no espaço. Se a teoria forma parâmetros, a prática balizará a atuação dos professores sendo, fundamental a compreensão da articulação vertical e horizontal dos conceitos a serem desenvolvidos e dos conteúdos a serem trabalhados. XXXV CONCLUSÃO XXXVI O objetivo do presente estudo foi mostrar que o estudo da matemática pode ser prazeroso quando apresentado de maneira natural e sempre relacionado com o cotidiano. Acreditamos que o estudo da matemática é acumulativo, ou seja, nunca perde território, e suas fronteiras estão sempre se expandindo. Tudo aquilo que uma vez foi boa matemática será sempre bom e permanecerá como parte do corpo vivo do conhecimento matemático. Não foi possível dar uma visão geral da história e das funções da matemática, desde seus princípios até os dias de hoje, tentamos aqui apenas fazer um esboço de tal conhecimento. Concluímos que é possível criar um ambiente significativo para o aprendizado do aluno de modo que, sem medo de se expressar, de se colocar, de errar, ele faça elos cognitivos entre a linguagem matemática e o cotidiano. Para que isso seja possível, no entanto, será necessário o engajamento ativo e consciente do professor de sala de aula, pois dele depende toda a ação pedagógica, ou pelo menos parte dela. Para fins de pesquisa, nós dirigimos nossa atenção para duas questões básicas: o prazer de ensinar caminhando junto com o prazer de aprender, se faz necessário, entretanto, novos estudos com o objetivo de melhorar o ensino dessa disciplina que parece ser tão complexa. Uma metodologia educacional alternativa, por exemplo, a pedagogia libertadora de Freire (1970) que visa exatamente “aos objetivos de reflexão crítica e de conhecimento do mundo social circundante por parte do educando mostrou-se inviável num passado recente de nossa história”. (PATTO, 1983, p. 253) XXXVII Será ela possível agora ou ainda estamos numa fase de medidas educacionais paternalistas, populistas em relação às camadas oprimidas da população? Esta é uma outra questão que precisa ser mais bem analisada em futuros trabalhos. Portanto, concluímos se possível resgatar e levar ao aluno a história do ser humano como sujeito criador ao longo do tempo e mostrar que as idéias e os conceitos são, na realidade, fruto da construção do conhecimento matemático em épocas passadas e atuais. Não se pretendeu extinguir o assunto; muito pelo contrário, esperase que este trabalho seja o passo inicial para uma maior penetração no universo da Educação. XXXVIII BIBLIOGRAFIA APPLE, Michael e JUNGCK, Susan. No hay quer ser maestro para ensiñar esta unidad: la enseñanza, la tecnologia y el control en el aula. Revista de Educacion. n. 291, Madrid: Instituto Nacional de Investigación Cientifica. BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: HUCITER, 1979. BRUNER, S. O processo de Educação. Trad. Lobo L. de Oliveira, 4. ed., São Paulo: Nacional, 1974. CARRAHER, Terezinha e outros. Na vida dez na escola zero. São Paulo: Cortez, 1989. D’AMBRÓSIO, V. Da realidade à ação, reflexões sobre Educação e Matemática. DANTE, Roberto. Didática da resolução de problemas. São Paulo: Ática, 1989. FAYOL, Michel. A criança e o número: da contagem à resolução de problemas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 20. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. GARNIER, Catherine e outros. Após Vygotsky e Piaget. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. KAMII, Constance. Aritmética: novas perspectivas, implicações da teoria de Piaget. Campinas: Papirus, 1995. MACHADO, N. Matemática e realidade. São Paulo: Cortez, 1994. NIDELCOFF, T. A escola e a compreensão da realidade. São Paulo: Brasiliense, 1980. NUNES, Terezinha. Criança fazendo matemática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. PIAGET, J. Fazer e compreender matemática. São Paulo: Melhoramentos, 1978. TAVARES, José e ALARCÃO, Isabel. Escola reflexiva e nova racionalidade, Revista Portuguesa de Pedagogia. Lisboa: XXV. XXXIX ÍNDICE FOLHA DE ROSTO AGRADECIMENTO DEDICATÓRIA EPÍGRAFE INTRODUÇÃO II III IV V 07 CAPÍTULO I A construção do conhecimento matemático 09 CAPÍTULO II A função social da Matemática 15 CAPÍTULO III Matemática e linguagem 21 CAPÍTULO IV Jogos e brincadeiras para ensinar matemática 4.1. Matemática na sala de aula 4.2. A matemática do brincar numa visão interdisciplinar 27 28 33 CONCLUSÃO 36 BIBLIOGRAFIA ANEXOS FOLHA DE AVALIAÇÃO 39 41 42 XL ANEXOS XLI FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas Pós-Graduação “Latu Sensu” Título da Monografia Data da Entrega: ___________________________ Avaliado por: ______________________________Grau: ________________ Rio de Janeiro, ______ de ______________________ de ________ _______________________________________________________________ Coordenação do Curso XLII